Comentário a filme e Felizmente há luar! no 12.º 8.ª
As classificações são,
em geral, as da primeira versão. Quanto à segunda versão, verifiquei apenas se
foram contempladas as emendas que aconselhara (note-se que, se essa
reformulação estiver desleixada, a nota pode baixar).
Kiki
Kiki (Bom (-)) || Iron Man (Homem de Ferro)
Foi mais ou menos há três anos que vi este
primeiro filme da saga Homem de Ferro
(da Marvel Studios) pela primeira vez, por alguma insistência do meu sobrinho.
E é verdade que consigo encontrar algumas semelhanças e algumas diferenças
entre a peça de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente
há luar!, e o filme cujo herói é Tony Stark.
Tanto no livro Felizmente há luar! como no filme Homem de Ferro (em Portugal, estreado em 2008) ocorreu um rapto, um
aprisionamento, da personagem principal ou do herói (Felizmente há luar!: o General Gomes Freire d’Andrade, a meio da
história; Homem de Ferro: o génio e
bilionário Tony Stark, logo no começo da ação) e um consequente pedido de de
auxílio e de apoio, por parte de uma outra personagem secundária (é o caso de
Matilde de Melo, a mulher do General Gomes Freire d’Andrade, que luta pela sua
vida, em Felizmente há luar!; e é o
caso de Pepper Potts, a secretária, a assistente pessoal e a futura companheira
de Tony Stark, em Homem de Ferro).
Tanto num caso como noutro são estas duas personagens femininas que mantêm a
chama da esperança acesa e que nunca desistem dos seus amados, que são o centro
da ação praticamente toda.
No entanto, é possível observarmos a diferença
quanto a esse momento da ação: enquanto que, em Felizmente há luar!, o desfecho se revela fortemente trágico, com a
morte inevitável do General Gomes Freire d’Andrade depois de executado; em Homem de Ferro acontece exatamente o
contrário, e o protagonista, mesmo dentro do local para onde foi raptado,
consegue criar um protótipo robótico, fugindo daquele local, sendo encontrado
horas depois por uma nave dos Estados Unidos da América e, assim, salvando-se.
Outra semelhança entre este livro e o filme é o
facto de ambas as personagens centrais (Felizmente
há luar!: General Gomes Freire d’Andrade; Homem de Ferro: Tony Stark) possuírem alguma visibilidade, algum
estatuto, na sociedade em questão. No caso de Felizmente há luar!, o General Gomes Freire d’Andrade tem o
estatuto de Grão-Mestre de ordem maçónica e é primo de D. Miguel Forjaz (um dos
três conscienciosos governadores do Reino). Já no caso do filme, Tony Stark é
diretor executivo das Indústrias Stark, uma fabricante de armas militares dos
Estados Unidos da América.
Também é possível observarmos outra diferença
entre estes dois “heróis” quanto ao seu tipo de personalidade. Em Felizmente há luar!, Gomes Freire é
visto como uma pessoa amigável e altruísta, sempre pronta a ajudar o povo,
estando sempre a ser enaltecido a partir das falas do Antigo Soldado e de
Matilde, nos atos I e II, respetivamente. No caso do filme de Homem de Ferro, Tony Stark começa por se
revelar uma pessoa altamente egoísta, individualista e egocêntrica, mas, ao
longo da ação e com o avançar dos outros dois filmes seguintes, vai tentando
alterar e reprimindo essas suas características negativas, em virtude do seu
crescente amor pela Pepper Potts.
Stefanie
Stefanie (Muito Bom) || La Vita è Bella (A Vida é Bela)
A Vida é
Bela é
um filme que dificilmente se esquece ou a que se assiste uma única vez. É um
clássico – a sua estreia data de 1997 – que emociona, provoca o riso e chega,
por vezes, a ser injusto. Por ser em italiano (língua pela qual confesso ter
fascínio), despertou, de imediato, o meu interesse. Contudo, o que
especialmente me marcou foi a cena em que Guido – interpretado por esse
excecional ator e diretor, que é Roberto Benigni – finge traduzir, com
extraordinário engenho, as palavras de um oficial nazi, de modo a levar a
acreditar o filho de que a realidade que os envolve – a de um campo de
concentração – é, somente, um simples jogo. Recordo-me de, aí, ter
experienciado, simultaneamente, diversão, culpa e dúvida. Essa incerteza que sentimos,
enquanto espetadores, relativamente à manifestação das emoções, constitui,
precisamente, um dos fatores que distingue esta comédia dramática.
Tendo como pano de fundo a região da Toscânia,
na Itália, aquando da Segunda Guerra Mundial, deparamo-nos com os infindáveis
esforços de Guido para conquistar Dora, uma professora que, apesar de se
encontrar noiva de um funcionário local, escolhe ficar com o protagonista. Este
é, desde já, um ponto de aproximação a Felizmente
Há Luar!, uma vez que Matilde já tinha sido casada antes de se juntar a
Gomes Freire de Andrade: «Fui crescendo. Tornei-me mulher, casei e quase morri
aperreada entre paredes sem janelas donde se visse o mundo (…) Um dia entrou um
homem na minha vida. Entrou de tal forma, senhor, que tomou posse dela» (pp.
91-92).
O amor profundo que une Guido e Dora é,
igualmente, semelhante ao do casal da obra de Luís de Sttau Monteiro.
Percebemo-lo através das falas das personagens e uma vez que ambos pensam
intensamente nos amados, nomeadamente durante a sua ausência («Que estará ele
fazendo a esta hora, fechado numa cela em S. Julião da Barra? Adivinho-lhe os
gestos e os pensamentos. Está preocupado por minha causa», p. 89).
Também poderíamos enunciar o clima de
autoritarismo como fator comum, já que a ação do filme ocorre na altura do
regime fascista e a peça se desenrola no tempo do Absolutismo. A deportação de
Guido para um campo de concentração – por ser judeu –, origina a manifestação
da determinação da sua mulher. Esta insiste, apesar das ordens opostas dos
oficiais, em partir no mesmo comboio. Matilde de Melo revela, igualmente,
perseverança, sobretudo nas conversas que mantém com os governadores do Reino –
visando demovê-los da sua decisão de prenderem e executarem o General – e com
António de Sousa Falcão. Em A Vida é Bela e em Felizmente Há Luar!, verifica-se a distância entre os amantes e a
consequente tentativa de reencontro. Constatamo-lo pelas inúmeras tentativas de
Guido para comunicar com Dora – mesmo sem nunca a conseguir vislumbrar durante
a permanência no campo – assim como pela crença que Matilde detém relativamente
à dissuasão dos elementos do poder: «Às mulheres, senhor, pouco interessa a
justiça das causas que levam os seus homens a afastar-se delas (p. 93).
Assiste-se, ainda, à miséria, que, na peça, é a
do povo (vivendo sob o signo da pobreza e da carência) e, no filme italiano, é
a dos judeus (suportando condições desumanas de vida e de trabalho e morrendo
nas câmaras de gás). O caráter do protagonista da obra cinematográfica é, no
entanto, distinto do de Gomes Freire d’ Andrade, já que o primeiro se revela
positivo e engenhoso e o segundo, pelo que se depreende das falas das outras
personagens (pois nunca aparece, embora esteja sempre presente), é mais crítico
e revolucionário.
O desenlace é idêntico e trágico, uma vez que
ocorre a morte dos protagonistas. Difere, porém, nos motivos. Enquanto o
General é executado, devido aos seus ideais (opostos aos do regime), Guido –
embora seja judeu, o que vai desde logo contra os princípios do fascismo – dá a
sua vida para salvar a do filho, Giosuè. Restam, então, duas mulheres, que têm,
agora, de aceitar este desfecho – Matilde e Dora – e que partilham o mesmo
infortúnio: amaram intensamente os seus maridos e não puderam despedir-se deles.
Carolina
Carolina (Bom (-)) || Dead Poets Society (O
Clube dos Poetas Mortos)
Até hoje não me senti
condicionada nem pressionada a seguir escolhas pré estabelecidas pelos meus
pais em termos académicos ou, futuramente, profissionais. Ao rever o filme O
Clube dos Poetas Mortos (Dead
Poets Society, 1989), pude observar como num colégio interno
elitista, apenas de rapazes, uma turma de finalistas lida não só com a chegada
de um novo professor cuja metodologia é, para além de absolutamente inesperada,
totalmente controversa, como também com a imposição familiar referente às suas
decisões pessoais futuras.
Esta falta de liberdade individual, que, na
juventude, naturalmente conduz à rebeldia de quem questiona os valores
tradicionais e tenta romper com as convenções impostas, é transversal às
personagens de John Keating, professor carismático de literatura e do General
Gomes Freire de Andrade, oficial “estrangeirado”, idealista puro.
A missão de Keating é
estimular o pensamento dos seus alunos, abrindo as suas mentes para além dos
conteúdos académicos, da própria vida escolar, tornando-os cidadãos conscientes
da realidade para além das paredes do próprio colégio. A sua abordagem, apesar
de conquistar rapidamente quase todos os alunos, é de longe consensual, quer
entre os seus pares, quer do ponto de vista dos pais que, céticos e
posteriormente convictos da rigidez do convencionalismo, pressionam a
instituição a tomar medidas urgentes quanto aos métodos pouco ortodoxos e revolucionários
do docente.
O repto lançado por Keating aos
seus alunos, ao lerem a poesia de Whitman, é um desafio não à revolta contra a
instituição escolar, mas à revolta contra um sistema profundamente enraizado na
alta sociedade americana daquela época, em que a inconformação era impossível,
e a liberdade de sonhar e de aproveitar o momento presente (“Carpe Diem”) era
impensável.
Em Gomes Freire vemos também o
líder nato que incita outros a seguirem-no, cuja missão exalta os valores mais
nobres da liberdade e da justiça, reveladores também do seu carácter íntegro e
firme, emblema da verticalidade que não se verga ao poder político autocrático
da classe dominante. Nunca aparecendo em cena, é, contudo, o motor principal da
narrativa (“Notai que não lhe falta nada: é lúcido, é inteligente, é idolatrado
com o povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores,
um estrangeirado…”, p. 71).
O general denuncia a ausência
de moral, a ostentação e o luxo da nobreza em detrimento da profunda miséria do
povo, de onde acabará por surgir a sua traição pelos delatores Corvo e Vicente
(“Dois denunciantes: um Corvo e um Vicente. São as armas as armas da cidade…”,
p. 44). Em
analogia, no filme, a traição de que o professor é
alvo, levando à sua expulsão, vem de um dos membros do clube por ele inspirado.
Ambos os heróis visionários são
absolutamente incompreendidos, traídos sem escrúpulos pelos seus, vendo
logrados os seus objetivos, ao padronizarem os ideias mais elevados a que o ser
humano pode aspirar. O seu legado e o impacto resultantes da sua incansável
luta pela libertação do sistema vigente, deixam marcas indeléveis e profundas
após a sua breve passagem pelas vidas que tocaram.
Também Sttau Monteiro foi um
revolucionário e visionário tanto na suas obras como na sua própria vida
pessoal, tendo não só sido perseguido e preso, como muitas das suas obras foram
censuradas. A censura de que foi alvo deve-se sobretudo às suas sátiras sobre a
ditadura e à guerra colonial. Regista-se assim um paralelismo entre Sttau Monteiro,
Gomes Freire e John Keating, uma vez que ambos defenderam afincadamente os seus
valores contra o sistema imposto e, por essa mesma razão,
sofreram consequências.
Posto isto, podemos
concluir que, por mais vontade que o Homem tenha em libertar-se e revoltar-se,
tem de ter um certo cuidado nas suas ações, uma vez que “Na vida há tempo para
se ser cauteloso, e um homem sensato sabe qual é a altura certa para cada uma
desta” (O Clube dos Poetas Mortos).
Vasco G.
Vasco
G. (Bom -) || Les Misérables (Os Miseráveis) [1998]
O filme que escolhi é uma versão relativamente
recente (1998) de Os Miseráveis, – não sendo,
portanto, a versão de 2012 que, francamente, detestei, como acontece com quase
todos os musicais –, baseada no
romance com o mesmo nome de Victor Hugo, romancista e grande escritor francês.
Baseando-se no tempo pós-Revolução Francesa (mais concretamente em
1832), o personagem principal, Jean Valjean, é relacionável com o próprio
general Gomes Freire de Andrade – embora não inicialmente (roubava por
necessidade, no entanto) –, visto possuir as mesmas virtudes, ou parecidas, do
general: a humildade, a pacatez, o sentido de honra, a lealdade e o amor do
povo (em Os Miseráveis é possível fazer-se alusão a este fator através
da ajuda que Valjean presta a Fantine, que trabalhava na sua fábrica e havia
sido despedida por ser mãe solteira, e obrigada a vender o seu cabelo e
tornar-se prostituta para sustentar a filha).
Se associamos Jean Valjean a Gomes Freire, então Matilde será
associada a Cosette, embora a relação entre as personagens se distinga da
relação amorosa de Matilde e Gomes Freire, visto que Valjean é pai de Cosette e
não seu amante. Cosette, tal como Matilde em Felizmente há Luar!, vê-se
injustiçada devido à atitude protetora de seu pai, que tanto lhe omite a
verdade – ou seja, a perseguição constante de Javert que se torna num
antagonismo quase poético entre ele e Valjean –, como se sente derrotada visto
ser-lhe proibida uma relação amorosa. Estes acontecimentos na vida de Cosette
são relacionáveis com Matilde visto esta ter recusado conformar-se com a prisão
do seu marido e sentir-se injustiçada mas divergem também, pois Cosette, embora
protestando, obedecia a seu pai, enquanto Matilde lutou contra a prisão e, mais
tarde, contra a morte do general e grão-mestre da Maçonaria.
Finalmente, a personagem à qual é possível associar Javert seria uma
amálgama dos três delatores – Vicente, Sarmento e Corvo –, visto que se
relacionam com os regimes neoabsolutistas, divergindo no porquê da sua
associação – a pretensão materialista dos três delatores, ou o sentido de
justiça exacerbado de Javert (exacerbado, porque, para deixar Jean Valjean
escapar à sua justiça, acaba por se suicidar – não esqueçamos que perseguiu
Valjean durante dezanove anos por este ter roubado um pão para alimentar a sua
família!).
No plano geral de ambos os enredos, apresenta-se como assunto
essencial da história o combate pela justiça e pela luta contra o absolutismo
(no contexto histórico de Os Miseráveis, os motins de Saint-Dennis em
1832 que se situam num período de revolução contra o neo-absolutismo de Carlos
X; enquanto, no caso de Felizmente há Luar!, aborda-se as crescentes
tensões entre a Regência e o povo que viriam a culminar na Revolução Liberal de
1820), divergindo apenas na história pessoal de cada personagem.
Tratando a temática mais humanitária, em ambas as narrativas se aborda
o tema dos próprios direitos do indivíduo comum e a razão deste ser subjugado
devido aos regimes neoabsolutistas, e talvez, uma ode à liberdade e a
necessidade de lutar por justiça e equidade; de igual modo, o fervor emocional
e até mesmo chocante, de ambas as narrativas incitam os espetadores à reflexão
ideológica e ao referido estímulo para que se modifiquem aspetos da sociedade,
sendo esta a premissa do teatro épico.
Madalena S.
Madalena S. (Bom/Bom (-))
|| A Mighty Heart (O Preço da
Coragem)
A indústria cinematográfica desde sempre me
causou particular interesse quando baseada em factos verídicos, tendo sido essa
a razão que me levou a escolher o filme O
Preço da Coragem (A Mighty Heart). Estreou em Portugal no
ano de 2007 e passou a ser assunto durante as refeições, à mesa, por parte da
minha mãe, que afirmava “ser muito mais do que um simples filme”, uma vez que
retrata um dos grandes problemas sociais alargado à escala mundial: o
terrorismo. Tema atualmente alvo de diversas opiniões de profissionais de todas
as áreas de estudo, o terrorismo tem mais que uma faceta, ainda que,
normalmente, tenha como fundamento a religião por parte daqueles que o
praticam, que visam instalar o terror e insegurança por todo o mundo, por forma
a permitir por esta via que os seus objetivos políticos sejam atingidos.
Tanto no filme O Preço da Coragem como em Felizmente
há luar!, as personagens Daniel Pearl e o general Gomes Freire de Andrade
pagaram com as suas vidas, tendo sido mortos, ao tentarem concretizar aquilo em
que acreditavam, por um lado denunciar o fanatismo no caso do jornalista
Daniel, e, por outro, conjurar uma revolta contra o regime («Enquanto estamos a
conversar ̶̶ neste
mesmo momento ̶ conjura-se abertamente em
Lisboa.», p. 42), no
caso do general Gomes Freire de Andrade, que recusava a tirania por parte de
quem os governava ̶ uma vez que a corte
portuguesa se encontrava no Brasil, quem estaria a governar Portugal seria o
Conselho da Regência ̶ e defendia os ideais
liberais. Apesar de a obra e o filme não irem totalmente ao encontro do mesmo
tema, além de verídicas, são o resultado da luta de muitas gerações contra o
terrorismo e a concentração de poderes num só monarca num ambiente de miséria.
Ambas as situações deram origem a uma maior atenção e abertura para este
movimento extremamente importante que é o terrorismo extremista, e surgiu
também em 1820 a Revolução Liberal Portuguesa que ditou o fim do absolutismo em
Portugal que, por analogia, apesar de não ter como objetivo político qualquer
forma de terrorismo, lutava contra a quebra da soberania nacional por parte
usurpadores.
A personagem principal do filme, além de Daniel
que acabou por ser assassinado por terroristas no Paquistão quando pensava que
ia apenas a “mais uma entrevista”, foi Mariane Pearl, interpretada pela atriz
Angelina Jolie, e que apresenta semelhanças com Matilde, que, em Felizmente há luar!, é esposa de Gomes
Freire e uma mulher extremamente apaixonada e determinada em desesperadamente,
pelo seu discurso, salvar o seu homem que teria sido condenado à morte. Além da
trágica morte de Daniel, envolvida em violência extrema, filmada e exibida para
o mundo, acresce o facto de a mulher, Mariane, estar grávida e ser sujeita a
este espetáculo hediondo, o que só veio a tornar esta situação mais chocante.
Na obra e no filme estão assim presentes duas
mulheres lutadoras que quiseram acima de tudo recordar os seus companheiros
como os heróis que foram ao abraçarem causas em que realmente acreditavam,
ainda que tenham perdido as suas vidas terrenas.
Jonnes
Jonnes (Bom) || To
Kill a King (Morte ao Rei)
Ao ler Felizmente há luar!, de Luís de Sttau
Monteiro, recordei a história de um filme que tinha visto há muito tempo. Em
meio à dificuldade para lembrar o nome do filme, pus-me a pensar sobre inúmeros
períodos em que diversos povos lutaram pela liberdade em seus respetivos
países, e, pensando em revoluções, finalmente pude lembrar-me do filme: To Kill a
King (Morte ao Rei), que
retrata o período da Revolução Inglesa, no século XVII.
Apesar de o filme começar por mostrar o fim de uma guerra civil que deixa a Inglaterra em ruínas, podemos equiparar esse período ao que se passava em Portugal, narrado na peça de Sttau Monteiro, em que o povo sofrido e também na ruína era alvo de perseguições e punições se ousasse questionar ou conspirar contra o poder – Rei, governantes, líderes e princípios da Igreja. Embora na peça portuguesa houvesse o reconhecimento do povo de sua impotência para lutar pelos seus direitos, havia a alusão a um nobre General, liberal e defensor da igualdade, como um grande ídolo do povo, o General Gomes Freire de Andrade (“Excelência: Se pusermos de parte a pessoa d´el-rei e a vossa, a ninguém tem o povo mais amor do que ao primo de V. Excelência [General Gomes Freire de Andrade]. Soldado distinto, súbdito fiel…. Em ninguém põe o povo mais esperança do que no General…” – p. 34). Mais uma vez, a peça assemelha-se ao filme, onde Oliver Cromwell, líder político e militar popular, tido como o principal nobre revolucionário que integra o Parlamento Inglês, esforça-se para fazer valer direitos ao povo – direitos esses que, provavelmente, o povo português também tinha esperança de conquistar –, como o direito de voto e de representação no Parlamento a todos os homens livres, o livre comércio e a separação entre a Igreja e o Estado (ou seja, Cromwell pretendia implantar uma república no país.
Apesar de o filme começar por mostrar o fim de uma guerra civil que deixa a Inglaterra em ruínas, podemos equiparar esse período ao que se passava em Portugal, narrado na peça de Sttau Monteiro, em que o povo sofrido e também na ruína era alvo de perseguições e punições se ousasse questionar ou conspirar contra o poder – Rei, governantes, líderes e princípios da Igreja. Embora na peça portuguesa houvesse o reconhecimento do povo de sua impotência para lutar pelos seus direitos, havia a alusão a um nobre General, liberal e defensor da igualdade, como um grande ídolo do povo, o General Gomes Freire de Andrade (“Excelência: Se pusermos de parte a pessoa d´el-rei e a vossa, a ninguém tem o povo mais amor do que ao primo de V. Excelência [General Gomes Freire de Andrade]. Soldado distinto, súbdito fiel…. Em ninguém põe o povo mais esperança do que no General…” – p. 34). Mais uma vez, a peça assemelha-se ao filme, onde Oliver Cromwell, líder político e militar popular, tido como o principal nobre revolucionário que integra o Parlamento Inglês, esforça-se para fazer valer direitos ao povo – direitos esses que, provavelmente, o povo português também tinha esperança de conquistar –, como o direito de voto e de representação no Parlamento a todos os homens livres, o livre comércio e a separação entre a Igreja e o Estado (ou seja, Cromwell pretendia implantar uma república no país.
A meio do primeiro
terço do filme, há uma cena onde os protagonistas têm comportamentos que se
assemelham muito aos de Vicente e das figuras de poder, em Felizmente há luar!. Assim como o Sr. Holles, que é um dos líderes
do Parlamento Inglês, que supostamente deveria ser um representante do povo mas
acaba corrompendo-se pelo oferecimento do Rei de um cargo melhor – Conselheiro
Real Chefe –, na peça portuguesa aparece Vicente, popular ambicioso e materialista,
que se incumbe de prestar uma missão em favor do grupo do poder – subornado
pelo cargo de Chefe de Polícia –, indo contra o grupo de sua origem.
A perspectiva
religiosa da situação, no caso do filme, é apresentada pelo próprio rei em sua
defesa, defendendo que “Deus depositou confiança [nele] e [ele] foi escolhido
com legitimidade e decência” para exercer o cargo de poder absoluto no reino,
amparado pelo seu direito divino. No caso da peça, o Principal Sousa,
representante do clero no poder, defende uma pespectiva semelhante,
acrescentando ainda que “se o poder é de origem divina, os que contra ele se
batem, a si mesmos trazem a condenação, como S. Paulo inculcou aos Romanos...”
(pp. 37-38). Ora, essa visão defensiva do estado absoluto pela igreja salienta
o contributo desta para inúmeras barbáries que aconteceram em vários contextos
justificadas por dogmas religiosos, e, certamente, Sttau Monteiro viu neste
personagem (Sousa) um meio de criticar a omissão da igreja às atrocidades
cometidas pelo Estado Novo, uma vez que, evidentemente, o autor quis denunciar
o totalitarismo vigente em Portugal na época da publicação de sua obra.
Embora por caminhos
diferentes, a vitória popular não foi uma realidade nem no filme apresentado
nem na peça dramática. Apesar de se realizar a decapitação do Rei, Oliver
Cromwell, anteriormente principal revolucionário, posicionou-se no governo de
forma ditatorial, e, sem a desculpa do “direito divino dos reis” e com um
péssimo governo, acabou dando uma má imagem da revolução e fez com que a
monarquia voltasse à tona em Inglaterra. Em Felizmente
há luar!, essa má imagem da revolução impôs-se com a queima do “chefe da
revolta”, que, enquanto símbolo da conspiração incinerado , “sempre que [os
revoltosos] pensarem em discutir as nossas [do grupo do poder] ordens,
lembrar-se-ão do cheiro...” (p. 131), havendo temor e não novas contestações ao
poder.
Ana Filipa
Ana Filipa (Bom (-)) || 12 years a slave (12 anos escravo)
Assisti a 12
anos escravo (12 years a slave)
um ano após a sua estreia, em 2014. Lembro-me de ler uma crítica positiva no
jornal a seu respeito que despertou de imediato o meu interesse. Assim sendo,
ao saber que o filme seria exibido na televisão, aproveitei a oportunidade para
o ver.
O caráter de Solomon Northup, protagonista de 12 anos escravo, é semelhante ao de
Gomes Freire d’Andrade em Felizmente há
luar!. Apresentam características idênticas, – coragem, justiça,
determinação e, sobretudo, luta pela liberdade – que admiramos por serem
comportamentos exemplares. A personalidade de Gomes Freire d’Andrade, «que está
sempre presente embora nunca apareça», é exposta pelas informações de outras
personagens. Assim, mesmo ausente, condiciona o desenlace da peça e o
comportamento de todas as personagens. No final do ato II, é percetível que
António de Sousa Falcão se apercebe do bom caráter de Gomes Freire e,
consequentemente, toma consciência da sua cobardia («Passei a noite a pensar,
e, de madrugada, percebi que não sou quem julgava ser…», p. 136). Este
comportamento de António de Sousa Falcão remete-nos para a atitude de Bass,
protagonista de 12 anos escravo, que,
no final do enredo, começa a acreditar em Solomon Northup e decide ajudá-lo ao
entregar uma carta que, mais tarde, lhe dará a liberdade.
A hipocrisia de Vicente e a sua ambição
desmedida identificam-se com as características de Epps, protagonista de 12 anos escravo, que utiliza os seus
súbditos para obter lucro nos negócios, colocando-os a trabalhar exaustivamente
na sua fazenda, satisfazendo, assim, os seus interesses e as suas necessidades
pessoais. A tríade de governantes do Reino – D. Miguel Forjaz, Beresford e
Principal Sousa – persegue Gomes Freire d’Andrade até alcançar a sua execução,
como acontece em 12 anos escravo:
Epps abusa dos escravos em prol dos seus interesses, castigando-os através de
açoites e de execuções, quando as suas ordens são desobedecidas ou,
simplesmente, porque sim. Em ambas as histórias é notório o prazer de se realizarem
punições e execuções em público, com o intuito de se mostrar a quem assiste
como podem ser igualmente castigados («Lisboa há de cheirar toda a noite a
carne assada, Excelência, e o cheiro há de lhes ficar na memória durante muitos
anos… Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do
cheiro», p. 131).
Tanto em Felizmente
há luar! como em 12 anos escravo,
os autores tentam consciencializar os espetadores, chamando à atenção para os
abusos, a repressão, as injustiças e as desigualdades sociais vividas nas
respetivas épocas. Em ambas as histórias a personagem principal – Gomes Freire
d’Andrade, em Felizmente há luar!;
e Solomon Northup, em 12 anos escravo – é percecionada como um
herói devido à sua força de vontade e às características positivas que a
distinguem; por outro lado, reúne muitos inimigos, sendo os amigos escassos,
mas tendo um elevado número de admiradores.
Em oposição a 12 anos escravo, Felizmente
há luar! acaba de forma trágica, sendo Gomes Freire d’Andrade executado na
fogueira juntamente com os restantes conspiradores, acusado de ser chefe da
revolta, estrangeirado e pertencer à maçonaria («Limpem os olhos no clarão
daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina!», p. 140). Ao
contrário, 12 anos escravo acaba de
forma heroica: Solomon Northup recupera a liberdade e, consequentemente, a sua
vida quotidiana volta à harmonia que era costume. Assim, os dois enredos,
embora tenham semelhanças durante o seu desenvolvimento, diferenciam-se
sobretudo no fecho.
Matilde
Matilde (Bom (-)) || Les Misérables (Os Miseráveis)
Julgo que a história de Os Miseráveis é rica em liberdade, revolução, pátria e povo,
semelhante a Felizmente Há Luar!. Por
ter uma ligação muito forte com a música e uma paixão incrível por musicais,
lembro-me de ter visto vinte segundos do trailer do filme e ficar completamente
expectante. Hoje, é dos meus preferidos, não só pela maneira como é feito mas,
sobretudo, pela história e por toda a emoção que causa no público.
A ação de Gomes Freire – que não está propriamente
representada na obra de Sttau Monteiro – é vista como uma tentativa de pôr
termo aos interesses absolutistas do reino, tentativa só posteriormente
consumada na revolta liberal de 1920. Evidencia a vida do povo e a miséria que a atravessa, pretendendo
contrariar tal situação. É neste contexto que se encontra a história de Os Miseráveis: como o próprio nome
indica, a vida miserável do povo francês durante a Revolução Francesa (facto
este histórico igualmente referido no livro em análise – “Sempre a Revolução
Francesa…”, p. 42). O General Freire de Andrade, “que está sempre presente
embora nunca apareça”, lembra-me Jean Valjean. O primeiro é um simples militar
que vai contra os interesses absolutos (causando, até, preocupação aos mesmos)
e que acredita nos princípios da liberdade e da justiça. É definido como um
homem corajoso, determinado e lutador, uma vez que pugna pelos seus ideais até
mesmo ao fim da sua vida – por enforcamento, no forte de São Julião da Barra.
O segundo chegou mesmo a experimentar a miséria.
Roubou um pão para se poder alimentar, o que lhe custou anos de prisão;
tornou-se um escravo submetido aos interesses do Reino. Aos poucos, vai
percebendo que quem cometeu um crime não foi ele, foi a sociedade que o
sujeitou a tal situação. Procurou escapar de toda a pobreza em que se
encontrava; ninguém o aceitou à exceção de um convento. Aí, a sua vida mudou
por completo – incluindo a sua identidade. Jean Valjean acabou por se tornar
dono de uma fábrica, adepto da caridade e do bom tratamento das suas
trabalhadoras. É possível ainda aludir à ascensão social que, sofrida por Jean
Valjean, teve também presença na vida de Vicente, que passou de popular a chefe
de polícia por ter auxiliado os governadores do Reino a encontrar os
participantes na dita conspiração de outubro.
O filme, no entanto, demonstra sempre as
discrepâncias entre Valjean e Javert, um homem que segue a lei de tal maneira
que dedica a sua vida a combater o crime e a perseguir aqueles que criticam o
regime dos poderosos (intitulando-os como criminosos). O mesmo acontece em Felizmente Há Luar! entre “os três
conscienciosos governadores do Reino”, 0 principal Sousa, Beresford e D. Miguel
que se referem aos opositores como inimigos de Deus, inconscientes e traidores
(“Os inimigos de Deus preparam, na sombra, a ruína dos vossos lares, a violação
das vossas filhas, a morte d’el-rei!”; “Portugueses: a hora não é para
contemplações! Sacrifiquemos tudo, mesmo as nossas consciências, no altar da
Pátria”; “Morte aos inimigos de Cristo!”; “Morte ao traidor Gomes Freire
d’Andrade”, p. 74).
Diversos momentos são equiparáveis, sobretudo o
sacrifício do povo. A questão da falta de liberdade acompanha Fantine que,
enquanto trabalhadora, tem um rendimento tão baixo, que concedeu a guarda da
filha, Cosette, a uma família que,
afinal, a trata como escrava. Tal como Fantine, Matilde de Melo é uma mulher
que exprime romanticamente o seu amor não pela filha mas pelo marido, Gomes
Freire. São as personagens femininas principais (juntando Cosette, no caso do
filme) que, ambas sacrificadas, perdem a sua dignidade, respeito para com a
população e, sobretudo, a sua maior paixão: Cosette e Gomes Freire de Andrade.
Sendo obras cujo contexto diz respeito à
Revolução Francesa, a luta pelas liberdades, direitos cívicos e fim dos
absolutismos são aspetos bem presentes tanto em Felizmente Há Luar! como em Os
Miseráveis. Jean Valjean, a figura heroica que consegue escapar à condição
de escravo, pode ser equiparado a Gomes Freire, o General, que nunca presente,
é constantemente referido como o libertador, apresentando-se como corajoso e
lutador no combate à tirania. São obras dignas de ler, dignas de ver.
Zé
Zé (Muito Bom (-)) || Brave Heart (Coração
Valente)
Lembro-me, em criança, de ter visto o Coração Valente (Brave Heart) com a minha
irmã. Gostei muito, porque, como não tinha ainda grande maturidade, apreciava
ver filmes em que se mostravam cenários de batalhas medievais e se enaltecia um
herói, que comandava o exército vencedor e voltava para casa são e salvo para
se encontrar com sua esposa.
No caso do filme, o herói era um bravo escocês
chamado William Wallace, que, apesar de ser um plebeu, tinha um coração nobre,
honrado e era uma pessoa bastante sábia e corajosa, sabendo ler e escrever,
sendo fluente, também, em latim e francês, tendo viajado por diversos reinos e
aprendido muito pelos seus caminhos. Quem o conhecia admirava-o e achava que
ele era dos poucos homens capazes de liderar um exército contra os tiranos
ingleses, que tentavam anexar a Escócia e subjugar o seu povo pela força das
armas.
A questão dos ingleses era simples – o rei
Eduardo (Edward) queria dominar a ilha inteira, para ser reconhecido
internacionalmente (em especial pelos Franceses) como o rei poderosíssimo que
nenhum exército na região conseguira combater. Nesse sentido, foram mobilizadas
tropas para a Escócia e barbaridades começaram a ser cometidas contra o seu
pobre povo, que se via impotente contra tantos soldados. Era necessário um
homem como Wallace para, junto com outros guerreiros, fazer frente à tirania
que se abatera sobre o reino.
Tal situação histórica faz-me lembrar a de Felizmente Há Luar! – o povo
encontrava-se na miséria, não havia pão para todos (“Vicente// Tu, José: Tens
sete filhos com fome e com frio e vais para casa de mãos a abanar” – p. 21), o
rei estava no Brasil e um inglês (Beresford) e outros nobres e poderosos (D.
Miguel e Principal Sousa) controlavam o poder de uma forma arbitrária.
Falava-se nas ruas de revolução (“Vicente// (…) fala-se de… fala-se de… V. Exª
não pode ignorar que se fala de revolução” – p. 35) e todos punham a esperança,
também, num nobre e bravo guerreiro, viajado, sábio e tido em grande conta pelo
povo – o general Gomes Freire de Andrade, que diferia de Wallace apenas por ser
militar e por não participar no enredo (apenas se alude a esta personagem
heroica).
No filme, dá-se um acontecimento trágico que
causa o início da guerra entre a Escócia e a Inglaterra – a morte da amada esposa
de William Wallace, que, em fúria, reúne camaradas e inicia uma campanha de
combate contra os tiranos ingleses. Era notável a força do exército de Wallace,
que, com grande carisma, o ampliou fortemente e organizou, rapidamente e em
força, para enfrentar os ingleses, que, não esperando tal determinação, foram
vencidos várias vezes.
Mas, como nos ensina Felizmente Há Luar!, a corrupção e o oportunismo de alguns acaba
quase sempre por complicar as vidas e as demandas dos mais justos. Vicente, um
homem do povo com vergonha das suas origens, era um informador da regência e,
como tal, foi o primeiro a associar o nome de Gomes Freire de Andrade a uma
eventual revolução, o que viria a ser confirmado por outros dois informadores,
os capitães Corvo e Morais Sarmento – “Morais Sarmento// Senhores Governadores:
onde quer que se conspire, só um nome vem à baila”; “Corvo// O nome do general
Gomes Freire d’Andrade!”. O mesmo aconteceu em Coração Valente, mas de uma forma diferente – o herói, Wallace,
continuava a somar vitórias contra os ingleses, mas não seria ele que viria a
ser o rei da Escócia quando se “conquistasse” a liberdade. Tal posição
pertenceria a Robert The Bruce que, por desejo de imenso poder e glória, traiu
Wallace ao lutar ao lado dos ingleses – note-se, aqui, o oportunismo da
personagem, que, como os corruptos de Felizmente,
se juntou aos mais poderosos por questões pessoais.
O que acontece a ambos os heróis é idêntico –
são presos e condenados à morte pelos tiranos, que se aproveitaram da falta de
honra de alguns, dispostos à traição a troco de dinheiro ou poder – é aqui que,
quer no filme, quer na peça de teatro, se chama a atenção para o facto de os
“bons” nem sempre ganharem. A mulher de Gomes Freire, bem como uma nova
apaixonada de Wallace, imploram pelas vidas dos justos heróis sem nenhum
sucesso, pois os poderosos regem-se, quer no filme quer na peça, por uma velha
máxima que referiu D. Miguel Forjaz – “Em política, quem não é por nós, é
contra nós” (p. 60).
No fim do filme, lembro-me de me ter
impressionado muito com a dolorosa morte de um herói que, quando questionado
sobre se juraria fidelidade para com a tirania, de modo a se livrar da dor,
gritou, com as últimas forças que tinha – “LIBERDADE”. Também Gomes Freire,
grande português, morreu graças à arbitrariedade e corrupção dos poderosos e
por ser o único que, em questões políticas, não se “vendeu”. É triste, mas
verdadeiro, ver os honrados e “bons” a morrer.
Vitória
Vitória (Bom -) || V for Vendetta (V de Vingança)
A peça Felizmente
há luar! de Luís de Sttau Monteiro faz parte da programação escolar
de português, mas retrata uma situação política e social que estudei na
disciplina de História. Foi a partir desta disciplina que cheguei à conclusão
de que o filme ideal para ser relacionado com a peça seria V de Vingança, obra cinematográfica a que assisti num dos últimos
dias de aula do primeiro período.
Não tive hesitações quanto à escolha deste
filme, porque o mesmo retrata um clima ditatorial vivido numa Inglaterra
futurística e a vontade de um herói – conhecido como “V” – de derrubar este governo opressor e devolver
ao povo a liberdade e a capacidade de questionar algumas ações de quem deveria
representá-los e não os reprimir. À semelhança de V, temos o General Gomes
Freire de Andrade, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da
justiça, com ideias liberais e subversivas, sendo considerado uma ameaça para o
poder político que estava instituído na época e um símbolo de combate pela
liberdade para o povo que ansiava por ser livre («Um amigo do povo! Um homem às
direitas! Quem fez aquele não fez outro igual…», p. 20).
Deste modo, começo por abordar esta repressão
que há muito tempo afeta a sociedade. Certamente, Luís de Sttau Monteiro –
reprimido – não conseguiu manifestar as suas desilusões face ao período
ditatorial que ainda perdura nos anos sessenta: o Estado Novo. Por esta razão,
decidiu buscar a partir do seu conhecimento histórico uma forma de mostrar à
sociedade o que acontecia, para, desta forma, despertá-la do carácter
conformista que vivia e criar na sociedade um espirito de subversão («Por esta
aldeia fora é cada vez maior o número dos que só pensam em aprender a ler…
Dizem-me que se fala abertamente em guilhotinas e que o povo canta pelas ruas
canções subversivas», p. 42). Na peça o povo está agitado, não aceita que os
militares ingleses estejam instalados em Portugal e que o país esteja na mão do
Conselho da Regência («A polícia não chega para arrancar os pasquins
revolucionários das portas das igrejas… O mundo parece estar atacado de
loucura, Reverência», p. 40). É, por outro lado, este mesmo Conselho, que, ao
observar toda esta revolta por parte do povo, procura fazer crer que estaria em
curso uma conjura («Meus filhos, meus filhos, a Pátria está em perigo! Os
inimigos de Deus preparam, na sombra, a ruína dos vossos lares, das vossas
filhas, a morte d´el-rei!», p. 74), presumivelmente, chefiada por Gomes Freire
de Andrade, um homem com as características ideais para ser responsabilizado
por toda a revolta que pairava na sociedade («Senhores, temos de encontrar
alguém que tenha prestígio no exército. Julgo que nos convém um oficial de
patente elevada, com um bom passado militar», p. 64).
Ambos os cenários relatam a tortura vivida pelos
oprimidos por parte de um poder erguido na imposição e considerado
incontestável. No filme, V passa a maior parte da sua vida num laboratório do
governo, onde eram feitas experiências com pessoas consideradas bastardas ou
degeneradas, ateus e homossexuais, para a criação de uma arma biológica, e
durante o enredo, ele aparece sempre com uma máscara para esconder a
desfiguração de seu rosto gerada por tais experiências. Na peça dramática,
Gomes Freire de Andrade também sofre com as injustiças de um poder
governamental absolutista («Mas, senhores, nada prova que o general seja o
chefe da conjura. Tudo o que se diz pode não passar de um boato…», p. 72), é
executado por ser considerado responsável de uma conspiração contra a regência
e traidor da pátria («Morte ao traidor Gomes Freire d´Andrade!», p. 74). A sua
morte, duplamente aviltante para um militar – ele é enforcado e depois
queimado, quando a sentença para um militar seria o fuzilamento – servirá de
lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político. Essa lição é
proferida por D. Manuel, no fim do segundo ato e faz referência ao título da
peça («Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro
há de lhes ficar na memória durante muitos anos… Sempre que pensarem em
discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro […]. É verdade que a
execução se prolongará pela noite, mas felizmente há luar…», p. 131) para,
assim, salientar o efeito dissuasor das execuções, visando que o castigo de
Gomes Freire se torne num exemplo. No entanto, a alusão ao nome da peça
dramática, não é apenas proferida por D. Miguel: Matilde de Sousa, a
companheira de todas as horas de Gomes Freire, também faz menção a Felizmente há Luar! («Olhem bem! Limpem
os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até
a noite foi feita para que vísseis até ao fim […]. Felizmente – felizmente há
luar!», p. 140) para encorajar e estimular as pessoas que pertenciam ao povo,
de se revoltar contra a tirania.
Assim, num primeiro instante, o título
representa a escuridão e, num segundo, representa o percurso do povo em busca
da liberdade. Na opinião de D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem
mais facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem
aterrorizadas e percebessem a consequência de quem afronta o regime. Na
perspetiva de Matilde, estas palavras são a esperança e o inconformismo
nascidos após a revolta, uma vez que a luz vence as trevas e a vida triunfa da
morte. A luz do luar que remete a liberdade vencerá a escuridão da noite que
remete para a opressão, e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está
a ser praticada ao seu redor.
Assim, é através de Felizmente há luar! e V de
Vingança que Luís Sttau Monteiro e James McTeigue procuram nos mostrar esse
descontentamento face ao poder usurpador que insiste em permanecer até os dias
de hoje: uma peça que não nos faça admirá-la, mas sim, criar um olhar crítico a
toda a falta de liberdade que nos rodeia e um filme que nos faça desconstruir
todo o conformismo mediante o preconceito e o opressor. Há que, imperiosamente,
lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e a falta de liberdade, há
que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.
Xana
Xana (Suficiente (-)) ||
Robin Hood: Prince of Thieves (Robbin Hood – O Príncipe dos Ladrões)
Após a leitura e análise da peça Felizmente há Luar! e do visionamento do
filme Robbin Hood – O Príncipe dos
Ladrões é possível identificar algumas semelhanças entre as duas obras. O
filme retrata um herói mítico inglês, um “fora-da-lei” que roubava da nobreza
para dar aos pobres. Era hábil no arco e flecha, e vivia na floresta de
Sherwood, onde era ajudado por um bando de amigos, do qual faziam parte João
Pequeno e outros moradores do bosque. Prezava a liberdade, a vida ao ar livre,
e o espírito aventureiro. Ficou imortalizado como "Príncipe dos
ladrões". Tenha ou não existido tal como o conhecemos, "Robin
Hood" é, para muitos, um dos maiores heróis da Inglaterra. Esta personagem
pode ser comparada com Gomes Freire, personagem da obra Felizmente há Luar! («que está sempre presente embora nunca
apareça»). É uma personagem virtual, uma vez que nunca aparece em cena, mas
está sempre presente, sendo, aliás, o motivo de todo o enredo. Desta forma, é
tido como um herói e representa a integridade e a recusa à subserviência. O
General é morto porque «é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um
soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado»
(p. 71), assim «a simples existência de certos homens é já um crime» (p. 95),
tendo sido sentenciado à forca a mando de D. Miguel. Ambos se apresentam como
heróis à repressão política, pois Robin Hood roubava a nobreza para dar aos
pobres/povo (povo oprimido e sujeito à violência e à pobreza) como forma de
contestação. Gomes Freire é acusado por representantes da nobreza de ser o
“chefe da revolta”, por ter despoletado a indignação e a revolta do povo. D.
Miguel é um representante da nobreza que possui um espírito decrépito e caduco
que impede a evolução do país. O seu caráter megalómano e prepotente alia-se à
cobardia e ao calculismo político desprovido de integridade. É corrupto,
desumano, mesquinho, hipócrita e tem uma ambição desmedida, recebendo ajuda dos
seus “aliados”: Principal Sousa (é o
representante do poder eclesiástico, autocrático e dogmático, fanático na
defesa de práticas que não pratica. Odeia os franceses e afirma ser o defensor
espiritual de «um rebanho sem cérebro» pois «a sabedoria é tão perigosa como a
ignorância»); Beresford (representa o poder calculista e o interesse material,
sob a capa do auxílio militar, o que o torna num mercenário. É trocista e
mordaz, despreza Portugal, vivendo cá somente por interesse económico); e
Morais Sarmento (à semelhança de Andrade Corvo é mesquinho, hipócrita e
oportunista, funciona como “bufo”, de certa forma assustado com as possíveis
consequências de estar contra o governo), contra que Gomes Freire e o povo
lutam. Robin Hood obtém ajuda do seu aliado/amigo João Pequeno, que o auxilia
na missão de ajudar os mais carenciados.
Deste modo, Robin Hood e Gomes Freire
assemelham-se na luta contra a repressão política e censura com o objetivo de
ajudar os mais carenciados e os mais necessitados. Ambos obtêm auxílio/apoio de
João Pequeno e o Antigo Soldado, respetivamente, de modo a conseguir realizar o
seu propósito.
Catarina S.
Catarina S. (Bom (-)) || Braveheart: O Desafio do Guerreiro
Depois
de ler e me debruçar sobre a peça de teatro Felizmente
há luar!, de Sttau Monteiro, e entendendo simbolismos, significados e
caraterização das personagens,
vislumbrei
algumas semelhanças com um filme que vi com os meus pais e que adorei pelo seu
lado histórico, romântico e também dramático, Braveheart, embora na altura não valorizasse aquilo que era
fundamental no filme, a Liberdade.
A
ação do filme, que conta com uma excelente interpretação de Mel Gibson, remonta
ao tempo histórico do séc. XIII. Em sequência de uma crise de dinastia, a
Escócia é integrada na Inglaterra. O rei Eduardo I e os seus nobres, tiranizam
e humilham o país. William Wallace é um homem do povo que é sujeito
tragicamente à demonstração do poder inglês quando um nobre lhe mata a mulher.
Magoado e revoltado, Wallace vai assumir o papel de herói escocês na revolta
contra o domínio inglês.
Todo
o ambiente que se vive nesta época é semelhante ao que encontramos no séc.
XVIII em Portugal, pós invasões francesas e fuga do rei para o Brasil. Nas duas
situações os ingleses dominam com mão de ferro, em ambos os contextos há heróis
e traidores, há povo e nobreza, há nacionalistas e interesseiros, há vencedores
e vencidos.
O
povo escocês vive na miséria, na ignorância, oprimido e explorado pelos
ingleses e, indiretamente, também o é pelos nobres que fazem os seus jogos de
interesses. Wallace traz a esperança ao povo de sair da obscuridade e
dependência em que se encontra. Na obra de Sttau, também existe um povo
analfabeto que vive na miséria e sem liberdade. O General Gomes Freire, à
semelhança de Wallace, vai simbolizar a esperança e a liberdade («Para esta
cambada, o Freire é Deus», p.14).
Ao
contrário de Wallace, que é um homem do povo sem instrução, Gomes Freire é um
soldado brilhante e instruído. Ambos lutam pelos ideais de igualdade, liberdade
e independência em relação aos ingleses. Ambos têm um fim trágico, são traídos,
presos e mortos sem nunca renegarem os seus ideais («Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por amor da justiça porque deles é o reino de Deus», p.74).
Tanto no filme como na peça, vemos um enredo de intrigas e traições que tentam
estrangular a força dos sonhos de justiça e liberdade, honestidade e
nacionalismo. Interesses económicos ou políticos e sede de poder levam à
traição e serventia e, tal como disse Camões, “Um fraco rei torna fraca a forte
gente”.
Pode
ser feita uma analogia entre Sousa Falcão, o amigo de Gomes Freire, que com ele
partilha os ideais mas que não tem a mesma coragem para lutar, e Robert Bruce,
o pretendente ao trono da Escócia, que se vê enredado na teia de interesses e,
apesar de ter os mesmos sonhos de Wallace, não tem a sua valentia («Faltou-me
sempre coragem para estar na primeira linha…», p.82).
Também
no contexto amoroso se pode verificar que os personagens são pessoas que vivem
o amor de forma intensa: Matilde, com a sua paixão, coragem, persistência,
símbolo de todas as mulheres que sofrem e que amam; Wallace, apaixonado pela
mulher que conhecia desde a infância. É a sua recordação e a sede de fazer
justiça que lhe dão alento e força: mesmo depois de morta, ela está presente no
seu coração.
Ambas
as personagens, Gomes Freire e Wallace, são executados na praça pública para
que a sua morte sirva de exemplo a todos aqueles que, no futuro, pretendam
afrontar o poder.
São
dois enredos com forte cariz de idealismo, de amor, sacrifico e perseverança.
Sara
Sara (Bom (+)) || Suffragette (As Sufragistas)
O filme As
Sufragistas, cuja ação decorre no início do Séc. XX, tem como foco principal
a luta pelo direito de voto feminino, destacando a rotina de humilhações
diárias a que as mulheres estavam submetidas e as condições degradantes da vida
da maioria delas, resultando numa crítica à sociedade patriarcal em que estavam
mergulhadas. Consegui, de certa forma, encontrar pontos comuns entre o filme e Felizmente há luar! por ambos tratarem
de uma luta contra a injustiça e pela liberdade individual, entre os oprimidos
(num caso, mulheres, no outro, os populares) e os opressores (os homens e as classes
dominantes, respetivamente).
Em Felizmente
há luar! vemos retratada uma sociedade de classes fortemente
hierarquizadas, em que as classes dominantes vivem num medo constante de perder
os privilégios – que têm à custa da miséria da população – e o povo oprimido e
resignado vive miserável («Tens sete filhos com fome e com frio e vais para
casa com as mãos à abanar» e «Nenhum de vocês tem um teto que o abrigue no
inverno, nenhum de vocês tem onde cair morto», p. 21) e ignorante, sempre
receoso do dia em que lhe tirarão o pouco que tem. Já a sociedade de As Sufragistas é dividida entre homens e
mulheres, sendo estas as que interpretam o papel dos “populares” por também
serem negligenciadas e desvalorizadas pelos que têm poder, e que, não só não as
ouvem, como não as deixam falar: Tanto num cenário como no outro, os oprimidos
não são encarados com credibilidade e nem lhes é permitida a participação na
vida política do seu país.
No filme, as mulheres passam a reivindicar o
direito de participação na política e a exigir leis mais justas que as fizessem
ouvir nas decisões, e, assim, desistem do protesto pacífico de simples
manifestações de rua ou greves de fome – que nunca levavam a lado nenhum – e
desafiam o Estado, partindo para formas de luta cada vez mais radicais,
enfrentando tudo em prol da liberdade e da igualdade de direitos e
oportunidades. Esta revolta pode ser equiparada à revolta a que se assiste em Felizmente há luar! por serem as duas de
caráter liberal e por serem protagonizadas pelos “fracos” de cada cenário (as
mulheres da classe operária do início do séc. XX e a plebe da época
oitocentista). Para além disto, ambas atingiram proporções sobre que as forças
policiais já não tinham controlo («Veja, Sr. D. Miguel, como eles transformaram
esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados!» e «A polícia não
chega para arrancar os pasquins revolucionários das portas das igrejas», p.40)
e foram ambas lideradas por mulheres que diziam em voz alta o que todos os que
lutavam consigo pensavam e não tinham
coragem para dizer: Matilde de Melo e Emmeline Pankhurts.
Em cada uma das histórias vemos um pequeno
conjunto de homens que, de alguma forma, traem o seu “bando” – embora num dos
casos esta situação seja positiva. Em Felizmente
há luar! temos Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, cada um à sua
maneira, acabam por trair a classe social ou associação – maçonaria – a que
inevitavelmente pertencem em prol do seu interesse individual, esperando uma
recompensa em dinheiro ou num cargo mais digno do que o que ocupam, e em As Sufragistas vemos também um conjunto
de três homens que viram costas à categoria de “poderosos” onde se incluem pelo
simples facto de serem do sexo masculino, para apoiarem as mulheres na sua luta
pela liberdade, justiça e igualdade – na verdade trata-se de mudanças de
atitude consequentes das revoltas.
Apesar de em As
Sufragistas não existir um herói, como aliás não aparece em Felizmente há luar! o general Gomes
Freire, podemos interpretar como heroína a mulher que morre numa das
manifestações organizada pelas mulheres, e, assim, temos em cada uma das obras
um elemento que foi sacrificado para dar mais força à luta que representa. O
que mais me marcou deste par de obras foi – para além do objetivo que ambas
tentam causar no auditório para que se dirigem de o fazer tomar consciência da
realidade que lhe mostram –, talvez, a mensagem de que «a união faz a força» e
a esperança de, felizmente, haver sempre luar.
Madalena F.
Madalena F. (Bom +/Muito
Bom -) || Capitães de Abril
Ainda que o título do filme já tivesse surgido
em inúmeras conversas durante a minha infância, a primeira vez que assisti ao Capitães de Abril encontrava-me numa
aula de História do 9º ano.
Sendo portuguesa, foi impossível ficar
indiferente perante as memórias de um dia que mudou Portugal, a Revolução dos
Cravos.
Após acabar a leitura da obra de Luís de Sttau
Monteiro, a comparação entre as duas produções portuguesas foi inevitável. Felizmente Há Luar! retrata uma época de
extrema agitação social e revolta, que conduziu à Revolução Liberal de 1820. Capitães de Abril descreve uma época com
um contexto social semelhante, vivido um século depois.
Após o visionamento do filme, através de uma
leitura atenta da obra, rapidamente é possível identificar elos entre os
contextos em que se passam as duas ações.
No início do filme, cenas pesadas que pretendem
retratar os que perderem a vida no campo de batalha, em referência às guerras
coloniais, indicam uma das principais causas da Revolução, a revolta do povo
perante a guerra colonial. Já em Felizmente
Há Luar!, é notória a revolta contra a presença da Corte no Brasil e contra
a situação de «colónia» em que se encontra o país, na medida em que está
sujeito a um Regente inglês. Em ambos os casos, as conspirações internas são
uma constante.
Num contexto social que dá indícios de agitação
por comunhão com as ideias de liberdade que advêm de França e do Brasil — não
será por acaso que D. Miguel afirma que “a revolta de Pernambuco incendiou as
almas” (p. 37), movimento que punha em causa a origem divina do poder real — ,
em que o povo fala abertamente em revolução (“Dizem-me que se fala abertamente
em guilhotinas e que o povo canta pelas ruas canções subversivas”, p. 40), reflete-se
o ambiente de esperança na liberdade que se vivia em Portugal nos últimos anos
da década de 50, exacerbada pela candidatura de Humberto Delgado à Presidência
da República, mas só se concretizaria em Revolução década e meia depois.
As
personagens do livro são também facilmente equiparáveis às do filme. Ao longo
do diálogo entre os populares, surge a referência ao general Gomes Freire,
classificado entusiasticamente como “um amigo do povo! um homem às direitas!”
(p. 20), defensor da liberdade e da luta contra a opressão. Humberto Delgado, à
semelhança de Gomes Freire, assumiu-se como um defensor dos direitos do povo,
iniciando uma luta contra o abuso do poder.
Andrade Corvo e Morais Sarmento, juntamente com
Vicente e os dois polícias, são o espelho de organizações de denúncia e
repressão como a Legião Portuguesa ou a PIDE/DGS, contribuindo também para
estabelecer uma analogia entre a obra e o filme. Vicente, de origem popular,
trai o povo, classe a que pertence (“Dois denunciantes: um Corvo e um Vicente.
São as armas da cidade…”, p. 44), perseguindo aqueles que denunciam a
hipocrisia, a violência, a injustiça, o obscurantismo, a falta de escrúpulos do
Poder e apelam à justiça e à liberdade. Também a grande maioria da polícia
política fascista, a PIDE, passou por um percurso semelhante, tendo sujeitado,
tal como é descrito ao longo do filme, à censura, à tortura e ao exílio todos
os que se mostravam contra os ideais impostos pelo regime.
Assim, é possível verificar que apesar de as
duas acções se terem passado com um século e meio de intervalo, acontecimentos
que marcaram o século XIX são facilmente relacionáveis com a situação social e
política do país nos anos 60 do século XX. As primeiras manifestações sociais e
políticas, que levaram à revolução liberal de 1820, são relacionáveis com a
miséria, a opressão e a injustiça que dominaram Portugal na década de sessenta
e que conduziram à Revolução relatada no filme Capitães de Abril.
Miguel
Miguel (Bom (-)) || Sing
Street
O filme que escolhi
para relacionar com a peça Felizmente Há
Luar!, de Luís de Sttau Monteiro foi, Sing Street, realizado
por John Carney.
Neste caso, não é o
enredo do filme no cômputo geral que pode ser comparado com o texto dramático
do autor português, uma vez que o primeiro trata de um rapaz irlandês, nos anos
oitenta do século XX, que forma uma banda para impressionar uma rapariga de que
gosta, mas sim o funcionamento da escola que a personagem principal frequenta,
que pode ser comparado com o funcionamento do país lusitano no século XIX
(época em que se passa a obra de Sttau Monteiro).
Em Felizmente Há Luar! verifica-se que
Portugal vive num regime de monarquia absoluta (“nem me seria possível viver
desde que a minha opinião valesse tanto como a de um arruaceiro […] que
posições seriam as nossas, se ao povo fosse dado a escolher os seus chefes?”),
que tem como característica retirar o direito à liberdade de expressão e
opinião aos cidadãos e punir todos aqueles que têm ideias que não estão em
conformidade com as do monarca absolutista.
No filme de John
Carney, Conor, personagem principal da história, frequenta um colégio com
regras muito restritas e que pune e discrimina os alunos quando estes não agem
em conformidade com as regras da escola. Pode-se, desta forma, encontrar
semelhanças entre o poder da regência demonstrado na peça de teatro e o do
diretor do colégio de Conor, que também impõe regras estritas e que, aos olhos
dos espetadores (e da própria personagem principal), são demasiado limitadoras
e não podem ser contestadas.
Para além do
funcionamento do regime absolutista em Portugal e do funcionamento do colégio
seguirem linhas orientadoras semelhantes, também a justificação para esta forma
de exercício de poder, tanto pelo rei português (que, na obra de Sttau
Monteiro, não é tanto o rei que está a comandar o país, uma vez que está
refugiado no Brasil, mas uma regência do reino) como pelo diretor da escola, é
semelhante. Em Felizmente Há Luar! a
monarquia absoluta é justificada através da vontade divina, assumindo-se que o
poder real é atribuído por Deus, e em Sing
Street acontece o mesmo, as restrições e intolerâncias defendidas pelas
normas do regulamento interno escolar são justificadas também pela vontade de
Deus, uma vez que o colégio é católico e, supostamente, se rege pelos ideais
bíblicos.
Também se pode fazer
uma analogia entre a punição que a regência, em Felizmente Há Luar!, impôs sobre Gomes Freire d’Andrade por este,
alegadamente, ser o chefe dos movimentos revolucionários contra o regime
(“Morte ao traidor Gomes Freire d’Andrade”), que, tal como indica a citação
anterior correspondente a uma fala de D. Miguel, acaba por resultar na sua
morte e a punição que Conor recebeu por ir maquilhado para o colégio. Apesar de
a punição não ter sido tão extrema como a condenação à morte, tendo a
personagem “apenas” sido vítima de violência física por parte do diretor, esta
foi imposta, tal como na peça de teatro em questão, devido a princípios
ditatoriais e de excesso de poder.
Assim, a grande
analogia entre estes dois enredos é o facto de a figura de autoridade de ambos
ter todo o poder concentrado em si, podendo “abusar” dele, seja contra os
cidadãos portugueses seja contra os alunos do colégio.
Marco
Marco
(Suficiente +/Bom -) || Harry Potter and the Order of
the Phoenix (Harry Potter e a Ordem
da Fénix)
O filme selecionado foi Harry Potter e a Ordem da Fénix. Este é o quinto de oito filmes da
saga que tem inquestionável sucesso internacional. Baseado nos livros de
J.K.Rowling e adaptado aos grandes ecrãs, a saga Harry Potter que teve o seu
primeiro filme publicado em 2001 inicialmente enquanto eu era apenas uma
criança, não me despertou interesse imediato, e foi preciso crescer, cerca de
catorze anos após a estreia do primeiro filme, para começar a ver a saga que
estaria já completa passado os ditos catorze anos. O quinto filme não é o meu
favorito mas as suas parecenças com Felizmente
há Luar! fizeram com que fosse imediatamente a minha primeira escolha.
Os paralelismos entre as personagens de ambas as
obras são reconhecíveis: Dumbledore, o diretor adorado pelos seus alunos
(pelo seu Povo), será o General Gomes Freire (frase dita por Vicente em Felizmente Há Luar!: "A ninguém tem
o povo mais amor do que ao primo de V. Excelência. Soldado distinto, súbdito
fiel... em ninguém põe o povo mais esperança do que no general"). A
instituição do Ministério da Magia é o maior e mais importante órgão do
universo de Harry Potter e controla qualquer atividade de qualquer feiticeiro
ou seja o chefe máximo D. Miguel. Há ainda a turma Slytherin, a turma da escola
que vai apoiar todas as manobras do ministério em troca de prémios e louvores,
traindo assim os seus colegas, que nos faz lembrar Vicente.
A história do filme é a censura do Ministério da
Magia aos métodos e ideologias de ensino de Dumbledore. Para que este seja
vigiado, o ministério envia uma professora, Dolores Umbridge (que em Felizmente há Luar! será Beresford o
general inglês enviado para Portugal) para a escola e atribui-lhe algum
poder executivo dentro da própria, para que a educação dos alunos se mantenha
nos padrões do Ministério e não nos de Dumbledore, que era visto como
irreverente e que estaria alegadamente a treinar os seus alunos para uma guerra
com o Ministério. Dolores protegida pelo Ministério abusa do seu poder que lhe
foi cedido pelo Ministério e proíbe o ensino de disciplinas importantes para a
aprendizagem dos futuros feiticeiros. A contestação dos alunos é feita em
segredo com medo de represálias. Secretamente, os alunos treinam feitiços que
eram proibidos pela censura de Dolores mas esta vem a descobrir a atividade
ilegal. Ao descobrir a revolução que estaria a ser preparada pelos alunos (por
iniciativa dos próprios e não por Dumbledore como Dolores e o Ministério
pensavam) a professora infiltrada comunica ao ministério o incidente e fica
decidido por estas duas entidades que o bode expiatorio e culpado da revolta
será Dumbledore. O diretor é então condenado a prisão mas, por ser um
feiticeiro tão experiente, consegue escapar antes de ser capturado (tanto Gomes
Freire como Dumbledore foram condenados mas Dumbledore tinha o elemento magia
para o tirar de problemas ao contrário do General). A conclusão de Ordem da Fénix afasta-se depois da de Felizmente Há Luar!. Dumbledore
permanece vivo e restaura o controlo total sobre a escola, enquanto que o
General Gomes Freire é condenado à morte, porém, todo o desenrolar do
filme conta uma história idêntica à da obra de Luís de Sttau Monteiro:
uma entidade superior receosa de que o seu povo se revolte contra
ela, enviando alguém para o terreno na tentativa de censurar a população e
descobrir os culpados destas revoluções.
Catarina A.
Catarina A. (Bom +/Muito
Bom-) || The Hunger Games (Os Jogos da Fome)
Após alguns longos dias a pensar sobre que filme
seria o mais indicado para relacionar com a obra Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, acabei por decidir
que iria recorrer a uma saga de filmes moderna, bastante conhecida, que retrata
a vida de um povo oprimido, embora por razões diferentes. Escolhi a saga The Hunger Games, ou, em português, Os Jogos da Fome, pois encontrei algumas
semelhanças entre estes e a obra, especialmente no último filme (que foi
dividido em duas partes): Os Jogos da
Fome: A Revolta (The Hunger Games:
Mockingjay).
Esta
história (dividida em dois momentos) passa-se num futuro distante mas retrata o
mesmo sofrimento do povo, consequente do regime absolutista, embora este assuma
uma estrutura diferente na obra e no filme: o mais alto cargo de poder
pertence, na peça, ao rei, que atribuiu a regência do país a D. Miguel Forjaz e
Beresford (com a função de organização do exército) quando foge para o Brasil
para evitar a capitulação, e, no filme, ao Presidente Snow, que, embora seja
designado “Presidente”, acaba por desempenhar um papel de ditador, detendo
todos os poderes. Estas duas personagens partilham, para além de um cargo
semelhante, características parecidas a nível de personalidade e caráter. Ambos
são corrompidos pelo poder, o que os leva a tomar decisões cruéis e, até,
desumanas, de modo a proteger as suas posições privilegiadas na regência dos
países. Apenas o amor pela pátria os distingue: D. Miguel Forjaz afirma ter,
para além do amor ao poder, amor pelo país (“Pouco me importa a fortuna ou a
vida, ambas daria de boa vontade, se me fosse necessário fazê-lo, pela minha
terra. A Pátria, Excelências, não é, para mim, uma palavra vã…”, p. 69), algo
que não é tão evidente na personagem de Presidente Snow.
A
estratificação social é também bastante evidente em ambos os casos e é
apreciada e vista como necessária por parte dos poderosos, chegando até D.
Miguel a afirmar que “Um mundo em que não se distinga, a olho nu, um prelado
dum pobre, ou um nobre dum popular” (p. 69) não é um mundo em que deseje viver.
Tanto no
filme como na obra, o povo sofre com a pobreza e com o abuso a que é sujeito
por parte dos poderosos e há, também, uma personagem que personifica a
esperança e a coragem que inspira o povo na sua luta diária e possível revolta
contra o regime, alguém que serve de símbolo de luta pela liberdade. Em Felizmente Há Luar!, o General Gomes
Freire de Andrade, embora não apareça nunca em cena, apresenta estas
características, que nos são dadas a conhecer através dos relatos do povo e da
sua mulher, Matilde. No filme, este símbolo é assumido pela personagem
principal, Katniss Everdeen, sendo-lhe atribuído o nome de Mockingjay. O que
diferencia estas duas personagens de caráter semelhante é o facto de uma ser
apenas admirada pelo povo, sem liderar, concreta e diretamente, uma revolução –
General Gomes Freire – e a outra liderar, de facto, o povo na batalha, sendo um
símbolo desta e, ao mesmo tempo, estando na linha da frente a lutar – Katniss
Everdeen.
A ação
em Felizmente Há Luar! centra-se não
só no sofrimento do povo devido à fome, à miséria e à ignorância, mas também na
execução do General Gomes Freire de Andrade. A regência do país, representada
por D. Miguel Forjaz, Beresford e o representante do Clero, Principal Sousa,
com medo de perder o poder e os privilégios que o acompanham como consequência
de uma revolta liberal, decide que é necessário encontrar alguém que o povo
admire e em quem tenha esperança e executá-lo como exemplo e de forma a impedir
que tal revolução aconteça. A pessoa escolhida é o General Gomes Freire que,
mesmo sendo inocente, é acusado de ser o chefe da revolução, é preso e
condenado à morte na fogueira.
Em
relação ao filme, a personagem vista como perigo para o governo é Everdeen,
sendo também um alvo a abater, embora cheguem a ela de forma diferente. Para
impedirem a violenta revolução de destruir o governo, capturam alguém que é
próximo de Katniss, o seu interesse romântico na história: Peeta Mellark.
Prendem-no e torturam-no de modo a atingir o símbolo da revolução a nível
emocional. No entanto, Katniss vê a captura de Peeta como algo para a fazer
lutar ainda mais, deixando a situação dar-lhe forças para continuar a
revolução, em vez de a desmoralizar. Esta reação de Katniss é, a meu ver,
comparável com a de Matilde, que, embora ao longo do ato II se tenha mostrado,
por vezes, desanimada, triste e cansada, acabou por ver a execução do marido e
a chama da fogueira que o matou como um apelo à revolução, à luta e à
esperança, dizendo para o seu fiel amigo António de Sousa Falcão “Julguei que
isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há de
incendiar esta terra!” (p. 140).
Filipe
Filipe
(Suficiente -) || Harry Potter and the Deathly Hallows (Harry Potter e os Talismãs da Morte)
Lembro-me de ir ver a estreia do filme Harry
Potter e os Talismãs da Morte,
mas não me recordo da data exata. Sei que foi nos fins de Novembro de
2010. Fui ver o filme com a minha família, aos cinemas do Colombo. O interesse
já vinha dos filmes da mesma saga, posteriores a este. Desde pequeno que tenho
uma paixão pelas histórias da escritora J. K. Rowling.
Este é o sétimo filme da saga, que está dividido
em duas partes e é o fim da saga, para muitos um fenómeno, por ter gerado
tantas receitas e causado um tremendo impacto no mundo. Apesar das histórias
serem sobre temas distintos, existem pontos de comparação excelentes, pois no
nosso filme conseguimos enquadrar todas as personagens de Felizmente há luar e ele ainda retrata problemas semelhantes aos da
sociedade portuguesa do século XIX.
Em Harry Potter e os Talismãs da Morte temos a própria personagem Harry Potter,
interpretada por Daniel Radcliffe, que é uma personagem idêntica, porém em
versão masculina de Matilde de Felizmente
há luar. São personagens lutadoras, que querem fazer a diferença?
Indignados com o regime em que são obrigados a viver, ambos lutam pela
igualdade e pela justiça. Matilde, na peça, é a personagem que inicia a
revolta, é como se fosse a voz da razão, uma mulher forte, destemida, que faz
frente aos corruptos e ainda aponta os males do seu povo: “Cortam-se as árvores para não fazerem sombra
aos arbustos!”.
Temos vários pontos de analogia entre personagens. Por exemplo, as que
representam o poder, são
D. Miguel
Forjaz, Marechal Beresford e Principal Sousa, que, por sua vez,
representam Voldmort e os seus seguidores, tendo estes o nome de devoradores da
morte. Podemos aqui fazer um ponto de ligação como se estes fossem a Pide do
mundo mágico. D, Miguel Forjaz é o que mais se assemelha a Voldmort, devido às
suas características, (acha-se superior aos outros): “Um mundo em que não se
distinga a olho nu um nobre de um popular não é mundo em que eu deseje viver”.
O mesmo acontece com a personagem do filme, mas este, por sua vez, achava-se
superior a “meias-raça”, termo técnico utilizado para referir pessoas que não
são filhos de mãe e pai, com sangue dito puro, ou seja, sangue, mágico. São
homens sem qualquer tipo de escrúpulos, corruptos. Ambas as histórias falam
sobre um povo oprimido, que tem medo de enfrentar os ditos superiores, e ambas
têm os ditos traidores: no caso de Felizmente
há luar, é Vicente, um homem desrespeitoso, que, para alcançar os seus
objetivos, trai o próprio povo, porém é bastante calculista e inteligente. Esta
personagem faz ponte com Severus Snape, são ambos movidos pelos interesses de
recompensas materiais. E, como herói e exemplo a seguir, temos Dumbuldore, no
filme, e, na peça, o General Gomes Freire de Andrade.
Ao longo de ambas as histórias, podemos observar uma luta constante contra
o regime. Ambos os heróis acabam por morrer, mas não morreram em vão, morreram
a lutar contra o regime. A peça acaba com a própria Matilde a incentivar o povo
(“Dá-me um beijo – o último na Terra – e vai! Saberei que lá chegaste quando
ouvir os tambores!”), e alançar palavras de coragem e ânimo – “Olhem bem!
Limpem os olhos no clarão daquela fogueira, felizmente há luar!”. No fim, Harry
Potter consegue por fim ao regime de Voldmort, matando-o.
Ana
Ana (Bom +/Muito Bom -)
|| La vita è bella (A vida é bela)
Já no século XIX tivera início um movimento que,
idealmente, tinha como objetivo garantir às mulheres os seus direitos e
regalias. Com vários obstáculos à sua liberdade, as mulheres continuaram, em
vários locais do mundo, reprimidas pelas vozes masculinas que lhes diziam o que
fazer e o modo como executar as tarefas. Remetendo para uma época em que o
regime fascista vigorava, em que à mulher não foi atribuída liberdade ou
igualdade, tanto Felizmente há Luar!
como A Vida é Bela mostram a força de
vontade duas mulheres para defender as suas famílias.
Apesar de a ação da peça de teatro Felizmente há Luar! remontar a 1817, a
obra afirmava-se contra o regime salazarista (denominado fascista), em vigor à
data de publicação. O enredo do filme desenrola-se em Itália, 1939, durante o
regime fascista de Mussolini. É retratada no filme a questão que Luís de Sttau
Monteiro aborda, subtilmente, na sua obra: as perseguições a que a população
estava sujeita sob um regime ditatorial.
Na peça de teatro, Gomes Freire de Andrade era
considerado líder de uma revolta liberal por acontecer. Ainda que sem provas ou
um testemunho do mesmo para se defender, o poder do reino assumiu como necessária
a captura do general, levando-o para S. Julião da Barra. Também retirado da
família sem justificação foi Guido, o herói do filme. Numa Itália em que os
judeus eram tidos como uma raça a abater, Guido e o seu filho Giosué foram
enviados para um campo de concentração.
Ao tomar conhecimento da situação do cônjuge,
Matilde exalta-se e pede piedade, entre os populares, para que a ajudem a
provar a inocência do General. A personagem mantém-se esperançosa, ainda depois
de se aperceber de que não havia nada que pudesse fazer: «Deus não lhe
permitirá que lhe façam mal»; «Então, António, terei de recorrer aos homens»;
«Serei, então, a voz da sua consciência» (pp. 87-88).
Tal como Matilde, Dora, esposa de Guido, toma
rapidamente a decisão de tentar encontrar a família, alegando ao militar
responsável que aquelas capturas tinham sido um engano. Entendendo que a
situação era irremediável, a própria sugere que a levem também, de modo a poder
estar junto da família. Tal como Dora, Matilde sentia-se dividida, mas determinada
em salvar o seu esposo: «Tenho o corpo no Rato e a alma em S. Julião da Barra,
mas enquanto houver vida nestas pernas cansadas […] baterei a todas as portas,
clamarei por toda a parte […] a vida daquele a quem devo a minha!» (p. 86).
No momento final da ação de Felizmente há Luar!, Matilde aceita as circunstâncias e encara a
morte do general Gomes Freire como destino. No que foram os momentos finais da
vida do seu companheiro, Matilde via-o junto dela, não com rancor e repugnância
por o terem afastado dela, mas com ternura, por se tratar do seu esposo:
«António: Sinto-o!»; «Oiço-lhe os passos»; «Esqueces-te sempre deste botão»
(pp. 138-139).
Guido teve o mesmo destino que o General, mas
deixando sempre o seu filho a salvo durante a sua jornada. No fim da Segunda
Guerra, quando os Aliados resgatam os indivíduos presos, Giosué é encontrado
pelas tropas americanas e, mais tarde, encontra a sua mãe no meio da multidão
que estava agora livre.
Valoriza-se assim, em ambas as obras, a
persistência e dedicação de duas personagens femininas que tentam levar a cabo,
até ao fim, a missão para salvar as suas famílias, apesar dos obstáculos
impostos pelo Estado e pelo poder. Em ambas as intrigas, os heróis foram
aprisionados porque, citando Beresford em Felizmente
há Luar!, «a simples existência de certos homens é já um crime» (p. 95).
Vasco Af.
Vasco Af. (Suficiente +/Bom -) || The Lord of the Rings: The Two Towers
(Senhor dos Anéis: As Duas Torres)
Este filme estreou em 2002, faz parte de uma das
trilogias mais bem pontuadas a nível crítico da história do cinema e que na
minha opinião, integra os melhores filmes que alguma vez foram feitos. Estou
portanto, a falar do Senhor dos Anéis,
neste caso do segundo filme da trilogia Senhor
dos Anéis: As Duas Torres. Confesso que não tive o privilégio de o ver numa
sala de cinema, pois tinha apenas quatro anos quando estreou. Porém, apesar de
ser novo e o filme não ser muito apropriado para crianças, sempre tive muita
curiosidade quanto ao seu conteúdo e, sendo assim, por volta dos meus seis anos
de idade já teria visto os três filmes. Não posso dizer que alguém me
influenciasse a vê-los mas posso agradecer aos meus pais por nunca me terem
privado de a eles assistir.
Dado que se trata de uma trilogia, existe certamente
uma história que se desenvolve ao longo dos três filmes. Mas o que se relaciona
mais com a obra de Luís de Sttau Monteiro é mesmo As Duas Torres. Posso apenas situar-nos um pouco em relação à
história, que se inicia depois de Frodo Baggins (personagem principal) receber
um “Anel do Mal” que pertencia ao seu tio, formando-se uma irmandade composta
por nove elementos de raças diferentes (Hobbits, Elfos, Anões, Homens e um
Feiticeiro) com o único objetivo de o destruir. Mas, claro, existem inimigos que
dificultarão a tarefa.
Em Felizmente
Há Luar!, assiste-se ao cenário político que se vivia na época do séc. XIX,
mais especificamente em 1817. A obra foi publicada em 1961, sob o regime
ditatorial de Salazar, que, como sabemos, era de cariz opressivo. Portanto,
serviu como recurso, ao autor, devido ao distanciamento histórico, também para
criticar, a partir da obra, o tempo em que vivia.
No filme que escolhi para relacionar com a peça,
destaco Saruman, o Branco. Este nome é de um Feiticeiro que é conhecido por ser
um dos mais poderosos da ordem dos feiticeiros e, em tempos, defensor dos
homens e da paz no mundo. Porém, quando as forças do mal assumiram maior poder,
mudou-se para o seu lado, para a supremacia e destruição. Em Felizmente, também uma personagem se
vira contra o povo, porque bajula o poder. Estou a referir-me a Vicente, que,
tal como Saruman, procura apenas “subir na vida”. Vicente deseja ser comandante
da polícia e vê que o consegue quando é chamado por D. Miguel, que primeiro se
assegura de que ele é de confiança, ao que Vicente, matreiro como é, lhe
responde «Como em Deus, Excelência. Honesto e dedicado a el-rei como eu, haverá
poucos fidalgos neste Reino…» (p. 33). Dá-lhe a missão de controlar o que se
diz nas ruas e de lhe transmitir todas as manhãs tudo o que ouviu.
Existem outras personagens do filme que se
relacionam com as da peça, como é o caso de Aragorn (um bravíssimo guerreiro
humano) que, muitas vezes, lidera batalhas para acabar com alguns exércitos
inimigos, e de Matilde, que protagoniza a revolta e é também uma mulher muito
destemida. Frodo (o portador do anel) assemelha-se a Gomes Freire d’Andrade
pois acaba por ser o herói ao destruir o anel, tal como o General o é em Felizmente Há Luar!.
Tanto o filme como a obra têm, de certa forma,
semelhanças quanto à história e aos objetivos que se pretendem alcançar. Em As Duas Torres, pretende-se acabar com
Saruman e o seu exército, facilitando, assim, o trabalho da Irmandade para
destruir o anel. Em Felizmente Há Luar!,
o povo luta contra o regime absolutista, pois começa a aperceber-se de que é
privado de muitos direitos. Relacionam-se no sentido em que se pretende acabar
com o poder absoluto.
O desfecho é talvez o ponto mais distante entre
os dois, visto que no Senhor dos Anéis:
As Duas Torres a história do filme não termina por ali, tem seguimento no
outro filme e não se consegue concluir nada em concreto. Na obra de Sttau
Monteiro dá-se um desfecho trágico em que os conspiradores, acusados de traição
à pátria, como é o caso de Gomes Freire d’Andrade, são executados perante a
população de Lisboa.
Pipa
Pipa
(Bom (+)) || Bloody Sunday (Domingo Sangrento)
O meu gosto pela história
mundial contemporânea desenvolveu-se muito cedo. Desde pequenina que preferia
ver documentários sobre as Guerras Mundiais, ou conflitos no Médio Oriente, às
típicas séries acéfalas destinadas a crianças pré-adolescentes. Os documentários
traziam-me uma satisfação e diversão que os canais de criança não traziam.
Os meus pais e a minha irmã tiveram
um papel decisivo neste contexto, uma vez que sempre me incentivaram a
interessar-me por estas matérias. Agradeço-lhes por isso, na medida em que, nos
dias de hoje, sinto que estou a par de mais acontecimentos que a maioria dos
adolescentes da minha idade. É necessário que tenhamos conhecimento da história
para que melhor entendamos o mundo que nos rodeia.
Por estas razões, vi
há uns dois ou três anos, com a minha irmã, o filme Bloody Sunday, da
realização de Paul Greengrass. É uma
representação muito fidedigna do famoso
massacre de Bogside em 1972, na Irlanda do Norte, que estava proibida de
qualquer tipo de protesto até ao final daquele ano.
Vinte mil manifestantes saíram à rua
e pretendiam
sair do bairro de Creggan em marcha pelas ruas católicas da cidade e chegar
até à Câmara Municipal. Porém,
foram intercetados por soldados ingleses que partiram para a ofensiva e
dispararam contra os manifestantes, a quem chamavam “Derry hooligans”/“arruaceiros
de Derry” (em Felizmente Há Luar!, aqueles que se opunham ao Governo
eram igualmente considerados arruaceiros).
Os irlandeses do norte, que
eram católicos, sentiam-se extremamente injustiçados devido à grande repressão de caráter político e policial, levada a cabo pelo
governo britânico, que era protestante. Estes atos de tirania refletiram-se na
vontade de derrubar ou,
pelo menos, de acabar com a situação de ingerência do governo britânico, de
devolver ao povo irlandês a sua liberdade, direito de questionar as medidas
tomadas no Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e de autodeterminação.
Em Felizmente
Há Luar!, uma situação similar sucede, uma vez que, no Reino, estão
três regentes: o Principal Sousa (símbolo
da religião), D. Miguel Forjaz (símbolo da nobreza) e o General Beresford.
O que mais nos interessa
para esta situação é precisamente o General Beresford: um oficial do exército, um “herege”, um “estrangeirado” inglês — como
lhe chamavam os portugueses, em especial do povo — que ficou incumbido de
reorganizar os nossos exércitos a troco de dinheiro.
Se, por um lado, o General
Beresford em Portugal pode ser encarado como a opressão
imposta da Inglaterra na Irlanda do Norte, o General Gomes Freire d’Andrade (um general adorado pelo povo e presumível
chefe de uma conjura contra o Governo) corresponde aos catorze irlandeses que
perderam a vida durante a manifestação de cariz pacífico e em prol dos direitos
civis, da honestidade e da
justiça, com ideias liberais.
São
assumidos (o General Gomes Freire d’Andrade e os manifestantes em Derry) como uma ameaça para o poder
político instituído e
um símbolo de revolta liberal, criando ódios e desejos de vingança, que resultam na
morte injusta e vil do General Gomes Freire d’Andrade e nos catorze
manifestantes inocentes apanhados pelas balas inglesas.
Como descritos no filme,
chamavam-lhes “key players”/“jogadores-chave”, aos manifestantes que
acabaram presos ou mortos. Na verdade, o General era também um “key player”,
porque só “afastado” (morto) deixaria de ser um problema para o Governo
Regente. Estes atos viriam a servir de lição àqueles que ousassem afrontar o poder político. Contudo, não só o filme acaba com a frase “We
shall overcome someday”/“Um dia triunfaremos”, mas, também, o IRA ganhou mais
força e adesão como nunca antes. No caso da peça, Matilde tem a última fala: “Felizmente
– felizmente há luar!”. Ambas as frases indiciam o início de outra era, em
busca de liberdade, em que os irlandeses e portugueses oprimidos começariam a
sua revolta contra a tirania.
Afonso
Afonso (Bom (-)) || Generation Iron 2
Terei já visto o primeiro Generation Iron; no entanto, o filme que vou comparar a Felizmente Há Luar! é o Generation Iron 2. Ainda não o vi mas,
pelo trailer e tempo que estou dentro do ambiente altamente competitivo do
culturismo, tenho uma visão nítida do que será o filme. Em relação ao primeiro,
é de 2013, mas só o vi este ano — nunca estive tão atento a um filme do início
ao fim –, enquanto o segundo saiu dia doze deste mês (maio). Sou um grande fã
do desporto e vejo-o como uma forma de arte, o que me leva para o meu primeiro
ponto.
Um grande impulsionador do
culturismo/bodybuilding foi Arnold Schwarzenegger, que ganhou a maior
competição a nível mundial (Mr. Olympia) sete vezes; e este desporto tem
progredindo até aos dias de hoje. Não tem sido uma grande atração para o
público em geral e, comparado com o futebol, nem lhe chega aos calcanhares em
termos de atividade e seguidores. Em Generation
Iron 2 é dito que o desporto está dentro de uma bolha e é verdade, pois
apenas segue a atividade quem realmente gosta e percebe como funciona, ao
contrário de outros desportos comerciais. Relacionando-o com Felizmente há Luar!, o bodybuilding é
comparável com o povo português, que vive na miséria e pobreza, com uma
mentalidade revolucionária e agressiva para com os das mais altas patentes.
Penso que estão também dentro de uma bolha própria, longe de saberem o que se
passa no país.
Na obra de Luís de Sttau Monteiro destaca-se uma
personagem pelas piores razões. Vicente simboliza a maldade, o oportunismo e a
falsidade humana e, no filme, estes defeitos são encontrados no mundo dos
suplementos. É mencionado que muitas celebridades do culturismo aproveitam a
ignorância das massas em relação à saúde e bem-estar para lhes venderem os
suplementes que irão (supostamente) dar-lhes o corpo que sempre desejaram.
Faz-me lembrar os comprimidos para a queima de gordura que dizem, a letras
pequeninas, que só funcionam acompanhados de uma alimentação saudável e
equilibrada e a prática regular de atividade física. Não é preciso gastar
dinheiro em comprimidos para saber o que realmente resulta. As ações de Vicente
mataram um general amado pelo povo que é comparável com a quantidade de gente
ingénua que caiu nas armadilhas do mundo do fitness.
Na vida luta-se pelo que se quer. Quem melhor
para representar esta qualidade que Matilde, esposa do General Gomes Freire
Andrade? Talvez um dos maiores focos do filme seja a tremenda quantidade de
disciplina, consistência, tortura e sofrimento a que um bodybuilder se sujeita
para pisar o palco em condições. Quando um atleta dedicado ao culturismo tem
uma competição marcada, toda a sua vida é condicionada pela mesma, desde o
plano de dieta, que tem de seguir todos os dias, até às horas que passa no
ginásio a treinar — e sem se esquecer de dormir oito horas ou mais por noite.
Esta paixão pelo desporto faz lembrar o amor de Matilde pelo general (“troco a
minha vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada
de todos, mas, a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha”, pp. 97-98).
Foi falar com Beresford, pediu ajuda ao povo, acusou o Principal Sousa de ir
contra a mensagem de Deus e ainda tentou convencer D. Miguel para que não
matasse o seu marido. Apesar do insucesso, é evidente a luta de Matilde, que
desistiu, o que me leva ao meu último ponto.
No filme, ao falar-se da dificuldade do
culturismo, é fácil imaginar qual não seria a frustração por parte dos
profissionais que não ganham, visto que apenas um pode sair vitorioso. Na alta
competição, principalmente, sabe-se que tiveram todos de passar pelo inferno
para chegarem à condição física com que se apresentam em palco e não é justo
tantas semanas de trabalho resultarem, por exemplo, num oitavo lugar (“o que
luta por uma vida digna e acaba na forca”, p. 83). O culturismo é, muitas
vezes, um desporto ingrato, pois a maior parte das competições exigem dinheiro
para nelas se participar, a maioria dos culturistas não voltam a ver o dinheiro
que investiram e ficam a pensar que toda a preparação terá sido em vão. Isto é
comparável à situação política em Felizmente
há Luar! pelo desespero do povo e suas ações numa tentativa de melhorar as
suas condições de vida. O seu esforço poderia ser poupado pois um governo
corrupto torna a mudança impossível.
Kristina
Kristina
(Suficiente (-)/Suficiente) || The Hunger
Games
Normalmente, fazem-se filmes com base em livros, e mesmo aí parecem duas
histórias diferentes. Costumamos imaginar as personagens da maneira que nos
apetece durante a leitura e ficamos espantados quando nos aparece um ator
estranho a interpretar o seu papel. É-me
estranho fazer comparações entre livros ou filmes e, ainda mais, entre um livro
e um filme. Porém, durante a leitura de Felizmente
Há Luar!, lembrei-me várias vezes do filme The Hunger Games.
A obra de Sttau Monteiro começa por introduzir a perceção do ambiente
pré-revolucionário e a opinião da população quanto ao meio onde vive,o que se
estende pelo primeiro ato. Apercebemo-nos de que as pessoas se encontram com
medo mas com desejo da mudança.
The
Hunguer Games
é um filme baseado em quatro livros correspondentes aos quatro filmes com o
mesmo nome e com subtitulo consoante o volume do livro. O primeiro filme
introduz o ambiente pré-revolucionário e mostra um regime ditatorial em que são
organizados jogos mortais anualmente, onde os participantes são dois jovens, um
rapaz e uma rapariga, de cada um dos doze distritos. A revolução inicia-se
quando a personagem principal se voluntaria para a representação do décimo
segundo distrito para salvar a irmã e durante o “festival”, ganha intimidade
com o rapaz do seu distrito. A luta pela liberdade inicia-se com a vitória
forçada pela primeira vez, de dois participantes.
A personagem principal lembra Matilde pela sua
força e vontade de proteger o mais próximo. Tal como Katniss, Matilde lutou e
quase não se importava de oferecer a sua vida pelo bem do seu marido — “Não vos
peço nada para mim. Mais: troco a minha vida pela dele!”, Felizmente Há Luar!, p. 97 —, do mesmo modo que se voluntariou Katniss
para não levarem a irmã.
Para além disso, as personagens são semelhantes
ainda por serem duas mulheres sem medo para iniciar a mudança. Matilde, inicialmente, pediu a Beresford para
libertarem o marido e, depois, para lhe darem pelo menos uma morte digna, o que
lhe foi rejeitado. Depois, tentou incentivar o povo a ação e a luta pela
liberdade e mudança, tal como Katniss, que era a “imagem” da revolução, da
mudança e da liberdade.
Porém, também associei Katniss ao general Gomes
Freire d’Andrade, na medida em que era a “cara da conspiração”, mais
concretamente, uma vítima de membros do estado que escolheram o alvo perfeito
consoante certas características : “ lúcido, inteligente, idolatrado pelo povo,
soldado brilhante ” (Felizmente Há Luar!,
p.71).
Tal como no filme, em Felizmente Há Luar!, o som é sinal de aproximação das autoridades.
Na obra o som dos tambores aterroriza a população, enquanto que, no filme, a
reação é a mesma por introduzir a proclamação do nome dos jovens mortos durante
o dia.
As histórias são parecidas entre si em vários
aspetos, como o tema, o ambiente, o problema tratado e o facto de a personagem
principal do filme conjugar em si várias personagens da obra. Mesmo o desenrolar
da ação é semelhante e pode-se dizer que, inicialmente, há uma demonstração do
problema a partir do contentamento da população, passando por uma vontade de
revolta e adoção de um líder. Porém, a finalidade do filme e da obra são
diferentes.
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