Comentário a filme e Felizmente há luar! no 12.º 5.ª
As classificações são,
em geral, as da primeira versão. Quanto à segunda versão, verifiquei apenas se
foram contempladas as emendas que aconselhara (note-se que, se essa
reformulação estiver desleixada, a nota pode baixar).
Bea R.
Bea R. (Bom (-)) || The Imitation Game (O Jogo da Imitação)
Encontrar um filme para
comparar com esta peça não foi uma tarefa fácil, mas, depois de muitos dias a
pensar e a desesperar por uma ideia, uma pequena pesquisa, na minha mente,
bastou para que me lembrasse deste filme. A primeira vez que o vi, O Jogo da Imitação captou de imediato a
minha atenção, visto que sou uma apaixonada por filmes relacionados com a
história da segunda guerra mundial. Posso dizer que é um dos meus filmes
favoritos, devido ao drama que apresenta e ao facto de ser um thriller. Para além da história sobre a
guerra, também nos mostra o percurso da computação moderna.
Este filme, sobre o
criptoanalista, matemático e filósofo britânico Alan Mathison Turing, passado
durante a Segunda Grande Guerra, explica como ele e a sua equipa ajudaram os
Aliados na descodificação do código (Enigma) que os nazis utilizavam para
comunicar, secretamente, os planos de ataque. Numa primeira situação é possível
comparar Alan Turing e a sua equipa com uma outra equipa, formada pelas
personagens, D. Miguel Forjaz, Beresford, Principal Sousa, Morais Sarmento,
Andrade Corvo e Vicente em Felizmente há
Luar!. Esta equipa revela as suas preocupações face ao país (“O povo fala
abertamente em revolução…”, p. 37, ll. 9-10), e do seu próprio estado social
(“depende a cabeça de V.Ex.ª, Sr. D. Miguel, os meus 16 000$00 anuais e a
possibilidade de o principal Sousa continuar a interferir nos negócios deste
Reino.”, p. 42, ll. 11-14). Com a ideia de que esta revolução iria acabar com
os seus privilégios, partiram à procura de uma proclamação de conspiração
contra o Rei, e do chefe desta revolução. No fim do ato I, esta equipa
“definiu” que esse chefe seria Gomes Freire de Andrade. É possível comparar o
filme com a peça, pois ambas as equipas estão em busca de algo que lhes vai
proporcionar um bem próprio.
Apesar de todo o
reconhecimento pelos seus estudos, importantes para a tecnologia na
actualidade, a sua carreira terminou pois foi processado por atentado ao pudor,
devido à homossexualidade, à época ilegal no Reino Unido. Histórias correntes (ou
serão mesmo “mito urbano”?) dizem que acabou por ser assassinado, por ter
ingerido uma maçã com cianeto (e, por isso, o logotipo da marca Apple). Visto
isto, existe muito em comum entre a personagem principal do filme,
protagonizado por Benedict Cumberbatch, e a personagem Gomes Freire, de quem,
apesar de nunca participar em diálogo, se sabe muito da sua história de vida.
Tal como Alan, Gomes Freire foi acusado de um crime, conspiração contra a
influência inglesa e o regime absoluto (embora não saibamos se participou ativamente
em qualquer conspiração), e acabou por ser morto na fogueira.
Em ambas as histórias,
existe uma luta contra a liberdade de expressão. No filme, devido à
homossexualidade de Alan Turing, e, na peça, em relação ao pensamento liberal e
à revolução por parte do povo devido aos “Franceses” (“Veja, Sr. D. Miguel,
como eles transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de
revoltados! Por essas aldeias fora é cada vez maior o número dos que só pensam
aprender a ler… Dizem-me que se fala abertamente em guilhotinas e que o povo
canta pelas ruas canções subversivas.”, p. 40, ll. 1-7).
Bea G.
Bea G. (Bom (+)) || Insurgent
(Insurgente)
Vi Insurgente (Insurgent) seis dias depois da
sua estreia, em março de 2015. Lembro-me de estar muito ansiosa, visto que sou
fanática pela trilogia Divergente a que pertence este filme, e que o vi
no cinema do Colombo. O primeiro filme da trilogia — Divergente —
foi-me recomendado pela minha melhor amiga dos escuteiros e, quando
o vi, adorei-o e dele fiquei fã. Não costumo gostar muito de filmes com pequenas
partes de ficção científica mas este marcou-me.
Ainda que menos realista que a peça, o filme acaba por
coincidir em vários aspetos com Felizmente há luar!. Podemos dizer que
os sentimentos pelo grupo dos sem fação e de alguns intrépidos pela figura de
Jeanine é semelhante aos sentidos por Matilde e grande parte do povo perante as
figuras dos três governadores. Em ambas as histórias, a luta contra o
poder e a injustiça é um dos focos mais importantes.
A figura de Tris Prior equivale
à de
Matilde, a personagem que, na peça, protagoniza a revolta, e à de Gomes Freire de
Andrade, que se diria ser o herói de Felizmente há luar! mesmo não
aparecendo nunca em cena.
Enquanto Matilde protagoniza a revolta apenas motivada pela
prisão do marido, Tris tem como motivação acabar com as injustiças, proteger a
cidade e honrar a memória dos pais, que deram a vida por ela e pela liberdade
do povo perante Jeanine. Considero que Matilde tem uma atitude talvez egoísta
visto que apenas se lembra de se revoltar contra as injustiças quando ela mesmo
se encontra numa situação semelhante, quase parecendo que, antes, ela não se
importava muito com as injustiças do mundo que a rodeavam. Ainda que tenha
estado sempre pronta a dar esmola aos que necessitavam (“Você, aí, sabe quem eu
sou. Tenho-lhe dado esmola vezes sem conta.”), nunca se preocupou seriamente
com as injustiças políticas e de liberdade. No entanto, Matilde chega mesmo a
querer cobrar o favor ao povo quando pergunta “Por quanto tempo é que o vão
deixar metido numa masmorra…” (pp. 100-101). Por outro lado, a meu ver, Tris
promoveu a revolta de modo mais honesto, visto que sempre lutou pela
prevalência da paz, sem que se tratasse de uma ação desencadeada só pela perda
de alguém. Talvez este sentimento resulte do afeto que sinto por Tris mas esta
parece-me mais íntegra que Matilde.
No filme, Jeanine procura descomedidamente pela pessoa que
tem a capacidade de abrir a caixa que contém o segredo, enquanto na peça os
governadores procuram pelo “chefe da conjura” (p. 72). Ainda que com objetivos
diferentes, em ambas as situações são os nossos heróis os escolhidos para serem
as cobaias.
Em ambas as intrigas o herói é alguém que se diferencia do resto das pessoas. Possui
características apelativas e especiais que impressionam os que os rodeiam e são
considerados uma ameaça para os que têm o poder. Aos olhos dos governadores,
Gomes Freire de Andrade “é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um
soldado brilhante, é grão-mestre da maçonaria” (p. 71). Tris Prior é
categorizada como divergente por ser intrépida, altruísta, inteligente, sincera
e generosa.
É já no fim que os dois enredos se afastam: apesar de ambos
os heróis sofrerem uma perseguição, apenas o herói da peça
acaba por morrer. A heroína do filme sobrevive e consegue descobrir o segredo
escondido dentro da caixa secreta, continuando assim a promover a revolta
contra Jeanine e todos os seus apoiantes.
Joana S.
Joana S. (Bom (+)) || Arrival (O Primeiro Encontro)
Quando mostrei
interesse por este filme, ao ver a história relatada no trailer, confesso que
me desiludi. Porém, o filme transmite uma mensagem que, habitualmente, não
vemos em filmes de extraterrestres e que, por isso, me deixou surpreendida.
Arrival (O Primeiro
Encontro) descreve a chegada de seres extraterrestres a diferentes pontos
da Terra e o relacionamento de dois deles (Abbott e Costello) com a Dra. Louise
Banks, uma professora de linguística, e Ian Donnely, um físico teórico. O
enredo resume-se à interação e à troca de mensagens entre os seres alienígenas
e os seus investigadores, para compreender se eles representam uma ameaça ou
não.
Sei que a analogia entre
extraterrestres e a obra Felizmente Há
Luar! pode ser estranha, mas a verdade é que existem diversas
correspondências. Os interesses políticos não só estão presentes no filme, no
caso de um general chinês que não confiava nos extraterrestres e que, por isso,
direcionou a sua equipa para um plano que não estava estabelecido por não
conseguirem partilhar as informações que tinham deles com os outros países,
como também são evidentes na peça, uma vez que esta retrata a injustiça da
repressão e das perseguições políticas levadas a cabo pelo Estado Novo. É o
caso de D. Miguel Forjaz, que apenas mostra interesse na detenção de Gomes
Freire porque precisa de arranjar um culpado, mesmo que este seja inocente,
como o membro da Regência aliás confessa: “quem deverá, ou convirá, que tenha
sido o chefe da revolta?” (p. 60). Sousa Falcão também admite que D. Miguel
“odeia Gomes Freire com um ódio que vem de longe, um ódio total, que não perdoa
nada!” (p. 116-117).
Para além disto,
verifica-se uma relação de superioridade entre as personagens da obra. De um
lado, temos os governadores do reino, defensores do absolutismo. De outro,
temos os populares, defensores do liberalismo. Identicamente, há uma luta de
poder entre os seres extraterrestres e os seres humanos.
No entanto, a
correspondência mais evidente será o medo do desconhecido. Tal como em Arrival, os populares de Felizmente Há Luar! ignoravam Matilde
porque tinham medo do que poderia acontecer, apesar de acreditarem na mudança e
nas crenças do general Gomes Freire de Andrade. Os apelos de Matilde aos
populares sobre quanto tempo deixariam o general numa masmorra, insinuando que
a responsabilidade pela sua prisão era deles, já que tinham fé nele, foram
encarados por Manuel, dizendo “Olhe para nós, Sr.ª D. Matilde. Abra bem os
olhos e veja quem somos e ao que estamos reduzidos” (p. 105).
No final da peça,
Matilde vê a fogueira como um sinal de esperança, já que mostrou ao povo o que
podia simbolizar. Do mesmo modo, Costello ensinou a sua linguagem a Louise,
para que ela os pudesse ajudar dali a 3000 anos.
Assim, podemos
assegurar que “felizmente há luar” e “heptapods” (nome dado aos seres
alienígenas), ainda que se mantenham interesses políticos, combates pelo poder
e medo do desconhecido, são símbolos de crença e fé, que representarão o nosso
futuro.
Cláudia
Cláudia (Bom/Bom (+)) ||
Nightcrawler (Repórter da Noite)
Confesso que não foi fácil escolher um filme que
se relacionasse com Felizmente Há Luar!.
Na minha videoteca caseira, não faltavam eram exemplares que se pudessem
associar ao livro.
Um dos primeiros que me veio à memória foi Capitães de Abril, realizado e
protagonizado por Maria de Medeiros, não só pelo contexto histórico, mas pela
alusão à morte de Salgueiro Maia, o herói da revolução, assim como acontece no
livro, com a morte, descrita por Matilde, de Gomes Freire d’Andrade. Era uma
boa analogia, mas também muito previsível. Lembrei-me ainda do clássico
americano Once Upon a Time in America,
onde senti particularmente o mesmo que na cena em que D. Miguel demonstra a sua
crueldade, política e pessoal, perante o primo, ao ponto de o querer ver morto.
Tal similaridade acontece quando amigos de infância — agora adultos, tentam
aproveitar-se um do outro.
Tendo continuado à procura de um exemplar
perfeito, deparei-me com alguns que podiam ter interesse literário: La Promesse, onde se põe em causa
traição entre pai e filho para um bem maior, assim como Matilde põe em causa os
valores que defende só para salvar o marido, traindo-se a ela própria
(“Ensina-se-lhes que sejam valentes, […] Ensina-se-lhes que sejam justos, […] Ensina-se-lhes
que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca!”); Jackie, o filme biográfico que retrata a
vida de Jacqueline Kennedy e como conseguiu carregar o legado do marido, assim
como Matilde. Mas, em cada exemplar que encontrava, parecia que faltava alguma
peça importante. Depois de desarrumar a prateleira, encontrei um, visto
recentemente, que me recordava aquela sensação de angústia revoltante ao ler as
falas de Vicente: Nightcrawler, Repórter
da Noite. Este filme de 2014 foi um dos mais angustiantes já alguma vez
vistos nas sessões cá de casa.
Lou Bloom, o protagonista, pode ser facilmente
comparado com Vicente. Calculista e traiçoeiro, não se importa de prejudicar os
outros para conseguir o seu objetivo: o reconhecimento. Vicente, caracterizado
como um provocador em vias de promoção, não se importava de trair os seus, o
povo, para conseguir o alto reconhecimento, neste caso como chefe da polícia.
Este thriller põe-nos com uma
sensação revoltante, não só pelo sentimento de desaprovação com Lou Bloom, mas
também pela necessidade, quase obrigatória, de ter de gostar de alguém no
filme. Essa personagem desejada, Rick, vem com a chegada de um “sócio/parceiro”
para a “empresa” de jornalismo freelancer.
Neste caso, Rick, que, no início, poderia ser
comparado com Matilde pelo sentimento de compaixão que se criou a partir da
personagem, vai ser comparado, no fim do filme, com Gomes Freire, uma vez que vai
ser morto, como foi o General. Em ambas as personagens, o sentimento de afeto é
grande, e ambas morrem. Baleado pelo próprio Bloom, o sentimento de traição
afeta toda a gente. Como é possível balear assim a pessoa com quem se tem um
negócio? Esta mistura de emoções e desaprovações vem provocar uma sensação,
antes vivida no filme, quando Vicente proclama os seus ideais com manipulação e
sem consideração (“É simples: digo-lhes metade da verdade… Odeiam os franceses
e os Ingleses? Chamo estrangeirado ao Gomes Freire…”, p. 25).
Ao ler a obra, a última fala proferida por
Matilde — “felizmente há luar!”— é a parte mais gratificante da história, uma
vez que põe o leitor a pensar nas esperanças do futuro porque afinal há luar,
pondo paralelamente em xeque o governo absolutista. Em Nightcrawler, o desfecho é diferente, uma vez que a nossa pauta
melódica de esperanças foi morta, deixando a história desenvolver-se sem que
Lou Bloom seja responsável pelos seus atos. Desta forma, estas duas obras
encaixam que nem uma luva.
Mónica
Mónica (Bom +/Muito Bom -) || Return
to Paradise (Um caso de força maior)
Tenho que confessar
que sou bastante reticente quanto a filmes antigos, os poucos que vi ou foi pela
ligeiríssima insistência da minha mãe ou por serem a única alternativa para o
serão de sábado. No entanto, poucas foram as vezes em que vi um clássico e não
fiquei satisfeita: parece que tudo é mais simples e verdadeiro nestes filmes
que têm bons conteúdos sem depender de ecrãs verdes e efeitos especiais.
Um destes filmes,
impossível de não apreciar, é Um caso de
força maior (em inglês, Return to
Paradise), um drama de 1998 que conta a história de dois amigos, Sheriff e
Tony, que, para salvar a vida de outro, Lewis, que está preso e prestes a ser
enforcado, têm de se dar como culpados num crime que também cometeram. É também
impossível não estabelecer uma relação imediata entre Sheriff e António de
Sousa Falcão, “o inseparável amigo” de Gomes Freire d’Andrade, em Felizmente há luar!.
Sousa Falcão
aparece apenas no ato II da peça de Sttau Monteiro e surge como o grande apoio
de Matilde, que está transtornada e revoltada face à prisão do homem que ama. O
grande amigo do casal torna-se, assim, um companheiro de Matilde na luta contra
o enforcamento de Gomes Freire, ajudando-a nas intervenções junto dos membros
do poder e dando-lhe o auxílio necessário para ultrapassar esta fase
desastrosa. Também Sheriff é o grande apoio de Beth, irmã de Lewis, que aborda os
dois amigos dizendo ser a advogada do preso, ocultando o parentesco existente,
e pedindo-lhes que se entreguem de maneira a salvar Lewis, condenado à morte
por posse de droga. No entanto, começa uma relação amorosa com Sheriff e será
este romance que, posteriormente, garantirá a Beth o apoio e a ajuda do amado.
Sousa Falcão
sente-se culpado pela prisão injustificada do amigo, porque “os motivos que os
governadores tiveram para prendê-lo” (p. 137) seriam também aplicáveis no seu
caso, contudo faltou-lhe “coragem para estar na primeira linha” (p. 137). A
cobardia e a vergonha preenchem-no e fazem com que se sinta lastimável. Ao
longo da intriga tenta controlar ao máximo os seus sentimentos para transmitir
esperança e confiança a Matilde, não deixando transparecer as suas angústias.
Porém, após a morte do amigo, torna-se impossível esconder o que sente (“O
António chora.”, p. 139). No filme, apesar de Sheriff ser inicialmente o mais
hesitante em ajudar, acaba por ser ele, motivado pelo amor e amizade, que se
entrega, no final, declarando-se culpado pelo crime. Demonstrou a coragem que
faltou a Sousa Falcão, e, por isso, não sofreu tanto pela decisão que tomou.
Estas duas
histórias são tão semelhantes que facilmente se identificam outras parecenças
entre as personagens que as integram, como Gomes Freire e Lewis, por motivos
evidentes, e Matilde e Beth, por fazerem tudo para tentar salvar o homem que
amam (marido e irmão, respetivamente) das mãos de um governo abusivo.
Gomes Freire e
Lewis encontram-se então numa situação similar: estão ambos presos e destinados
à forca e as condições em que vivem, em S. Julião da Barra, na peça, e numa
prisão da Malásia, no filme, são descritas como miseráveis. Contudo, existem
diferenças que reforçam a compaixão por Gomes Freire, que era inocente, não
podia receber visitas, nem mesmo para se despedir, e não tinha qualquer saída
da situação em que se encontrava. Em contrapartida, Lewis tinha realmente
cometido um crime, podia receber visitas, ainda que muito restritas, e a ajuda
dos amigos podia evitar a sua morte. Apesar destas divergências, o que
realmente liga estas personagens é tanto a persistência dos que os rodeiam,
tentando tudo para os salvar, como o facto de, inesperadamente, Gomes Freire e
Lewis terem o mesmo fim, a forca.
Um ponto
convergente nos dois enredos é, portanto, o final, previsível em Felizmente há luar!, no entanto,
surpreendente no filme, onde estava tudo encaminhado para o típico final feliz,
até que uma reviravolta causada pela imprensa americana conduz Lewis à forca,
deixando as pessoas mais sensíveis tocadas por este momento, como acontecerá
com os espetadores da peça.
Débora
Débora (Bom -/Bom(-)) || Gladiator
(Gladiador)
A primeira vez que vi
o filme Gladiador (Gladiator) foi com a minha irmã e com a
minha mãe: estávamos em casa e elas sugeriram vermos este filme porque, como eu
nunca o tinha visto, seria uma experiência nova para mim. Devo dizer que adorei
ver o filme pois retrata uma história em que estão envolvidas a traição, a
perda, a vingança, a tirania, a escravidão, a ambição, o assassinato mas também
o amor. O filme sempre despertou em mim uma certa admiração porque ver alguém
que luta sempre pelos seus objetivos e pelas pessoas que ama dá-me alguma
confiança para fazer o mesmo e, sempre que ele passa na televisão, arranjo uma
forma de o ver.
No filme Gladiador o General Maximus tenta
impedir a invasão dos Germânicos, tal como em Felizmente Há Luar! Portugal acaba de ultrapassar uma época de
invasão dos franceses (“Vê-se a gente
livre dos franceses”, p. 16). A personagem
Matilde em Felizmente há luar! perdeu o seu marido, como o General
Maximus perdeu a mulher e o filho, mas Matilde não procurou vingança para com os poderosos (Principal
Sousa, Beresford e D. Miguel Forjaz) pois ela percebeu que aquele não era o fim
mas o princípio (“Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio”, p.140).
Ao contrário de Matilde, Maximus jurou vingar-se dos culpados pela morte dos
seus entes queridos, fosse naquela vida ou noutra.
Tanto
no livro como no filme, os mais poderosos são tiranos e ambiciosos. D. Miguel,
com medo de perder o seu poder, ordena que matem um inocente, o seu primo, por
lutar pelos pobres e por ele próprio. Cómodo, quando soube que o seu pai, o
Imperador, ia entregar o Império a Maximus, mata o próprio pai e manda Quintus
matar Maximus e a sua família e apodera-se do trono. Tal como, no livro, Gomes
Freire passa de General a pobre e de pobre a prisioneiro, Maximus passa de general a escravo e
de escravo a gladiador. Ambos são heróis nas duas intrigas: enquanto o General
Gomes Freire luta pelos pobres, por si próprio e pela igualdade, Maximus luta
para conseguir obter a sua vingança contra Cómodo, luta pelos escravos e pelo
homem que foi como um pai para ele, o antigo Imperador Marco Aurélio.
No
livro Felizmente há luar!, Vicente,
Morais Sarmento e Andrade Corvo são considerados traidores e denunciantes por
todas as pessoas mas eles não se importam porque julgam que estão a ser fíeis a
el-rei. No Gladiador, Cómodo trai o pai e Quintus, sendo o braço direito
de Maximus, cego com o poder que Cómodo lhe deu, trai o amigo, seguindo as
ordens do seu novo Imperador e manda matar Maximus sem saber que Cómodo iria
matar a família de Maximus.
Em ambas as histórias existe o envolvimento da
traição, tirania, perda, a ambição e o assassinato mas não há só coisas más,
também há o amor, como o amor de Matilde e Gomes Freire e o amor de Maximus com
a sua mulher e o seu filho. Nas duas intrigas, o enredo acaba de forma trágica,
com a morte de Gomes Freire em Felizmente há luar! e a morte de Maximus
no Gladiador . Quando se aproxima a morte de Maximus, Quintus vira-se
contra Cómodo e une-se ao seu antigo e grande amigo. Apesar das piores partes,
existe algo bom em ambas as histórias pois, quando Maximus morre, acaba por
reencontrar a sua mulher, e filho e Matilde encara este final como o princípio
de algo porque “ Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra! ” (p. 140).
Carolina
Carolina (Bom +) ||
A Bela e o Monstro
Quando pensamos
em Felizmente há luar!, o filme A Bela e o Monstro não nos
parecerá, certamente, servir como base de comparação — essencialmente devido a ser originalmente um
filme de animação para crianças, que grande parte de nós terá visto e revisto
bem mais do que uma vez. No entanto, se pensarmos em detalhe nas duas
histórias, apercebemo-nos das semelhanças existentes entre, em grande parte,
duas personagens: D. Miguel Forjaz — um nobre, símbolo da decadência do país que
governa — e
Gaston — um
antigo soldado adorado pelo povo (mas, principalmente, pelas mulheres
solteiras).
Na
peça, D. Miguel Forjaz, um dos "três conscienciosos governadores do
Reino" (p. 13) , mostra ser uma personagem corrupta, desumana, hipócrita e
sem escrúpulos, cujo único objetivo é impedir a revolução e a implementação do
sistema de cortes ("o meu sonho é de não morrer sem exterminar de vez as
sementes da anarquia e do jacobinismo...", p. 69). Também Gaston, no seu
universo paralelo, apresenta no decurso do filme estas características típicas
de um vilão. Conduzidos pelo ciúme e pela raiva, ambas as personagens planeiam
matar um inocente para seu próprio benefício. Enquanto D.Miguel Forjaz pretende
matar o seu primo, o General Gomes Freire d'Andrade — não só pela necessidade de acusar um chefe da
revolta, como por apresentar um ódio pelos seus ideais (que vão contra a sua
visão de uma sociedade tradicional da monarquia absolutista) e pela capacidade
deste em colocar em causa o seu lugar na Regência —, Gaston tenciona matar o Monstro — por estar consumido pela rejeição de Bela,
com quem tencionava casar, dirigindo assim a sua raiva para a personagem por
quem esta se apaixonou.
Ao lado
destas personagens, existem outras que se aliam às suas causas. No entanto,
neste ponto existem ligeiras diferenças entre as duas narrativas. Se, por um
lado, D. Miguel Forjaz é apoiado por outros governadores (Beresford e Principal
Sousa) e pelo que poderemos chamar traidores da sua classe (Vicente, Morais
Sarmento e Andrade Corvo) — que tomam também grande importância na decisão de incriminar o general —mas sem nunca obter o apoio do povo que anseia
a revolução e a sua liberdade ("Prenderam o general... Para nós, a noite
ainda ficou mais escura", p. 80), Gaston move o povo da sua vila a matar
Monstro pela incitação do medo, sem nunca serem mencionadas quaisquer
personagens das classe altas (nobreza e clero). O poder que Gaston tem sobre o
povo é de tal forma, que este acredita cegamente em tudo o que o antigo soldado
diz, sem se questionar — algo
que não acontece em Felizmente há luar!, em que o povo, apesar de se
manter silencioso visto não ter qualquer tipo de poder e influência sobre o
regime, mantém-se fiel àqueles que acreditam na sua libertação e nos seus
direitos.
As
narrativas divergem também no seu desfecho. Enquanto que D. Miguel Forjaz viu o
seu desejo cumprido — "É
verdade que a execução se prolongará pela noite, mas felizmente há
luar..." (p. 131) — ,
Gaston, ao confrontar Monstro, acaba por cair para a sua morte, não chegando
realmente a matá-lo e morrendo, tal como Gomes Freire d’Andrade, enforcado.
Apesar
de a história das personagens ser um pouco diferente — o que está de acordo com o tempo e espaço da
ação (Felizmente há luar! situa-se em Portugal em 1817 e A Bela e o
Monstro situa-se em França por volta do século XVIII) e com o estatuto das
personagens —, estas
são, na sua essência, iguais: implacáveis, más e vingativas, a receita perfeita
para a criação de um antagonista.
Catarina R.
Catarina R. (Bom +) || A Criança n.º 44
A ação em Felizmente
há Luar! decorre num período marcado pela forte opressão do povo que, no
mais baixo estrato social, mal suporta a miserável vida que leva. Face às
pobres condições em que vive, o descontentamento vai crescendo até chegar a um
ponto em que os populares, movidos pelas ideias de um período pós invasões
francesas, adotam atitudes reveladoras e inconformismo (“Por essas aldeias fora
é cada vez maior o número dos que só pensam aprender a ler…”, p. 40); falam
livremente contra a regência e parece até estar a surgir um movimento contra o
poder.
As mesmas condições de censura do povo estão
presentes na vida das personagens de A
Criança n.º 44, do realizador Daniel Espinosa. O filme retrata o início da
década de 1950, numa Rússia dominada pelo comunismo, um “paraíso” onde o
homicídio é uma palavra desconhecida.
O filme toca em vários assuntos recorrentes da
época em que ação se centra, mas também se foca na relação enraizada em
sentimentos opressores dos dois protagonistas, Leo Demidov, um respeitado
agente do KGB, e a sua mulher, Raisa. A estas duas personagens podem
associar-se, em Felizmente há Luar!,
o casal General Gomes Freire de Andrade e Matilde de Melo, que apresentam, no
entanto, uma enorme diferença: o amor que os une. Através dos apelos que
Matilde faz pela vida do seu marido ao longo da obra, é sempre notório a enorme
afeição e devoção que sente por Gomes Freire – “Um dia entrou um homem na minha
vida. Entrou de tal forma, senhor, que tomou posse dela.” (p. 92) – ou então,
nos momentos finais da peça, quando se despede: “Vai, amor da minha vida…” (p.
139). Já Raisa admite a Leo, num momento de desespero, que apenas se casou com
ele por sentir pavor do que aconteceria se recusasse o pedido.
Existe uma linha de ação semelhante em Felizmente há Luar! e A
Criança n. º44. Na peça, o herói por todos referido mas nunca visto em cena
é vítima de personagens que procuram e seguem cegamente a aura sedutora do
poder, sejam elas Vicente, de modo a deixar o mais longe possível o seu passado
e origens humildes; Andrade Corvo, que “pretende ser promovido pela denúncia,
já que o não pode ser por mérito” (p. 44) ou Beresford, cujas ações são postas
em prática partindo de um plano mental estritamente materialista. Também no
filme, Leo é alvo desta fome pelo poder, encontrando um inimigo num antigo
inferior seu do KGB, que entretanto subiu na hierarquia e tem agora mão no
futuro de Leo, sendo os dois protagonistas do filme forçados a mudarem-se de
Moscovo para uma cidade industrial pacata após a (falsa) suspeita de Raisa
estar a trabalhar como espia.
Após o encarceramento do General Gomes de
Freire, Matilde, angustiada pela separação do meu marido e procurando um plano
de ação com o objetivo de o libertar, reflete sobre os momentos que passaram
juntos, e em como, se estivesse na posição do seu marido, ele faria tudo ao seu
alcance para lhe restituir a sua liberdade, como manifesta em “Estivesse eu em
S. Julião da Barra, e já teria ele dado a sua vida por mim” (p. 90). Apesar da
relação distante entre Leo e Raisa, à semelhança de Matilde, a mulher do
ex-agente mantém-se fiel ao seu marido quando lhe é oferecida uma vida próspera
longe de Leo, quando este encontra ainda mais conflitos por seguir a linha de investigação
de vários homicídios de crianças num país em que “não acontecem” tais atos de
violência.
O final das obras dramática e cinematográfica
diverge quando, no filme, as verdadeiras intenções dos agentes que injustamente
acusam Leo são descobertas e o herói restitui a sua honra e antiga vida, o que
não se dá na peça. Se o filme termina com uma nota esperançosa para um futuro
diferente, com a fundação de um departamento de investigação de homicídios, em Felizmente há Luar!, o lado do poder
corrupto vence, e quem parecia poder dar voz e forma à roda da mudança acaba
executado, e a devotada Matilde compreende como a enorme máquina do poder é
despótica.
Carlota
Carlota
(Bom -/Bom (-)) || Star Wars: The Empires
strikes again
Entre a minha extensa lista de filmes favoritos
(já feita desde que os começei a ver), está no topo Star Wars. Qualquer um deles me deixa boquiaberta e completamente
presa à televisão, no entanto quero-me concentrar no segundo da série, Star Wars: The Empires strikes again. Para
mim, é um dos melhores filmes feitos, que abrange qualquer tema de uma forma
peculiar.
Por sugerir vários temas por vezes até
polémicos, é o filme ideal para comparar com Felizmente há luar! Falando por mim, ao ler o livro, tive várias
sensações e sentimentos que tive também quando vi o filme mencionado pela
primeira vez. No geral, as duas histórias têm bastante em comum; no entanto,
têm também algumas diferenças. Matilde, em Felizmente
há luar! poderia ser contrastada com a princesa Leia, em Star Wars, uma vez que são ambas
personagens femininas muito poderosas (“Vou enfrentá-los. É o que ele faria se
aqui estivesse”, p. 91), decididas e apaixonadas. Porém, Matilde ama Gomes
Freire d’Andrade, e a princesa Leia ama Luke Skywalker, mas apenas como seu
irmão.
A principal parecença entre o livro e o filme é
que ambos têm os dois grandes grupos: os absolutistas (Beresford, D. Miguel e o
principal Sousa- em Felizmente há luar!-
e o Império- em Star Wars) e os
libertistas (General Gomes Freire d’Andrade e os Jedis): “Um amigo do povo! Um homem às direitas! Quem fez aquele
não fez outro igual…” (p. 20). Ou seja, nas duas histórias, os absolutistas
querem “controlar” ou a galáxia ou o reino português e quem está contra eles
não merece viver. Em Felizmente há luar!,
o general Gomes Freire d’Andrade é preso, torturado e morto, e, em Star Wars, este cenário tão violento não
acontece. É verdade que muitos dos “liberalistas” no filme são levados à morte;
porém Luke, o jedi mais importante,
não morre, é torturado e sofre bastante mas não chega ao extremo. Existe uma
grande rivalidade entre os dois grupos sendo que os absolutistas não prestam
muita atenção aos mais oprimidos (“A simples existência de certos homens é já
um crime”, p. 95), aos que precisam de ajuda e de “esmola”, enquanto que o
grupo contrário ao mal tenta prestar todo o auxílio possível, mesmo que se
encontre nas mesmas situações.
Ao ler o livro, apercebi-me de que a realidade é
assim mesmo, é normal haver dois grandes grupos contrastantes que têm as suas
próprias ideias e lutam por elas. Geralmente, há uma grande luta entre os dois.
Isto é, a luta entre o poder e a injustiça. O filme tem também esta
característica típica da realidade em que nós próprios vivemos. O Império e os jedis lutam uns contra os outros, uma
vez que o Império quer apenas “salvar a sua pele” e faz tudo para que nada de
mal lhes aconteça, em vez de se preocupar com o povo que governam.
As restantes personagens, como Vicente, Corvo e
Morais Sarmento, são auxiliares da história, talvez como traidores e revoltados
(porém, de modo diferente). Também no filme existem personagens que auxiliam na
história, tanto no grupo dos “bons” ou no dos “maus”.
Assim, Star
Wars e Felizmente há luar!
complementam-se, mesmo que tenham diferenças entre si. Têm ambos grupos
contrastantes e figuras femininas poderosas, o que é bastante importante.
Bea S.
Bea S. (Bom -) || The
Contender (O Jogo do
Poder)
Já em ato de desespero pela busca de um filme em que tivesse alguns
pontos de ligação com a peça de Luís de Sttau Monteiro, encontrei O Jogo do
Poder (The Contender), um triller do ano 2000, de que, na verdade,
nunca antes tinha ouvido falar.
Trata-se de Laine Hanson, uma ex-republicana, mudando-se para o
partido democrata após tornar-se senadora do Ohio. Apesar de ser apoiada pelo
Presidente dos Estados Unidos em se tornar a primeira vice-presidente da
história do país, terá de lutar com aqueles que não concordam com os seus
ideais, como, por exemplo, o direito ao aborto e a separação entre a religião
Católica e a política, assumindo-se como ateia em frente do comité do
Congresso. Apesar de este não ser o meu tópico principal de análise entre o
filme e a peça, o filme revelou-se muito interessante a nível da igualdade de
género (feminismo), um dos tópicos mais falados hoje em dia.
O desenvolvimento da personagem Laine Hanson ao longo do filme
apresenta algumas semelhanças com o da personagem General Gomes Freire de
Andrade em Felizmente Há Luar!, não só a nível narrativo mas também a nível
de comportamentos e de personalidade. Ambos são adorados pelo povo mas odiados
por aqueles que enfrentam e que contra eles conspiram - Jack Hathaway (outro
candidato ao lugar) juntamente com alguns elementos do comité do Congresso
governado pelo presidente Shelly Runyon (um republicano conservador) no caso de
Hanson e os "três conscienciosos governadores do Reino" e Vicente, no
caso de Gomes Freire de Andrade -, sendo que o termo "estrangeirado",
que foi muitas vezes aplicado ao General Gomes Freire, também se adequa à
protagonista do filme devido à discrepância das suas das atitudes comuns
naquela altura, apesar de o tempo da ação ser situado já no século XXI. Estas
idealizações levaram a que até democratas – podendo fazer uma analogia com as
personagens Morais Sarmento, Andrade Corvo e Vicente; tornando-se denunciantes
e traidores para subirem na vida, não tendo escrúpulos nas escolhas dos meios
para atingir os seus objetivos - se juntassem a Shelly Runyon, de forma a fazer
com que o Presidente mudasse de opinião acerca de Hanson.
Ambos lutaram por aquilo em que acreditaram. Laine lutou sempre pelo
seu direito de ter uma vida privada e de poder fazer o que queria com o seu
corpo, apesar de os media a humilharem (são estes o símbolo da repressão no filme
como os tambores são em Felizmente Há Luar!); e Gomes Freire lutou pela
justiça e pela liberdade. Lutaram quer um pela igualdade entre géneros, e o
outro pela igualdade entre estatutos sociais. No entanto, apesar de todos os
esforços de Matilde em salvar Gomes Freire, seu marido, este acabou enforcado
em S. Julião da Barra. Mas, no caso de Laine, valeu-lhe o Presidente, que, num
discurso diante do congresso, falou sobre as legítimas razões que o levavam a
escolher Laine como sua vice-presidente, denunciando a corrupção feita por
Runyon e Jack Hathaway.
Laine acabou por ter um "final feliz", mas o mesmo não
aconteceu com o Gomes Freire. No fim, acabamos por nos aperceber de que, se
Matilde tivesse algum tipo de influência, a história de Gomes Freire poderia
não ser a mesma.
Tety
Tety (Bom) || One day
One Day foi um filme que vi por
acaso: liguei a televisão e estava ele a começar. Ficou marcado na minha
memória por ter tido um final totalmente inesperado. Tentei ler o livro porque
são sempre mais ricos que os filmes, mas não tive a oportunidade e acabei por
me esquecer. Em Felizmente há luar!,
apesar de o final ser óbvio, tive esperança que algum dos apoiantes do
General Gomes Freire de Andrade fizesse algo ou até que o Principal Sousa
tivesse piedade da pobre mulher do general. No filme, as personagens são
apanhadas de surpresa, acabando uma por morrer ao ir contra um camião.
Em Felizmente
há luar! existe uma elipse da qual nem damos conta, parecendo que tudo se
passa na mesma noite. Durante o filme temos noção de que vinte anos se passaram
desde que as personagens principais (Emma e Dexter) se conheceram, até porque
estas vão ganhando novos traços à medida que o tempo passa.
Encontramos muitas parecenças entre Emma e o
General Gomes Freire de Andrade. Rapariga idealista é o termo que melhor
caracteriza a personagem do filme pois queria mudar o mundo em seu redor para
melhor, tal como Gomes Freire. O sonho dela era ensinar e escrever ao mesmo
tempo enquanto que o general Gomes Freire era o
protagonista de uma revolta cujo objetivo era tornar o povo português, que a "miséria, o medo e a ignorância" dominavam, mais culto. Apesar de esta
personagem não aparecer em cena, tem um papel muito importante na peça e,
sobretudo, no comportamento de outras personagens. Matilde e Dexter também têm em comum o facto de terem ficado numa
solidão desesperante e destroçados com a perda.
A vida de ambos os casais é
dura e, pelos testemunhos de Matilde, apercebemo-nos de que esta teve um filho
com Gomes Freire que acabou por morrer (“ Se o meu filho fosse vivo...”, p. 84). Em One Day,
apesar de Dexter ter tido uma filha de outro casamento, Emma queria ser mãe e,
apesar de muitas tentativas, o desejo de terem filhos acabou por não se
realizar. A sorte não está mesmo do lado destes casais mas, apesar de curta, a
vida foi preenchida com pessoas importantes e amor.
A didascália lateral (p. 120), «o mundo não passava
dum inimigo que os perseguia a ambos», descreve o destino dos heróis tanto da
peça de Sttau Monteiro como os do romance, terminado com um final trágico
(morte). Em contraste, Matilde já estava preparada para tal acontecimento pois
era a única maneira de os governantes avisarem e obrigarem os populares a
esquecerem as ideias e o comportamento revolucionário.
Matilde e Sousa Falcão, grande
amigo do casal (“António: você, que foi sempre o seu amigo e que o conhece há
anos.”, p. 87), julgaram que a execução de Gomes Freire de Andrade e de mais
revolucionários
“era o fim e afinal é o princípio.” (p. 140), tendo o povo ficado com ainda
mais vontade de revolta devido à maneira como vivia. A mensagem do filme e de Felizmente há luar! é semelhante pois não devemos esperar muito
tempo para dizer o que sentimos ou, no caso da peça, Matilde deveria ter usado
a sua saia verde, que Gomes Freire de Andrade lhe tinha oferecido, há muito
tempo. Dex e Emma não deveriam ter demorado tanto para dizerem o que sentiam
realmente um pelo outro. Apesar disto, as personagens só ficaram mais fortes e
com vontade de mudar.
Patrícia
Patrícia (Bom (+)/Bom+) || The Shawshank Redemption (Os Condenados de Shawshank)
Os Condenados de Shawshank, de 1994, é o
filme que está em primeiro lugar na lista dos melhores filmes do IMDb (uma
página, na internet, a que se costuma recorrer quando se quer saber se um filme
é bom ou mau), com uma avaliação de 9.2 em 10 e, por isso, eu e os meus amigos,
numa tarde em que não tínhamos nada para fazer, decidimos vê-lo.
O filme mostra a realidade opressiva vivida
pelos prisioneiros. Tal como em Felizmente Há Luar! vive-se num ambiente
de poder absoluto em que o diretor da prisão, uma personagem muito corrupta,
faz o que lhe convém. Na peça os três governantes conspiram para arranjarem um
"chefe da revolta" que dê jeito matar, de modo a assustarem o povo e,
consequentemente, a parar o rebelião. A população vive num universo de medo
produzido pelos poderosos, onde nem a liberdade de expressão é permitida.
Quando o Principal Sousa diz "Dizem-me que se fala abertamente em guilhotinas
e que o povo canta pelas ruas canções subversivas." (p. 40) nota-se um tom
depreciativo, demonstrando a atmosfera repressiva que cobria Portugal. O
ambiente torna-se cada vez mais parecido com o de uma ditadura, havendo regras,
como os populares não se poderem juntar em grupos— "Então vocês não sabem
que estão proibidos os ajuntamentos?" (p. 81)—, que contribuem para a
semelhança da situação relatada na obra com o salazarismo.
A personagem principal, Andy Dufresne, é um
banqueiro acusado de homicídio, que, tal como Gomes Freire, foi preso apesar de
inocente e, apesar de não ter sido morto, ficou entre barras durante muito
tempo para o benefício do poder. No entanto, decidiu cooperar com o diretor,
lavando o dinheiro obtido pela corrupção, de modo a ter privilégios que, no
início, vemos ser o de montar uma biblioteca nova e geri-la. A atitude de fazer
algo incorreto não lembra o condenado do livro, mas sim Corvo, Morais Sarmento
e, principalmente, Vicente que, ao denunciarem certas pessoas, ajudavam os governantes
em troca de posições sociais e dinheiro. Só no final é que nos apercebemos de
que esta personagem não está do lado do poder: durante o tempo todo que
trabalhava, tinha o plano de fugir da prisão e de ficar com o dinheiro. O
prisioneiro, apesar de algumas ações duvidosas, pode ser visto como o herói da
história, tal como o marido de Matilde. Este foi contra o poder tanto quando
fugiu da prisão, sem o encontrarem novamente e, portanto, sem cumprir a pena
injusta que lhe foi dada, como quando ficou com o dinheiro que seria,
desonestamente, de Warden Norton. Identicamente, Gomes Freire de Andrade é o
protagonista da peça, apesar de estar "sempre presente" (p. 13) mas
"nunca" (p. 13) aparecer, visto que defende o liberalismo, o que vai
contra as ideias dos poderosos, sendo por isso queimado. No entanto, não tendo
entrado em ação, nem dado muito nas vistas, mantendo sempre a paz, acabou
morto, enquanto Andy foi espalhafatoso e terminou a sua vida em liberdade.
A incapacidade de Matilde para fazer algo e o
desespero em relação à situação do marido podem ser vistos no personagem Brooks
Hatlen. Quando este, após muitos anos na prisão, é libertado, não consegue
lidar com a nova realidade, começando a notar-se o seu desespero e angústia
face à vida que leva, e, sentindo que não consegue fazer nada em relação à
situação em que se encontra, suicida-se. Matilde também sofre muito com a
detenção do marido — "Como ela chorava, santo Deus! Parecia um animal
ferido a ganir à beira duma estrada" (p. 82) — principalmente porque para
ela não havia ninguém que menos merecesse ser condenado do que ele, sentindo a
terrível injustiça de que o seu grande amor estava a ser vítima —"Ensina-se-lhes
que sejam justos, para viverem num Mundo em que reina a injustiça!" (p.
83). Sente-se obrigada a fazer algo pelo marido visto que ele sempre a ajudou
em tudo — "Baterei todas as portas, clamarei por toda a parte, mendigarei,
se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!" (p. 86) —, no entanto
nunca tem sucesso, como se vê pelo desfecho da obra.
Susana
Susana (Bom) || A Mighty Heart (Um
coração poderoso)
Desde que me lembro que sou apaixonada pelo
mundo do cinema. Dedico-me bastante a alargar o meu conhecimento em filmes, e
muitas são as tardes que passo com os olhos postos nestes. Foi numa dessas
tardes, em que estava a passar canais na televisão à procura de algo para ver,
que me deparei com um filme que me chamou à atenção. Os escassos dois minutos
que vi dele foram o suficiente para me fazer carregar no botão ‘’ver do início”
e assim descobri A Mighty Heart, em
português, Um coração poderoso.
O filme relata a história da mulher de um
jornalista do Wall Street, que foi raptado por um grupo de terroristas, por
estar a investigar pistas dos ataques de 11 de setembro. Observamos de perto a
luta da sua mulher, Mariane, grávida de seis meses, e o sofrimento que a
acompanha ao procura-lo.
Muitas foram as caraterísticas que achei na
personagem principal deste filme, Mariane, em Matilde, de Felizmente há Luar!. Tanto uma como a outra revelam-se mulheres
corajosas – por exprimirem romanticamente o seu amor e lutarem pelo que
consideram justo e correto – e muito dedicadas e apegadas aos seus maridos –
como se retira do sofrimento que sentem pela “perda” destes e pela esperança
que depositam em encontrá-los, apesar da sua impotência na situação. Porém,
apesar destas suas caraterísticas comuns, apresentam formas distintas de lidar
com a dor e a incerteza com que convivem. Matilde revela-se a típica mulher
histérica, chorando e lamentando-se a cada segundo pela triste sentença do
General Gomes Freire D’Andrade; já Mariane Pearl comporta-se de maneira muito
composta e calculada. Direciona os seus nervos para atos produtivos, e não se
lamenta. Na sentença final dos seus amados, estas duas mulheres apresentam
atitudes semelhantes: tentam achar algo de positivo e encorajador no ato infame
com que se deparam. Matilde tenta descansar o seu inquieto coração,
convencendo-se de que o seu companheiro não se mostra afetado pela triste
situação com que se depara – “Vem a rir, António, vem a rir como se ria
antigamente!”, p. 138 – e Mariane, ao receber uma foto dos terroristas com a
cabeça do seu marido apontada a uma arma, salienta o lado, a seu ver, positivo
da foto, de modo a descansar-se, presente no minuto 2:00 do trailer – “Ele tem
uma arma na cabeça e está a sorrir. Está-me a dizer que está bem.”
No entanto, não são só estas duas personagens
femininas que apresentam traços semelhantes, os seus maridos também os
manifestam. Ambos os condenados são maioritariamente personagens de referência,
pois apesar de presentes na narrativa da história toda, não aparecem nela —
Daniel Pearl mesmo assim ainda aparece de relance, nos primeiros minutos do
filme e em pequenos flashbacks da sua
mulher. Para além desta caraterística, ambos sofrem crimes injustos. Enquanto o
General Gomes Freire D’Andrade é condenado pelo seu primo, D.Miguel Forjaz, por
ser o responsável da revolta do povo (pela liberdade), Daniel Pearl é raptado
por terroristas, por se apresentar uma ameaça para eles (devido a estar a
estudar o caso de um possível homem-bomba). Já no desfecho do filme, ambos vão
partilhar a componente trágica. Apesar de serem ambos homens idolatrados pelos
seus próximos, não escapam a uma morte desumana: o General morre enforcado e é
depois queimado (“Vê-a bem, minha vida, porque, quando a fogueira se apagar,
tens de te ir embora…”, p. 139) e o jornalista Daniel Pearl, decapitado. Ambas
as suas mulheres assistem a estas mortes, porém de modos e em alturas
diferentes – Matilde segue essa morte ao mesmo tempo em que estaria a acontecer
embora não a visse, enquanto Mariane assiste à decapitação dias mais tarde,
através de uma gravação.
Em Felizmente
há luar! toca-se no problema da repressão e da censura, de modo a aludir à
situação política de Portugal no Estado Novo, e em Coração Poderoso salientam-se as múltiplas vidas dos jornalistas
perdidas durante o conflito no Iraque de modo a vincar a má preparação para os
riscos a que estes estão sujeitos. Estes, através do seu desfecho sinistro,
apesar do seu espaçamento no tempo (acerca século XIX e século XXI,
respetivamente), acabam por partilhar o mesmo fim: elucidar o espetador de
problemas reais e importantes e salientá-los.
Tomás
Tomás
(Bom -) || Gran
Torino
Lembro-me de ver o filme Gran Torino quando
ainda andava no terceiro ciclo. Nessa altura, a escola requeria menos trabalho
e havia tempo para tudo. Desde pequeno que gosto de carros, mas, então, altura
como tinha muito tempo nas minhas mãos e passava grande parte dele no
computador, comecei a aprender imenso sobre carros, desde sua a história, como
funcionam, até aos modelos. O meu estilo preferido de carros era (e talvez
ainda seja) os “Muscle Cars” americanos. Um dos carros dessa categoria é o Ford
Torino e chamou-me a atenção ver um filme com o nome do carro e uma imagem sua
como póster. Como estava curioso decidi ver o filme. As minhas expectativas para
o filme eram algo do estilo de The Dukes of Hazzard, uma série focada no carro “General Lee”, um
Dodge Chalenger de 1969. Mas não, no filme Gran Torino, apesar de ser
este carro que começa a história praticamente (o vizinho da personagem
principal do filme, para entrar num gangue, do primo, tem de fazer uma tarefa
de aceitação, roubar o carro ao vizinho, mas falha a tarefa, arranja problemas
com o gangue e é o veterano que o acaba por salvar — os problemas entre estes
dois e o gangue vão aliás ser o tema principal do filme) acaba por se tornar em
“acessório” e aparece em poucas cenas.
Walt Kowalski é um veterano da Guerra Coreana
que é bastante conservador, tem ódio aos asiáticos, não respeita um padre por
este ser jovem, não concorda em ir para um lar de idosos. Estas são algumas das
características de um homem do início do século XX e conservador. Em Felizmente
há luar! as classes sociais altas também tendem a ser consevadoras devido a
terem muitos direitos e quererem mantê-los; por isso acham que a nobreza e o
clero devem estar no topo e o povo em baixo, e este é o problema principal de Felizmente
há luar! foi esta a razão pela qual o povo se revoltou e tentou “adquirir”
os seus direitos. Os “reis do rossio” são um bom exemplo: queriam um povo
conformista. Vou passar a citar um excerto de Felizmente há luar! da
personagem D. Miguel, um governante de Portugal na altura em que o rei
fugiu para o Brasil: “Sonho com um Portugal próspero e feliz, com um povo
simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos
postos no Senhor. Sonho com uma nobreza orgulhosa, que, das suas casas, dirija
esta terra privilegiada. Vejo um clero, uma nobreza e um povo conscientes da
sua missão, integrados na estrutura tradicional do Reino...” (p. 69).
Tal como na obra de Luís de Sttau Monteiro, o
filme tem um herói, e conseguem-se fazer várias comparações com o General Gomes
Freire d’ Andrade, o “herói” da peça dramática. Kowalski salvou os seus
vizinhos e pôs a sua vida em risco várias vezes, enquanto que Gomes Freire d’
Andrade era considerado um herói devido aos seus ideais, conseguindo mostrar ao
povo que este merecia mais e que devia lutar por isso, acabando por ser preso
em S. Julião da Barra e, com enorme sofrimento da sua mulher, Matilde, sendo condenado
à morte. O filme Gran Torino também teve um final trágico com a morte do
protagonista. Na minha opinião, este, sim, foi um grande herói: Kowalski
sacrificou a sua vida por Thao (o vizinho) e a sua família. Depois de múltiplos
ataques do gangue, Kowalski planeou deslocar-se a casa de membros do gangue
onde estariam várias testemunhas e vingar-se, provocou-os, fingiu meter a mão
no bolso para tirar uma arma e, quando a tirou, dispararam sobre ele matando-o.
Mais tarde, descobrimos que Walt estaria desarmado e que planeou que o matassem
em frente de testemunhas para “pôr os membros do gangue atrás das grades” e dar
uma vida melhor à família de Thao.
Depois de refletir sobre Felizmente há luar!
e Gran Torino chego à conclusão de que, apesar de todos termos erros e
não sermos perfeitos, temos a capacidade de mudar e de amar o próximo, como
aconteceu no filme, enquanto que, na peça, as personagens de classe social alta
não tiveram essa capacidade, fizerem o povo sofrer e mataram pessoas “pelo
caminho”.
Joana M.
Joana
M. (Suficiente) || The Shawshank Redemption (Os Condenados de Shawshank)
Após a leitura integral da obra Felizmente Há
Luar! , e tendo em conta toda a sua história e personagens, o primeiro
filme que me surgiu em mente foi o Os Condenados de Shawshank.
Os Condenados de Shawhank é um filme bastante
emotivo e que, de certa forma, ativa com grande impulsividade a sensibilidade
de quem o vê. Este filme foi alvo de sete nomeações para os Óscares de
Hollywood, incluindo o de Melhor Filme e de Melhor Ator. Baseia-se na
condenação de um inocente devido a um homicídio que não cometeu.
Este inocente era Tim Robbins , uma vítima
ingénua na cadeia, onde todos poderiam ter um bode expiatório mas, através de
várias técnicas, este vira totalmente o jogo e acaba por conseguir um lugar
importante na escala hierárquica dos presos e, até mesmo, da própria prisão.
Esta personagem, Tim Robbins, faz-me lembrar a
posição de Vicente perante um dos Governadores do Reino, D. Miguel, pois este
para subir de posto e por uma questão de interesses, aceita uma série de
ordens, que devido a sua maneira de ser, entende como um meio fácil para
alcançar cargos superiores.
Enquadrei, penso que de uma maneira justa, as
personagens do seguinte modo. Os prisioneiros da prisão representam o povo, o
primeiro e o segundo polícia representam os guardas da cadeia. O povo, em Felizmente
Há Luar!, está sob ordens bastante ríspidas da polícia. A principal função
desta era prevenir os ajuntamentos, de modo a evitar revoltas em defesa do
General Gomes Freire de Andrade. O povo é sempre a classe mais prejudicada
("Manuel: E cai-nos tudo em cima: o rei, a polícia, a fome...", Ato
II, p. 77 ; "2º Popular: Passaram a noite toda a prender gente por essa
cidade",
Ato II, p. 80). Para além disso, também sofre de
maus tratos por parte da polícia que é extremamente rude ("1º Polícia:
Toca a andar e nada de perguntas"; 2º Polícia: É andar e depressa, ou vão
ver o que lhes acontece", Ato II, p. 81).
O diretor da prisão, no filme, corresponde a um
dos governadores do Reino, que é Beresford. O marechal Beresford teme ser
substituído pelo General Gomes Freire de Andrade e perder privilégios, quer ao
nível dos poderes que exerce, quer do elevado salário que aufere pelos seus
serviços de comandante do exército português. Por isso, realça a gravidade do
momento, impelindo os outros à ação: "Não percam tempo, Senhores. O
momento é grave e a causa é justa. Vão."(Ato I, p. 53).
O diretor do estabelecimento prisional pretende
manter o cargo através do uso da força e dos ensinamentos da Bíblia. Para além
disso, utiliza Robbins, que era um bancário, para obter lucros através de
falcatruas no IRS. Mais tarde, no filme, vamos observar que Robbins consegue a
sua justa liberdade pois foge da cadeia com a ajuda dos seus colegas, e como
para fazer os desvios de dinheiro precisou de criar uma identidade falsa, fica
com essa mesma identidade e consegue finalmente ter o que é seu por direito e
realizar o seu sonho.
Em ambas as histórias existe corrupção e abuso
de poder. Há classes superiores a prejudicarem as inferiores, motivo de revolta
tanto por parte do povo, como por parte dos reclusos.
É certo que as histórias não têm o mesmo fim,
mas em certos momentos, pretendem transmitir a mesma ideia.
Maria
Maria (Bom (-)) || The Patriot (O Patriota)
Encontrar um filme que se enquadrasse com a peça
de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente há
Luar!, não foi tarefa fácil. Passaram-se dias enquanto pensava num que se
encaixasse na perfeição. A minha primeira opção foi A Vida é Bela, de Roberto Benigni, mas achei que o
holocausto não seria uma boa comparação. Até que me surgiu um filme que já
tinha visto há alguns anos e que me captou a atenção devido ao realismo que
transmite aos espectadores tendo em conta a época em que foi gravado. O Patriota (The Patriot), que me foi dado a conhecer por uma amiga, era o filme
certo para relacionar com a peça em questão.
Neste filme, é-nos apresentada uma fase da
Guerra da Independência Americana (1775-1783) que opôs treze colónias
americanas à coroa inglesa.
A personagem principal é Benjamim Martin, um
pacífico agricultor, dedicado à família e com elevado sentido moral e de
justiça. Este homem vive um conflito interior por ter cometido ações muito
cruéis no passado quando lutou ao lado dos índios contra os colonos franceses.
Por essa razão, quando começam as primeiras manifestações violentas contra
Inglaterra , Benjamim defende a via negocial e, numa reunião em Filadélfia,
propõe isso mesmo. No entanto, a sua posição acaba por ser derrotada quando foi
a votação. O filho mais velho, Gabriel, alista-se sem o consentimento do pai e
regressa ferido. O outro filho, Thomas, dois anos mais novo, foi morto a tiro
pelo coronel William Tavington. Morre nos braços do pai, o que o leva a
integrar novamente o exército dos Patriotas.
Entra na guerra, inicialmente, para vingar o filho e só posteriormente passa a
pensar no bem coletivo. O filme termina com o fim da guerra, com o regresso a
casa de Benjamim e do filho mais velho e com o regresso à vida pacata que
tinham antes.
O que é que fez com que eu escolhesse este filme
tendo em conta a peça Felizmente há Luar!?
De início, a personagem Benjamim Martin
pareceu-me ter algumas semelhanças com o General Gomes Freire de Andrade: ambos
são homens pacíficos que já serviram o exército e que apenas pretendem levar
uma vida tranquila (“Era capaz de comer galinha todos os dias, mas não gostava
de canja.”, p. 113). Gomes Freire, de acordo com a sua mulher Matilde: “ nem
saía de casa com medo que o povo o aclamasse.”(p. 87). Também Benjamim não se
quer envolver em conflitos até pela experiência que tivera anteriormente.
O que ambas as obras mostram é que apenas um
homem pode fazer a diferença: no filme, Benjamim, na tentativa de vingar a
morte do filho Thomas mata alguns soldados ingleses, a força opressora, e organiza
uma milícia composta por outros colonos, escravos e fazendeiros; Gomes Freire,
“um oficial com um passado brilhante”(p. 63) acaba também por ser o escolhido
como líder da conjura. Ao contrário de Benjamim , que, no fim, retoma a vida
que tinha anteriormente, Gomes Freire acaba por ser morto devido aos ideais que
defendia, tornando-se um exemplo.
Também conseguimos encontrar alguns pontos de
contacto entre Matilde e duas figuras femininas de O Patriota, nomeadamente a noiva de Gabriel, Anne, e a cunhada de
Benjamim, Charlotte. Todas partilham uma posição que pode até ser considerada
egoísta, uma vez que a sua única preocupação é que os seus entes queridos se
encontrem a salvo (“Às mulheres, senhor, povo interessa a justiça das causas
que levam os seus homens a afastar-se delas.”, p. 93; “As mulheres, senhor
Marechal, estão sempre dispostas a colaborar com a tirania para conservarem os
maridos em casa.”, p. 94) . Na verdade, sabemos também que estas mulheres ,
apesar do dito anteriormente, não pactuavam com a tirania e a injustiça.
Por último, a personagem capitão Wilkins
apresenta algumas semelhanças com Vicente. Nascido já nas colónias, integra o
exército leal à coroa e é desprezado pelos seus colegas ingleses. Para
conquistar a sua confiança, torna-se num dos mais cruéis, queimando civis
presos numa igreja. Vicente, um provocador, trai os seus a troco de um cargo
(chefe de policia) e afirma mesmo: “Os degraus da vida são logo esquecidos por
quem sobe a escada... Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem.”(p. 31).
Em ambas as obras podemos ver como um homem pode
fazer a diferença na sua comunidade ou num país, e levar outros a defender os
seus ideias. Tanto Benjamim como Gomes Freire de Andrade acreditam na justiça e
são figuras de esperança e liberdade para o povo revoltado.
Leonor
Leonor (Bom) || Harry Potter – A Ordem de Fénix
Ao longo da minha vida fui literalmente
acompanhada pelos lançamentos dos filmes de Harry
Potter, tendo a sua sequela de oito começado em 2001 e terminado em 2011.
Fui sendo cativada pela coragem invejável do herói do filme, Harry Potter, assemelhando-se
aliás à do General Gomes Freire d’Andrade de Felizmente há luar! e pela lealdade, dedicação e determinação de
Hermione e Ron ao seu amigo, recordando-me de Matilde e Sousa Falcão. À medida
que fui crescendo e repetidamente vendo os filmes, retirava deles uma ideia
diferente e uma compreensão melhor.
Um dos filmes que mais me impressionaram com a
revelação que a minha maturidade permitiu é Harry
Potter – A Ordem de Fénix. Pensei que era algo ficcionado: simplesmente uma
mulher vil que não permitia que ninguém pensasse de maneira diferente ou se
expressasse de modo individual. No entanto, essa não é só uma realidade como é
descrita também na peça de Sttau Monteiro: um Portugal opressivo em que
questionar a sua própria existência ou os pensamentos de quem tem o poder é
algo tão impraticável como punível. Assim se passa também em Ordem de Fénix, onde não se pode falar
do temível regresso de Voldemort, que é negado pela “ditadora” do filme –
Umbridge. Em ambas as obras há repressão com punição. Num a forca, onde é
tirada toda a dignidade do condenado, pois não permitem que Gomes Freire
d’Andrade seja fuzilado como um soldado mas enforcado como um traidor. Noutro,
o uso da pena com tinta de sangue, em que, ao escrever no papel, o escrito é
transcrito para a mão como uma faca a marcar a pele.
Para além de heróis, opressores e povo, em
paralelo com as pessoas da escola, temos ainda personagens traidoras em ambas
as situações. Percebemos pela peça e filme que, quando há opressão, há sempre
aqueles que querem salvar a sua pele, não querendo saber como isso poderá
afetar outros. Esses são os conhecidos Vicente, Corvo e Morais Sarmento,
traidores do povo e a “Brigada Inquisitorial”, traidores dos colegas de escola,
formada maioritariamente por membros de uma das quatro equipas em que a escola
está dividida: os Slytherin.
Com o filme e com a peça podemos fazer a mesma
analogia que é feita entre D. Miguel e Matilde quando dizem “Felizmente há
luar!”. Em Felizmente há luar! há
espírito de revolta mas a opressão tem o seu efeito sobre o povo, que seria o
defensor da injustiça aplicada a Gomes Freire d’Andrade, que lhes fecha as
bocas e estende as mãos. Essa é a analogia de D. Miguel ao referir o título.
Para ele, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente a execução.
Isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que esse é o fim
último de quem afronta o regime. Em Harry
Potter, a opressão e punição dão origem à união entre os reprimidos, que
leva à revolta conduzida pelos gémeos Weasley quando com um feitiço formam um
dragão que ataca Umbridge, sendo apoiada por todos (inclusive professores).
Esta analogia é a de Matilde ao dar o seu último grito. Para ela, as palavras
são fruto de um sofrimento interiorizado refletido, são a esperança e não o
conformismo. Ela sente que a luz vence as trevas, a vida que triunfa a morte.
Catarina
M.
Catarina M. (Suficiente
+) || A rapariga que roubava livros
Após
alguma procura e algumas opiniões, consegui finalmente encontrar um filme que
posso interligar com Felizmente há luar!,
de Luís de Sttau Monteiro. Baseado no livro A Menina que Roubava Livros, este filme emociona o espectador, sem
ser piegas. É uma associação da época do Nazismo a uma rapariga que rouba
livros (um desejo pessoal do autor do livro).
É uma
narrativa que nos remete para a Alemanha do tempo de Hitler, uma época onde não
se podia ir contra o líder do país ou ser-se-ia preso e morto, tal como na
nossa obra. Também em ambas as obras há um inocente, personagem secundária, que
é morto (no caso da nossa obra, é o General Gomes Freire d’Andrade; no caso do
filme, é Max, um judeu que mora clandestinamente em casa dos pais adotivos de
Liesel).
Na
nossa obra, o General Gomes Freire é capturado, pois D. Miguel, Andrade Corvo,
Morais Sarmento, o Principal Sousa e Beresford o apontam como o líder da conspiração
e do grupo que estaria contra os governadores de Portugal. No segundo
presencia-se o desgosto e a luta de Matilde quanto à morte de Gomes Freire.
Por
outro lado, no filme, narrado escassamente pela morte personificada, Liesel é
afastada dos pais, indo viver para a Alemanha. No entanto, esta ladra de
livros vê-se confrontada com uma receção, por parte dos seus pais adotivos, de
um judeu que está a fugir ao extermínio.
Estas
duas obras podem relacionar-se muito facilmente pois quer o pai adotivo de
Liesel quer o judeu que eles acolhem, passam pelo mesmo que o General Gomes
Freire. São homens bons, com um bom coração, mas que acabam por morrer, um por
ser judeu, outro por o abrigar.
Na
obra de Luís de Sttau Monteiro, o luar é visto por dois pontos de vista: o
ponto da renovação e da luz do luar, mas também como a escuridão da noite que
as personagens não conseguem negar.
Sendo
o filme baseado no livro de igual título, infelizmente há muitas cenas que
poderíamos ter relanceado mas que se deixaram de lado. Mas os pontos principais
estavam lá, e o significado das cores, presentes também no livro, encontrava-se
lá.
No
fundo, é um filme que puxa ao sentimento mas não é lamechas, podendo ser
comparado com o filme O rapaz do pijama
às riscas, não só por ser da mesma época mas também por apresentar
o tema “Alemanha nazi”, de uma forma muito leve, sendo um tema bastante
pesado para certas idades. Apesar de ser um fim que, provavelmente, ficará um
pouco aquém das expectativas, é um filme adequado para qualquer idade, desde
que se tenha interesse por história e cultura mundial, pois consegue
perceber-se como era a Alemanha nessa época, através de vários fatores
apresentados. Consegue perceber-se o terror vivido, através da família adotiva
de Liesel.
No
fundo é um filme razoavelmente bom para ser comparado com o Felizmente há Luar!, de Luís de Sttau
Monteiro, pois há vários aspetos muito idênticos nas duas obras.
Pedro
Pedro
(Bom (+)) || Harry Potter and the Deathly Hallows — Part 1 (Harry
Potter e os Talismãs da Morte — Parte I)
Harry
Potter e os Talismãs da Morte — Parte I é o penúltimo dos oito filmes da saga Harry Potter. Neste filme, Voldemort — o
feiticeiro maléfico que pretender dominar toda a magia — consegue finalmente
derrubar o ministério da magia substituindo o ministro da magia por um dos seus
subordinados. Voldemort domina, então, plenamente o universo mágico que existe
secretamente em Inglaterra. Muitos discordam das injustiças que o terrível
feiticeiro impõe mas poucos são os que se atrevem a demonstrá-lo abertamente,
temendo os “Devoradores da Morte” (seguidores devotos de Voldemort capazes das
maiores atrocidades) que se mostraram fatais contra aqueles que revelaram
qualquer indício de revolta.
Em Felizmente
há luar!, de Luís de Sttau Monteiro, vive-se uma situação semelhante: já
após as invasões francesas, Portugal encontra-se sob domínio inglês. O povo
vive pobre e descontente e, inspirado por ideias liberais, fala de revolução
“mas sempre que há uma esperança os tambores abafam-lhe a voz… Sempre que alguém
grita os sinos tocam a rebate…” (p. 77).
Querendo resolver a
situação, o povo coloca as suas esperanças no general Gomes Freire d’Andrade:
“soldado brilhante” que, não só sendo “grão-mestre da maçonaria” e “idolatrado
pelo povo”, é também um “estrangeirado” (descrito por Beresford, um oficial
inglês, como um “inimigo natural desta Regência”, p. 71). Contudo, Gomes Freire
não pretende ser um revolucionário: nunca conspirou e tentava passar despercebido
para não se identificar como líder da revolta (“Olhe que nem saía de casa com
medo de que o povo o aclamasse. Juro-lhe que nunca conspirou!”, p. 87).
Na saga de Harry
Potter, é neste penúltimo filme que se torna mais clara a ideia de que o
protagonista, que dá o nome à própria saga, também nunca quis ser nenhum líder
ou herói. Os opositores de Voldemort depositam nele as suas esperanças pelo
mesmo motivo que o povo deposita as suas no general Gomes Freire d’Andrade em Felizmente há luar!. Os prórios valores
que estes personagens defendem são um ato de revolta contra o domínio que os
oprime: estes não precisam de se revoltar pois os outros oprimidos fazem logo deles
os seus líderes. É como se eles próprios fossem a revolta (“A sua vida inteira
foi uma conspiração permanente contra o que esta gente representa.”, p. 87).
Os vilões (a Regência
em Felizmente há luar! e Voldemort em
Harry Potter e os Talismãs da Morte — Parte I) tentam assegurar o seu
domínio apelando para a parte fraca daqueles que dominam. No caso de Harry Potter e os Talismãs da Morte — Parte
I, Harry Potter é posto a prémio, sendo obrigado a fugir constantemente dos
membros do ministério da magia e dos terríveis Devoradores da Morte. Em Felizmente há luar!, o plano da Regência
é mais discreto: paga a um popular, Vicente, e a dois militares, Andrade Corvo
e Morais Sarmento, para descobrir quem seria o chefe da revolução e, a troco de
mais um dinheiro, comendas e promoções, consegue condenar à morte Gomes Freire
(“Para o juiz da inconfidência irão os bens do condenado… Para os restantes,
Reverência, comendas e promoções… El-rei é generoso!”, p. 66).
F. Maia
F. Maia (Bom (-)/Bom) || The Age of Shadows (A Idade das Sombras)
Confesso
que não estava preparado para receber a tragédia da obra de Sttau Monteiro. O
desfecho conseguiu, devido a razões e traços da minha personalidade
inconformista e da pessoa que mais importa na minha vida, fazer com que eu me
colocasse na posição dos acusados (e revolucionários da resistência em The Age of Shadows) e a, realmente,
sofrer bastante, tendo sido esta a primeira obra de teatro a conseguir tal
efeito psicológico em mim.
The Age of Shadows é uma longa metragem produzida e
realizada na Coreia do Sul, em 2016. Tive a sorte de me deparar com tal obra
enquanto procurava por filmes e livros sobre resistência contra uma entidade
superior e opressiva, tópico ao qual dedico alegremente grande parte do meu
tempo. Tal foi o meu agradável espanto quando me apercebi de que iria poder
usar talvez o meu filme favorito para um trabalho de português, para relacionar
com a minha peça de teatro favorita. Só temo ficar aquém das expectativas que
ambas as obras colocam sobre os meus ombros.
Podemos
começar por apontar rápidas semelhanças entre os dois temas. Em Felizmente há luar!, há uma entidade que
tem clara superioridade em termos de poder sobre outra, explorando-a e tirando
vantagem das suas vidas. Esta classe pode ser identificada, no seu centro mais
fundamental, em torno de D. Miguel e dos governadores do reino, que têm pela
sua frente a agitação político-social em Portugal trazida pelos ideais
franceses da revolução francesa. Esta revolução que se deu em França demora
cerca de vinte anos a chegar a Portugal, altura em que começam a proliferar
ideias e sentimentos de revolta contra a monarquia absolutista, sistema de governo
que os liberais procuravam derrubar. Contudo, o povo, que praticamente não age
contra quem está no poder, submetendo-se às injustiças e violentas e vigorosas
repressões impostas pelo governo, mostra-se conformado e, salvo raras exceções,
resignado. Manuel, um dos populares e que na peça simbolizam um membro de uma
classe social “baixa” e, consequentemente, sem os benefícios de quem nasceu
dentro da nobreza, num discurso à pobre (riqueza emocional é o que está em
causa) dirigido a Matilde, mulher do general Gomes Freire de Andrade, afirma
que também não conseguem fazer nada em relação à situação e em especial à de
Gomes Freire de Andrade pois “o general está preso em S. Julião da Barra e
nós... estamos presos à nossa miséria, ao nosso medo, à nossa ignorância... Não
a podemos ajudar senhora” (p.109). Manuel consegue aqui representar com
precisão a mentalidade de grande parte da sociedade portuguesa presente na obra
de Sttau Monteiro, que acaba por tolerar a passos largos as ações do regime,
sem protestos reais para além de alguns murmúrios.
Já
em The Age of Shadows a situação é
diferente. Fico exaltado quando um grupo de pessoas se dedica a uma causa justa
e luta pela mesma, pondo a ideologia e o conceito acima da sua própria vida. Em
The Age of Shadows, o cenário é a
Coreia, em 1920, período de ocupação (muito agressiva e abusiva) pelo Império
Japonês. Esta nação, cujo governo febril e corrupto fugiu quando as tropas
tipicamente kakhi e extremamente disciplinadas do Imperador Hirohito, da terra
do sol nascente, desembarcaram na pacífica península da Coreia, vive sob o
medo, mas com dentes cerrados. O filme começa com a perseguição e morte de um
resistente que conspirava contra o governo provisório imposto na Coreia pelo
Japão, chefiado por um governador japonês que obedecia às ordens da ilha das
cerejeiras. O que não falta no filme são atos de dedicação a uma causa, mas o
melhor entre as duas obras, uma sobre Portugal e outra sobre a Coreia, será
mesmo a personagem tipo que Vicente caracteriza.
Na
obra de Sttau Monteiro, Vicente é um personagem que, tendo nascido na parte
“baixa” da sociedade, despreza as suas origens e visa a todo o custo subir e
ascender na pirâmide social. Para isso, recorre aos métodos habituais de um
informador, recolhendo informação que é depois reportada às autoridades
portuguesas e, assim, consegue um posto na chefia da polícia, a recompensa que
obtém.
O
personagem principal da obra que é a escolha oficial da Coreia do Sul para
melhor filme estrangeiro de 2016 (Óscares) chama-se Lee Gyengbu e nasceu na
cidade de Seul. Filho de uma família pobre, ganhou a vida como colaboracionista
e vendendo informações aos japoneses, até se tornar num investigador
prestigiado. Contudo, a grande diferença está na transformação executada na
perfeição, desde o conflito entre o dever e o que é moralmente correto para si
e para os seus compatriotas, quando é abordado por membros da resistência
coreana cuja missão era a independência da Coreia do Japão. Com um desfecho de tirar
o fôlego, Lee Gyengbu vira-se contra a máquina que outrora operara, e, sabendo
as peças e partes do motor, começa a trabalhar com a resistência enquanto
outros investigadores japoneses apertam a corda da vida que envolve o pescoço
de todos os que querem a liberdade.
Bruno
Bruno (Suficiente -) || V for Vendetta (V de Vingança)
Entre muitos filmes que podem trazer o drama em
questão, escolhi um que traz umas das referências mais famosas do nosso tempo, V for Vendetta . Abrangendo a ameaça de
uma revolução, Felizmente há luar!
demonstra o lado daqueles que fazem tudo para que isso não aconteça (destaque
no primeiro ato), o que torna difícil a busca por filmes (bons) que mostrem
esse lado da história, já que o drama e os ''óscares'' estão naqueles que
mostram os que lutam e morrem pela
revolução.
O personagem V, o co-protagonista da história (interpretado
pelo famoso agente Smith de ''Matrix'', Hugo Weaving ), pode ser ligado
diretamente a Gomes Freire, o ''herói'' do livro, pois V se lhe assemelha em
questões filosóficas e, até mesmo, «metafóricas». Como Gomes Freire não aparece
no livro (surge somente por citação ), V também representa os populares com sua
presença em cenas, já que ele é o homem que move a revolução em seu país. O que
me leva a referir o papel que identifica esses personagens. É que V aparece
apenas uma vez para o povo já com seu plano de revolução orquestrado para
derrubar o governo rígido e cruel com as diferenças; e, tal como Gomes Freire,
um homem já conhecido pelo povo por aparentar ser igualitário e justo, é odiado
pelo seu antagonista.
Como escrito no título do filme V de Vingança, traduzido para o
português, o que mais à frente pode ser entendido com uma grande referência
sobre o filme é um dos protagonistas (o que não podemos dizer sobre o título Felizmente há luar!): o título refere-se
à motivação do co-protagonista ''V'', que busca a vingança dos males causados a
ele e a todos que fizeram parte das crueldades do governo apenas por serem
diferentes, serem liberais.
V é um fruto do governo. Revoluções só acontecem
por causa de governos totalmente desigualitários. V, como já dito, representa
os populares por ser a causa da preocupação entre os antagonistas, já que os populares
são aqueles que mal têm onde cair mortos e lutam por melhorias de vida e
igualdade. V é a presença metafórica de Gomes Freire, junto com sua filosofia
imbuída na presença física de um popular.
Mas a principal personagem feminina do filme
Evey Hammond (interpretada pela incrível Natalie Portman) liga-se bastante a
Matilde de Melo, que é a força do segundo ato. Evey se assemelha a Matilde de
Melo, já que ela tem três fases que mudam o personagem ao decorrer do filme:
fragilidade, lealdade e força. Essas características podem ser atribuídas ao
caráter de Matilde de Melo, uma mulher frágil pelo seu lado feminino, que
suplica pelo amor de sua vida e, a qualquer momento, podendo largar os seus
princípios por tal amor (embora não por amor, Evey, no começo, entregaria
facilmente V para que não fosse vista como uma sua cúmplice).
Mas a lealdade que Matilde de Melo tem para com
Gomes Freire é absoluta Ora o que, na sua segunda mudança, Evey demonstra a
respeito de V, o seu ódio pelo governo e pelo que eles fizeram com seus pais,
faz com que uma lealdade se crie entre eles, pois ele prova o que o governo faz
para conseguir manter a ''paz'' após ser capturada pelo suposto governo. E a
força que Matilde de Melo demonstra faz com que seja reconhecível pelas suas
causas, sua inteligência, demonstrada no debate com Principal de Sousa, mostra
suas garras e diz-nos que não tem medo de denunciar a corrupção e a falta de
índole. Após Evey descobrir sua força através de V, sendo ele o causador de
toda a dor , abandona seu lado fraco e ingénuo de ver o mundo em que está.
Felizmente
há luar!
traz a intriga sobre a uma suposta revolução, o que não se parece com V for Vendetta em aspetos de enredo. Mas
os personagens são o forte de ambos os
lados; o amor entre V e Evey só se desenvolve quase no fim do filme, mas entre
Gomes Freire e Matilde de Melo está presente desde o começo.
João
Tavares
João Tavares (Bom -) || Dead Poets Society (O Clube dos Poetas
Mortos)
Dead Poets Society, de
Peter Weir, tem como foco valores como a opressão, a limitação, a obediência, a
disciplina, a excelência e muitos outros. Sendo todo ele virado para o sistema educacional,
a partir deste é possível observar como os alunos são privados de certos
interesses e vontades, impostos a valores (como os que referi anteriormente)
que os limitam, embora alguns deles, estando tão habituados a estas
"leis" da educação, as tomem como veredicto. E, para alterar este
tipo de raciocínio, está a personagem mais carismática de todo o enredo, o
professor John Keating.
Inicialmente, no filme, deparamo-nos com uma certa indignação por parte
de um aluno perante o seu pai, que o havia privado de ter atividades
extracurriculares para que o seu filho pudesse ter a escola como principal
objetivo. Esta decisão foi contra a vontade do estudante; mas este nada tinha a
fazer se não obedecer às ordens que lhe haviam sido impostas. Tal começo
assemelha-se a Felizmente há Luar!, visto que a peça seinicia com um pequeno protesto por parte de
Manuel (um mero membro do povo) perante a sua situação social, contrastando a
sua miséria com o luxo dos poderosos («enquanto eles andam para trás e para a
frente (…) nós continuamos no mesmo sitio!»).
A diferença é um atributo que, em ambos os casos, é oprimido e
menosprezado, seja ela relacionada com o pensar ou com o agir. John Keating
possui diferentes ideologias, métodos (sejam eles virados para o ensino ou para
a vida em geral) diferentes dos dos restantes, sendo eles alunos ou
professores. Numa fase inicial, os alunos de Keating acharam os seus métodos
estranhos e incomuns, e os encararam com alguma dúvida. Posteriormente, tornaram-se,
de certa maneira, apoiantes do professor e começaram a interiorizar as suas
filosofias. Na obra de Luís de Sttau Monteiro, temos Gomes Freire que, tal como
Keating, é, em geral, diferente na forma de pensar, e tem também um vasto grupo
de admiradores, o povo. É importante ter em consideração que, em ambos os
casos, os "admiradores" fazem parte do grupo oprimido.
Gomes Freire d'Andrade começou a ser o alvo dos elementos do poder —
"todos falam num só homem", "trata-se de um inimigo natural
desta Regência" — e, posteriormente, foi perseguido e preso com o objetivo
de parar com a indignação do povo perante tanta opressão. Depois de ter
presenciado os alunos de Keating a arrancarem folhas do livro de poesia que ele
achava ser inútil, um colega do extraordinário pensador começou a questionar aqueles
métodos e Keating começou a ser olhado de maneira diferente pelos outros docentes.
Era inevitável que o admirável professor de poesia iria ser despedido
(como acontece no final do filme) e a sua saída foi comovente para a grande
maioria dos seus alunos que o tinham tomado como um exemplo de pessoa. Por
outro lado, o General foi morto, o que não tinha sido surpresa depois de ter
sido preso, e grande parte do povo estava lá para ver o fim daquele que havia
sido a esperança de todos.
João Cabo
João Cabo (Bom -/Bom (-))
|| Wall-E
Já não me lembro bem de quando vi o filme Wall-E, mas tenho quase a certeza de que
o vi logo após a estreia, por isso terá sido a meio de agosto de 2008 no cinema
das Amoreiras, muito provavelmente
com a minha avó. Sei que gostei do filme, senão não teria o DVD guardado
algures no meu quarto, junto com outros DVDs de filmes animados que agora não
me servem para nada.
O filme começa com imagens da Terra
completamente abandonada, cheia de lixo e sem uma única planta ou ser vivo, até
que aparece o pequeno Wall-E, um robô
que foi construído para limpar a Terra, enquanto os humanos iam para o espaço. Wall-E não era o único robô destinado a
limpar a Terra durante os cinco anos que os humanos estavam fora, mas, ao fim
de setecentos anos, foi o único que restou.
Aqui neste resumo da parte inicial, consigo já
fazer uma analogia com Felizmente há
luar!. Na obra, o país encontra-se regido por absolutistas (pessoas que
defendem que o rei deve ter o poder absoluto do reino, sendo o povo,
geralmente, muito prejudicado neste tipo de regime), que eu comparo com os
seres humanos, porque os absolutistas desprezam o povo e os humanos desprezam a
Terra; e ao povo, que é pobre e passa fome, comparo-o com a Terra, que primeiro
foi destruída e agora está abandonada e a “apodrecer”. Wall-E pode ser comparado com o general Gomes Freire de Andrade,
por serem as únicas esperanças: no caso de Wall-E,
de salvar a Terra; e, no caso do General Gomes Freire de Andrade, de salvar o
país dos absolutistas.
Continuando a resumir a ação do filme, os
humanos enviam uma sonda para a Terra, Eva,
para que esta recolha imagens. Wall-E
conhece Eva e imediatamente se
apaixona por ela. Quando Eva vai
partir outra vez para a nave onde vivem os humanos, Wall-E consegue ir também e aqui começa a aventura da história.
Dentro da nave, o pequeno robô é perseguido por outros robôs, tal como Gomes
Freire de Andrade foi perseguido pelo regime. Os robôs estavam às ordens de um
humano que comandava a nave, que pode ser comparado a Beresford, D. Miguel e ao
Principal Sousa, que são as grandes figuras do poder em Felizmente há luar!, e que tentam acabar com as tentativas de
revolução.
Depois de várias peripécias, Wall-E consegue trazer os humanos de
volta para a Terra e cultivar uma planta. Em Felizmente há luar!, o General Gomes Freire acaba por ser preso na
prisão de S. Julião da Barra e, mais tarde, executado. Apesar dos desfechos
serem completamente opostos, sendo o de Felizmente
há luar! trágico e o de Wall-E
bastante feliz, consigo fazer uma analogia entre ambos os fins. Gomes Freire de
Andrade morre, mas a sua morte dá um motivo ao povo para lutar, uma nova
esperança, tal como o cultivo da planta em Wall-E
dá uma nova esperança à humanidade de poder reconstruir a Terra.
Também é possível comparar Eva a Matilde, por serem as companheiras dos protagonistas de ambas
as histórias.
João
João (Bom) || Hunger Games (Os Jogos da Fome)
Quando me foi proposto este trabalho, tive
alguma dificuldade em escolher o filme a relacionar com a obra de Sttau
Monteiro, Felizmente há Luar!.
Interessava-me abordar, por um lado, as questões do poder, da tirania, da
opressão do povo e, por outro, o amor que une Matilde ao seu marido. Creio que Hunger Games (Os Jogos da Fome), um filme de 2012, do realizador Gary Ross – o
primeiro de uma saga de quatro –, que me foi recomendado por um amigo, permite
abordar todas estas temáticas.
Hunger
Games
conta a história de um povo que está submetido ao poder do Capitólio, que força
cada um dos seus doze distritos a enviar, todos os anos, um rapaz e uma
rapariga como tributo para competir nos Jogos da Fome. Estes jogos são um
evento transmitido para todos os distritos onde os tributos devem competir
entre si, num campo de batalha sangrento e traiçoeiro, até restar apenas um
sobrevivente. Esta é uma estratégia adotada pelo Capitólio como forma de
intimidação e como punição por uma revolta do passado. Em Felizmente há Luar! uma história semelhante se passa. O povo
português, um povo que vive numa situação de miséria e desgraça, revolta-se
contra o governo e “toda aquela terra de gente pobre mas feliz” transforma-se
“num antro de revoltados”. Isto tem como consequência a morte dos líderes dessa
revolução, na fogueira, uma punição que, da mesma forma que a do Capitólio, é
vista pelo povo e o aterroriza.
Abordando agora outro aspeto, em Hunger Games, a personagem principal,
Katniss Everdeen, interpretada por Jennifer Lawrence, voluntaria-se como
tributo após a sua irmã Prim ser a escolhida para representar o seu distrito.
Desde então, Katniss Everdeen revoluciona Panem, e uma onda de revolta, do povo
começa a nascer. Este ato mostra-nos que há grande afeto por parte das duas
irmãs, afeto idêntico ao de Matilde para com o seu marido, Gomes Freire. Tal
como em Hunger Games, Katniss põe em
jogo a sua vida para salvar a da sua pequena irmã, em Felizmente há Luar!, Matilde, que apenas intervém no ato II, também está disposta a entregar a sua vida para
salvar a de Gomes Freire – “Não vos peço nada para mim. Mais: troco a minha
vida pela dele!”; no entanto, em contraste com Hunger Games, essa súplica não é aceite pelos homens do poder e
Gomes Freire acaba morto na forca e queimado na fogueira.
O desfecho de ambos os enredos acaba por
divergir. Na sequela deste filme, Katniss lidera um movimento de revolução por
parte dos doze distritos contra o Capitólio e acaba por perder a sua irmã Prim,
por quem se tinha sacrificado no início, na guerra. No entanto, neste
movimento, o Capitólio perde o seu poder e o povo acaba por sair vitorioso. Já
em Felizmente há Luar!, quem acaba
por morrer é mesmo Gomes Freire, o suposto líder da revolta do povo, e nada
muda, as classes superiores continuam a impor a sua vontade ao povo e este
continua a viver na opressão e na miséria. Podemos, contudo, encontrar alguns
vislumbres de esperança nas palavras de Matilde, a observar de longe a fogueira
onde morreu o seu marido: “Felizmente há luar!”.
Afonso
Afonso
(Suficiente +) || Mandela: Long Walk to Freedom
O filme Mandela: Long Walk to Freedom
conta a história da vida de Nelson Mandela baseada na sua autobiografia.
Mandela não só foi uma das figuras mais emblemáticas na história da África do
Sul e do fim do Apartheid, mas também um dos maiores representantes da luta
pelos direitos humanos e raciais.
Este reconhecimento é resultante das medidas políticas adotadas ao
longo da sua vida, que dedicou à luta pela igualdade de direitos para a
população de raça negra na África do Sul. Esta devoção a causas sociais é
semelhante à do General Gomes Freire, visto que ambos ambicionavam uma mudança
política que favorecesse o povo e fosse justa na distribuição económica e
social. A maior semelhança entre Madiba e a personagem de Felizmente Há Luar! é que ambos foram perseguidos e presos por
alegados crimes contra o estado: o filme retrata os acontecimentos que levaram
há detenção de Mandela de forma pormenorizada e com uma capacidade transportadora
muito diferente da abordagem diluída a que alguns filmes deste género nos têm
habituado, já os acontecimentos que levam à captura do General são retratados
no final do ato 1 como fruto de uma conspiração baseada na denúncia feita por
dois populares a D. Miguel, Beresford e Principal Sousa.
Na fase anterior ao seu enclausuramento, Nelson Mandela casou-se duas
vezes. O primeiro casamento durou catorze anos e falhou porque a sua mulher
receava que ele fosse preso; o segundo foi mais duradouro, mas, ao mesmo tempo,
encurtado pela detenção de Madiba após quatro anos de matrimónio. A sua mulher,
Winnie, com duas filhas, é deixada numa posição vulnerável e vê-se obrigada a
ocupar o lugar do seu marido na oposição ao regime racista. O agravar da
perseguição e a ausência de mudança política através dos métodos pacíficos
tomados até à altura levam-na a mudar a sua liderança. É então criada uma
resistência violenta que leva a cabo uma guerra civil que vitimizou milhares de
pessoas. Em Felizmente Há Luar! a
mulher do capturado também inicia uma jornada para defender a honra do seu
marido, convencida de que as suas ações eram as de um homem bom – “é franco,
aberto, leal.” (p. 117) – e confronta populares que apoiavam o general sobre a
sua passividade, militares pela falta de companheirismo e membros do clero pela
sua hipocrisia religiosa.
O final de Felizmente Há Luar!
tem um efeito desmoralizador sobre o leitor, porque sentimos a injustiça a que
Gomes Freire é submetido e a incapacidade de Matilde de o salvar. Este é o
mesmo sentimento que experienciamos durante os longos vinte e sete anos em que
Mandela se encontra preso mas, ao contrário do que sucede na peça, é-lhe
concedida a liberdade depois de uma grande campanha internacional. Depois de
sair da prisão, recomeçou imediatamente o seu trabalho numa sociedade que ainda
era segregacionista e, ao aperceber-se da violência que se tinha apoderado do
país, decidiu voltar a implementar medidas pacifistas que o ajudaram a
tornar-se o primeiro presidente negro sul-africano, quebrando estereótipos em
todo o mundo.
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