Comentário a filme e Felizmente há luar! no 12.º 7.ª
As classificações são,
em geral, as da primeira versão. Quanto à segunda versão, verifiquei apenas se
foram contempladas as emendas que aconselhara (note-se que, se essa
reformulação estiver desleixada, a nota pode baixar).
Anastasiia
Anastasiia
(Muito Bom) ||복수는 나의 것 [A vingança é minha] (Em nome da
vingança)
Verão de 2016. A Criada de Park Chan-wook revoluciona
o Festival de Cannes com a sua cinematografia elegante e exótica, combinando tensão psicológica
do enredo com a crueza emocional da atuação das atrizes principais. Depois de
uma breve consulta do portfólio do realizador sul-coreano, reconheci nele o
autor da famosa "Trilogia da Vingança" – obra-prima
de Park, reconhecida mundialmente como um dos pilares do cinema
oriental. Em
nome da vingança,
sendo o primeiro dos filmes da série, iniciou, então, a minha familiarização
com quem, mais tarde, se tornaria um dos meus artistas mais estimados.
Desde o início, o que
diferenciou as obras de Park da corrente dominante – tanto no seu "terreno
familiar" como entre os
outros realizadores internacionais de thriller – foi a articulação
paradoxal entre as situações vulgares e as imagens poeticamente construídas que
as representam: não se despreza a exposição de Ruy, o protagonista surdo-mudo,
suado e sujo ao fim do seu dia de trabalho na fábrica de chumbo, porém envolvido num panorama sofisticado em termos de formas
geométricas e cromáticas. Da mesma forma, embora com uma franqueza mais
exagerada (em função do estilo literário), os pobres de Felizmente, há luar! representam uma pobreza sincera – são gente rude e endurecida, humilhada e
sem intenções heroicas inúteis, para quais não têm energia, devido à fome em que
vivem desde a nascença.
Entre outros aspetos mais
genéricos que parecem aproximar estas duas obras, destaca-se também a
particularidade dos seus títulos. Felizmente, há luar!, enquanto fala integrada no texto, é proferida exatamente duas
vezes, mas em circunstâncias tragicamente opostas; são, simultaneamente,
perguntas e respostas, com que os leitores se deparam no fim da peça. Será
que é melhor notarmos as atrocidades que o Homem comete no mundo? É crucial olharmos e vermos as
atrocidades da Humanidade. Já com A vingança é minha surge a questão da subjetividade fundamental da
vida; a vingança, tal como a paixão, ódio, fraqueza e honestidade, é tão
interior a cada um de nós, que a polémica da justiça acaba por esmagar todas e
qualquer tese existencialista sobre o assunto com a pura vastidão das opções.
Em termos de paralelismos
diretos entre as obras, o mais evidente é a relação entre as personagens de Ruy
e do General Gomes Freire, e os seus adversários – Dongjin e
Beresford, respetivamente.
Tal como Gomes Freire d'Andrade, Ruy é um homem
"incómodo": apesar dos, ou mesmo devido aos problemas de saúde da sua
irmã, é despedido da fábrica, onde ganhava o mínimo para a sobrevivência.
É um simples operário; ainda
por cima, um surdo-mudo, o que, para uma grande empresa capitalista, representa
mais um fardo adicional. A
inconveniência do omnipresente general, por sua vez, deve-se à sua
reputação e à influência que tem sobre o povo. Ambos os homens são punidos
pelas situações fora do seu controlo: um é a vítima da sua condição natural, o
outro sofre pelo poder que ganhou involuntariamente. São rejeitados pelo
sistema em termos sociais e políticos, caindo na
pobreza, onde encontram
o seu fim.
Na ficção de Park, o
relativismo moral é agressivo e intencional – um apelo à reflexão, interna e
interpessoal. Entretanto, na primeira parte do filme, em que o despedimento de
Ruy é imputado a Dongjin – o
presidente da corporação, rico e vão – a sua personagem é
encarada de uma forma negativa, o que, para além de ser técnica de narração, também constitui uma clara crítica
social. Quanto ao marechal Beresford, a sua origem estrangeira e a posição
condicionada puramente pelos
interesses pessoais fazem com que, relativamente ao resto dos antagonistas,
sobressaia devido à lógica e à pureza cruel das suas convicções. No contexto em
que se encontram, tanto Dongjin como Beresford são motivados pela sua vingança: para o empresário coreano, o responsável pela morte
(embora não intencional) da sua filha tem de levar a devida punição,
equivalente aos sofrimentos da família; já o militar britânico procura eliminar
o responsável pela perda de autoridade que sofreu apesar dos “sacrifícios
do presente" que ultrapassou para assumir um cargo tão elevado num país
estrangeiro.
O culminar das narrativas,
marcado pela morte dos heróis "positivos", torna as obras de Park e Sttau Monteiro
em lições sobre as realidades do mundo, em que o bem e o mal são
relativos, e não podem existir um sem o outro.
Miguel S.
Miguel S. (Suficiente (+)) || Invictus
Terei visto Invictus pouco depois da sua estreia em
cinema, em 2009. Lembro-me de ter ido ao cinema, pouco depois de o filme ter
saído, coisa que já não costumo fazer, devido ao desenvolvimento da tecnologia,
já que não necessito de pagar bilhete para ver um filme, quando o posso ver em
casa.
Foi o segundo ou
terceiro filme que vi numa sala de cinema, depois de um longo tempo. Lembro-me
até que, nessa altura, os meus pais tinham arranjado bilhetes, por o filme
relatar parte da história de vida de Nelson Mandela e de como conseguiu unir o
povo sul africano apenas através da seleção de rugby, no campeonato do mundo de
1995. Isto numa altura em que a África do Sul vivia num período de racismo,
conhecido como «apartheid».
Todo o filme é
fascinante, desde o enredo das personagens à história em si. Conseguimos
associar a figura de Nelson Mandela à de Matilde em Felizmente há luar! num processo em que ambas as figuras saem
derrotadas, mas não conformadas por não pactuarem com a injustiça: são
personagens que admiramos pelos seus comportamentos e atos.
Morgan Freeman representa
Nelson Mandela, protagonista de Invictus,
e Matt Damon, segundo protagonista, se assim o podemos designar, representa
François Pienaar, capitão da seleção nacional de rugby da África do Sul,
Springboks. Ambos representam a revolta, embora não expressa tão ferozmente
como em Felizmente há luar!. A ação
de Mandela e Pienaar é considerada heroica, depois da eleição de Nelson Mandela
como primeiro presidente negro da África do Sul, após o fim do apartheid.
Através da sua eleição consegue unir o povo a partir do rugby, separando as
questões raciais vividas até aí. Pienaar, capitão dos Springboks, é figura
equivalente à do General Gomes Freire de Andrade, herói de Felizmente há luar!, considerado como o único que pode salvar a
nação dos Ingleses.
Tanto em Felizmente há luar! como em Invictus o herói é recordado como o
salvador da nação, apesar de Gomes Freire ter sido morto em Felizmente há luar!. Mandela e Pienaar
vencem o campeonato do mundo contra a Nova Zelândia, a seleção mais bem
sucedida do mundo até então. Assim, os finais afastam-se um do outro,
proporcionado a disparidade entre o bem e o mal.
Em ambos, há uma
linha passional de união contra o poder e contra a injustiça. No filme nota-se
perfeitamente, à medida que avançamos na história, o amor de Nelson Mandela
pelo país e pelo seu povo, querendo mudar o rumo e a história do país até
então. Na peça realça-se o amor de Matilde por Gomes Freire, na sua luta, sem
efeito algum, pela defesa do marido e pela nação portuguesa. Matilde é uma
personagem bastante emotiva e, através da sua força, tenta acordar o povo para
a situação que se vive no país.
Beatriz B.
Beatriz
B. (Suficiente +) || Titanic
Após leitura da obra Felizmente há luar!, é possível encontrar semelhanças da peça com o
filme Titanic e entre as respetivas
personagens. Na obra de Luís de Sttau Monteiro temos Matilde, mulher do general
Gomes Freire da Costa, que apresenta semelhanças com a Rose de Titanic; o general Gomes Freire, que
apresenta semelhanças com Jack; e Morais Sarmento e Andrade Corvo, que
correspondem a Cal Hockley e Spicer Lovejoy no filme.
Ao longo do Ato I é possível afirmar que existe
uma personagem que, mesmo sem nunca fazer parte da obra, é a personagem mais
presente. No início, estamos perante uma conversa entre um Antigo Soldado,
Manuel, Rita e Vicente, que falam sobre a guerra e dos generais, principalmente
de Gomes Freire. Se, por um lado, Manuel, Rita e o Antigo soldado mostram
compaixão e defendem o general (“Um amigo do povo! Um homem às direitas! Quem
fez aquele não fez outro igual…”, p.20), Vicente refuta todos os argumentos
dados, dizendo mal do general e alegando ainda que “essa gente é toda igual… O
que interessa a uns, interessa a outros” p. 24. Com o desenvolver da obra,
vemos que Vicente é promovido a Chefe de polícia por D. Miguel, primo do
general Gomes Freire (“Interessa-lhe a chefia dum posto de polícia?”, p. 38),
com a função de vigiar as entradas e saídas da casa do general, por um rumor de
revolução que circulava pela boca do povo. Sensivelmente a meio do Ato I,
aparecem duas personagens, Morais Sarmento e Andrade Corvo, que foram os
responsáveis pela denúncia (sem provas) de Gomes Freire a seu primo, D. Miguel.
No filme, ocorre uma situação semelhante. Titanic baseia-se numa história de amor
proibido entre a jovem comprometida com Hockley, Rose e Jack, um jovem pobre
sem dinheiro, sem casa e sem família, um jovem que se guiava por onde a vida o
levasse. No meio da sua paixão proibida, acabam por se envolver e, como
vingança, Cal Hockley manda o seu guarda-costas, Lovejoy, pôr um colar, no
valor de milhares de dólares e que tinha dado a Rose na noite anterior, no
bolso do casaco de Jack para que o mesmo fosse apanhado e preso pela polícia do
navio. Após ser apanhado com o colar, já depois de o navio ter embatido contra
o iceberg, é levado pelos polícias para uma sala no fim do navio para que
ficasse lá preso. No meio de tanta confusão, a pobre Rose duvida da honestidade
de Jack, acabando por pouco tempo depois se aperceber do erro que tinha
cometido, fazendo de tudo ao seu alcance para salvar Jack. Matilde, de Felizmente há luar!, após se aperceber
de que o seu marido fora condenado por conspirar uma revolução (“Esta madrugada
prenderam Gomes Freire… Levaram-no, escoltado, para S. Julião da Barra.”, p.79)
tenta falar com as pessoas do poder, como o Principal Sousa e D. Miguel. Voltando
a Titanic, após Rose conseguir salvar
Jack, o seu desfecho não foi feliz. Com o afundamento do navio, os dois jovens
caem à água numa angústia, bem como todas as pessoas que caíram ao mesmo tempo.
Conseguem encontrar um pedaço de madeira que só permite o peso de uma pessoa,
ficando Jack no meio da água do Atlântico. Com o passar dos minutos, Jack pediu
a Rose para não desistir “agora”, porque iria morrer “bem velhinha na sua
cama”. Rose conseguiu manter-se viva até os barcos de salvamento voltarem, mas,
infelizmente, o seu amado morreu na água, ainda que sem Rose ter desistido dele
ou até mesmo sem o esquecer.
No final de Felizmente
há Luar!, Matilde adivinha o marido, Gomes Freire, a ser executado, no
entanto, nunca desiste do mesmo (“Adeus, meu amor, adeus. Adeus! Adeus! Adeus!
[…] Felizmente —
felizmente há luar!”, p. 140).
Givaldo
Givaldo (Bom) || Selma (Selma — A Marcha da Liberdade)
Há certas obras que
nos preenchem, completam-nos pelo seu valor histórico; por aquilo que nos fazem
sentir e refletir. É o caso de Felizmente
Há Luar! e Selma — A Marcha da
Liberdade. Este filme vi-o em maio deste ano, mas foi lançado em novembro
de 2014.
E esta última obra
(Selma) reflete-se na primeira (Felizmente Há Luar!), retratam a vileza
da opressão e desumanidade, algo transcendente a todos os contextos históricos,
civilizacionais e espaços. A peça mostra-nos Portugal do século XIX e o seu
caos político, nela temos a busca por valores essenciais: a igualdade, a
liberdade e a dignidade. Assim, surge o general Gomes Freire de Andrade, que dá
carne e voz por estes ideais. Apesar de nunca estar presente fisicamente, deixa
sua presença em toda a obra. É de frisar que esta encenação coberta de valores
morais foi escrita durante a ditadura salazarista, o que salienta a posição do
autor e as suas intenções, como também faz redobrar a perceção da opressão
sentida através desta obra.
Já o filme, leva-nos
até aos EUA, na década de 60. O foco recai sobre o ativista Martin Luther King
Jr. e acompanha-o na sua busca pelos direitos eleitorais igualitários para a
comunidade afro-americana. Em destaque temos a sua atitude, palavras e
perseverança. Martin reúne os seus e aqueles que se identificam com as suas
convicções para marchar, aliás, é a marcha entre a cidade de Selma, no interior
do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, que dá título ao filme.
Colocado em síntese, tudo parece simples, contudo o processo foi árduo. Entre
as peripécias estão o imobilismo politico, a segregação racial e a violência.
Estando as obras
apresentadas, vemos como os fios condutores se entrelaçam. Tudo aquilo que o
General era e simboliza também o era Martin Luther King. Se o General era
símbolo da luta pela liberdade, Martin também; se o General era um homem
integro, que recusou a subserviência, Martin também. No início de Felizmente Há Luar! o Antigo Soldado
disse: “Um amigo do povo! Um homem às direitas! Quem fez aquele não fez outro
igual…” (p. 20). Estes homens do povo, figuras simétricas em dignidade,
debateram-se por aquilo em que acreditavam, e o General, apesar de não estar
presente, dava alento e conforto aos que o seguiam, e o mesmo efeito tinham as
palavras de Martin. Deixaram-nos um sonho, um sonho que não cabe só a Sigmund
Freud analisar, mas a todos nós, pois a liberdade é um sonho que todos temos o
direito de viver. Matilde de Melo corresponde a Coretta King, ambas esposas e
com um papel decisivo ao lado dos protagonistas. Matilde foi humilhada por
Beresford e Coretta recebeu diversas ameaças, tentaram demovê-las, mas estas
mantiveram-se firmes ao lado dos seus homens. Em relação ao antagonismo, temos
o presidente Lyndon B. Johnson que nos remete para o Principal Sousa: ambos
sabiam que o contexto em que vivem estava totalmente errado, e, mesmo tendo a
consciência disso, como nos é demonstrado pelo Principal (“Não me agrada a
condenação dum inocente.”, p. 61), nada fazem, pois é-lhes conveniente proceder
assim. O Principal, para manter o seu estatuto, e o presidente, por não ser a
“altura adequada”. É George Wallace que nos traz a personagem de Beresford,
ambos frios e calculistas.
Em suma, as duas
obras apresentam uma grande similaridade, quer no contexto histórico como nas
personagens. A dicotomia entre a liberdade/opressão salienta-se até ao final
das duas obras, tendo Felizmente Há Luar!
um final mais dramático, já que o General morre nas mãos dos opressores,
enquanto que, no filme, Martin Luther King conquista o seu objetivo. O povo
difere: na peça, nunca se chega a unir realmente; no filme, a união acontece e
graças a ela tem um desfecho feliz.— Quem sabe, se o mesmo sucedesse na peça,
se esta também não teria um final diferente? Ambas as obras assentam na crença
dos protagonistas e nos seus cônjuges. As obras carregam um enorme teor
reflexivo que nos recorda as lutas travadas em prol das nossas garantias.
Demonstram que temos de ser persistentes e que a mudança começa em nós, pois,
por mais escura que seja a noite, a lua levanta-se sempre. Felizmente há luar!
Tomás
Tomás (Bom -/Bom (-)) ||
Danton (Danton, o Processo da Revolução)
Tendo particular interesse em filmes históricos
como tenho, não me foi difícil descobrir o filme Danton, o Processo da Revolução. Não o tendo encontrado nas lojas
normais, acabei por visioná-lo no computador, através de um site um pouco
duvidoso.
O filme retrata o período de terror vivido
durante a radicalização revolucionária dos jacobinos, liderada por Robespierre,
que iniciou um período de violência, com execuções constantes e manipulação de julgamentos.
Em relação a Felizmente há Luar!,
destacam-se como representantes do povo, digamos assim, Manuel e Rita, dois
populares e Vicente. Os temas de conversa estavam relacionados ou com a miséria
em que viviam ou com o General Gomes Freire de Andrade, que era idolatrado por
todos, exceto por Vicente. Mais tarde, chegam dois polícias que levam Vicente
ao Governador do Reino, D. Miguel, ao Principal Sousa, o representante da
Igreja, e ao Marechal Beresford. Vicente é questionado sobre a existência de um
possível agitador político entre os populares. Vicente fica então incumbido de
estar alerta entre os populares, de vigiar a casa do General Gomes Freire de
Andrade e de os ir informando sobre novos desenvolvimentos. Os governadores do
Reino, procuram um culpado que possam punir pelas novas ideias liberais de
alterar o poder instituído por Beresford, D. Miguel e Principal Sousa. E esse
culpado era o General Gomes Freire de Andrade, que liderava uma conspiração
para que o Rei D. João VI regressasse do Brasil e era contra a presença
inglesa. Acabou por ser apanhado e preso, tendo sido acusado de traição à
pátria. Sousa Falcão, que tinha ido saber notícias do General Gomes Freire de
Andrade, informa Matilde de que ninguém o pode ver. Matilde, mais tarde, tenta
dissuadir Principal Sousa, mostrando que o seu comportamento contraria os
ensinamentos de Deus, mas este acaba por ignorá-la.
O General Gomes Freire de Andrade, acaba
queimado publicamente, enquanto Lisboa inteira assistia. Daí que a figura
principal seja o General Gomes Freire de Andrade “que está sempre presente
embora nunca apareça”. Para os governadores era uma forma de dissuadir os
restantes conspiradores, mas, para Matilde de Melo, era um sinal para
prosseguir na luta pela liberdade e pelos seus ideais. Matilde, depois de se
despedir do General, virada para a multidão, diz: “Olhem bem! Limpem os olhos
no clarão daquela fogueira, felizmente há luar”. Podemos dizer que Danton
equivale ao General Gomes Freire de Andrade: ambos são líderes revolucionários,
criticam os rumos do movimento e acabaram por ser os dois vítimas da repressão.
Danton foi reprimido por Robespierre e o General Gomes Freire de Andrade, por
D. Miguel e restante regência.
No filme, tanto Robespierre como Danton, eram
inicialmente moderados mas acabaram por radicalizar as suas posições em
consequência da pressão dos seus assessores. No entanto, há um facto
interessante: enquanto que no filme Robespierre tenta convencer Danton a
apoiá-lo, na peça, D. Miguel não tenta convencer o seu primo a apoiá-lo e parte
logo para a perseguição. Também no filme, Danton e os colegas têm direito a um
julgamento e, na peça, o pedido de julgamento por parte de Matilde não foi
aceite. No entanto, em ambos os casos, os líderes revolucionários acabam na
guilhotina, Danton gritou ainda que, dentro de três meses, Robespierre iria
pelo mesmo caminho, o que acabou por acontecer.
Concluindo, obviamente que a Revolução Francesa
e o Reino do Terror não se resumiram a isto, ou seja, àquilo que é retratado no
filme e na peça. sta é mais uma forma de fazer as pessoas refletir sobre ideais
revolucionários.
Nathalia
Nathalia (Suficiente (+)) || Suffragette
(As Sufragistas)
Apesar de representarem
épocas distintas, a peça Felizmente há
luar! e o filme As Sufragistas têm
traços em comum. A obra dramática publicada em 1961 denuncia a opressão vivida
na época de elaboração da obra, durante a ditadura de Salazar, que durou 48
anos sem interrupção, finalizando somente com a Revolução dos Cravos. Coincide
então com o filme As Sufragistas, que
lutavam por conceitos de igualdade e liberdade.
Para “contracenar”
com a luta das mulheres no século XX por liberdade de expressão perante a
sociedade e igualdade perante a politica, pode-se destacar Gomes Freire de
Andrade, um protagonista, embora não apareça, um homem que defende sobretudo a
liberdade e acredita na justiça.
No filme, Maud Watts é
uma protagonista, acomodada à sua vida quotidiana, trabalho, casa, filhos, sem
liberdade de expressão e acostumada com tal, acreditando (sem muito
questionamento) ser normal. É natural para Maud aceitar as péssimas
condições de trabalho que lhe são impostas. É natural para Maud acreditar que
ela deve ser grata ao patrão que a explora desde a mais tenra infância e chega
até mesmo a abusar sexualmente dela e de suas companheiras de jornada. É
natural para Maud sentir-se inferior.
Em
relação ao livro, percebe-se que a história serve de pretexto para uma reflexão
sobre os anos 60 do século XX. Sttau Monteiro foi perseguido pela PIDE,
denunciou desta forma então a situação portuguesa diante da ditadura
Salazarista. Tal como a conspiração em 1817, em vez de desaparecer com medo dos
opressores, permitiu o triunfo do liberalismo, também a oposição ao regime
vigente nos anos 60, em vez de ceder perante a ameaça, resistiu e levou à
implementação da democracia.
Em Felizmente há luar! verificamos os objectivos de Sttau Monteiro face à
evocação de situações do passado, usando-as como pretexto para falar do
presente (1961) e, assim, pôr em evidência a luta do ser humano contra a
tirania, a opressão, a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição.
Voltando
ao enredo cinematográfico, no decorrer da ação Maud decidi declarar-se
sufragista, e desde aí o filme nos mostra uma Maud totalmente diferente da do
início e cada vez mais militante, ajudando a criar e distribuir jornais
escritos por elas (já que os jornais oficiais nunca publicavam suas petições) e
até agindo de forma mais violenta, como causando algumas explosões, todas
feitas no intuito de chamar a atenção da mídia, como também podemos analisar na
obra literária, em que por sua vez houve, repressão e censura face à realidade
abordada por Sttau Monteiro.
Para
que o movimento liberal se concretize, é necessária a morte de Gomes Freire,
dos seus companheiros e também de muitos portugueses, que, em nome dos seus
ideais são sacrificados pela pátria. Conspiradores e traidores para o poder e
para as classes dominantes, que sentem os privilégios ameaçados, são os grandes
heróis de que o povo precisa para reclamar a justiça. Por isso, a sua morte, em
vez de amedrontar, torna-se num estímulo. A fogueira acesa para queimar os
restos mortais Gomes Freire serve de luz
para que os oprimidos e injustiçados lutem pela liberdade. Tal como no livro,
vemos sacrifícios realizados pelas mulheres, que durante muitos anos lutaram
por igualdade, foram presas e até mortas, tudo isto, com o objectivo de
implantar a igualdade e a justiça. Em Felizmente
há luar! e em As Sufragistas,
vemos pessoas, dispostas a lutar, reivindicar e adquirir direitos, com muito
esforço e sacrifício, conseguindo então, o tão dedicado objetivo, mesmo que
para isso seja necessária a morte.
Rebeca
Rebeca (Suficiente +) ||
Marie Antoinette
A obra Felizmente
Há Luar! passa-se num período em que Portugal estava a ser governado por
representantes do clero, alta nobreza e pela aristocracia inglesa. Não tendo o
rei por perto, que estava no Brasil, o governo português ficou à mercê de uma
elite que só se preocupava com o seu próprio interesse, sem nunca pensar na
maioria de condição inferior, o povo.
Escolhi o filme Marie Antoinette, pois não só retrata a Revolução Francesa, tema a
que também se alude na obra de Luís de Sttau Monteiro, como exerce uma crítica
social à mais alta patente da sociedade contemporânea, a nobreza.
A Revolução Francesa foi um período muito
importante não só para França como também para outros países da Europa (que se
inspiraram nessa revolução e desejaram o mesmo para o seu país). Foi a partir
dessa altura que se iniciaram os primeiros passos de liberdade e defesa dos
direitos humanos.
Também na obra Felizmente há Luar! são feitas várias críticas sociais, não só ao
clero (representado pelo principal Sousa), como também à nobreza portuguesa e
inglesa (representados por D. Miguel Forjaz e Beresford, respetivamente). No
entanto, na obra, não é só a elite que é “condenada” mas também o povo
(representado por Vicente, Morais Sarmento e Andrade Corvo).
Como já tinha referido, na obra são feitas
várias alusões à revolução francesa por exemplo na fala de Principal Sousa: “que
o senhor, um dia, perdoe o ódio que tenho aos Franceses... Veja, Sr. D. Miguel,
como eles transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de
revoltados!... Dizem-me que se fala abertamente em guilhotinas e que o povo
canta pelas ruas canções subversivas” (p. 40). Desta fala podemos concluir que
a “revolução” que estava a acontecer em Portugal foi inspirada pela revolução
francesa, tal como em tantos outros países da Europa.
Tanto no filme Marie Antoinette como na obra Felizmente
há Luar!, a classe social mais prejudicada é o povo. Viviam em condições
miseráveis de pobreza extrema (fala de Vicente: “Tu, José: Tens sete filhos com
fome e com frio e vais para casa de mãos a abanar... E tu, que não comes desde
ontem... nenhum de vocês tem um teto que o abrigue no inverno, nenhum de vocês
tem onde cair morto”, p. 21). No filme o povo só é representado no final quando
estão a invadir o palácio de Versalhes; no entanto, ao longo do enredo a rainha
Antoinette e o rei Luiz XVI vão recebendo notícias sobre a condição miserável
de pobreza e fome em que se encontra o povo. Tal como em Portugal, os
representantes franceses não mostram nenhum interesse pelo “seu” povo. No filme
está representado aquilo em que Marie Antoinette gastava o dinheiro do reino:
joalharia luxuosa, tecidos caros e festas luxuosas repletas de comida (os
excessos de comida eram capazes de alimentar algumas pessoas do povo que
morriam de fome).
Tanto o filme como a obra exercem uma crítica à
sociedade daquele tempo. Ambos representam os dois extremos da sociedade: a
nobreza e clero, que vivem uma vida repleta de luxo e despreocupações e o povo
que vive na miséria, privado de qualquer liberdade e a morrer à fome.
Carolina
Carolina (Suficiente -/Insuficiente +) || Atonement (Expiação)
O filme Atonement tem ao longo da ação cenas
bastantes parecidas com algumas partes do livro Felizmente ao luar! . Sendo histórias completamente diferentes há
bastantes elos entre o livro e o filme, uma das razões de ter escolhido este
filme para este trabalho. Este filme também foi visto em aula e considerei-o
interessante, por representar uma realidade de antigamente, de meados do séc.
XX.
No livro Felizmente há luar há uma personagem
chamada Gomes Freire de Andrade, que, mesmo não entrando nenhuma vez em cena, é
uma das personagens centrais, sendo referido pela maioria das personagens
recorrentemente. Esta personagem acaba por ser acusada injustamente por algo
que não fez, devido a ser necessário encontrar alguém sobre quem colocar as
culpas de uma revolta alegada. É neste contexto que Andrade Corvo e Morais
Sarmento denunciam Gomes Freire de Andrade “Um só nome está na boca de toda a
gente”; “ O nome do General Gomes Freire de Andrade”. Esta personagem acaba por
ser presa, deixando a sua mulher Matilde completamente desesperada, pois sabia
que Gomes Freire não tinha feito nada para ser preso. Gomes Freire é condenado
à morte para desespero de sua mulher que suplica pela vida dele, mas as suas
súplicas são em vão, pois Gomes Freire de Andrade acaba por ser condenado à
morte (“É o fim…Quando virmos, la em baixo, o clarão da fogueira, já ele
morreu…”).
No filme Atonement as personagens principais
Cecília e Robbie apaixonam-se, sendo um amor proibido, pois ele era o filho de
um antigo empregado da família. Cecília tem uma irmã chamada Briony que também
está apaixonada por Robbie. Esta paixão que nutre por ele e o facto de não ser
correspondida acaba por se tornar numa obsessão que leva a que Briony o acuse
injustamente às autoridades de ter tentado violar uma rapariga chamada Lola,
pois ela não tinha visto a cara do agressor, sendo impossível saber quem violou
Lola, percebendo-se que foi uma acusação sem fundamento. Ao se saber desta
suposta tentativa de violação, Robbie é algemado e condenado a uma pena de
prisão para desespero de Cecília que não poderia fazer nada para impedir.
Cecília, ao longo dos anos acabou por ir escrevendo imensas cartas a Robbie
para tentar comunicar com ele, visto que não o podia visitar. Estas duas
personagens acabam por se encontrar anos mais tarde e tentam viver o amor que
nutrem um pelo outro mas acabam por ser afastados novamente. Em Felizmente há luar! a personagem também
acaba por morrer, mas, ao contrário do livro, Robbie acaba por falecer devido a
uma doença.
Ambas as histórias
são bastantes diferentes mas com alguns pontos em comum, como a acusação
injusta a duas personagens, que, mesmo não tento feito nada, são condenadas por
crimes que não cometeram, e sujeitos à pena de prisão, deixando as pessoas que
amam completamente desesperadas e devastadas com esta atrocidade. Ambas as
personagens acabam por morrer, um condenado à morte, outro por doença. Se ambas
as personagens não tivessem sido acusadas injustamente por meros caprichos de
outras personagens, o desfecho de uma e de outra história podia ter sido
completamente diferente.
Débora
Débora (Suficiente
+/Suficiente (+)) || Slumdog Millionaire
(Quem quer ser milionário?)
A primeira vez que vi este filme, Quem quer ser milionário? (Slumdog
Millionaire) devia ter uns 9 ou 10 anos e lembro-me de que o fui ver ao
cinema com a minha mãe e com o meu irmão mais velho. O porquê de ter sido este
filme o escolhido não sei, era nova demais para caprichar um filme a meu gosto,
pois com certeza seria um filme para crianças sem qualquer interesse para a
minha mãe e irmão. Foi certamente uma boa escolha pois é um filme que emociona
qualquer pessoa e com uma história interessante: não se afasta da realidade e
por isso nos faz pensar e refletir.
No filme luta de classes é evidente durante toda a ação e em Felizmente
há luar! também o é.
A vida da personagem principal do filme, Jamal Malik, é o assunto do
princípio ao fim. Ele teve uma infância muito difícil, lidou com violência e
miséria e, desde muito pequeno, viu a sua mãe ser assassinada por Hindus; tal
como Matilde viu o seu marido General Gomes Freire d'Andrade a ser executado.
Podemos relacionar a figura de Jamal, do filme, com a figura de Matilde,
do livro. As duas personagens caracterizam-se por serem puras e, quando veem os
seus entes queridos a morrerem, não baixaram os braços e sempre lutaram pelas
suas vidas. Uma semelhança a referir é também a proteção que estes sempre
tentaram ter com os seus amores. Jamal protegia Latika e Matilde, Gomes Freire,
tanto que nas duas histórias estes pares amorosos passam a maior parte do tempo
afastados.
É possível relacionar o jogo a que Jamal concorre, e o "jogo da
vida" presente em toda a peça de Felizmente há luar!. Apenas alguns
o conseguem ver com seriedade: Jamal, porque necessita de dinheiro e quer que
Latika o veja; e os revolucionários do livro, que consideram que a situação em
Portugal é insuportável e tem de ser mudada. É por amor que eles o fazem...
Jamal porque amava Latika já desde miúdo e queria que ela o visse no espetáculo
e que fosse ao seu encontro; e, em Felizmente há luar!, por amor à
pátria, a Portugal.
Um detalhe importante que não posso deixar escapar é o sarcasmo
existente em duas personagens, no apresentador do programa televisivo em que
Jamal se encontra e em Beresford.
Em ambas as histórias a linha passional não é tão relevante, mas a
diferença de classes, de poder e a injustiça que é retratada do início ao fim.
É o dinheiro e o jogo de poder que fazem a história e a vida. Em Felizmente
há luar! existem dois denunciantes que fazem tudo por dinheiro, Morais
Sarmento e Andrade Corvo, tal como Beresford, que apenas se encontra em
Portugal para organizar o exército em troca de dinheiro "Troco os meus
serviços por dinheiro, Excelência." (p. 58). E, em Quem quer ser milionário?,
o apresentador, que se pode dizer que é um homem com algum estatuto
económico e social, sentiu-se revoltado, inferior e sem poder ao pé de Jamal,
por isso torturou-o, forçando-o a revelar de onde veio aquele saber todo pois
nunca ninguém tinha chegado àquele patamar no jogo e não era um rapaz de 18
anos pobre e ignorante que iria lá chegar.
Sara
Sara
(Suficiente) || The Crucible
The
Crucible, filme
que me foi recomendado por uma amiga, tendo sido avaliado pela mesma como um
apelo aos “sentimentos de cada um”, relata um caso verídico de injustiças
sociais, tal como a peça Felizmente Há
Luar!, de Luís de Sttau Monteiro.
Após ter assistido ao filme, seis anos após a
sua estreia, creio que a minha amiga tinha razão no que toca às características
do filme. Só depois de o ter visto e depois de ter acabado de ler a peça de
Luís Sttau Monteiro é que comecei a ver as semelhanças que existiam entre a
peça e o filme, sendo umas mais evidentes e outras menos.
Comecei a relacionar duas personagens com
personalidades idênticas, Matilde de Melo, de Felizmente Há Luar!, e Kang In-Ho. Estas duas personagens
tentaram reivindicar, de modo a lutar contra uma injustiça que estava a ser
cometida, que ninguém fazia nada para combater. Matilde de Melo tenta libertar
o amado, o General Gomes Freire de Melo (que, apesar de não aparecer em cena, é
considerado o herói da peça), que foi preso injustamente, num caso que a
população deixou passar pois não tinha maneira de conseguir libertar o general
de S. Julião da Barra — “Manuel — Não a podemos ajudar, senhora. Deus não nos
deu nozes e os homens tiraram-nos os dentes…” (p. 109). Já a personagem de Kang
In-ho, um professor de arte que é colocado numa escola de surdos-mudos,
depara-se com uma situação delicada naquela escola de uma pequena província, onde acontece uma
injustiça enorme, que é alheia a uma parte da população; e a outra parte, que
conhece esta injustiça, nada faz pois foi comprada pelos diretores dessa
escola. Outro ponto que há em comum é o facto de existiram pessoas que foram
“compradas”, tanto para não mencionarem o que se anda a passar como para
obterem informações de outras pessoas.
Esta situação, em que as pessoas são
compradas para se obterem informações, acontece na peça, ainda quando os
governadores de Portugal tentam “encontrar” o responsável pela conjura —“Beresford
— Quero saber quem são os chefes . Comprem quem for preciso, vendam a alma ao
diabo, mas trazem-nos os nomes dos chefes…”(pp. 68-69). Isto faz com que se crie uma rede de
testemunhos de modo a se conseguir, injustamente, a condenação do General Gomes
Freire de Andrade —“Principal Sousa- Foi Deus que nos indicou o seu nome”; “D. Miguel
— Deus e eu, senhores! Deus e eu…”(p. 72).
Na situação do filme, são os diretores da escola
(se transpusermos estas personagens para a peça, seriam os governadores do
reino português), que têm como objeto dos seus subornos a polícia, membros da
população e membros da ordem jurídica.
Este clima de influências, é algo que
no filme (mesmo sendo de temática diferente) tem como base uma injustiça. Estes
subornos que são apresentados no filme fazem com que vários inocentes sejam
submetidos a um crime extremamente grave, no fundo a uma injustiça social. No
caso de Gomes Freire de Andrade, é pelo facto de este ser um estrangeirado e um
membro da maçonaria, sendo um alvo fácil no que toca a “escolher” o chefe da
conjura; na situação do filme, os alvos são crianças surdas-mudas órfãs que não
se conseguem libertar dessa opressão e destas violações — sendo elas inocentes
ainda são criticadas no filme como as causadoras do crime, são acusadas de
mentir e de alterar a verdade ou, até mesmo, de não terem uma perspectiva
correta da realidade.
Em ambos
os contextos históricos existe uma grande participação de um elemento
religioso. No caso da peça o Principal Sousa; no caso do filme, a comunidade
católica da região. Estas participações religiosas também surgem como uma
crítica à igreja por esconder/omitir este tipo de situações.
Em ambas as histórias, existe um apelo à
compaixão, compreensão e de ajuda: na peça é de Matilde de Melo por causa da
injustiça que aconteceu com o seu amado; no filme, o facto de a personagem
principal Kang In-Ho tentar levar à justiça este caso que o chocou (sendo ele
também um estrangeirado, tendo em conta que estudou fora daquela pequena
região), “lutar” contra aquela injustiça , tendo descoberto pelo caminho que
isso era quase impossível devido á teia criada pelos diretores da escola.
Tanto Matilde como Kang In-Ho
sentem-se injustiçados perante a justiça que fora corrompida pelo poder do
dinheiro —“mas o senhor, que condena inocentes a quem aconselha resignação, que
dá esmola aos pobres e condena à forca os que pretendem acabar com a pobreza, o
senhor, que condena a mentira em nome de Cristo e mente em nome do Estado, que
vende Cristo todos os dias, a todas as horas, para conservar num poder que Ele
nunca quis” (p. 123) —, o que leva, na peça, à morte do General Gomes Freire e
no filme as penas mínimas aplicadas aos diretores que abusaram sexualmente e
fisicamente das crianças durante vários anos.
Melissa
Melissa (Suficiente -) || Dirty Dancing
Sinceramente, desde
que me lembro de ver filmes, sim, porque eu odeio ver filmes, deixo-me sempre
dormir. Vi Dirty Dancing já bastantes
vezes, porque a minha mãe o adora e eu faço o sacrifício de o ver, apesar de no
fundo até gostar!
Foi um dos filmes que mais gostei de ver até
hoje, é muito emotivo e consegue captar a atenção do público. O que me faz
remeter para este filme a propósito de Felizmente há luar, é o facto de ambas
as personagens principais lutarem pelo mesmo, apesar de ser por motivos
diferentes. São as duas personagens apaixonadas, lutadoras pelo que acham
totalmente injusto, todos os motivos que levam as pessoas a tentarem
afastá-los. A personagem Jennifer Grey é a protagonista do filme e Matilde de
Melo é a protagonista da peça Felizmente
há luar!
Trata-se de um rapariga Jennifer Grey que está
de férias com a família num resort em Catskills, é uma rapariga bastante
vaidosa, gosta muito de cuidar do seu corpo e estuda economia. Tem uma família
riquíssima, que não aceita ninguém abaixo desse critério. Jennifer vai-se
apaixonar numa noite em que vai a uma festa, quando acaba por dançar com um
rapaz, Johnny Castle, que é professor de dança. Ele vai perder a sua parceira
de dança porque ela está grávida, e Jennifer oferece-se imediatamente para
ocupar o seu lugar. Foi como um amor à primeira vista (um bocado «cliché»). Mas
existia um enorme problema, o Johnny era de uma classe bastante mais baixa e,
quando o pai dela soube que Jennifer queria dançar com Johnny, obrigou-a a
deixá-lo, pois, pelas palavras do seu pai, ele nunca se conseguiria integrar
naquela família. Mas, como referi anteriormente, Jennifer é uma lutadora, e não
se deixou afetar nem pelo pai nem pela família: não quis saber, tentava mostrar
a todas as pessoas que ele, apesar de ter um estatuto social menor, não deixava
de ser boa pessoa!
Identifico-a muito
com Matilde de Melo, pois, também ela, está sempre a proteger o seu amado Gomes
Freire d’Andrade, apesar de todos o odiarem, sendo que os motivos são opostos.
E, seja o que for que possam dizer, ela estará lá sempre para o proteger de
tudo, e tentará mostrar a todos que ele é boa pessoa e que estão todos
completamente errados.
Afastam-se muito em
relação ao motivo pelo qual “lutam”, pois Jennifer luta por alguém de que gosta
mas que as pessoas apenas não aceitam pelo seu estatuto social, enquanto
Matilde de Melo luta para conseguir salvar o marido, pois é completamente
obcecada por ele. Incomoda-a muito o facto de pensar sequer em ficar sozinha e
nunca mais conseguir ver o seu grande amor. Tenta retirá-lo da prisão, pois
encontra-se preso por um crime que não cometera.
Leonor F.
Leonor F. (Muito Bom -)
|| Mulan
Desde que me conheço como gente que me lembro de
o filme Mulan, da Disney, fazer parte
da minha vida. A história da guerreira chinesa que se mascara de homem por amor
ao seu velho e ferido pai encheu, durante anos, o meu imaginário de criança. O
tom ligeiramente satírico do filme, crítico de uma sociedade conservadora e
separatista, lembra a peça Felizmente há
Luar!, onde uma mulher, desesperada por salvar um homem que ama, luta por
subverter uma elite dominante.
Ambas as histórias se iniciam com uma ameaça ao
poder instituído, o que virá a servir de pretexto para o desenrolar do enredo.
Na peça, o povo, cansado e miserável, contesta à boca fechada o Conselho de
Regência, lembrando os feitos do grande General Gomes Freire de Andrade, homem
íntegro e valente, um verdadeiro “amigo do povo” (fala do Antigo Soldado, p. 20),
diametralmente oposto aos governadores do Reino. No filme, a China vê-se a
braços com a invasão dos Hunos, cujo objetivo é chegar a Pequim e derrubar o
Imperador, tomando para si as rédeas do poder. Para conservar o “equilíbrio”
nos seus territórios, os detentores do poder veem-se obrigados a tomar as
decisões que introduzem as protagonistas.
Beresford, o Principal Sousa e D. Miguel de
Forjaz, figuras de autoridade no Portugal de 1817, optam por, por assim dizer,
tentar cortar o mal pela raiz, elegendo um líder para a “conjura”, ou seja, do
movimento revolucionário, que pudessem julgar e condenar, na esperança de que
isso desincentivasse os defensores do liberalismo que, pelos ideais que
chegavam de França, se começava a afirmar em Portugal, segundo a palavra dos
delatores – “Grande número de conspiradores são oficiais, mas há muitos civis
que aguardam a revolta com entusiasmo…”, Vicente, p. 20; “No estado em que se
encontra o Reino, basta um grito na rua para que as labaredas alastrem de norte
a sul…”, Corvo, ibidem.
O escolhido é Gomes Freire de Andrade, o único
homem no reino que ameaçava a posição do trio governante, através das suas
qualidades e retidão. É o dramatismo com que a sua prisão é levada a cabo que
introduz Matilde, sua esposa, no início do segundo Ato, através de uma popular
que, entre os seus, comenta que a senhora teria passado toda a noite a chorar.
Apesar deste primeiro aparecimento frágil, Matilde revela-se depois uma mulher
forte e com garra, disposta a enfrentar a autoridade (neste caso, o Principal
Sousa) para salvar o seu esposo da morte, na companhia do sempre fiel Sousa
Falcão – “Pois venho aqui pedir-lhas [as contas] em nome dum credor – o credor
Gomes Freire d’Andrade, que está lá em baixo, preso em São Julião da Barra,
aguardando que o senhor pague o que lhe deve”, inferindo o leitor que Matilde
não se refere a dinheiro – chegando mesmo a raiar a insolência perante uma
figura tão alta da Igreja – “O vosso credo Gomes Freire d’Andrade vai ser morto
por ordem da regência de que fazeis parte – ou será que a vossa mão direita não
sabe o que faz a esquerda?”, Matilde, pp. 124-125.
Já na China Imperial, opta-se pela via militar,
ou seja, convocam-se os chefes de família e os jovens capacitados para formarem
um exército capaz de enfrentar os temidos Hunos. Mulan surge então como uma
jovem revoltada, que, perante a convocatória recebida pelo pai (um ferido de
uma guerra antiga), não tem outra reação que não a de chorar a noite inteira,
antes de se erguer e mostrar a sua face guerreira. Sempre acompanhada pelo
amigo derrotado Muchu, Mulan integrar-se-á no exército, desafiando as ordens do
rigoroso Chi Fu, encarregado pelo Imperador de avaliar a qualidade do grupo
armado.
Muchu é, por sua vez, uma personagem
interessante, na qual convergem características de Vicente e António de Sousa
Falcão. No princípio do filme, o pequeno dragão é sobretudo identificável com o
popular, já que o seu interesse em ajudar a guerreira é sobretudo motivado pelo
desejo de ser reconhecido como um igual pelos antepassados (a “elite” do filme
que, na peça, corresponde à burguesia abastada), objetivo que lhe é prometido
caso Mulan regresse viva da guerra. Porém, ao longo dos anos, o dragão vai-se
afeiçoando à rapariga, e o seu amor por ela torna-se genuíno, transformando-se
Muchu no “amigo de todas as horas” da protagonista – chega mesmo a haver um
momento no filme em que confessa as suas intenções pouco honestas a Mulan,
alegando ser um péssimo amigo, à semelhança do discurso proferido por Sousa
Falcão ao ver Freire de Andrade ser executado.
Apesar da divergência do fim (Freire de Andrade
é executado, enquanto Mulan salva a China), ambas as histórias terminam com uma
nota de esperança associada: a ideia de que o esforço nunca é em vão, pois,
mesmo para Matilde, felizmente houve luar!
Paulo
Paulo (Bom (-)) || Thirteen Reasons Why (Os Treze Porquês)
Decidi utilizar uma série na minha análise em
vez de um filme. Terminei a visualização da mesma recentemente e, enquanto
analisava a peça de Luís de Sttau Monteiro, encontrei várias parecenças entre Felizmente
há luar! e Thirteen Reasons Why.
Esta série é relativamente recente pois a sua estreia foi em março deste ano.
Só é possível visualizá-la através da internet pois foi lançada pela Netflix
que se trata de uma provedora online que lança séries originais, entre elas a
série em questão. Está também dividida em 13 episódios, um por cada
história/cassete (estará explicado no próximo parágrafo).
Para começar, tanto a série como a peça utilizam
as situações vividas como forma de crítica social, sendo que ambas envolvem
mortes. A série está focada na morte por suicídio de Hannah Baker, uma jovem de
17 anos que era nova na cidade e na sua escola, e Clay Jensen, que tinha uma
paixão secreta por Hannah. Todos se perguntam a razão do seu suicídio até que
Clay encontra uma caixa endereçada a si com treze cassetes lá dentro, cada uma
com dois lados e cada um dos lados marcados com números, descobrindo depois que
se trata das treze razões da morte de Hannah, que cada uma dessas razões
corresponde a uma pessoa e que cada pessoa teve ou teria a possibilidade de as
ouvir, mostrando que Clay é então um dos responsáveis. Clay tem a mesma
importância que Matilde tem na peça, ambos podem ser considerados as
personagens principais da peça e da série, respetivamente. Ambos movidos pelo
amor, lutam contra os "inimigos" da pessoa amada, Matilde procurando
salvar o general Gomes Freire de Andrade da sua morte ("Enquanto tiver voz
para gritar... Baterei a todas as portas, clamarei por toda a parte,
mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!") e Clay
procurando descobrir a verdade sobre a morte de Hannah e trazer justiça aos
culpados.
Tal como em Felizmente há luar! Matilde
tem o apoio de António de Sousa Falcão ("António: você, que foi sempre o
seu maior amigo e que o conhece há anos, sabe que ele não gritava"), Clay
tem a ajuda do seu melhor amigo Tony (que também era amigo de Hannah) e surge
como uma espécie de protetor do jovem, impedindo que os outros o impeçam de
atingir o seu objetivo. E quem são estes "outros"? Assim como na peça
existem os que estão contra Gomes Freire e Matilde (Beresford, Forjaz e Sousa),
que procuram travar Gomes Freire ("Notai que não lhe falta nada: é lúcido,
é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da
Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado..."), na série ficamos a
conhecer os que estão presentes nas cassetes como culpados e as razões de o
serem, embora a maior parte dos mesmos não assuma o erro e falem de Hannah como
uma mentirosa (os casos de Jessica, Bryce, Justin, Marcus ou Courtney),
enquanto que outros como Alex, Tyler e Zach (até certo ponto) são capazes de
assumir a sua culpa e acreditar que os outros fizeram realmente o que está
presente nas cassetes.
Ambas as histórias criticam a sociedade embora
por razões diferentes, também pela diferença dos tempos em que as histórias se
passam. Na peça há uma busca contínua pela liberdade, algo que não existia no
regime de então, enquanto que a série foca aspetos mais atuais como o bullying
e exclusão social. Hannah foi sempre colocada de parte pela sua forma de agir
ou pensar, por mentiras que lhe deram uma má imagem e pelo facto de se tentarem
aproveitar dela, mas Clay conhecia-a e o seu objetivo passava também por limpar
a sua imagem, como o de Matilde era limpar a imagem de Gomes Freire e salvá-lo
da sua sentença. Infelizmente, nenhum dos dois impediu a morte da pessoa amada.
Clay nem sequer teve essa chance e arrependeu-se de nunca ter dito o que sentia
a Hannah, de não ter sido o apoio de que a mesma precisava nem a ter apoiado e
impedido o que aconteceria, pois só soubera a verdade já no fim de tudo. Mas,
no fim, ambos ficaram sem a pessoa que amavam, tanto Clay como Matilde.
Inês
Inês
(Bom +) || The Lion King (O Rei Leão)
O Rei Leão foi o primeiro filme da Disney que vi. Tinha
quatro anos, e fiquei deslumbrada. Torna-se inevitável invejar quem o vê pela
primeira vez – a banda sonora é incrível; um duo de um suricata e de um javali
torna-se icónico; e toda a animação tão real transporta-nos para uma verdadeira
selva. Foi o primeiro filme que me emocionou, o primeiro que me fez chorar, na
sequência do que senti ser uma morte injusta, a morte de Mufasa, o herói do
enredo. Admito ter sido esse o primeiro paralelismo que notei entre este filme
de animação da Disney e a obra de Luís de Sttau Monteiro. Afinal, Gomes Freire
de Andrade (o herói nunca evidente mas sempre presente em Felizmente Há Luar!) tem também uma morte trágica na consequência
da sua execução injusta.
No entanto, após ter
já decidido ser este o meu filme de eleição, não pude de deixar notar uma
ligação muito mais interessante, a das personagens de Scar e Vicente. Scar
sente uma enorme repulsa pelo seu estatuto de igualdade com os comuns,
ambicionando por todos os meios a ascensão ao reinado, ainda que à custa da
traição do seu próximo, neste caso Mufasa, seu próprio irmão. Por sua vez,
Vicente vem também repudiar o baixo estatuto que lhe foi atribuído por
nascimento – “É verdade que nasci aqui e que a fome desta gente é a minha fome,
mas… é igualmente verdade que os odeio, que sempre que olho para eles me vejo a
mim próprio: sujo, esfomeado, condenado à miséria por acidente de nascimento”,
estando também apto à traição, se tal significar a sua ascendência, não a um
reinado, mas ao cargo de chefe de polícia – “Eu, chefe de polícia! Estou a ver
a cara do povo…”. Ambas as personagens são gananciosas, tendo tal ganância
desfechos trágicos – A morte de Mufasa, pela ação direta de Scar; e a execução
de Gomes Freire de Andrade, após Vicente ter aludido ao seu nome como provável
chefe das conjuras realizadas em Portugal – “Excelências, todos falam num só
homem”.
Vicente, ainda que o
faça através da traição e da denúncia, num ato de hipocrisia, tenta dissimular
a indignidade dos seus atos pelo serviço a el-rei e à pátria, num falso
humanismo – “Só me interessa, Excelência, a oportunidade de servir a el-rei e à
Pátria. Nada mais me interessa. Agora – ou mais tarde, como chefe de polícia, é
o que farei.” Já Scar vem desculpar a morte do seu irmão e os seus atos menos
nobres, com o propósito de uma melhor governação do reino, mais eficaz, que
servirá a todos e acabará com as desigualdades.
É também através da
adulação e da retórica que Vicente procura conquistar a simpatia dos
governadores, conquistando consecutivamente aliados estratégicos – “Honesto e
dedicado a el-rei como eu, haverá poucos fidalgos neste Reino”. Quanto a Scar,
procura tornar-se aliado das Hienas através de uma falsa preocupação e afetos,
bem como por um conjunto de promessas (que não tenciona cumprir) de melhorar o
seu nível de vida aquando da sua chegada a rei.
O desfecho da
história será o que mais distingue a peça e o filme. No filme, Scar acabará
morto, devorado pelas próprias Hienas, o seu “exército”, após a perceção, por
parte destas, das traições do líder motivadas pela ganância e exclusiva defesa
dos seus interesses. Simba, filho de Mufasa, assume a ordem do reino que
encontra devastado, acabando a presença do vilão por glorificar os atos de
Simba, após este enfrentar as dificuldades postas por Scar. Já na peça, o
desfecho é trágico, não se apresentando, todavia, Vicente como o “vilão”, sendo
esse papel assumido em conjunto com a regência e com os ditos “patriotas”. Vicente
é um “provocador em vias de promoção”. A sua presença não se torna essencial
para o desfecho da narrativa – provavelmente teria sido o mesmo – mas tem como
função levar o espectador a olhar para dentro de si, por a personagem se vender
ao poder de forma pouco escrupulosa.
Beatriz R.
Beatriz R. (Suficiente (+)) || Ali
and Nino (Ali e Nino)
Ali e Nino foi um dos últimos filmes que vi e aquele que me
fez lembrar, em alguns aspetos, a obra que estávamos a estudar, Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau
Monteiro.
Vemos, em ambos, a
vontade que o herói de lutar pelo seu país. Lutam pela independência do país,
com Ali e Nino que diz respeito à
independência do Azerbaijão, e, em Felizmente
Há Luar!, lutam por um país mais
liberal.
Em relação às
mulheres, tanto o filme como a peça acabam por provar que a posição da mulher
não se alterou muito ao longo dos tempos, nem o comportamento sexista perante
as mulheres. Um exemplo disso foi a tentativa de rapto de Nino, feita por
Malik, apenas por achar estar apaixonado por ela, não ligando aos seus
sentimentos.
Uma das provas que
mostram que a visão da mulher não mudou muito ao longo dos anos é o tempo
histórico do filme ser posterior ao tempo histórico do livro (e, no entanto,
este aspeto é mais acentuado no filme). Vemos em várias situações esta
indiferença em relação ao que a mulher quer. É o caso de Nino quando vai para
Pérsia com o pai de Ali, onde lhe acabam por “cortar” a sua liberdade, quando a
obrigam a usar a burka para poder sair à rua, por ser uma mulher casada e, na
altura, grávida, ou, o fato de não poder andar na rua sozinha, estando sempre
acompanhada por um eunuco.
Para além disso, a
mulher era vista com uma posse, que “passa” do pai para o marido, e tratada, de
certa maneira, como se fosse descartável. Na obra de Luís de Sttau Monteiro,
encontramos um exemplo da diferença entre alguém casado perante a igreja e quem
apenas vive maritalmente (“Sua Ex.ª não recebe amantes de traidores e amigos
dos inimigos de el-rei.”, p.119), como é o caso de Matilde e Gomes Freire de
Andrade, apesar de nessa relação o amor ser verdadeiro.
Outro ponto em comum
entre a obra e o filme é o “final infeliz” que Matilde e Nino acabaram por
sofrer, pois as suas vidas ficaram de alguma forma condicionadas em função das
escolhas dos seus homens, mesmo não sendo as suas opções de vida. No fundo, o
que elas queriam era um futuro com aqueles homens e não “heróis” (“Se o meu
filho fosse vivo…Havia de morrer de velhice e de gordura, com a consciência
tranquila e o peito a abarrotar de medalhas! Tudo isso o meu homem poderia ter
tido…. Se tivesse sido menos homem…”, p. 84). Ou seja, quer Nino quer Matilde
acabam por pensar e dar mais importância ao futuro que poderia ser aquela
relação. Nino, no final do filme, quando se despede pela última vez de Ali,
chega mesmo a perguntar-lhe se ela e a família que ambos criaram não
significava nada para ele, respondendo ele que era por elas e para um futuro
melhor que lutava pelo seu país.
Assim, percebemos
que, por vezes, como acontece em Ali e
Nino e Felizmente Há Luar!, fazer
o que está certo ou aquilo que nos descansa a consciência acaba por condicionar
a vida dos próximos, pois, se repararmos bem, tanto Ali como Gomes Freire de
Andrade não “constroem” o país para si, isto é, não o fazem para o seu futuro
mas, para gerações próximas.
Sebastião
Sebastião (Muito Bom) ||
Capitães de Abril
Foram já algumas as vezes que vi Capitães de Abril, a última das quais há
poucas semanas, por volta do aniversário da Revolução dos Cravos. É um
exercício que tenho particular gosto em fazer, pela importância que atribuo ao
heroísmo de quem iniciou a construção do país em que hoje vivo e pelo mecanismo
que constitui para lembrar o espetador de uma realidade que, se esquecida por
gerações como a minha, que nunca a vivenciaram, poderá regressar.
Entre o filme, estreado em 2000, e a peça de
Luís de Sttau Monteiro, há um par de semelhanças, gerais, que terão ajudado à
justificação da minha escolha: ambos decorrem em Portugal (maioritariamente, em
Lisboa) e apresentam uma tentativa do poder instituído de resistir à mudança
política.
Em Felizmente
há Luar!, são Beresford, D. Miguel Forjaz e o Principal Sousa os símbolos
de um Absolutismo que ainda persistia em Portugal, mas que muito sofrera, como
é lembrado pelo clérigo, com a Revolução Francesa, As sementes do jacobinismo,
que fizeram cair Luís XVI, estariam, mais a sul, a provocar uma rebelião contra
uma Monarquia de um só homem (ou de muito poucos). Em Capitães de Abril, papel semelhante tem Marcello Caetano,
Presidente do Conselho de Ministros e os membros desse mesmo órgão.
As histórias, contudo, seguem linhas diferentes:
na primeira, há uma antecipação do poder instituído, que leva a uma estratégia
ofensiva, contra o General Gomes Freire d'Andrade, no sentido de enfraquecer o
movimento liberal, privando-o de um homem que, segundo D. Miguel, "é
lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é
grão-mestre da Maçonaria e é (...) um estrangeirado..." (p. 71); na
segunda, é o Movimento das Forças Armadas quem toma conta da ação, cabendo aos
responsáveis políticos do país apenas uma missão, defensiva, a qual, como se
sabe, não foram capazes de cumprir.
Já perto do fim do filme, quando a Revolução vai
no Carmo, local que ficou historicamente conhecido como o grande teatro do 25
de abril, as ruas lisboetas são invadidas por uma multidão felicíssima, que
festeja com os militares, celebrando o fim de um regime que durara mais de
quatro décadas. É o mesmo povo que, embora não tenha tido, na peça, a
possibilidade de celebrar nada, defende Gomes Freire, considerado por Manuel
como "capaz de se bater com os senhores do Rossio..." (p. 23) e pelo
Antigo Soldado, que o conhecera, "Um amigo do povo! / Um homem às
direitas! Quem fez aquele não fez outro igual..." (p. 22).
A relação entre Felizmente há Luar! e Capitães
de Abril vai, contudo, muito além daquilo que, à primeira vista, exprimem
os trabalhos definitivos. Foi durante o Estado Novo que Luís de Sttau Monteiro
escreveu a peça e a utilização histórica de um período que, em relação a esse,
apresenta várias semelhanças, não é despropositada. O final de Felizmente há Luar! é uma pequena luz numa
história trágica, em que um general repleto de esperança é feito mártir do
Liberalismo português. A história de Capitães
de Abril pode ser interpretada como a realização dessa mesma luz, que
percorrera um vasto caminho até partir de Santarém, na noite de 24 de abril de
1974, comandada por um herói cujo destino não seria decidido por um qualquer
dirigente político e cuja memória é hoje preservada naquele distrito, na Escola
Prática de Cavalaria, onde iniciou o término provavelmente idealizado na mente
do dramaturgo por detrás de Felizmente há
Luar!.
Ariana
Ariana (Suficiente (-))
|| Quincas Berro d’Água
O filme escolhido para contrastar, neste caso,
com a caracterização da personagem Sousa Falcão, é Quincas Berro d’Água, que adapta um livro de Jorge Amado.
Relacionando este filme com a personagem de Sousa
Falcão, que entra no Ato II de Felizmente
há luar!, posso dizer que, em ambos, no carácter de Falcão e no filme, se
demonstra cumplicidade e fidelidade ao outro (no caso de Quincas, a lealdade e afinidade do pelotão que nunca abandona o seu
comandante). Sousa Falcão mostra-se, acima de tudo, um amigo inseparável que
partilha a mesma dor que Matilde e os mesmos ideais do comandante,
apercebendo-se de que devia estar ao lado de Gomes de Freire de Andrade e
passar pelo que ele passou, ou seja, pelo final inevitável que terá. Embora
nenhum tivesse feito nada de mal, ambos partilharam as mesmas ideias e o desejo
de mudança, apesar de ser só o General a ser castigado. Também em Quincas se representa a fidelidade
genuína para com um Comandante, Quincas Berro d’Água.
Na obra, consta o quão
“amigo das coisas importantes e das pequenas coisas”(p. 115) era Sousa Falcão
em relação ao General, mostrando-se abatido com a tragédia iminente, uma vez
que revela tamanha admiração pelo general; porém, contrariamente a Matilde,
Sousa Falcão está carecido de coragem e de ânimo por ter a consciência de como
a sociedade do seu tempo realmente funcionava sob os interesses económicos,
políticos e religiosos. De modo semelhante, o pelotão eram os “amigos das
coisas importantes e das pequenas” e tinha uma enorme gratidão e admiração pelo
seu Comandante; porém, contrariamente a Sousa Falcão, tiveram a ousadia de quebrar
as regras e “ignoraram” o facto de Quincas ter morrido, desta forma querendo de
alguma maneira redimir-se pelo tempo mal aproveitado.
Ainda assim, Sousa Falcão revela a sua
impotência perante os governadores, tendo em si uma visão crítica, embora não
tenha qualquer fé na justiça. Admite a sua cobardia perante o seu
reconhecimento individual em relação à integridade do General (“Não estou de
luto por ele, Matilde (…) É por mim que estou de luto, Matilde! Por mim…”, pp. 136-137).
Já no filme, o sentimento de Sousa Falcão interliga-se com os sentimentos dos
fiéis amigos do seu comandante, mas, ao contrário de Sousa Falcão, estes não
perdem a sua esperança e, mesmo após o seu Comandante estar morto, é quando,
talvez por ressentimento, o seu pelotão fornece a alegria da vida a um morto
que nunca usufruiu dela, afirmando a personagem principal que “A minha vida de
morto é mais animada do que a de muitos vivos por aí”.
Parte do filme decorre
na instabilidade causada por se poder ser descoberto, e posteriormente,
sofrer-se as consequências por parte da polícia, o que mais uma vez representa
um ponto de união entre o filme e a obra, uma vez que o general já se encontra
encarcerado nas masmorras de S. Julião da Barra, sem direito a quaisquer
julgamentos, como decorreria no filme se o pelotão fosse apanhado.
Em suma, demonstram-se
evidentes os aspectos em comum entre peça e filme. Ainda assim, é possível
comprovar certos aspectos em que as duas obras diferem, nomeadamente, na ousadia
das «personagens». No filme, os amigos de Quincas não se tornam cobardes (como
Sousa Falcão se sentira por não poder ajudar o seu general e por não conseguir
fazer frente a quem fosse necessário para alcançar os seus objectivos) e jamais
perdem a sua fé mesmo após o Comandante estar morto. Contudo, também o aspecto
contextual é semelhante no que se refere à instabilidade e consequências
políticas que ambos sofreriam caso fossem descobertos os seus planos.
Beatriz C.
Beatriz
C. (Suficiente (+)) || Les Misérables
(Les Misérables)
O filme Les Misérables sempre me despertou um
interesse tremendo pois retrata um dos episódios mais importantes da historia
francesa. Passa-se em pleno século XIX, desde o começo da revolta do povo
contra o rei Carlos X de França e Navarra e os poderosos e ricos nobres,
passando pela famosa batalha de Waterloo e, por fim, os motins realizados pelo
povo.
Felizmente há Luar! retrata também um episódio histórico do século
XIX, sendo desta vez localizado em Portugal, durante o reinado de D. João VI.
Tanto o filme Les Misérables como a obra Felizmente há Luar!, de Luís de Sttau
Monteiro, retratam uma época de revolução contra o poder absolutista do reino
em que se vive, na mesma época, em que “se fala abertamente em guilhotinas e
que o povo canta pelas ruas canções subversivas” (p. 40). Em ambos são feitas
"traições", personagens são defendidas e o clima de tensão está
presente ao longo do filme e da obra.
Existem numerosas
semelhanças entre personagens de ambas as histórias, o filme de Tom Hooper e a
obra de Luís de Sttau Monteiro, relativamente a Javert e Vicente, e apesar de
estas personagens serem de uma origem social completamente diferente, têm em
comum o facto de se mostrarem do lado do povo, opondo-se aos nobres mas com
intenções de trair o povo, mesmo que com razões e objetivos diferentes (Javert
pretende trair o povo de modo a impedir o movimento revolucionário em França,
pois é um inspetor do reino de Carlos X, e Vicente é um homem de origens
humildes ou seja, do povo, que, para subir na vida e alcançar um lugar
confortável, resolve trair a sua própria gente, com a intenção de os levar a se
revoltarem contra o general Gomes Freire de Andrade, a única esperança do povo
para poder fazer frente ao absolutismo pois pertence ao exército e ocupa um
cargo importante). Jean Valjean e o Antigo Soldado têm, também, características
em comum, já que ambos gozavam de uma vida estável até que, com o passar dos
anos, se viram numa situação de pobreza e de perda do estatuto e/ou estabilidade
social que possuíam.
O antigo soldado fizera,
em tempos, parte do regimento de Freire de Andrade mas, por ter vindo a
tornar-se velho de mais para poder combater, foi excluído do exército, passando
agora os seus dias a mendigar com os restantes populares (“Este homem está aqui
porque já não serve para nada. Ouviram? Está aqui porque já não interessa aos
generais.”, p. 22). Uma das principais diferenças entre ambos é talvez o facto
de Javert, no final do filme, acabar por se arrepender das suas ações
(especialmente da forma como via e agira com Jean Valjean), cometendo, assim,
suicídio.
Jean Valjean vivia uma
vida relativamente estável, até que um dia foi acusado do roubo de um pão, o
que lhe custou mais de uma década de prisão, executando trabalhos árduos a
mando do inspetor Javert.
Tanto o filme como a
obra pretendem transmitir aos seus públicos uma certa consciência para a
situação político-social, recordando-lhes de como fora o passado histórico dos
respetivos países.
Leonor G.
Leonor G. (Bom +) || Pirates of the
Caribbean: At World's End (Piratas das Caraíbas: Nos Confins do Mundo)
O gosto por filmes que remetem para a ação de
personagens fictícias nos mais variados cenários é algo que me acompanha desde
a minha mais tenra idade; pelo menos, desde aquela em que o inglês já me era
mais compreensível do que a própria leitura de legendas em português – afinal
de contas, ter aulas num colégio britânico acabou por ser uma parte retirada da
minha infância que se mostrou proveitosa.
Desde sagas como O Crepúsculo até Harry
Potter, uma que também me acompanhou – e a que mais me fazia sair da sala
de cinema convencida de que noutra vida teria feito parte da ação do filme,
entusiasmada com todo o enredo que me levava a esgotar a paciência dos meus
pais com o meu “faz de conta” elaborado – foi Pirates of the Caribbea/Os Piratas das Caraíbas.
Mas, com a idade, embora não tenha mudado o
interesse que me suscitam estes filmes, mudou-se a forma como os encaro. De uma
panóplia de acontecimentos cómicos, consigo retirar um momento com um
significado mais “profundo” do que aquele que, há uns anos, achei que dali se
poderia retirar. Desta forma, refiro um filme em particular: Pirates of the Caribbean 3: At World’s
End/Piratas das Caraíbas 3: Nos Confins do Mundo.
Se atentarmos na sinopse do filme, à primeira
vista não conseguimos encontrar qualquer tipo de relação com a obra de Luís de
Sttau Monteiro: alguns dos piratas partem numa intensa busca à procura do
Capitão Jack Sparrow, que tinha sido capturado numa armadilha do cofre de Davy
Jones; as personagens que por ele procuravam teriam de passar pelas mais
selvagens marés, combater os mais furiosos inimigos e pôr em risco as suas
próprias vidas pelo seu Capitão. Onde é que poderiam entrar qualquer tipo de
pirataria ou ganância de um Capitão que se deixou capturar pelo seu desejo de
ter e ser mais, em Felizmente há Luar!?
Do mais básico filme de fantasia retiramos um
propósito que se assemelha a uma obra tão significativa como esta: o gesto de
dar a vida por um bem comum; a luta pelo alcance dos propósitos que
correspondem ao bem desejado pela classe mais baixa, o povo, onde uma
personagem – no caso do filme, personagens
– assistido de bravura e persistência, dá a cara à liderança de tal
desafio, onde acaba por, realmente, sofrer as consequências que menos merecia –
o enforcamento.
Assim, relacionamos a personagem “Gomes Freire
de Andrade” de Felizmente há Luar!,
um general que estaria condenado à forca pela sua ação convicta de defesa dos
interesses que a muitos eram comuns, mas que nunca seria esquecido mesmo que
morto, com os vários piratas de Piratas das Caraíbas 3, que se mostram
logo no início do filme, num cenário em que cada um estava diante da forca que
os iria levar ao ultimo fôlego, consequência pelos seus atos de pirataria que,
apesar de levados em sentido pejorativo por qualquer um de nós, eram atos
feitos em prol do enriquecimento dos mais desfavorecidos.
Gomes Freire de Andrade é referido ao longo da
obra de Sttau Monteiro, mas, em jeito de ausência, não possui qualquer fala que
o represente. Porém, podemos dar uso a algumas falas de outras personagens que
se referem a ele, que poderiam estabelecer relação com os piratas – aqui,
tenhamos em conta que as ditas falas dos piratas, nesta situação, não são
propriamente diálogos mas sim o entoamento de uma canção.
Sobre Gomes Freire de Andrade, tínhamos: “ a
ninguém tem o povo mais amor do que ao primo de V. Excelência. (...) em ninguém
põe o povo mais esperança do que o general” (p. 32), personagem Vicente; “O
vosso credor Gomes Freire d’Andrade está numa masmorra por amor da justiça” (p.
125), personagem Matilde; “Se há santos, Gomes Freire é um deles” (p.126),
personagem Frei Diogo. Sobre os piratas, passo a citar algumas partes, e suas
consequentes traduções, da canção entoada pelos futuros enforcados: «The bell
has been raised [O sino emergiu] / from it's water grave [da sua sepultura
aquática] / Hear it's sepulchral tone? [Ouves o seu tom sepulcral?] / A call to
all [Um aviso para todos], / pay heed the squall [prestem atenção ao vento] / and
turn yourself toward home [e direcionem as suas velas para casa]. / Yo ho, haul
together [Yo-ho, todos juntos], / Hoist the colors high [Icem as cores bem alto]
/ Heave ho, thieves and beggars [Vamos lá, ladrões e mendigos] / Never shall we
die [Nós jamais morreremos]».
B. Bettencourt
B.
Bettencourt (Bom -) || Hunger Games
Sem conseguir rejeitar qualquer uma das sete
artes pelo carinho que tenho por este mundo, é sem dúvida o cinema a minha arte
de eleição. Sempre quis estar ligado à mesma. Afinal quem não gostava de ser
aquele herói, aquele miúdo sortudo ou mesmo aquele que acaba sozinho em casa e
consegue enganar os ladrões e ter um natal espetacular?! Ao ler Felizmente há Luar!, o filme que me
surgiu na mente foi a trilogia Hunger
Games, uma das melhores sagas criadas, pela sua história, pelo seu lado
épico, pelos efeitos visuais e sonoros. Aconselho vivamente a visualização da
mesma.
Quando iniciamos a leitura da peça, rapidamente
somos confrontados com o descontentamento do povo. As condições de vida (a
miséria, a fome e o descontentamento político) são os principais focos desta
obra que mostra como se vivia na época da pré-guerra civil mas que se dirige igualmente
ao tempo do governo salazarista. Luís de Sttau Monteiro aproveita assim o
século XIX para uma comparação com os tempos em que Salazar governava.
Surgem assim os primeiros aspetos que me fizeram
logo pensar nos Hunger Games. Ao
vermos as paisagens e o espaço envolvente do filme, conseguimos sentir um mundo
sombrio e sem esperança, onde as pessoas são oprimidas e aterrorizadas por um
governo centralizado e totalitário, tal como é possível sentir em Felizmente há luar!.
Um outro fator bastante importante é o facto de a
personagem principal do filme, Katniss Everdeen, ter várias características
semelhantes a Matilde, como irei referir mais à frente. Com o seu arco e
flechas, a jovem é obrigada a defender-se numa prova em que colocam um
representante masculino e outro feminino de cada distrito e em que vence o
último sobrevivente. Este desafio torna-se numa espécie de reality show que
entretém o povo e acaba por o fazer esquecer e distrair da vida a que é
sujeito; a autora da trilogia chega mesmo a utilizar a frase "Panem et Circenses" (pão e circo). Associei
rapidamente este "reality show" aos três efes de Portugal — Fátima,
Fado e Futebol. Para um povo reprimido e fortemente censurado eram estas três
áreas que acalmavam e animavam, fazendo-o esquecer também as dificuldades que
passava.
No centro da prova que se intitula "Jogos
da Fome", em que os concorrentes eram sorteados, surge Katniss Everdeen, que
se voluntariou no lugar da irmã. Começa assim a aventura que dura três filmes e
onde vamos conhecendo a personagem principal que tem características
semelhantes a Matilde. Tanto uma como a outra revelam um sentimento de desespero
pela perda e sofrimento de quem amam e reagem violentamente perante as
injustiças. Revelam inteligência e aptidão para a argumentação, capacidade de
lutar com a mesma força das armas dos governantes, são sinceras e têm
indignação perante a soberania dos poderosos.
Ao entrar na competição, a atriz luta para
proteger os seus ideais e a sua família, combatendo contra os outros distritos
de forma obrigatória e contra o governo que controlava este festival nacional,
tentando sempre sobreviver. Também Matilde se opõe ao estado e procura uma
solução para o seu homem, o General Gomes Freire de Andrade, que se encontra
preso com o destino à forca por se manifestar contra o poder instituído em
Portugal.
Outro paralelismo entre as duas obras é a
utilização de um símbolo sonoro. Quando se ouve o rufar dos tambores em Felizmente há luar!, este está associado
à repressão militar e policial, que se traduz na perseguição, violência e morte
a que o povo era sujeito caso colocasse em causa a autoridade. Nos Hunger Games é um assobio igual ao canto
de um pássaro — Mimo Gaio — que é ainda acompanhado de uma saudação, o braço erguido
com três dedos unidos levantados representando um símbolo contra o
totalitarismo.
Mateus
Mateus (Suf (+)) || Braveheart (O Desafio do Guerreiro)
Lembro-me de ter visto este filme, Braveheart,
de Mel Gibson, ao lado do meu pai, ainda em tenra idade. É um dos seus
preferidos, no entanto, não sou um grande apreciador desta obra. Apesar disso,
não me ocorreu nenhum filme melhor para relacionar com a obra Felizmente há luar!, de Sttau Monteiro.
Braveheart, ou O Desafio do Guerreiro
(título em português), é um filme norte-americano realizado por Mel Gibson em
1995. O filme retrata a figura histórica de William Wallace, guerreiro,
patriota escocês e herói medieval. A ação situa-se em finais do séc. XIII,
tempo em que os rebeldes escoceses lutavam contra o domínio do rei inglês
Eduardo I. O realizador tentou conferir ao protagonista uma faceta mais
romântica e idealista e menos sanguinária, da mesma maneira que Sttau Monteiro fez
com General Gomes Freire de Andrade em Felizmente
há luar!, para que, de certa forma, a mentalidade da época, algo violenta,
fosse suavizada e, assim, a leitura da obra fosse mais apelativa e mais
facilmente encenada.
Depois de, ainda em criança, ter assistido à morte do seu pai às mãos
do exército inglês, William é acolhido por um tio que lhe dá uma educação
coincidente com a do General Gomes Freire de Andrade, ou seja, cuidada,
esmerada e erudita. Após percorrer o mundo, Wallace, volta à Escócia, sua terra
natal, e apaixona-se por uma jovem camponesa, com quem viria a casar. Contudo,
esta é morta por um nobre inglês e, no decorrer da vingança, Wallace assume o
comando de um pequeno exército de camponeses com o intuito de lutar pela
soberania da Escócia.
O final da obra e do filme coincidem, pois ambos os heróis morrem. Na
obra de Sttau Monteiro, Gomes Freire de Andrade é acusado de ser o responsável
pelo clima de insurreição e inquietação que se alastra pelo país, tendo sido
mandado para a prisão, dando a impressão que este foi o “bode expiatório” do
reino para que, desta forma, os ânimos dos populares se acalmassem dado este
ser idolatrado por esta classe social e a situação já estar algo fora do normal
(“o povo fala abertamente em revolução”,
“[...I é cada vez maior o número dos que só pensam aprender a ler...”).
Foi ainda enforcado e depois queimado, quando a sentença adequada a um militar
seria o fuzilamento, para servir de lição a todos aqueles que ousem afrontar o
poder político: “Reverência, as provas judiciais pertencem ao domínio da razão
e, se não pudermos condenar nesse domínio, faremos com que o julgamento decorra
no outro, o da emoção, já que a emoção, Reverência, nem carece de provas, nem
se apoia na razão”. No filme de Mel Gibson, apesar da ajuda da princesa
Isabelle, (nora do rei inglês), Wallace é traído pelos nobres escoceses, que
estão mais interessados em manter as suas regalias junto da coroa inglesa, e é
aprisionado pelos ingleses, sendo torturado e, posteriormente, executado em
praça pública sem nunca renegar a legitimidade da sua luta.
Uma das relações entre as duas obras é o facto de ambas serem de
carácter quase épico, já que retratam as duras e, de certa maneira, trágicas
realidades que eram vividas nas épocas, do séc. XIII, em Braveheart, e do séc. XIX, em Felizmente
há luar!.
André
André (Insuficiente +) || O Lobo
de Wall Street
Há cerca de três
anos, ou seja, em 2014, estreou um filme nos cinemas portugueses que corria de
boca em boca pelas ruas e entre amigos, maioritariamente pelas suas cenas
obscenas, mas o facto mais importante é que um é filme verídico que retratava
uma situação típica de grande parte da sociedade de classe alta na maioria dos
países, se não em todos, que é a fuga ao fisco em grande escala. Este filme é O Lobo de Wall Street.
Vi-o pela primeira
vez com uns amigos numa sala de cinema, nas Amoreiras, para ser mais exato, e
achei piada ao facto de alguém, vindo de uma família modesta, prestes a casar e
a levar uma vida pacata, tornar-se um dos homens mais ricos.
Esta é a personagem
principal, Jordan Belfort, que mudou a sua vida, menosprezando os compradores
que utilizavam os serviços da sua empresa e chegando várias vezes a ser tanto
rude como condescendente com as situações em que estes se encontravam. A ação
envolve várias peripécias entre as várias personagens e o crescimento da
empresa conhecida como Stratton Oakmont, a sua decadência e a pena do seu
fundador Jordan Belfort. Revejo esta personagem no William Beresford de Felizmente há luar!, um militar inglês
que tinha em si grande poder a nível político, como observamos no ato I, nas
suas conversas com os governadores, em que desempenhava um papel fundamental na
opressão ao povo português: «Principal Sousa — Ainda há portugueses honrados nos tempos que correm… / Beresford
— Atrás de nós» (p. 53). Para si, Portugal era inferior à sua pessoa (sabendo
que este representava a grandeza de Inglaterra) devido à situação de decadência
após as invasões francesas.
Nos dois casos,
verifica-se que Beresford e Belfort têm um grande poder na sociedade, tanto a
nível económico como político, conseguindo assim oprimir os mais necessitados
através de atos de ganância e de egoísmo, perante os que se apresentavam na sua
presença, sabendo que, com os seus cargos, seria difícil ou até impossível
criarem uma revolta contra eles. As duas personagens seriam incapazes de ser
minimamente francos e honestos com as autoridades, no caso do filme, como com o
povo português, no caso do livro («Poupe-me os seus sermões Reverência. Hoje
não é domingo e o senhor não é vassalo de Roma», p. 41»). Tanto em O Lobo de Wall Street como em Felizmente Há Luar!, as personagens
referidas são vistas como parasitas da sociedade, mas, sem uma grande acusação
para os expulsar dos seus cargos, seria inútil confrontá-los pelo apoio que
tinham no seu grupo social e por aquilo que representavam, o poder financeiro e
o poder político.
Em ambos os enredos
se foca a ambição e a «fome» por poder, que suscita na sociedade um sentimento
de opressão e impotência perante as classes mais altas, que se encontram em
cargos de grande influência.
Carlos
Carlos (Insuficiente +/Suficiente
-) || Gravity (Gravidade)
As mulheres, nas obras literárias, normalmente
têm grande papéis. Em Felizmente há luar!
mantém-se o mesmo rumo, com a
personagem Matilde a ser importante no desenrolar do Ato II, ao mostrar toda a
sua força e determinação na luta para que o seu marido não fosse condenado,
sabendo que ele era inocente, algo que não viria a acontecer, pois Gomes Freire
iria ser condenado à morte.
Uma mulher que teve a mesma força de vontade e
determinação foi a personagem Dra. Ryan Stone, interpretada pela atriz Sandra
Bullock, que, numa missão de reparação de danos ao telescópio espacial Hubble,
foi apanhada por uma chuva de detritos espaciais que destruiu o cabo que a
ligava à nave e a Matt. Ambas lutaram por algo que queriam. No caso de Matilde
era para que, lutando contra tudo e contra todos, pudesse ver o seu marido a
ser inocentado daquilo que era acusado, que nós, ao lermos a obra, vemos que
era uma razão muito pouco plausível — o facto de ser falado como o chefe da
conjura, isto é, da revolução que se falava nas ruas, algo que não foi
confirmado. Na luta travada por Ryan era, primeiramente, quando estava à
deriva, poder sobreviver sem as necessidades primárias e, depois de ser salva pelo
o seu colega Matt, a preocupação era conseguir regressar a casa, ao Planeta
Terra (durante a viagem de regresso, aconteceram várias peripécias que a foram
tornando mais forte psicologicamente e determinada, a cada dia que se passava
no regresso).
Matilde e a Dra. Ryan são as forças que
movimentam grande parte do desenrolar da obra ou filme, respetivamente. Cada
uma mostra um lado diferente quer seja em momentos em que existe um grande
sentimentalismo ou de grande fragilidade e também em momentos onde têm de ser
muito fortes e determinadas para ultrapassarem todas as situações que lhes
aparecem pela frente.
Matilde é uma personagem que luta contra tudo o
que é errado na sociedade em que vive, refuta essa sociedade, sente que os poderosos
são os mais favorecidos com a corrupção existente, que beneficiava todos os
escalões da sociedade portuguesa.
Quanto ao filme, apreciei-o muito por causa das
longas cenas em que vemos a protagonista a andar à deriva no espaço. Faz-nos
pensar o que lhe poderia ter acontecido se não tivesse sido resgatada por Matt,
a personagem encarnada por George Clooney. Várias são as perguntas que se põem
na cabeça do espetador: o que lhe aconteceria? Quanto tempo ela sobreviveria à
deriva no espaço? São perguntas que não são respondidas durante o filme, mas
que nos fazem ficar a pensar.
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