Canções do 10.º 12.ª
Laura
“Já sei namorar” (Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown / Marisa
Monte), Tribalistas, Tribalistas, 2002
Esta canção
lembra-me dos tempos em que era pequena (mas nem tanto assim) e me sentava no
sofá com a minha mãe a ver novelas da Globo, e a canção passava quando
anunciavam o intervalo. Ou das vezes em que me sentava na cozinha a ver a minha
mãe cozinhar e a canção tocava na rádio Comercial. E, para além de observar a
minha mãe e absorver o cheiro dos seus cozinhados, trauteava baixinho a letra
da canção que sabia de cor. E a minha mãe acompanhava-me também. Era um momento
das duas que me deixava feliz.
Quanto ao
texto da canção, quando era mais nova, gostava mais da melodia e do refrão (“Não
tenho paciência pra televisão / Eu não sou audiência p’ra solidão / Eu sou de
todo o mundo / E todo o mundo me quer bem / Eu sou de ninguém/ Eu sou todo o
mundo / E todo o mundo é meu também”), que cantava sempre que ouvia a canção.
Acho que pensava que tinha um mundo para descobrir e estava bastante ansiosa.
Mas também esperava que corresse tudo bem. E penso que a intérprete tenta
expressar esse sentimento, quando canta “Eu só quero é ser feliz”. A canção é
simples e a letra não é muito grande, o que a faz ser mais fácil de decorar. E
pela sua simplicidade se aplica mais a nós e à minha vida, que era tão simples
naqueles tempos. Na parte “Já sei onde ir / Já sei onde ficar / Agora só me falta
sair”, refere-se também o futuro do «eu» do texto, ou talvez não, o que não
deixa de me fazer perguntar como será o futuro ao som desta canção.
André F.
“Cria Atividade”
(Dillaz/Spliff), Dillaz, EP Dillaz &
Spliff — Cria Actividade, 2014
Esta música é uma reflexão sobre a vida. É ainda
um exemplo de que também um estilo de música que é, maioritariamente seguido
pelos mais jovens pode ser bastante apelativo.
A letra traduz um sentimento do autor. A vontade
de compreender o que realmente é a vida e de como passamos por ela sem darmos
conta (“é o ciclo da vida, sem reparar, acabas de entrar e quando reparas estás
de saída”). Mostra-nos também que não devemos ficar de braços cruzados à espera
de que algo aconteça e que mude o nosso destino. Temos de ser nós a fazê-lo,
pois foi assim que os que vingaram na vida o conseguiram (“Aqueles que foram,
foram com glória. Levanta a cabeça e começa a andar”). Para além disso, o
autor, diz-nos ainda que, se não fizermos nada, nunca teremos algo para
relembrar e que a vida foi feita para ser vivida e usufruída com gosto (“ O
exemplo de que a vida é para aproveitar”).
No refrão percebemos que as coisas acontecem sem
nós estarmos à espera e que normalmente o que é bom acaba depressa, ao
contrário do mal, que permanece (“O bom baza e o mau fica”). Entendemos ainda a
mensagem de que, quando achamos que não temos mais ideias, é aí que as devemos
procurar ainda com mais intensidade (“Se a tua criatividade chega ao fim, cria
atividade em ti”).
Mais à frente, o autor mostra como nós devemos
arriscar em tudo, pois é assim que conseguimos triunfar nos nossos objetivos
(“Tropa tu arrisca em tudo, assim vais vencer”). O autor mostra também que,
mesmo que falhemos, não devemos ficar em baixo mas antes ir sempre em busca do
que ambicionamos. É com os erros que aprendemos (“Baixar a cabeça nunca foi
matéria para estudo, estás sempre a aprender”).
Ao longo da letra o autor refere várias pessoas
que já partiram, pessoas que recorda com saudade, pessoas que o marcaram e que
deseja voltar a ver um dia. Aqui percebemos que a vontade de estar com essas
pessoas ainda se mantém, tal como acontece connosco quando parte alguém que nos
era muito querido e de quem sentimos muita falta (“Eu sei que ainda vos vou
encontrar. Talvez noutro ponto de partida, porque ainda não sei o que é ser
alguém para além desta vida. E espero o dia o que eu saiba o que é ser”).
Por fim, o autor escreve uns versos de esperança
para todos aqueles que um dia esperam vir a ter mais, para que estes nunca
desistam daquilo que querem. Uma mensagem importante para as pessoas que estão
infelizes e que pensam não ter uma saída (“Quando achares que tudo aquilo que
tens é nada, ou tudo aquilo queres, não tens. Guarda a tua lembrança, mas bem
guardada, porque a esperança vai e vem”).
Esta música faz-me perceber que devemos agir e
não simplesmente ficarmos parados à espera de que o que queremos venha até nós.
Devemos ser nós próprios a ir em busca dos nossos objetivos. Não podemos
desistir perante qualquer adversidade, nem deixar que nenhum obstáculo nos
derrube. Faz-me também ficar a pensar no que é a vida e o que ainda me está
reservado. Faz-me perceber que muitas coisas más hão de vir mas que, acima de
tudo, temos de trabalhar para o bem vir para ficar.
Joana Sim.
“O Anzol” (Flak e Pedro
Malaquias / Rádio Macau), Rádio Macau, O
Elevador da Glória, 1987
Lembro-me
de cantar no campo de férias esta música (com uma letra modificada e cómica à
moda do “Campo Aventura”) e questionar-me porque alguém quereria pintar o céu
de azul quando era óbvio que ele já era dessa cor! Um dilema para uma criança
de seis anos... Depois, já com nove anos, estava numa viagem em direção a
Aljezur com o meu pai e a sua namorada, enquanto ouvíamos Rádio Macau e, depois
de muitas músicas passarem, “O Anzol” tocou. Fiquei logo entusiasmada por
conhecer uma música na viagem inteira e ouvi pela primeira vez a versão
original, o que fez com que entendesse finalmente “O Anzol”.
A
letra da canção mostra um dilema social sermos nós mesmos ou simplesmente não
nos darmos ao trabalho de sermos originais, e mesmo quando tentamos sê-lo acabarmos
no mesmo ciclo. Esta música utiliza a metáfora de pintar o céu de azul quando é
um facto que ele já o é (“Ah eu já tentei/ Mandar pintar o céu/ Em tons de
azul”), fazendo lembrar uma criança que pinta o céu de azul no seu desenho, depois
vai á mãe para mostrar a sua obra de arte e descobre que não apresenta nada de
original (“P’ra ser original.”). A criança cresce e descobre que a originalidade
é algo que tem de ser trabalhado e que é mais fácil “seguir a multidão” do que
criar o seu mundo a partir da imaginação e da sua cabeça (“Eu não sei se hei-de
fugir/ Ou morder o anzol”). Para a criança crescer tem que descobrir o seu
caminho e a sua “cor”, o que é algo difícil e que pode levar-nos por caminhos
obscuros (“Já me persegui/ Por becos e ruelas/ De horror/ Caminhos sem saída”).
Depois de muita luta para descobrir o nosso caminho e originalidade, chegamos à
conclusão de que ela já não existe, por isso ficamos perdidos (“Até que me perdi/
Sozinha sem saber/ De que cor/ Pintar a minha vida.”). Talvez a originalidade
seja apenas uma miragem, algo que todos
queremos alcançar.
Ana N.
“Não Sou o Único” (José
Pedro / Xutos & Pontapés), Xutos & Pontapés, Circo de Feras, 1987
Tenho de admitir que, ao ver o que esta tarefa
nos propunha, fiquei sem saber que música iria escolher. Não costumo ouvir
música portuguesa, muito menos brasileira ou de outro país lusófono, o que
talvez falte no meu gosto musical. Depois, lembrei-me da famosa banda de rock
portuguesa que tanto costumava ouvir quando era criança: os Xutos &
Pontapés. Esta foi provavelmente das primeiras bandas que comecei a ouvir
voluntariamente, das primeiras de que gostei realmente. Tinha o hábito de
chegar a casa, fechar-me no meu quarto e pôr o álbum dos Xutos aos altos
berros, enquanto dançava e saltava animada e freneticamente ao som das músicas.
A verdade é que ainda tenho esse hábito, para infelicidade dos meus vizinhos.
De entre muitos os êxitos dos Xutos, esta era a música de que mais gostava (e
ainda gosto). Não sei se pelas notas da guitarra, pelo som da bateria ou se
pelo ritmo, mas esta era, de facto, aquela que repetia mais vezes e mais alto,
aquela cujo refrão cantava a plenos pulmões.
Para mim, a letra da música fala de como toda a
gente sonha, imagina e acredita nesses mesmos sonhos, sendo que nem sempre as
coisas correm como esperado mas nunca se deve perder a esperança. “Não sou o
único a olhar o céu / A ver os sonhos partirem / À espera que algo aconteça” é
algo pela qual toda a gente passa: todos sonhamos acordados, à espera de que os
nossos desejos se tornem realidade. A meu ver, a passagem “E quando as nuvens
partirem / O céu azul ficará” mostra que, mesmo que a nossa vida não seja a
melhor, as nuvens, ou seja, as situações menos boas pelas quais estaremos a
passar, vão acabar por partir, abrindo espaço para a esperança e para o sonho.
“E sempre a cair nos buracos” faz-nos também perceber que as pessoas não são
perfeitas e que é normal errar e é normal “cair”, desde que continuemos a
“olhar o céu”.
Helena
"Não há estrelas
no céu" (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Mingos & os Samurais, 1990
Para mim é um pouco mais fácil escolher uma música
para este trabalho porque a minha lista de músicas portuguesas é, infelizmente,
reduzida. Esta música faz-me lembrar o que eu considero uma das melhores
alturas da minha vida. Quando tinha cinco anos entrei para os escuteiros e foi
uma coisa que sempre adorei. Esta música faz-me lembrar de quando chegava a
noite e fazíamos uma fogueira. Era uma das canções que eu me lembro de
cantarmos quando estávamos todos juntos. Também era uma das músicas que a minha
mãe costumava cantarolar quando eu era mais pequena.
Quanto à letra, Carlos Tê escreveu sobre ser jovem
e ter de passar por fases da vida que têm altos e baixos ("A primavera da
vida e bonita de viver tão depressa o sol brilha como a seguir está a
chover"). Explica que está a passar uma fase difícil ("Cá para mim hoje
é Janeiro, frio de rachar") e mostra estar farto da rotina ("Tudo à
minha volta é tão feio,só me apetece fugir").
Nesta
música, Rui Veloso tenta mostrar que ser jovem não é tão fácil com parece.
Temos de enfrentar certos momentos na nossa vida, o que por vezes pode ser algo
demasiado difícil para alguém tão jovem mas temos de erguer as cabeça e
enfrentá-lo ("Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto"). O
nosso futuro é imprevisível ("Porque é que tudo é incerto, não pode ser
sempre assim"). Por vezes, sentimos-nos perdidos e não sabemos bem o que
podemos fazer para sair daquela caminho sem saída em que nós encontramos e
tentamos procurar em todas as pessoas e situações um forma de dar a volta a
situação, o que pode não ser tão fácil como gostaríamos: "Vou por aí às
escondidas, a espreitar ás janelas, perdido nas avenidas e achado nas
vielas", "Sai da frente por favor, estou entre a espada e a
parede". Temos momentos maus e bons e temos de aproveitar o que
encontramos e enfrentar os problemas mesmo quando achamos que são demasiado
complicados de resolver. Isto é o que esta música me transmite.
Patrícia
“Um contra o outro” (Pedro
da Silva Martins / Ana Bacalhau), Deolinda, Dois selos e um carinho,
2010
Não sabia que música poderia escolher: ouço
muitas músicas, mas nenhuma me diz nada de especial. Há músicas bonitas, com
uma melodia espetacular e com uma letra magnífica, mas esta música que escolhi,
apesar de não a apreciar muito, é provavelmente a música que me traz melhores
recordações.
Tal como o título da música refere, “Um contra o
outro” fala sobre como a vida é curta e diz-nos que, por vezes, perdemos tempo
com discussões e problemas desnecessários e com teimosias contra uma outra
pessoa: “Já não basta esta luta contra o tempo / Este tempo que perdemos a
tentar vencer alguém”. Mais à frente na música, os compositores referem que
temos que parar para pensar naquilo que estamos a fazer e, por vezes, devemos
mudar para que aquela “guerra” acabe.
Existe uma outra perspetiva de interpretar a
música, com uma visão mais objectiva. Por exemplo, a canção faz-me pensar naqueles
adolescentes que ficam viciados a jogar em casa e que não saem. Esta música
incentiva a que todos deixem esses vícios de lado e que saiam para a rua e
aproveitem a vida.
A nível pessoal e indo buscar as minhas
recordações, esta música leva-me ao meu sexto ano de escolaridade. Éramos uma
turma muito unida, e todos nós em conjunto criámos uma nova versão
(honestamente, já não me lembro muito bem da letra que inventámos...) com o
ritmo de “Um contra o outro”. Falava sobre apoiar a nossa turma quando eles iam
jogar futebol em competições com outras turmas e nesses momentos quando
estávamos lá no campo a dar o nosso apoio, cantávamos a música enquanto eles
jogavam. Eram momentos fantásticos!
Além disso, a nossa letra também falava sobre o
nosso diretor de turma, o professor João Bessa, que, por sua vez, era o nosso
professor de música. Era uma letra super-divertida, mas com algumas piadas
sobre ele. No final do ano, juntámo-nos e cantámos-lhe a música. Com algum
receio, estávamos todos à espera de ouvir um grande sermão, mas, quando
acabámos de cantar, ele começou-se a rir e não conseguiu parar durante cinco
minutos! No final, perguntou-nos se lhe podíamos dar a música para ele ensinar
aos seus alunos. Foi inesquecível!
Márcia
“Tu e Eu” (?), Diogo Piçarra, Espelho,
2015
Esta música faz-me
lembrar as minhas viagens de Sesimbra para Lisboa depois de um longo dia de
praia. É verdade que a letra não tem nada a ver com isto, mas foi numa dessas
grandes viagens que me comecei a “apaixonar” pela música.
Por um lado, por
vezes fico com pena da minha família por aturar as minhas “cantorias”, nestas
viagens, e esta canção, por acaso, até é daquelas que eu sei de cor. Por isso
eles ainda sofrem mais. A música faz-me lembrar também todas as vezes que vamos
em família e brincamos uns com os outros e dizemos piadas, cada uma mais
engraçada que a outra.Esta música provoca-me um sentimento mais familiar do que
sentimental, só porque já passei bons momentos a ouvi-la.
Em relação ao refrão
da música, tanto para o “eu” da música como para a maior parte dos adolescentes
e pessoas que a ouvem, transmite um sentimento de perda e retoma (“Se tu pensas
em mim / Como eu penso em ti / Temos tudo então / Para poder voltar ao sonho
outra vez / Se tu dizes que sim/ Sei por onde seguir / Que esperamos para querer
voltar a ser só tu e eu”). São decerto um casal que se apaixonou e que, muito
provavelmente, ao fim de algum tempo acabou por terminar a relação. O autor da
letra incentiva a que, se ainda gostarmos de alguém e pensarmos em alguém e se
essa pessoa ainda pensar em nós, lutemos por aquilo que queremos e não o deixemos
fugir enquanto ainda temos tempo para o retomar.
A grande lição de
vida que retiro desta canção é que não devemos desistir de nada, por mais
difícil que isso seja e que, quando se ama uma pessoa, devemos de lutar por
ela.
Bia
“Sorri, Sou Rei” (Alexandre
Carlo Cruz Pereira / Natiruts), Natiruts, Raçaman,
2009
Não precisei de pensar muito nas razões de ter
escolhido esta canção pois foi das primeiras canções que me vieram à cabeça.
Começo por escrever que todas as manhãs ia para a escola de carro com uns amigos
dos meus pais de longa data e, nessas manhãs, ouvíamos sempre o CD dos Natiruts
a tocar no carro. Foi aí que ouvi pela primeira vez a canção que escolhera.
Fiquei com a mesma na cabeça, já a sabia de cor, parecia que todos os caminhos
iam dar à canção. Foi então que soube, em pleno Verão, que os Natiruts vinham
cá a Portugal atuar. Não hesitei. Fiz o maior número possível de telefonemas
para saber quem queria ir e acabámos por ir um bom grupo a Cascais vê-los atuar
nas Festas do Mar. Apesar de estar imensa gente lá, confesso que foi um grande
concerto, e claro que, quando tocaram a canção “Sorri, Sou Rei”, o meu sistema
nervoso disparou. Foi um dia para relembrar e para repetir.
Quanto ao texto da canção, na minha opinião, a
primeira estrofe representa a esperança no amor: o amor vem a partir da
esperança, mas, se o outro nos dissuadir, mais vale deixarmos para trás este
sentimento a fim de evitarmos o sofrimento. O refrão — “Quando você se foi
chorei, chorei, chorei / Agora que voltou / Sorri, sorri, sou Rei” — revela os
sentimentos que a amada causa no sujeito quando não está e quando está junto
dele: tristeza e alegria. Já na terceira estrofe, a canção tenta transmitir que
as coisas mais simples podem ter um grande significado e impacto na nossa vida;
não devemos, por isso, desperdiçar certos momentos pois há opturnidades que
podem nunca mais voltar. Em suma, e a meu ver, esta canção faz-nos perceber que
durante a nossa vida devemos sempre olhar para as pequenas coisas que nos
rodeiam por mais insignificantes que possam ser, pois estas podem ter um
impacto futuro. Devemos, portanto, valorizar o presente e não o futuro, tentando
assim não desperdiçar o que temos hoje pelo que podemos não ter amanhã e,
assim, construir um “universo” de felicidade e amor.
Margarida
«Jardins Proibidos» (Paulo
Gonzo / Paulo Gonzo), Paulo Gonzo, My
Best, 1993
A primeira vez que ouvi esta música estava em
casa com o meu pai. Esta é uma das músicas preferidas do meu pai e, nesse dia,
há muitos anos, ele partilhou-a comigo . Estávamos na sala, quando o meu pai me
chamou e eu ouvi “quebra-se o tempo em teu olhar / nesse outro mundo / só teu“
e eu fiquei apaixonada por aquelas palavras cantadas por uma voz rouca que me
deliciou.
Desde este dia, esta passou a ser a nossa música,
minha e do meu pai. Cantámo-la muitas vezes no carro, nos bares de karaoke e em
casa. E as palavras “onde eu queria / chegar um dia / para me perder“ continuam
a fazer sentido.
O poema desta canção fala sobre uma história de
amor, um amor grandioso, o sonho de qualquer um. Se calhar por ser o sonho de
tantas pessoas é que se tornou tão ouvida e tão popular. A música começa de uma
forma muito suave e vai aumentando de intensidade à medida que vai caminhando
para o fim, que podemos ligar ao processo de sedução e conquista que
caracterizam o amor. As variações da música podem associar-se ao ritmo do amor,
umas vezes mais calmo, outras vezes mais intenso (“ardo em ciúme / desse jardim“).
Entretanto, a minha vida mudou porque o meu pai
já não vive comigo mas a música ficou. Continua a ser a nossa música, mesmo que
isso, às vezes, magoe a minha mãe, para quem os jardins deixaram de ser
proibidos. Muitas vezes, dou por mim a pensar naquela tarde de sábado, em que
entre uma coca-cola e um balde de pipocas, entrámos “nesses recantos” só nossos
e em que éramos verdadeiramente cúmplices.
Hoje, embora fale com o meu pai todos os dias,
sinto a sua falta, e nesses momentos, ligo o computador, vou ao youtube e ponho
a tocar a música, que me faz recuar no tempo e sentir a proximidade do meu pai.
Gonçalo
“O Corpo é
que Paga” (António Variações / António Variações), António Variações, Anjo da Guarda, 1983
Escolhi esta canção não
talvez pela letra mas sim pela canção em si, que me faz voltar à infância, e
pela forma única que António Variações tinha de cantar, mais rouca, mas sendo
essa rouquidão que o diferenciava dos outros cantores. Também acho que a letra
está à altura da música, ao ser uma alusão aos perigos da vida, porque, se
virmos bem, geralmente com as más escolhas , não só da vida mas de tudo, o corpo
é que costuma sair magoado, e, como se diz no refrão, “Quando a cabeça não tem
juízo / Quando te esforças / Mais do que é preciso / O corpo é que paga”. Também
acho que é uma crítica àquelas pessoas que pensam demasiado, quando, às vezes,
deve agir-se por instinto sem pensar.
Esta canção faz-me
lembrar aqueles tempos em que se é criança e em que, nas férias, não se faz
nada, sobretudo pelo facto de então acordar mais cedo e ir para o carro,
ligarmos na estação M80 e ouvirmos esta canção, ao irmos para casa da minha
avó. Nestas alturas em que se é criança brinca-se com as avós e pais. Lembro-me
disso também porque, quando ia para a minha avó, chegava e todas as semanas, ou
sexta ou segunda, a minha avó dizia para irmos fazer um bolo(e eu ficava sempre
com um pouco da massa é o que me faz lembrar mais e é uma das memórias a qual
detenho e relembro com mais carinho). E, depois, chegava o momento de ir para o
quarto e ficar a jogar playstation2 durante algum tempo, geralmente até às 16h,
para depois poder ir jogar à bola com uns amigos. Agora, que já não faço isso,
dou-lhe mais valor, relembro-o bem e com desejo de o voltar a fazer.
Joana G.
«Cinderela» (Carlos
Paião), Carlos Paião, Cinderela, 1984
A minha escolha recaiu sobre a música “Cinderela”
do conhecido músico português Carlos Paião. Decidi escolher esta música pois é
uma das minhas músicas nacionais favoritas. Lembro-me de a saber de cor desde
sempre: andava eu no terceiro de escolaridade quando, na escola aprendi a
cantar esta mesma música no dia de São Valentim. Sentia-me tão entusiasmada por
saber uma música nova que me lembro de passar dias inteiros a cantá-la.
Acho a música lindíssima pois, ao escutarmos a
letra, facilmente nos apercebemos de que de trata de uma história de amor entre
dois jovens (neste caso, Cinderela e Pedro), e na primeira parte da música, o
eu vai relatando a forma como se conheceram. A principal mensagem que esta
música nos deixa é realmente o verdadeiro valor da amizade, amor, carinho («E
agora, nos recreios, dão os seus passeios, fazem muitos planos. / E dividem a
merenda, tal como uma prenda que se dá nos anos. / E, num desses bons momentos,
houve sentimentos a falar por si.»). O sujeito poético faz uma certa comparação
com o que, muitas vezes, acaba por acontecer quando duas pessoas gostam uma da
outra, como partilhar, fazer planos, desenvolver sentimentos. Por exemplo o
cantor faz alusão ao primeiro amor, realçando a sua importância («Crescer, vai
dar tempo p'ra aprender, vai dar jeito p'ra viver, o teu primeiro amor»).
Joana San.
“Velha infância” (Carlinhos Brown / Marisa Monte / Arnaldo
Antunes), Tribalistas, Tribalistas,
2002
Se bem me recordo, a primeira vez que ouvi esta música foi em 2002. Estava
quase a completar os meus quatro anos quando fiz a minha primeira viagem de avião.
Estávamos em dezembro, na época natalícia, e os meus pais decidiram fazer-me
uma surpresa, a mim e ao meu irmão, e fomos passar o natal no Brasil. Foi
precisamente nessa viagem que ouvi pela primeira vez esta música. Nesta altura,
os Tribalistas estavam no auge da sua carreira, com alguns temas que ainda hoje
me recordo como “Já sei Namorar”, “É Você”, “Velha infância”, entre outros. Se
em Portugal foi um sucesso, nem se imagina o sucesso que era no Brasil.
Recordo-me de estar a 12km de Natal, junto ao maior cajueiro do mundo, em
Pirangi do Norte, e ver um índio com toda a indumentária de um chefe de uma
qualquer tribo junto a uma banca colocada estrategicamente na rua e a dançar ao
som muito alto da “Velha infância”. A música acabava e o índio voltava a colocar
a mesma “Velha infância”, continuando assim a dançar e a pedir uma lembrança a
todos os turistas que passavam. Sei que fiquei por ali mais de duas horas a
passear pelo mirante dentro do cajueiro, tendo como pano de fundo a fantástica
praia de Pirangi do Norte e o índio lá continuava a dançar e a música sempre a
tocar. Mas recordo que, fosse junto ao maior cajueiro do mundo, fosse nas
várias excursões que fiz, na praia de Ponta Negra junto ao “morro do careca”,
na viagem de “buggy” pela lagoa de Pitangui e dunas móveis de Genipabu, os
Tribalistas e “Velha infância” faziam parte de toda aquela fantasia.
Em termos de letra, o título em si já se pode considerar um resumo da música
pois fala de um grande amor de infância que predomina na atualidade (“A gente brinca, / Na nossa velha infância”). No fundo, um amor para a
vida que, de uma forma ou de outra, todos nós procuramos mas que só alguns
conseguem encontrar. A viagem a
Natal foi até agora a viagem da minha vida. E porquê? Porque foi a minha primeira grande viagem. Porque conheci novas
realidades, novos costumes, novas experiências, enquadradas sempre numa
paisagem e belezas únicas. Enfim, um “novo mundo”, também ele falado e escrito
em Português. Passados todos
estes anos, ainda sinto um grande prazer em recordar esta viagem e ironia do
destino, ainda hoje contínuo a olhar-me ao espelho e a cantarolar: “E a gente canta, e a gente dança, e a gente não se cansa, de ser criança”.
Elly
«Secretamente» (Rita Guerra / Farol Música), Rita Guerra, Rita, 2005
Esta música é
romântica e interpreta o amor que uma mulher sente por um homem (“E fico à
espera de ver em ti / O sentimento que trago dentro de mim”), mas em segredo,
pois não é correspondida. Para mim, é fácil ligar-me a esta música, pois todos
nós já nos apaixonámos por alguém que não se tenha apaixonado por nós, todos
nós já tivemos medo de demonstrar a alguém o que realmente sentimos.
Mas,
independentemente de tudo, há sempre alguém que marca o nosso coração (“Mas eu
só posso imaginar, o que podia ser / Se eu te pudesse abraçar, se eu te pudesse
ter”). No meu caso, a primeira vez
que o vi, para mim não era nada além de mais um na minha vida. O tempo foi passando e,
durante as nossas longas conversas, fui conhecendo-o e
percebendo o quanto ele era diferente de todos os outros (“Qual o caminho que
irá dar / A esse teu mundo onde eu queria entrar?”). A partir de um certo dia,
comecei a sentir que tudo em mim havia mudado, o meu jeito de ser, o meu jeito de viver e até o meu jeito de ver e
entender as coisas. Até pensei que estava
a confundir as coisas (“E tantas vezes eu já sorri / Só por lembrar-me, só por
pensar em ti”) mas percebi que, à medida
que o tempo passava, eu gostava mais e mais dele.
Dentro de mim havia uma mistura de medo e felicidade ao mesmo
tempo, sofro quando não o vejo, alegro-me quando escuto a sua voz (“Secretamente, à
espera de um gesto, de um sinal / Secretamente, tentando saber se dás por mim
afinal”). Ele nem sabe o que sinto por ele, vê-lo com outras é a minha tortura e o meu desespero. O meu coração
dói todas as vezes que lhe quero dizer algo, mas não consigo. Tento evitá-lo, digo a todos que o odeio e minto para
mim mesma. Eu queria sentir raiva dele, mas não consigo, pois desarmo-me quando
ele sorri, transporto-me para outro mundo quando sinto o seu perfume, o meu
gelo derrete quando os nossos olhares se cruzam. Tento não pensar nele, mas, todas as vezes que oiço os seus passos pelo
corredor, o meu coração dispara, fico
tremida e gelada. Sei que ele já percebeu, sei que quer que eu lhe conte, mas
temo perdê-lo. Espero que ele me perdoe por não ter coragem para expressar o
que sinto, e onde quer que eu esteja (“Secretamente, à procura de um toque, de
um olhar / Secretamente, tentando saber se algum dia os nossos mundos se irão
cruzar”), quero que ele saiba que o vou levar dentro
de mim, para o resto da minha vida.
Francisco
“As meninas da Ribeira
do Sado” (Adiafa), Adiafa, Adiafa,
2002
Comecei a ouvir esta música numa das minhas
viagens de férias para Viana do Castelo.
Quando começou a tocar a música no carro, vi que era interessante. Durante anos, passei a ouvi-la, um dia e
outro, até que consegui decorá-la. A última vez que a ouvi foi precisamente nas
férias da Páscoa.
Apesar de não ser do tipo de música que eu gosto
, gosto dela porque é divertida e engraçada. Há muito tempo que oiço
esta canção e, sempre que a oiço, foco-me na letra. A parte de que eu mais
gosto na música é a parte do refrão (“As meninas da ribeira do Sado é que é, / Lavram
na terra com as unhas dos pés. / As meninas da ribeira do Sado são como as
ovelhas, / Têm carrapatos atrás das orelhas”). E foi esta a canção que escolhi.
André S.
“À minha maneira” (Tim / Xutos & Pontapés), Xutos & Pontapés, 88, 1988
Devo dizer que foi bastante difícil escolher uma
música, visto que eu não costumo ouvir música portuguesa. Escolhi esta música
porque os Xutos & Pontapés são a única banda portuguesa de que realmente
gosto. Já fui três vezes a concertos da banda e já tive a oportunidade de estar
com o vocalista da banda, o Tim. Talvez este acontecimento tenha facilitado a
escolha da música. Sempre que oiço a música, recordo a emoção de estar num
concerto e de todo aquele barulho. Do meu ponto de vista, a música fala da
maneira de como eu gosto de fazer as coisas à minha maneira, tal como diz no
titulo e no refrão.
A meu ver, a passagem «A qualquer dia / a
qualquer hora / vou estoirar, pr’a sempre» significa que, a qualquer momento,
uma pessoa se vai cansar de não ter as coisas à sua maneira e como bem
entender. A passagem «De queda em queda / Passo a passo, / Vou andando,
prá frente» quer dizer que em cada acontecimento que passamos, vamos aprendendo
mais e mais». Também pode significar que em cada dia da nossa vida aprendemos
novas coisas. E, por fim, quase no final da música, a passagem «E as forças que
me empurram / E os murros que me esmurram / Só me farão lutar» diz-nos que as
forças que empurram uma pessoa e a dor que uma pessoa sofre só a farão lutar
por mais por aquilo que quer.
Concluindo, a canção
identifica-se com a minha maneira de pensar.
Bruna
«Verão Azul» (D’zrt), D’zrt, Morangos
com Açúcar — Os Temas da 3.ª Série de Verão, 2006
A escolha desta
canção não foi fácil. Pensei e pensei, mas não conseguia achar uma música que
me fizesse ter vontade de escrever sobre ela, porque as músicas que tenho
ouvido mais ultimamente e têm algum significado para mim são internacionais.
Então, decidi
desprender-me da actualidade e retroceder até 2009, quando me encontrava no 4.º
ano de escolaridade, de que tenho as melhores recordações da minha infância. Nessa
altura não havia responsabilidades, preocupações, e via a vida como se
estivesse nos “Morangos com Açúcar” («Está na hora de novas aventuras, / As
aulas terminaram, / O verão é de loucuras, / Aperta bem o cinto; / E entra na
viagem, / Neste mundo alucinado, / Onde tudo é miragem»).
A música também me
transmite o poder da verdadeira amizade e da união, do apoio mútuo e das
verdadeiras regalias que uma boa amizade pode trazer («Saber que tens alguém
com quem contar, / Os bons momentos que podes partilhar; / Juntos sorrimos,
cantámos, dançámos e até os momentos tristes partilhámos»).
Penso que toda a
gente conhece esta música e sabe alguma parte da letra pois é fácil decorá-la e,
se soubermos interpretá-la para além do que se ouve, percebemos que pretende
transmitir-nos os bons momentos do verão, as noites de calor, as saídas, as
tarde passadas na praia, os amores que se vive nessa época e tudo o que se pode
fazer sem ter a preocupação das aulas, dos testes, dos exames. E, com efeito,
passado um ano escolar intensivo merecemos umas boas férias cheias de diversão,
até porque é assim que todos vemos a nossa adolescência quando ainda somos
pequenos e esta música só quer dar mais ênfase à nossa ideia pré-definida («Neste
verão eu estou 'a fim' (sinto que algo vai acontecer); / Dê o que der, eu vou
curtir (entre vocês está-se bem; / Soltar a energia em mim; / Sempre que o
calor apertar; / Na praia eu vou estar»).
Ao ouvi-la de novo —
e faz algum tempo que não o fazia —, penso naqueles intervalos com as minhas
amigas, passados a dançar, na minha festa de final do 4º ano, de todas as
brincadeiras e sorrisos que marcaram aquele ano da minha vida. E trouxe
amizades comigo, como é o caso da Elly! Penso que todas as tardes, quando
chegava às 19h15m, eu me ia sentar no sofá a ver a minha série preferida e só
saía de lá às 20h. Esta música marcou a minha infância!
Joana M.
“Lusitana Paixão” (José
da Ponte; Fred Micaelo / Jorge Quintela), Dulce Pontes, A brisa do coração, 1995
Esta música está presente desde o dia que eu nasci.
O meu tio, Jorge Quintela, fez esta música e ele, para mim, é um exemplo de
pessoa. Quando oiço esta música, percebo o talento que ele tem, e sou capaz de
ouvir cada nota, cada pedaço de criatividade. Posso ouvi-la mais que uma, duas
ou três vezes, que sou incapaz de me fartar. Identifico-me bastante com a letra
da canção, enquadro-me no papel da cantora, e parece que sinto a cada sensação
que ela sente quando interpreta esta canção: sinto cada arrepio, cada suspiro,
cada insegurança…
Quanto à letra e ao seu significado, interpreto
esta música como o sentimento que o fado transmite quando é cantado. Quando
ouvimos fado, apercebemo-nos de que, a maior parte das vezes, transmite dor,
tristeza, memórias, paixão, entre muitos mais sentimentos e todos dentro do sofrimento.
Esta música pretende transmitir que nem sempre é bom ser-se orgulhoso, não
saber aceitar uma crítica é algo que nos prejudicará no nosso futuro, porque
podemos achar que, ao não admitirmos que errámos, estamos a fazer algo correcto
porque nos provoca uma felicidade extrema, mas, no futuro, vamos
apercebermo-nos de que estávamos errados. Diz também que fugimos do nosso
passado e que não queremos trazer ao de cima as memórias que nos relembram toda
a dor que vivemos. Voltando um pouco ao início da música, a letra refere que
nada vai fazer arrepender o sujeito poético, nem as memórias, nem a dor que
permanece no nosso peito dia e noite, porque o “eu” do texto sente demasiada
dor para conseguir perdoar alguém…
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