Bibliofilmes do 10.º 9.ª
Seguem-se trabalhos inspirados em livros lidos.
Quando à frente da classificação figurarem asteriscos (*), significa que os
bibliofilmes me chegaram já depois do prazo estipulado e que, por isso,
sofrerão uma penalização (cada asterisco corresponde a um dia de atraso e,
portanto, a meio valor a retirar à nota que se registará para já). Quanto a $, assinala
que o título do ficheiro não seguiu o exato modelo que dera nas «Instruções» («Bibliofilme
de ... do 10.º ...»); e £ quer dizer que não vinha indicada no mail a obra que
serviu de ponto de partida, como também se pedia nas citadas instruções.
Ivânia
Dante, A Divina Comédia | Ivânia (17,5) Texto está bem escrito, havendo bom equilíbrio entre complexidade e
correção; boa leitura em voz alta. Neste bibliofilme é o texto que prevalece,
percebe-se que as imagens são um pano de fundo relativamente indiferente,
embora solução competente (e, no final, as imagens tornam-se até mais
relevantes). A corrigir: «*o que não verdade» (o que não sendo verdade);
«*luxúria» (luxo — creio que houve confusão: «luxúria» significa ‘sensualidade’);
«*mas as primeiras tentativas desiste» (às); «são eles que a também a mantêm
inteira» (são eles que também a mantêm inteira).
Leonor
Mark Lawrence, O príncipe dos espinhos | Leonor
(16,5-17) $ Destaco a ideia, o «grafismo», a simplicidade da conceção (o que tem
muito que ver com cinema). Adotando-se o género sketch, talvez se pudesse ter aproveitado mais ainda (este formato
permitia um desenvolvimento maior, dava mesmo vontade de continuar com a série
de elementos disparatados atirados e ter-se-ia chegado a uma conclusão mais
forte); leitura em voz alta dos passos do livro, não sendo má, podia ser
melhor. A corrigir: «*desvastar» (devastar / devassar); «*relacionada ao livro»
(*relacionada com o livro).
Marta
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho | Marta (17-(17,5))
[ajuda de Beatriz M. como figurante e de Catarina na gravação.] Dá-se conta da
leitura de forma criativa mas sem se esquecer o foco no próprio livro de Carey
(é uma boa síntese, mas sem se notar que se está a fazer síntese, implícita
apenas, portanto). O uso da 2.ª pessoa do singular («e tu não te cansas de as
ouvir», por exemplo), quando se pretende generalizar, ainda é pouco formal,
lembra-me sempre o discurso dos futebolistas que jogaram em Espanha e ficaram a
falar portunhol; a corrigir: «*apenas só nós dois» (apenas nós dois);
«c[o]mprimentos» (c[u]mprimentos).
Mariana S. & Mariana M.
Ondjaki, Os da minha rua | Mariana M. &
Mariana S. (17,5) Ideia original a de ir buscar em espaços próximos os
equivalentes das experiências que se quis recordar; boa planificação, com
momentos variados — são vários microfilmes dentro de um só —, como convém ao
cinema (há trabalho); boa leitura em voz alta; escrita em geral correta, mas,
aqui ali, um pouco dada ao lugar comum (ao registo bem comportado entre o
roteiro turístico e o jornalismo de causas); a corrigir: nas pronúncias,
«número» saiu entre «num[e]ro» e «núm[α]ro»; «indígena» foi lido «indí[gue]na»
(!); na sintaxe/semântica: «*há quem diga que viajar é um desperdício, mas,
para nós, é muito mais do que isso» (mas, para nós, é exatamente o contrário);
«*uma das situações que nos aconteceu» (aconteceram); «*um dos factos que mais
nos impressionou» (impressionaram); «*[adquirimos] diversão» (se se atentar no
resto da frase, vê-se que «diversão» depende de «adquirir», o que não faz sentido);
«lugares especificamente especiais» não me soa bem, embora compreenda a ideia;
«do Monsanto» (de Monsanto).
Margarida
V.
Jorge Amado, Capitães da areia | Margarida V. (18) $£ Maneira interessante de dar conta de livro lido (e até com certo
detalhe) sem parecer que se está a fazer uma apreciação crítica escolar; boa
representação; alguns bons achados para se poder comentar vários ângulos do
livro (exemplo, a futura nova temporada da série; também as próprias perguntas
estão bem escolhidas). Para efeitos da apreciação que tenho de fazer da
oralidade este formato é desarmante, já que se adota registo assumidamente de
conversa, de improviso — perante algum falhanço de sintaxe pode sempre
alegar-se que é assim que falam as realizadoras de cinema do género da C. retratada
no bibliofilme (e eu concordaria, embora me pareça que há também alguns
momentos em que se trata mais de catacterísticas do discurso juvenil que surgem
involuntariamente — «pronto» como marcador, por exemplo — do que pensada
caricatura de linguagem de C.); a corrigir: «[história] que nos compele» (compunge,
confrange, entristece, emociona?).
Francisca
Italo Calvino, O visconde cortado ao meio | Francisca (17,5)
$ [mas justificando] £ Bom retrato dos
dois tipos de leitoras, mesmo nos tiques de linguagem, mostrando capacidades de
representação e perceção das características sociais (cfr. cenários, adereços,
caracterização física). Poderia talvez haver mais menção do enredo do livro
(constituiria até motivo para outros quiproquós); a corrigir: «*aleatóriamente»
(tirar acento, que é só para o adjetivo); não há razão para as maiúsculas em «Dois»
e «Falarem»; falta ponto de interrogação em «Quanto tempo demorou a leitura do
livro»; «Que acharam sobre o livro?» é quase agramatical (Que acharam do
livro?).
Beatriz B. & Carolina D.
Ondjaki, Os da minha rua | Carolina D. &
Beatriz B. (16,5-(17)) Há bom ritmo, variedade, sentido de como se faz um
filme; boa solução a de ilustrar em filme, estilizadamente, as recordações
primeiro relatadas discursivamente. A primeira impressão é que a leitura em voz
alta (as recordações são lidas, é claro, embora se finja o depoimento oral) foi
demasiado rápida, foi demasiado «leitura» (ou representavam uma conversa com as
hesitações típicas do oral ou liam com outro tipo de perfeição — assim não
parece natural nem está perfeito enquanto leitura); porém, vendo o conjunto do
filme, já não se nota tanto essa velocidade/falta de naturalidade, porque há
uma agregação, com a música a conferir coerência aos quatro segmentos; a
corrigir: na legenda final, «*Darte» (Duarte); e equilibraria o volume do texto
lido e da música.
Luísa
Homero, Odisseia | Luísa
(16-15,5) Há mérito em se ter tentado uma abordagem que alude à obra lida já
com certa preocupação de conhecimento literário; o texto está quase sempre bem
escrito e foi bem lido. Percebe-se que não houve propriamente uma visão em
termos «de cinema», que integrasse logo à partida os elementos visuais com os
textuais, embora haja alguns momentos em que se tenta essa planificação típica
de um filme; a corrigir: pronúncias de «*l[o]grou» (l[u]grou), «*Polífemo» (Polif[ê]mo),
«Hiperi[ó]n» (Hiperíon) e hesitação em «salvaguardava»; em «*eu era sempre, juntamente com algumas pessoas, a que
nunca cantava», a parte em itálico não pode figurar; «*com o seu canto e as
suas formas físicas que adquiriam» (*com o seu canto e as formas físicas que
adquiriam); «*não fez com que ele nunca desistisse» (fez com que ele nunca
desistisse).
Margarida P.
Raul Brandão, As ilhas desconhecidas | Margarida P. (17,5-17) Contraste de duas perspetivas, a de Raul Brandão (que passou pela
Madeira na sua viagem aos Açores) e a da autora (que tem a vantagem da
experiência de conhecer a ilha desde sempre); boa leitura em voz alta; texto
entre o «certinho» e o bem escrito. Certo desaproveitamento das potencialidades
de um filme (é, no fundo, discurso ilustrado, ainda que tecnicamente competente
e com imagens originais); demasiado bolo do caco; pena a versão com marca de
água; a corrigir: «*que eu gosto mais» (de que gosto mais); «*que só de pensar
nele me traz água à boca» (que só de pensar nele fico com água na boca; que só
pensar nele me traz água à boca); «*o facto de qualquer que seja o sítio para
onde olho vejo verde» (o facto de
qualquer que seja o sítio para onde olhe ver
verde); pronúncia de «assim com’ò meu».
Pedro
Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes | Pedro (16,5)
$ Embora sobre a obra lida — eu
pensara que fizessem mais a pretexto da
obra lida —, conseguiu-se originalidade, porque se adotou um formato de
depoimento, pessoal, sobre a perspetiva errada que tinha o autor do
bibliofilme acerca das cruzadas e de como esta se alterou após a leitura do
livro de Maalouf; texto bem escrito (intercalando trechos ilustrativos),
leitura em voz alta sem erros. Ponto frágil são as imagens, retiradas de
filme(s) ou documentário(s), não originais, portanto; devia, pelo menos, haver
referência filmográfica, mas sobretudo, parece-me ter-se desaproveitado uma
parte das mais criativas que pode haver num trabalho destes, a visual; a corrigir:
«ignorantes a isto» (ignorantes disto); pronúncia de «objetos de arte[s]»
(arte).
Adriana M. & Lúcia
Peter Carey, O Japão é um lugar estranho | Lúcia
& Adriana M. (15) Conceção interessante e guião bastante aceitável (ver,
porém, erros que assinalo a seguir), tal como a própria representação (papel de
Lúcia é mais exigente). No entanto, para que o filme fosse percecionado como
reportagem verosímil, «profissional», faltaram cuidados técnicos (parte final,
com entrada da música, funciona bem, mas volume do som está desequilibrado —
demasiado baixo o anterior); em rigor, tempo mínimo pedido não foi cumprido
(dissera, pelo menos 3,30 para trabalhos de pares); «*as únicas pessoas com
quem mantive contacto são com as
minhas primas» (foi); «rever os familares» parece quase ouvir-se «*reaver os
familiares»; «*haviam» (havia); «*não consegui voltar como era antes» (não
consegui voltar a ser como era antes).
Diogo Cardita
Jorge Amado, Capitães da areia | Diogo (16-16,5)
£ Resulta bem o paralelo entre experiências próprias enquanto criança e Capitães de areia (e depois entre a fase
de maior maturidade já e Pedro Bala), ilustrado com filmes do arquivo pessoal
do autor; leitura sem erros, em ritmo adequado (talvez sem a plasticidade
ideal). A corrigir: «*é uma referência para mim pois por isso o escolhi» (é uma referência para mim, por isso o
escolhi); pronúncia de «*ad[ô]to» (ad[ó]to); «*mas da forma que era um bom camarada» (mas pela forma).
Raquel
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Raquel
(#)
Raquel (17-16,5) $ A abordagem é, no essencial, de comentário ao livro, embora procurando encontrar lições/situações no exemplo de Robinson suscetíveis de nos guiarem na vida corrente; alguns bons momentos de escrita, também um ou outro lugar comum; boa leitura em voz alta; bom acabamento de tudo. Parte visual, revelando bom domínio técnico, não deixa de ser um tanto supletiva, acessória (não há integração completa com o discurso, embora se aluda à natureza e à ilha); a corrigir: «a nossa natureza esteja baseada nesta frase» (a nossa natureza esteja resumida nesta frase).
Raquel (17-16,5) $ A abordagem é, no essencial, de comentário ao livro, embora procurando encontrar lições/situações no exemplo de Robinson suscetíveis de nos guiarem na vida corrente; alguns bons momentos de escrita, também um ou outro lugar comum; boa leitura em voz alta; bom acabamento de tudo. Parte visual, revelando bom domínio técnico, não deixa de ser um tanto supletiva, acessória (não há integração completa com o discurso, embora se aluda à natureza e à ilha); a corrigir: «a nossa natureza esteja baseada nesta frase» (a nossa natureza esteja resumida nesta frase).
Daniela
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis | Daniela (16,5*
[> 16]) $ Ideia — e noção de filme — é boa; os dois momentos das imagens, parede
(vidro abstrato) e percurso pela rua, correspondem bem a dois tempos do texto
(pré-sonho; o da cidade e onírico). Texto e leitura em voz alta estão, em
geral, corretos (no final da leitura da parte da rua, ligeiras hesitações;
texto tem algumas repetições mas propositadas, a dar ideia da obsessão); a
corrigir: «onde não existe preocupações» (onde não existem [onde não há]
preocupações).
Soraia
Manuel Rui, Quem me dera ser onda | Soraia (*13,5-13
[> 13-12,5]) $ Texto
está escrito com razoável correção e foi lido também com razoável correção.
Estaria tudo muito bem se a tarefa fosse para corresponder a vinte minutos de
elaboração do texto mais dez minutos de preparação de leitura. Só que se
tratava da tarefa em que se esperava investissem mais neste período (para ser
preparada durante umas horas ou mesmo em várias horas em dias diferentes). Ora,
para efeitos deste objetivo, o trabalho está demasiado económico (não é bem um
bibliofilme: é a gravação da autora a ler um texto que terá escrito em um
quarto de hora e cuja leitura terá sido ensaiada em cinco minutos); devo,
porém, dizer que também me chegou uma outra tentativa com imagens montadas, o
que atenua um pouico esta crítica. De qualquer modo, era tão fácil fazer tudo
melhor se a Soraia investisse um pouco mais. A corrigir: na leitura em voz alta
as vírgulas não são para serem tão lidas (por exemplo, em «e, dentro da sua
cama, parecia» há pausas excessivas); «*as idas [...] era sempre uma aventura»
(as idas [...] eram sempre uma aventura»; «*o primeiro amor a que as crianças
têm contacto» (o primeiro amor com que as crianças têm contacto / a que as
crianças têm acesso — e nem será verdade: e os pais, irmãos, avós?).
Carolina C.
Ondjaki, Os da minha rua | Carolina C. (*17-16,5 [> 16,5-16]) Leitura em voz alta calma e sem erros; texto
simples (e, por vezes, com alguns lugares comuns destes textos de recordações
de infância) mas escrito com correção; imagens coerentes com o texto (não se
trata apenas de ocupar espaço visual, continuam, completam, o que está a ser
dito). A corrigir: «*os pais são um papel fundamental» (os pais têm um papel
fundamental); «*chateiam-se» (aborrecem-se).
Margarida
A.
Jorge Amado, Capitães da areia | Margarida
A. (**17-16,5 [> 16-15,5]) $ £ Faz-se comparação entre os heróis de Capitães da areia e pombas, o que
permite usar imagens interessantes e, creio, originais; texto é simples e
organizado, tem momentos quase poéticos, título é engraçado («Capitães do
ninho»); leitura em voz alta está correta (há uma troca que a própria autora
adverte — «pessoas» por «pombas» —, o que deveria ter aconselhado a repetição
da gravação). A corrigir: «Capitães de
areia» (Capitães da areia); «*igualei
a lealdade dos capitães com a das pombas» (fiz corresponder igualei a lealdade dos
capitães à das pombas); «ambos» não pode ter como referente ‘pombas’ e
‘capitães’, só pode corresponder a duas unidades e, aqui, o número era
indefinido); «?*algo que vejo todos os dias e a que lhe dou muita importância» (algo que vejo todos os dias e a que dou
muita importância); desculpo, em parte, o atraso mas não os dois pontos de
exclamação (é um sinal de pontuação que não existe; só um e, mesmo assim, não é
sinal que seja muito útil).
Beatriz M. & Catarina
Raul Brandão, As ilhas desconhecidas | Catarina &
Beatriz M. ([Enfim]) Prefiro não dar uma nota concreta, por várias
razões: por um lado, como o prazo não foi cumprido em muitos e muitos dias,
seria impossível seguir o critério usado com o resto da turma — descontar valores
segundo os dias de atraso; por outro lado, nas instruções advertira não avaliar
trabalhos que não chegassem ao tempo mínimo (ora, para duplas, o tempo mínimo
era três minutos e meio — este filme tem apenas 2.34). A sensação que fica é
que as autoras facilmente teriam feito um bom bibliofilme. Bastaria terem
gastado um pouco mais de tempo (a ler as instruções, a escrever mais dois ou
três parágrafos, a repetir a leitura uma ou duas vezes que fosse — Catarina
hesita antes de «nova» e antes de «para o turismo» (repetia-se!) —, a ter mais cuidado
na montagem — por exemplo, nos segundos finais, o som do áudio é o do começo do
filme). Vê-se que teve de ser tudo feito em cima da hora, em pouco tempo. A
ideia e a conceção do filme são adequadas e
mostram que lhes teria sido fácil fazer um trabalho bastante interessante, mais
perfeito, com o tempo mínimo exigido.
Miguel
Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes | Miguel
(Não darei propriamente classificação, porque o trabalho já me chegou muito
tarde; o ter chegado, apesar de tudo, é o mérito que há) Imagens não são
originais. Teria preferido que o texto não fosse sobre a obra, como, em grande
parte, é. A escrita ainda assenta demasiado numa estrutura de mera justaposição
de frases (no fundo: «e... e... e...») e há algumas insuficiências de sintaxe. Entretanto,
como o texto está pouco elaborado, o Miguel acaba por não poder brilhar num
aspeto em que conseguiria distinguir-se, a leitura em voz alta — que está
razoável mas se ressente de o que se lê ser uma síntese-relato demasiado simples,
preparada sobre o joelho. A corrigir: «*s[â]jamos» (é «sejamos», é claro); e o ou de «Maalouf» deve ser lido [u] (é o ou francês).
Jónatas
Jorge Amado, Capitães da areia | Jónatas
(Não darei uma classificação concreta, por o trabalho me ter chegado já tão
tarde, mas fico contente por o Jónatas, finalmente, ter cumprido uma destas
tarefas) Boa ideia: estabelecer analogias entre personagens da obra de Jorge
Amado e o próprio autor do bibliofilme. Imagens bem escolhidas (sobretudo se
envolverem o próprio, enquanto criança, o que ficamos sem saber se é o caso). Algumas
correções a fazer: «*energético» seria «enérgico» («energético» é o que dá
energia, como os alimentos; «enérgico» é o que mostra, ou tem, energia, como as
pessoas); «competitividade» (e não «*competividade», embora a nossa tendência
seja para elidir sembre uma sílaba); «*amava jogar» (gostava de jogar).
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