Thursday, September 11, 2014

Canções do 10.º 5.ª



Bia S.
«Fico assim sem você» (Cacá Moraes / Abdullah), Adriana Calcanhoto, Partimpim, 2004
A razão pela qual escolhi esta música foi lembrar-me do olhar entre os meus pais quando eu pedia para porem esta música a tocar no carro vezes e vezes sem conta. Tinha cinco ou seis anos quando rapidamente decorei a letra. Ela diz-me muito sobre a minha infância.
Apesar de, provavelmente, a cantora estar a referir-se a simplesmente ao homem que ama, eu projeto-a nos meus pais. Os meus avós é que praticamente me educaram, eles é que me iam buscar à escola, davam-me banho, faziam-me o jantar. Eu só ia a casa dormir. Os meus pais tinham um restaurante e fechavam sempre tarde, nunca tinham muito tempo livre para estar comigo. Eu ficava acordada ao colo da minha tia avó (que vive no andar de cima dos meus avós) à espera de que eles me viessem buscar. Nós estávamos sempre a fingir que estava no carro com os meus pais a caminho da casa dos meus avós. "Vira à direita, vira à esquerda, já passámos o estádio do grandioso...". Quando propriamente chegavam à rua dos meus avós, viravam outra vez à esquerda e demoravam mais "dois" minutos. Os versos «Eu conto as horas p'ra poder te ver/Mas o relógio 'tá de mal comigo» fazem-me lembrar estes momentos. No meio de tantas gargalhadas, estavam imensas saudades.
A cantora diz-nos como se sente incompleta por não ter a pessoa que mais ama ao seu lado. Dá exemplos desse seu estado de espírito, como «Avião sem asa, fogueira sem brasa», «Futebol sem bola, piu-Piu sem frajola», «Sou eu assim sem você». É claro que uma criança de cinco anos se sente incompleta ao não ter os pais presentes e vê-los só de manhã e à hora de dormir.

Capela
"Circo de Feras" (Tim/Xutos e Pontapés), Xutos e Pontapés, Circo de Feras, 1987
Esta canção, para mim, é do melhor que há para oferecer da música portuguesa... Eu lembro-me que os meus pais adoravam (e ainda adoram, de certeza) os Xutos & Pontapés. Iam sempre a concertos deles e, claro, como eu ainda era uma criança, ficava em casa a pensar como seria um concerto daqueles e como soariam eles ao vivo. Um dia, já eu com uns treze anos, estávamos no Algarve e soubemos que haveria um concerto deles numa feira que se fazia todos os anos em Lagoa. Lá fui eu todo feliz para o concerto, nunca deixando de pensar em como seria. Só posso dizer que saí de lá com vontade de ouvir muito mais. Tinham um som ótimo, e não o som bruto da "metalada da pesada", cantavam como se sentissem a música, sentiam-na, era contagioso.
O melhor em ouvi-los é a relação que eu tenho com a própria letra da música. A maneira como falam de todos os erros e as decisões erradas que se cometem ao longo da vida ("A vida vai torta / Jamais se endireita / O azar persegue / Esconde-se à espreita / Nunca dei um passo / Que fosse o correto / Eu nunca fiz nada / Que batesse certo"). Mas obviamente não me posso esquecer da mensagem mais importante da música: o amor, que tantas vezes angustia, como aqui (pelo menos parece-me, da maneira como canta), e nos leva a sofrer de uma maneira insuportável certas vezes ("Enquanto esperavas no fundo da rua / Pensava em ti e em que sorte era a tua / Quero-te tanto... / Quero-te tanto").
Esta música traz-me várias recordações acima, principalmente sobre como as coisas eram antes na minha vida e como poderia vir a ser, pelo menos no que toca ao amor e a todas as escolhas que já tomei e de que me arrependo, ou até mesmo das que me arrependerei...

Amy
"Mais vale nunca" (Rui Reininho / GNR), GNR, Sob escuta, 1994
Quando era pequena e andava na rua ou de carro com os meus pais, ouvia esta música a tocar. Perguntava-me porque é que aquele senhor dizia aquelas palavras? Mais tarde, fui percebendo que essas palavras significavam muito, tal como que devemos fazer qualquer coisa importante na vida senão a vida não vale nada. Esta mensagem ficou na minha memória e, apesar de várias turbulências que passei na vida, hoje isso, além de ser uma memória de infância, tem importância para mim.
Rui Reininho e a banda (GNR) criaram varias canções que são o espelho dos jovens daquela época, que cresceram e se tornaram adultos a ouvi-los e a admirá-los ao longo de trinta anos. É música revolucionária que tentou inspirar a juventude com palavras que mexiam com a alma. Até hoje é a canção mais marcante deles. "É tê e vê cérebro em fuga a dominar, / Gene preguiçoso e letal" significa que, às vezes, a nossa cabeça pensa em muitas coisas ao mesmo tempo e é difícil de controlar a nossa parte preguiçosa."Olha pró que eu faço, / Mais vale nunca, / Nunca aprender" lembra-me que, quando me esforço e não consigo ter resultados positivos e a vida está contra mim, não devo perder a esperança, mas levantar-me e não desistir, porque é o que a vida nos ensina. Os versos "Agora é a doer, / Mais vale nunca, / Nunca apetecer" dizem que, às vezes, pensamos que não vale nada o que se faz e não dá vontade de fazer nada. Será que, se crescermos mais, vamos ter mais problemas? Se nós começarmos a pensar assim, não vamos ter futuro nenhum porque nem no presente vivemos. "Mais vale nada, / Nunca escolher": tudo vale alguma coisa se confiarmos em nós próprios e nos esforçarmos para ganhar e não desistir. O que esta música nos está a tentar dizer é que não devemos desistir.

Cláudia
“Alguém me ouve (mantém-te firme)” (AC Firmino / AC Firmino e Tiago Machado), Boss AC e Mariza, UPA, 2008
Estaria sentada no tapete da minha sala, por volta dos meus nove anos, pensava e refletia nesta música. Não a percebia, não fazia nenhum sentido. Pareciam palavras alheias vindas não sei de onde que se juntavam e formavam uma melodia perfeita. Adorava-a, simplesmente pura. Ao não perceber a música, cantava-a só porque sim, só porque mexia cá dentro, mesmo cá no fundo. Sensação estranha que só amadurecida consegui compreender.
Aos nove anos, ainda não se tem muita experiência de vida. Vai-se vendo, ouvindo, interpretando, vivendo, ainda sem perceção. Foi nesta idade que entrei no momento mais importante da minha vida, a competição. Tinha tantos objetivos como os dedos das minhas mãos. Os jogos Olímpicos, o reconhecimento nacional, campeonatos nacionais, europeus e mundiais, idas a países distantes, enfim… tantos. Não tinha idade para perceber que a vida não é um mar de rosas. Não tinha. Adquiri essa compreensão com o tempo. Talvez cedo de mais. Apercebi-me do quanto custava a vida, das injustiças, das derrotas: “É como é morrer de sede no meio do mar e afogar”. “Choro a rir, isto é mais forte do que pensei, por dentro sou um mendigo que aparenta ser um rei”, faço-me de forte, encaro a dor, a realidade, a ignorância. Deixo passar cada dia mas “o sorriso escasseia, hoje a tristeza é rainha”. Nada ajuda. O descontentamento eleva-se, a ilusão desaparece. “Às vezes penso se algum dia serei feliz, enquanto oiço uma voz dentro de mim que me diz”, — “Chorei, mas não sei se alguém ouviu”, se alguém se importou. Não sei. “Sou prisioneiro de mim próprio”, fechei-me. Tudo o que pensava era em amigos que não existiam e ilusões que me invadiam. “Busquei, nas palavras o conforto, dancei no silêncio morto”, solitária, até ao momento em que “o escuro revelou que em mim a luz se esconde”. Parei nesse momento e pensei. Tinha de mudar a escuridão sombria que havia dentro de mim, aqueles pensamentos que “se dependesse de mim teria ficado onde estava, onde não pensava, não existia, não chorava”. Não tinha que ser prisioneira de mim mesma. Decidi então, depois de muitas lágrimas e infelicidades, arrumar a minha touca e os meus óculos. Nunca cedi nem desisti, levei tudo até ao fim. Prometi então que “vou ser forte e vou-me erguer e ter coragem de querer, não ceder nem desistir”. Encontrei outro objetivo, outro propósito, mantive-me firme. Sempre com a cabeça levantada a olhar para a frente.
Atualmente, tenho dezasseis anos. Estes grandes e longos sete anos estarão gravados para todo o sempre cá bem dentro de mim. Não vou deixar que eles me definam, mas sem dúvida que me vão ajudar a ultrapassar muitos dos obstáculos da minha vida.

Joana
«Cinderela» (Carlos Paião), Carlos Paião, Intervalo, 1984
Esta canção pode ser muito antiga mas o seu tema continua bem presente na nossa sociedade e, principalmente, em mim. Não tem grande importância porque é apenas uma pequena memória, mas esta canção foi a primeira que eu aprendi a tocar na guitarra. Tinha cerca de onze anos e um grupinho de pessoas juntou-se em roda para treinar a posição dos dedos na guitarra. Logo de seguida, o nosso professor distribuiu a cada um uma folha com a letra da canção “Cinderela”, de Carlos Paião. Comecei a treinar a música e passados dois dias ou menos (foi uma música fácil de aprender), já conseguia “dominar” a guitarra. Fiquei muito feliz e posso dizer que a guitarra é um refúgio para a vida. Tanto pode ser utilizada em bons momentos como em maus momentos da vida.
Em relação à letra da canção, acho que o autor pretende mostrar como será ou é o primeiro amor, ou até pode estar a recordar o seu próprio primeiro amor. Na minha opinião, o refrão é a parte mais importante da música porque nos revela que o primeiro amor não é nenhum conto de fadas, como a maioria das pessoas pode pensar («Louco, louco de ilusão»), mas ir-nos-á ensinar a crescer e a viver («Crescer, / Vai dar tempo p'ra aprender, / Vai dar jeito p'ra viver / O teu primeiro amor»).
Assim, para além da memória que tenho, acho que a canção transmite uma grande mensagem.

Patrícia
“Um Contra o Outro” (Deolinda), Deolinda, Dois Selos e um Carimbo, 2010.
Esta canção faz-me recordar as horas de almoço do 9.º ano que passava com uma amiga minha. Lembro-me que tínhamos sempre duas horas de almoço e nunca nada para fazer. Então muitas vezes, começávamos a cantar para que toda a gente ouvisse. Ela, com uma voz magnífica, e eu, com a desgraça de sempre. Passávamos o tempo assim. E esta era sempre a música de eleição, não sei porquê, talvez porque ela goste muito de fado ou então mesmo só por ser divertida. A verdade é que nós passámos muito tempo a tentar acertar o timbre, o que nem sempre foi conseguido pela minha parte.
Passando à letra. Eu interpreto a letra como se o grupo estivesse a fazer uma crítica e, ao mesmo tempo, a desafiar. A crítica talvez seja a de hoje em dia as pessoas estarem muito sozinhas e quererem ser assim, sem terem qualquer interesse para com as outras pessoas, e por isso eu penso que o grupo tenta desafiar as pessoas a tentarem ultrapassar isso (“Sai do estado invisível / Põe o modo compatível / Com a minha condição / Que a tua vida / É real e repetível / Dá-te mais que o impossível / Se me deres a tua mão”). Ao mesmo tempo, pode fazer lembrar os tempos em que as crianças iam para a rua brincar e sugerir que talvez hoje em dia deveriam poder fazer o mesmo em vez de ficarem em casa em frente a uma máquina (“Sai de casa e vem comigo para a rua / Vem, que essa vida que tens / Por mais vidas que tu ganhes / É a tua que mais perde se não vens”). Talvez as pessoas estejam demasiado concentradas na sua vida. Nas suas batalhas, querendo sempre ser os melhores naquilo e naqueloutro. Acabam por não se aperceber de que os que estão a seu lado vão embora, ficando depois os seus grandes feitos sem ninguém com quem os celebrar (“Este tempo que perdemos a tentar vencer alguém / E ao fim ao cabo / Que é dado como um ganho / Vai se ver desperdiçamos / Sem nada dar a ninguém”).

Pedro
«O Primeiro Dia» (Sérgio Godinho), Sérgio Godinho, Pano-Cru, 1978
Esta é uma música que nos fala de muitas fases da vida, fala-nos de quando estamos bem – “está-se bem no silêncio e no burburinho” — da experiência e da coragem que ganhamos ao percorrer o nosso caminho, “Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo”.
Fala de quando estamos mal sem forças para avançar , ” Bebe-se o alento num copo sem fundo” e de como por vezes os nossos amigos são quem nos ajuda a desencalhar — “E é então que amigos nos oferecem leito / Entra-se cansado e sai-se refeito”. Fala-nos do cansaço que vai surgindo passivamente dentro de nós, o qual nos faz, por vezes, parar — “Olha-se para dentro e já pouco sobeja/ Pede-se o descanso, por curto que seja” — mas, sobretudo, esta música fala-nos em enfrentar a vida! Fala em sermos resilientes aos obstáculos que esta põe no nosso caminho e em nunca por eles sermos derrotados ou enfraquecidos — “Enfim duma escolha faz-se um desafio / Enfrenta-se a vida de fio a pavio”; “Bebe-se a coragem até dum copo vazio”; “E outra maré cheia virá da maré vaza”; “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”.
Eu acho todos estes temas são bastante importantes e identifico-me em cada verso da música pois eu — certamente, tal como todos — já estive bem e já estive mal, já tive quem me ajudasse mas também já tive de me aguentar sozinho. Estou sempre cansado e durmo muito pouco e não seria a primeira vez que imploraria pela almofada. Contudo, o verso que acho mais importante terá de ser o que dá título à música, “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”, pois depois de tudo aquilo que já passei estou aqui, pronto para mais, com rumo em frente e sem nunca ter desistido de nada ou me ter arrependido de não tentar!

J. Cabo
 “A minha casinha” (Silva Tavares / Xutos & Pontapés), Xutos & Pontapés, 88, 1988
A música “A minha casinha”, da banda Xutos e Pontapés, é das de que mais gosto da música portuguesa. Sou escuteiro desde os oito anos e, como escuteiro, faço muitos acampamentos e atividades em que estou longe de casa. Uma das melhores sensações que já senti foi voltar de um acampamento de uma semana na Serra Nevada, em Granada, Espanha, e ouvir esta música. Ao ouvi-la, fiquei com um sentimento de saudade de casa e de alegria por estar a voltar, tal como a letra da música (“As saudades que eu já tinha / da minha alegre casinha”), o que não significa que não tenha gostado do acampamento — só que o cansaço e a vontade de estar com a família naquele momento “falaram mais alto”.
A versão original desta música é de António Melo, a letra de Silva Tavares e foi interpretada por Milu no filme Costa do Castelo, em 1943. Relativamente à versão dos Xutos e Pontapés, considero-a excelente, com um ritmo e um estilo muito diferentes dos do original, muito divertida e mexida, com a qual me identifico, tocada por, talvez, a banda mais mediática portuguesa e, certamente, a minha favorita a nível nacional.

Leonor
“Verão Azul” (Paulo Vintém / Angélico Vieira / Vítor Fonseca / Edmundo Vieira), D´zrt, Original, 2006
Esta letra simples, forçosamente rimada, alude ao verão e à felicidade partilhada. Ao valor da amizade, de permanecer com os nossos amigos independentemente da situação em que nos encontraremos: ”Saber que tens alguém com quem contar. / Os bons momentos que podes partilhar. / Juntos dançamos, sorrimos, choramos e até os momentos tristes partilhamos ”. A uma vida cheia de vivências mas onde podemos ser marionetas nas mãos de alguém (“Presta atenção a este show de marionetes. / Onde histórias são vividas, conduzidas”). Diz-nos que no meio do inverno temos de aprender que há um verão invencível dentro de cada um. O frio é psicológico, assim como a tristeza. A vida é algo desprovido de preocupações (” Neste verão eu estou afim, dê o que der eu vou curtir, soltar a energia em mim.”).
Esta é uma letra já decorada, que fui aprendendo com o tempo, apenas por ouvir. Traz nostalgia, momentos há muito esquecidos, memórias infantis. Faz recordar os verões passados em casa dos meus avós a ver Morangos Com Açúcar e em que a minha avó me ensinava a fazer crochet.
Lembro-me da ansiedade que tinha em ter idade para poder ter um verão como eles. Um verão cheio de aventuras em que, quando “o calor apertar, na praia eu vou estar”, à felicidade vivida com amigos.
Faz-me sentir o cheiro a infância, a lápis de cera. Lembra-me os recreios passados no Externato das Pedralvas, em que nos sentávamos no tapete verde para ver o que dava na televisão e, enquanto esperávamos que a grande caixa mágica ligasse, cantávamos essa mesma canção entre muitas dos D’zrt.
Faz-me lembrar as longas viagens de carro até Espanha em que eu e a minha irmã cantávamos todas as músicas que sabíamos de cor, obrigando os nossos pais a cantar connosco num coro perfeitamente sincronizado e amorosamente desafinado. Às temperaturas altas que apanhávamos sem ar condicionado e os gritos soltados pela janela quando passássemos a fronteira.
Faz-me lembrar as calças bocas-de-sino, as jardineiras, as bolsas de cintura da eastpak, os bonés virados para trás.
Faz-me lembrar do sabor salgado na boca, do som das ondas, do cheiro a mar e protetor solar.
Os momentos que não eram registados por selfies, de quando ainda não havia instagram e snapchat. Os momentos que ficarão sempre guardados na memória, não uma memória visual, mas sentida.
Esta música não alude apenas a um momento, mas a uma época, uma mentalidade, à minha antiga realidade. É uma música que abre as gavetas de memórias e a torneira da alma.

Tety
«Ai Se Ele Cai» (Xutos e Pontapés), Xutos e Pontapés, Mundo ao Contrário, 2004
1 de maio de 2015, uma longa viagem até ao Alentejo, com a minha amiga e os seus pais, é o que me lembra esta música. Tínhamos acordado cedo, pois aquele seria um dia muito importante para a minha amiga Khrystyna. O sonho dela sempre fora saltar de paraquedas (“Se isto é só um sonho / Eu não quero acordar”), e este dia ficou marcado como um dos melhores dias das nossas vidas. No carro, íamos felizes a falar, até que eu me lembrei da música “Ai Se Ele Cai” dos Xutos e Pontapés. Comecei a meter-me com ela cantando-lhe a canção (“Ai se ele cai / Vai-se partir”) a viagem toda. No final, até os pais dela já a sabiam de cor. Quando chegou o momento de ela saltar, ficámos nervosos pois ela saltou 4200 metros. Nesse dia, fartei-me de tirar fotos e, depois de ter visto o vídeo que fizeram dela a saltar, prometi que também iria fazer algo assim. O ser humano tem receio de explorar o desconhecido, mas, quando sai da sua zona de conforto, descobre novos gostos, novos objetivos e, assim, a sua vontade de viver e de aproveitar a vida, é inexplicável.
Em relação à letra da canção em si, o tema um amor não correspondido ou não demonstrado pela pessoa pela qual o sujeito poético demonstra sentir paixão (“E eu espero e nunca mais vem”). A música transmite-nos o medo de virmos a sofrer quando nos sentimos apaixonados (“Ai se ele cai / Vai-se partir / Meu coração / Vai-se partir”). O sujeito poético tem receio de vir a perder a pessoa amada pois o seu amor é muito grande (“De tanto querer / De tanto gostar / De tanto te amar / Eu não te quero perder”).

Bia G.
«Voa a grande altitude» (Maria Amélia Costa / Maria Amélia Costa), [um grupo de escuteiros], s.d.
A música surge na minha vida como peça importante no dia-a-dia. Adoro ouvir música e decoro as letras com facilidade; porém, a música que escolhi abrange uma dimensão diferente. Ouvi esta música nos escuteiros e considero ser uma das minhas preferidas. A minha ligação aos escuteiros é muito forte e talvez seja por isso que esta música me diz tanto. Ela acompanha-me desde os meus seis anos, escutada e cantada em muitos momentos, e quase sempre bastante agradáveis. Ouvir o “Voa em altitude” proporcionou-me sempre a sensação de serenidade, de calma interior e, sem dúvida, sentimentos de segurança e de esperança. Os versos fortes e a melodia suave fomentam sentimentos de alegria e de liberdade, de confiança e de tenacidade, (“Ninguém te ensinou / Mas no fundo tu sentes / Asas p’ra voar / Nem que o céu se tolde / E as nuvens impeçam / Tu não vais parar.”). Estes versos, para mim, fazem todo o sentido, na medida em que significam que cada um de nós tem dentro de si a força de que precisa para continuar, para lutar e que, quando queremos algo, nada nos deve travar.
Recordo-me que, no início da minha caminhada escutista, não compreendia muito bem o significado da letra porém, com o passar do tempo fui-me apercebendo do seu verdadeiro sentido. A mensagem contida nesta música é uma mensagem forte, potente e ao mesmo tempo sensível. “Voa bem mais alto / Livre sem alforge / Sem prata nem ouro” diz-nos para tentarmos sempre alcançar mais, desprendermo-nos de bens materiais (muitas vezes supérfluos) e tentar chegar mais longe.
"Não fiques na praia / com o barco amarrado / E medo do mar / Tudo aqui é miragem, / Mas na outra margem / Alguém a esperar” são versos que nos convidam a não ter medo, a não desistir e, ainda que depois de um grande sacrifício, se continue a acreditar e confiar que a recompensa e novas descobertas estarão para chegar. Uma das partes que muito me fascinaram foi “És águia diferente / Céu azul cinzento / Foi feito p’ra ti.” Estes versos indicam-me a beleza, o belo, a individualidade, o ser especial, e eu identificava-me com essa águia por ser única, diferente, por poder viver em liberdade, por ter a oportunidade de sonhar e por poder ACREDITAR.

Lucas

“Tempo Perdido” (Renato Russo), Legião Urbana, Dois, 1986.
A música tem o tema do tempo, reflete, critica e o admira. Das poucas coisas que não podem ser compradas ou controladas, o tempo é uma delas, a letra é inspirada numa grande quantidade de coisas e de momentos da vida do «eu» da letra.
No poema, o sujeito poético reflete sobre fases de sua vida, das mudanças que aconteceram, talvez cedo de mais (“somos tão jovens”), devido ao sucesso que faziam; sua relação com a banda, namoradas, mentiras, arrependimento e a culpa de não poder voltar atrás no tempo e proceder de modo diferente.
Me encontro com a música nos instantes em que penso na enorme quantidade de coisas que queria ter feito diferente, das decisões que, então, eram, sem dúvida, as melhores e que, porém, se revelaram as piores no final das contas. De quanto tempo eu perco fazendo coisas que nem se quer eu quero fazer ou escolher, o tempo que perco indo de um lado para o outro, de cidade em cidade, de país em país, o arrependimento de não ter tempo para pensar o que eu quero, de fazer o que eu quero, de viver onde eu quero. A agonia de não sentir que o tempo está passando e, em certos momentos, pensar que já foram mais de sete meses num lugar antes desconhecido. O tempo que perco em sentir inveja da vida dos outros e não tentar mudar a minha, o sentimento, que não sei bem descrever, que sinto ao acharem que ter dinheiro significa estar sempre feliz. Mas também lembro de que “somos tão jovens” e de que mesmo que tenha tanto “tempo perdido” posso transformar essa bagunça de sentimentos e perdições  em vontade e atitudes para mudar e fazer diferente o que antes pensava que já estava decidido.

Gonçalo S.

“Fizz Limão” (Miguel Araújo/Miguel Araújo), Miguel Araújo, Cinco dias e meio, 2012
Quando ouço esta música, os meus pensamentos recuam até ao verão passado, mais precisamente à semana de 9 a 16 de agosto. Esta semana passou-se na Zambujeira do Mar, em casa do meu melhor amigo, o João. Éramos três, como sempre, unidos e inseparáveis, o João, o Fernando e eu. Partimos para o Alentejo, com a perceção de que a melhor semana de sempre se estava a aproximar.
Primeiro dia no Alentejo. Depois do almoço, fomos ao café com a Cristina, a mãe do João, comer um gelado. Fomos de carro, e foi aqui que tudo começou, quando, no rádio, ouvimos tocar o “Fizz Limão”. De imediato, as nossas bocas se calaram e os nossos ouvidos ficaram surdos, fixando-se só na música. Não saímos do carro até que a música acabasse, e ainda a ouvimos mais algumas vezes, até a sabermos de cor. Esta ia ser, sem dúvida, a nossa música, a música que ia marcar as nossas férias de verão de 2014.E assim foi. A música acompanhou-nos para a praia, para o café, para a piscina e só terminava quando íamos para a cama e adormecíamos. A semana no Alentejo terminou, e as próximas foram no Algarve e no norte, sempre acompanhados pela nossa música. Passamos de três a quatro, afinal o Miguel Araújo e o “Fizz Limão” já faziam parte das nossas vidas. Curiosamente, até o gelado Fizz Limão passou a ser a nossa sobremesa de verão.
Esta canção faz-me ter recordações de um dos melhores verões de sempre. Todos os momentos divertidos, todas as brincadeiras, todos os atrevimentos de adolescentes, todas as pessoas que conheci e tudo o que aprendi, encontra-se nesta música, e, tal como a música refere, as recordações são o melhor que existe. Infelizmente, com a mudança de escola, ficámos um pouco mais distantes, mas continuamos a fazer de tudo para estarmos juntos regularmente. Afinal, a amizade supera qualquer distância.
Com o verão a aproximar-se, lá vamos de novo os três rumo a mais uma aventura na Zambujeira do Mar, com a certeza de que uma nova música aparecerá para marcar as nossas férias de 2015.
O que antes era rotina, não passa de recordações e elas são as únicas coisas que temos para recordar os melhores momentos. O autor baseia-se muito nos seus tempos de adolescência e nas memorias que guardou (“Talvez se o Maradona ainda jogasse futebol / e o rock n'roll ainda fosse a canção / se o Chuck Norris ainda fosse o rei do Texas / de quando o Verão Azul dava na televisão / e o cheiro a naftalina é que me aquece o coração / porque o Fizz Limão, ai o Fizz Limão há de voltar / num dia de sol, o Fizz Limão há de voltar!”). Ao longo da música, deparamo-nos com uma constante comparação entre o passado e o presente. O eu recorda com saudade os momentos que mais marcaram a sua infância. Por outro lado, o cantor apresenta o seu descontentamento com a presente problemática do país, com a crise, a desigualdade, a pobreza, resumindo, com os governantes (“O povo não desespera, a gente sabe que ainda há solução”). O sujeito do poema mostra-se triste, desapontado e refere que não podemos pensar que tudo se resolverá sem que façamos nada e que a solução dos nossos problemas vai ser o passado (“Não ficamos à espera, não sustemos a respiração / à espera que o D. Sebastião nos traga a redenção”). Ao escrever estes versos, recorreu à ironia, ao dizer que não irá ser o Dom Sebastião que nos vai trazer a solução. Temos sim que pensar no futuro como resposta aos nossos problemas.
Resumindo, a letra opta por mostrar as fortes diferenças entre o passado e o presente, invocando total preocupação pela atual situação que o país atravessa (“Sem fé no futuro, rumo ao passado a cantar, cantar, cantar / não sinto orgulho nas notícias da manhã / no nosso tempo ninguém morria / no nosso tempo ninguém sofria”).

Susana

“Pedra Filosofal” (António Gedeão / Manuel Freire), Manuel Freire, Manuel Freire, 1971
Vou recuar no tempo. Vou em busca do período em que desilusões e tristezas não faziam parte do meu quotidiano, em que os sonhos eram infinitos e o dominante da minha vida. Vou visitar a minha infância.
Surge saudade ao lembrar os momentos vividos, os momentos que nunca imaginei que me viessem a marcar deste modo e me fizessem explodir com tantas emoções ao recordá-los. Apesar de tão simples terem sido, havia uma constante em todos eles: o sonho (“Eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida / tão concreta e definida / como outra coisa qualquer”). Não tinha medo de sonhar, tinha a coragem de acreditar no impossível. De certa maneira não o via como algo mirabolante, acreditava que conseguia atingir tudo; por outro lado, fui ensinada que, ao ter força de vontade e grandes convicções, atingiria todas as metas, treparia todos os muros, quebraria todas as paredes. Como o tempo muda… Retomando o presente, sinto melancolia ao refletir sobre ele, tristeza em ver como a esperança se foi desvanecendo ao longo do tempo, como me fui tornando mais realista, talvez mesmo mais negativa, com os pés mais assentes na terra. Ainda alimento as minhas esperanças, ainda sonho, mas aprendi a fazê-lo de forma moderada, de forma mais prática.
Com sonhos mais ou menos credíveis, o que é certo é que o ato de sonhar ainda persiste e pertence à realidade em que vivo. O que seria da minha vida sem o sonho, o que seria da nossa vida sem o sonho? Necessitamos dele bem presente em nós, precisamos de algo que nos empurre em frente, que nos erga quando estamos em baixo, que dê sentido ao mundo em nosso redor. O sonho minimiza o sofrimento, guia-nos nesta vida e mantém-nos vivos, mantém viva a chama da nossa esperança (“Eles não sabem, nem sonham / que o sonho comanda a vida”).
O que seria de uma vida sem sonhos? Ansiamos por algo que nos motive a dar um passo em frente, pois tal significa estarmos um passo mais próximos da nossa meta, um passo mais próximos da nossa felicidade. Um homem sem sonhos é um homem condenado, está no limite, não tem por que ansiar, por que viver, vive uma vida sem sentido, pois afinal é nisso que o sonho consiste, em dar sentido à nossa vida (“Que sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança / como bola colorida /entre as mãos de uma criança”).
“Pedra Filosofal” é uma música que me tem acompanhado neste percurso de vida desde o primeiro momento em que a aprendi e cantei no coro da escola, até agora. Em consonância com os laços que tenho estabelecido com esta música, recebo o privilégio de a ir desvendando, aproximando-me cada vez mais do teor da sua letra, apoderando-me do seu significado total.

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