Pessoa pelo 12.º 4.ª
Seguem-se
trabalhos em torno de poemas de Pessoa. As instruções para esta tarefa ficaram
aqui.
Inês B. &
Ana
«A miséria
do meu ser»; «Aqui está-se sossegado»; «[Abdicação] Toma-me, ó noite eterna,
nos teus braços» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2445;
http://arquivopessoa.net/textos/3619
| http://arquivopessoa.net/textos/2027
«Não sei o que é
conhecer-me. Não vejo para dentro»; «Nunca busquei viver a minha vida»; «Aceita
o universo» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/2725;
http://arquivopessoa.net/textos/374
| http://arquivopessoa.net/textos/346
| «Cada
coisa a seu tempo tem seu tempo»; «Amo o que vejo porque deixarei»; «Quero
ignorado, e calmo» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/768;
http://arquivopessoa.net/textos/1817;
http://arquivopessoa.net/textos/508
| «Arre, que tanto é muito pouco!»; «Bem sei que tudo é natural»; «Estou
cansado da inteligência» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3224;
http://arquivopessoa.net/textos/3453;
http://arquivopessoa.net/textos/1120
| Ana & Inês B. (18,5-19) Tempo recomendado foi largamente excedido. No
entanto, se descartarmos os bloopers ficamos com cerca de sete minutos, o que
já é aceitável para um trabalho a dois. Nestas minhas considerações, portanto,
não me vou ocupar dessa parte post
7.20. Começo por destacar o cuidado, gosto, esforço, postos na realização de Uma viagem por Pessoa. Deveria agora
referir vários aspetos de conceção e de realização do filme (há aliás decerto
muito mais requintes nesse campo em cuja análise não me deterei, já que não sou
especialista em cinema, mas cuja presença consigo intuir). Circunscrevo-me aos aspetos
menos técnicos: o aproveitamento de locais de Lisboa sabidamente pessoanos
(excetuando-se o jardim da Ameixoeira, em todos poderíamos situar episódios
relevantes da vida do poeta); a representação, por vezes, ao vivo (entenda-se:
com as pessoas reais na sua vida diária a cruzarem-se com as atrizes — ouvir-se
um «Françoise!» e um «Ó amigo...» que não estavam no guião agradaria muito a
Campos); as várias formas de (1) leitura, (2) recitação, aparentemente, sem
ponto, (3) representação, e a articulação entre elas (um poema começa a ser dito
em off e é concluído em representação; é começado por alguém e retomado por
outrem; etc.); a preocupação com adereços e caracterizações (para ser franco, não
vejo nenhum dos heterónimos, nem até o ortónimo, como são imaginados no filme —
talvez só o Pessoa-criança, brilhantemente interpretado por Maria, e, em parte,
Caeiro, não me surpreendam — mas, é claro, tudo isto é questão de fé, não é
propriamente investigável); toda a referenciação, a legendagem, os créditos, elegantes
também; todo o tratamento do som (cuja captação costuma ser tão problemática
nestas situações mais encenadas, mas que está muito perfeito) e a música.. Na
expressão oral, dada a quantidade de texto lido, tem de se elogiar não haver
erros (de pronúncia ou de troca de palavras) e deve perdoar-se um ou outro
momento de menor naturalidade ou em que a pontuação (gráfica) fica audível
(exemplo: em «E, se me
conheço, esqueço», as vírgulas que isolam a oração condicional talvez não devessem
ser tidas em conta). No resto, o nível geral é muito bom (permito-me destacar a maneira de
declamar Campos, e o próprio Reis, por Inês, e alguns trechos do ortónimo, por
Ana).
Madalena
«Acordar da cidade de
Lisboa, mais tarde do que as outras» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1012
| Madalena (15,5-16) A leitura
em voz alta da Madalena não fez erros (apenas «mas não sossego nunca» foi lido
«mas não sossego. Nunca!») e tem boa expressividade (pergunto-me só se, por
vezes, não há um estilo demasiado declamatório, diríamos, dantes, «à Teatro
Nacional D. Maria II», que acaba por não corresponder bem à índole, um pouco
descoordenada, de Campos). No título no slide, corrija-se «Liboa». A crítica
que pode ser feita a este trabalho é a excessiva simplicidade (o pouco risco, a
falta de alguma criação mais original); porém, dentro do formato escolhido, conseguiu-se
um resultado bastante perfeito.
Catarina
& Núria
Álvaro de
Campos: «Ai, Margarida» (http://arquivopessoa.net/textos/3537);
«A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa» (http://arquivopessoa.net/textos/1128);
«[2.ª ode] E eu era parte de toda a gente que partia» (http://arquivopessoa.net/textos/2863);
«Ah, onde estou ou onde passo, ou onde não estou nem passo» (http://arquivopessoa.net/textos/2419);
«Ah, os primeiros minutos nos cafés de novas cidades!» (http://arquivopessoa.net/textos/1047);
«Ah, no terrível silêncio do quarto» (http://arquivopessoa.net/textos/3440);
Alberto Caeiro: «[XL] Passa uma borboleta por diante de mim» (http://arquivopessoa.net/textos/3455);
«[XXVIII] Li hoje quase duas páginas» (http://arquivopessoa.net/textos/1188);
«Ah querem uma luz melhor que a do sol!» (http://arquivopessoa.net/textos/2582);
«[XXIII] O meu olhar azul como o céu» (http://arquivopessoa.net/textos/1168);
«Pétala dobrada para trás da rosa que outros dizem de veludo» (http://arquivopessoa.net/textos/2652);
Ricardo Reis: «Azuis os montes que estão longe param» (http://arquivopessoa.net/textos/318);
«Enquanto eu vir o sol luzir nas folhas» (http://arquivopessoa.net/textos/1980);
«A flor que és, não a que dás, eu quero» (http://arquivopessoa.net/textos/3480);
«A abelha que, voando, freme sobre» (http://arquivopessoa.net/textos/2799);
«Antes de ti era a Mãe Terra escrava» (http://arquivopessoa.net/textos/1650);
«Floresce em ti, ó magna terra, em cores» (http://arquivopessoa.net/textos/1998);
«Cantos, risos e flores alumiem» (http://arquivopessoa.net/textos/1854);
Fernando Pessoa: «Contemplo o lago mudo» (http://arquivopessoa.net/textos/125);
«Há quase um ano não escrevo» (http://arquivopessoa.net/textos/2329);
«Amei-te e por te amar» (http://arquivopessoa.net/textos/2230);
«Ah, bate leve, mais levemente!» (http://arquivopessoa.net/textos/285),
«Há no firmamento» (http://arquivopessoa.net/textos/2482);
«Não tragas flores, que eu sofro...» (http://arquivopessoa.net/textos/3935);
«Flor que não dura» (http://arquivopessoa.net/textos/3760);
«Bem sei que ela era a Rainha» (http://arquivopessoa.net/textos/1150)
| Núria & Catarina (19,6) Só aparentemente é que não há texto criado pelas autoras. Na
verdade, com uma série de fragmentos de poemas de cada um dos heterónimos e de
Pessoa ortónimo foram redigidos quatro novos textos. Aliás, cinco, já que temos
de contar com certa recuperação que se faz no último texto (Pessoa) do esboço
de narrativa iniciada no primeiro (Campos). Haveria assim os quatro textos
autónomos, descobrindo-se depois ainda outro, que precisa da compreensão dos
anteriores, mas pode ser contabilizado como um texto diferente. As imagens (em
vários formatos: do desenho acelerado à pequena representação ou à paisagem) ajudam
a tornar coerente, e a decifrar, este centão («centão» é como se designa o
texto feito de muitos fragmentos de outros, sem quaisquer colagens adicionais
da nossa lavra), acrescentando-lhe sentidos (personagens, peripécias, adereços,
paisagens) que, de outro modo, não estariam suficientemente definidos. As
divisões, por separadores com legenda, também concorrem para a coesão do
conjunto (unificam, apesar de parecer que estabeleceriam fronteiras). Não
encontrei nenhuma falha na leitura (o que, dada a quantidade de texto, já era enorme
mérito). Porém, o mérito maior da leitura em voz alta (e que só percebe bem
quem possa ir confrontando a leitura de Catarina e Núria com a versão impressa
do texto) é terem interpretado as frases nos poemas desconfiando da pontuação: em
vez de terem lido fiadas no que pudesse haver de pontuação no original, Catúria
[é uma amálgama com valor plural] perceberam que há muita pontuação a
acrescentar e muita pontuação a omitir. Antes de lerem em voz alta,
compreenderam o texto (e até imagino que marcassem a com pontuação sua essa
interpretação já maturada), só depois ensaiaram a sua representação. É claro
que há momentos em que essa interpretação é até discutível. Exemplifico com
caso relativamente indiscutível: em «O meu olhar azul como o céu / É calmo como
a água ao sol» viram um modificador apositivo, «azul como o céu»; e, no
entanto, não seria também aceitável uma leitura daquele segmento enquanto
restrição (só aquele olhar azul era calmo)? Talvez não (ainda se fosse Campos, e
não Caeiro). Nas legendas finais há algumas gralhas (tinham-me avisado?):
«rapariaga», «terrívem», «silêscio», «comtemplo» e um
espaço indevido em «que ,»; algarismos não devem colar a «n.º» (e notem o ponto
de abreviatura que acabo de usar).
Beatriz
«A música, sim a música» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/945
| Beatriz (16-16,5) Boa leitura, sem erros. Talvez se possa dizer que não houve grande
aposta na expressividade, mas, provavelmente, a expressividade adequada a este
texto é mesmo esta, mais neutra. Música, com efeito mal tocada, é o invólucro
que faltava, constituindo-se, assim, um objeto interessante, revelador de
sentido estético apurado, mas talvez demasiado curto (quarenta e sete
segundos).
Alexandre
C.
«[Ode Marítima] Sozinho,
no cais deserto, a esta manhã de Verão» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/135
| Alexandre C. (15(-14,5)) Leitura
boa, sem erros (apesar de um ou outro ligeiro «entaramelamento»), mas que
talvez devesse ser mais nervosa (com o entusiasmo que Campos implica), mais
dramatizada. Solução para o trabalho foi, creio, demasiado simples; Alexandre
conseguiria ser mais criativo (as imagens pouco acrescentam ao poema, são
ilustrações que, de certo modo, restringem o significado que do texto
poderíamos tirar).
Maria Inês & Mariana (12.º 3.ª)
«Esta velha angústia» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2579
| Mariana & Maria Inês (17) Filme, construído com sentido de ritmo e apuro estético, criativo, é
interessante, já que não é meramente ilustrativo, acrescentando sentidos ao texto
original. Na leitura em voz alta, de expressividade adequada, não houve erros
(há apenas um «[f]azilha», por «vazilha», da parte de Maria Inês, logo no
início), mas talvez esperasse um fecho (por Mariana) com maior ênfase, quase
gritado. Tendo em conta que se tratava de trabalho em dupla, a extensão — 1.45
— devia ser maior.
Alexandre
F.
«No dia brancamente nublado entristeço quase a medo»
(Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/344
| Alexandre F. (13) Embora se tratasse de texto longo, quase não detetei erros concretos na
leitura em voz alta. (Apenas no final do texto notei algumas diferenças
relativamente à versão que estava a seguir, mas admito que adviessem de o
Alexandre poder estar a usar outra edição.) É certo, no entanto, que a fluidez
da leitura vai decrescendo ao longo do trabalho e que, a Caeiro, talvez
conviesse um estilo mais adocicado, coloquial. Na legenda, ficou «brancamento»,
em vez do advérbio. O slide com o quadro que Almada Negreiros fez de Pessoa não
é muito original, pois não?
Daniel
«Estou cansado, é claro»; «Estou cansado da
inteligência» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2481
e http://arquivopessoa.net/textos/1120
| Daniel (15,5-15) A leitura em voz alta de Daniel não tem erros. Porém, faltam-lhe talvez
mais inflexões, mais expressividade explícita, se assim posso dizer. De certa
maneira, essa expressividade obrigava até a certa rebeldia perante o texto a
seguir (que fosse mais representado que lido; ora, nestas duas boas leituras,
nós sentimos que está ali uma folha com texto a ser dito). Realce-se o bom
acabamento, a atenção aos pormenores (revelados até no genérico inicial e nos
créditos), com pena, no entanto, que não se tenha apostado num formato um pouco
mais ambicioso.
Marta
& Miguel D.
«[XXXII] Ontem à tarde
um homem das cidades» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3417
| Miguel D. & Marta (19)
Filme de Marta e Miguel revela bom gosto, criatividade, domínio técnico e,
decerto, muita capacidade de trabalho. Grande parte da originalidade vem do
formato das imagens (compósitas, mas, no fundamental, animações criadas a
partir de objetos, ou objetos e desenhos, ou objetos em paisagens), numa
realização tão sofisticada que o próprio Caeiro se desinquietaria (e cuja
perfeição, reconheça-se, está nos antípodas do embevecimento com as cousas simples
do «guardador de rebanhos»). Relevante também a música. A leitura em voz alta
está bastante boa, embora me fique a dúvida sobre se o estilo de expressividade
adotado será mesmo o mais adequado a poemas de Caeiro (proporia um tom mais
coloquial, que, circunstancialmente, porém, não se entrosaria tão bem com as
imagens).
Inês M. & Rita
«[Bicarbonato de soda] Súbita,
uma angústia...» (Álvaro de Campos); «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra» (Álvaro de
Campos); «Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir» (Álvaro de Campos); «Às
vezes tenho ideias, felizes» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/28; http://arquivopessoa.net/textos/4422; http://arquivopessoa.net/textos/2854; http://arquivopessoa.net/textos/272 | Rita
& Inês M (19-18,5) Ponto
forte é a conceção do filme: redigiram-se textos que ligam vários trechos de
Campos. Esses elos conseguem tornar coerente a sequência, embora talvez não
sejam assim tanto à Campos. Já a edição das imagens parece reportar-se a cada
um dos textos individualmente (e, em geral, com tratamento delicadamente
criativo das imagens). Também a música, bem escolhida, contribui para coesão e
originalidade do trabalho. Não encontrei falhas na leitura em voz alta (enfim,
para mim, «metafísica» é «m[ε]tafísica», com é aberto). De qualquer modo, creio
que a leitura de Campos obrigaria talvez a maior expressividade, mais nervo
(ainda que, sobretudo no caso da parte de Inês, seja o estilo repetidamente
expressivo que, em parte, anula a expressividade). Na redação: em vez de «ao
início», «no início». A anteposição dos adjetivos («rigoroso inverno»,
«degradada janela», «débil luz», nos primeiros dez segundos) é mais queirosiana
que à Campos . (Um clip sobre «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra»
com declamação de Rui Morisson: http://videos.sapo.pt/pfnews/PiVEZBZ29CrgFQfVNRyZ).
Francisco
D.
«[O futuro] Sei que
me espera qualquer coisa»; «[Viagem] Sonhar um sonho é perder outro. Tristonho»
(Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1250
e http://arquivopessoa.net/textos/4402 | Francisco D. (15,5) Leitura de Francisco não tem erros (aqui e ali, dicção discutível: no
segundo texto oiço umas aliterações que não estão assim tão nítidas no original).
Valia a pena, porém, usar um estilo menos altissonante (menos gritado), para se
poder matizar mais a expressividade, tornando a voz mais moldável às emoções
que se quer reproduzir. Em termos de imagem, as duas escolhas, uma para cada
poema, foram simples e resultam bem (na primeira, o próprio autor a escrever
rapidissimamente; na segunda, pessoas a movimentarem-se, também a grande
velocidade, decerto a dirigirem-se para os justamente afamados bifes à Império
— «Ó que molho delicioso! Ó que batatas fritas! E o lombo e o lombo e o lombo»
diria Campos se os tivesse provado).
Gonçalo C.
«Não venhas sentar-te à
minha frente, nem a meu lado» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1448
| Gonçalo C. (12-11,5) Leitura quase não tem erros (ligeira hesitação em «sem se lhe saber» e
«envolto» dito com ó aberto), mas está um tanto uniforme, um tanto escolar,
muito preocupada em... não fazer erros. As imagens escolhidas não trazem,
creio, benefício à interpretação do texto (mais até se interpõem entre texto
ouvido e interpretação que lhe queiramos dar).
Alexandre
A.
«Adoramos a perfeição,
porque a não podemos ter» (Bernardo Soares) | http://arquivopessoa.net/textos/3640
| Alexandre A. (10-10,5) Ao contrário do que se pedia nas instruções da tarefa, este texto, além
de curto, é em prosa (pertence ao Livro
do Desassossego, atribuído, geralmente, a Bernardo Soares; algumas edições
recentes preferem adotar como autor apenas Fernando Pessoa, já que há trechos
assinados por Vicente Guedes, Bernardo Soares e Fernando Pessoa). A leitura de
Alexandre não foi muito fluente, parecendo estar-se ainda na fase de
reconhecimento do próprio texto.
Gonçalo H.
«Estou cansado, é claro» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2481 | Gonçalo H. (14-13,5) Leitura do poema não tem erros claros (ou tem um único: a interrogação «E a luxúria única de não ter já esperanças?» não foi lida com a entoação
devida), embora se deva dizer que se tratava de texto bastante curto e que a
segunda metade saiu pouco fluente. A ideia em termos de imagem para o fundo
visual resulta.
Gonçalo V.
«[Dois excertos de odes (fins de duas odes,
naturalmente)] II — Ah o crepúsculo, o cair da
noite, o acender das luzes nas grandes cidades» (Álvaro de Campos)» | http://arquivopessoa.net/textos/129
| Gonçalo V. (14(-13,5)) Houve trabalho (na recolha de imagens) e a assunção de certo risco
(texto é extenso, nada fácil de ler). Estes dois desafios, que implicam já algum
mérito, não foram depois completamente bem sucedidos, já que filme acaba por
ser um pouco desperdiçado, não parecendo conferir sentido acrescido ao poema, e
a leitura em voz alta ficou prejudicada por a expressividade tentada ter saído
pouco natural (tom é demasiado enfático; além disso, sente-se a presença da
pontuação gráfica).
Gonçalo N.
«Gato que brincas na rua»; «[Autopsicografia] O poeta é
um fingidor»; «[Isto] Dizem que finjo ou minto»; «Não sei ser triste a valer»
(Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/154;
http://arquivopessoa.net/textos/4234;
http://arquivopessoa.net/textos/4250;
http://arquivopessoa.net/textos/3470
| Gonçalo N. (10) Não foram tidas em conta as instruções que dei, pelo menos no que se
refere a não deverem ser usados textos do manual (todos estes quatro textos
estão no livro, e um deles até já o demos em aula). O Gonçalo tem capacidade de
leitura em voz alta, mas não a revelou especificamente nestes textos. Usa uma
expressividade um pouco neutra, independente do sentido de cada poema (como se
a leitura em voz alta pudesse prescindir da compreensão prévia). E há alguns
lapsos: «e vejo-me» (por «eu vejo-me», no «Gato»); «as que» (por «a que», em
«Autopsicografia»); «os faz passar» (por «a faz passar», em «Não sei»).
João
«Vai
alta no céu a lua da Primavera» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1005
| João (12,5) Trabalho tem bom acabamento (música, ritmo), mas poema escolhido deveria ser mais extenso. Na leitura de João, que tem boas capacidades, não se notam erros (apenas: «a colher» lido «a colheres»), mas também não houve especial adaptação à expressividade que seria adequada a Caeiro (e, como expliquei, o texto quase não punha problemas). Das imagens destaco aquela em que aparece o próprio autor (é, não é?; o caminho seria mais esse, fugindo às imagens comuns, néticas, arriscando um pouco mais).
Manel
| João (12,5) Trabalho tem bom acabamento (música, ritmo), mas poema escolhido deveria ser mais extenso. Na leitura de João, que tem boas capacidades, não se notam erros (apenas: «a colher» lido «a colheres»), mas também não houve especial adaptação à expressividade que seria adequada a Caeiro (e, como expliquei, o texto quase não punha problemas). Das imagens destaco aquela em que aparece o próprio autor (é, não é?; o caminho seria mais esse, fugindo às imagens comuns, néticas, arriscando um pouco mais).
José
«[Poema em linha reta] Nunca conheci quem tivesse levado porrada» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2224
| José (17) Trata-se de trabalho original e criativo, destacando-se, durante o
primeiro minuto, a série de imagens, breves animações, a partir de colagens,
com transições inesperadas, construída pelo autor. Em geral, por este processo «surrealiza-se»
o poema, fazendo figurar nos desenhos ilustrações literais (e, por vezes,
anacrónicas) do que no texto de Campos é afirmado vigorosamente (é, portanto,
uma espécie de rasteira passada a Campos, quase no seu próprio terreno, o do
apelo do inebriamento sensacionista). Nos dizeres nas imagens, é importante
corrigir-se «ridículo» (com acento, portanto). Na leitura em voz alta, quase
não há erros (apenas «venho sido vil» em vez de «tenho sido vil»); a velocidade
(talvez excessiva e, sobretudo, demasiado constante) fui eu, que, sem querer a
aconselhei.
«Gato que brincas na rua»; «[Autopsicografia] O poeta é
um fingidor»; «[Isto] Dizem que finjo ou minto» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/154;
http://arquivopessoa.net/textos/4234;
http://arquivopessoa.net/textos/4250
| Manel (13) Há que ler as instruções das tarefas: os três textos escolhidos estão no
manual (o primeiro já o demos em aula) e eu pedira que não fossem usados poemas
do nosso livro. Também pedira que se evitassem imagens tiradas da net e, embora
creia que a montagem é do autor, ainda assim há demasiados slides decerto
googlados sem grande originalidade. A ideia de criar texto (novo texto) a
partir de versos de Pessoa recolocados é interessante (outros colegas o fizeram
mas com unidades maiores, pequenas estrofes). A sua concretização falhou,
porque os textos em causa não eram os ideais e porque o processo não foi
cumprido à letra. Houve versos que foram transformados por reescrita (aliás
com pouco gosto: «dama que brincas na cama»), há sintaxe que não fica
gramatical. A leitura parece... a leitura de quem está a ler (quase vemos o
autor a percorrer o papel), sem cuidado de expressividade, talvez porque o
texto a que se chegou não era brilhante.
Mar
«[IV] Esta tarde a trovoada caiu» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1475
| Mar (17-16,5) Não há erros na leitura em voz alta e conseguiu-se boa expressividade,
fugindo-se a um ritmo uniforme que a prejudicaria. Podemos é interrogar-nos se
este estilo de interpretação, um pouco declamatória, é o que convém a poemas de
Alberto Caeiro. Creio que o ideal seria um tom mais coloquial, mais de
conversa, com o matiz de quem se surpreende com o que está a dizer. Em termos
visuais, o trabalho pode ser analisado em dois momentos: primeiro, o do filme,
sendo o foco plantas; depois, várias imagens fixas, sempre com vidros
salpicados por gotas da chuva. Metafórica e nada caeirianamente: primeiro, a
natureza; depois, o olhar do poeta através de um filtro provocado pela natureza
(embaciamento, translucidez).
Miguel B.
& Rodrigo
«[Last poem]
É talvez o último dia da minha vida» (Alberto Caeiro); «Segue o teu destino» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/2589;
http://arquivopessoa.net/textos/602
| Rodrigo & Miguel B. (16) Há bons momentos na realização deste filme, mas também há zonas que mereciam ser mais trabalhadas. Enfim, um
produtor atento diria que a montagem devia deixar cair certas zonas sem
texto e cuidar mais das zonas de ligação entre cenas. Leitura, por Miguel, da quadra de Caeiro apresenta algumas diferenças
que, se não resultarem de se ter seguido outra edição, significam desatenções
ou pouco ensaio: «para lhe dizer adeus» > «dizendo-lhe adeus»; «Fiz sinal de gostar de o
ver ainda» > «Fiz sinal de o gostar de ver antes». (Não me reporto à
brincadeira a seguir, em torno de suposta boçalidade de Caeiro, a que não ponho
objeções.) No texto de Reis, Rodrigo usa um ritmo demasiado lento (mas
concordo com o estilo seco, sério, sem aparente emoção, que considero adequado
a Reis). Também não me parece resultar completamente a leitura da ode em três
momentos, com espaços grandes entre as estrofes, embora perceba que se quis gerir
a relação entre imagens e texto (mas não sei se esta relação fica clara: há uns
vinte e tal segundos focados no campo dos Pupilos, sem texto, que não parecem
ter significado).
Sara
«Não, não é cansaço...»
(Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/228 | Sara (16,5-17) Excelente a leitura (com uma expressividade que significa haver já uma
interpretação, e cuja entoação não decorre da pontuação gráfica). Só um reparo:
a pronúncia «[ow]tra» (com ditongo) não se justifica, já que Pessoa era
lisboeta e, portanto, diria «[ô]tra». Imagem, que julgo criada pela autora,
implicou trabalho e revela criatividade e bom gosto. É talvez pena que o texto seja
relativamente curto (e que, no fundo, o trabalho não fosse um pouco mais
ambicioso).
F. Hipólito
«[Ah, um soneto...] Meu coração é um almirante louco» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3367
| F. Hipólito (15,5-16) Um dos méritos é ter-se criado texto em continuação do de Pessoa (mas,
ainda assim, relativamente pouco texto). As imagens, recolhidas de algum
anúncio turístico, podiam propiciar tratamento irónico, que foi pouco
desenvolvido (também o final, com glorioso surgimento de Bernardo — um abraço —,
foi um tanto desaproveitado). Se bem percebo, houve algumas ideias, mas não
houve nem tempo de sedimentação desses planos nem demora suficiente na
realização. Leitura não tem erros, mas parece-me demasiado lamentosa, arrastada
(é aspeto que Francisco deve treinar: conciliar certa presença, ênfase, que tem
a sua leitura em voz alta, com maior maleabilidade, capacidade de se adaptar a
vários matizes de expressividade); era preciso talvez mais energia, mais
entusiasmo à Campos.
#
<< Home