Saturday, August 26, 2017

Bibliofilmes do 10.º 9.ª


Seguem-se trabalhos inspirados em livros lidos. Quando à frente da classificação figurarem asteriscos (*), significa que os bibliofilmes me chegaram já depois do prazo estipulado e que, por isso, sofrerão uma penalização (cada asterisco corresponde a um dia de atraso e, portanto, a meio valor a retirar à nota que se registará para já). Quanto a $, assinala que o título do ficheiro não seguiu o exato modelo que dera nas «Instruções» («Bibliofilme de ... do 10.º ...»); e £ quer dizer que não vinha indicada no mail a obra que serviu de ponto de partida, como também se pedia nas citadas instruções.

Ivânia
Dante, A Divina Comédia | Ivânia (17,5) Texto está bem escrito, havendo bom equilíbrio entre complexidade e correção; boa leitura em voz alta. Neste bibliofilme é o texto que prevalece, percebe-se que as imagens são um pano de fundo relativamente indiferente, embora solução competente (e, no final, as imagens tornam-se até mais relevantes). A corrigir: «*o que não verdade» (o que não sendo verdade); «*luxúria» (luxo — creio que houve confusão: «luxúria» significa ‘sensualidade’); «*mas as primeiras tentativas desiste» (às); «são eles que a também a mantêm inteira» (são eles que também a mantêm inteira).

Leonor
Mark Lawrence, O príncipe dos espinhos | Leonor (16,5-17) $ Destaco a ideia, o «grafismo», a simplicidade da conceção (o que tem muito que ver com cinema). Adotando-se o género sketch, talvez se pudesse ter aproveitado mais ainda (este formato permitia um desenvolvimento maior, dava mesmo vontade de continuar com a série de elementos disparatados atirados e ter-se-ia chegado a uma conclusão mais forte); leitura em voz alta dos passos do livro, não sendo má, podia ser melhor. A corrigir: «*desvastar» (devastar / devassar); «*relacionada ao livro» (*relacionada com o livro).

Marta
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho | Marta (17-(17,5)) [ajuda de Beatriz M. como figurante e de Catarina na gravação.] Dá-se conta da leitura de forma criativa mas sem se esquecer o foco no próprio livro de Carey (é uma boa síntese, mas sem se notar que se está a fazer síntese, implícita apenas, portanto). O uso da 2.ª pessoa do singular («e tu não te cansas de as ouvir», por exemplo), quando se pretende generalizar, ainda é pouco formal, lembra-me sempre o discurso dos futebolistas que jogaram em Espanha e ficaram a falar portunhol; a corrigir: «*apenas só nós dois» (apenas nós dois); «c[o]mprimentos» (c[u]mprimentos).

Mariana S. & Mariana M.
Ondjaki, Os da minha rua | Mariana M. & Mariana S. (17,5) Ideia original a de ir buscar em espaços próximos os equivalentes das experiências que se quis recordar; boa planificação, com momentos variados — são vários microfilmes dentro de um só —, como convém ao cinema (há trabalho); boa leitura em voz alta; escrita em geral correta, mas, aqui ali, um pouco dada ao lugar comum (ao registo bem comportado entre o roteiro turístico e o jornalismo de causas); a corrigir: nas pronúncias, «número» saiu entre «num[e]ro» e «núm[α]ro»; «indígena» foi lido «indí[gue]na» (!); na sintaxe/semântica: «*há quem diga que viajar é um desperdício, mas, para nós, é muito mais do que isso» (mas, para nós, é exatamente o contrário); «*uma das situações que nos aconteceu» (aconteceram); «*um dos factos que mais nos impressionou» (impressionaram); «*[adquirimos] diversão» (se se atentar no resto da frase, vê-se que «diversão» depende de «adquirir», o que não faz sentido); «lugares especificamente especiais» não me soa bem, embora compreenda a ideia; «do Monsanto» (de Monsanto).

Margarida V.
Jorge Amado, Capitães da areia | Margarida V. (18) $£ Maneira interessante de dar conta de livro lido (e até com certo detalhe) sem parecer que se está a fazer uma apreciação crítica escolar; boa representação; alguns bons achados para se poder comentar vários ângulos do livro (exemplo, a futura nova temporada da série; também as próprias perguntas estão bem escolhidas). Para efeitos da apreciação que tenho de fazer da oralidade este formato é desarmante, já que se adota registo assumidamente de conversa, de improviso — perante algum falhanço de sintaxe pode sempre alegar-se que é assim que falam as realizadoras de cinema do género da C. retratada no bibliofilme (e eu concordaria, embora me pareça que há também alguns momentos em que se trata mais de catacterísticas do discurso juvenil que surgem involuntariamente — «pronto» como marcador, por exemplo — do que pensada caricatura de linguagem de C.); a corrigir: «[história] que nos compele» (compunge, confrange, entristece, emociona?).

Francisca
Italo Calvino, O visconde cortado ao meio | Francisca (17,5) $ [mas justificando] £ Bom retrato dos dois tipos de leitoras, mesmo nos tiques de linguagem, mostrando capacidades de representação e perceção das características sociais (cfr. cenários, adereços, caracterização física). Poderia talvez haver mais menção do enredo do livro (constituiria até motivo para outros quiproquós); a corrigir: «*aleatóriamente» (tirar acento, que é só para o adjetivo); não há razão para as maiúsculas em «Dois» e «Falarem»; falta ponto de interrogação em «Quanto tempo demorou a leitura do livro»; «Que acharam sobre o livro?» é quase agramatical (Que acharam do livro?).

Beatriz B. & Carolina D.
Ondjaki, Os da minha rua | Carolina D. & Beatriz B. (16,5-(17)) Há bom ritmo, variedade, sentido de como se faz um filme; boa solução a de ilustrar em filme, estilizadamente, as recordações primeiro relatadas discursivamente. A primeira impressão é que a leitura em voz alta (as recordações são lidas, é claro, embora se finja o depoimento oral) foi demasiado rápida, foi demasiado «leitura» (ou representavam uma conversa com as hesitações típicas do oral ou liam com outro tipo de perfeição — assim não parece natural nem está perfeito enquanto leitura); porém, vendo o conjunto do filme, já não se nota tanto essa velocidade/falta de naturalidade, porque há uma agregação, com a música a conferir coerência aos quatro segmentos; a corrigir: na legenda final, «*Darte» (Duarte); e equilibraria o volume do texto lido e da música.

Luísa
Homero, Odisseia | Luísa (16-15,5) Há mérito em se ter tentado uma abordagem que alude à obra lida já com certa preocupação de conhecimento literário; o texto está quase sempre bem escrito e foi bem lido. Percebe-se que não houve propriamente uma visão em termos «de cinema», que integrasse logo à partida os elementos visuais com os textuais, embora haja alguns momentos em que se tenta essa planificação típica de um filme; a corrigir: pronúncias de «*l[o]grou» (l[u]grou), «*Polífemo» (Polif[ê]mo), «Hiperi[ó]n» (Hiperíon) e hesitação em «salvaguardava»; em «*eu era sempre, juntamente com algumas pessoas, a que nunca cantava», a parte em itálico não pode figurar; «*com o seu canto e as suas formas físicas que adquiriam» (*com o seu canto e as formas físicas que adquiriam); «*não fez com que ele nunca desistisse» (fez com que ele nunca desistisse).

Margarida P.
Raul Brandão, As ilhas desconhecidas | Margarida P. (17,5-17) Contraste de duas perspetivas, a de Raul Brandão (que passou pela Madeira na sua viagem aos Açores) e a da autora (que tem a vantagem da experiência de conhecer a ilha desde sempre); boa leitura em voz alta; texto entre o «certinho» e o bem escrito. Certo desaproveitamento das potencialidades de um filme (é, no fundo, discurso ilustrado, ainda que tecnicamente competente e com imagens originais); demasiado bolo do caco; pena a versão com marca de água; a corrigir: «*que eu gosto mais» (de que gosto mais); «*que só de pensar nele me traz água à boca» (que só de pensar nele fico com água na boca; que só pensar nele me traz água à boca); «*o facto de qualquer que seja o sítio para onde olho vejo verde» (o facto de qualquer que seja o sítio para onde olhe ver verde); pronúncia de «assim com’ò meu».

Pedro
Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes | Pedro (16,5) $ Embora sobre a obra lida — eu pensara que fizessem mais a pretexto da obra lida —, conseguiu-se originalidade, porque se adotou um formato de depoimento, pessoal, sobre a perspetiva errada que tinha o autor do bibliofilme acerca das cruzadas e de como esta se alterou após a leitura do livro de Maalouf; texto bem escrito (intercalando trechos ilustrativos), leitura em voz alta sem erros. Ponto frágil são as imagens, retiradas de filme(s) ou documentário(s), não originais, portanto; devia, pelo menos, haver referência filmográfica, mas sobretudo, parece-me ter-se desaproveitado uma parte das mais criativas que pode haver num trabalho destes, a visual; a corrigir: «ignorantes a isto» (ignorantes disto); pronúncia de «objetos de arte[s]» (arte).

Adriana M. & Lúcia
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho | Lúcia & Adriana M. (15) Conceção interessante e guião bastante aceitável (ver, porém, erros que assinalo a seguir), tal como a própria representação (papel de Lúcia é mais exigente). No entanto, para que o filme fosse percecionado como reportagem verosímil, «profissional», faltaram cuidados técnicos (parte final, com entrada da música, funciona bem, mas volume do som está desequilibrado — demasiado baixo o anterior); em rigor, tempo mínimo pedido não foi cumprido (dissera, pelo menos 3,30 para trabalhos de pares); «*as únicas pessoas com quem mantive contacto são com as minhas primas» (foi); «rever os familares» parece quase ouvir-se «*reaver os familiares»; «*haviam» (havia); «*não consegui voltar como era antes» (não consegui voltar a ser como era antes).

Diogo Cardita
Jorge Amado, Capitães da areia | Diogo (16-16,5) £ Resulta bem o paralelo entre experiências próprias enquanto criança e Capitães de areia (e depois entre a fase de maior maturidade já e Pedro Bala), ilustrado com filmes do arquivo pessoal do autor; leitura sem erros, em ritmo adequado (talvez sem a plasticidade ideal). A corrigir: «*é uma referência para mim pois por isso o escolhi» (é uma referência para mim, por isso o escolhi); pronúncia de «*ad[ô]to» (ad[ó]to); «*mas da forma que era um bom camarada» (mas pela forma).

Raquel
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Raquel (#)
Raquel (17-16,5) $ A abordagem é, no essencial, de comentário ao livro, embora procurando encontrar lições/situações no exemplo de Robinson suscetíveis de nos guiarem na vida corrente; alguns bons momentos de escrita, também um ou outro lugar comum; boa leitura em voz alta; bom acabamento de tudo. Parte visual, revelando bom domínio técnico, não deixa de ser um tanto supletiva, acessória (não há integração completa com o discurso, embora se aluda à natureza e à ilha); a corrigir: «a nossa natureza esteja baseada nesta frase» (a nossa natureza esteja resumida nesta frase).

Daniela
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis | Daniela (16,5* [> 16]) $ Ideia — e noção de filme — é boa; os dois momentos das imagens, parede (vidro abstrato) e percurso pela rua, correspondem bem a dois tempos do texto (pré-sonho; o da cidade e onírico). Texto e leitura em voz alta estão, em geral, corretos (no final da leitura da parte da rua, ligeiras hesitações; texto tem algumas repetições mas propositadas, a dar ideia da obsessão); a corrigir: «onde não existe preocupações» (onde não existem [onde não há] preocupações).

Soraia


Manuel Rui, Quem me dera ser onda | Soraia (*13,5-13 [> 13-12,5]) $ Texto está escrito com razoável correção e foi lido também com razoável correção. Estaria tudo muito bem se a tarefa fosse para corresponder a vinte minutos de elaboração do texto mais dez minutos de preparação de leitura. Só que se tratava da tarefa em que se esperava investissem mais neste período (para ser preparada durante umas horas ou mesmo em várias horas em dias diferentes). Ora, para efeitos deste objetivo, o trabalho está demasiado económico (não é bem um bibliofilme: é a gravação da autora a ler um texto que terá escrito em um quarto de hora e cuja leitura terá sido ensaiada em cinco minutos); devo, porém, dizer que também me chegou uma outra tentativa com imagens montadas, o que atenua um pouico esta crítica. De qualquer modo, era tão fácil fazer tudo melhor se a Soraia investisse um pouco mais. A corrigir: na leitura em voz alta as vírgulas não são para serem tão lidas (por exemplo, em «e, dentro da sua cama, parecia» há pausas excessivas); «*as idas [...] era sempre uma aventura» (as idas [...] eram sempre uma aventura»; «*o primeiro amor a que as crianças têm contacto» (o primeiro amor com que as crianças têm contacto / a que as crianças têm acesso — e nem será verdade: e os pais, irmãos, avós?).

Carolina C.
Ondjaki, Os da minha rua | Carolina C. (*17-16,5 [> 16,5-16]) Leitura em voz alta calma e sem erros; texto simples (e, por vezes, com alguns lugares comuns destes textos de recordações de infância) mas escrito com correção; imagens coerentes com o texto (não se trata apenas de ocupar espaço visual, continuam, completam, o que está a ser dito). A corrigir: «*os pais são um papel fundamental» (os pais têm um papel fundamental); «*chateiam-se» (aborrecem-se).

Margarida A.

Jorge Amado, Capitães da areia | Margarida A. (**17-16,5 [> 16-15,5]) $ £ Faz-se comparação entre os heróis de Capitães da areia e pombas, o que permite usar imagens interessantes e, creio, originais; texto é simples e organizado, tem momentos quase poéticos, título é engraçado («Capitães do ninho»); leitura em voz alta está correta (há uma troca que a própria autora adverte — «pessoas» por «pombas» —, o que deveria ter aconselhado a repetição da gravação). A corrigir: «Capitães de areia» (Capitães da areia); «*igualei a lealdade dos capitães com a das pombas» (fiz corresponder igualei a lealdade dos capitães à das pombas); «ambos» não pode ter como referente ‘pombas’ e ‘capitães’, só pode corresponder a duas unidades e, aqui, o número era indefinido); «?*algo que vejo todos os dias e a que lhe dou muita importância» (algo que vejo todos os dias e a que dou muita importância); desculpo, em parte, o atraso mas não os dois pontos de exclamação (é um sinal de pontuação que não existe; só um e, mesmo assim, não é sinal que seja muito útil).

Beatriz M. & Catarina

Raul Brandão, As ilhas desconhecidas | Catarina & Beatriz M. ([Enfim]) Prefiro não dar uma nota concreta, por várias razões: por um lado, como o prazo não foi cumprido em muitos e muitos dias, seria impossível seguir o critério usado com o resto da turma — descontar valores segundo os dias de atraso; por outro lado, nas instruções advertira não avaliar trabalhos que não chegassem ao tempo mínimo (ora, para duplas, o tempo mínimo era três minutos e meio — este filme tem apenas 2.34). A sensação que fica é que as autoras facilmente teriam feito um bom bibliofilme. Bastaria terem gastado um pouco mais de tempo (a ler as instruções, a escrever mais dois ou três parágrafos, a repetir a leitura uma ou duas vezes que fosse — Catarina hesita antes de «nova» e antes de «para o turismo» (repetia-se!) —, a ter mais cuidado na montagem — por exemplo, nos segundos finais, o som do áudio é o do começo do filme). Vê-se que teve de ser tudo feito em cima da hora, em pouco tempo. A ideia e a conceção do filme são adequadas e mostram que lhes teria sido fácil fazer um trabalho bastante interessante, mais perfeito, com o tempo mínimo exigido.

Miguel

Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes | Miguel (Não darei propriamente classificação, porque o trabalho já me chegou muito tarde; o ter chegado, apesar de tudo, é o mérito que há) Imagens não são originais. Teria preferido que o texto não fosse sobre a obra, como, em grande parte, é. A escrita ainda assenta demasiado numa estrutura de mera justaposição de frases (no fundo: «e... e... e...») e há algumas insuficiências de sintaxe. Entretanto, como o texto está pouco elaborado, o Miguel acaba por não poder brilhar num aspeto em que conseguiria distinguir-se, a leitura em voz alta — que está razoável mas se ressente de o que se lê ser uma síntese-relato demasiado simples, preparada sobre o joelho. A corrigir: «*s[â]jamos» (é «sejamos», é claro); e o ou de «Maalouf» deve ser lido [u] (é o ou francês).

Jónatas
Jorge Amado, Capitães da areia | Jónatas (Não darei uma classificação concreta, por o trabalho me ter chegado já tão tarde, mas fico contente por o Jónatas, finalmente, ter cumprido uma destas tarefas) Boa ideia: estabelecer analogias entre personagens da obra de Jorge Amado e o próprio autor do bibliofilme. Imagens bem escolhidas (sobretudo se envolverem o próprio, enquanto criança, o que ficamos sem saber se é o caso). Algumas correções a fazer: «*energético» seria «enérgico» («energético» é o que dá energia, como os alimentos; «enérgico» é o que mostra, ou tem, energia, como as pessoas); «competitividade» (e não «*competividade», embora a nossa tendência seja para elidir sembre uma sílaba); «*amava jogar» (gostava de jogar).

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