Tuesday, September 06, 2022

Aula 81-82

Aula 81-82 (1 [4.ª], 3 [1.ª, 3.ª], 6/mar [5.ª]) Esta matéria — Atos de Fala (ou atos ilocutórios) — está explicada também nas pp. 136-137 do manual.

Nos atos de fala diretos, a intenção comunicativa fica explícita no que é dito; nos atos de fala indiretos, a intenção comunicativa tem de ser captada pelo interlocutor. Por exemplo, em «Leiam o texto tal» há um ato de fala ______; mas, se, no contexto de uma aula, o professor disser «É na p. 136», temos um ato de fala _____, cuja ________ (‘ordem para se começar a ler’) tem de ser inferida pelos interlocutores.

O entendimento de um ato de fala está dependente do contexto comunicativo. O que possibilita que a frase «É na p. 136» seja percebida como ordem para que se leia é o facto de se estar numa ________ de ________.

Os atos de fala classificam-se segundo o seu objetivo (ou ‘força ilocutória’):

diretivos (pretende-se que o interlocutor atue de acordo com a vontade do locutor) — «Querem abrir os livros na p. 136?»; «Abram os livros na p. 136».

assertivos (assinala-se a posição do locutor relativamente à verdade do que diz) — «Não há dúvida de que esta é a melhor frase»; «Admito que haja aqui um equívoco meu».

expressivos (traduz-se o estado de espírito do locutor relativamente ao que diz) — «Entristece-me que tenha partido»; «Muitos parabéns pelo teu teste».

compromissivos (responsabilizam o locutor relativamente a uma ação futura) — «Não darei aula no dia 29 de fevereiro»; «Prometo entregar os prémios Tia Albertina».

declarativos (aquilo que se diz cria, por si só, uma nova realidade) — «Absolvo-te das falhas cometidas»; «Fica aprovado com catorze valores».

Há que contar com o tipo de frase (interrogativo, imperativo, declarativo, exclamativo) e com o contexto: «Estou constipadíssima», num contexto em que há uma porta aberta, pode ser um ato de fala {escolhe} direto / indireto que corresponda ao objetivo _________ (com a locutora a pretender que _______).

Indica o tipo dos atos de fala. Usarás diretivo / assertivo / expressivo / compromissivo / declarativo:

1. Fala com o diretor de turma. _________

2. Gostei que fizesses cocó no penico. _________

3. Sei que Gedeão era Rómulo de Carvalho,  professor de Física. __________

4. Ficam isentos do pagamento os menores de setenta e três anos. __________

5. A hipótese mais provável é que tenha perdido o comboio. __________

6. Duvido que te interesse. __________

7. Chegarei às onze e sessenta e dois. ________

8. Detesto que me estejam sempre a pressionar. _______

9. Vou pensar no que me propõe. _________

10. É inadmissível que te impeçam de ires ao jogo. ________

[fundado em M. Olga Azevedo, M. Isabel Pinto & M. Carmo Lopes, Exercícios — Gramática Prática de Português — Da Comunicação à Expressão]

Preenche as quadrículas em branco, interpretando os atos de fala dos dois sketches (série Barbosa). Por vezes, previ duas interpretações (uma, direta; a outra, indireta, que aliás é a mais verosímil). No tipo, porás assertivo, diretivo, expressivo, compromissivo (não encontrei exemplo de ato declarativo).

Ato de fala

direto / indireto

tipo (segundo a força ilocutória)

modo verbal, etc.

«Últimos desejos»

Julgava que eras meu amigo...

direto

assertivo

«julgar» + imperfeito do indicativo

indireto

 

Por favor, promete que passas para açúcar mascavado.

direto

 

imperativo + «por favor»

Eu mudo para açúcar mascavado.

direto

 

 

Gostava de ouvir o mar.

 

expressivo

imperfeito do indicativo

indireto

 

Zé Carlos, descansa.

direto

 

 

indireto

expressivo

«Condutor de ambulância»

Pronto. Está bem.

direto

 

advérbio e presente do indicativo

Arranca. Depressa. Já.

direto

diretivo

 

Há aqui indivíduos que devem estar cheios de pressa.

direto

 

«dever» no presente

A sensação que me dá é que está verde há muito tempo

direto

 

«dá-me a sensação» + presente do indicativo

Não podia ir um pouco mais rápido?

indireto

 

imperfeito de «poder» + infinitivo

Morreu.

direto

 

 

indireto

expressivo

O organizador de um livro publicado há uns anos — Jorge Reis-Sá, A minha palavra favorita, 2007 — pediu a intelectuais e figuras públicas, portuguesas e brasileiras, que indicassem a sua palavra favorita e sobre ela escrevessem um texto. Transcrevi o início de alguns dos textos. Nesses exemplos, as palavras escolhidas salientam-se {completa, escrevendo os títulos}:

(1) pela sua aparência (som ou imagem originais): «_____»; «_____»;

(2) por, raras ou erradas, serem palavras quase privativas: «_____»; «_____»;

(3) por se relacionarem com um hábito do autor: «_____»; «_____»;

(4) por lembrarem atitudes que o autor preza: «_____»; «_____».

amanhã (João Lima Pinharanda)

A partir de finais da adolescência, ao experimentar uma caneta ou uma nova inclinação de letra (sempre fui pródigo em arriscar grafismos diversos), ou simplesmente, quando rabiscava, distraído, um papel, escrevia sempre a palavra «AMANHû.

Não me recordo de quando isso («AMANHû) começou nem se a escolha («AMANHû) foi, no seu início, consciente. Frequentemente dava por mim com a palavra escrita («AMANHû), como se se tratasse de um tique. Tomei-a então («AMANHû) como uma espécie de talismã, uma premonição otimista. Pedem-me hoje uma palavra e volto a recordar-me dela («AMANHû), reparo na distância emocional e simbólica que dela («AMANHû) me separa. Já estarei no AMANHà de então? Terá sido por isso que deixei de o/a evocar? Talvez necessite de novo dessa palavra («AMANHû) e dessa ideia («AMANHû), de recuperar o poder que lhe atribuía repetindo-a («AMANHû) até à exaustão como mantra ou ladainha. Desdobro agora a palavra («AMANHû) em componentes que nunca tinha explorado, vejo como nela («AMANHû) se escondem significados inesperados e repito-a («AMANHû) pelo espaço que me resta. [...]

Carvalhelhos (Carlos Costa)

[...] Um inglês distinto. Sozinho numa mesa, abandonado não, mas algo só. Começava por pedir água, simplesmente água, entusiasmado com as dificuldades que aquele estranho idioma parecia levantar. Sílaba a sílaba, lá ia ele, abrindo demasiadamente o A, mas até nem estava mal para uma primeira vez, contorcendo-se para que os lábios já estivessem completamente fechados para aquele U, o U de GU, que quase parecia ser uma parede onde se dava o infernal ricochete que atirava os lábios novamente para um A, que assim se abria ainda mais do que o primeiro. A satisfação com a tarefa cumprida, com aquela á-gu-á arrancada a uma vida inteira virada para outros sons, era agora claríssima no seu rosto. Mas essa água, servida, não quero estar aqui a jurar mas quase seria capaz de o fazer, numa jarra de vidro transparente, revelava-se uma desilusão ao paladar. Eis então que de outra mesa se ouvia algum nativo indicando, com a calma que só uma longa experiência hídrica e linguística pode oferecer, indicando o que deveria ser a escolha certa: Carvalhelhos. E essa sim, essa parecia ser a solução ideal, tal era o prazer que a água mineral em causa aparentemente trazia a quem a provava. Impressionante a coragem desse homem que, sorrindo sorrindo sorrindo, se lançava para o Car, aspirando aquele R complicado só por si mas ainda mais quando posicionado na esquina do V de va; ainda assim o Carva era atingido sem praticamente pestanejar; contudo isso já não posso jurar. Mas o grande momento era sem dúvida o brutal embate com o lh, pior ainda com os dois lhs cruéis, um a seguir ao outro. A vitória daquele Car-va-lhe-lhos final era algo de desmedido, um inacreditável triunfo da vontade que acabava imerso no sabor maravilhoso da tal água cristalina. E aquele homem ficava ali, sozinho numa mesa, abandonado não e algo só agora também não. E enquanto bebia um longo copo de água aquele som parecia ressoar por todo o seu corpo. Era a força dos lhs, a força de um mundo novo, o prazer de um outro prazer, o que quer que seja, mas tudo isso ressoava naquela única e nova palavra: Carvalhelhos. [...]

encertar (Clara de Sousa)

A palavra persegue-me há 20 anos. Até à maioridade fazia parte do meu vocabulário diário devido à mestria culinária da minha mãe, cozinheira profissional, excelente doceira. Sempre que havia bolo eu pedia para o «encertar». Se possível, ainda quente.

Teria perto dos 19, 20 anos quando, confiante no meu vocabulário, decidi dizer bem alto numa festa de aniversário que iria «encertar» o bolo. Olhos arregalaram-se, conversas paralelas começaram, um estranho peso se abateu na sala, perante tamanha calinada. Estava a rapariga já na Faculdade de Letras e o Português... enfim, imperdoável. Ainda por cima queria ser professora da Língua-Mãe. Fui então alertada, à parte, para a asneira. Encetar, Clara. Diz-se encetar o bolo, porque o vais abrir, vais começar...

Encetar? Estamos a brincar! Sabia perfeitamente o que era encetar, fossem conversas ou conversações, conversinhas e conversetas... mas nunca um bolo! Minha mãe da Beira Litoral e meu pai de Trás-os-Montes, ambos diziam «encertar» e tal como eles os seus irmãos e pais, sobrinhos sobrinhas, enteados e vizinhança, todos «encertavam» um bolo! [...]

Roída pela dúvida, mal pude, abri o dicionário, no encalço da minha palavra. Como se fosse uma jóia de valor inestimável transmitida de geração em geração. Letra E, um pouco mais à frente... empapar... encarnado.... encerebrar... só mais um pouco... encer... encer... encerrar. encerro. encestar. Por momentos, o mundo desabou ali mesmo. Nada de «encertar». A minha doce palavra não constava no Dicionário de Língua Portuguesa. [...]

obsidiana (Fernando J. B. Martinho)

«Obsidiana» é uma das palavras que me perseguem e acabei por fazer minhas. Não encontro facilmente uma explicação para isso. Serão restos de uma atração pelos raros vocábulos da poética simbolista? Glosei um dia um verso de António Patrício («Os pinhais plumulavam») num poema que começava assim: «Não há rumor que chegue/ a esta sombra fria de jade/ irisado que dizem ser a morte.» Foi isto em fins dos anos 80. Mas cerca de vinte anos antes tinha feito da obsidiana a palavra axial de um poema incluído em Resposta a Rorschach, 1970: Sagra-te em fogo na obsidiana / o afago da terra / arrefecido no espelho /e afeiçoa as imagens no / enxofre da memória / verde-escuras e cortantes / com / a espessura do caos. [...]

serendipidade (Bruna Lombardi)

(Substantivo.) A capacidade, fenómeno ou agradável surpresa de encontrar algo inesperado durante a busca de alguma outra coisa.

Etimologia — a palavra se origina do conto de fadas persa As Três Princesas de Serendip. Serendip, de origem árabe (Sarandip) dá o nome da ilha de Sri Lanka, no Ceilão e seu uso no Ocidente vem de 361 D.C. Mas o sentido que conhecemos hoje vem da palavra serendipity, inventada no século XVIII, pelo escritor inglês Horace Walpole.

Serendipidade é usada com frequência na ciência, química, medicina, quando buscando um propósito acaba-se descobrindo casualmente alguma nova cura ou invenção.

Um exemplo de serendipidade remonta à época dos descobrimentos, quando Cabral, em busca das Índias, acidentalmente descobre o Brasil.

Serendipidade é um estado na vida. Busca-se uma coisa e encontra-se outra. É a arte de estar aberto ao imprevisto, de se deixar lançar na aventura, de compreender a beleza do desconhecido.

Escolhe a tua palavra de estimação. Será ela o título da redação (que farás em folha solta, a tinta). Nota que se trata de aproveitar uma palavra de que gostes, o que não implica que gostes do seu referente, do objeto que ela designa. O texto centrar-se-á nessa palavra. Podes fazê-lo de vários modos (como acontece nos trechos que leste: lembrar experiência com a palavra; explicar a sua originalidade; etc.).

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TPC — Em Gaveta de Nuvens lê o capítulo, que marquei a azul, sobre ‘Atos de fala’; também podes reler as pp. 136-137 no manual (e resolver itens no final da p. 137). Quem não chegou a escrever o texto sobre ‘A ética na vida e no desporto’ pode escrever texto mais pessoal sobre as suas experiências em termos de desporto. Texto terá 350-500 palavras e será descarregado (em Word ou GoogleDocs) na Classroom, em ‘A ética na vida e no desporto’.

 

 

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