Thursday, September 11, 2014

Canções do 10.º 1.ª



João C.
“Taquetinho ou lebas nu fucinhu” (Trabalhadores do comércio), Trabalhadores do comércio, Na Braza, 1982
Esta música faz uma crítica social, recorrendo ao humor, à maneira como eram educadas as crianças no Estado Novo, e no pós-25 de abril. Após a revolução de abril, a autoridade foi posta em causa a vários níveis.
No videoclip da música são ilustradas como figuras principais da autoridade o polícia, que simboliza a autoridade jurídica, o professor, que simboliza a autoridade na educação escolar, o padre, que simboliza a igreja (que nessa altura influenciava muito as pessoas pois em Portugal nesse tempo as pessoas eram bastante religiosas), e o pai, que simboliza a autoridade parental.
No videoclip da música estas figuras da autoridade ordenam a um jovem que fique calado e quieto, ou seja que faça tudo o que eles querem sem se queixar nem questionar, correndo o risco de sofrer represálias, caso o faça, refletindo o refrão da música a obediência total à autoridade: “Taquetinho, e caladinho, taquetinho ou lebas nu fucinhu”. Ainda acerca do videoclip da música, o jovem aparece primeiramente atado a uma cadeira que simboliza o estar preso àquilo que lhe exigem, e, enquanto tenta libertar-se, vai dizendo o que pensa, aparecendo outra vez após o refrão enrolado em alumínio, novamente a tentar libertar-se, enquanto diz o que pensa das personagens em geral: “Já 'tou farto d’ir à missa e de rezar o pai nosso e não gosto que me deem a comer do que não gosto, só me impingem baboseiras só me querem magoar e são tantas as asneiras que eu tenho que calar”.
Escolhi esta música pois gosto bastante do ritmo, mas, sobretudo, da letra e da mensagem que transmite. Está de acordo com a minha forma de pensar: na minha opinião, devemos expressarmo-nos e dizer o que sentimos e pensamos acerca do que nos dizem e mandam fazer. Temos o direito de nos questionarmos acerca de tudo aquilo que nos diz respeito.

Sofia
“Amor é uma merda” (Nga/ Drika), Nga, ?
“Amor é uma merda” é uma música que pretende transmitir o sentimento de frustração de uma homem que acabou por sair prejudicado da sua relação amorosa. A sua letra remete-nos para a sensação que o próprio autor sente e a forma expressiva como o cantor a canta também ajuda à ligação envolvente entre o ouvinte e o cantor.
“Mas a verdade é… tu sabes, tu nunca te esforçaste, na tua boca eu era um traste, tempestade veio tu bazaste”, “ Lembro que desabafei contigo e usaste isso contra mim” ou “ Onde eu tinha um coração, levaste e deixaste um rochedo” são apenas algumas expressões que mostram a mágoa que o autor sente após ter sido abandonado pela pessoa que ele mais amava.
Apesar de o próprio autor também se sentir culpado, ele sabe que a sua relação acabou devido à falta de esforço por parte da namorada. Com esta desilusão, o autor tenta procurar distrações que não só o façam esquecer o desgosto amoroso como também o façam seguir a vida avante apesar de saber que nunca mais vai conseguir confiar em alguém como confiava na sua namorada (“E não confio pois maior confiança, maior a traição”).
Sente-se injustiçado pois amava-a incondicionalmente apesar dos defeitos, e nunca viu esse sentimento ser recíproco, o que provocou não só revolta como também rancor, levando a que o autor não queira ter a sua antiga namorada de volta (“E, quando estiveres arrependida lembra-te que ter-me deixado foi a melhor escolha da tua vida”).
Esta música faz-me lembrar uma altura na minha vida em que a ouvia imenso e não tardou muito até que a cantasse inclusive no duche. Para além do instrumental ser óptimo, a letra completa-o pois, além de realista, toca no coração de muita gente.
Aquilo que torna esta música fantástica é o facto de não tentar criar a ideia de que juntamente com o amor só existem sentimentos bons ou mesmo que o amor é bom no seu verdadeiro sentido, como a maioria das músicas comerciais faz! Esta letra mostra um outro lado do amor… Não só o lado dos “príncipes encantados” nem do “e vivem felizes para sempre” mas o lado em que as pessoas sofrem, choram e passam por períodos dolorosos em que pensam que o mundo acabou!
Todos nós já experienciámos desilusões amorosas, independentemente do motivo, pois elas existem. Logo não devemos passar a imagem do contrário. Músicas como esta podem ser uma grande ajuda e servir de apoio para pessoas que estejam a passar pela mesma situação pois mostram que as desilusões amorosas são uma realidade e são vividas por toda a gente, não nos fazendo sentir como se fôssemos estranhos ou diferentes.

Rodrigo M.
“Cinderela” (Carlos Paião), O melhor de Carlos Paião, 1985
Comecei a ouvir esta música numa das minhas muitas viagens de férias para o Algarve. Logo quando começou a tocar, também comecei a cantar, vi que a música era interessante. Ao longo dos anos, passei a ouvi-la, um dia e outro, e, por fim, consegui decorar a canção. A última vez que ouvi esta canção foi precisamente há duas semanas. Esta é uma das minhas músicas favoritas principalmente quando estou pensativo. E é uma música que me faz acordar.
Apesar de não ser este tipo de música o meu favorito, gosto muito dela porque era de um cantor muito especial, de seu nome Carlos Paião. Há tanto tempo que oiço a canção e nunca me foquei na letra, porque, para mim, a letra é o menos. Apesar disso, gosto muito do verso “Eles são duas crianças a viver esperanças, e a saber sorrir” e do refrão (“Então, bate, bate coração! Louco, louco de ilusão! A idade assim não tem valor. Crescer, vai dar tempo para aprender, vai dar jeito para viver. O teu primeiro amor”). E esta é a canção que escolhi.

Mariana
"Tu és mais forte" (Boss AC), Boss AC, AC para os amigos, 2012
A música "Tu és mais forte", de Boss AC, marcou-me muito e continua a marcar-me dia após dia. Tem uma letra que nos traduz uma mensagem muito importante e, principalmente, um lema de vida: a vida e feita de "altos" e "baixos" e só depende de nós superarmo-nos a nós mesmos e vencermos os "baixos", fazendo com que esses se transformem em "altos". Diz-nos ainda que temos de ter esperança de que melhores dias se avizinham ("Tu és mais forte e sei que no fim vais vencer / Sim, acredita num novo amanhecer").
A meu ver a música pretende também mostrar-nos uma das "leis principais da vida", por assim dizer, porque na vida temos sempre de tentar, tentar lutar pelos nossos objetivos, e, mesmo que ao tentarmos não consigamos na primeira tentativa, não podemos desistir de tentar até conseguirmos, pois tentar não custa! ("Só perdes se não tentares / E não desistas se falhares").
Nenhuma vida é perfeita,mas só depende de nós a maneira como a interpretamos e trabalhamos e lutamos para a mudar ("A estrada não é perfeita", "O teu sorriso de vitória no rosto / Nem tudo é fácil mas assim dá mais gosto / Quando acreditas a força nunca se esgota"). Demonstra-nos também que, como sucede em tudo na vida, temos de saber "cair" para depois aprendermos a "levantarmo-nos"("Só a reconheces a vitória se souberes o que é a derrota").
A letra desta música, para mim, é muito especial, muito positiva e ensinando-nos que, apesar de tudo aquilo por que possamos estar a passar ou a viver, só depende de nós mesmos sermos fortes e termos força de vontade para vencermos e ultrapassarmos tudo, não nos ficando apenas a martirizar-nos com os maus momentos e lutarmos por ultrapassar esses momentos ("Tu mereces muito mais / És forte, abanas mas não cais / Mesmo que sintas o mundo a ruir / Quando as nuvens passarem vais ver o sol a sorrir").
A mensagem traduzida pela letra desta música, pretende também dizer que só devemos dar importância às opiniões de quem é importante para nós e que quer apenas o nosso bem, e desvalorizar as opiniões de quem nos gosta de ver mal ("Os cães vão ladrar e a caravana a passar").
Lembro-me de um dia, não há muito tempo, estar mais em baixo e um amigo me aconselhar a ouvir esta música. No início a minha reacção foi um bocado cética mas a resposta dele foi "ouve e depois falamos". Escusado será dizer que, depois de a ouvir, a música fez crescer em mim uma enorme vontade de me animar e mudar, de mudar a minha maneira de pensar, de não me ficar a martirizar pelos meus erros e de me concentrar em mim mesma,porque mudar e mudar os meus pensamentos só depende de mim mesma ("Mas não fiques em casa parado à espera que mudem / Muda tu rapaz / Muda a tua atitude, vais ver ver que és capaz / E nada te pode parar").
Ao ouvir a música, percebi que nós só vivemos uma vez e que, se calhar, agora enquanto podemos não aproveitamos as oportunidades que a vida nos traz, mas que no futuro iremos querer aproveitar e a vida não nos trará essas oportunidades de novo, pois já as desperdiçámos uma vez, e que temos de aproveitar e de viver cada momento como se fosse o nosso último dia ("Apenas uma vida, aproveita”).

Marta

"Estuque" (André Henriques / Cláudia Guerreiro / Hélio Morais / Pedro Geraldes / Sérgio Lemos), Linda Martini, Olhos de mongol, 2006
Deparei-me com esta música há muito pouco tempo, há cerca de duas semanas,na rádio. Quando a oiço, lembro-me principalmente de viagens de carro com o meu pai, não viagens grandes, mas curtas. Talvez pense nestes momentos porque foi também no carro que a ouvi pela primeira vez. É uma música calma, que me leva a pensar e a abstrair-me de tudo, algo que gosto de fazer no carro, principalmente quando é o meu pai a conduzir. Ambos somos grandes amantes da música e por isso o nosso silêncio no carro é passado a ouvir música. Normalmente,não oiço músicas portuguesas, não por serem portuguesas mas porque tenho um gosto musical complicado. É difícil encontrar algo de que goste particularmente em qualquer língua. Mas desta gostei, não liguei muito à letra mas gostei do ritmo.
Após uma audição mais atenta e uma pequena pesquisa sobre a letra, comecei a entender mais o seu significado. Na minha interpretação, esta música fala dos sentimentos do autor. É inseguro em relação a si mesmo, sente-se invisível, ninguém o vê. Sente que é só feito de imperfeições ("Olhas como através de mim, cada fissura, imperfeição").
Penso que o destinatário desta música é qualquer pessoa, ninguém em particular. A música é sobre o autor e não um outro. Na sua perspetiva está a utilizar como que uma máscara, um visual perfeito para os outros. Esta máscara acaba por cair e a verdade é revelada o autor teme. Não tem ninguém para o apoiar e ajudar a compor o visual. Está sozinho ("É que hoje o estuque caiu e ninguém varreu o chão" e ainda "O pano cai, o medo vem, o corpo treme e sente o chão"). A máscara é aqui designada "estuque" e ainda "pano". Quando cai, ele não consegue falar, a voz não lhe sai por ter a mão a tapar a boca. As pessoas criam estas fachadas para alcançarem aquilo que querem e não têm, algo também referido na canção ("Por tanto quereres o que não tens a voz é surda atrás da mão").

Catarina C.

“Chamar a música” (Rosa Lobato Faria/João Carlos Oliveira), Sara Tavares, Chamar a música, 1994
É um pouco difícil datar com exatidão quando ouvi esta música pela primeira vez. É uma música bastante conhecida e já existia mesmo antes de eu nascer. Desde pequenina que adoro cantar. Cantava na escola com um grupo de amigas, isto no 1º ciclo e, passado algum tempo, por volta do 7º ano, por iniciativa de amigos dos meus pais, decidimos ir a um café com karaoke, em Carcavelos, chamado “Grande Onda”. Ainda o frequento hoje em dia, a minha festa de 14 anos até se passou lá. Nessa noite não fazia a mínima ideia do que ia cantar, folheava a longa lista de canções, até que me deparei com a canção “Chamar a Música”, de Sara Tavares. Aquele nome era-me tudo menos estranho pelo que comecei a reproduzir a música na minha cabeça e cantei um pouco para a minha mãe. Após passar a aprovação, inscrevi-me para cantar e posso dizer que estava bastante nervosa, tinha uma grande audiência. Finalmente, chamaram o meu nome e lá fui eu, muito pequenina, para o palco, cantar este lindo tema. Até hoje em dia, que não tão regularmente quanto antes, visito este karaoke e continuo a cantar a mesma canção.
Quanto à letra da canção, é muito alusiva, a meu ver, à paixão pela música (“Chamar a música / a música / Tê-la aqui tão perto (…) Chamar a música / a música / musa dos meus temas”). A letra da canção pode indicar-nos também que o eu do poema, se estará a preparar para escrever também uma canção (“Vou chamar a música / encontrar à flor de mim / um poema de cetim”). Porém, existe uma grande relação com a música e o amor (“Como um filtro redentor / de amor, amor, amor / vou chamar a música / vou pegar na tua mão / vou compor uma canção (…) Nesta noite de açucenas / abraçar-te apenas / é chamar a música”).

Maria

«Única Mulher» (Anselmo Ralph / Anselmo Ralph), Anselmo Ralph, ?, 2015
Esta música tem um significado muito especial para mim, desde a primeira vez em que a ouvi. Lembro-me que estava no computador, a contar os segundos para que as músicas novas fossem lançadas no YouTube. Foi a primeira música que ouvi e, desde o primeiro segundo, passei logo a pô-la a fazer parte da minha rotina.
Esta música foi escrita pelo cantor, para a sua mulher, Madelice. A maior parte das canções produzidas pelo cantor tem como objetivo declarar o amor que sente pela sua mulher. A canção fala da sua única mulher – “Tu p'ra mim és a única mulher que me completa, ficar sem ti um segundo me inquieta./ Tu p'ra mim és a única mulher que me satisfaz e com apenas um abraço me desmonta” – e o refrão é um das partes preferidas da música, por parte dos fãs. A letra não só retrata o sentimento belo e único que o Anselmo sente pela sua mulher, mas também nos diz que todos nós temos alguém especial nas nossas vidas que não podemos deixar escapar e que, sem essa pessoa, a vida deixa de fazer sentido.
“Por vezes quando nós discutimos e na raiva eu te digo coisas que até magoam, sim. / Eu digo tantas coisas feias, alguns nomes nos chamamos, mas depois eu me arrependo.” – normalmente, quando as coisas não correm bem, quando estamos frustrados e até cansados, acabamos por descarregar nas pessoas que de mais gostamos. Infelizmente, todos os seres humanos sofrem deste problema. E é isso que o sujeito poético aqui sublinha. Não podemos deixar que as emoções levem a melhor sobre nós, porque estamos a magoar as pessoas que mais amamos.
Cada vez que oiço esta música, não consigo conter as lágrimas. É uma mistura de sentimentos e de lembranças de toda a minha infância e, também, de tudo o que tenho andado a viver. O amor na adolescência é algo que é visto como um “amor passageiro”, mas, se assim é, então esses amores passageiros servem para nos ensinar coisas sobre a vida que não sabíamos anteriormente. E foi isso que Anselmo também tentou focar. Nunca somos demasiado novos para viver o nosso primeiro amor e, quem sabe, conhecer o que vai ser o amor da nossa vida.

Madalena A.
“Te Esperando” (Bruno Caliman), Luan Santana, Te Esperando, 2013
A primeira vez que li a letra desta canção vieram-me as lágrimas aos olhos. Foi o meu namorado que ma enviou, meio como que a dedicar-me a mesma, e eu achei que era algo mesmo romântico, pois a música diz que, podem passar até mais de cinquenta anos, ele vai esperar por ela, nem que isso implique já serem os dois velhinhos e imaginei-nos logo, a mim e a ele, juntos, com noventa e poucos anos e sempre a sorrir. Desde esse dia que, sempre que oiço esta música, sinto como que uma enorme alegria dentro de mim e começo logo a cantá-la, sem, sequer, já dar por isso.
A primeira vez que ouvi a música estava com o meu namorado e beijámo-nos quando a música estava a meio. Lembro-me que senti um enorme arrepio percorrer-me todo o corpo e, assim que ele falou comigo, desatei a chorar, exatamente por causa da música. É uma música que me diz muito, porque, sempre que estou mais em baixo, a oiço e parece que tudo melhora, sem uma explicação aparente: é como se o meu namorado estivesse ao meu lado e isso deixa-me muito mais feliz e sinto-me muito mais segura.
Penso que a letra desta música é dedicada a todos os apaixonados, falando exatamente sobre o que é amar alguém de verdade, dizendo que podemos esperar até uma vida inteira, por alguém, se o amor for realmente verdadeiro. A letra da música também diz que, de certa forma, há coisas que fazemos no presente de que, mais tarde, nos podemos arrepender, como casar com a pessoa errada e, quando até já tivermos filhos e uma família formada, nos começarmos a lembrar do que poderia ter acontecido se tivéssemos casado com outra pessoa, com a pessoa que realmente amávamos na altura em que nos casámos, como podemos perceber quando ouvimos o cantor dizer “E depois de seis meses, um olhe para o outro / E aí, pois é, sei lá / Mesmo que você suporte esse casamento / Por causa dos filhos, por muito tempo”. Ficamos a pensar que poderíamos ter tido, talvez, uma vida mais feliz e ao lado de quem realmente queríamos estar, pensamos no que teria mudado se tivéssemos feito as coisas de forma diferente.
Na minha opinião, o que esta música transmite é que quem ama espera o tempo que for preciso para ser feliz com a pessoa amada, nem que seja preciso esperar “dez, vinte, trinta anos”, como diz a letra da canção. O que a música também transmite é o amor contido na letra da mesma, pois penso que é difícil escrever algo assim quando não se está apaixonado ou quando não se sente mesmo o que estamos a escrever. Pelo menos, falo por mim.
Quando podemos ouvir “Mesmo que você não caia na minha cantada / Mesmo que você conheça outro cara / Na fila de um banco, um tal de Fernando / Um lance assim, sem graça / Mesmo que vocês fiquem sem se gostar / Mesmo que vocês casem sem se amar / Eu vou estar te esperando”, o cantor tenta dizer que, aconteça o que acontecer, vai estar sempre à espera da mulher que ama, durante o tempo que for preciso.

André

"A saudade é uma ressaca" (UHF), UHF, A minha geração, 2013
O tema principal abordado por esta música é a saudade, a saudade de alguém que já partiu e que já não está connosco no nosso dia-a-dia. A saudade é um sentimento muito doloroso de se sentir, sem tradução ou explicação alguma, um sentimento que só quem o sente na pele sabe e compreende. A saudade que sentimos após perdermos alguém muito importante para nós é inexplicável, mas o cantor tenta definir essa saudade, essa dor de perder alguém como uma "ressaca difícil de se curar" ("Por ventura é assim que a saudade se define","A saudade é uma ressaca / Difícil de se curar"). A música tenta demonstrar-nos que o que sentimos após a perda de alguém que amavámos muito são sentimentos só nossos, que não gostamos de partilhar com mais ninguém ("Uma mágoa só nossa","Dias que guardo só p'ra mim").
Ao ouvirmos a letra, conseguimos perceber, embora de maneira bastante indireta, que o cantor já deve ter passado e sofrido por essa saudade. De certo modo, o cantor tenta-nos passar uma mensagem bastante importante, mas da qual, às vezes, nos esquecemos: a morte é o único problema na vida definitivo e para a qual não existe ainda qualquer solução possível, e que não nos podemos ficar a 'martirizar' e a pensar nisso a vida toda. Mas principalmente que a vida não se faz toda de uma vez e que, com o tempo, haveremos de conseguir viver com essas memórias sem que elas nos afetem, não as esquecendo, pois esquecer alguém que amamos muito e que foi muito importante para nós é impossível. É impossível esquecermos todos os bons e menos bons momentos que passámos ao lado dessa pessoa, e temos de aprender,com o tempo,a saber pôr essas memórias, esses sentimentos, atrás das costas e prosseguir com a nossa vida mesmo que não seja fácil ("Um assunto arrumado / Uma mágoa só nossa", "A vida é feita aos poucos / A soma trouxe-me aqui").
A música traduz também a saudade por "Algo que ficou lá atrás / Que renasce e me persegue". Ou seja, a saudade de alguém que já partiu e já não está entre nós é um sentimento que nunca há de de desaparecer, nunca haveremos de conseguir deixar de a sentir. Mas, com o passar do tempo, esse sentimento de saudade se há de de tornar cada vez menos doloroso até chegar a uma altura em que já não nos «manda abaixo» pois aprendemos a viver com ele ("Conversa comigo sem palavras / Não para de falar", "A sombra do passado / Que está de volta", "Algo que chegou ao fim / Que desperta e resiste"). Esta música remete também para a saudade que o cantor sente em relação a tempos passados, tempos esses que não voltam ("A história tem um rosto / Dias que guardo só p'ra mim","Quando tudo o que há / De muito pouco serve").
Para concluir, penso que esta música transmite um sentimento que é a saudade, que é algo que nos consome por dentro, mas, independente da situação ou da pessoa de quem temos saudade, isso não deverá afetar a nossa vida: pelo contrário, deve-nos dar força, coragem e alegria para enfrentarmos os dilemas e problemas do nosso dia a dia.

Rebeca

"O Bêbado e A Equilibrista" (Aldir Blanc), Elis Regina, Elis, Essa Mulher, 1979
Não posso determinar um momento exato que esta música me faça recordar. A primeira vez que a ouvi, penso eu, foi durante uma estadia na casa de meu avô. Este estivera ouvindo músicas populares clássicas brasileiras que tocavam no rádio. Esta música foi a que mais me chamou a atenção. Anos depois, perguntei ao meu pai sobre a letra da música, pois ela não parecia fazer sentido aos meus ouvidos. Foi assim que, pacientemente, ele relatou-me a história da luta do povo brasileiro na época da ditadura militar, tempo durante o qual ele passou a infância, e do importante papel dos artistas brasileiros durante esta guerra. Horas a fio passadas ouvindo histórias sobre o pior da humanidade e o melhor dela, sobre atos de coragem e de cobardia, sobre lendas de amor tão intenso que levara a vítima apaixonada a morrer de amor — literalmente. Esta música é, para mim, um baú cheio de tesouros: as memórias formadas e as histórias aprendidas durante o processo de entender seu significado.
O próprio texto da música, de autoria de Aldir Blanc, um dos artistas da Ditadura Militar Brasileira, reflete o sentimento do povo brasileiro durante esta “escravidão”. As letras são propositadamente escritas de forma metafórica, porém o seu verdadeiro significado reflete os acontecimentos da época. Na primeira estrofe, a música inicia-se com uma referência a uma tragédia que acontecera na época: o derrubamento de um viaduto pelos militares, tendo como consequência a morte de tantos inocentes. O bêbado, como descrito nesta estrofe, representa os militares, que andam aterrorizando o povo sem motivo, de forma que suas ações são irracionais. Daí a referência a Carlitos, um famoso palhaço da época (“Caía a tarde feito um viaduto / E um bêbado trajando luto / Me lembrou Carlitos”). A exigência sem mercê e a dificuldade da vida pelo qual o povo passava é expressada pelo artista, ao caracterizar a lua como uma senhora que obriga as estrelas a entregarem seu brilho (sua vida) como pagamento do alugel, ou do direito de viver a vida dura (“A lua tal qual a dona do bordel / Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel”). Centenas de cidadãos foram exilados do país, nesta música, representados pelo “irmão do Henfil”, sujeito que foi exilado logo após o início da ditadura e que, outrora, fora jornalista. Ironicamente, o autor escolhe usar uma frase do Hino Nacional Brasileiro (“A nossa Pátria mãe gentil”) para depois demonstrar o quão pouco “gentil” a mesma estava sendo para o povo brasileiro, e fala da dor das mulheres de homens assassinados quando se refere às Marias e Clarisses, duas mulheres que tiveram seus esposos assassinados pelos militares (“Meu Brasil! / Que sonha com a volta do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora / A nossa Pátria mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil”). Porém, além de todos os pesares que o povo passa, todos os amores que são mortos, e as esperanças de nova vida que são cortadas, o artista conclui dizendo que, não importa o que se passe, o humano tem de ter força e continuar a viver (“Azar! / A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar”).

Beatriz Sá

“Deixa o Mundo Girar” (Polo Norte), Polo Norte, Deixa o Mundo Girar, 2005
Depois de muito tempo a fazer a “infusão divina” para tentar descobrir a tal música que me transmitisse algo… Achei-a! A famosa música dos Polo Norte – “Deixa o Mundo Girar”.
As memórias que me suscita esta música são as das viagens longas em família, todos animados a cantar e eu no banco de trás a apreciar conjuntamente a viagem. Não posso esquecer também os fins-de-semana alheiros passados em casa no fresquinho a ouvir esta música repetidamente na aparelhagem. Recordo todo o tipo de colegas/amigos que deixei entrar na minha vida e com quem cresci e aprendi, com alguns nem sempre da melhor forma. Esta música transmite-me muitos sentimentos, emoções, ambições, porque na verdade nós não podemos parar, estamos só de passagem neste mundo e não temos nada a perder.
Mas esta música diz tudo. Diz para ganharmos coragem, acreditarmos em nós, termos muita atenção ao mundo que nos rodeia, aproveitarmos todas as experiências até ao limite, crescendo com todos os seus obstáculos com um sorriso na cara. E é exactamente essa a minha vontade. Quero fazer o que eu quiser, ser quem eu quiser, mesmo que isso venha a ter consequências… Mas deixar o mundo girar, porque não tenho nada a perder, estou simplesmente de passagem. Tenho todo o tempo do mundo para aproveitar todas as coisas boas que a vida nos traz.
Tenho que ser eu mesma e nunca me deixar influenciar, porque a minha voz é a que tem sempre razão e é a que eu devo sempre seguir. Ser sempre amiga e atenciosa para quem me quer bem e não só… Estar sempre disponível para quem precisar de ajuda. Fazer-me feliz e deixar orgulhosas todas as pessoas que me adoram e que lutam para eu ser o que sou e o que virei a ser! Aproveitar todos os inúmeros momentos, sem me arrepender de os ter vivido. Esquecer as situações menos boas, lutar por o que quero! Passar para o outro lado com o sentimento de não ter perdido nada!
“Quantas vezes vais olhar para trás / Estás preso a um passado que pesou” — estas passagens mostram-nos o quão importante é vivermos sem nos preocuparmos com os erros que fizemos no passado e pensarmos no presente e no  que nos poderá fazer felizes e em quem nos faz feliz.
Já os versos “Abre a tua porta / Não tenhas medo / Tens o mundo inteiro / À espera para entrar” abordam a abertura que devemos ter para deixarmos as outras pessoas entrarem nas nossas vidas sem que tenhamos medo que estas nos magoem, pois com essas mágoas aprenderemos e cresceremos e, quem sabe, algumas delas nos farão muito felizes.
Em suma: a vida é curta, por isso quebra as regras, perdoa rapidamente, ama verdadeiramente, ri incontrolavelmente, sê quem tu quiseres, faz o que tu quiseres e nunca te arrependas de nada que te faça feliz!

Beatriz S.

“Para os braços da minha mãe ” (Pedro Abrunhosa)/ Pedro Abrunhosa com Camané, Contramão, 2013
Diria que sou amante de boa música portuguesa, que desde cedo foi inserida na minha formação. Damos pouco valor ao que temos de bom, a pouca divulgação, publicidade e transmissão de música portuguesa nas rádios é um ótimo exemplo disso. Esta breve introdução está intrinsecamente ligada à escolha da música.
A verdade é que nenhuma música tem uma mensagem tão realista como esta. Emocionamo-nos a ouvi-la. Nesta época, em que a maior parte de nós, jovens, se encontra a sair de Portugal para o estrangeiro, porque o nosso país , infelizmente, não nos proporciona as melhores condições de vida, sentimos falta de casa.
Muitas vezes, a falta do calor da nossa casa é tão grande, que nem sempre sabemos como aguentamos tanto tempo, longe de tudo e de todos. A música não deixa de ser uma homenagem a todas as progenitoras deste mundo, que devem sofrer tanto ou mais, a ver os seus “pequenos rebentos” a partir.
O «eu» desta letra mostra que entende o sofrimento daqueles que querem voltar mas não podem, dos que querem sentir o quente dos braços das suas mães sem que isso seja possível, acabando por lhes dar mais força, ao ouvirem esta música, que contou com a participação de Camané, um grande fadista português. Esta participação do fadista mostra que este assunto é reconhecido por uma grande parte da população.


Carlota
“Fado toninho” (Deolinda / Pedro A. Martins), Deolinda, Canção ao lado, 2008
A primeira vez que ouvi esta canção foi numa novela da TVI, há sensivelmente cinco anos. A minha mãe, quando ouviu esta música pela primeira vez, adorou-a e foi logo comprar o CD que continha a música.
Com o CD na posse da minha mãe, cada vez que andava de carro só ouvi aquele CD durante uns bons meses. Ouvi aquilo tantas vezes que chegou a uma altura em que já sabia a música toda de cor. Até uma das minhas amigas mais próximas sabia aquela letra toda e quase todas as músicas do CD. E ainda hoje sabemos aqueles excertos.
Este estilo de música não é um dos meus preferidos. O estilo de música desta banda, “Os Deolinda”, faz alusão ao fado e eu não aprecio muito fado, apesar de ser património português. Apesar de não ser do meu género preferido de música, ficou marcada na minha memória.
Esta música é muito original. Aborda, talvez, um relacionamento que correu mal e a propósito do qual, agora, a enunciadora discorre. Sente- se traída (“Dizem que é mau / que faz e acontece / arma confusão e o diabo a sete / agarrem-me que eu vou-me a ele / nem sei o que lhe faço…; Se não me seguram dou-lhe forte e feio / meu rapazinho és fraco para mim!”) mas continua a querer estar com ele e continua a relembrar os momentos antigos, os momentos que a marcaram também, por um bom motivo, durante a relação (“beijinhos na boca / arrepios no peito.”). O título, “Fado toninho”, talvez possa ter a ver com o facto de o rapaz ser “fraco para ela” e por isso ser um toninho, um atadinho.

Gonçalo

“A Portuguesa” (Henrique Lopes de Mendonça / Alfredo Keil), 1890 (versão original)
Esta canção é decerto a canção que consegue emocionar todos os portugueses, e ainda mais quando há jogos de futebol da seleção e a ouvimos com os jogadores perfilados, porque apela ao nacionalismo. Uma das recordações mais presentes da minha infância são as idas ao futebol com o meu pai. Ora, o momento mais emocionante eram os inícios dos jogos, quando todos, plateia e jogadores, cantavam “A Portuguesa” em uníssono. Também me faz regressar a um outro pedaço do passado: quando a cantei juntamente com os meus colegas e professora, na festa de finalistas do ensino básico. E, finalmente, “A Portuguesa” também já foi tema que usei para elaborar um trabalho de pesquisa na disciplina de História no 7.º ano.
É um dos símbolos nacionais de Portugal e por isso é sempre cantada durante as cerimónias de cariz patriótico. Esta hino surgiu como apelo a que as tropas portuguesas abandonassem as colónias de Portugal em África, a pedido de Inglaterra. A data ficou marcada pelo ultimato britânico, que obrigava Portugal a retirar as tropas nos territórios entre Angola e Moçambique. Nota-se também uma certa inspiração no hino nacional francês, “La Marseillaise”.
A versão original do nosso hino era ligeiramente diferente da atual. Por exemplo, o verso do hino nacional atual “Ó Pátria, sente-se a voz” nem sempre foi assim (originalmente era “Ó Pátria, ergue-se a voz”. O hino foi modificado por razões políticas, porque a versão original apelava à guerra e ao ódio para com os «bretões», os ingleses). Aliás, esta canção é a primeira parte de um poema, sendo as outras duas completamente desconhecidas pela maior parte da população portuguesa. Cada parte do poema é constituída por duas quadras e uma quintilha.
A minha estrofe favorita é a que constitui o refrão:        “Às armas, às armas! / Sobre a terra, sobre o mar, / Às armas, às armas! / Pela Pátria lutar! / Contra os canhões / Marchar, Marchar!”. Esta estrofe consegue elevar-nos a heróis, e sugere que nunca se deve parar de lutar para atingir certos objectivos, apesar dos obstáculos que nos aparecem no caminho.

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