Aulas (41-60)
Aula 41-42 (29/nov
[5.ª], 2 [1.ª, 3.ª], 6/dez [4.ª]) Sobre os «alfabetos pessoais» que se
devolviam (ver Apresentação).
A exemplo do que fizemos
há umas aulas a propósito de crónica de RAP, escreverás agora uma frase com até
vinte palavras para cada parágrafo da crónica de MEC, isto é, Miguel Esteves Cardoso, «Os
nossos ambíguos» (p. 27).
Há semanas pedi-lhes frases-resumos,
agora serão frases-sínteses, o que implica que o sistema de narração pessoal
desapareça e passemos a reportar o texto já com mais distância, na 3.ª pessoa
(«Segundo o cronista, ...»), com a preocupação ainda mais marcada de apurar apenas
a mensagem essencial. Mantém-se a necessidade de não ultrapassarem as vinte
palavras.
1.º parágrafo (ll. 1-4) |
Para
o cronista, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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2.º parágrafo (ll. 5-12) |
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3.º parágrafo (ll. 13-18) |
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
4.º parágrafo (ll. 19-20) |
Conclui,
não sem ironia, que mais vale assumirmos que aqueles com quem conversamos nas
redes sociais são sempre «ambíguos». |
Se te despachares,
responde a 4. e 5. do manual (p. 27):
4. _________________
5. _________________
A hiperonímia é uma
relação de hierarquia entre um termo subordinado (hipónimo) e um seu subordinante (hiperónimo): o hipónimo é um membro da espécie, da classe, que o
hiperónimo designa.
Por exemplo, a palavra
«crocodilo» é ______ de «animal». Entretanto, «animal» é ______ de «crocodilo».
O hiperónimo «animal» tem aliás muitos outros seus hipónimos: «gato», «lesma»,
«pulga», «caracol», ________. Estes termos subordinados a um mesmo hiperónimo
são, entre si, co-hipónimos.
Dou-te pares de
co-hipónimos. Encontra o seu hiperónimo:
Os co-hipónimos «cravo» e
«piano» têm como hiperónimo «_______».
Os co-hipónimos «cravo» e «rosa» têm como hiperónimo
«______».
Os co-hipónimos «Camões» e «Fernando Pessoa» têm
como hiperónimo «______»
Nada impede que termos que
são hipónimos de um outro termo mais geral que os subordina sejam, por sua vez,
hiperónimos de termos mais específicos: «animal» é ______ de «mamífero»;
«mamífero» é ______ de «cão»; «cão» é ______ de «cão de caça», «cão pisteiro»,
«rafeiro» (e estes termos são entre si ______).
Outra relação que
estrutura o léxico é a de holonímia. Um termo representa o
todo; e outro, a parte: «mesa» é holónimo
de «tampo»; e «tampo» é merónimo de
«mesa».
Mais exemplos: «ponteiro»
é merónimo de ______; «espelho retrovisor» e «volante» são entre si co-merónimos (e sabemos que o seu
holónimo é «_______»); «mão» é holónimo de «_______».
Completa com holónimo / merónimo / hiperónimo / hipónimo:
«cáfila» é ________ de
«camelo».
«vaso sanguíneo» é ________ de «sistema
circulatório».
«cocó» é ________ de «excremento».
«texto dramático» é ________ de «Farsa de Inês Pereira».
Preenche:
Merónimos |
Holónimos |
Castelo Branco, Lisboa, Faro |
|
|
casa |
Morfologia, Sintaxe, Fonética |
|
|
livro |
Depois
de veres trecho de Último a sair,
completa com hiperónimo, hipónimo, holónimo, merónimo:
«museu» é _______ de «exposição»; || «quadro» é _______ de «museu»; ||
«artista» é _______ de «Jackson Pollock»; || «pintor» é _______ de «Pollock»;
|| «Louvre» é ______ de «museu»; || «Magritte» é _______ de «homem»; ||
«corrente artística» é _______ de «pictomarista»; || «Lourenço Marques
(Maputo)» é _______ de «Moçambique»; || «Bélgica» é _______ de «país». São co-hipónimos ______ e «Bélgica». || São co-merónimos «quadro»
e ______.
Escreve um texto cujos
períodos comecem sempre por nova letra segundo a ordem do alfabeto (A, B, C, D,
...). Género do texto será à tua escolha. Título será «Mundial».
Aqueles tempos ainda eram
de euforia pós-revolucionária. Bastou alguém lembrar que faltava um
liceu em Benfica para logo se criar uma comissão. Convém lembrar que os
adolescentes dos anos setenta tinham de ir estudar para o D. Pedro V, o Dona
Leonor, o Padre António Vieira ou mais longe ainda.
De cada vez que ...
. . . . . . . . . . . . .
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TPC — Lê a ficha do Caderno
de atividades sobre ‘Geografia do Português no mundo’ (p. 49), que fica, já
corrigida, em Gaveta de Nuvens. (Dá um relance, entretanto, à p. 306 do
manual, sobre o mesmo assunto.)
Aula 43-44 (5 [1.ª, 3.ª, 5.ª], 7/dez [4.ª]) Entrega de poemas (primeira versão).
Lendo a letra da canção de
Miguel Araújo e a cantiga
de amigo (cantiga de romaria, concretamente) de Pero Viviães na p. 38, completa a tabela em baixo:
Romaria das Festas de
Santa Eufémia
(Miguel Araújo)
Em
dia de romaria
Desfila o meu vilarejo
Ainda o galo canta ao dia
Já vai na rua o cortejo
O
meu pai já está de saída
Vai juntar-se àquele povo
Tem velhas contas com a vida
A saldar com vinho novo
Por
mais duro o serviço
Que a terra peça da gente
Eu não sei por que feitiço
Temos sempre novo alento
A
minha mãe, acompanhada
De promessas por pagar
Vai voltar de alma lavada
E joelhos a sangrar
A
minha irmã quis ir sozinha
Saiu mais cedo de casa
Vai voltar de manhãzinha
Com o coração em brasa
Por
mais duro o serviço
Que a terra peça da gente
Eu não sei por que feitiço
Temos sempre novo alento
A
noite desce o seu pano
No alto deste valado
O sagrado e o profano
Vão dançando lado a lado
E
eu não sou de grandes folias
Não encontrei alma gémea
Há de haver mais romarias
Das festas de Santa Eufémia
Por mais duro o serviço
Que a terra peça da gente
Eu não sei por que feitiço
Temos sempre novo alento
|
«Romaria das festas de
Santa Eufémia» (de Miguel Araújo; em Crónicas
da Cidade Grande) |
«Pois nossas madres vam a
Sam Simom» (de Pero Viviães; no Cancioneiro da Biblioteca Nacional e no Cancioneiro
da Vaticana) |
Localidade |
São Pedro do Paraíso (Castelo de Paiva)?; Trofa?;
Felgueiras (Torre de Moncorvo)?; ? |
Vale
de _____ (Macedo de Cavaleiros?; ou Espanha?) |
Sujeito |
masculino
e ____ |
____
e plural («nós, as meninhas») |
Outros participantes |
pai,
mãe, ____ |
_____
(«nossas madres»), namorados («Nossos amigos») |
Que lhes interessa na
romaria |
pai
vai ______ («Tem velhas contas com a vida / A saldar com vinho novo»); mãe
vai cumprir _______ («De promessas por pagar / Vai voltar de alma lavada / E
joelhos a sangrar»); irmã vai ______ («quis ir sozinha / Saiu mais cedo de
casa / Vai voltar de manhãzinha / Com o coração em brasa»); o «eu» talvez
procure namorada mas prefere ver o Portugal-Suíça ou estudar Português («E eu
não sou de grandes folias / Não encontrei ______») |
mães
vão _____ velas («queimar candeas»); raparigas andarão a _____ à frente dos
namorados, bonitas e não demasiado ______ («andaremos bailand’ant’eles fremosas
em cós»); namorados irão vê-las dançar e, assim, verão dançar raparigas com
boa _____ («irám por cousir como bailamos / e podem veer bailar i moças de
bom parecer») |
Moral
da história |
Não
faltarão outras ______ («Há de haver mais romarias / Das festas de Santa
Eufémia») |
As
mães que se preocupem com a religião que nós temos é de _____ («queimem
candeas por nós e por si / e nós, meninhas, bailaremos i») |
Na penúltima aula demos exemplo de uma das consequências da mudança
linguística, a variação
geográfica (referimos as três variedades,
ou variantes, do português e alguns dialetos
do português europeu). Porém, a língua também varia em função do tempo (variação histórica), dos grupos sociais
a que pertencem os falantes (variação
social) e até em função da situação de comunicação (variação situacional).
O
sketch «Policiês/Português» (série
Fonseca) pode ilustrar a variação social (um dos falantes
exibe características linguísticas de um dado grupo profissional, uma gíria)
e a variação
situacional (a mesma personagem recorre a um português muito formal,
talvez para enfatizar o momento da aplicação da sanção e o seu estatuto de
autoridade). Completa {usando os termos a
seguir}
popular / familiar / corrente / cuidado / gíria / dialeto / escrito / oral / formal / informal
Um
polícia parece querer multar um automobilista. Ao descrever a manobra incorreta
efectuada e a sanção que vai aplicar, recorre a um nível de língua _______,
usando linguagem mais típica do meio _______ (que, em geral, segue um registo
______) do que do meio _______ (quase sempre, mais ______). Ainda por cima, adota
termos que talvez se possam considerar de uma ________ própria, específica dos polícias.
Por isso, o automobilista nada percebe.
Um
indivíduo que está por ali vem então traduzir o discurso do polícia para um
nível de língua ______ e, às vezes, até _______ ou mesmo _______. Acaba por se
perceber que o polícia aceita ser subornado, e fica tudo resolvido.
Diga-se
ainda que, pela pronúncia de três palavras («gra[b]e», «indi[b]íduo», «de[rr]espeito»),
percebemos que o polícia fala conforme um determinado _______, provavelmente da
Beira ou de Trás-os-Montes.
O assunto é Termos antecedente, «sucedente», referencial; Anáfora,
catáfora; Referente; Correferentes; Cadeia de referência. Lê e completa.
TPC — Depois de lançares as emendas que fiz (ou reformulares o que tenha aconselhado a melhorar), entrega o teu poema na nova tarefa que abrirei na Classroom.
Aula 45-46 (6 [5.ª], 9 [3.ª, 4.ª], 13/dez [4.ª]) Correção do trabalho de apreciação crítica de pintura.
João de Melo, «Da história à literatura»
ll. 1-13
Nas ll. 1-6, assume-se que
o Mestre de Avis
a) se notabilizou como rei
de Portugal e, por isso, Fernão Lopes se não ocupou dele.
b) ficou célebre por ter
sido rei de grande mérito, mas que o que dele diz Fernão Lopes já o tornaria
notável.
c) se distinguiu como rei
mas que Fernão Lopes, por isso mesmo, evitou referi-lo nas suas crónicas.
d) não foi um grande rei,
embora tivesse sido celebrizado na Crónica
de El-Rei D. João I.
A anáfora (ou termo
anafórico) «ele» (l. 7) tem como referente (ou termo antecedente)
a) «Fernão Lopes» (l. 4).
b) «o Mestre de Avis» (l. 3).
c) «cronista-historiador»
(l. 7).
d) «outro
cronista-historiador» (l. 7).
O pronome presente em
«fá-lo» (l. 12) tem como referente (antecedente)
a) «Fernão Lopes» (l. 4).
b) «quem o lê» (l. 12).
c) «ele» (l. 7).
d) «[o] autor» (l. 12).
ll. 14-26
Segundo o cronista de «Da
história à literatura», aderimos ao que nos é contado por Fernão Lopes
a) por causa da vivacidade
da sua escrita e da sua objetividade enquanto historiador.
b) por causa da emoção na
sua escrita e por sermos quase convidados a viver os episódios em questão.
c) porque o texto
histórico de Fernão Lopes é realista e imparcial.
d) porque a sua prosa
trata de temas sentimentais e ele é «opinioso».
ll. 27-44
No apuramento da verdade
histórica, Fernão Lopes usa
a) fontes escritas e
testemunhos orais.
b) sobretudo fontes documentais
escritas.
c) depoimentos fornecidos
de viva voz pelos protagonistas dos feitos relatados.
d) wikipédia, google, Correio da Manhã, «Quem quer casar com
um agricultor?».
Relativamente aos factos, Fernão
Lopes
a) consegue ser neutral,
claro, seco.
b) usa de cientificidade
investigativa, o que o torna precursor da historiografia moderna.
c) é menos interessante
nos dias de hoje do que quanto às capacidades literárias.
d) revela-se inútil
atualmente, dado que foi sobretudo criador, opinativo, embora independente do
poder.
ll. 45-49
Fernão Lopes teria dado
voz
a) ao povo.
b) às multidões da «arraia
miúda» que é o povo.
c) à miúda que,
promiscuamente, anda com o povo.
d) às suspeitas do povo.
Henrique Monteiro, «Um cronista
militante»
ll. 1-9
Segundo
as ll. 5-9, o «eu» de «Um cronista militante»
a)
só a partir do século XIV começou a conhecer as séries de televisão.
b)
só depois do século XIV estudou algo tão movimentado como as séries de cowboys.
c)
só com o estudo da Crónica de D. João I
conheceu narrativas com tanta ação como as séries de televisão.
d)
só com o começo da televisão a cores conheceria algo de mais movimentado que a Crónica de D. João I.
ll. 10-16
O
narrador de «Um cronista militante»
a)
teria estudado já as epopeias antigas, mas Fernão Lopes marcou-o mais.
b) viria
a ser mais marcado por autores da antiguidade e, naquela altura, Fernão Lopes não
o estimulou.
c) só
foi marcado por Fernão Lopes, independentemente de as epopeias antigas serem ou
não estudadas.
d) não
gostou do estudo dos poemas de Homero e de Virgílio, ao contrário do dos textos
de Lopes.
ll. 17-28
O
modificador «na altura» (l. 20) corresponde
a)
a «pelos anos de 1383» (l. 20).
b)
a há mais de seiscentos e trinta anos.
c)
ao cimo dos «torreões da Sé» (l. 27).
d)
à época em que contactou com a literatura de Fernão Lopes.
ll. 29-40
Segundo
o jornalista, Fernão Lopes
a)
era bastante faccioso, embora o escondesse bem.
b)
era imparcial, independente, justo.
c)
não se coibia de ser um pouco parcial no seus juízos, como na adoração por D.
João I de Castela.
d) não
enganava ninguém, tinha as suas preferências (segundo padrões atuais da historiografia,
seria um cocó de cão).
ll. 41-52
O
conhecimento histórico acumulado após a época de Fernão Lopes mostrará que o
cronista
a) teve
sempre razão.
b)
era secante mas certeiro nos seus juízos.
c)
foi o Jorge Jesus da historiografia (exaltante, vibrante, mas com visão
circunscrita a uma perspetiva, com as limitações da sua geração).
d) nem
sempre foi claro e simples, apesar de exaltante, vibrante, patriótico.
Os
períodos começados por «Que» (ll. 42-52) são
a)
parágrafos.
b)
complemento direto de «sabemos» (l. 41).
c)
de tipo instrucional.
d)
de tipo descritivo.
ll. 53-56
O
pronome «algo» (l. 53) tem como referente
a)
«seja como for» (l. 53).
b)
«que ninguém lhe tira» (l. 53).
c)
todo o segmento que ocupa as linhas 54-56.
d)
«o modo tão belo e empolgante como relata uma situação» (ll. 54-55).
Jeffrey
Archer é, até certo ponto, o
tipo de escritor que Pedro Mexia, numa sua crónica, classificava como «besta célere»
(< best-seller). De qualquer modo, tem méritos evidentes de contador de
histórias (como Fernão Lopes). Um dos seus livros intitula-se aliás Contador
de histórias, cujo primeiro conto tem a particularidade de ter só cem palavras.
Vejamos como o apresenta e, depois, o conto propriamente dito
(Jeffrey Archer, Contador de Histórias,
trad. de Fernanda Oliveira, Lisboa, Bertrand, 2019, pp. 13 e 17):
Um
desafio
Há muitos anos, um editor da Reader’s Digest em Nova Iorque convidou-me para escrever uma história de cem
palavras que tivesse princípio, meio e fim. Como se já não fosse desafio
suficiente, insistiu em que não podiam ser 99 ou 101 palavras.
E, não contente com isso, pediu-me para apresentar a obra acabada
no prazo de vinte e quatro horas.
O meu primeiro esforço consistiu em 118 palavras, o segundo em
106 e o terceiro em 98. Pergunto-me se conseguirão descobrir quais as duas palavras
que tive de voltar a incluir.
O resultado foi «Único», que encontrarão na página seguinte.
Os leitores poderão ter
interesse em saber que o que acabei de escrever também tem 100 palavras.
Único
Paris, 14 de março de 1921
O colecionador voltou a acender o charuto, pegou na lupa e analisou
o selo triangular de 1874 do Cabo da Boa Esperança.
— Eu avisei-o de que havia dois selos — disse o negociante. — Ou
seja, o seu não é único.
— Quanto?
— Dez mil francos.
O colecionador passou um cheque antes de dar uma baforada no
charuto, mas este já estava apagado. Pegou num fósforo, riscou-o e lançou fogo
ao selo.
O negociante olhou incrédulo, ao mesmo tempo que o selo se desfazia
em fumo.
O colecionador sorriu.
— Estava enganado, amigo — disse. — O meu é único.
Cria conto em cem
palavras. Evita o estilo ‘anedota’. Não apostes em muito diálogo. Título conta
para o número de palavras.
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TPC — Vai lendo livro(s)
combinado(s).
Aula 47-48 (12 [1.ª, 3.ª, 5.ª], 20/dez [4.ª]) Completa tabela sobre primeiro trecho de Expiação e contraste com Crónica de D. João I:
Fernão
Lopes, Crónica de D. João I, cap. 11 |
Joe Wright,
Expiação, parte inicial |
escrito em Lisboa, cerca de 1443 (ou seja, ____
anos depois do que é narrado no capítulo) |
realizado em França e Reino Unido, em 2007 (ou seja,
_____ depois do que se relata) |
fontes: testemunhos (dos que tinham vivido os
acontecimentos); outras crónicas (entretanto perdidas); crónicas estrangeiras;
documentos (da Torre do Tombo e outros arquivos) |
livro de que o filme é uma adaptação: Ian McEwan, Expiação
[Atonement], 2001 |
lugar
e tempo da ação |
|
Portugal, 1383, nas ruas de Lisboa |
Inglaterra, 1935, numa rica propriedade rural |
alguns
dados históricos úteis |
|
1367 — Começa o reinado de D.
Fernando, filho de D. Pedro e D. Constança. (Entre outros filhos, Pedro tivera
ainda, com Inês de Castro, João e Dinis, e outro João, o futuro Mestre de
Avis, com Teresa Lourenço.) | 1371 — D. Fernando casa com D. Leonor
Teles, de quem o povo não gostava. Desta união nascem Beatriz e dois seus
irmãos mais novos (que morreram cedo, em 1380 e 1382). | 1383 (17 de
maio) — Com dez anos, Beatriz, casa com D. João (Juan) I, de Castela. Ficou
acordado que o futuro rei de Portugal fosse um filho de Beatriz e Juan, para
evitar que o rei de Castela, Juan, fosse também rei de Portugal. | 1383
(22 de outubro) — D. Fernando morre. D. Leonor Teles torna-se regente, e Juan
I, contra o acordado, reivindica o trono. | 1383 (6 de dezembro-16 de
dezembro) — O povo de Lisboa, na sequência de um levantamento preparado por burgueses
(e em que é assassinado o Conde João Fernandes Andeiro), escolhe D. João, Mestre
de Avis, como «regedor e defensor do reino». | 1384 (maio-3 de setembro)
— Tropas de D. Juan de Castela cercam Lisboa, até se retirarem por causa de
epidemia de peste negra. | 1385 (6 de abril) — Nas cortes de Coimbra, D.
João I é aclamado rei. | 1385 (14 de agosto) — Na batalha de
Aljubarrota portugueses derrotam castelhanos. |
1939 (3 de setembro) — Reino
Unido declara guerra à Alemanha. Começa a II Guerra Mundial. | 1940 (fins
de maio) — Dá-se a Batalha de Dunquerque, ficando as tropas aliadas encurraladas
no litoral, à espera da evacuação. | 1940 (setembro)-1941
(maio) — Londres é bombardeada pela aviação alemã. | 1944 (3 de junho)
— Tropas aliadas desembarcam na Normandia, no que ficaria conhecido como «dia
D». | 1944 (25 de agosto) — Paris é libertada. | 1945 (8 de
maio) — Na Europa celebra-se o fim da Segunda Grande Guerra. O
que se passou no trecho inicial do filme (o que vimos na aula passada) Briony está a escrever
uma _____ de teatro. Está empenhada na sua
criação, que _____ efetiva e rapidamente. É possível adivinharmos
que Briony tem uma _____ infantil por Robbie. Briony assiste a momento
em que Cee (Cecilia) parece procurar seduzir _____. Briony fica _____ com o
que observara na fonte (terá ficado com ciúmes da atração que Cee exerce
sobre Robbie). |
Depois de ouvirmos episódio
do programa de rádio Os dias da História sobre o dia 6 de dezembro de
1383 (https://www.rtp.pt/play/p2850/e262613/os-dias-da-historia),
responde a «Letras prévias», na p. 80:
1. ________________
2. | 2.1 ____ | 2.2 ____ | 2.3 ____ | 2.4 ____
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, cap. 11 |
Joe Wright, Expiação,
minutos 13-27 |
De modo previamente planeado («segundo já era
percebido»), disseram ao pajem do mestre para ir pela cidade, a galope, divulgando
uma notícia-apelo a toda a _____. |
De modo inopinado mas em consonância com o que sentia
verdadeiramente, Robbie declara-se a _____. |
Recado é levado ao povo pelo _____ («Estão a
matar o Mestre nos Paços da Rainha. Acorrei ao Mestre»); mas _____, montado
num cavalo que há muito não montava, também apelava a que fossem socorrer o
Mestre, filho de D. Pedro. |
Bilhete de Robbie é levado a Cecilia por _____. |
Álvaro Pais, que «estava prestes», é um dos que intrigam,
recorrendo a um equívoco para _____ o povo a agir. |
Briony é quem intriga, quem ____ os outros a equívocos. |
Ao ouvir o pajem gritar, o povo de Lisboa
mobilizou-se para ir socorrer o ______. |
Ao ler o bilhete, Cecilia (*) ... |
Os diálogos entre populares mostram que facilmente
se elaborava o equívoco inicial («perguntavam uns aos outros quem matava o
Mestre e não faltava quem respondesse que era o Conde João Fernandes Andeiro,
a mando da ______»). Perceberemos que estes boatos, decerto induzidos pelos
que manipulavam o ______, servirão para justificar o desfecho. |
O diálogo a que assistíramos entre Paul Marshall
e Lola é surpreendente. A conduta do adulto, em conversa com uma adolescente,
é ______. Percebemos que trechos do filme como este funcionam como indícios e
devem ser recuperados mais à frente, quando se tratar de perceber o desenvolvimento
da ação e interpretar o que verdadeiramente ______. |
(*) Prevê tu a reação de
Cecilia.
Escreve um texto sem
nenhum A, sobre um desporto de que gostes, um hóbi ou interesse teu. Repito: é
proibido o uso de AA; porém, o teu texto deve ser, como é óbvio, correto e, se
possível, inteligente. Escreve o teu nome no cimo. A lápis.
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TPC — Vai lendo livros
combinados, ponderando logo nova leitura assim que termines o que estejas a ler
(e, se não o fizeste ainda, responde na Classroom acerca de livros a ler).
Aula 49-50 (13 [5.ª], 16/dez [1.ª, 3.ª], 3/jan [4.ª]) Correção do questionário de compreensão escrita de dois depoimentos sobre Fernão Lopes (ver Apresentação).
Segue-se uma versão
simplificada do trecho do capítulo 11 da Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes, que temos, mas com a grafia antiga, no manual (pp. 81-83, até
l. 74).
Já lemos, e ouvimos, a parte que está deste
lado da folha. Vai lendo o que falta (a página seguinte) e escrevendo o resumo
na folha que também tens à tua frente. Já aí está o resumo da parte que víramos
na última aula. Prossegue tu com o resumo dos primeiros cinco parágrafos da
página seguinte (ou seja, a parte dentro de esquadrilha).
Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Mestre, e como lá foi Álvaro Pais e muitas gentes com ele
O pajem do Mestre, que
estava à porta, como lhe disseram que fosse pela vila, segundo já era
percebido, começou de ir rijamente a galope, em cima do cavalo em que estava,
dizendo altas vozes, bradando pela rua:
— Matam o Mestre! Matam o
Mestre nos paços da rainha! Acorrei ao Mestre que matam!
E assim chegou a casa de
Álvaro Pais, que era dali grande espaço.
As gentes que isto ouviam
saíam à rua ver que coisa era. E, começando de falar uns com os outros, alvoroçavam-se
nas vontades e começavam de tomar armas, cada um como melhor e mais asinha
podia.
Álvaro Pais, que estava
prestes e armado com uma coifa na cabeça, segundo usança daquele tempo,
cavalgou logo à pressa, em cima de um cavalo que anos havia que não cavalgara,
e todos seus aliados com ele, bradando a quaisquer que achava, dizendo:
— Acorramos ao Mestre,
amigos! Acorramos ao Mestre, ca filho é de el-rei D. Pedro!
E assim bradavam ele e o
pajem, indo pela rua.
Soaram as vozes do ruído
pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o Mestre. E, assim como viúva que
rei não tinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moveram todos
com mão armada, correndo à pressa para onde diziam que se isto fazia, para lhe
darem vida e escusar morte.
Álvaro Pais não quedava de
ir para lá, bradando a todos:
— Acorramos ao Mestre,
amigos! Acorramos ao Mestre que matam sem porquê!
A gente começou de se
juntar a ele e era tanta, que era estranha coisa de ver. Não cabiam pelas ruas
principais e atravessavam lugares escusos, desejando cada um de ser o primeiro;
e, perguntando uns aos outros «quem matava o Mestre?», não minguava quem
respondesse que o matava o conde João Fernandes, por mandado da rainha.
E, por vontade de Deus,
todos feitos de um coração, com talente de o vingar, como foram às portas do
paço, que eram já cerradas, antes que chegassem, com espantosas palavras,
começaram de dizer:
— Onde matam o Mestre? Que
é do Mestre? Quem cerrou estas portas?
Ali
eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Tais aí havia que certificavam que
o Mestre era morto, pois as portas estavam cerradas, dizendo que as britassem
para entrar dentro, e veriam que era do Mestre ou que coisa era aquela.
Uns
deles bradavam por lenha e que viesse lume, para porem fogo aos paços e queimar
o traidor e a aleivosa. Outros se aficavam pedindo escadas para subir acima,
pera verem que era do Mestre. E em tudo isto era o ruído tão grande, que se não
entendiam uns com os outros, nem determinavam nenhuma coisa. E não somente era
isto à porta dos paços, mas ainda ao redor deles por onde homens e mulheres podiam
estar. Umas vinham com feixes de lenha, outras traziam carqueja para acender o
fogo, cuidando queimar o muro dos paços com ela, dizendo muitos doestos contra
a rainha.
De
cima, não minguava quem bradasse que o Mestre era vivo e o conde João Fernandes
morto. Mas isto não queria nenhum crer, dizendo:
—
Pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos.
Então
os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia
mais, disseram que fosse sua mercê de se mostrar àquelas gentes; de outra guisa
poderiam quebrar as portas, ou lhes pôr o fogo; e, entrando assim dentro por
força, não lhes poderiam depois tolher de fazer o que quisessem.
Ali se mostrou o Mestre a
uma grande janela que vinha sobre a rua, onde estava Álvaro Pais e a mais força
de gente, e disse:
— Amigos, pacificai-vos,
ca eu vivo e são sou, a Deus graças.
E tanta era a turvação
deles e assim tinham já em crença que o Mestre era morto, que tais havia aí que
aperfiavam que não era aquele; porém, conhecendo-o todos claramente, houveram
grande prazer quando o viram, e diziam uns contra os outros:
— Oh, que mal fez! Pois
que matou o traidor do conde, que não matou logo a aleivosa com ele! Credes em
Deus: ainda lhe há de vir algum mal por ela. Olhai e vede que maldade tão grande!
Mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, para o matarem aqui por traição.
Oh aleivosa! Já nos matou um senhor e agora nos queria matar outro! Leixai-a,
ca ainda há mal de acabar por estas cousas que faz.
E sem dúvida, se eles
entraram dentro, não se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos
eram da sua parte e do conde poderem escapar.
O Mestre estava à janela e
todos olhavam contra ele, dizendo:
— Ó senhor! Como vos
quiseram matar por traição! Bendito seja Deus, que vos guardou desse traidor! Vinde-vos,
dai ao demo esses paços, não sejais lá mais!
E, em dizendo isto, muitos
choravam com prazer de o ver vivo.
Vendo ele então que
nenhuma dúvida tinha em sua segurança, desceu a fundo e cavalgou com os seus,
acompanhado de todos os outros, que era maravilha de ver. Os quais, mui ledos ao
redor dele, bradavam, dizendo:
— Que nos mandais fazer,
senhor? Que quereis que façamos?
E ele lhes respondia, mal
podendo ser ouvido, que lho agradecia muito, mas que por então não havia deles
mais mister.
Resumo:
O pajem do Mestre, conforme
combinado, cavalgou pela cidade, gritando:
— Matam o Mestre nos paços
da rainha! Acorram!
E chegou a casa de Álvaro
Pais.
O povo, ouvindo o pajem,
juntava-se nas ruas, indignava-se, pegava em armas.
Álvaro Pais, que já estava
armado, cavalgou, com outros companheiros, gritando pelas ruas:
— Acorramos ao Mestre, porque
é filho de D. Pedro!
E assim gritavam ele e o pajem.
Pela cidade se ouviu o apelo.
Todos se deslocaram, armados, para onde se dizia que matavam o Mestre, para o
salvar.
Álvaro Pais continuava a
gritar:
— Acorramos ao Mestre que
matam sem razão!
Muita gente se lhe juntou,
enchendo as ruas. Perguntavam as pessoas «quem matava o Mestre?». Muitos
respondiam que era o conde João Fernandes Andeiro, a mando da rainha.
Todos unidos pela vontade de
o vingarem, e estando as portas do paço fechadas, começaram a perguntar:
— Onde matam o Mestre? Quem fechou estas
portas?
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O Mestre apareceu à janela:
— Acalmai-vos, que estou
vivo e são.
A ansiedade era tanta, que
havia quem asseverasse que o Mestre tinha sido morto, mas, ao verem-no,
alegravam-se e lamentavam:
— Tendo matado o conde,
devia ter aproveitado para matar também a maldosa da rainha (que já nos matou o
rei). Mas ela não perde pela demora!
Se tivessem entrado, nem a
rainha nem os do seu lado teriam escapado.
Todos se dirigiam ao
Mestre (à janela):
— Ainda bem que escapastes
desse traidor! Vinde connosco!
E muitos choravam por o
verem vivo.
Percebendo não haver
perigo, o Mestre reuniu-se aos que o aclamavam, que, alegres, perguntavam:
— Que quereis que façamos?
E, embora mal o pudessem
ouvir, agradeceu e disse que já não precisava deles.
Enquanto estiveres a ver o filme Língua — vidas em português, vai preenchendo
os espaços que estão sublinhados:
País, Cidade Personagem / Ocupação |
Variedade geográfica,
social, situacional |
Características (que exemplificam
algum tipo de variação) |
Índia, Goa (Panjim) Rosário
/ padeiro |
Português
ainda sobrevive, mas num contexto em que outras ____ predominam |
Interferências
do inglês («Eu prefer»). |
Portugal, Lisboa Belarmindo
/ guarda-freio |
Variante
(variedade) ___ do português; dialeto de ___ {Lisboa / Beira / Alentejo} |
«tem
que» (por «tem de»). |
Brasil, Rio de Janeiro Márcio
/ vendedor de rua |
Variante
___ do português, num socioleto ___ {popular
/ culto}, em contexto relativamente ___ {formal / informal}. |
Sintaxe: próclise («___ chama»);
«nessa manhã» (por ‘___ manhã’); Léxico:
«bala» (‘guloseima’). Fonética:
palatalização de t: «tris[txi]» («triste»); ditongação em «ma[i]s» («mas»). Tratamento: você + ___ pessoa. |
Moçambique, Maputo Mia
[Couto] / escritor |
Variante
____ {africana / europeia} do português |
Léxico: «normar» (‘regulamentar’). |
Índia, Goa (Panjim) Rosário |
Rosário,
além de português, fala hindi, inglês, «arabic». |
Dificuldades
no conjuntivo: «talvez faleceu» (‘talvez ____’). |
Portugal, Lisboa Zulmira
e Paulo / reformados |
Dialeto:
___; socioleto: ___. |
Ligeiras
hesitações: «niveles» (‘níveis’); «li[v]erdade» (‘liberdade’). |
Portugal,
Lisboa, Belarmindo |
|
|
Moçambique, Maputo Izdine
/ radialista |
Como
se trata de programa de rádio, o meio ___ {oral / escrito} é um tanto falso: o discurso está preparado e o
registo só aparentemente é ___ {formal
/ informal}. |
Fonética: vocalismo menos reduzido:
«Beir[á]». |
Moçambique, Beira Dinho
/ estudante |
Variante
____ do português, por parte de adolescente que terá outra língua materna (talvez
uma língua do grupo bantu). |
Sintaxe: «ele» como complemento
direto: «conheço ele» (‘conheço-o’); ênclise nas subordinadas: «quando
desligou-se energia» (‘se desligou’). Léxico:
«já» (por ‘logo’). |
Brasil, Rio de Janeiro Rejane
/ vendedora de imobiliário |
O
registo não pode ser muito ___, já que se fala com clientes. |
Sintaxe: próclise: «__ perdoe»
(‘perdoe-me’). |
Brasil, Rio de Janeiro Rogério
[e Márcio] / pregador |
Socioleto:
português popular (com infrações várias à norma culta brasileira). |
Sintaxe: marcas do plural simplificadas
(«essas bala»; «elas pesa»); «mim» como sujeito («para mim organizar»). Léxico: «tem» (‘há’); «açougue»
(‘talho’). Fonética: epêntese («corrup[i]ta»);
cr por cl («cic[r]one»); -r omitido
(«ri» por «___»); vocalismo átono pouco reduzido («porqu[ê]» por «porque»). |
Moçambique, Beira Dinho
[e Deolinda] |
|
Léxico: «a caminho de mais
velha»; «dar uma mão direita». |
Moçambique, Inhaca Mia
Couto |
Tratando-se
de escritor inventivo, é difícil distinguir o que é «neologístico» e o que é
devido à variante __. |
Léxico: «normar» (‘regulamentar’);
«os mais velhos»; «outras» (‘diferentes’). |
Brasil, Rio (Barra da Tijuca) Rejane |
|
Fonética: r final omitido («m[á]» por «___»); palatalização de t e d («gen[txi]», «ver[dxi]»); ditongações («l[uis]» por «__»). |
Moçambique, Beira, Dinho |
|
Sintaxe: possessivo sem artigo («__
duas irmãs»). |
Moçambique,
Inhaca, Mia Couto |
|
|
Portugal, Lisboa Uliengue
e Sofia / estudantes |
Nascidos
em Angola e Moçambique. |
Fonética: vocalismo átono menos
reduzido. Sintaxe: ênclise («Todos
os vizinhos ___») em casos de próclise no português europeu. |
Portugal, Lisboa José
Saramago / escritor |
Variante
___ do português. Dialeto de ___. |
|
Índia, Goa (Loutolim) Mário
e Emiliano / proprietários |
|
|
Portugal, Lisboa José
Saramago |
Registo
formal, mas não demasiado «purista». |
«tinha
que» (por «tinha de»). |
O filme Expiação
(Atonement) é baseado num romance de Ian McEwan.
Tem o interesse de salientar a diferença entre narrador (e, também, sujeito
lírico ou sujeito poético) e escritor. Habitualmente, a
confusão entre estas duas entidades é relativamente fácil de se fazer — e,
ainda mais, quando a narração usa a 1.ª pessoa.
Expiação
organiza-se em, pelo menos, dois níveis narrativos. O protagonista de um deles
— uma escritora —, supostamente identificável com o narrador da história
primeira, vai comprovar-nos a distinção que referi. Mas só o perceberemos no
final.
Na
parte inicial, fica sobretudo evidente a diferença entre diegese
(história, realidade) e discurso (narração). Temos, por exemplo, uma
mesma parte da ação mostrada duas vezes, sem cumprir, no tempo do discurso,
a ordem do tempo da diegese, e vincando a faculdade narrativa de se variar
a focalização (o ponto de vista segundo o qual os acontecimentos nos são
apresentados).
TPC — Vai lendo livros
combinados, ponderando nova leitura assim que termines o que estejas a ler. (Se
não o fizeste ainda, responde na Classroom acerca de livros a ler).
Aula 51-52 (19/dez [1.ª, 3.ª, 5.ª], 4.ª [4/jan]) Correções de contos em cem palavras (ver Apresentação).
Imagina-te jornalista do
século XIV. Escreve a notícia correspondente ao episódio que Fernão
Lopes relata em «Do alvoroço […]» (que está nas pp. 81-83 do manual, mas que já
fomos lendo, ouvindo, resumindo, por estes dias), incluindo:
— título apelativo;
— subtítulo (que
complementa o título);
— um parágrafo curto (só
um período) com o chamado lead (informações essenciais acerca do
acontecimento: Quem? O quê? Quando? Onde?);
— dois parágrafos de corpo
da notícia, com informações sobre as causas (Porquê?) do acontecimento e
as suas circunstâncias (Como?).
(Hoje em dia, cada vez
menos as notícias obedecem a estas regras. Por razões óbvias, na imprensa
escrita a notícia breve tem dado lugar a uma pequena reportagem, com mais desenvolvimento
do que a notícia tradicional. Mas tentarás seguir o modelo mais clássico. A
seguir reproduzi uma notícia saída no Público deste sábado — 17-12-2022 —
adota mais ou menos esse modelo tradicional.)
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Assistimos a um trecho de Língua
(cfr. aula anterior, onde já ficou toda a tabela preencher e cuja apresentação
traz já a correção integral; na Apresentação da aula de hoje fica só a correção
da 2.ª parte).
Tanto a Crónica
D. João I, no episódio da revolução-golpe de 1383, como Expiação, na
parte que decorre antes da Grande Guerra, mostram situações em que alegados
criminosos são, injustamente, castigados.
Fernão
Lopes, Crónica de D. João I, cap. 11 |
Joe Wright,
Expiação, fim da 1.ª parte |
______ é morto pelo Mestre de Avis. |
______ é detido pela polícia. |
O conde João Fernandes Andeiro foi acusado de
estar a matar o Mestre por notícia propagada pelos que manipulavam o _____. |
Robbie foi incriminado por _____, que parece consciente
de estar a mentir (ou se quis convencer do que vira). |
O povo de Lisboa acolhe bem o boato porque já
antes desconfiava do Andeiro («o traidor») e _______ a rainha Leonor Teles («a
aleivosa»). |
Briony deixa-se convencer de que vira mesmo o
violador ______ pela cena da biblioteca, pelo cartão que lera e pelos ciúmes que
sentia. |
O Mestre (com a conivência dos _______ que tudo
tinham planeado) é quem escapa às consequências do assassinato que cometera. |
Paul Marshall (com a conivência da própria ______, que terá percebido ser ele o
violador) é quem se salva de ser apontado como criminoso. |
Todos se rendem ao novo herói, o Mestre de Avis.
O povo tratará de matar ainda outro suspeito de ser antagonista, o ______. |
Se descontarmos Marshall (e talvez Briony e
Lola), apenas acreditam na inocência de Robbie a sua mãe e ______. |
TPC — Além de fazeres a tarefa explicada na folha distribuída (um exercício de flexão de verbos), deves
estar a atento a indicação de trabalhos que porei em Gaveta de Nuvens (e
que podes começar a fazer a partir daí); lê bem as instruções desses trabalhos.
Aula 53-54 (20 [5.ª], 21/dez [4.ª], 6/jan [1.ª, 3.ª]) Ouvidos os primeiros dez minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca das obras de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos escreve V(erdadeiro) ou F(also).
Fernão Lopes esteve ativo
como escritor no século XV e a esse século pertencem os factos que nos relata.
No documentário, usa-se a
metáfora «as Crónicas [de Fernão Lopes]
são um livro que é um país».
Em 1383, D. Fernando
morreu e deixou a filha, D. Beatriz, casada com um rei catalão, D. Gerard Piqué.
D. Leonor, viúva de D.
Fernando, apoia a subida ao trono de D. João, de Castela.
Fernão Lopes terá nascido
em Lisboa e na década em que decorrem estes acontecimentos que nos relata.
Durante a revolução de
1383-85, o povo estava a favor de D. Zelensky, que preferia a D. Putin.
Depois de estudar, Fernão
Lopes tornou-se taberneiro, na Taberna dos Tombos, sendo nomeado guarda-mor em
1418.
Em 1434 é nomeado cronista-mor
do reino, por D. Duarte, que o encarrega de escrever a história dos reis de
Portugal.
Ao longo de vinte anos,
Fernão Lopes terá cumprido esse objetivo, mas só chegaram até nós as crónicas
de D. Pedro, D. Fernando e D. João.
A Crónica de D. Pedro, segundo António Borges Coelho, é a «meno rica»
historiograficamente, mas é fabulosa do ponto de vista literário.
O caso dos amores de D.
Inês de Castro é-nos relatado na Crónica de
D. Fernando.
Da relação de Pedro e Inês
nasceram Dinis e João, mas, antes, já Pedro e Constança tinham gerado o
legítimo Fernando.
D. Pedro teve ainda outro
filho João, de uma outra senhora.
Fernão Lopes, trata D. Fernando,
cognominado «o feioso», elogiosamente.
O povo gostava de Leonor
Teles, mulher de Fernando, a quem chamava «princesa do povo».
D. Beatriz casou com D.
João I, de Castela, com onze anos.
Quando D. Leonor é regente,
há quatro candidatos ao trono: D. Beatriz, D. João, D. Dinis, D. João (Mestre
de Avis).
D. João, Mestre de Avis, é
convencido a matar o alegado amante da rainha-viúva, Andeiro; e corre por
Lisboa a notícia de que estavam a matar o Mestre no Terreiro do Paço.
O Bispo foi morto porque o
povo achava que estava ao lado dos castelhanos.
No ano seguinte, 1385, o
rei de Castela cercaria Lisboa.
Explicação sobre tipo de articulação
narrativa: encadeamento, encaixe, alternância (cfr. Apresentação).
Em O amor acontece (Love actually) há um passo que me lembra o episódio da Crónica de D. João I que estudámos em primeiro
lugar, «Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como
aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele» (pp. 81-83), com o povo de Lisboa
a ser conduzido aos paços da rainha (restaurante), por ação de um pajem (Sofia)
estimulado por Álvaro Pais (Barros), para defender o Mestre (Aurélia), que, alegadamente,
o Conde Andeiro (Jamie) queria matar (comprar), acabando afinal por se festejar
o triunfo do Mestre (Aurélia), que, afinal, matara o Andeiro (casa com Jamie) e
sai até junto das massas (clientes do restaurante, portugueses), que aplaudem deliciadas.
Nesse trecho do filme, as personagens secundárias (ou mesmo figurantes)
portuguesas — não incluo, portanto, Aurélia — são uma espécie de personagem coletiva, plana, ingenuamente caricaturada, talvez
um estereótipo do português aos olhos dos estrangeiros. A caracterização desta «personagem» é, como é costume em cinema, indireta, já que decorre sobretudo das
suas atitudes, da sua linguagem.
Inscreve no quadro os adjetivos qualificativos
correspondentes à característica psicológica que os comportamentos à direita sugerem.
portugueses são... |
comportamentos no trecho de O amor acontece |
interesseiros,
oportunistas, materialistas |
Veem
o casamento da filha, ou irmã, como possibilidade de melhoria das condições
materiais. |
|
Barros
vem abrir a porta em camisola interior; não hesita em confiar em desconhecido;
chama a filha de imediato. |
|
Barros
diz a Sofia que até pagava para se desenvencilhar dela. |
|
Sofia
trata o pai por «estúpido». |
|
Pai
e filha tentam resolver o pedido do estrangeiro. |
|
Pai
e filha vão pelas ruas a contar a todos o que se está passar. |
|
«O
meu pai vai vender a Aurélia como escrava!». |
|
«É
a minha melhor empregada. Não se pode casar!». |
|
Assistem,
sem desviar olhar, à declaração de amor; [na rua, não se coibiram de engrossar
o pelotão em demanda de Aurélia.] |
|
Diz
Sofia: «casa-te mas é com o príncipe William». |
|
Não
percebem as mais elementares palavras inglesas (por isso ficam calados durante
o assentimento de Aurélia). |
|
Barros
e Sofia beijam genro e cunhado. |
|
Todo
o restaurante fica eufórico com o sucesso da declaração de amor. |
Também em Fernão Lopes a
caracterização da personagem coletiva ‘povo (de Lisboa)’ é sobretudo indireta.
Em vez de adjetivos, tenta nome (ou grupo nominal) que corresponda
à característica de comportamento subjacente. Pus alguns, mas acrescenta.
povo mostra... |
passos em «Do alvoroço [...]», Crónica de D. João I |
subordinação
a desígnios de outrem; cumprimento submisso de ordens mesmo que irrazoáveis; sociabilidade;
... |
O Page do Meestre, [...] como lhe disserom que fosse
pela vila segundo já era percebido [combinado],
começou d’ir rijamente a galope [...] braadando pela rua: // — Matom o Meestre!
[...] // As gentes que esto ouviam, saíam
aa rua veer que cousa era; e, começando de falar uns com os outros, alvoroçavom-se
nas voontades, e começavom de tomar armas cada um como melhor e mais asinha podia. |
disponibilidade para adotar pontos vista que se presumem
maioritários; ... |
[...] e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de
marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que
se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte. |
obstinação;
... |
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta
que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom
logares escusos desejando cada um de seer
o primeiro; |
leviandade;
... |
e preguntando uns aos outros
quen matava o Meestre, nom minguava
quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha. |
índole
vingativa; ... |
E per voontade de Deos todos feitos dum coraçom com
talente de o vingar, como forom aas portas
do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, [...] com espantosas palavras
começarom de dizer: // — U matom o Meestre? que é do Meestre? Quem çarrou
estas portas? |
individualismo;
indecisão; ... |
Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre era
morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem para entrar
dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela. // Deles braadavom por lenha, e que veesse
lume pera poerem fogo aos Paaços, e
queimar o treedor e a aleivosa. Outros
se aficavom pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do
Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uns com os outros, nem determinavom nenhuma cousa. |
cobardia;
... |
[...] dizendo
muitos doestos contra a Rainha. |
materialismo;
... |
De cima nom minguava quem braadar que o Meestre
era vivo, e o Conde Fernandez morto; mas isto nom queria nenhum creer, dizendo:
// — Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.
[...] |
ceticismo;
... |
[O mestre mostra-se] // E tanta era a torvaçam
deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre eram que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele;
porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam
uüs contra os outros: //— Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que
nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos, ainda lhe há de viinr algum mal per ela. [...] O aleivosa! já nos
matou um senhor, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d'acabar por estas cousas que faz! |
lhaneza;
... |
— O, senhor! como vos quiserom
matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom
sejaes lá mais. // E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer
vivo. |
subserviência;
candura; ... |
[Então o Mestre] cavalgou com os seus
acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavam dizendo:
// — Que nos mandaes fazer, Senhor? que
querees que façamos? // E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que
lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester. |
TPC
— Em Gaveta de Nuvens vê ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’; se ainda não o fizeste, traz-me
na próxima aula o tepecê com flexão de verbos a partir do teu nome.
Aula 55-56 (3 [5.ª], 9/jan [1.ª, 3.ª], 10/jan [4.ª]) Correção da notícia correspondente a «Do alvoroço [...]»; e explicação do cerco.
O que se segue é uma
adaptação das pp. 99-102 do manual (cap. 148 da Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes). Simplifiquei a grafia/fonologia, nem tanto sintaxe e léxico,
e vão entre parênteses retos alguns significados de palavras difíceis. Omiti
três curtos trechos.
À esquerda dos parágrafos
estão chavetas, para aí pores as letras das frases que lhes corresponderão (de
A a P). Ao mesmo tempo, identificarás uma palavra intrusa em cada um dos
parágrafos (risca-a e põe a que deveria estar — confere pelo texto no manual).
Das tribulações [atribulações]
que Lisboa padecia [sofria] por míngua [falta] de mantimentos
{F, L, I} Estando a cidade assim cercada, na maneira que já
ouvistes, gastavam-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que
nela havia, assim dos que se colheram dentro, do termo [área do concelho], de homens aldeãos com mulheres e filhos, como
dos que vieram na frota do Porto. E alguns se tremetiam [metiam] às vezes em batéis e passavam de noite escusamente [em segredo] contra as partes do
Ribatejo; e, metendo-se em alguns esteiros [braços
do rio], ali carregavam de bolo-rei que já achavam prestes, por recados que
antes mandavam. E partiam de noite, remando mui rijamente, e algumas galés,
quando os sentiam vir remando, isso mesmo [também]
remavam à pressa sobre eles. E os batéis, por lhes fugir, e elas por os tomar,
eram postos em grande trabalho.
{__} Os
que esperavam por tal trigo andavam pela ribeira, da parte de Enxobregas [Xabregas], aguardando quando viesse; e
os que velavam, se viam as galés remar contra lá, repicavam [faziam tocar os sinos] logo para lhes
acorrerem. Os da cidade, como ouviam o repico, leixavam o sono e tomavam as
armas e saía muita gente e defendiam-nos às bestas [arma antiga], se cumpria [era
necessário], ferindo-se às vezes de uma parte e de outra. Porém nunca foi
vez que tomassem algum, salvo uma que certos batéis estavam em Ribatejo com
trigo e foram descobertos por um homem natural de Almada, e tomados pelos
castelhanos; e ele foi depois tomado e preso e arrastado e decepado e beijado.
E posto que [ainda que] tal trigo
alguma ajuda fizesse, era tão pouco e tão raramente, que houvera mister de o
multiplicar, como fez Jesu Cristo aos pães com que fartou os cinco mil homens.
{__} Em isto, gastou-se a
cidade assim [tão] apertadamente que
as púbricas [públicas] esmolas
começaram desfalecer e nenhuma geração de pobres achava quem lhe desse pão; de
guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e vendo a grã míngua dos
mantimentos, estabeleceram deitar fora as gentes minguadas e não pertencentes
para defensão [úteis à defesa]. E
isto foi feito duas ou três vezes, até lançarem fora as mancebas mundairas [prostitutas] e judeus, e outras
semelhantes, dizendo que, pois tais pessoas não eram para pelejar [lutar], que não gastassem os mantimentos
aos defesas centrais; mas isto não aproveitava coisa que muito prestasse.
{D, K} Os castelhanos, à
primeira, prazia-lhes com eles e davam-lhes de comer e acolhimento; depois,
vendo que isto era com fome, por gastar mais a cidade, fez el-rei tal ordenança
que nenhum de dentro fosse recebido em seu arraial [acampamento], mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir
não quisessem, que os açoitassem e fizessem tornar pera a cidade. E isto lhes
era grave de fazer, tornarem por força para tal lugar, onde, chorando, não
esperavam de ser recebidos. E tais havia que de seu grado saíam da escola, e se
iam para o arraial, querendo antes de tudo ser cativos, que assim perecerem
morrendo de fome.
{__} Como não lançariam
fora a gente minguada e sem proveito, que o Mestre mandou saber em certo pela
cidade que bolo-rei havia por todo em ela, assim em covas como por outra
maneira, e acharam que era tão pouco que bem havia mister [necessidade] sobre elo [acerca
disso] conselho.
{__} Na cidade não havia
trigo para vender e, se o havia, era mui pouco e tão caro que as pobres gentes
não podiam chegar a ele [...]. E começaram de comer pão de bagaço de azeitona,
e dos queijos das malvas e das raízes de ervas e de outras desacostumadas
coisas, pouco amigas da natureza; e tais havia que se mantinham em alféloa [melaço]. No lugar onde costumavam vender
o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra; e, se achavam alguns
grãos de trigo, metiam-nos na boca, sem tendo outro mantimento; outros se
fartavam de ervas e bebiam tanta coca-cola que achavam mortos homens e cachopos
jazer inchados nas praças e em outros lugares.
{__} Das carnes, isso
mesmo [também], havia em ela grande míngua [...]. Andavam os moços de
três e oitenta anos pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhes
ensinavam suas madres [mães]; e
muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas que com eles
choravam, que era triste coisa de ver; e, se lhes davam tamanho pão como uma
noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a
seus peitos, por míngua de mantimentos; e, vendo lazerar [sofrer] seus filhos, a que acorrer não podiam, choravam amiúde [frequentemente] sobre eles a morte,
antes que os a morte privasse da vida [...].
{__} Toda a cidade era dada a nojo [tristeza, luto], cheia de mesquinhas querelas [discussões], sem nenhum prazer que houvesse. Uns, com grã míngua do
que padeciam; outros havendo dó dos atribulados. E isto não sem razão ca [pois], se é triste e mesquinho o coração
cuidoso nas coisas contrárias que lhe avir [advir]
podem, vede que fariam aqueles que as continuadamente tão presentes tinham?
Pero [Embora], com tudo isto, quando
repicavam, nenhum não mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus
inimigos. Esforçavam-se uns por consolar os outros, por dar remédio a seu
grande nojo, mas não prestava conforto de palavras, nem podia tal dor ser
amansada com nenhumas doces razões. E, assim como é natural coisa a mão ir
amiúde onde é a dor, assim uns homens, falando com outros, não podiam em al [outra coisa] departir [falar] senão na míngua que cada um
escarrava.
{__} Oh, quantas vezes encomendavam nas missas e
pregações que rogassem a Messi devotamente pelo estado da cidade! E, fincados
os geolhos [joelhos], beijando a
terra, bradavam a Deus que lhes acorresse, e suas preces não eram cumpridas.
Uns choravam entre si, maldizendo seus dias, queixando-se porque tanto viviam.
[...] Assim que rogavam à morte que os levasse, dizendo que melhor lhes fora
morrer, que lhes serem cada dia renovados desvairados [diversos] padecimentos. [...]
{__} Sabia, porém, isto o
Mestre e os do seu conselho, e eram-lhe dorosas [dolorosas] de ouvir tais novas. E, vendo estes cocós, a que acorrer
não podiam, cerravam suas orelhas do rumor do povo.
{__} Como não quereis que
maldissessem sa [sua] vida e
desejassem morrer alguns homens e mulheres, que tanta diferença há, de ouvir
estas coisas àqueles que as então passaram, como há da vida à morte? Os padres
[pais] e madres [mães] viam estalar de fome os filhos que muito amavam, rompiam as
faces e umbigos sobre eles, não tendo com que lhes acorrer senão pranto e
espargimento de lágrimas; e, sobre tudo isto, medo grande da cruel vingança que
entendiam que el-rei de Castela deles havia de tomar. Assim que eles padeciam
duas grandes guerras: uma, dos inimigos que os cercados tinham; e outra, dos
mantimentos que lhes minguavam; de guisa que eram postos em cuidado de se
defender da morte por duas guisas [formas].
{__} Para
que é dizer mais de tais falecimentos [provações]?
Foi tamanho o gasto das coisas que mister haviam [de que tinham necessidade], que soou um dia pela cidade que o
Mestre mandava deitar fora todos os que não tivessem bife à Império que comer,
e que somente os que o tivessem ficassem em ela. Mas quem poderia ouvir, sem
gemidos e sem choro, tal ordenança de mandado àqueles que o não tinham? Porém,
sabendo que não era assim, foi-lhes já quanto de [bastante] conforto. Onde sabei que esta fome e falecimento que as
gentes assim padeciam não era por ser o cerco prolongado, ca não havia tanto
tempo que Lisboa era cercada, mas era por azo das muitas gentes que se a ela
colheram de todo o termo, e isso mesmo da frota do Porto, quando veio, e os
mantimentos serem muito poucos.
{__} Ora esguardai [olhai], como se fôsseis presente, uma
tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma certa fiúza [confiança] de seu livramento [libertação],
como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó
geração que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos
males nem foi quinhoeiro [participante]
de tais hérnias umbilicais! Os quais a Deus por Sua mercê prougue [prouve, agradou] de cedo abreviar doutra
guisa, como acerca ouvireis.
Faz corresponder uma letra
a cada um dos parágrafos (já resolvi os casos em que cabiam ao parágrafo duas
ou três letras):
A — Os portugueses vão em
socorro das galés após o repicar dos sinos.
B — Corre o boato sobre a
decisão do Mestre de expulsar gente da cidade.
C — As pessoas procuram
desesperadamente trigo no chão.
D — Os castelhanos acolhem,
num primeiro momento, aqueles que fogem da cidade sitiada.
E — O cronista reflete
sobre a situação.
F — Os mantimentos
gastam-se cada vez mais depressa.
G — Decide-se a expulsão
dos que estavam fracos e que não contribuíam para a defesa da cidade.
H — O Mestre ordena que se
faça o levantamento do pão existente em Lisboa.
I — Os castelhanos atacam
as galés que tentam abastecer Lisboa.
J — As crianças mendigam
pela cidade, pedindo pão.
K — O rei de Castela
ordena que os fugitivos sejam devolvidos à cidade.
L — O número de habitantes
da cidade aumenta cada vez mais.
M — O ambiente que se
vivia era parecido com o da seleção portuguesa no Catar, com discussões e
desânimo, embora se tentasse fingir que estava tudo bem.
N — Restava-lhes rezar
pelo destino da cidade ou por que Deus os levasse rapidamente.
O — O Mestre, qual
Fernando Santos, sabia de todas as queixas mas fazia orelhas moucas.
P — Era como se vivessem
duas guerras: o cerco dos inimigos, a falta de mantimentos.
Responde à pergunta 1
de Gramática, na p. 103, e vê a solução do item 6 de Conhecer:
Conhecer, 6 [com a
grafia modernizada]:
«Como não quereis que
maldissessem sa [sua] vida e desejassem morrer alguns homens e mulheres,
que tanta diferença há de ouvir estas coisas àquelas que as então passaram,
como há da vida à morte?» — interrogação retórica;
«Ora esguardai [olhai,
vede] como se fósseis presentes [...]» — apelo à visualização;
«Ó geração que depois veio,
povo bem aventurado, que não soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro [participante]
de tantos padecimentos!» — apóstrofe.
Gramática, 1 & 1.1:
étimo |
coluna B |
outras palavras |
(A) auricula- |
|
|
(B) vita- |
|
|
(C) videre |
|
|
(D) filiu- |
|
|
(E) lacte- |
|
|
(F) morte- |
|
|
Escreve um
comentário acerca deste cartoon,
procurando relacioná-lo com algum (ou alguns) aspeto(s) dos textos de Fernão
Lopes que já conheces. A caneta
.
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TPC
— Em Gaveta de Nuvens vê ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’; se ainda não o fizeste,
traz-me na próxima aula o tepecê com flexão de verbos a partir do teu nome.
Aula 57-58 (9 [5.ª], 11/jan [4.ª], 13/jan [1.ª, 3.ª]) Correção de comentário sobre cartoon e textos de Fernão Lopes.
Lê o texto nas pp. 96-97
(«A peleja de 1384») e assinala, no plano que pus em baixo (idêntico ao na
margem do texto), as linhas correspondentes a cada item.
Introdução (ll. 1-4)
Os dois cercos de Lisboa:
ll. 1-___
— por D. Afonso Henriques
(e cruzados), contra Mouros, em 1147: 1-___
— por D. João (Juan) I, de
Castela, em 1384: ___-3 (ou 4)
Tejo teve papel relevante
nos dois cercos: ___-___
Desenvolvimento (ll. 5-40)
As estruturas de defesa da
cidade (a muralha fernandina): ___-___
O cerco castelhano de
1384: ___-___
— o cerco terrestre:
___-___
— a disposição da frota no
Tejo: ___-___
A estratégia fluvial dos
portugueses: ___-___
— formação de uma armada
para enfrentar os castelhanos: ___-17 (ou 19)
— problemas surgidos que
impediram a estratégia inicial: ___-___
— (re)definição dos
objetivos: ___-___
A batalha no Tejo, a 18 de
julho de 1384: ___-___
— chegada da frota
portuguesa: ___-___
— reação dos castelhanos:
___-___
— estratégia portuguesa:
___-___
— combate propriamente
dito: ___-___
Conclusão (ll. 41-47)
O «empate técnico» na
batalha: ___-___
Consecução do objetivo
português: ___-___
Castelhanos voltam à
posição inicial: (44 ou) 46-___
Na p. 97
resolve o item 4:
Nas expressões «Um jogo de
xadrez flutuante» (l. 32) e «inundadas de besteiros e lanceiros» (l. 44), o
autor recorre {seleciona a alínea certa}: ______.
Os autores do manual
consideram o texto que lemos uma exposição sobre um tema (lê também o
que se diz no pé da página 97).
Qual é para ti o tipo de
texto predominante em «A peleja de 1384»? _______
O
sketch «Encorning» (série Fonseca)
ridiculariza um hábito que encontramos nas profissões em que convém parecer
muito atualizado: o uso despropositado de palavras inglesas. Por vezes, o anglicismo é mesmo necessário para
referir conceitos para que não há equivalente em português; mas, em muitos
outros casos, usa-se o estrangeirismo
apenas para conferir ao que se diz uma aparência de modernidade.
O
ridículo da situação vem destas características:
(i) exagero do número de anglicismos proferidos em todas as falas;
(ii)
a partir de certa altura, as personagens, passarem a dizer supostos
estrangeirismos (constituídos por palavra portuguesa + ing);
(iii)
num momento quase final, essas falsas palavras inglesas serem derivadas a
partir de palavras portuguesas de nível popular (+ sufixo inglês -ing).
Depois
de veres o sketch, entre as palavras que
transcrevi na tabela, distingue:
(1)
anglicismos propriamente ditos;
(2)
falsos anglicismos, criados a partir de palavras portuguesas de nível corrente;
(3)
falsos anglicismos, inventados a partir de palavras portuguesas de nível
popular.
anglicismo |
|
tradução / palavra verdadeira |
anglicismo |
|
tradução / palavra verdadeira |
downsizing |
1 |
abaixamento |
raspaneting |
|
|
merchandising |
|
promoção |
preguicing |
|
|
factoring |
|
cobrança
de créditos por intermediário |
desautorizing |
|
|
outsourcing |
|
subcontratação externa |
respeiting |
|
|
holding |
|
sociedade gestora de
participações sociais |
retracting |
2 |
retra[c]tar ('desdizer') |
benchmarking |
|
avaliação relativamente à
concorrência |
sarilhing |
|
|
marketing |
|
mercadologia |
encorning |
|
|
leasing |
|
aluguer de bens |
aldrabing |
|
|
renting |
|
aluguer |
lixating |
|
|
upgrading |
|
atualização |
enxerting |
|
|
networking |
|
ligação em rede |
larguing |
|
|
[outsourcing] |
|
subcontratação externa |
desculping |
|
|
encorning |
|
|
melhoring |
|
|
despeding |
|
|
geraling |
|
|
viding |
|
|
filhodaputing |
3 |
filho da puta |
Algumas
das palavras que integrámos no tipo 1 podem considerar-se já verdadeiros empréstimos (mais do que estrangeirismos temporários). Se
admitíssemos o critério de os empréstimos já estarem dicionarizados e os
estrangeirismos não, diríamos serem ainda meros estrangeirismos ________,
_______, ______, já que encontro as outras palavras no Grande Dicionário Língua Portuguesa (Porto Editora).
O
protagonista de «Polícia que se quer vestir de mulher» (série Fonseca) usa
alguns empréstimos e estrangeirismos. São, em geral, palavras relacionadas com
a moda.
Põe
nas duas primeiras colunas a tradução ou o empréstimo que ouviste. Na terceira
coluna, decide entre «anglicismo» ou, se a palavra vier do francês,
«galicismo».
Por fim, à
esquerda da primeira coluna, ordena (1-6) as palavras segundo o grau de
integração no português (de empréstimo quase já não reconhecível como tal — e,
claro, dicionarizado há muito — até ao estrangeirismo raramente ouvido).
Empréstimo/Estrangeirismo |
Significado / Tradução |
Origem | étimo |
tailleur |
_____________________ |
galicismo | tailleur |
|
chapéu com abas
largas e leves |
_________ _ | capeline + «chapelina» |
|
cosméticos aplicados
para embelezar |
___________ | maquillage |
|
_____________________ |
anglicismo | gloss |
|
mulher ordinária,
promíscua |
___________ | slut |
|
espécie de «cachecol»
largo |
___________ | écharpe |
Relativamente às palavras
ou expressões em «Indivíduo que é javardola, menos quando fala francês» (Lopes
da Silva), adivinha se estão dicionarizadas e, nesse caso, dá palpite sobre as
grafias com que a palavra foi registada em dois dicionários (o português Grande Dicionário Língua Portuguesa e a
edição brasileira do Dicionário Houaiss).
|
GDLP (Porto Ed.) |
Houaiss brasileiro |
étimo |
Galicismos (francesismos) |
|
Ø |
partenaire |
lingerie |
|
lingerie |
|
|
soutien-gorge / sutiã |
soutien-gorge |
|
|
réveillon |
réveillon |
|
champanhe |
|
champagne |
|
|
chantilly / chantili |
chantilly |
|
|
marquise |
marquise |
|
|
croissant |
croissant |
|
roulotte / rulote |
|
roulotte |
|
|
tricô |
tricot |
|
|
ménage à
trois |
ménage à trois |
|
Anglicismos;
termos
ingleses |
|
timing |
timing |
|
feedback |
feedback |
|
OK |
o.k. |
o.k. (oll korrect) |
|
|
Ø |
boxer shorts |
|
|
Ø |
[Manchester United] |
|
|
Ø |
[Bobby Charlton] |
Fernão
Lopes, Crónica de D. João I, cap. 148 |
Joe
Wright, Expiação, episódio de Dunquerque |
Portugueses (os lisboetas e os dos arrabaldes
que se recolheram dentro da muralha fernandina) estão cercados pelos ____. |
Tropas aliadas (com franceses e ingleses),
vencidas por _____ na Batalha de França, ficaram encurraladas na praia, em
Dunquerque. |
Portugueses estão a morrer à fome, procuram
restos de ____ ou quaisquer mantimentos onde quer que fosse. |
Robbie está desidratado e, já tresloucado,
avança não se percebe para onde e vai procurando _____. |
_____ desanimava («choravam que era triste cousa
de ver») e alguns desistiam («como não quereis que maldissessem sa [sua]
vida e desejassem morrer»), sem fé na ____ («sem nenhuma certa feúza [confiança]
de seu livramento»). |
____ estavam desorganizadas, com muitos feridos,
e alguns soldados, como Robbie, já mostravam indícios de estar a delirar, mas
muitos ainda tinham fé na ____ (e até cantavam hinos de moralização). |
Mais tarde, alguma ajuda chegará pelo ____ (naus
vindas do Porto trarão alguns víveres e algumas _____ vão conseguir aportar
em Lisboa). |
Mais tarde, alguma ajuda chegará por ____ (_____
vindas de Inglaterra em poucos dias procederão à evacuação de trezentos mil
soldados). |
TPC
— Durante esta semana (até dia 15) descarrega na Classroom (vou enviar mensagem
brevemente) tarefa que já está explicada em Gaveta
de Nuvens desde o «boxing day»!; mas, antes de fazeres o trabalho, lê bem
as citadas ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’.
Aula 59-60 (10 [5.ª], 16 [1.ª, 3.ª], 17/jan [4.ª]) Correção de comentário a cartoon e textos de Fernão Lopes.
Usa apenas as páginas do
manual em que estão os textos que te vou pedir para leres, as pp. 105 e 106.
Começa pelos textos na p. 105, reunidos sob o título «Afirmação da consciência coletiva».
Segundo o primeiro
parágrafo (ll. 1-10), a revolução de 1383-1385
a) aproveitou uma consciência da identidade
nacional que já se fora desenvolvendo.
b) enfrentou a falta de consciência de uma
identidade nacional.
c) teve de lutar contra uma identidade nacional
muito dependente de Castela.
d) fez surgir uma consciência de identidade
nacional que não se tinha esboçado antes.
«Fernão Lopes» (l. 13) é
a) catáfora de «um escritor» (l. 11).
b) correferente de «um escritor» (l. 11).
c) termo anafórico de «um escritor» (l. 11).
d) anáfora de «um escritor» (l. 11).
No parágrafo entre as linhas 14 e 20, salienta-se
o facto de Fernão Lopes ter
a) instituído a burguesia como propulsora da
revolução de 1383-1385.
b) atribuído a nobreza e clero atitudes
persecutórias da «arraia miúda».
c) interpretado o papel dos adultos no momento em
que Portugal se torna nação.
d) reconhecido ao povo o papel de principal agente
da ação.
Nos dois períodos entre as ll. 21-25, salienta-se
uma característica de Fernão Lopes:
a) preferir tomar como principal herói o povo.
b) dar protagonismo aos reis e aos nobres.
c) ter em em conta o contributo de toda sociedade.
d) fazer da história um conjunto de episódios
palacianos.
«grande parte da originalidade desta crónica» (ll.
21-22) desempenha a função sintática de
a) complemento direto.
b) modificador do nome.
c) complemento oblíquo.
d) sujeito.
A função sintática de «à fome» (l. 28) é a de
a) complemento oblíquo.
b) complemento indireto.
c) complemento direto
d) sujeito.
A anáfora «ele» (l. 28) tem como antecedente
a) «Mestre» (l. 29).
b) «o povo de Lisboa» (l. 27).
c) «o povo» (l. 25).
d) «D. João I de Castela» (l. 28).
No último parágrafo (ll. 31-33), alude-se a uma
característica da história de Fernão Lopes:
a) o rigor científico.
b) uma raia miúda ter a proteção divina.
c) a força intrínseca da «arraia miúda».
d) a interferência de juízos religiosos.
Passa agora ao texto na p. 106, «A identidade nacional é o novo cool»:
Em «Às vezes parece que o patriotismo
é só uma moda.» (l. 1) fica implícito que o patriotismo
a) normalmente é uma moda.
b) nunca parece uma moda.
c) parece sempre uma moda.
d) não é só uma moda.
Entre as linhas 5 e 10, lamenta-se que
a) a vaidade tuga só se mobilize com os records do
piroso Ronaldo (aka «Cris» ou «CR7»).
b) o orgulho nacional só seja suscitado em certas
ocasiões (jogos da seleção, por exemplo).
c) o orgulho português se foque sobretudo nos
êxitos em campeonatos de física.
d) o orgulho dos portugueses no seu país seja tão
constante, quase obsessivo.
No período que ocupa quase na íntegra as ll.
11-13, «em detrimento» (l. 12)
a) está usado erradamente (deveria ser «em
benefício», «em favor»).
b) significa que a globalização é desfavorecida
pela identidade nacional (como se pretendia dizer).
c) significa que a identidade nacional é
favorecida pela globalização.
d) quer dizer ‘em desfavor’, ‘em prejuízo’, o que
tem toda a lógica.
Entre as linhas 13 e 16, assume-se que a geração
atual de jovens adultos (18-34)
a) é a geração mais global de sempre e pouco se
preocupa com o orgulho nacional.
b) adota rapidamente os códigos globais mas também
se preocupa com as roupas que veste.
c) lida bem com a globalização mas tem também
preocupações com a identidade nacional.
d) enfronha-se muito no seu mundo de aldeia,
escondendo-se de tudo.
A anáfora «os» (l. 19) tem como antecedente
a) «alguns dos principais aspetos» (l. 19).
b) «trinta e sete países» (l. 18).
c) «os principais aspetos» (l. 19).
d) «o sentimento dos cidadãos de trinta e sete
países» (l. 18).
A anáfora «a» (l. 22) tem como antecedente
a) «cidadão global» (l. 22).
b) «um esforço» (l. 21).
c) «identidade» (ll. 21-22).
d) «Uma das principais conclusões deste relatório»
(l. 20).
Segundo o penúltimo parágrafo (ll. 23-27), os
«Millennials»
a) estão confiantes de que a globalização não porá
em perigo a nossa cultura.
b) preferem uma forte relação com os símbolos
nacionais à globalização.
c) têm orgulho no seu país em boa percentagem
(72%).
d) receiam que a net possa ajudar a globalização a
prejudicar a identidade nacional.
No último parágrafo (ll. 28-32) considera-se
a) poder a identidade nacional ser fator a ter em
conta pela economia.
b) que pastéis de nata, bacalhau à Gomes de Sá,
amêijoas à Bulhão Pato são inconciliáveis com a globalização.
c) interessar às marcas comerciais sobretudo a
globalização.
d) não haver utilidade comercial na chamada
identidade nacional.
Resolve «Praticar», na p. 98:
1.1 ...
1.2 ...
2 ...
Completa, usando o que já conheças ou que ainda
possas investigar acerca de Fernão Lopes e da sua Crónica de D. João I. Tenta fazer trabalho criativo e cuidadoso.
Alguns conselhos que dei a propósito do Alfabeto Pessoal seriam úteis também
agora.
TPC
— Completa acróstico sobre Crónica de D. João I.
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