Bibliofilmes do 10.º 5.ª
Seguem-se trabalhos inspirados em livros lidos.
Quando à frente da classificação figurarem asteriscos (*), significa que os
bibliofilmes me chegaram já depois do prazo estipulado e que, por isso,
sofrerão uma penalização (cada asterisco corresponde a um dia de atraso e,
portanto, a meio valor a retirar à nota que se registará para já). Quanto a $, assinala
que o título do ficheiro não seguiu o exato modelo que dera nas «Instruções» («Bibliofilme
de ... do 10.º ...»); e £ quer dizer que não vinha indicada no mail a obra que
serviu de ponto de partida, como também se pedia nas citadas instruções.
Natacha
Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Natacha (17,5)
£ Tópico das diferença bem escolhido e bem ilustrado, por elementos simbólicos,
num espaço interior; texto seguro e sem erros. Leitura em voz alta sai
prejudicada, em termos de naturalidade, por volume de voz ser demasiado elevado
(um pouco como quando os atores de teatro, habituados a declamar, são chamados
a fazer cinema, onde qualquer sussurro bastaria, numa gravação também é assim:
não estamos a ler para uma plateia); mas não há erros — em «clima ameno»,
porém, a pausa é excessiva.
Guilherme
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis | Guilherme
(17,5-17) $ Primeira parte muito interessante, refletindo sobre imagens que
temos do estrangeiro, da viagem, como Italo Calvino; cuidado louvável na
referenciação de tudo. Segunda parte pareceu-me um pouco forçada, pouco
original (se o objetivo era a estranheza sentida por estrangeiros, era possível
ter sido mais profundo; descrição de Lisboa, acompanhada por música considerada
lisboeta, fica aquém do resto); a corrigir: «*lá também tem o cais» (há).
Beatriz E.
Ondjaki, Os da minha rua | Beatriz E. (18-17,5) Bom texto, boa planificação, leitura em voz alta muito correta.
Slides googlados enquanto ilustração do que é dito é estratégia que tenho
desaconselhado, embora, neste caso, se possa dizer que o lado artificial dessa
solução é assumido (são imagens que visam um comentário humorístico, são como um
exercício de estilo); a corrigir: «*parecido ao» (parecido com).
Ângela
& Maria
Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Maria
& Ângela (17,5-17) Ideia muito boa, bem como o sentido de cinema que revela
a planificação do bibliofilme e o gosto da estilização. Texto e representação
poderiam ser mais trabalhados, mais elaborado e ensaiada (texto é demasiado
formal, o que levou a que a representação fosse sentida pelas atrizes como mais
forçada, mais difícil — num registo mais corrente, teia sido mais fácil);
«*houvessem» (houvesse).
Elisa
Jorge Amado, Capitães da areia | Elisa
(15-14,5) $ £ Parte em filme propriamente dito é a melhor, porque implica ritmo
(até o som ambiente favorece essa maior naturalidade). Leitura em voz alta
podia ter mais vivacidade (não há erros, mas parece uma leitura pouco
confiante, ainda um pouco para dentro); a corrigir: na legenda, «Capitães de
[da] areia»; pronúncia de «beco» («b[ê]co», não «b[ε]co», pelo menos no dialeto
de Lisboa, que é o nosso); «ao saberem tudo o que ela passou» (passara).
Sara N.
Edgar Allan Poe, Contos fantásticos | Sara N.
(18) Saliento a relação com a obra lida e a bem imaginada estratégia para ir
ocupando com imagens o tempo do discurso oral (um relatório visto no ecrã); o
texto escrito tem certa complexidade e, mesmo assim, não tem erros. Leitura em
voz alta boa, certa, mas melhorável quanto a fluência; a corrigir: «*aquele dia
chuvoso onde» (em que / quando); em
francês não se pronuncia «*[au]guste» mas «[ô]guste».
Ana J.
Homero, Odisseia | Ana J.
(18-(17,5)) $ Quero elogiar o ritmo, a boa planificação, a perceção de como
funciona o cinema — que implica condensar a ação, o que foi plenamente
conseguido, atentar em muitos pormenores; também o texto está bem escrito e foi bem lido. Som na parte em diálogo não está perfeito; a corrigir: «*como de previsto» (como previsto); «*tal não era a
surpresa» (Qual não foi a surpresa); «terras natal» (terras natais); «*juntamente com seu patrão, tomaram» (tomou); pronúncia
de Menelau.
Sara
Filipa
Clarice Lispector, Laços de família | Sara Filipa (15,5) $ Boas ideias, sentido estético; remeter para as próprias
vivências é aceitável mas encerra também alguma cedência à facilidade. Poderia
ter-se concedido mais tempo à parte formal ou académica (ensaiar leitura — por
vezes, demasiado rápida —, sofisticar texto); a corrigir;: «*tênhamos» (tenhamos);
«*pica toda» é de registo demasiado popular.
Mafalda
Italo Calvino, As cidades invisíveis | Mafalda (17)
$ Bom gosto na gestão de vários meios, sem exibição (ou seja, com simplicidade
elegante), com perfeição no acabamento. Relativamento pouco texto (2.31 mas com
partes sem texto). A corrigir: «*por mais que todos pensamos» (pensemos); «*um
novo mundo que só nós o vemos» (só nós vemos).
João R. & Pedro R.
Arturo
Pérez-Reverte, A tábua de Flandres;
Richard Zimler, O último cabalista de
Lisboa | Pedro R. & João R. (*15 > [14,5]) $ £ Representação mostra
facilidade; também há competência técnica; escrita igualmente revela
criatividade (na criação de situação com teor crítico e humorístico), embora
falte mais texto redigido (havia espaço para mais intervenções, se se evitasse
certa repetição do tópico principal). Relação com livros lidos não fica clara (embora
o filme não devesse ser sobre livros, fora-lhes dito que deviam ter as obras como
pretexto — foi o lado de mistério dos livros que lhes calharam que serviu de
ponto de partida?); a corrigir: «*tenho de precaver para que tal não aconteça
nunca mais» (tenho de prescrever [medicamento] para que tal não aconteça nunca
mais — no fundo, «tenho de prescrever para que precaver que tal aconteça»); «*receio
que tem uma doença raríssima» (receio que tenha uma doença raríisima); «*mandar
ao chão» (atirar para o chão — se se tratasse da personagem a falar, aceitar-se-ia
o registo popular; no caso em pauta, é um trecho assumido pela «narração», em
off, o que implicava maior formalidade).
Beatriz Pinto & Leonor
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho; Almeida Faria, O murmúrio do mundo | Leonor
& Beatriz P. (*16,5-17 [> 16-16,5]) $ £ Houve investimento na montagem
(recolha e tratamento das imagens, som), de forma a dar ao filme um estilo de
clip publicitário, sempre com novas informações, com bastante ritmo; texto sem
erros e, em geral, leitura em voz alta certa (mas que não perderia com mais
repetições; a velocidade, aliás, contagiou parte da leitura, estando o segundo
trecho de Beatriz, sobre Paris, demasiado rápido; Beatriz foi expressiva que
Leonor; Leonor conseguiu uma velocidade mais apropriada). Sendo o tópico
«Viagens», era difícil não cair na linguagem embevecida do panfleto turístico, o
que as autoras quase conseguem; evitaria alguns lugares comuns («sair da zona
de conforto», «borboletas na barriga»); a corrigir: «*ser humanos» (seres humanos);
«*extranho» (estranho).
Carolina
Edgar Allan Poe, Contos fantásticos | Carolina
(***17,5 [> 16]) A conceção é original: uma história que, em geral, é assumidadamente
infantil (em parte, caricatura de histórias infantis), mas que, a certo momento,
inesperadamente, alude a Poe através do miar
angustiante do gato («O gato preto» terá sido a inspiração); o formato não é o
de um filme, os slides completam o que vai sendo dito oralmente (há alternância:
ora se obtém a informação correspondente ao discurso do narrador em slide; ora
se ouvem as personagem em diálogo apenas assinadadas no slide por desenho e «filatera»);
a redação não tem erros mas não perderia em ser um pouco mais sofisticada;
leitura em voz alta também sem erros, mas que ganharia em ser mais expressiva. No
texto nos slides, a pontuação está à inglesa, demasiado económica para o que
ainda se usa em português (dou só um exemplo: «*E dizendo isto recomeçou a sua
história» deveria ficar «E, dizendo isto, recomeçou a sua história»); evitaria
alguns «seus» e «suas», e «da vida dele» poderia ficar «da sua vida».
João F.
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | João F. (****15-14,5
[>13-12,5]) $ O trabalho revela competência técnica (montando-se vários
materiais — ainda que não originais — e jogando-se ainda com intervenções ao
vivo); revela também que o autor tem facilidade em falar para a câmara. Conceção
em termos gerais até poderia ter resultado — pegar em pequenos trechos e partir
deles para se perceber melhor a obra (ainda que eu tivesse sugerido que
fugissem a uma abordagem em torno das obras) —. só que as frases foram desaproveitadas,
há apenas uma sua interpretação demasiado literal, que não é muito mais do que
uma paráfrase, quase uma repetição; a corrigir: «diferente àquela» (diferente
daquela).
Ana S.,
Beatriz P. & Luísa
Ondjaki, Os da minha rua; Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Beatriz
P. & Luísa & Ana S. (14-14,5) £ Destacam-se títulos de algumas
histórias de Os da minha rua e, a
partir de desenhos (ora mais figurativos ora mais estilizados) cujo processo de
elaboração se nos vai mostrando, alude-se ao enredo da história em causa; no caso
de Robinson, cria-se entrevista ao
herói (recuperando-se depois informações do próprio romance). Houve trabalho,
há mérito nos desenhos (de Ana, creio), houve o domínio técnico necessário. O dispositivo
tem uma desvantagem, tornar o filme lento (talvez pudesse haver mais texto a
ser dito ao mesmo tempo); há também uma consequência interessante, que é,
dando tempo ao espetador para ficar a pensar desde que o título é lançado até
ficar o desenho completo, faz-se que o leitor-ouvinte vá pondo hipóteses, vá
pensando na sequência futura da história (uma estratégia típica da leitura); de qualquer modo, julgo que teria sido preferível,
através de montagem, evitar tantas pausas. Leituras em voz alta com uma ou outra
hesitação. A corrigir: não se percebe uma palavra em «*um banho muito ? ao
Kasukuta»; «embarquei» soa «embar[gu]uei»; «*a semana onde o encontrei» (em que); «*enviaremos-lhe» (enviar-lhe-emos).
Pedro S. & Bernardo
Jonathan Swift, Viagens de Gulliver | Bernardo
& Pedro S. (10) $ £ Foi positivo terem lido a obra e terem tentado resolver
a tarefa. Porém não atentaram nas instruções (pedira que não fizessem resumos)
nem investiram o suficiente no trabalho (a leitura em voz alta não fui muito
ensaiada, não se aplicaram a tentar encontrar imagens mais adequadas), não
houve grande esforço nem gosto em tentar fazer bem.
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