Bibliofilmes do 10.º 3.ª
Seguem-se trabalhos inspirados em livros lidos.
Quando à frente da classificação figurarem asteriscos (*), significa que os
bibliofilmes me chegaram já depois do prazo estipulado e que, por isso,
sofrerão uma penalização (cada asterisco corresponde a um dia de atraso e,
portanto, a meio valor a retirar à nota que se registará para já). Quanto a $, assinala
que o título do ficheiro não seguiu o exato modelo que dera nas «Instruções» («Bibliofilme
de ... do 10.º ...»); e £ quer dizer que não vinha indicada no mail a obra que
serviu de ponto de partida, como também se pedia nas citadas instruções.
Mafalda
Richard Zimler, O último cabalista de Lisboa | Mafalda (19)
$ Apurada noção do que é um filme, com vários planos, eixos de ação, estratégia
para condensar em pouco tempo muito mais do que o discurso simples permitiria;
pôr em prática esta noção exige trabalho (de planificação, de redação e ensaio;
também no momento da recolha de imagens; e, depois ainda, na montagem), que houve
efetivamente; consegue dar-se notícia do enredo do livro e fazê-lo de modo leve.
Não vi erros de nenhuma espécie.
Carlota &
Carolina
Edgar Allan Poe, Contos fantásticos & Peter Carey, O Japão é um lugar estranho | Carolina &
Carlota (13) $ £ Ideia é interessante: percorrer várias culturas, fingindo-se
ser um representante de cada um dos povos e reivindicando aspetos notórios do
seu país; boa leitura em voz alta (hesitação só em «inferior»). Porém, não
foram lidas com atenção as instruções: «se
se tratar de tarefa por grupo, três minutos e meio será mesmo o mínimo
aceitável»; «evitem as
imagens googladas — a montagem de um filme
fundado em slides com imagens apressadamente pesquisadas não é interessante» (é verdade que também há imagens originais, pelo menos três em que figuram as autoras);
na escrita há algumas banalidades (só dois exemplos: o que se diz do Japão,
ligado ao desporto e à gastronomia, pode ser dito de outros países
indiferentemente; o Natal não pode ser considerado festa típica do Brasil); a corrigir:
vários «onde»
são agramaticais («relativamente à diversidade cultural onde possui variadas tribos»; «etnias onde resultou»; «valor da vida onde
[...]»; «*um dos costumes de Portugal
mais genuíno e único é a comida» (não é um costume); «*amamos sair» (gostamos
de sair).
Pedro
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Pedro (16,5+)
$ £ Texto bem escrito, irónico, bem lido, embora, no final, permeável a lugares
comuns. Pedira que evitassem tempo mínimo (2.32 é pouco mais que 2.30); a índole
é talvez demasiado próxima da do filme autobiográfico (álbum); em termos de
imagens parece haver zonas onde faltou arquivo ou em que poderia ter havido
mais habilidade técnica para aplainar a aparente desproporção.
Bernardo,
Edu, Miguel
Ondjaki, Os da minha rua | Miguel, Edu, Bernardo (14 [em média, mas B, melhor do que isso, e E e M, piores]) $ £ Até gosto do dispositivo
escolhido (amigos a conversarem, de tudo e de nada, sem que o assunto em foco seja
levado muito a sério — cfr. a série Seinfeld); boa representação da parte de Bernardo;
jeito mas pouco investimento na atuação de Edu; mais leve ainda o papel de
Miguel. O uso de registo juvenil (ou juvenil-popular?) não é criticável, mas,
aqui e ali, percebe-se que falta texto (uma redação mais estabelecida, mais
elaborada); texto pareceu-me mais improvisado do que decorado (um texto mais preparado
permitiria a inclusão de intervenções com mais substância, que acho que estão em falta).
Ana & Beatriz P.
Clarice Lispector, Contos; Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos Árabes | Beatriz P. & Ana (14,5-14) $ £ Consegue-se uma alegoria, uma grande metáfora, que
constituiria um engenhoso simétrico das cruzadas vistas pelo árabes (a Síria
vista pelos europeus), comedidamente irónica; ideia é boa, bem executada
em parte, mas com desleixos técnicos que a prejudicam. Há texto a menos (o
silêncio também faz parte da caracterização, reconheço-o, mas era preciso compensá-lo, prolongando o exercício de oral, que era o objetivo escolar da tarefa);
a escolha de um «direto», de um «vivo», é legítima, mas é preciso assegurar as
condições de captação de som — tive alguma dificuldade em perceber algumas
expressões.
Nicole
Edgar Allan Poe, «O
escaravelho de ouro» | Nicole (16,5-17)
Muito cuidado acabamento técnico; bom gosto em termos de imagem e de som;
leitura em voz alta sem erros (apenas uma hesitação em «sanidade») e em ritmo
adequado; escrita sintética (talvez demasiado simples). Abordagem é, no fundo,
de resumo da intriga, o que eu desaconselhara; a corrigir: dois «determinada»
(para «árvore» e para «altura») num espaço de poucos segundos.
Inês C
& Teresa
Jonathan Swift, Viagens de Gulliver & Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Teresa
& Inês C. (19-18,5)
£ Sublinho a capacidade de estruturar a narrativa da maneira mais apropriada a
que, em termos de filme, se nos conte a história pretendida — momento da
enunciação fictícia aos trinta anos é o golpe de asa que evita que se adote o
estilo de memórias ilustradas (álbum de recordações, a aproveitar extenso
arquivo), risco de trabalhos semelhantes, e se chegue a uma abordagem que
permite a excelente analogia final com Gulliver e com Robinson; boa expressão
oral, num compromisso entre leitura perfeita e dramatização tímida. Legendas
nos slides a assinalar os lugares a que respeitam são discutíveis; há, embora
raramente, alguma cedência a lugares comuns.
Beatriz
B., Beatriz E. & Margarida T.
Homero, Odisseia | Margarida
T., Beatriz E. & Beatriz B. (17,5) £ Formato é de narrativa, apoiada, em
termos visuais, em desenhos que se vão construindo e no texto da
correspondência entre personagens, mostrando-se bom gosto, competência técnica,
trabalho; redação é boa (talvez excessivamente narrativa, com as ações muito
concentradas, quase sem a descrição que costuma deixar respirar os textos com enredo;
uso do presente, muito misturado com os vários passados, não é incorreto — é o
presnte de relato — mas mostra pouca elaboração literária); leitura em voz
alta, também boa (no início, de 0 a 40’, ligeirissimamente rápida). No texto da
correspondência que nos é mostrado há lapsos: «*e, já de início» (tem de haver
vírgula a seguir a «início»); «*quero te dizer» (quero-te dizer ou quero dizer-te); «*a fazer refém seis
crianças» (a fazer reféns seis crianças); «*um dos momentos que mais me marcou»
(um dos momentos que mais me marcaram); «se calhar», «por vezes», as orações
subordinadas intercaladas deviam estar entre vírgulas; a corrigir ainda:
«*arquiteto de grande envergadura» (creio que era «de grande nomeada», «de
grande fama»; ou era mesmo um arquiteto de um metro e noventa e tal?); «*não
agradou de todo o seu pai» (não
agradou de todo ao seu pai [e o «de
todo» também era escusado]); na pronúncia: «*m’mais marcou» (mais me marcou).
Eduardo &
Francisco
Matilde P.
Ondjaki, Os da minha rua | Matilde P. (15-15,5) [£] Neste bibliofilme, os recursos visuais e de som, sofisticados,
acabam por ter o papel mais importante, mostrando-se que há noção de como se
faz um filme de tipo publicitário; a leitura em voz alta também é boa. A
escrita parece-me um tanto desaproveitada (há uma fase, de introdução, que nos
deixa à espera de um desenvolvimento que não chega a concretizar-se — um pouco
como naqueles textos que servem apenas para acompanhar imagens turísticas mas em
que há pouca informação substantiva); a corrigir: «*sítios que nos dá gosto
passar por lá» (sítios por onde nos dá gosto passar); «*sou daquelas pessoas
que repara em coisas simples» (sou daquelas pessoas que reparam em coisas
simples); «*sem saber o que lhes espera»
(sem saber o que os espera); «fazem a
mesma rotina» (seguem a mesma rotina). [Nota à margem: como a música usada tem
direitos de autor, fui avisado de que o filme está sujeito à inserção de
anúncios.]
Inês S.
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Inês S. (18)
Salientarei a diversidade de imagens, o cuidadoso acabamento técnico, a
planificação, a montagem, enfim todo o trabalho a que obriga a realização de um
filme; boa leitura em voz alta; escrita segura, sem erros. O tópico são os
sonhos e as conquistas e procura-se que o filme se concentre nesse lema; porém,
é tão lato o assunto que não permite depois uma abordagem em três minutos que
não sintamos como um pouco vaga, com cedência a lugares comuns (por exemplo, a
citação de Gedeão, que aliás não escreveu «entre a mão de uma criança» mas «entre as mãos de uma criança» — não teria sido mais apropriado ir buscar
alguma frase ao Robinson?); início e final
são fortes, com muito sentido de cinema, o que levava a esperar um pouco mais no
miolo (faltou tempo ou tema menos ambicioso).
Sofia
Homero,
Odisseia | Sofia (*19-18,5 [>18,5-18])
Bom ritmo narrativo , concentrando-se ação em poucos momentos, filmados de modo
a permitir inferir o resto da ação (essa capacidade de síntese, característica
do cinema, aproxima-se aqui também da da estrutura de um filme de publicidade);
leitura em voz alta sempre correta; tudo perfeitamente executado. A corrigir (duas
situações no limite do gramatical): «*talvez ambos» (é discutível que «ambos»
possa referir dois motivos que ainda não tinham sido explicitados como motivos,
causas — só posso usar esta anáfora se ficar claro quais são os
antecedentes, o que não é o caso); a legenda final, «Quem ama espera» não pode
ter vírgula, que separaria sujeito e predicado.
Margarita
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Margarita
(19,5* [> 19]) £ Boa história, variação da de Robinson, favorecida também
pelo tratamento visual (desenho em processo, dado em modo acelerado) e pelos
apontamentos de som — sem estes recursos, a história parecer-nos-ia engenhosa
mas apenas uma sucessão de ações e, assim, ganha densidade, cariz poético, onírico;
leitura em voz alta sempre no ritmo certo e sem erros (apenas uma hesitação em
«vegetação); enfim, a boa conceção de tudo faz que vejamos o filme como simples,
depurado, sabendo que é complexo e terá dado muito trabalho. A corrigir: «*chamar
de Sexta-feira» (*chamar Sexta-feira); «*apercebeu que o mais provável»
(apercebeu de que).
Margarida
O.
Daniel Defoe, Aventuras de Robinson Crusoe | Margarida
O. (*16,5-17 [> 16-16,5]) $ Apostou-se na escrita, de estilo cronístico, crítico, irónico,
leve; o texto está bem redigido, ainda que se ressinta de um problema comum ao
humor de comediantes de stand up ou
às introduções em discurso oral a programas de sketches (são textos mais para serem lidos do que para sem ouvidos:
é difícil transpô-los para a oralidade, parecendo então sempre um pouco artificiais);
a parte visual do filme mostra aplicação e competência técnica, mas é relativamente
acessória; leitura em voz alta do minuto final tem algumas hesitações (que,
numa gravação, implicariam repetição). A corrigir: «*ao qual a experiência pode
ser comparada» (releia-se a frase no seu contexto, para verificar que não é
gramatical); pronúncia de «couvette» (o ou
francês deve ser dito [u]); «*os panfletos turísticos demonstram» (julgo que se
pretendia «mostram»); e hesito no «mundana» (seria mais «vulgar», creio). (#)* $
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