Canções do 10.º 1.ª
João C.
“Taquetinho ou lebas nu
fucinhu” (Trabalhadores do comércio), Trabalhadores do comércio, Na Braza, 1982
Esta música faz uma crítica social, recorrendo
ao humor, à maneira como eram educadas as crianças no Estado Novo, e no pós-25
de abril. Após a revolução de abril, a autoridade foi posta em causa a vários
níveis.
No videoclip da música são ilustradas como
figuras principais da autoridade o polícia, que simboliza a autoridade
jurídica, o professor, que simboliza a autoridade na educação escolar, o padre,
que simboliza a igreja (que nessa altura influenciava muito as pessoas pois em
Portugal nesse tempo as pessoas eram bastante religiosas), e o pai, que
simboliza a autoridade parental.
No videoclip da música estas figuras da
autoridade ordenam a um jovem que fique calado e quieto, ou seja que faça tudo
o que eles querem sem se queixar nem questionar, correndo o risco de sofrer
represálias, caso o faça, refletindo o refrão da música a obediência total à
autoridade: “Taquetinho, e caladinho, taquetinho ou lebas nu fucinhu”. Ainda
acerca do videoclip da música, o jovem aparece primeiramente atado a uma
cadeira que simboliza o estar preso àquilo que lhe exigem, e, enquanto tenta
libertar-se, vai dizendo o que pensa, aparecendo outra vez após o refrão
enrolado em alumínio, novamente a tentar libertar-se, enquanto diz o que pensa
das personagens em geral:
“Já 'tou farto d’ir à
missa e de rezar o pai nosso e não gosto que me deem a comer do que não gosto,
só me impingem baboseiras só me querem magoar e são tantas as asneiras que eu
tenho que calar”.
Escolhi esta música pois gosto bastante do
ritmo, mas, sobretudo, da letra e da mensagem que transmite. Está de acordo com
a minha forma de pensar: na minha opinião, devemos expressarmo-nos e dizer o
que sentimos e pensamos acerca do que nos dizem e mandam fazer. Temos o direito
de nos questionarmos acerca de tudo aquilo que nos diz respeito.
Sofia
“Amor é uma merda” (Nga/
Drika), Nga, ?
“Amor é uma merda” é uma música que pretende
transmitir o sentimento de frustração de uma homem que acabou por sair
prejudicado da sua relação amorosa. A sua letra remete-nos para a sensação que
o próprio autor sente e a forma expressiva como o cantor a canta também ajuda à
ligação envolvente entre o ouvinte e o cantor.
“Mas a verdade é… tu sabes, tu nunca te
esforçaste, na tua boca eu era um traste, tempestade veio tu bazaste”, “ Lembro
que desabafei contigo e usaste isso contra mim” ou “ Onde eu tinha um coração,
levaste e deixaste um rochedo” são apenas algumas expressões que mostram a
mágoa que o autor sente após ter sido abandonado pela pessoa que ele mais
amava.
Apesar de o próprio autor também se sentir
culpado, ele sabe que a sua relação acabou devido à falta de esforço por parte
da namorada. Com esta desilusão, o autor tenta procurar distrações que não só o
façam esquecer o desgosto amoroso como também o façam seguir a vida avante
apesar de saber que nunca mais vai conseguir confiar em alguém como confiava na
sua namorada (“E não confio pois maior confiança, maior a traição”).
Sente-se injustiçado pois amava-a
incondicionalmente apesar dos defeitos, e nunca viu esse sentimento ser
recíproco, o que provocou não só revolta como também rancor, levando a que o
autor não queira ter a sua antiga namorada de volta (“E, quando estiveres
arrependida lembra-te que ter-me deixado foi a melhor escolha da tua vida”).
Esta música faz-me lembrar uma altura na minha
vida em que a ouvia imenso e não tardou muito até que a cantasse inclusive no
duche. Para além do instrumental ser óptimo, a letra completa-o pois, além de
realista, toca no coração de muita gente.
Aquilo que torna esta música fantástica é o
facto de não tentar criar a ideia de que juntamente com o amor só existem
sentimentos bons ou mesmo que o amor é bom no seu verdadeiro sentido, como a
maioria das músicas comerciais faz! Esta letra mostra um outro lado do amor…
Não só o lado dos “príncipes encantados” nem do “e vivem felizes para sempre”
mas o lado em que as pessoas sofrem, choram e passam por períodos dolorosos em
que pensam que o mundo acabou!
Todos nós já experienciámos desilusões amorosas,
independentemente do motivo, pois elas existem. Logo não devemos passar a
imagem do contrário. Músicas como esta podem ser uma grande ajuda e servir de
apoio para pessoas que estejam a passar pela mesma situação pois mostram que as
desilusões amorosas são uma realidade e são vividas por toda a gente, não nos
fazendo sentir como se fôssemos estranhos ou diferentes.
Rodrigo M.
“Cinderela”
(Carlos Paião), O melhor de Carlos Paião,
1985
Comecei a ouvir esta
música numa das minhas muitas viagens de férias para o Algarve. Logo quando
começou a tocar, também comecei a cantar, vi que a música era interessante. Ao
longo dos anos, passei a ouvi-la, um dia e outro, e, por fim, consegui decorar
a canção. A última vez que ouvi esta canção foi precisamente há duas semanas.
Esta é uma das minhas músicas favoritas principalmente quando estou pensativo.
E é uma música que me faz acordar.
Apesar de não ser este
tipo de música o meu favorito, gosto muito dela porque era de um cantor muito
especial, de seu nome Carlos Paião. Há tanto tempo que oiço a canção e nunca me
foquei na letra, porque, para mim, a letra é o menos. Apesar disso, gosto muito
do verso “Eles são duas crianças a viver esperanças, e a saber sorrir” e do
refrão (“Então, bate, bate coração! Louco, louco de ilusão! A idade assim não
tem valor. Crescer, vai dar tempo para aprender, vai dar jeito para viver. O
teu primeiro amor”). E esta é a canção que escolhi.
Mariana
"Tu és mais forte" (Boss AC), Boss AC, AC para os amigos, 2012
A música "Tu és mais forte", de Boss AC, marcou-me
muito e continua a marcar-me dia após dia. Tem uma letra que nos traduz uma mensagem
muito importante e, principalmente, um lema de vida: a vida e feita de
"altos" e "baixos" e só depende de nós superarmo-nos a nós
mesmos e vencermos os "baixos", fazendo com que esses se transformem
em "altos". Diz-nos ainda que temos de ter esperança de que melhores
dias se avizinham ("Tu és mais forte e sei que no fim vais vencer / Sim,
acredita num novo amanhecer").
A meu ver a música pretende também mostrar-nos uma das
"leis principais da vida", por assim dizer, porque na vida temos
sempre de tentar, tentar lutar pelos nossos objetivos, e, mesmo que ao
tentarmos não consigamos na primeira tentativa, não podemos desistir de tentar
até conseguirmos, pois tentar não custa! ("Só perdes se não tentares / E não
desistas se falhares").
Nenhuma vida é perfeita,mas só depende de nós a maneira
como a interpretamos e trabalhamos e lutamos para a mudar ("A estrada não
é perfeita", "O teu sorriso de vitória no rosto / Nem tudo é fácil
mas assim dá mais gosto / Quando acreditas a força nunca se esgota"). Demonstra-nos
também que, como sucede em tudo na vida, temos de saber "cair" para
depois aprendermos a "levantarmo-nos"("Só a reconheces a vitória
se souberes o que é a derrota").
A letra desta música, para mim, é muito especial, muito
positiva e ensinando-nos que, apesar de tudo aquilo por que possamos estar
a passar ou a viver, só depende de nós mesmos sermos fortes e termos força de
vontade para vencermos e ultrapassarmos tudo, não nos ficando apenas a
martirizar-nos com os maus momentos e lutarmos por ultrapassar esses momentos
("Tu mereces muito mais / És forte, abanas mas não cais / Mesmo que sintas
o mundo a ruir / Quando as nuvens passarem vais ver o sol a sorrir").
A mensagem traduzida pela letra desta música, pretende
também dizer que só devemos dar importância às opiniões de quem é importante
para nós e que quer apenas o nosso bem, e desvalorizar as opiniões de quem nos
gosta de ver mal ("Os cães vão ladrar e a caravana a passar").
Lembro-me de um dia, não há muito tempo, estar mais em
baixo e um amigo me aconselhar a ouvir esta música. No início a minha reacção
foi um bocado cética mas a resposta dele foi "ouve e depois falamos".
Escusado será dizer que, depois de a ouvir, a música fez crescer em mim uma
enorme vontade de me animar e mudar, de mudar a minha maneira de pensar, de não
me ficar a martirizar pelos meus erros e de me concentrar em mim mesma,porque
mudar e mudar os meus pensamentos só depende de mim mesma ("Mas não fiques
em casa parado à espera que mudem / Muda tu rapaz / Muda a tua atitude, vais
ver ver que és capaz / E nada te pode parar").
Ao ouvir a música, percebi que nós só vivemos uma vez e
que, se calhar, agora enquanto podemos não aproveitamos as oportunidades que a
vida nos traz, mas que no futuro iremos querer aproveitar e a vida não nos trará
essas oportunidades de novo, pois já as desperdiçámos uma vez, e que temos de
aproveitar e de viver cada momento como se fosse o nosso último dia ("Apenas
uma vida, aproveita”).
Marta
"Estuque" (André Henriques / Cláudia Guerreiro / Hélio Morais /
Pedro Geraldes / Sérgio Lemos), Linda Martini, Olhos de mongol, 2006
Deparei-me
com esta música há muito pouco tempo, há cerca de duas semanas,na rádio. Quando
a oiço, lembro-me principalmente de viagens de carro com o meu pai, não viagens
grandes, mas curtas. Talvez pense nestes momentos porque foi também no carro
que a ouvi pela primeira vez. É uma música calma, que me leva a pensar e a
abstrair-me de tudo, algo que gosto de fazer no carro, principalmente quando é
o meu pai a conduzir. Ambos somos grandes amantes da música e por isso o nosso
silêncio no carro é passado a ouvir música. Normalmente,não oiço músicas
portuguesas, não por serem portuguesas mas porque tenho um gosto musical
complicado. É difícil encontrar algo de que goste particularmente em qualquer
língua. Mas desta gostei, não liguei muito à letra mas gostei do ritmo.
Após
uma audição mais atenta e uma pequena pesquisa sobre a letra, comecei a
entender mais o seu significado. Na minha interpretação, esta música fala dos
sentimentos do autor. É inseguro em relação a si mesmo, sente-se invisível,
ninguém o vê. Sente que é só feito de imperfeições ("Olhas como através de
mim, cada fissura, imperfeição").
Penso
que o destinatário desta música é qualquer pessoa, ninguém em particular. A
música é sobre o autor e não um outro. Na sua perspetiva está a utilizar como
que uma máscara, um visual perfeito para os outros. Esta máscara acaba por cair
e a verdade é revelada o autor teme. Não tem ninguém para o apoiar e ajudar a
compor o visual. Está sozinho ("É que hoje o estuque caiu e ninguém varreu
o chão" e ainda "O pano cai, o medo vem, o corpo treme e sente o
chão"). A máscara é aqui designada "estuque" e ainda "pano".
Quando cai, ele não consegue falar, a voz não lhe sai por ter a mão a tapar a
boca. As pessoas criam estas fachadas para alcançarem aquilo que querem e não
têm, algo também referido na canção ("Por tanto quereres o que não tens a
voz é surda atrás da mão").
Catarina C.
“Chamar a música” (Rosa
Lobato Faria/João Carlos Oliveira), Sara Tavares, Chamar a música, 1994
É um pouco difícil datar com exatidão quando
ouvi esta música pela primeira vez. É uma música bastante conhecida e já
existia mesmo antes de eu nascer. Desde pequenina que adoro cantar. Cantava na
escola com um grupo de amigas, isto no 1º ciclo e, passado algum tempo, por
volta do 7º ano, por iniciativa de amigos dos meus pais, decidimos ir a um café
com karaoke, em Carcavelos, chamado “Grande Onda”. Ainda o frequento hoje em
dia, a minha festa de 14 anos até se passou lá. Nessa noite não fazia a mínima
ideia do que ia cantar, folheava a longa lista de canções, até que me deparei
com a canção “Chamar a Música”, de Sara Tavares. Aquele nome era-me tudo menos
estranho pelo que comecei a reproduzir a música na minha cabeça e cantei um
pouco para a minha mãe. Após passar a aprovação, inscrevi-me para cantar e
posso dizer que estava bastante nervosa, tinha uma grande audiência. Finalmente,
chamaram o meu nome e lá fui eu, muito pequenina, para o palco, cantar este
lindo tema. Até hoje em dia, que não tão regularmente quanto antes, visito este
karaoke e continuo a cantar a mesma canção.
Quanto à letra da canção, é muito alusiva, a meu
ver, à paixão pela música (“Chamar a música / a música / Tê-la aqui tão perto
(…) Chamar a música / a música / musa dos meus temas”). A letra da canção pode
indicar-nos também que o eu do poema, se estará a preparar para escrever também
uma canção (“Vou chamar a música / encontrar à flor de mim / um poema de cetim”).
Porém, existe uma grande relação com a música e o amor (“Como um filtro
redentor / de amor, amor, amor / vou chamar a música / vou pegar na tua mão /
vou compor uma canção (…) Nesta noite de açucenas / abraçar-te apenas / é
chamar a música”).
Maria
«Única Mulher» (Anselmo
Ralph / Anselmo Ralph), Anselmo Ralph, ?, 2015
Esta música tem um significado muito especial
para mim, desde a primeira vez em que a ouvi. Lembro-me que estava no
computador, a contar os segundos para que as músicas novas fossem lançadas no YouTube. Foi a primeira música que ouvi e, desde o primeiro segundo, passei
logo a pô-la a fazer parte da minha rotina.
Esta música foi escrita pelo cantor, para a sua
mulher, Madelice. A maior parte das canções produzidas pelo cantor tem como
objetivo declarar o amor que sente pela sua mulher. A canção fala da sua única
mulher – “Tu p'ra mim és a única mulher que me completa, ficar sem ti um
segundo me inquieta./ Tu p'ra mim és a única mulher que me satisfaz e com apenas
um abraço me desmonta” – e o refrão é um das partes preferidas da música, por
parte dos fãs. A letra não só retrata o sentimento belo e único que o Anselmo
sente pela sua mulher, mas também nos diz que todos nós temos alguém especial
nas nossas vidas que não podemos deixar escapar e que, sem essa pessoa, a vida
deixa de fazer sentido.
“Por vezes quando nós discutimos e na raiva eu
te digo coisas que até magoam, sim. / Eu digo tantas coisas feias, alguns nomes
nos chamamos, mas depois eu me arrependo.” – normalmente, quando as coisas não
correm bem, quando estamos frustrados e até cansados, acabamos por descarregar
nas pessoas que de mais gostamos. Infelizmente, todos os seres humanos sofrem
deste problema. E é isso que o sujeito poético aqui sublinha. Não podemos
deixar que as emoções levem a melhor sobre nós, porque estamos a magoar as
pessoas que mais amamos.
Cada vez que oiço esta música, não consigo
conter as lágrimas. É uma mistura de sentimentos e de lembranças de toda a
minha infância e, também, de tudo o que tenho andado a viver. O amor na
adolescência é algo que é visto como um “amor passageiro”, mas, se assim é,
então esses amores passageiros servem para nos ensinar coisas sobre a vida que
não sabíamos anteriormente. E foi isso que Anselmo também tentou focar. Nunca
somos demasiado novos para viver o nosso primeiro amor e, quem sabe, conhecer o
que vai ser o amor da nossa vida.
Madalena
A.
“Te Esperando” (Bruno
Caliman), Luan Santana, Te Esperando,
2013
A primeira vez que li a letra
desta canção vieram-me as lágrimas aos olhos. Foi o meu namorado que ma enviou,
meio como que a dedicar-me a mesma, e eu achei que era algo mesmo romântico,
pois a música diz que, podem passar até mais de cinquenta anos, ele vai esperar
por ela, nem que isso implique já serem os dois velhinhos e imaginei-nos logo,
a mim e a ele, juntos, com noventa e poucos anos e sempre a sorrir. Desde esse
dia que, sempre que oiço esta música, sinto como que uma enorme alegria dentro
de mim e começo logo a cantá-la, sem, sequer, já dar por isso.
A primeira vez que ouvi a
música estava com o meu namorado e beijámo-nos quando a música estava a meio.
Lembro-me que senti um enorme arrepio percorrer-me todo o corpo e, assim que
ele falou comigo, desatei a chorar, exatamente por causa da música. É uma
música que me diz muito, porque, sempre que estou mais em baixo, a oiço e
parece que tudo melhora, sem uma explicação aparente: é como se o meu namorado
estivesse ao meu lado e isso deixa-me muito mais feliz e sinto-me muito mais
segura.
Penso que a letra desta música é
dedicada a todos os apaixonados, falando exatamente sobre o que é amar alguém
de verdade, dizendo que podemos esperar até uma vida inteira, por alguém, se o
amor for realmente verdadeiro. A letra da música também diz que, de certa
forma, há coisas que fazemos no presente de que, mais tarde, nos podemos
arrepender, como casar com a pessoa errada e, quando até já tivermos filhos e
uma família formada, nos começarmos a lembrar do que poderia ter acontecido se
tivéssemos casado com outra pessoa, com a pessoa que realmente amávamos na
altura em que nos casámos, como podemos perceber quando ouvimos o cantor dizer
“E depois de seis meses, um olhe para o outro / E aí, pois é, sei lá / Mesmo
que você suporte esse casamento / Por causa dos filhos, por muito tempo”.
Ficamos a pensar que poderíamos ter tido, talvez, uma vida mais feliz e ao lado
de quem realmente queríamos estar, pensamos no que teria mudado se tivéssemos
feito as coisas de forma diferente.
Na minha opinião, o que esta
música transmite é que quem ama espera o tempo que for preciso para ser feliz
com a pessoa amada, nem que seja preciso esperar “dez, vinte, trinta anos”,
como diz a letra da canção. O que a música também transmite é o amor contido na
letra da mesma, pois penso que é difícil escrever algo assim quando não se está
apaixonado ou quando não se sente mesmo o que estamos a escrever. Pelo menos,
falo por mim.
Quando podemos ouvir “Mesmo que
você não caia na minha cantada / Mesmo que você conheça outro cara / Na fila de
um banco, um tal de Fernando / Um lance assim, sem graça / Mesmo que vocês
fiquem sem se gostar / Mesmo que vocês casem sem se amar / Eu vou estar te
esperando”, o cantor tenta dizer que, aconteça o que acontecer, vai estar
sempre à espera da mulher que ama, durante o tempo que for preciso.
André
"A saudade é uma ressaca" (UHF), UHF, A minha geração, 2013
O
tema principal abordado por esta música é a saudade, a saudade de alguém que já
partiu e que já não está connosco no nosso dia-a-dia. A saudade é um sentimento
muito doloroso de se sentir, sem tradução ou explicação alguma, um sentimento
que só quem o sente na pele sabe e compreende. A saudade que sentimos após
perdermos alguém muito importante para nós é inexplicável, mas o cantor tenta
definir essa saudade, essa dor de perder alguém como uma "ressaca difícil
de se curar" ("Por ventura é assim que a saudade se
define","A saudade é uma ressaca / Difícil de se curar"). A
música tenta demonstrar-nos que o que sentimos após a perda de alguém que
amavámos muito são sentimentos só nossos, que não gostamos de partilhar com
mais ninguém ("Uma mágoa só nossa","Dias que guardo só p'ra
mim").
Ao
ouvirmos a letra, conseguimos perceber, embora de maneira bastante indireta,
que o cantor já deve ter passado e sofrido por essa saudade. De certo modo, o
cantor tenta-nos passar uma mensagem bastante importante, mas da qual, às vezes,
nos esquecemos: a morte é o único problema na vida definitivo e para a qual não
existe ainda qualquer solução possível, e que não nos podemos ficar a
'martirizar' e a pensar nisso a vida toda. Mas principalmente que a vida não se
faz toda de uma vez e que, com o tempo, haveremos de conseguir viver com essas
memórias sem que elas nos afetem, não as esquecendo, pois esquecer alguém que
amamos muito e que foi muito importante para nós é impossível. É impossível
esquecermos todos os bons e menos bons momentos que passámos ao lado dessa
pessoa, e temos de aprender,com o tempo,a saber pôr essas memórias, esses
sentimentos, atrás das costas e prosseguir com a nossa vida mesmo que não seja
fácil ("Um assunto arrumado / Uma mágoa só nossa", "A vida é
feita aos poucos / A soma trouxe-me aqui").
A
música traduz também a saudade por "Algo que ficou lá atrás / Que renasce
e me persegue". Ou seja, a saudade de alguém que já partiu e já não está
entre nós é um sentimento que nunca há de de desaparecer, nunca haveremos de
conseguir deixar de a sentir. Mas, com o passar do tempo, esse sentimento de
saudade se há de de tornar cada vez menos doloroso até chegar a uma altura em
que já não nos «manda abaixo» pois aprendemos a viver com ele ("Conversa
comigo sem palavras / Não para de falar", "A sombra do passado / Que
está de volta", "Algo que chegou ao fim / Que desperta e
resiste"). Esta música remete também para a saudade que o cantor sente em
relação a tempos passados, tempos esses que não voltam ("A história tem um
rosto / Dias que guardo só p'ra mim","Quando tudo o que há / De muito
pouco serve").
Para
concluir, penso que esta música transmite um sentimento que é a saudade, que é
algo que nos consome por dentro, mas, independente da situação ou da pessoa de quem
temos saudade, isso não deverá afetar a nossa vida: pelo contrário, deve-nos
dar força, coragem e alegria para enfrentarmos os dilemas e problemas do nosso
dia a dia.
Rebeca
"O Bêbado e A Equilibrista" (Aldir Blanc),
Elis Regina, Elis, Essa Mulher, 1979
Não posso determinar um momento exato que esta
música me faça recordar. A primeira vez que a ouvi, penso eu, foi durante uma
estadia na casa de meu avô. Este estivera ouvindo músicas populares clássicas
brasileiras que tocavam no rádio. Esta música foi a que mais me chamou a
atenção. Anos depois, perguntei ao meu pai sobre a letra da música, pois ela
não parecia fazer sentido aos meus ouvidos. Foi assim que, pacientemente, ele
relatou-me a história da luta do povo brasileiro na época da ditadura militar, tempo
durante o qual ele passou a infância, e do importante papel dos artistas
brasileiros durante esta guerra. Horas a fio passadas ouvindo histórias sobre o
pior da humanidade e o melhor dela, sobre atos de coragem e de cobardia, sobre
lendas de amor tão intenso que levara a vítima apaixonada a morrer de amor —
literalmente. Esta música é, para mim, um baú cheio de tesouros: as memórias
formadas e as histórias aprendidas durante o processo de entender seu
significado.
O próprio texto da música, de autoria de Aldir
Blanc, um dos artistas da Ditadura Militar Brasileira, reflete o sentimento do
povo brasileiro durante esta “escravidão”. As letras são propositadamente
escritas de forma metafórica, porém o seu verdadeiro significado reflete os
acontecimentos da época. Na primeira estrofe, a música inicia-se com uma
referência a uma tragédia que acontecera na época: o derrubamento de um viaduto
pelos militares, tendo como consequência a morte de tantos inocentes. O bêbado,
como descrito nesta estrofe, representa os militares, que andam aterrorizando o
povo sem motivo, de forma que suas ações são irracionais. Daí a referência a
Carlitos, um famoso palhaço da época (“Caía a tarde feito um viaduto / E um
bêbado trajando luto / Me lembrou Carlitos”). A exigência sem mercê e a
dificuldade da vida pelo qual o povo passava é expressada pelo artista, ao
caracterizar a lua como uma senhora que obriga as estrelas a entregarem seu
brilho (sua vida) como pagamento do alugel, ou do direito de viver a vida dura
(“A lua tal qual a dona do bordel / Pedia a cada estrela fria / Um brilho de
aluguel”). Centenas de cidadãos foram exilados do país, nesta música,
representados pelo “irmão do Henfil”, sujeito que foi exilado logo após o
início da ditadura e que, outrora, fora jornalista. Ironicamente, o autor
escolhe usar uma frase do Hino Nacional Brasileiro (“A nossa Pátria mãe
gentil”) para depois demonstrar o quão pouco “gentil” a mesma estava sendo para
o povo brasileiro, e fala da dor das mulheres de homens assassinados quando se
refere às Marias e Clarisses, duas mulheres que tiveram seus esposos
assassinados pelos militares (“Meu Brasil! / Que sonha com a volta do irmão do
Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora / A nossa
Pátria mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil”). Porém,
além de todos os pesares que o povo passa, todos os amores que são mortos, e as
esperanças de nova vida que são cortadas, o artista conclui dizendo que, não
importa o que se passe, o humano tem de ter força e continuar a viver (“Azar! /
A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que
continuar”).
Beatriz Sá
“Deixa o Mundo Girar”
(Polo Norte), Polo Norte, Deixa o Mundo Girar,
2005
Depois de muito tempo a fazer a “infusão divina”
para tentar descobrir a tal música que me transmitisse algo… Achei-a! A famosa
música dos Polo Norte – “Deixa o Mundo Girar”.
As memórias que me suscita esta música são as
das viagens longas em família, todos animados a cantar e eu no banco de trás a
apreciar conjuntamente a viagem. Não posso esquecer também os fins-de-semana
alheiros passados em casa no fresquinho a ouvir esta música repetidamente na
aparelhagem. Recordo todo o tipo de colegas/amigos que deixei entrar na minha
vida e com quem cresci e aprendi, com alguns nem sempre da melhor forma. Esta
música transmite-me muitos sentimentos, emoções, ambições, porque na verdade nós
não podemos parar, estamos só de passagem neste mundo e não temos nada a
perder.
Mas esta música diz tudo. Diz para ganharmos
coragem, acreditarmos em nós, termos muita atenção ao mundo que nos rodeia,
aproveitarmos todas as experiências até ao limite, crescendo com todos os seus
obstáculos com um sorriso na cara. E é exactamente essa a minha vontade. Quero
fazer o que eu quiser, ser quem eu quiser, mesmo que isso venha a ter
consequências… Mas deixar o mundo girar, porque não tenho nada a perder, estou
simplesmente de passagem. Tenho todo o tempo do mundo para aproveitar todas as
coisas boas que a vida nos traz.
Tenho que ser eu mesma e nunca me deixar
influenciar, porque a minha voz é a que tem sempre razão e é a que eu devo
sempre seguir. Ser sempre amiga e atenciosa para quem me quer bem e não só…
Estar sempre disponível para quem precisar de ajuda. Fazer-me feliz e deixar
orgulhosas todas as pessoas que me adoram e que lutam para eu ser o que sou e o
que virei a ser! Aproveitar todos os inúmeros momentos, sem me arrepender de os
ter vivido. Esquecer as situações menos boas, lutar por o que quero! Passar
para o outro lado com o sentimento de não ter perdido nada!
“Quantas vezes vais olhar para trás / Estás
preso a um passado que pesou” — estas passagens mostram-nos o quão importante é
vivermos sem nos preocuparmos com os erros que fizemos no passado e pensarmos
no presente e no que nos poderá fazer
felizes e em quem nos faz feliz.
Já os versos “Abre a tua porta / Não tenhas medo
/ Tens o mundo inteiro / À espera para entrar” abordam a abertura que devemos
ter para deixarmos as outras pessoas entrarem nas nossas vidas sem que tenhamos
medo que estas nos magoem, pois com essas mágoas aprenderemos e cresceremos e,
quem sabe, algumas delas nos farão muito felizes.
Em suma: a vida é curta, por isso quebra as
regras, perdoa rapidamente, ama verdadeiramente, ri incontrolavelmente, sê quem
tu quiseres, faz o que tu quiseres e nunca te arrependas de nada que te faça
feliz!
Beatriz S.
“Para os braços da minha
mãe ” (Pedro Abrunhosa)/ Pedro Abrunhosa com Camané, Contramão, 2013
Diria que sou amante de boa música portuguesa,
que desde cedo foi inserida na minha formação. Damos pouco valor ao que temos
de bom, a pouca divulgação, publicidade e transmissão de música portuguesa nas
rádios é um ótimo exemplo disso. Esta breve introdução está intrinsecamente
ligada à escolha da música.
A verdade é que nenhuma música tem uma mensagem
tão realista como esta. Emocionamo-nos a ouvi-la. Nesta época, em que a maior
parte de nós, jovens, se encontra a sair de Portugal para o estrangeiro, porque
o nosso país , infelizmente, não nos proporciona as melhores condições de vida,
sentimos falta de casa.
Muitas vezes, a falta do calor da nossa casa é
tão grande, que nem sempre sabemos como aguentamos tanto tempo, longe de tudo e
de todos. A música não deixa de ser uma homenagem a todas as progenitoras deste
mundo, que devem sofrer tanto ou mais, a ver os seus “pequenos rebentos” a
partir.
O «eu» desta letra mostra que entende o
sofrimento daqueles que querem voltar mas não podem, dos que querem sentir o
quente dos braços das suas mães sem que isso seja possível, acabando por lhes
dar mais força, ao ouvirem esta música, que contou com a participação de
Camané, um grande fadista português. Esta participação do fadista mostra que
este assunto é reconhecido por uma grande parte da população.
Carlota
“Fado toninho” (Deolinda
/ Pedro A. Martins), Deolinda, Canção ao
lado, 2008
A primeira vez que ouvi esta canção foi numa
novela da TVI, há sensivelmente cinco anos. A minha mãe, quando ouviu esta
música pela primeira vez, adorou-a e foi logo comprar o CD que continha a música.
Com o CD na posse da minha mãe, cada vez que
andava de carro só ouvi aquele CD durante uns bons meses. Ouvi aquilo tantas
vezes que chegou a uma altura em que já sabia a música toda de cor. Até uma das
minhas amigas mais próximas sabia aquela letra toda e quase todas as músicas do
CD. E ainda hoje sabemos aqueles excertos.
Este estilo de música não é um dos meus
preferidos. O estilo de música desta banda, “Os Deolinda”, faz alusão ao fado e
eu não aprecio muito fado, apesar de ser património português. Apesar de não ser
do meu género preferido de música, ficou marcada na minha memória.
Esta música é muito original. Aborda, talvez, um
relacionamento que correu mal e a propósito do qual, agora, a enunciadora discorre.
Sente- se traída (“Dizem que é mau / que faz e acontece / arma confusão e o
diabo a sete / agarrem-me que eu vou-me a ele / nem sei o que lhe faço…; Se não
me seguram dou-lhe forte e feio / meu rapazinho és fraco para mim!”) mas
continua a querer estar com ele e continua a relembrar os momentos antigos, os
momentos que a marcaram também, por um bom motivo, durante a relação (“beijinhos
na boca / arrepios no peito.”). O título, “Fado toninho”, talvez possa ter a ver
com o facto de o rapaz ser “fraco para ela” e por isso ser um toninho, um
atadinho.
Gonçalo
Esta canção é decerto a canção que consegue
emocionar todos os portugueses, e ainda mais quando há jogos de futebol da
seleção e a ouvimos com os jogadores perfilados, porque apela ao nacionalismo. Uma
das recordações mais presentes da minha infância são as idas ao futebol com o
meu pai. Ora, o momento mais emocionante eram os inícios dos jogos, quando
todos, plateia e jogadores, cantavam “A Portuguesa” em uníssono. Também me faz
regressar a um outro pedaço do passado: quando a cantei juntamente com os meus
colegas e professora, na festa de finalistas do ensino básico. E, finalmente, “A
Portuguesa” também já foi tema que usei para elaborar um trabalho de pesquisa
na disciplina de História no 7.º ano.
É um dos símbolos nacionais de Portugal e por
isso é sempre cantada durante as cerimónias de cariz patriótico. Esta hino
surgiu como apelo a que as tropas portuguesas abandonassem as colónias de
Portugal em África, a pedido de Inglaterra. A data ficou marcada pelo ultimato
britânico, que obrigava Portugal a retirar as tropas nos territórios entre
Angola e Moçambique. Nota-se também uma certa inspiração no hino nacional
francês, “La Marseillaise”.
A versão original do nosso hino era ligeiramente
diferente da atual. Por exemplo, o verso do hino nacional atual “Ó Pátria,
sente-se a voz” nem sempre foi assim (originalmente
era “Ó Pátria, ergue-se a voz”. O hino foi modificado por razões políticas,
porque a versão original apelava à guerra e ao ódio para com os «bretões», os ingleses).
Aliás, esta canção é a primeira parte de um poema, sendo as outras duas
completamente desconhecidas pela maior parte da população portuguesa. Cada
parte do poema é constituída por duas quadras e uma quintilha.
A minha estrofe favorita é a que constitui o
refrão: “Às armas, às armas! / Sobre
a terra, sobre o mar, / Às armas, às armas! / Pela Pátria lutar! / Contra os
canhões / Marchar, Marchar!”. Esta estrofe consegue elevar-nos a heróis, e sugere
que nunca se deve parar de lutar para atingir certos objectivos, apesar dos
obstáculos que nos aparecem no caminho.
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