Thursday, September 11, 2014

Canções do 10.º 8.ª



Madalena F.
“É isso aí” (Ana Carolina / Damien Rice), Ana Carolina e Seu Jorge, Ana & Jorge: Ao vivo, 2006
Ao escutar esta música sou imediatamente invadida por um sentimento de nostalgia, sendo que este rapidamente me transporta novamente para o México, onde passei as férias da Páscoa de 2013. Lembro-me como se fosse ontem das noites que passei deitada na praia a olhar para o céu, um dos mais estrelados que alguma vez tive oportunidade de ver. Penso que este é um dos principais factores que faz com que essa semana ainda hoje seja recordada como uma das melhores que já tive. É impossível definir por palavras o que sentia enquanto me encontrava deitada sob aquela imensidão de azul constelado, mas a verdade é que, sempre que o recordo, sou invadida por uma felicidade fora do normal. Mas a melhor parte dessa semana, o que é também o motivo pelo qual tenho um carinho tão especial por esta música, é o facto de ter sido nessa mesma praia, enquanto partilhávamos os fones do meu Ipod para que ambas pudéssemos escutar esta melodia, que fiquei a conhecer uma das melhores pessoas que tenho na minha vida, a Mariana. A Mariana é uma rapariga morena de olhos castanhos, que tem 18 anos e vive em Braga, o que faz com que seja extremamente difícil estarmos juntas. Mas, mesmo assim, tornou-se numa das pessoas mais importantes da minha vida, pois, como diz o provérbio, “longe da vista mas perto do coração”.
Relativamente à letra da canção, admito que, inicialmente, não me cativou. Achava-a extremamente pobre, provavelmente devido às diversas repetições que constituem a mesma. No entanto, após ter escutado a música novamente, dando-lhe assim uma segunda oportunidade, fui capaz de efetuar uma análise mais profunda, através da qual concluí que na verdade apresenta uma mensagem extremamente positiva, visto que apela à valorização das coisas simples da vida (“É isso aí, / Como a gente achou que ia ser, / A vida tão simples é boa, / Quase sempre”). Esta música procura transmitir que, conforme um momento passa, outro momento surge e a vida se engrandece a cada momento que vivemos (“É isso aí, / Os passos vão pelas ruas, / Ninguém reparou na lua, / A vida sempre continua”). Porém, esta letra também é claramente uma letra de amor, como é visível pelo refrão, no qual o sujeito poético refere a satisfação que lhe dá um simples relance da pessoa amada (“E eu não sei parar de te olhar / Eu não sei parar de te olhar / Não vou parar de te olhar / Eu não me canso de olhar / Não sei parar De te olhar”).

João A.
«Os loucos estão certos» (Diabo na Cruz), Diabo na Cruz, Virou!, 2009
Apesar de não ouvir música portuguesa, esta música marcou a minha infância. Com apenas nove anos, durante uma viagem para a minha casa de férias em Trás-os-Montes, ia a ouvir rádio, pois uma viagem de cinco horas sem ouvir música é deprimente. Lembro-me de que, na altura, estava na “Cidade Fm”. Se não me engano, estava no Porto, a caminho da Guarda, faltavam ainda mais duas horas de estrada pela frente, e eu maldisposto por causa de tantas curvas. Só dava música de que não gostava, ou porque eram berros que pareciam vir do além ou porque a letra em si não fazia qualquer sentido ou não falava de um assunto da actualidade. Até que passou esta música. De início, não me agradou muito, mas, quando comecei a ouvi-la como deve ser, comecei a ganhar interesse por esta música.
Uma das coisas que me cativaram foi mesmo a ilustração dos dias de hoje (“Os sogros estão pobres”, “Os pobres estão mortos”), que, segundo a minha interpretação, foi feita com o intuito de criticar a pobreza que o país está a passar, assim como “Os padres comem putos”, “Os putos comem ratos”, que critica não só os casos de violação de crianças por parte de indivíduos que deviam a espalhar a fé e não cometer crimes, mas também a extrema pobreza que se faz sentir, ao ponto de algumas crianças ficarem sem comer. Na minha opinião, os “Loucos” representam o povo, pois esta música critica basicamente a pobreza e os escândalos do dia-a-dia. “Os loucos estão certos”, “É preciso ouvi-los”, segundo a minha interpretação quer dizer que quem governa o país devia ouvir o povo, ou seja, os “loucos”.

Madalena S.
‘’Ser Poeta (Perdidamente)” (Florbela Espanca / João Gil), Trovante, Terra Firme, 1987
Por incrível que pareça, principalmente agora que conheço a história de vida e a razão de ser desta poesia, as primeiras memórias desta canção remontam ao primeiro ciclo, ao meu colégio e às aulas de música de professora Rute em que a música era pretexto para aprendermos a tocar flauta com desenvoltura. Era esperado que os meninos do terceiro ano conseguissem tocar a melodia de modo irrepreensível na Aula Magna no princípio do mês de junho, perante o olhar embevecido de pais e avós que julgavam as suas crianças as melhores em palco.
Eu sempre adorei tocar flauta e com muita pena minha, não pude entrar com a classe do terceiro ano, visto que eu era mais nova. Mas fiquei nos bastidores, tocando só para mim a música de que tanto gostava e tão bem executava, enquanto os meninos da minha classe se preparavam entusiasticamente com a canção do carneirinho “DÓ DÓ DÓ DÓ SOL FÁ MI…’’. Percebi agora que esta música de ‘’infantil’’ só deve ter a melodia própria para treinar o dedilhar da flauta.
Esta canção é um poema de Florbela Espanca musicado por Luís Represas e é um dos testemunhos da insatisfação e do papel da mulher nos princípios do século XIX. Esta mulher, que sempre aspirou ao conhecimento e à cultura, foi confinada ao casamento e à solidão do seu interior e nunca conseguiu atingir a realização pessoal e a felicidade. A poesia era a liberdade (‘’Ser poeta é ser mais alto / É ser maior do que os homens’’), o único modo que a mulher tinha para afirmar a sua ânsia de viver, todos os sentimentos: ‘’é morder como quem beija’’, ‘’é ter de mil desejos o esplendor’’, ‘’ é ter cá dentro um astro que flameja / é ter garras e asas de condor’’.
Li que Florbela não conseguiu matar ‘’a sua sede de infinito’’ no interior do Alentejo, apenas conseguiu ‘’condensar o mundo num só grito’’.

Ana
«Balada do Desajeitado» (Sebastião Antunes / Quadrilha), D.A.M.A, Uma Questão de Princípio, 2013
Acho que a primeira música que me veio à mente quando pensei em “música portuguesa” foi mesmo esta. Lembro-me da primeira vez que a ouvi: ao vivo, numa abertura de um outro concerto a que assisti, no dia 13 de julho de 2014, para ser mais exata. No momento em que a ouvi não gostei (pensando bem, acho que esta é daquelas músicas de que se aprende a gostar com o tempo), mas, quando a banda já estava no final da música, eu já cantava com eles e com as outras quarenta mil pessoas presentes no Estádio do Dragão nesse dia.
Apesar de esta música me fazer lembrar um dia que foi especial para mim pelo simples facto de ter visto uma das minhas bandas preferidas ao vivo pela primeira vez (na primeira fila do Relvado D, se posso acrescentar), a sua letra não tem nada a ver com o acontecimento. Esta música alude a um jovem apaixonado, mas sem a coragem de admitir os seus sentimentos (“Sei de alguém, por demais envergonhado / Que por ser desajeitado, nunca foi capaz de falar”). Basicamente é do tipo de música com que qualquer pessoa se pode relacionar. Aliás, os próprios integrantes da banda D.A.M.A e os compositores têm como “objetivo próprio” compor músicas que façam com que as pessoas facilmente se identifiquem com elas. A “Balada do Desajeitado” fala das inúmeras vezes que o tal jovem se tentou declarar mas falhou (“Estou sempre a fazer-te sinais, tu não me tens ligado” / “Falta-me o jeito, ponho-me a escrever e rasgo”). Há momentos da música em que o artista diz “Então, olha, só te quero a ticomo forma de desistir de elaborar um discurso para se declarar. Esse verso faz parte do refrão que, curiosamente, é introduzido no início da música (“Eu não sei o que é que te hei de dar / Nem te sei inventar frases bonitas / Mas aprendi uma ontem, só que já me esqueci / Então, olha, só te quero a ti).
Na minha opinião, é irónico o facto de o refrão expressar logo o desejo do indivíduo e, mesmo assim, a letra no desenrolar da música continuar a mostrar como o jovem falha sempre que tenta expressar-se de uma forma mais romântica à rapariga. De certo modo, acho que é isso que permite às pessoas poderem-se relacionar com a música: o facto de que, quando apaixonadas, tentam as maneiras mais subtis para demonstrar o seu sentimento, passando para a fase em que desistem e querem ser logo sinceras mas rapidamente passando outra vez para as demonstrações de afeto mais românticas e sentimentais, nunca se acabando o ciclo.

Matilde
«Clandestinos do Amor»(António-Pedro Vasconcelos / Ana Moura), Ana Moura, canção original do filme Os Gatos não têm vertigens, 2014
É-me bastante fácil recordar o domingo em que ouvi esta música pela primeira vez. Após ver o filme Os gatos não têm vertigens, dei por mim a rever a cena final apenas para poder “shazamar” (‘utilizar uma aplicação inteligente de modo a descobrir o nome e o cantor de uma música através da audição da mesma junto ao microfone do telemóvel’) a música que tanto me ficara na cabeça. Não tenho propriamente nenhuma razão objetiva que me faça sentir ligada a esta música, mas considero-a de uma beleza singular e com o poder de me fazer chorar sem motivo.
A música de Ana Moura apresenta a perspetiva de alguém com um amor incalculável por um outro com quem tem uma relação amorosa. As personagens da canção intitulam-se  “clandestinos do amor”, “sábios e loucos” que vivem e acreditam em “promessas ao luar”. Estão apaixonadas e pretendem simplificar todos os problemas que as suas vidas futuras poderiam vir a ter como “sem saber o que havia para jantar”.
Na letra da música, versos como “Estou viva enquanto ouvir a tua voz / Contigo não há frio nem inverno” pretendem transmitir que para o “eu” da canção basta estar com a pessoa que ama ao seu lado para que possa estar bem. Esta partilha fá-lo-á viver e sobreviver, assim como ultrapassar momentos de tristeza e/ou negativos que estão sugeridos em palavras como “inverno” ou “frio”.
Estes querem que o seu amor seja o maior de todos os amores, aquele que “Nem a morte…pode separar” e que durará para a eternidade. Apesar de o “eu” da canção ter a consciência de que é apenas um “fragmento à deriva no universo”, acredita que poderá ser especial e imortal, assim como o amor que nutre pelo seu companheiro/a (apesar de, pessoalmente, considerar que o “eu” da canção é do sexo feminino, esta dimensão não surge explícita).
Já no final da música é referido que “O que eu sinto não cabe num só verso”, o que nos leva a questionar se, para além de um grande amor, será também uma paixão desmedida por ser maior do que qualquer outra (“qualquer verso”) e que o “eu” poderá não ser capaz de a ultrapassar e seguir em frente numa situação de desentendimento ou rutura.

Miguel
“Não sou o Único” (Zé Pedro/Xutos e Pontapés), Xutos e Pontapés, Circo de Feras, 1992
Analisando esta canção dos Xutos e Pontapés, consigo associá-la ao desperdício de oportunidades e ao deixar fugir os sonhos. Visto que estou na adolescência, consigo identificar a canção comigo, pois é nesta fase da vida que ainda se pode ser sonhador e em que surgem oportunidades que podem ditar o futuro de cada um.
No verso “não sou o único a olhar o céu”, dá-se a ideia de que o céu são os sonhos e aspirações, e que o autor defende que não é o único que os tem. O primeiro sinal que a canção me dá, e que me faz pensar que esta pode estar relacionada com a adolescência, são os versos “A despejar a minha raiva / a viver as emoções”. Este relacionamento deve-se ao facto de esta fase da vida ser uma mistura de emoções e, muitas vezes, as pessoas as despejarem e as transmitirem sem as conseguir controlar. No entanto, o autor da canção defende que, quando esta fase da vida passar (as trevas, como se diz antes do refrão), volta-se a conseguir controlar as emoções, deixar as tentações (que eu acredito serem os vícios que muitos jovens apanham na adolescência) e a vida ganha sentido (“e quando as nuvens partirem / o céu azul ficará / e quando as trevas abrirem / vais ver o sol brilhará”).
A canção também inclui o trecho “a ouvir os conselhos dos outros / e sempre a cair nos buracos / a desejar o que não tive / agarrado ao que não tenho”, passagem que, para além de mais uma alusão à adolescência, transmite a ideia de que, em vez de se ficar a lamentar por não se ter alguma coisa na vida, deve-se fazer por ela, por mais obstáculos que se encontrem e por mais erros que se cometam.
Esta canção não me faz vir à memória nenhum acontecimento transato da minha vida, mas lembro-me dela quando tenho de tomar uma decisão importante, possa ela mudar ou não o meu futuro.

“Sopa” (Samuel Palitos / Censurados), Censurados, Sopa, 1993
Consigo-me sempre lembrar do dia, da hora e do ambiente em que ouvi esta magnífica canção pela primeira vez. Ouvi-a no bar Popular Alvalade, que pertence um artista que integrava esta banda, o único Samuel Palitos, que me foi pessoalmente apresentado no dia 19 de julho de 2014 pelo meu primo Gonçalo, a quem chamo “o rei do Fundão”. O meu primo era “amigo do peito” de todos os artistas dos Censurados e, como viu que eu gostava da música deles, decidiu apresentar-me aquele com que se dava melhor, o Samuel (baterista e, frequentemente, vocalista alternativo a João Ribas).
O som inicial da guitarra ainda hoje me arrepia e faz-me sentir livre a alegre. Davam-se saltos, o cheiro álcool e fumo pairava no ar e ouviam-se gargalhadas entre o meu primo e os seus velhos amigos e conhecidos. No refrão, o meu primo tirou uma baqueta de reserva ao baterista e deu-ma para a mão para eu “dar nos copos” (utilizando a expressão dele). É esta canção que realmente me faz sentir livre, não ter quaisquer preocupações e saltar!
No que toca ao texto da canção, esta “sopa” significa a partilha do que temos de modo a causar a felicidade aos nossos amigos (“Dá sopa aos teus vizinhos, dá fruto nacional / Lutaremos até ao fim da contenda, para pedir ao mundo que se entenda”). Ainda na canção está uma mensagem com a qual me identifico muito, que diz que devemos ser quem somos, não nos importarmos com o que os outros pensam ou dizem e manter sempre a nossa própria moral (“Podem dizer aquilo que bem entenderem, nos havemos de continuar / Mesmo que fiques só, mantém sempre a tua moral / Podem rir, ou mesmo chorar se quiserem, nada nem ninguém nos irá derrotar”). Como diz a música, “Nos havemos de continuar” e “nada nem ninguém nos irá derrotar”. Tudo o que interessa é sermos nós próprios, “manter a nossa moral”.

Sara G.
«Águas de Março» (Tom Jobim / Elis Regina & Tom Jobim), Tom Jobim, Matita Perê, 1973
Esta canção tem em mim um efeito nostálgico imediato, levando-me para as longas viagens de carro em família, tanto de ida como de volta, para o Algarve, em Agosto. Há dez anos que se tornou um ritual anual, percorrer esses 278 km para lá e outros tantos para cá, num total de 294 minutos a cantar estusiasmadamente canções dos mais variados artistas, entre as quais a canção “Águas de Março” de Tom Jobim – que foi a que mais me marcou. Lembro-me de ir, como de costume, no banco de trás, encostada à janela do lado direito, seguida dos meus dois meios-irmãos. Íamos os três um bocado apertados, não só por irmos rodeados de malas e maletas cheias de brinquedos, e mais tarde livros e afins, mas também pelo nosso tamanho aumentar com o passar dos anos. Os nossos três olhares cruzavam-se entre si e, de seguida, com os dos nossos pais, que iam nos bancos da frente, ao apercebermo-nos de que o nosso “CD das viagens de carro” – que era na verdade uma compilação de várias canções – se aproximava da última canção, quando, embora já exaustos e com a voz fraca de tantas outras cantadas, animadamente acompanhávamos as “águas de março” com as nossas palavras e gestos de dança bruscos – que volta e meia atingiam a testa de alguém com um cotovelo – iniciando e finalizando as férias de verão com o sentimento de união familiar que nos marcaria para o resto da vida.
O título «Águas de Março» surgiu ao final de um dia de trabalho cansativo na composição do álbum Matita Perê, e por isso surgem os versos «é pau, é pedra, é o fim do caminho». Quanto à letra da canção, Tom Jobim retrata a natureza e os seus elementos, estabelecendo uma ligação com o Homem. Nos versos «É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco, é um pouco sozinho / É um caco de vidro, é a vida, é o sol / É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol» o autor explica que as chuvas poderiam trazer tanto tragédias, como esperanças. Mais á frente, os versos «É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto / É um pingo pingando, é uma conta, é um conto/ É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando / É a luz da manha, é o tijolo chegando» sempre foram por mim interpretados como a reconstrução das casas após a – anteriormente referida – tragédia, que, tendo a canção como fundamento os elementos da natureza, poderia ser um desastre ambiental (daí a destruição de casas). Por fim, os versos «São as águas de março fechando o verão / É a promessa de vida no teu coração» e «É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco, é um pouco sozinho / É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco, é um pouco sozinho» têm um significado de finalização, como se as águas “de março” fechassem literalmente o “verão” e o “caminho”.

Catarina S.
"Postal dos Correios" (João Gil e João Monge), Rio Grande, Dia de Concerto, 1996
Numa primeira análise, saliento a importância dos correios em séculos passados, como forma singular de contatar pessoas, amigos e familiares, através de carta, postal, telegrama ou até mesmo pelo envio de uma encomenda, em curtas ou longas distâncias.
A utilização destes serviços caiu em desuso no séc. XXI com a comunicação global proveniente do desenvolvimento das novas tecnologias, deixando assim um rasto de saudade, sobretudo para gerações mais velhas. Hoje em dia, poucos de nós escrevem uma carta e a colocam no correio e muito menos enviam telegramas. Ocasionalmente, temos necessidade de enviar ou receber uma encomenda. Quanto aos postais ilustrados, tenho por hábito familiar comprar um ou mais quando me desloco a cidades estrangeiras, não para o enviar a alguém mas para guardar como recordação daquela paisagem ou monumento em especial.
Este poema toca-me particularmente, porque era meu hábito escrever cartas ao Pai Natal, referindo nelas uma imensidade de brinquedos que pretendia. A determinada altura reparei que nada vinha "na volta do correio" e que alguns dos presentes que recebia não coincidiam com os que tinha pedido. Noutro ponto de vista, a letra do poema pode ser analisada na perspetiva da emigração. Portugal, sendo um país virado para o Atlântico e para o mundo, foi sempre uma forte referência em termos de emigração. A emigração referida no poema relaciona-se com o forte fluxo que teve lugar nos anos 60 e 70 no nosso país, quando os países do centro da Europa atraíam aqueles que em Portugal não tinham emprego e uma vida digna. Abandonando a família e amigos com uma trouxa às costas, milhares partiram em busca de dignidade levando com eles a saudade ("Pão de trigo e linguiça para a merenda, sempre dá para enganar a saudade"). Por sua vez, a referência à época natalícia ("sou capaz de ir aí pelo Natal") serve como sinónimo de paz, reencontro, família, alegria... Este fado português — partir em busca de novas paragens — é a triste sina daqueles que procuram aquilo que o seu país não lhes consegue oferecer. O Padre António Vieira referiu que tivemos um pequeno espaço para nascer, mas o mundo inteiro para morrer. E, na realidade, muitos dos que cá nascem já mais regressam.
A música, em particular a portuguesa, faz parte do dia-a-dia em minha casa e, por isso, por influência do meu irmão e dos meus pais, que têm por habito ouvir boa música portuguesa, passei também eu a ouvi-la e o "Postal dos Correios", dos Rio Grande, é um bom exemplo.

Carolina

“Cinderela” (Carlos Paião), Carlos Paião, Cinderela, 1984
Por incrível que pareça, esta música, embora não faça parte do meu gosto musical transmite-me um sentimento de nostalgia uma vez que ao ouvi-la esta música, lembro-me dos momentos em que não tinha de me preocupar com nada a não ser com os brinquedos que ia levar para a praia. Era esta uma das músicas que cantávamos em coro no autocarro dos OTL´S do colégio a caminho da praia da Fonte da Telha, em que tentava cantar mais que os meus colegas e eles mais alto que eu. Pensando bem, agora sinto alguma pena pelo motorista que, para além do trânsito que apanhava ainda nos tinha de ouvir a cantar, ou melhor se calhar a gritar.
A importância que dou a esta canção não se deve à letra em si mas à recordação que ela me transmite ao ouvi-la, uma vez que me lembra a minha infância e os colegas que me acompanharam desde os três anos até hoje e de que tantas boas recordações, que ainda hoje partilhamos,guardo ao longo destes anos.
Relativamente à letra, refere-se um amor ingénuo e singelo entre “duas crianças” e um sentimento de primeiro amor. A rapariga chama-se “Cinderela”, nome que é alusivo à infância, quando se vive num mundo de ilusão e de mistério que vão desaparecendo á medida que se vai crescendo (“Louco, louco de ilusão! / a idade assim não tem valor: /Crescer, / Vai dar tempo p’ra aprender, / vai dar tempo p’ra viver / O teu primeiro amor.”). Podemos concluir assim que a canção se refere ao primeiro amor na infância, sendo que com este amor também se aprende.

Vitória

«Aquarela» (Toquinho, Maurizio Fabrizio, Guido Morra, Vinicius de Moraes), Aquarela, 2008
Depois de relembrar com minha mãe as músicas que nós cantávamos antigamente, uma, particularmente, me fez despertar uma saudade enorme da minha infância. Comecei a revirar minhas memórias recordando momentos que me fizeram ser a criança mais feliz do mundo. Umas dessas memórias são de quando eu estudava no Colégio Pica-pau Amarelo. Foi lá que eu encontrei tudo o que uma criança precisava: amigos, aprendizagem e felicidade.
Naquela época, costumávamos ter um sarau no final do ano lectivo para os pais dos alunos, no teatro da cidade, o “teatro Atiaia”. Minha professora naquela época era a Tia Eliana, que nos apresentou a música “Aquarela”, de Toquinho. Essa música não saía da minha mente nem da dos meus amigos, cantávamo-la em qualquer lugar: quando estávamos jogando bola, desenhando, dançando, enfim, nunca nos cansávamos de cantar essa música. Até que, quando o final do ano se aproximava, decidimos que essa seria a música da nossa apresentação. Estava tudo pronto e decorado. Como esperado, a apresentação correu maravilhosamente, eu e meus amigos estávamos tão eufóricos e felizes que quase não nos podíamos conter dentro de nós.
Fiz questão de aprender a tocar Aquarela na viola logo para que todas as vezes que eu e meus amigos nos encontrássemos tocássemos não só esta música, mas todas aquelas que nos faziam sentir a felicidade de ter oito anos outra vez.
Em relação ao texto da canção escolhida, o titulo “Aquarela” revela uma tinta suave utilizada. Para manuseá-la é necessária técnica, habilidade e delicadeza, pois uma das suas particularidades, por não ser retocável e ser de secagem rápida, é por facilmente borrada, o que me faz lembrar a vida: na vida o tempo não volta e as ações ocorridas não podem ser desfeitas. Os versos, “Numa folha qualquer / eu desenho um sol amarelo / E com cinco ou seis retas / é fácil fazer um castelo / Corro o lápis em torno da mão / e me dou uma luva / E se faço chover com dois riscos / tenho um guarda-chuva”, que são o início da música, nos remetem para a infância, a criatividade ao se expressar, representando o mundo que nos rodeia. Já a segunda estrofe nos revela simplicidade e a imaginação de uma criança (“Se um pinguinho de tinta cai num / pedacinho azul do papel / num instante imagino uma linda / gaivota a voar no céu”). Na terceira estrofe, representa-se a saída da infância: “Numa folha qualquer eu desenho / um navio de partida / com alguns bons amigos bebendo / de bem com a vida”. Em “De uma América a outra consigo / passar num segundo / Giro um simples compasso e num / círculo eu faço o mundo”, faz-se referência à fase adolescente, onde parece ser tudo simples de solucionar. Nos versos “E o futuro é uma astronave que / tentamos pilotar / Não tem tempo nem piedade / nem tem hora de chegar”, já na fase adulta, parece que há um planeamento do futuro: porém nossas ações têm consequências imprevisíveis (“Nessa estrada não nos cabe / conhecer ou ver o que virá / O fim dela ninguém sabe bem ao / certo onde vai dar”). Essa parte da música nos mostra um futuro incerto. Em “Vamos todos numa linda passarela / de uma aquarela que um dia enfim / Descolorirá”, diz-se-mos que, um dia, tudo que vivemos e somos se descolorirá, ou seja, terá fim. Em conclusão, “Numa folha qualquer eu desenho / um sol amarelo (que descolorirá) / e com cinco ou seis retas é fácil / fazer um castelo (que descolorirá) / Giro um simples compasso e num / círculo eu faço o mundo (e descolorirá)”.Nesses versos, que no início da música foram interpretados de uma forma infantil, agora aperfeiçoados, mostram-se as várias etapas da vida, que um dia acabará. Essa música é a descrição da vida de todo o ser humano, que um dia, infelizmente, acaba morrendo.

Liane

«Anda comigo ver os aviões» (Os Azeitonas), Os Azeitonas, Salão América, 2009
Lembro-me vagamente de, numa bela tarde em meados de julho de 2012, ouvir esta música pela primeira vez. Estava com familiares e amigos em Portimão a passar férias, quando estava na piscina num parque de campismo e oiço alguém ouvir esta música. Olhei e reparei que era a minha prima. Infelizmente, não sou grande fã de música portuguesa, mas esta particularmente chamou-me à atenção. Gostei imenso do ritmo calmo e harmonioso na música devido a esta ser muito melodiosa, mas também pela letra fantástica que a canção tem. É mesmo uma música magnífica, que oiço quando estou feliz e quando quero estar mais calma, pois, na canção, o som da guitarra e os restantes instrumentos transmitem uma sensação que pode ser classificada como relaxante.
Repara-se, ao ouvir a música, que é uma declaração de amor em que o sujeito poético está apaixonadíssimo e diz que, se não levar à América a sua amada, irá trazer a América até ela, que por ela tudo fará, que a leva a vários lugares “românticos”, nem que tenha de lhos trazer (como já referi a América por exemplo). O “eu”, para mostrar o quanto a ama, diz que se sacrificará se não conseguir melhorar a vida dela ou dar-lhe um momento inesquecível (“mas que eu morra aqui, / mulher, tu sabes o quanto eu te amo / o quanto eu gosto de ti/ e que eu morra aqui / se um dia eu não te levo à lua / nem que eu roube a lua/ só para ti”).
Ao fim de algum tempo, a própria letra torna-se um pouco repetitiva, falando dos locais onde o sujeito poético pretende levar amada, alguns um pouco exagerados ou fantasiados, para demonstrar a grandeza do seu amor por ela («Se um dia eu não te levo à América / Nem que eu leve a América até ti»; «Um dia vamos ver os foguetões levantar voo / A rasgar as nuvens / A rasgar o céu…»). Um aspeto que aprecio bastante nas músicas são as sensações que elas nos transmitem. “O Amor”, por sua vez, consegue transmitir essas sensações às pessoas, ou seja, quando alguém ouve esta música, tem acesso aos sentimentos que o autor teve quando a escreveu/cantou. A letra tem poesia na dimensão dos sentimentos do seu autor. Adoro a sua simplicidade grandiosa. E é por isso que esta canção me faz lembrar o amor.
Por fim, “Os Azeitonas” são uma boa banda, com grandes músicas, na minha opinião esta é uma das quais se destaca e uma das melhores.

Bárbara

«Tempo é dinheiro» (Agir), Agir, ?, 2015
Quando ouvi esta canção, ela não me despertou grande interesse. Penso que o interesse veio quando numa sexta feira umas amigas me convidaram para ir a um concerto do autor desta canção e, pela primeira vez, eu adorei ouvi-la. Parece estranho, porque no início não tinha gostado muito dela, mas, no concerto, ao ouvir está canção, ela fez-me pensar...
Ultimamente, aconteceram duas catástrofes, uma delas no Nepal, que me fizeram pensar. Para aquelas populações, a vida acabou numa questão de segundos. Isto quer dizer que a vida é demasiado curta para pensarmos apenas em bens materiais que, provavelmente, nem sequer vamos conseguir ter. Em vez de nos queixarmos do que queríamos e não temos e de acabar com os conflitos por isso mesmo, devíamos focar-nos naquilo em que realmente acreditamos, para obter  nossa própria felicidade sem serem necessários bens materiais. Não nos podemos queixar. Existem crianças espalhadas pelos quatro cantos do mundo cujos pais nem sempre conseguem pôr comida na mesa, mas mesmo assim, essas crianças não deixam de ter um sorriso para dar. 
Esta canção transmite muito daquilo que hoje em dias mais se tenta combater, o facto de as pessoas apenas se darem umas com as outras devido aos bens materiais que os outros possuem. Esta canção é um exemplo de que não precisamos de muito para nos sentirmos realizados e felizes ao lado de quem mais amamos. Sei que hoje em dia devido a tudo o que acontece, devido aos conflitos, guerras, interesses que geram disputas entre as pessoas, estamos muito longe de fazer com que a mentalidade das pessoas se altere, de modo a que deixem se ser tão materialistas e interesseiras. 
O que o autor mais fala nesta canção é do tempo, ele fala do tempo como a coisa mais valiosa que todos têm. Passando mais tempo com as pessoas de que gostamos e a fazer aquilo de que gostamos, conquistamos a sua amizade é amor.

#