Saturday, August 26, 2017

Bibliofilmes do 10.º 5.ª


Seguem-se trabalhos inspirados em livros lidos. Quando à frente da classificação figurarem asteriscos (*), significa que os bibliofilmes me chegaram já depois do prazo estipulado e que, por isso, sofrerão uma penalização (cada asterisco corresponde a um dia de atraso e, portanto, a meio valor a retirar à nota que se registará para já). Quanto a $, assinala que o título do ficheiro não seguiu o exato modelo que dera nas «Instruções» («Bibliofilme de ... do 10.º ...»); e £ quer dizer que não vinha indicada no mail a obra que serviu de ponto de partida, como também se pedia nas citadas instruções.

Natacha
Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Natacha (17,5) £ Tópico das diferença bem escolhido e bem ilustrado, por elementos simbólicos, num espaço interior; texto seguro e sem erros. Leitura em voz alta sai prejudicada, em termos de naturalidade, por volume de voz ser demasiado elevado (um pouco como quando os atores de teatro, habituados a declamar, são chamados a fazer cinema, onde qualquer sussurro bastaria, numa gravação também é assim: não estamos a ler para uma plateia); mas não há erros — em «clima ameno», porém, a pausa é excessiva.

Guilherme
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis | Guilherme (17,5-17) $ Primeira parte muito interessante, refletindo sobre imagens que temos do estrangeiro, da viagem, como Italo Calvino; cuidado louvável na referenciação de tudo. Segunda parte pareceu-me um pouco forçada, pouco original (se o objetivo era a estranheza sentida por estrangeiros, era possível ter sido mais profundo; descrição de Lisboa, acompanhada por música considerada lisboeta, fica aquém do resto); a corrigir: «*lá também tem o cais» (há).

Beatriz E.
Ondjaki, Os da minha rua | Beatriz E. (18-17,5) Bom texto, boa planificação, leitura em voz alta muito correta. Slides googlados enquanto ilustração do que é dito é estratégia que tenho desaconselhado, embora, neste caso, se possa dizer que o lado artificial dessa solução é assumido (são imagens que visam um comentário humorístico, são como um exercício de estilo); a corrigir: «*parecido ao» (parecido com).

Ângela & Maria
Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Maria & Ângela (17,5-17) Ideia muito boa, bem como o sentido de cinema que revela a planificação do bibliofilme e o gosto da estilização. Texto e representação poderiam ser mais trabalhados, mais elaborado e ensaiada (texto é demasiado formal, o que levou a que a representação fosse sentida pelas atrizes como mais forçada, mais difícil — num registo mais corrente, teia sido mais fácil); «*houvessem» (houvesse).

Elisa
Jorge Amado, Capitães da areia | Elisa (15-14,5) $ £ Parte em filme propriamente dito é a melhor, porque implica ritmo (até o som ambiente favorece essa maior naturalidade). Leitura em voz alta podia ter mais vivacidade (não há erros, mas parece uma leitura pouco confiante, ainda um pouco para dentro); a corrigir: na legenda, «Capitães de [da] areia»; pronúncia de «beco» («b[ê]co», não «b[ε]co», pelo menos no dialeto de Lisboa, que é o nosso); «ao saberem tudo o que ela passou» (passara).

Sara N.
Edgar Allan Poe, Contos fantásticos | Sara N. (18) Saliento a relação com a obra lida e a bem imaginada estratégia para ir ocupando com imagens o tempo do discurso oral (um relatório visto no ecrã); o texto escrito tem certa complexidade e, mesmo assim, não tem erros. Leitura em voz alta boa, certa, mas melhorável quanto a fluência; a corrigir: «*aquele dia chuvoso onde» (em que / quando); em francês não se pronuncia «*[au]guste» mas «[ô]guste».

Ana J.
Homero, Odisseia | Ana J. (18-(17,5)) $ Quero elogiar o ritmo, a boa planificação, a perceção de como funciona o cinema — que implica condensar a ação, o que foi plenamente conseguido, atentar em muitos pormenores; também o texto está bem escrito e foi bem lido. Som na parte em diálogo não está perfeito; a corrigir: «*como de previsto» (como previsto); «*tal não era a surpresa» (Qual não foi a surpresa); «terras natal» (terras natais); «*juntamente com seu patrão, tomaram» (tomou); pronúncia de Menelau.

Sara Filipa
Clarice Lispector, Laços de família | Sara Filipa (15,5) $ Boas ideias, sentido estético; remeter para as próprias vivências é aceitável mas encerra também alguma cedência à facilidade. Poderia ter-se concedido mais tempo à parte formal ou académica (ensaiar leitura — por vezes, demasiado rápida —, sofisticar texto); a corrigir;: «*tênhamos» (tenhamos); «*pica toda» é de registo demasiado popular.

Mafalda
Italo Calvino, As cidades invisíveis | Mafalda (17) $ Bom gosto na gestão de vários meios, sem exibição (ou seja, com simplicidade elegante), com perfeição no acabamento. Relativamento pouco texto (2.31 mas com partes sem texto). A corrigir: «*por mais que todos pensamos» (pensemos); «*um novo mundo que só nós o vemos» (só nós vemos).

João R. & Pedro R.
Arturo Pérez-Reverte, A tábua de Flandres; Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Pedro R. & João R. (*15 > [14,5]) $ £ Representação mostra facilidade; também há competência técnica; escrita igualmente revela criatividade (na criação de situação com teor crítico e humorístico), embora falte mais texto redigido (havia espaço para mais intervenções, se se evitasse certa repetição do tópico principal). Relação com livros lidos não fica clara (embora o filme não devesse ser sobre livros, fora-lhes dito que deviam ter as obras como pretexto — foi o lado de mistério dos livros que lhes calharam que serviu de ponto de partida?); a corrigir: «*tenho de precaver para que tal não aconteça nunca mais» (tenho de prescrever [medicamento] para que tal não aconteça nunca mais — no fundo, «tenho de prescrever para que precaver que tal aconteça»); «*receio que tem uma doença raríssima» (receio que tenha uma doença raríisima); «*mandar ao chão» (atirar para o chão — se se tratasse da personagem a falar, aceitar-se-ia o registo popular; no caso em pauta, é um trecho assumido pela «narração», em off, o que implicava maior formalidade).

Beatriz Pinto & Leonor
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho; Almeida Faria, O murmúrio do mundo | Leonor & Beatriz P. (*16,5-17 [> 16-16,5]) $ £ Houve investimento na montagem (recolha e tratamento das imagens, som), de forma a dar ao filme um estilo de clip publicitário, sempre com novas informações, com bastante ritmo; texto sem erros e, em geral, leitura em voz alta certa (mas que não perderia com mais repetições; a velocidade, aliás, contagiou parte da leitura, estando o segundo trecho de Beatriz, sobre Paris, demasiado rápido; Beatriz foi expressiva que Leonor; Leonor conseguiu uma velocidade mais apropriada). Sendo o tópico «Viagens», era difícil não cair na linguagem embevecida do panfleto turístico, o que as autoras quase conseguem; evitaria alguns lugares comuns («sair da zona de conforto», «borboletas na barriga»); a corrigir: «*ser humanos» (seres humanos); «*extranho» (estranho).

Carolina

Edgar Allan Poe, Contos fantásticos | Carolina (***17,5 [> 16]) A conceção é original: uma história que, em geral, é assumidadamente infantil (em parte, caricatura de histórias infantis), mas que, a certo momento, inesperadamente, alude a Poe  através do miar angustiante do gato («O gato preto» terá sido a inspiração); o formato não é o de um filme, os slides completam o que vai sendo dito oralmente (há alternância: ora se obtém a informação correspondente ao discurso do narrador em slide; ora se ouvem as personagem em diálogo apenas assinadadas no slide por desenho e «filatera»); a redação não tem erros mas não perderia em ser um pouco mais sofisticada; leitura em voz alta também sem erros, mas que ganharia em ser mais expressiva. No texto nos slides, a pontuação está à inglesa, demasiado económica para o que ainda se usa em português (dou só um exemplo: «*E dizendo isto recomeçou a sua história» deveria ficar «E, dizendo isto, recomeçou a sua história»); evitaria alguns «seus» e «suas», e «da vida dele» poderia ficar «da sua vida».

João F.
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | João F. (****15-14,5 [>13-12,5]) $ O trabalho revela competência técnica (montando-se vários materiais — ainda que não originais — e jogando-se ainda com intervenções ao vivo); revela também que o autor tem facilidade em falar para a câmara. Conceção em termos gerais até poderia ter resultado — pegar em pequenos trechos e partir deles para se perceber melhor a obra (ainda que eu tivesse sugerido que fugissem a uma abordagem em torno das obras) —. só que as frases foram desaproveitadas, há apenas uma sua interpretação demasiado literal, que não é muito mais do que uma paráfrase, quase uma repetição; a corrigir: «diferente àquela» (diferente daquela).

Ana S., Beatriz P. & Luísa

Ondjaki, Os da minha rua; Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Beatriz P. & Luísa & Ana S. (14-14,5) £ Destacam-se títulos de algumas histórias de Os da minha rua e, a partir de desenhos (ora mais figurativos ora mais estilizados) cujo processo de elaboração se nos vai mostrando, alude-se ao enredo da história em causa; no caso de Robinson, cria-se entrevista ao herói (recuperando-se depois informações do próprio romance). Houve trabalho, há mérito nos desenhos (de Ana, creio), houve o domínio técnico necessário. O dispositivo tem uma desvantagem, tornar o filme lento (talvez pudesse haver mais texto a ser dito ao mesmo tempo); há também uma consequência interessante, que é, dando tempo ao espetador para ficar a pensar desde que o título é lançado até ficar o desenho completo, faz-se que o leitor-ouvinte vá pondo hipóteses, vá pensando na sequência futura da história (uma estratégia típica da leitura); de qualquer modo, julgo que teria sido preferível, através de montagem, evitar tantas pausas. Leituras em voz alta com uma ou outra hesitação. A corrigir: não se percebe uma palavra em «*um banho muito ? ao Kasukuta»; «embarquei» soa «embar[gu]uei»; «*a semana onde o encontrei» (em que); «*enviaremos-lhe» (enviar-lhe-emos).

Pedro S. & Bernardo

Jonathan Swift, Viagens de Gulliver | Bernardo & Pedro S. (10) $ £ Foi positivo terem lido a obra e terem tentado resolver a tarefa. Porém não atentaram nas instruções (pedira que não fizessem resumos) nem investiram o suficiente no trabalho (a leitura em voz alta não fui muito ensaiada, não se aplicaram a tentar encontrar imagens mais adequadas), não houve grande esforço nem gosto em tentar fazer bem.

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