Aulas de cábulas
Primeira aula de cábulas (8 ou 9/jun) Soluções de grupos I-B que estavam em
enunciados que distribuíra mas cujas respostas não lhes entregara:
[a Grupo I-B sobre Sermão,
em folha dada na penúltima aula, que incluía outros três grupos itens de que
vimos depois as respostas]
1. No capítulo III, tinham
sido referidos alguns louvores dos peixes em geral: «ouvem e não falam», sendo, pois, bons ouvintes; são obedientes e
discretos, evitando o convívio com os homens; além disso, não se deixam
domesticar, não perdendo a liberdade, como sucede aos outros animais («E entretanto vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias,
vivereis só convosco, sim, mas como peixe na água»).
Para além disso, os peixes
foram as primeiras criaturas criadas por Deus, foram as primeiras criaturas
nomeadas pelo homem, são os mais numerosos e os maiores e sempre manifestaram
obediência, quietação, atenção, respeito e devoção ao ouvirem a pregação de
Santo António.
A utilização destes elogios tem por objetivo
__________, pela demonstração de atitudes opostas a estas, uma vez que os
homens ____________.
2. A primeira repreensão
refere que os peixes __________ e, pior ainda, os ______. A segunda crítica
destaca que o peixe é facilmente enganado por um anzol e «um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três
pontas» porque «arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que,
assim suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer»: «quanto me
lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira» (ignorância — porque
não entendem o significado do pano; cegueira — porque se atiram cegamente e
ficam presos).
A crítica aos peixes é utilizada para melhor
explicitar a condenação das mesmas atitudes no
homem. De facto, os mesmos erros (a «antropofagia social» e a «vaidade no vestuário») são
encontrados no comportamento do homem. Utiliza mesmo a palavra «escândalo», ao
afirmar que os homens também se comem uns aos outros («Morreu algum deles, vereis logo tantos
sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros...») e
reafirma tratar-se de um escândalo, horror e crueldade maior, dado que «também os homens se comem vivos assim
como vós».
3. Podemos
citar as comparações sugeridas pela aparência do Polvo: «com
aquele seu capelo na cabeça parece um Monge» (serenidade, santidade, mansidão); «com os seus tentáculos,
parece uma estrela» (beleza) e «com
aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão».
Verifica-se que,
apesar desta
«aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa», o polvo é «__________»: veste-se ou pinta-se «das mesmas cores de
todas aquelas cores a que está pegado»; o peixe «vai passando
desacautelado» e o polvo «lança-lhe os braços de repente, e fá-lo
prisioneiro». Nem Judas foi tão traidor, dado que abraçou
Cristo,
«mas outros o prenderam»: Judas foi traidor, «mas com lanternas
diante»; Judas «traçou a traição às escuras, mas executou-a
muito às claras», enquanto o polvo, «escurecendo-se a si,
tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é a luz».
4. Escrito no século XVII,
o Sermão de Santo
António aos Peixes
mantém a atualidade em muitas das críticas aos homens e ao seu comportamento.
De facto, ainda hoje há «grandes» que se «alimentam» dos mais pequenos e ainda há seres humanos
vaidosos, prepotentes, parasitas, ambiciosos, hipócritas e traidores, ainda há
homens capazes de atitudes indignas para atingirem os seus objetivos. Para além
disso, ainda hoje encontramos gente soberba e arrogante, gente que vive à custa
do trabalho dos outros, ainda há quem seja demasiado presunçoso e ambicioso e
quem, pelas suas atitudes, demonstre
«ignorância e cegueira». Podemos,
pois, afirmar que as críticas _________.
[a dois Grupos I-B — sobre Frei
Luís de Sousa e sobre Cesário Verde — na folha dada na última aula, no
verso de «Conselhos»]
[Frei
Luís de Sousa]
1. [Completa só com nomes de personagens]
D. João, de espetro invisível na imaginação das
personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do
Romeiro que se identifica como «Ninguém».
O extrato
transcreve a cena XV, no final do Ato II, «no palácio que fora de D. João de Portugal, em
Almada; salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de
família». Anteriormente, tínhamos assistido à partida
para Lisboa de ____,
de _____ e de ____, à angústia de _____ e à decisão de _____ de ficar a
fazer-lhe companhia. O diálogo fora interrompido pela chegada do Romeiro. É o
momento do regresso de __________ após vinte e um anos de ausência, vinte dos
quais em cativeiro. O seu fantasma pairava sobre a felicidade daquele lar como
uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.
Após este reconhecimento do Romeiro por ____, o
Ato III desenrolar-se-á na capela, na parte inferior do palácio: a angústia
vivida, os sentimentos contraditórios, o sofrimento e as decisões tomadas.
2.1. A chegada do Romeiro
conduziu à ______ da família: a morte de Maria e a vida religiosa para D.
Madalena e para Manuel de Sousa Coutinho.
2.2. A fala do Romeiro
transmite a sensação de vazio que lhe vai na alma: julgado morto, já _______
família; a sua própria mulher não o reconheceu e, no palácio que era seu,
reconstruiu a sua felicidade... O Romeiro sente, por isso, que perdeu a sua
própria identidade no momento em que D. Madalena acreditou na sua morte.
3. As didascálias são
constituídas por um conjunto de indicações cénicas destinadas ao leitor, ao
encenador e ao ator que podem incluir a listagem inicial de personagens, a
indicação do nome da personagem antes de cada fala, anotações sobre a estrutura
externa da obra, indicações importantes sobre o guarda-roupa, referências aos
adereços que compõem o espaço cénico, informações sobre o tom de voz, os
gestos, as atitudes que a personagem/o ator deve tomar, o momento da entrada em
cena e o percurso a realizar.
Neste excerto, para além das indicações das
falas das personagens, surgem informações concretas sobre os _____ («apontando com o bordão»), sobre as ______ a tomar («Frei Jorge cai prostrado no chão, com os braços
estendidos diante da tribuna»). Indicam ainda a ________ a tomar em cena («está alçado no meio da casa, com aspeto severo e
tremendo»)
e marcam o ______ do ato («O pano desce lentamente»).
Para além disso, a associação de algumas
indicações cénicas («aspeto severo e tremendo»; «cai
prostrado no chão»)
à riqueza da pontuação (exclamação e interrogação) permite destacar a dimensão
do sofrimento das personagens.
[Cesário Verde]
1. Verdadeiro artista
plástico impressionista, fixa a população da cidade em processo, recorrendo a
sinestesias e acumulando pormenores das sensações captadas. Não lhe interessa a
visão estática da realidade, mas a sua visão particular. De facto, Cesário
Verde antecipa a modernidade quer ao ocupar com a poesia o espaço da prosa
narrativa, quer na construção de imagens intensas e sonoras das pessoas, da
cidade e do campo ou das emoções. Além disso, é capaz de recolher simples temas
______ e de encontrar neles uma face poética.
A visão plástica do «poeta-___» assume lugar de destaque, por exemplo, no poema «De tarde», através do registo do pormenor de «uma coisa simplesmente bela», digna de ser pintada,
ou do cenário do campo com o granzoal e os penhascos, onde acampam para o «piquenique de burguesas». Ainda o facto de se tratar de um fim de
tarde («inda o Sol se via»), associado aos frutos («melão», «damascos», «pão de ló») e às cores: o azul (do
granzoal), o rubro (da papoula), o amarelo (do pão de ló).
2. A modernidade da obra
de Cesário observa-se também na figura da cidade, humanizada, com feições
singulares, tradutoras da efemeridade da mutação do mundo. Ao _________ pela
cidade, revive, por evocação, o passado e os seus dramas, ou sofre uma opressão
que lhe provoca um desejo «absurdo de sofrer», como diz em «__________».
Na poesia de Cesário, a _____ aparece viva, com
homens vivos, mas nela há a doença, a dor, a miséria, o grotesco, a beleza e a
sua decomposição fatal. De facto, as imagens da cidade surgem, frequentemente,
com uma dimensão humana. Podemos mesmo falar numa metáfora de cidade-mulher que
atrai, fatalmente, pela sua beleza e sensualidade, mas que, frequentemente,
arrasta para a morte. Assim, em imagens justapostas, esta cidade-mulher
torna-se fria e perde a sensualidade devido ao capitalismo que subjuga o
operário; associa-se à ausência de amor, pois menospreza a naturalidade.
3. A mulher fatal surge na
poesia de Cesário Verde incorporando um valor erótico que simultaneamente ______.
O poeta vê esse corpo belo e luminoso ao mesmo tempo que o fantasia pelo poder
da sedução. Mas se, por um lado, desse corpo de mulher irradia uma luz que o
torna cada vez mais nítido e sensual, por outro lado, há um pressentimento de
fatalidade que lentamente o transforma em símbolo da morte. Em «Esplêndida»,
considera que «Ela, de olhos cerrados, a
cismar, / Atrai como a voragem!» e em «Vaidosa», diz «eu sei que tu, que como um ópio / Me matas, me desvairas
e adormeces».
Nestes poemas, a mulher fatal arrasta para a morte; em «Frígida», é a mulher o
símbolo direto da própria morte, que leva o poeta
«ao persegui-la, penso acompanhar de longe / O sossegado espetro angélico da
Morte!» Cesário
dá-nos conta, frequentemente, da voluptuosidade da mulher fascinante, mas acaba
por se sentir humilhado. Na vida social, encontra um paralelo entre as classes
________ que, como as burguesinhas ricas, o fascinam, e as classes _________,
que têm de se remeter à sua baixa condição.
[Mais
grupos I-B]
B
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo
António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam,
pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem
deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris:
«Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não
falte com a costumada graça. Ave Maria.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António
aos Peixes,
Cap. I, Biblioteca digital, Porto Editora
1. Este excerto inclui duas das quatro
partes da estrutura interna do Sermão de Santo António aos Peixes.
1.1. Identifique-as, justificando
convenientemente a sua resposta.
1.2. A Confirmação é a mais longa das partes,
na estrutura interna deste sermão.
1.2.1 Estabeleça os seus limites. Redija uma
frase para cada um dos capítulos da Confirmação, capaz de resumir o conteúdo
de cada um deles.
1.3. Refira-se de forma breve à última parte
do Sermão (capítulo VI), destacando a função que desempenha e os assuntos aí
tratados.
Grupo I-B
[Soluções possíveis — completa-as,
usando só termos da Retórica, os relativos às partes de um sermão; consulta o
quadro atrás, se for caso disso]
1.1.
As duas partes do Sermão presentes no
excerto apresentado são o __________ (exposição do plano a desenvolver e das
ideias a defender), que parte do conceito predicável «Vós sois o sal da terra», em que se destaca a referência às
obrigações do sal, a indicação das virtudes dos peixes e a crítica aos homens e
a ______ (pedido de auxílio divino).
1.2.1. A terceira parte do Sermão de Santo
António aos Peixes
é a Confirmação (subdividida em ________ e _______) com a exposição do tema,
das ideias e seu desenvolvimento, que engloba a argumentação e a crítica aos
comportamentos, a censura à prepotência dos grandes, a crítica à vaidade dos
homens e a censura aos ambiciosos, aos hipócritas e aos traidores.
O Padre António Vieira indicou, no início do
Cap. II, que dividia o desenvolvimento do seu sermão em duas partes. Assim,
temos dois diferentes momentos de exposição e dois diferentes momentos de
confirmação:
— no primeiro momento de exposição (Cap. II),
destaca os louvores dos peixes em geral, seguindo-se a respetiva _______, no
Cap. III, com os louvores em particular (peixe de Tobias, rémora, torpedo e
quatro-olhos);
— o segundo momento de ________ surge no Cap.
IV, ao falar da repreensão dos vícios em geral, seguindo-se a respetiva
confirmação, no Cap. V, com as repreensões em particular (roncadores,
pegadores, voadores e polvo).
1.3.
A quarta parte do Sermão é a ____, uma conclusão que utiliza um desfecho forte
para impressionar o auditório, uma última advertência aos peixes e a descrição
de si próprio como pecador. O sermão termina com um hino de louvor a Deus.
Grupo I-B
Tal
como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante em Frei Luís de Sousa. O destino acompanha
todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que
as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade
daquela família possa durar muito.
Recordando
o estudo da peça de
Almeida Garrett, responda de forma completa às questões que se seguem.
1. Na tragédia clássica, a
hybris (o desafio) era o ponto de partida para o
conflito (o desenvolvimento).
1.1. Identifique, na peça
Frei Luís de Sousa, o desafio de D. Madalena.
1.2. Indique ainda qual o desafio de Manuel
de Sousa e as consequências da sua atitude no final do Ato I.
2. Demonstre a importância do destino e da
superstição no desenrolar dos acontecimentos.
[Sugestões de
resolução]
1.1 A hybris é o desafio, o crime do
excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na ação, mas
sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ___________, embora
guardasse fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente,
embora não fosse explícito como entre os clássicos.
1.2. Manuel de Sousa
Coutinho também comete a sua hybris ao _____________. Esta atitude obrigou-o
a esconder-se durante alguns tempos e a evitar regressar ao palácio durante o
dia.
2.
[Completa só com nomes de personagens.]
O destino pode definir-se como força superior que tudo domina e a quem nem os
deuses podem fugir; apresenta-se como uma obrigação imperiosa, uma força que
arrasta «de forma cega para a desgraça». Madalena e Maria são
vítimas do destino que afeta também as restantes personagens.
Um presságio da desgraça percorre toda a obra: a
atmosfera de superstição, as apreensões e pressentimentos de _______ adquirem
sentido; também _______ pressente a hipótese de ser filha ilegítima e vem a ser
a vítima sacrificada; ___________ alimenta a crença no Sebastianismo; o
incêndio e a necessidade de viver no palácio que fora de __________ aumentam a
tensão dramática; o terror apodera-se de _________...
O destino acompanha todos os momentos da vida
das personagens e arrasta-as de forma cega para a desgraça; o sofrimento não
acontece apenas nas personagens, mas age sobre os espectadores, através dos
sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões (catarse); dentro
da lógica do teatro clássico, a intriga desenvolve-se, de forma a culminar num
desfecho dramático, cheio de intensidade: a morte física de _______ e a morte
para a vida secular de _________ e _________. É, pois, evidente que, tal como
na tragédia clássica, também em Frei Luís de Sousa o fatalismo é uma
presença constante, dado que o destino acompanha todos os momentos da vida das
personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a
desgraça.
Elementos
da tragédia clássica
(segundo Projetos, 11.º ano,
Santillana)
Hybris — desafio feito pelas personagens à ordem instituída.
Peripécia — de acordo com a Poética de Aristóteles (c. 334-330 a. C.), corresponde à «mutação dos sucessos
no contrário», isto é, ao momento em que se verifica uma alteração no rumo dos
acontecimentos.
Anagnórise — «reconhecimento»; segundo a Poética de Aristóteles, «é a passagem do ignorar ao conhecer», podendo
consistir na revelação de acontecimentos desconhecidos ou na identificação de
determinada personagem.
[Em FLS, a anagnórise sucede em simultâneo com a peripécia: é com a
chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua identidade (anagnórise) que se dá
uma inversão brusca nos acontecimentos (peripécia): o casamento é invalidado,
Madalena torna-se uma mulher adúltera e a filha, ilegítima.]
Clímax — momento culminante (de maior intensidade) da ação.
[Em FLS, o clímax corresponde à cena final do ato II, pois é neste
momento que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de Portugal dá a
conhecer a sua identidade de forma inequívoca, demonstrando, ao mesmo tempo,
deforma paradoxal, que o esquecimento a que foi votado anulou a sua
existência.]
Catástrofe — desenlace trágico.
[Em FLS, a família é totalmente
exterminada: Madalena e Manuel morrem para o mundo, ingressando na vida
religiosa, e Maria morre, efetivamente.]
Ágon — conflito vivido pelas personagens; pode designar o
conflito com outras personagens ou o conflito interior.
Pathos — sofrimento crescente das personagens.
Ananké — o destino; preside à existência das personagens e é
implacável.
Catarse — efeito purificador que a tragédia deve ter nos espectadores: ao
desencadear o terror e a piedade, permitir-lhes-ia purificar as suas emoções.
[Mais uns grupos I-B
— sugestões de solução logo a seguir aos itens]
Grupo I-B
1. Observe com atenção o
quadro do pintor impressionista Claude Monet, intitulado «Le Déjeuner».
1.1. Relacione o quadro
com uma das temáticas estruturantes da poesia de Cesário Verde.
A dimensão realista e pictórica da poética de
Cesário Verde é indiscutível, tanto mais que o próprio poeta afirma «Pinto
quadro por letras». A essa dimensão associa-se a introdução do quotidiano na
poesia. De facto, composições poéticas como «Num Bairro Moderno» e «De Tarde»
oferecem-nos uma visão cinematográfica de figuras individualizadas ou coletivas
que protagonizam realidades e vivências sociais burguesas, envoltas em sabores
e cores. Assim, é possível relacionar este quadro com motivos cesarianos, como
as referências a cenas domésticas, ora situadas em casas apalaçadas e em
jardins acolhedores, ora em ambientes campestres.
1.2. Associe a figura feminina retratada na
pintura com um dos tipos da imagética feminina característicos da poesia de
Cesário Verde.
Na poesia de Cesário Verde, são retratados
fundamentalmente dois tipos de imagética feminina: a mulher vítima de injustiça
e de humilhação social -— que desperta no sujeito poético sentimentos de
piedade e de revolta pela situação degradante em que vive — e a mulher fatal,
altiva — que o humilha e despreza, mas que também o atrai, pelo seu porte e
pela sua sensualidade. É este segundo tipo de imagética que poderá ser
associado à figura feminina representada no quadro de Monet.
Documentário sobre Cesário Verde: http://ensina.rtp.pt/artigo/o-livro-de-cesario-verde/
Grupo I-B
1. Em Frei
Luís de Sousa, o sebastianismo é uma constante, representando o domínio do
pressentimento sobre a razão.
1.1. Explique sucintamente como este mito
nacionalista condiciona o desenrolar da diegese dramática do texto garrettiano.
O sebastianismo, configurando uma visão
passadista do mundo, condiciona o desenrolar da ação até ao aparecimento do
Romeiro. D. Madalena vive atemorizada com o passado, reagindo de forma emotiva
a todas as referências e evocações desse tempo. Telmo e Maria, ao alimentarem esperanças
de que D. Sebastião regresse, deixam-se dominar por pressentimentos,
contrariando uma visão racional do mundo. A chegada do Romeiro determina,
finalmente, o rumo da ação, anulando o presente e inviabilizando o futuro, o
que prova que o mito sebastianista é o motor da diegese dramática.
2. Comente a seguinte afirmação: «Madalena
é sobretudo uma personagem romântica, pela sua sensibilidade e pela sua
submissão total à paixão avassaladora por Manuel de Sousa Coutinho».
Madalena é considerada uma personagem romântica,
pelo modo emotivo como perspetiva o ambiente que a rodeia e como vive as suas
inquietações pessoais. Ela é uma mulher infeliz e perseguida pelo remorso, que
sente uma paixão avassaladora por Manuel de Sousa Coutinho (que a faz esquecer
a sua condição de mãe) e que vive aterrorizada com a possibilidade de ter de
enfrentar o passado. O estado de desvario resultante da destruição do retrato
de Manuel e o encarar do retrato de D. João ilustram o pendor romântico da
personagem.
Grupo I-B
1. No Sermão
de Santo António aos Peixes, à imitação de Santo António, o Padre António
Vieira resolve pregar aos peixes para dar lições aos homens.
1.1. Identifique a principal figura de
retórica a que o orador recorre para o fazer, explicitando a sua eficácia
argumentativa
Para dar lições aos homens, Vieira recorre à
alegoria: — dirigindo-se aos peixes, dá lições aos homens, através do
reconhecimento das virtudes e dos vícios dos primeiros. Desta forma, o orador
concretiza as características humanas, simplificando a sua argumentação e sendo
mais facilmente compreendido pela audiência.
1.2. Explicite o defeito dos peixes que mais
escandaliza Vieira, mostrando, em simultâneo, as advertências que o orador quer
fazer aos homens.
O defeito que mais escandaliza o orador
prende-se com o facto de os peixes se comerem uns aos outros, sublinhando que
esse escândalo é tanto maior quanto são os peixes grandes a comerem os
pequenos. Utilizando um discurso metafórico, Vieira denuncia casos de «antropofagia»
social: a traição, o roubo, a exploração, todas as ações criminosas perpetradas
pelos colonos do Brasil contra os nativos. Em suma, através das advertências
aos peixes, o orador dirige-se aos homens e reforça a ideia de que estes não se
devem aproveitar dos mais fracos, das suas desgraças e misérias para construir
a sua própria riqueza.
1.3. Partindo da afirmação transcrita,
identifique os recursos de que o sermão se serve para cumprir um dos objetivos
da oratória — delectare.
«[No século XVII] o púlpito
era um palco e o pregador um ator a tentar exibir do melhor modo possível a sua
palavra, [...] a pregação era um espetáculo tanto quanto possível espetacular.»
Margarida
Vieira Mendes, Sermões de Padre António
Vieira, Col. Textos Literários, 3.ª ed., Lisboa, Comunicação, 1987
O sermão, no século XVII, não é apenas uma
prática religiosa própria da oratória, é também um espetáculo que deslumbra
pelos efeitos cénicos e retóricos que lhe são característicos. Nesse sentido, a
linguagem elaborada, servindo-se de inúmeras figuras de retórica, o espaço
envolvente, caracterizado pela ornamentação excessiva, e o tom de voz, a mímica
e os gestos do pregador no púlpito cumprem o propósito inerente ao delectare.
Deixis (a partir de uma página de Felizmente há luar!; p. 126 da edição
Areal):
Neste trecho de
Felizmente há luar! não faltam
expressões com valor deítico.
A seguir, ponho
algumas dessas expressões. Classifica o deítico quanto ao seu escopo (espacial, pessoal, temporal).
Junto ainda um
só caso de deítico textual, que
identificarás também, assinalando o antecedente dessa expressão anafórica no texto da peça de Sttau Monteiro.
«Estou»
= deítico temporal e _______;
«aqui»
= deítico ______;
«vos»
= deítico ________;
«Venho
de» = deítico ________, ________, _______;
«Esta
afirmação» = deítico ________;
«essa
[mulher]» = deítico ________, _______.
Mecanismos de coesão textual (a partir da p. 110 de Felizmente há luar!)
Neste trecho de
Felizmente há luar! estão abonados mecanismos
de coesão textual de vária ordem (coesão temporoaspetual, lexical,
interfrásica, referencial). Tenta classificá-los em função da área de coesão que
neles se atualiza:
A
ocorrência de termos equivalentes ou antónimos, como «esmola», «medalha»,
«moedas», e «pague», «receba», «vende», constitui um mecanismo de coesão _____. O mesmo se pode dizer da
própria repetição da palavra «moeda».
Na
fala de Manuel, o referente «moeda», surge substituído várias vezes por termos
anafóricos: «[lh]a» (duas vezes), «a [use]»; depois, o antecedente «trinta
moedas» é substituído pelos pronomes, também anafóricos, «as» («as pague ou as
receba»). Trata-se de mecanismo de coesão
________. Como o é também a elipse de «Rita» no segundo período da didascália
maior.
Numa
das didascálias, o valor imperfetivo de «iluminava», matizado pela
progressividade de «apaga-se gradualmente» — conferida pelo advérbio, mas
contraditória do sentido de ‘apagar’ —, vinca o valor também imperfetivo do
presente de «permanecer», verbo já marcado por sentido durativo. A sequência de
verbos no presente («entrega», beija», «corre», «surge») é estabelece a ideia
de ação, avanço no tempo. Este jogo entre tempos, advérbio, etc., constitui um
exemplo de coesão _______.
De
novo na fala de Manuel, o conector final «para que» ou a ligação aditiva «e»,
que vemos na primeira frase da página, ou até a sequencialização conseguida
pela justaposição de períodos podem ilustrar a chamada coesão ________.
Segunda aula de cábulas (16/jun) Explicações ainda sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes» e sobre Frei Luís de Sousa (ver Apresentação).
Exemplo de Grupo I-A, com «Padrão» (como explicado no Caderno de Apoio ao Exame. Expressões,
12.º ano):
Padrão
O esforço é grande e o homem é
pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
5 A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte
feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
10 Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou
romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há
na alma
E faz a febre em mim de navegar
15 Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu. Lisboa: Assírio & Alvim (2.ª ed.)
1. Integra o poema na estrutura de Mensagem, fundamentando a tua resposta
com passagens textuais.
O poema faz parte da segunda parte de Mensagem,
"Mar Português", uma vez que é dedicado a um dos heróis míticos da
epopeia marítima portuguesa. Nesta parte da obra, de que o presente poema é exemplo.
são glorificadas as figuras cujo exemplo de coragem e audácia durante a época
dos Descobrimentos ficou para a posteridade. Diogo Cão, navegador focado no
poema, legou, enquanto modelo heroico a seguir, um a imagem da ousadia
("da obra ousada, é minha a parte feita.", v. 7) e a sua "febre"
("E faz a febre em mim de navegar", v. 14) de ultrapassar os
limites deverá, à semelhança de outros mitos, justificar as suas ações e
inspirar outros homens a sonhar e a desenvolver na sua "alma'' ("a
Cruz ao alto diz que o que me há na alma", v. 13) uma loucura saudável.
2. Descreve o retrato que o sujeito poético
faz de si mesmo, relacionando-o com a conceçao de História apresentada no
poema.
O sujeito poético apresenta-se como alguém
determinado e esforçado, corajoso e ansioso por navegar (v. 14), cumprindo a
missão de que Deus o incumbiu ao deixar a sua marca através do padrão (vv.
6-7). Concebe-se como alguém sagrado ou escolhido por Deus para a concretização
de grandes feitos, numa predestinação evidente nos versos 7 e 8. A conceção messiânica
da História torna-se evidente no retrato que o sujeito poético faz de si mesmo,
pois o grande feito que alcançou, a conquista de novas terras, marcadas como
portuguesas através do padrão, só terá sido possível a partir da conjugação de
esforços de dois agentes. Num primeiro plano, foi necessário que Deus
predestinasse o navegador, colocando-lhe na "alma" a marca
"divina", isto é, o desejo de ir mais além, o sonho ou a "febre
[...] de navegar" (v. 14). Por outro lado, o segundo agente, o homem, mesmo
que "pequeno", colocou todo o seu "esforço"
"grande" (v. 1) na concretização de uma "obra" (v. 5) e o
próprio sujeito poético reconhece que, na sua ação ou "obra ousada"
(v. 7), ele foi apenas um dos intervenientes — "é minha a parte
feita" (v. 7) — e Deus terá tido um papel determinante — "O por-fazer
é só com Deus" (v. 8).
3. Comenta o sentido dos versos 11 e 12.
Contrapondo o "mar com fim",
"grego ou romano", ao "mar sem fim", "português",
o poema enaltece as viagens marítimas dos Portugueses, afirmando a sua
superioridade relativamente às dos povos da Antiguidade Clássica: estes
dominaram apenas o conhecido, o "mar com fim"; os Portugueses, pelo
contrário, apropriaram-se do desconhecido, do "mar sem fim" que
desvendaram, acentuando-se, assim, a sua dimensão épico-heroica.
Por outro lado, se entendermos que "o mar
sem fim" poderá corresponder metaforicamente a uma grande concretização
espiritual portuguesa, depois das conquistas dos gregos e romanos, a leitura
dessa referência enquanto alusão ao Quinto Império desejado e cuja
implementação está reservada aos Portugueses faz também sentido. O império espiritual
a cumprir por Portugal será ilimitado, "sem fim", contrariamente aos
impérios finitos e materiais das civilizações clássicas.
4. Identifica, no poema, uma característica
do discurso épico e uma característica do. discurso lírico de Mensagem, citando um exemplo
significativo para cada um dos casos.
Constituem marcas do discurso épico a
apresentação de um acontecimento histórico cometido por um protagonista de alta
estirpe (social e moral), que concretiza uma ação heroica e admirável, com a
ajuda de um ser sobrenatural — Deus (vv. 5, 8 e 15). O lirismo está patente na
utilização da primeira pessoa verbal ("Eu, Diogo Cão, navegador
[...]", v. 2), que confere ao discurso uma subjetividade própria dos
enunciados intimistas. Por outro lado, há a interiorização da matéria histórica
e épica num sujeito lírico que se caracteriza e descreve a realidade a partir
da sua perceção e fazendo interferir a sua afetividade (vv. 7-8 e 13). A forma
poética, com uma apresentação fragmentária, é habitualmente associada ao
discurso lírico.
Esboço
de léxico porventura útil para respostas a grupos I
o «eu» poético / o «eu» lírico / o sujeito
poético / o sujeito lírico / o poeta / [o narrador] / ...
trecho / texto / excerto / passagem / passo /
período / parágrafo / segmento / frase / expressão / estrofe / terceto / quadra
/ quintilha / dístico / sextilha / verso / ...
trata de / aborda / conota / denota / remete
para / implica / evoca / alude a / refere / traduz / significa / assinala /
menciona / exprime / traça / esboça / desenha / perfila / desenha / marca /
vinca / acentua / sublinha / sugere / insinua / salienta / valoriza /
desvaloriza / prefere / pretere / favorece / desfavorece / privilegia
/prejudica / enumera / elenca / estabelece / distingue / ...
infere-se / conjectura-se / adivinha-se /
percebe-se / nota-se / é percetível / é notório / evidencia-se / é evidente / apercebemo-nos
de que /...
oposição / paralelismo / contraste / simetria /
tema agregador / assunto / leitmotiv / binómio / motivo / símbolo / direção /
vetor / linha de sentido / tópico / alusão / ...
Entretanto, / Acrescente-se que / Note-se ainda
que / Diga-se também / É de notar / Por outro lado, / Na verdade, / Com efeito,
/ ...
O que
é avaliado?
GRUPO I
As
respostas às questões do Grupo l, A (60 pontos) e B (40), são avaliadas pelo
conteúdo e pela organização e correção linguística.
No que diz
respeito à organização e correção linguística,
é descontado 1 ponto por:
— erro inequívoco de pontuação;
— erro de ortografia (incluindo erro de
acentuação, uso indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula inicial e
erro de translineação);
— erro de morfologia;
— incumprimento das regras de citação de texto ou de
referência a título de uma obra.
são descontados 2 pontos por:
— erro de sintaxe;
— impropriedade
lexical (palavra utilizada inapropriadamente no contexto).
GRUPO II
As
perguntas do Grupo II (50 = 7x5 + 3x5) avaliam a competência de leitura de um texto não literário e a competência de
reflexão sobre o funcionamento da língua.
GRUPO III
O
Grupo III (50) — a que corresponde a elaboração de um texto expositivo-argumentativo/de
reflexão — pretende avaliar a competência de expressão escrita, focando um tema
da atualidade.
Aqui avalia-se
a:
— estruturação de um
texto com recurso a estratégias discursivas adequadas à defesa de um ponto de vista e refletindo a operação de uma planificação produtiva;
— elaboração de um texto
coerente e coeso;
— produção de um discurso correto nos planos lexical,
morfológico, sintático, ortográfico e de pontuação.
Significado dos verbos mais usados em enunciados (tirado
de Entre Margens, 12.º ano) (ver Apresentação)
[Sobre o Grupo III, em Entre Margens, 12.º ano:]
Neste grupo
deves redigir um texto expositivo-argumentativo, focando, por norma, um tema
atual, respeitando rigorosamente todas as instruções fornecidas:
[A.] que tenha entre duzentas e trezentas palavras.
Atenção aos desvios: escrever mais de trezentas
palavras ou menos de duzentas implica uma desvalorização que pode ir até aos
cinco pontos. Se não escreveres pelo menos oitenta palavras a tua resposta é
classificada de imediato com zero pontos, independentemente do conteúdo do
texto que tenhas escrito.
[B.] que respeite o tema da citação
apresentada (mesmo que não tenhas percebido bem a citação, normalmente o
respetivo tema é destacado no enunciado da pergunta — «apresente uma reflexão
sobre a importância da literatura para o ser humano»).
[C.] que apresente, no mínimo, dois
argumentos e que cada um deles seja ilustrado com, pelo menos, um exemplo significativo.
[Do Caderno de Apoio ao Exame de Expressões, 12.º ano:]
O grupo III pretende avaliar a capacidade de
escrita.
Recorda as fases que deve seguir a elaboração de
um texto — planificação, textualização e revisão — e respeita-as, aplicando-te
na redação também ao nível da correção linguística.
Utiliza uma caligrafia legível e não te esqueças
de estruturar devidamente a tua composição, marcando com parágrafos as mudanças
de assunto e utilizando conectores adequados nas ligações frásicas e interfrásicas.
Como o tema do texto que deves produzir pode
partir de uma citação, deves remeter para os elementos nela presentes que
suscitam a tua reflexão ou comprovam as tuas afirmações.
É igualmente muito importante recorrer ao número
de argumentos e de exemplos solicitados no enunciado da pergunta e respeitar os
limites de extensão indicados.)
[Os grupos I-A que se seguem são de manuais-sebentas
vários; devia conseguir identificá-los, mas não fui suficientemente arrumado e
falham-me agora as referências:]
Grupo I-A
Lê atentamente o
seguinte poema de Fernando Pessoa.
Em
tempos quis o mundo inteiro.
Era
criança e havia amar.
Hoje
sou lúcido e estrangeiro.
(Acabarei
por não pensar.)
A
quem o mundo não bastava,
(Porque
depois não bastaria)
E
a alma era um céu, e havia lava
Dos
vulcões do que eu não sabia,
Basta
hoje o dia não ser feio,
Haver
brisa que em sombras flui,
Nem
se perder de todo o enleio
De
ter sido quem nunca fui.
Fernando Pessoa
1. O sujeito poético estabelece uma
distinção entre dois tempos da sua vida. Identifica-os, mencionando a sua
localização no poema. Refere os elementos linguísticos que os evidenciam.
[lacunas a preencher correspondem a citações
do texto]
Existe, no poema, uma distinção entre o passado
ou o tempo em que o sujeito poético «________» e o presente ou o «________»
do adulto. Na primeira estrofe, os dois primeiros versos referem-se à infância
e os dois últimos versos ao presente. Na segunda estrofe, o sujeito poético
refere-se ao passado e, na terceira estrofe, ao presente.
Os elementos linguísticos que evidenciam a
distinção entre o passado e o presente são as formas verbais, o advérbio de
tempo e as expressões temporais. Assim, a referência ao passado está marcada
através das formas verbais do Pretérito Perfeito do Indicativo e do Pretérito
Imperfeito do Indicativo, além da expressão temporal «________». A referência
ao presente é feita através da conjugação de verbos no Presente do Indicativo e
do advérbio «_________».
2. Explicita o estado de espírito do sujeito poético no
momento presente.
[lacunas a preencher correspondem a termos de
teoria literária ou linguística]
O sujeito poético descreve-se como «lúcido» e
«estrangeiro», na primeira estrofe. Estes dois ________ são cruciais na
caracterização do seu estado de espírito: a lucidez ou capacidade de a
inteligência analisar o real associa-se ao sofrimento que o pensar ou a
consciência traz ao _______; o «ser estrangeiro» traduz a incapacidade de o
sujeito poético se relacionar com os outros, mantendo distanciamento, quer em
relação aos outros, quer em relação ao real. Estas duas dimensões são
fundamentais na poesia de Pessoa ortónimo; são no presente o inverso do que «em
criança» havia, o «amar». Além disso, na última ________, constatamos que, para
o sujeito poético, a evocação de uma infância mítica (um passado onde havia
«amar») constitui uma «brisa», que ele descreve como «sombras», termo que
atribui um sentido negativo ao «hoje». Finalmente, a evocação desse passado
risonho é considerada um «enleio» associado a algo positivo — a infância —
reinventado pela imaginação, representado pelo pensamento e pela linguagem como
um tempo em que era possível sentir.
3. Identifica a figura de retórica presente
em «E a alma era um céu», explicando a sua importância para a construção do
sentido do poema.
[lacuna a preencher corresponde ao termo que
identifica o recurso estilístico]
A expressão transcrita associa, através da ________,
a «alma» a «céu», elemento que constitui o símbolo da felicidade. Através desta
associação descreve-se a infância do sujeito poético como momento de extrema
felicidade.
4. Explica o sentido dos dois últimos versos do poema.
[lacunas a preencher correspondem a termos da
ensaística acerca de Pessoa]
«Em tempos quis o mundo inteiro» desenvolve o
complexo de dimensões que caracteriza a poesia de Pessoa ortónimo: a evocação
de uma ______, em que o poeta se imagina feliz, constitui o reverso de um
presente pleno de _______ e de angústia, criados pelo constante ato de ________
que impede o sujeito poético de estabelecer qualquer relação, quer com os outros,
quer com o real, que incessantemente ele desconstrói.
Grupo I-A
Leia atentamente
o seguinte texto:
Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!
5 Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me
surge...
O terceiro-andar das tias, o sossego
de outrora,
Sossego de várias espécies,
A infância sem o futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da
máquina de costura delas,
10 E tudo bom e a horas,
De um bem e de um a-horas próprio,
hoje morto.
Meu Deus, que fiz eu da vida?
Que noite serena, etc.
Quem é que cantava isso?
15 Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
E dói, dói, dói...
Por amor de Deus, parem com isso
dentro da minha cabeça.
Álvaro
de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993
1. Identifique os elementos caracterizadores do passado
evocado pelo sujeito poético.
O tempo evocado é o da
infância feliz, vivida em Lisboa, que o sujeito poético caracteriza como um
tempo de encantamento que a memória convoca quando ouve a cantiga; é também um
período de "Sossego de várias espécies" (v. 7), físicas e mentais,
vivido com despreocupação, porque se trata de uma "infância sem o futuro
pensado" (v. 8). É um tempo de harmonia, de tranquilidade, de vivências
familiares e domésticas, representado pelo "terceiro andar das tias"
(v. 6), pelo "ruído aparentemente contínuo da máquina de costura" (v.
9) e em que "É tudo bom e a horas" (v. 10).
2. Os quatro primeiros versos são a citação de uma cantiga,
parcialmente retomada no verso 13. Explique a função de cada uma das citações.
A primeira citação remete para a memória
encantada da infância, o tempo em que o sujeito poético ouvia a cantiga agora
evocada; a segunda, para quando a consciência do presente se interpõe entre o
"eu" e a recordação da infância. A permanência do seu eco na memória
do sujeito poético faz com que essa cantiga se revele como um resto do passado
morto, que se torna incómodo e que, como tal, o sujeito tenta silenciar.
3. Refira os sentimentos do sujeito poético relativamente ao
presente.
A consciência do presente, que surge do confronto
com o passado evocado, desencadeia um sentimento de perda irremediável que
domina o sujeito poético. A saudade de um tempo perdido é agudizada e o verso
final traduz o desespero do "eu" perante a impossibilidade de
esquecer a cantiga e de recuperar a infância perdida.
4. Comente o efeito expressivo da repetição «E dói, dói,
dói,...» (v. 17).
[lacunas a preencher correspondem a termos de
teoria literária ou linguística]
A repetição da forma _______
"dói" acentua o efeito da dor experimentada pelo "eu", para
a qual contribui também o valor semântico do ______ utilizado. O facto de essa
repetição constituir um ____ curto e tripartido, com recurso a um _______ de
sons abertos, confere a essa dor uma dimensão insuportável, uma presença
constante, da qual o sujeito poético não se consegue libertar.
Grupo I-A
Lê atentamente o
seguinte poema de Alberto Caeiro.
VII
Da
minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por
isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque
eu sou do tamanho do que vejo
E
não do tamanho da minha altura...
Nas
cidades a vida é mais pequena
Que
aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na
cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem
o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos
pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E
tornam-nos pobres porque a
nossa única riqueza é ver.
Fernando
Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática,
1946.
1. A aldeia é descrita pelo sujeito poético
como «tão grande como outra terra qualquer.» Refere o argumento utilizado pelo
sujeito poético para sustentar esta afirmação.
[lacunas a preencher em todos os itens correspondem
a formas de verbo importante em Caeiro]
O sujeito poético vê a sua aldeia «tão grande
como uma outra terra qualquer» porque desse local se tem um horizonte de visão
amplo (abrangente) e, para ele, aquilo que se é capaz de _______ é que determina
a dimensão dos lugares e dos seres.
2. Menciona os elementos que distinguem a
aldeia da cidade.
À aldeia o sujeito poético associa a largura de
todo o céu, o grau máximo de visibilidade do Universo; por isso, estão
associadas à aldeia a capacidade de _____ e, consequentemente, a riqueza de
quem vê. Pelo contrário, a cidade é um lugar pequeno e fechado, porque
restringe o campo de visão; as suas construções limitam o olhar e, por conseguinte,
impedem-nos de _______ a Natureza e o Universo.
3. Explicita em que reside, do ponto de
vista do sujeito poético, o tamanho de cada pessoa.
Para o sujeito poético, o tamanho de cada pessoa
mede-se a partir daquilo que ele é capaz de ______: se tem uma visão larga e
abrangente do Universo, é rico e é grande; se tem uma visão limitada e restrita,
é pobre e é pequeno. O tamanho, o valor de alguém depende daquilo que os seus
olhos são capazes de ________.
4. Indica a figura de retórica presente na
frase «Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), explicitando
o seu sentido.
Em «Na cidade as grandes casas fecham a vista à
chave» (v. 7), está presente uma metáfora, através da qual se expressa a
limitação ou a restrição que as casas da cidade impõem às pessoas que nelas
vivem relativamente ao que _______. As fechaduras das portas vedam a entrada
das pessoas nos locais, impedem o acesso. Do mesmo modo, as casas numa cidade
impedem a vista de olhar para um espaço aberto. Esta metáfora contribui para a
caracterização negativa da cidade em contraste com a aldeia.
***
Para
revisão de Pessoa e heterónimos, podem ser úteis quer os esquemas no Caderno de Apoio ao Exame, quer as
apresentações do manual (que, no fundo, os repetem), quer alguns enquadrados no
manual propriamente dito.
O
mesmo se diga dos outros «conteúdos» literários.
É
claro que mais importante ainda é o próprio conhecimento dos textos (que estará
já conseguido).
Para
treino de itens de grupo II, pode servir o Caderno
de Atividades, onde há uma secção com «Fichas de trabalho com a tipologia
do grupo II do Exame Nacional» — incluindo soluções no final do caderno.
***
Os
trechos que se seguem são de «O polícia que prova tudo» (série Barbosa).
Completa a tabela, preenchendo a coluna à direita com o tipo de ato
ilocutório (assertivo, diretivo, compromissivo, diretivo,
expressivo, declarativo):
«O
polícia que prova tudo» (Barbosa)
|
ato
ilocutório
|
Senta-te no chão.
|
diretivo
|
Pernas cruzadas! Cotovelos em cima dos
joelhos!
|
|
Sempre quero ver o que está aqui.
|
|
Isto é droga.
|
|
Sabes o que é isto?
|
|
Consideramos-te suspeito (arguido / culpado).
|
|
Trata-se
de períodos de «Curso de literatura para porteiras» (Lopes da Silva). Divide as
frases complexas em orações e classifica-as. (Regista a classificação das orações
sem abreviaturas, como se faria nas três perguntas finais de um grupo II.)
Se não me engano, / esta é a nossa terceira aula
do novo curso de literatura para porteiras.
...
Em certa medida, este romance é como uma
reflexão sobre as relações da beleza com a corrupção.
[frase simples]
Eu não tenho pena nenhuma
dela, / porque a Madame Bovary, / se quer ser respeitada, / / tem de se dar ao
respeito.
...
O Sr. Carlos é um bocado chocho, / mas é bom
homem.
...
Da Damaia sou eu, / e não sou tão badalhoca.
...
Ó Dona Fernanda, como sabe / que, para a semana,
vamos dar Os Maias?
...
E agora saiu uma, / que é a Colóquio-Letras Mais Atrevida, / que
traz todas as posições / que ela fez com o irmão.
...
Completa o resumo do sketch «O anão Roberto» (série Meireles), usando estas expressões
(que podem ter de ficar no plural):
derivação imprópria / adjetivo / nome próprio / antropónimo / conversão
/ pronome pessoal
Um
dos indivíduos relata um acidente, designando as personagens por alcunhas
(«Anão», «Coxo», «Vesgo», «Fanhoso», «Atrasado mental», «Mariconço»). Estas
alcunhas eram todas _______________ que agora estão a ser usados como ______________,
em vez de «Roberto», «Nélson», «Zé »,
«Marco», «Fernando» (que são verdadeiros _____________________) e do
__________________________ «ele».
Este processo de
«formação» de palavras — em que palavras de uma classe são convertidas a outra
classe — designa-se ____________________________, embora talvez fosse mais
correto chamar-lhe _________________________. Uma palavra obtida por derivação
imprópria/conversão não será, na aparência, diferente da que lhe deu origem,
tem é um novo papel sintático.
Jorge Jesus trata
o seu jogador hispanófono Melgarejo por «Melga», o que consiste
a) numa truncação
(que simplifica e mostra afeto).
b) numa extensão semântica (justificável por ser jogador combativo, sempre
a tentar roubar a bola aos adversários).
c) numa aférese
(que serve de hipocorístico).
d) num empréstimo
(especificamente, um castelhanismo).
O casal, agora
desavindo, Luciana Abreu-Yannick Djaló escolheu como nome da primeira filha
«Lyonce Viiktórya». «Lyonce» reúne as iniciais dos nomes de cantora-atriz e
futebolista e o fim do nome da mais famosa Beyonce. Trata-se, no essencial, de
a) uma truncação.
b) uma amálgama.
c) um empréstimo.
d) uma
onomatopeia.
O advérbio
«mutuamente» é
a) uma palavra
derivada por parassíntese.
b) uma forma de
base.
c) uma palavra
derivada por sufixação.
d) um composto
morfológico.
Na palavra
«abandalhar» encontramos os afixos «a» e «ar» (a forma de base é «bandalho»;
não está dicionarizado «bandalhar»). Trata-se de uma palavra
a) derivada por
prefixação.
b) derivada por
sufixação.
c) derivada por
prefixação e sufixação.
d) derivada por
parassíntese.
A alínea que
inclui apenas compostos morfossintáticos é
a) «geógrafo»,
«guarda-redes», «girassol».
b) «amá-los», «saca-rolhas»,
«guarda-chuva».
c) «anjo da
guarda», «picapau», «couve-flor».
d) «egiptólogo»,
«lusodescendente», «autódromo».
O nome «sobra»
vem do verbo «sobrar». O processo de formação ocorrido é o da
a) derivação por
afixação.
b) derivação
imprópria.
c) derivação não
afixal (antigamente: regressiva).
d) derivação por
parassíntese.
Temas
em torno de Felizmente há luar! em que valeria a
pena pensar. Já acrescentei três esboços de comentário. Outras respostas já
estarão no que fomos fazendo em aula. Mas, no caso de Felizmente há luar!, vale a pena reler manual e pensar nestas e
noutras perguntas, reler enquadrados, etc.
(No caso de Memorial, Pessoa, Camões, o mesmo trabalho pode ser feito mas é
mais em revisão.)
1. Como
devemos ver Matilde? Como mulher comum? Como heroína?
2. Entre
os elementos simbólicos presentes em Felizmente
há luar podem citar-se os tambores, a moeda de cinco reis, a saia verde, o
luar.
Os tambores, que amedrontam os populares mal os ouvem à distância e
que tocam em fanfarra em momentos decisivos (como o anúncio da prisão e o fim
da execução de Gomes Freire), representam a repressão, simbolizam a opressão
aterrorizadora.
A moeda de cinco reis começa por significar a esmola, o auxílio
humilhante que os poderosos dão aos que nada têm (por isso, quando Manuel a
manda atirar a Matilde logo se arrepende; por outro lado, Matilde, ao
pedir-lha, está a associar-se aos
populares). Quando Matilde atira uma moeda aos pés do Principal Sousa, esta
passa a ser símbolo da traição da Igreja, eco das moedas que Judas recebeu pela
entrega de Cristo.
A saia verde, oferecida a Matilde pelo seu amado para quando
voltassem a Portugal, nunca tinha sido usada, talvez porque o país nunca lhes
tivesse dado motivos de esperança. Matilde planeava usá-la quando Gomes Freire
voltasse para casa (o que revela que não se resignara, que ainda acreditava),
mas acabou por ser a que vestiu no momento da execução do marido, simbolizando
então a esperança no futuro.
A fogueira destruiu com Gomes Freire a conspiração, a mudança. Porém,
foi uma destruição necessária para a purificação, para que todo o horror fosse
exposto e reforçasse o desejo de lutar por um Portugal melhor. O clarão é a luz da liberdade que se
anuncia. O clarão que se extingue com a morte de Gomes Freire irá iluminar
muitas consciências. A sua morte não terá sido em vão.
Para D. Miguel, a luz do luar simboliza a opressão necessária
para manter o país submisso. Para Matilde, o início do fim do obscurantismo em
que o país stá mergulhado: é a luz que permite ver um exemplo, o caminho a
seguir.
3. Matilde
é uma personagem mais redonda, menos plana, do que as outras. Essa maior
complexidade psicológica faz dela a figura mais elaborada da peça.
4. A
concentração do tempo da acção é uma das características de Felizmente há luar!. Entretanto, a única
data explicitada na peça está numa fala de Matilde: «Esta praga lhe rogo eu,
Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de Outubro de 1817».
Aparentemente, no mesmo dia em que
os populares conversam sobre Gomes Freire, Vicente é incumbido por D. Miguel de
o vigiar. Também nesse mesmo dia, os Governadores recebem os delatores e
Vicente traz a informação de que «Ontem à noite entraram mais de dez pessoas em
casa de...». Não sabemos, contudo, o tempo que decorre entre a situação incial
e este «ontem». E é impossível determinar o tempo que decorre até declararem
Gomes Freire como chefe da conjura.
Note-se ainda que, no segundo acto,
o tempo parece mais lento, devido sobretudo ao longo discurso acusatório que
Matilde dirige ao Primcipal Sousa. Por outro lado, é-nos transmitida a ideia de
que, entre a prisão dos conjurados e a sua execução, decorreram apenas quatro
dias.
Esta concentração do tempo evidencia que o poder não
esperava senão um pretexto para eliminar
um adversário. Para prender Gomes Freire não houve necessidade de recolher
provas da sua participação na conjura.
5. Na
linha do teatro de Bertold Brecht, Felizmente
há luar! analisa criticamente a sociedade, mostrando-a com o objectivo de
levar o espectador a tomar uma posição.
6. Há
paralelismos entre os dois actos, mas também há contrastes.
7. O
espaço físico da peça é, no fundamental, Lisboa…
A referência de que a acção se
desenrola em Lisboa é-nos dada várias vezes ao longo da peça. Por exemplo, é
num café do Cais do Sodré que se «reúnem todos os dias os defensores do sistema
das cortes», informa Vicente no seu primeiro encontro com D. Miguel. É também
durante este encontro que é referido, pela primeira vez, que o General mora
para «os lados do Rato», é aí que é preso e, nesse dia, no Largo do Rato «são
mais os soldados do que as pedras», segundo o comentário de um popular. Gomes
Freire é levado para o forte de S. Julião da Barra, onde é executado. A
execução dos outros conjurados, segundo Sousa Falcão, dá-se no Campo de
Sant’Ana (actual Campo dos Mártires da Pátria).
Os espaços exteriores são as ruas de
Lisboa e, no final da peça, o alto de uma serra donde se avista o forte de S.
Julião. Os espaços interiores são a casa de Matilde, o palácio da Regência e
uma igreja onde Matilde se confronta com o principal Sousa.
Na encenação da peça, para se
transmitir a ideia de mudança de espaço seriam fundamentais os jogos de luzes,
os focos a isolar determinadas personagens.
8. Os dois actos iniciam-se com a personagem Manuel, um
dos poucos populares que tem o seu nome explicitado. Parece, portanto, que
Sttau Monteiro quis valorizar a personagem.
9. Segundo
Luciana Stegano Picchio, Sttau Monteiro «constrói em torno da figura do general
Gomes Freire uma trágica apoteose da
história do movimento liberal oitocentista».
10. A realidade do período da Regência, que é o contexto
histórico de Felizmente Há Luar!, é
transponível para a fase política que se atravessava quando Sttau Monteiro
escreveu a peça.
11. A
obra tem como figura central o general Gomes Freire de Andrade, que, «embora
nunca apareça», como diz Sttau Monteiro, está sempre «presente».
12. De um lado, temos Manuel, Rita e um Antigo Soldado.
Oposto a este, podemos considerar um núcleo que inclui Vicente, Andrade Corvo,
Morais Sarmento, os dois polícias.
13. No
núcleo de personagens constituído pelos governantes (Beresford, o Principal
Sousa, D. Miguel), podemos considerar que cada um representa uma certo grupo
social.
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