Sunday, September 15, 2013

Aulas de cábulas


Primeira aula de cábulas (8 ou 9/jun) Soluções de grupos I-B que estavam em enunciados que distribuíra mas cujas respostas não lhes entregara:
[a Grupo I-B sobre Sermão, em folha dada na penúltima aula, que incluía outros três grupos itens de que vimos depois as respostas]
1. No capítulo III, tinham sido referidos alguns louvores dos peixes em geral: «ouvem e não falam», sendo, pois, bons ouvintes; são obedientes e discretos, evitando o convívio com os homens; além disso, não se deixam domesticar, não perdendo a liberdade, como sucede aos outros animais («E entretanto vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias, vivereis só convosco, sim, mas como peixe na água»).
Para além disso, os peixes foram as primeiras criaturas criadas por Deus, foram as primeiras criaturas nomeadas pelo homem, são os mais numerosos e os maiores e sempre manifestaram obediência, quietação, atenção, respeito e devoção ao ouvirem a pregação de Santo António.
A utilização destes elogios tem por objetivo __________, pela demonstração de atitudes opostas a estas, uma vez que os homens ____________.
2. A primeira repreensão refere que os peixes __________ e, pior ainda, os ______. A segunda crítica destaca que o peixe é facilmente enganado por um anzol e «um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas» porque «arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que, assim suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer»: «quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira» (ignorância — porque não entendem o significado do pano; cegueira — porque se atiram cegamente e ficam presos).
A crítica aos peixes é utilizada para melhor explicitar a condenação das mesmas atitudes no homem. De facto, os mesmos erros (a «antropofagia social» e a «vaidade no vestuário») são encontrados no comportamento do homem. Utiliza mesmo a palavra «escândalo», ao afirmar que os homens também se comem uns aos outros («Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros...») e reafirma tratar-se de um escândalo, horror e crueldade maior, dado que «também os homens se comem vivos assim como vós».
3. Podemos citar as comparações sugeridas pela aparência do Polvo: «com aquele seu capelo na cabeça parece um Monge» (serenidade, santidade, mansidão); «com os seus tentáculos, parece uma estrela» (beleza) e «com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão».
Verifica-se que, apesar desta «aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa», o polvo é «__________»: veste-se ou pinta-se «das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado»; o peixe «vai passando desacautelado» e o polvo «lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro». Nem Judas foi tão traidor, dado que abraçou Cristo, «mas outros o prenderam»: Judas foi traidor, «mas com lanternas diante»; Judas «traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras», enquanto o polvo, «escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é a luz».
4. Escrito no século XVII, o Sermão de Santo António aos Peixes mantém a atualidade em muitas das críticas aos homens e ao seu comportamento. De facto, ainda hoje há «grandes» que se «alimentam» dos mais pequenos e ainda há seres humanos vaidosos, prepotentes, parasitas, ambiciosos, hipócritas e traidores, ainda há homens capazes de atitudes indignas para atingirem os seus objetivos. Para além disso, ainda hoje encontramos gente soberba e arrogante, gente que vive à custa do trabalho dos outros, ainda há quem seja demasiado presunçoso e ambicioso e quem, pelas suas atitudes, demonstre «ignorância e cegueira». Podemos, pois, afirmar que as críticas _________.
 
[a dois Grupos I-B — sobre Frei Luís de Sousa e sobre Cesário Verde — na folha dada na última aula, no verso de «Conselhos»]
[Frei Luís de Sousa]
1. [Completa só com nomes de personagens]
D. João, de espetro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro que se identifica como «Ninguém».
O extrato transcreve a cena XV, no final do Ato II, «no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família». Anteriormente, tínhamos assistido à partida para Lisboa de ____, de _____ e de ____, à angústia de _____ e à decisão de _____ de ficar a fazer-lhe companhia. O diálogo fora interrompido pela chegada do Romeiro. É o momento do regresso de __________ após vinte e um anos de ausência, vinte dos quais em cativeiro. O seu fantasma pairava sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.
Após este reconhecimento do Romeiro por ____, o Ato III desenrolar-se-á na capela, na parte inferior do palácio: a angústia vivida, os sentimentos contraditórios, o sofrimento e as decisões tomadas.
2.1. A chegada do Romeiro conduziu à ______ da família: a morte de Maria e a vida religiosa para D. Madalena e para Manuel de Sousa Coutinho.
2.2. A fala do Romeiro transmite a sensação de vazio que lhe vai na alma: julgado morto, já _______ família; a sua própria mulher não o reconheceu e, no palácio que era seu, reconstruiu a sua felicidade... O Romeiro sente, por isso, que perdeu a sua própria identidade no momento em que D. Madalena acreditou na sua morte.
3. As didascálias são constituídas por um conjunto de indicações cénicas destinadas ao leitor, ao encenador e ao ator que podem incluir a listagem inicial de personagens, a indicação do nome da personagem antes de cada fala, anotações sobre a estrutura externa da obra, indicações importantes sobre o guarda-roupa, referências aos adereços que compõem o espaço cénico, informações sobre o tom de voz, os gestos, as atitudes que a personagem/o ator deve tomar, o momento da entrada em cena e o percurso a realizar.
Neste excerto, para além das indicações das falas das personagens, surgem informações concretas sobre os _____ («apontando com o bordão»), sobre as ______ a tomar («Frei Jorge cai prostrado no chão, com os braços estendidos diante da tribuna»). Indicam ainda a ________ a tomar em cena («está alçado no meio da casa, com aspeto severo e tremendo») e marcam o ______ do ato («O pano desce lentamente»).
Para além disso, a associação de algumas indicações cénicas («aspeto severo e tremendo»; «cai prostrado no chão») à riqueza da pontuação (exclamação e interrogação) permite destacar a dimensão do sofrimento das personagens.
[Cesário Verde]
1. Verdadeiro artista plástico impressionista, fixa a população da cidade em processo, recorrendo a sinestesias e acumulando pormenores das sensações captadas. Não lhe interessa a visão estática da realidade, mas a sua visão particular. De facto, Cesário Verde antecipa a modernidade quer ao ocupar com a poesia o espaço da prosa narrativa, quer na construção de imagens intensas e sonoras das pessoas, da cidade e do campo ou das emoções. Além disso, é capaz de recolher simples temas ______ e de encontrar neles uma face poética.
A visão plástica do «poeta-___» assume lugar de destaque, por exemplo, no poema «De tarde», através do registo do pormenor de «uma coisa simplesmente bela», digna de ser pintada, ou do cenário do campo com o granzoal e os penhascos, onde acampam para o «piquenique de burguesas». Ainda o facto de se tratar de um fim de tarde («inda o Sol se via»), associado aos frutos («melão», «damascos», «pão de ló») e às cores: o azul (do granzoal), o rubro (da papoula), o amarelo (do pão de ló).
2. A modernidade da obra de Cesário observa-se também na figura da cidade, humanizada, com feições singulares, tradutoras da efemeridade da mutação do mundo. Ao _________ pela cidade, revive, por evocação, o passado e os seus dramas, ou sofre uma opressão que lhe provoca um desejo «absurdo de sofrer», como diz em «__________».
Na poesia de Cesário, a _____ aparece viva, com homens vivos, mas nela há a doença, a dor, a miséria, o grotesco, a beleza e a sua decomposição fatal. De facto, as imagens da cidade surgem, frequentemente, com uma dimensão humana. Podemos mesmo falar numa metáfora de cidade-mulher que atrai, fatalmente, pela sua beleza e sensualidade, mas que, frequentemente, arrasta para a morte. Assim, em imagens justapostas, esta cidade-mulher torna-se fria e perde a sensualidade devido ao capitalismo que subjuga o operário; associa-se à ausência de amor, pois menospreza a naturalidade.
3. A mulher fatal surge na poesia de Cesário Verde incorporando um valor erótico que simultaneamente ______. O poeta vê esse corpo belo e luminoso ao mesmo tempo que o fantasia pelo poder da sedução. Mas se, por um lado, desse corpo de mulher irradia uma luz que o torna cada vez mais nítido e sensual, por outro lado, há um pressentimento de fatalidade que lentamente o transforma em símbolo da morte. Em «Esplêndida», considera que «Ela, de olhos cerrados, a cismar, / Atrai como a voragem!» e em «Vaidosa», diz «eu sei que tu, que como um ópio / Me matas, me desvairas e adormeces». Nestes poemas, a mulher fatal arrasta para a morte; em «Frígida», é a mulher o símbolo direto da própria morte, que leva o poeta «ao persegui-la, penso acompanhar de longe / O sossegado espetro angélico da Morte!» Cesário dá-nos conta, frequentemente, da voluptuosidade da mulher fascinante, mas acaba por se sentir humilhado. Na vida social, encontra um paralelo entre as classes ________ que, como as burguesinhas ricas, o fascinam, e as classes _________, que têm de se remeter à sua baixa condição.
[Mais grupos I-B]
B
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, Cap. I, Biblioteca digital, Porto Editora
1. Este excerto inclui duas das quatro partes da estrutura interna do Sermão de Santo António aos Peixes.
1.1. Identifique-as, justificando convenientemente a sua resposta.
1.2. A Confirmação é a mais longa das partes, na estrutura interna deste sermão.
1.2.1 Estabeleça os seus limites. Redija uma frase para cada um dos capítulos da Confirmação, capaz de resumir o con­teúdo de cada um deles.
1.3. Refira-se de forma breve à última parte do Sermão (capítulo VI), destacando a função que desempenha e os assuntos aí tratados.
Grupo I-B
 [Soluções possíveis — completa-as, usando só termos da Retórica, os relativos às partes de um sermão; consulta o quadro atrás, se for caso disso]
1.1. As duas partes do Sermão presentes no excerto apresentado são o __________ (exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender), que parte do conceito predicável «Vós sois o sal da terra», em que se destaca a referência às obrigações do sal, a indicação das virtudes dos peixes e a crítica aos homens e a ______ (pedido de auxílio divino).
1.2.1. A terceira parte do Sermão de Santo António aos Peixes é a Confirmação (subdividida em ________ e _______) com a exposição do tema, das ideias e seu desenvolvimento, que engloba a argumentação e a crítica aos comportamentos, a cen­sura à prepotência dos grandes, a crítica à vaidade dos homens e a censura aos ambiciosos, aos hipócritas e aos traidores.
O Padre António Vieira indicou, no início do Cap. II, que dividia o desenvolvimento do seu sermão em duas partes. Assim, temos dois diferentes momentos de exposição e dois diferentes momentos de confirmação:
— no primeiro momento de exposição (Cap. II), destaca os louvores dos peixes em geral, seguindo-se a respetiva _______, no Cap. III, com os louvores em particular (peixe de Tobias, rémora, torpedo e quatro-olhos);
— o segundo momento de ________ surge no Cap. IV, ao falar da repreensão dos vícios em geral, seguindo-se a respetiva confirmação, no Cap. V, com as repreensões em particular (roncadores, pegadores, voadores e polvo).
1.3. A quarta parte do Sermão é a ____, uma conclusão que utiliza um desfecho forte para impressionar o auditório, uma última advertência aos peixes e a descrição de si próprio como pecador. O sermão termina com um hino de louvor a Deus.
Grupo I-B
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante em Frei Luís de Sousa. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.
Recordando o estudo da peça de Almeida Garrett, responda de forma completa às questões que se seguem.
1. Na tragédia clássica, a hybris (o desafio) era o ponto de partida para o conflito (o desenvolvimento).
1.1. Identifique, na peça Frei Luís de Sousa, o desafio de D. Madalena.
1.2. Indique ainda qual o desafio de Manuel de Sousa e as consequências da sua atitude no final do Ato I.
2. Demonstre a importância do destino e da superstição no desenrolar dos acontecimentos.
[Sugestões de resolução]
1.1 A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na ação, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ___________, embora guardasse fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, embora não fosse explícito como entre os clássicos.
1.2. Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao _____________. Esta atitude obrigou-o a esconder-se durante alguns tempos e a evitar regressar ao palácio durante o dia.
2. [Completa só com nomes de personagens.] O destino pode definir-se como força superior que tudo domina e a quem nem os deuses podem fugir; apresenta-se como uma obrigação imperiosa, uma força que arrasta «de forma cega para a desgraça». Madalena e Maria são vítimas do destino que afeta também as restantes personagens.
Um presságio da desgraça percorre toda a obra: a atmosfera de superstição, as apreensões e pressentimentos de _______ adquirem sentido; também _______ pressente a hipótese de ser filha ilegítima e vem a ser a vítima sacrificada; ___________ alimenta a crença no Sebastianismo; o incêndio e a necessidade de viver no palácio que fora de __________ aumentam a tensão dramática; o terror apodera-se de _________...
O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens e arrasta-as de forma cega para a desgraça; o sofrimento não acontece apenas nas personagens, mas age sobre os espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões (catarse); dentro da lógica do teatro clássico, a intriga desenvolve-se, de forma a culminar num desfecho dramático, cheio de intensidade: a morte física de _______ e a morte para a vida secular de _________ e _________. É, pois, evidente que, tal como na tragédia clássica, também em Frei Luís de Sousa o fatalismo é uma presença constante, dado que o destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça.
Elementos da tragédia clássica (segundo Projetos, 11.º ano, Santillana)
Hybris — desafio feito pelas personagens à ordem instituída.
Peripécia — de acordo com a Poética de Aristóteles (c. 334-330 a. C.), corresponde à «mutação dos sucessos no contrário», isto é, ao momento em que se verifica uma alteração no rumo dos acontecimentos.
Anagnórise — «reconhecimento»; segundo a Poética de Aristóteles, «é a passagem do ignorar ao conhecer», podendo consistir na revelação de acontecimentos desconhecidos ou na identificação de determinada personagem.
[Em FLS, a anagnórise sucede em simultâneo com a peripécia: é com a chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua identidade (anagnórise) que se dá uma inversão brusca nos acontecimentos (peripécia): o casamento é invalidado, Madalena torna-se uma mulher adúltera e a filha, ilegítima.]
Clímax — momento culminante (de maior intensidade) da ação.
[Em FLS, o clímax corresponde à cena final do ato II, pois é neste momento que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de Portugal dá a conhecer a sua identidade de forma inequívoca, demonstrando, ao mesmo tempo, deforma paradoxal, que o esquecimento a que foi votado anulou a sua existência.]
Catástrofe — desenlace trágico.
[Em FLS, a família é totalmente exterminada: Madalena e Manuel morrem para o mundo, ingressando na vida religiosa, e Maria morre, efetivamente.]
Ágon — conflito vivido pelas personagens; pode designar o conflito com outras personagens ou o conflito interior.
Pathos — sofrimento crescente das personagens.
Ananké — o destino; preside à existência das personagens e é implacável.
Catarse — efeito purificador que a tragédia deve ter nos espectadores: ao desencadear o terror e a piedade, permitir-lhes-ia purificar as suas emoções.
[Mais uns grupos I-B — sugestões de solução logo a seguir aos itens]
Grupo I-B
1. Observe com atenção o quadro do pintor impressionista Claude Monet, intitulado «Le Déjeuner».




1.1. Relacione o quadro com uma das temáticas estruturantes da poesia de Cesário Verde.
A dimensão realista e pictórica da poética de Cesário Verde é indiscutível, tanto mais que o próprio poeta afirma «Pinto quadro por letras». A essa dimensão associa-se a introdução do quotidiano na poesia. De facto, composições poéticas como «Num Bairro Moderno» e «De Tarde» oferecem-nos uma visão cinematográfica de figuras individualizadas ou coletivas que protagonizam realidades e vivências sociais burguesas, envoltas em sabores e cores. Assim, é possível relacionar este quadro com motivos cesarianos, como as referências a cenas domésticas, ora situadas em casas apalaçadas e em jardins acolhedores, ora em ambientes campestres.
1.2. Associe a figura feminina retratada na pintura com um dos tipos da imagética feminina característicos da poesia de Cesário Verde.
Na poesia de Cesário Verde, são retratados fundamentalmente dois tipos de imagética feminina: a mulher vítima de injustiça e de humilhação social -— que desperta no sujeito poético sentimentos de piedade e de revolta pela situação degradante em que vive — e a mulher fatal, altiva — que o humilha e despreza, mas que também o atrai, pelo seu porte e pela sua sensualidade. É este segundo tipo de imagética que poderá ser associado à figura feminina representada no quadro de Monet.
Documentário sobre Cesário Verde: http://ensina.rtp.pt/artigo/o-livro-de-cesario-verde/
 
Grupo I-B
1. Em Frei Luís de Sousa, o sebastianismo é uma constante, representando o domínio do pressentimento sobre a razão.
1.1. Explique sucintamente como este mito nacionalista condiciona o desenrolar da diegese dramática do texto garrettiano.
O sebastianismo, configurando uma visão passadista do mundo, condiciona o desenrolar da ação até ao aparecimento do Romeiro. D. Madalena vive atemorizada com o passado, reagindo de forma emotiva a todas as referências e evocações desse tempo. Telmo e Maria, ao alimentarem esperanças de que D. Sebastião regresse, deixam-se dominar por pressentimentos, contrariando uma visão racional do mundo. A chegada do Romeiro determina, finalmente, o rumo da ação, anulando o presente e inviabilizando o futuro, o que prova que o mito sebastianista é o motor da diegese dramática.
2. Comente a seguinte afirmação: «Madalena é sobretudo uma personagem romântica, pela sua sensibilidade e pela sua submissão total à paixão avassaladora por Manuel de Sousa Coutinho».
Madalena é considerada uma personagem romântica, pelo modo emotivo como perspetiva o ambiente que a rodeia e como vive as suas inquietações pessoais. Ela é uma mulher infeliz e perseguida pelo remorso, que sente uma paixão avassaladora por Manuel de Sousa Coutinho (que a faz esquecer a sua condição de mãe) e que vive aterrorizada com a possibilidade de ter de enfrentar o passado. O estado de desvario resultante da destruição do retrato de Manuel e o encarar do retrato de D. João ilustram o pendor romântico da personagem.
Grupo I-B
1. No Sermão de Santo António aos Peixes, à imitação de Santo António, o Padre António Vieira resolve pregar aos peixes para dar lições aos homens.
1.1. Identifique a principal figura de retórica a que o orador recorre para o fazer, explicitando a sua eficácia argumentativa
Para dar lições aos homens, Vieira recorre à alegoria: — dirigindo-se aos peixes, dá lições aos homens, através do reconhecimento das virtudes e dos vícios dos primeiros. Desta forma, o orador concretiza as características humanas, simplificando a sua argumentação e sendo mais facilmente compreendido pela audiência.
1.2. Explicite o defeito dos peixes que mais escandaliza Vieira, mostrando, em simultâneo, as advertências que o orador quer fazer aos homens.
O defeito que mais escandaliza o orador prende-se com o facto de os peixes se comerem uns aos outros, sublinhando que esse escândalo é tanto maior quanto são os peixes grandes a comerem os pequenos. Utilizando um discurso metafórico, Vieira denuncia casos de «antropofagia» social: a traição, o roubo, a exploração, todas as ações criminosas perpetradas pelos colonos do Brasil contra os nativos. Em suma, através das advertências aos peixes, o orador dirige-se aos homens e reforça a ideia de que estes não se devem aproveitar dos mais fracos, das suas desgraças e misérias para construir a sua própria riqueza.
1.3. Partindo da afirmação transcrita, identifique os recursos de que o sermão se serve para cumprir um dos objetivos da oratória — delectare.
«[No século XVII] o púlpito era um palco e o pregador um ator a tentar exibir do melhor modo possível a sua palavra, [...] a pregação era um espetáculo tanto quanto possível espetacular.»
Margarida Vieira Mendes, Sermões de Padre António Vieira, Col. Textos Literários, 3.ª ed., Lisboa, Comunicação, 1987
O sermão, no século XVII, não é apenas uma prática religiosa própria da oratória, é também um espetáculo que deslumbra pelos efeitos cénicos e retóricos que lhe são característicos. Nesse sentido, a linguagem elaborada, servindo-se de inúmeras figuras de retórica, o espaço envolvente, caracterizado pela ornamentação excessiva, e o tom de voz, a mímica e os gestos do pregador no púlpito cumprem o propósito inerente ao delectare.
Deixis (a partir de uma página de Felizmente há luar!; p. 126 da edição Areal):
Neste trecho de Felizmente há luar! não faltam expressões com valor deítico.
A seguir, ponho algumas dessas expressões. Classifica o deítico quanto ao seu escopo (espacial, pessoal, temporal).
Junto ainda um só caso de deítico textual, que identificarás também, assinalando o antecedente dessa expressão anafórica no texto da peça de Sttau Monteiro.
«Estou» = deítico temporal e _______;
«aqui» = deítico ______;
«vos» = deítico ________;
«Venho de» = deítico ________, ________, _______;
«Esta afirmação» = deítico ________;
«essa [mulher]» = deítico ________, _______.
Mecanismos de coesão textual (a partir da p. 110 de Felizmente há luar!)
Neste trecho de Felizmente há luar! estão abonados mecanismos de coesão textual de vária ordem (coesão temporoaspetual, lexical, interfrásica, referencial). Tenta classificá-los em função da área de coesão que neles se atualiza:
A ocorrência de termos equivalentes ou antónimos, como «esmola», «medalha», «moedas», e «pague», «receba», «vende», constitui um mecanismo de coesão _____. O mesmo se pode dizer da própria repetição da palavra «moeda».
Na fala de Manuel, o referente «moeda», surge substituído várias vezes por termos anafóricos: «[lh]a» (duas vezes), «a [use]»; depois, o antecedente «trinta moedas» é substituído pelos pronomes, também anafóricos, «as» («as pague ou as receba»). Trata-se de mecanismo de coesão ________. Como o é também a elipse de «Rita» no segundo período da didascália maior.
Numa das didascálias, o valor imperfetivo de «iluminava», matizado pela progressividade de «apaga-se gradualmente» — conferida pelo advérbio, mas contraditória do sentido de ‘apagar’ —, vinca o valor também imperfetivo do presente de «permanecer», verbo já marcado por sentido durativo. A sequência de verbos no presente («entrega», beija», «corre», «surge») é estabelece a ideia de ação, avanço no tempo. Este jogo entre tempos, advérbio, etc., constitui um exemplo de coesão _______.
De novo na fala de Manuel, o conector final «para que» ou a ligação aditiva «e», que vemos na primeira frase da página, ou até a sequencialização conseguida pela justaposição de períodos podem ilustrar a chamada coesão ________.
 

Segunda aula de cábulas (16/jun) Explicações ainda sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes» e sobre Frei Luís de Sousa (ver Apresentação).

Exemplo de Grupo I-A, com «Padrão» (como explicado no Caderno de Apoio ao Exame. Expressões, 12.º ano):

 

Padrão

 

            O esforço é grande e o homem é pequeno.

            Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

            Este padrão ao pé do areal moreno

            E para diante naveguei.

 

5          A alma é divina e a obra é imperfeita.

            Este padrão sinala ao vento e aos céus

            Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

            O por-fazer é só com Deus.

 

            E ao imenso e possível oceano

10        Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

            Que o mar com fim será grego ou romano:

            O mar sem fim é português.

 

            E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

            E faz a febre em mim de navegar

15        Só encontrará de Deus na eterna calma

            O porto sempre por achar.

 

PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu. Lisboa: Assírio & Alvim (2.ª ed.)

 

1. Integra o poema na estrutura de Mensagem, fundamentando a tua resposta com passagens textuais.

O poema faz parte da segunda parte de Mensagem, "Mar Português", uma vez que é dedicado a um dos heróis míticos da epopeia marítima portuguesa. Nesta parte da obra, de que o presente poema é exemplo. são glorificadas as figuras cujo exemplo de coragem e audácia durante a época dos Descobrimentos ficou para a posteridade. Diogo Cão, navegador focado no poema, legou, enquanto modelo heroico a seguir, um a imagem da ousadia ("da obra ousada, é minha a parte feita.", v. 7) e a sua "febre" ("E faz a febre em mim de navegar", v. 14) de ultrapassar os limites deverá, à semelhança de outros mitos, justificar as suas ações e inspirar outros homens a sonhar e a desenvolver na sua "alma'' ("a Cruz ao alto diz que o que me há na alma", v. 13) uma loucura saudável.

 

2. Descreve o retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, relacionando-o com a conceçao de História apresentada no poema.

O sujeito poético apresenta-se como alguém determinado e esforçado, corajoso e ansioso por navegar (v. 14), cumprindo a missão de que Deus o incumbiu ao deixar a sua marca através do padrão (vv. 6-7). Concebe-se como alguém sagrado ou escolhido por Deus para a concretização de grandes feitos, numa predestinação evidente nos versos 7 e 8. A conceção messiânica da História torna-se evidente no retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, pois o grande feito que alcançou, a conquista de novas terras, marca­das como portuguesas através do padrão, só terá sido possível a partir da conjugação de esforços de dois agentes. Num primeiro plano, foi necessário que Deus predestinasse o navegador, colocando-lhe na "alma" a marca "divina", isto é, o desejo de ir mais além, o sonho ou a "febre [...] de navegar" (v. 14). Por outro lado, o segundo agente, o homem, mesmo que "pequeno", colocou todo o seu "esforço" "grande" (v. 1) na concretização de uma "obra" (v. 5) e o próprio sujeito poético reconhece que, na sua ação ou "obra ousada" (v. 7), ele foi apenas um dos intervenientes — "é minha a parte feita" (v. 7) — e Deus terá tido um papel determinante — "O por-fazer é só com Deus" (v. 8).

 

3. Comenta o sentido dos versos 11 e 12.

Contrapondo o "mar com fim", "grego ou romano", ao "mar sem fim", "português", o poema enaltece as viagens marítimas dos Portugueses, afirmando a sua superioridade relativamente às dos povos da Antiguidade Clássica: estes dominaram apenas o conhecido, o "mar com fim"; os Portugueses, pelo contrário, apropriaram-se do desconhecido, do "mar sem fim" que desvendaram, acentuando-se, assim, a sua dimensão épico-heroica.

Por outro lado, se entendermos que "o mar sem fim" poderá corresponder metaforica­mente a uma grande concretização espiritual portuguesa, depois das conquistas dos gre­gos e romanos, a leitura dessa referência enquanto alusão ao Quinto Império desejado e cuja implementação está reservada aos Portugueses faz também sentido. O império espi­ritual a cumprir por Portugal será ilimitado, "sem fim", contrariamente aos impérios finitos e materiais das civilizações clássicas.

 

4. Identifica, no poema, uma característica do discurso épico e uma característica do. discurso lírico de Mensagem, citando um exemplo significativo para cada um dos casos.

Constituem marcas do discurso épico a apresentação de um acontecimento histórico cometido por um protagonista de alta estirpe (social e moral), que concretiza uma ação heroica e admirável, com a ajuda de um ser sobrenatural — Deus (vv. 5, 8 e 15). O lirismo está patente na utilização da primeira pessoa verbal ("Eu, Diogo Cão, navegador [...]", v. 2), que confere ao discurso uma subjetividade própria dos enunciados intimistas. Por outro lado, há a interiorização da matéria histórica e épica num sujeito lírico que se caracteriza e descreve a realidade a partir da sua perceção e fazendo interferir a sua afetividade (vv. 7-8 e 13). A forma poética, com uma apresentação fragmentária, é habitualmente associada ao discurso lírico.

 

Esboço de léxico porventura útil para respostas a grupos I

 

o «eu» poético / o «eu» lírico / o sujeito poético / o sujeito lírico / o poeta / [o narrador] / ...

 

trecho / texto / excerto / passagem / passo / período / parágrafo / segmento / frase / expressão / estrofe / terceto / quadra / quintilha / dístico / sextilha / verso / ...

 

trata de / aborda / conota / denota / remete para / implica / evoca / alude a / refere / traduz / significa / assinala / menciona / exprime / traça / esboça / desenha / perfila / desenha / marca / vinca / acentua / sublinha / sugere / insinua / salienta / valoriza / desvaloriza / prefere / pretere / favorece / desfavorece / privilegia /prejudica / enumera / elenca / estabelece / distingue / ...

 

infere-se / conjectura-se / adivinha-se / percebe-se / nota-se / é percetível / é notório / evidencia-se / é evidente / apercebemo-nos de que /...

 

oposição / paralelismo / contraste / simetria / tema agregador / assunto / leitmotiv / binómio / motivo / símbolo / direção / vetor / linha de sentido / tópico / alusão / ...

 

Entretanto, / Acrescente-se que / Note-se ainda que / Diga-se também / É de notar / Por outro lado, / Na verdade, / Com efeito, / ...

 

O que é avaliado?

GRUPO I

As respostas às questões do Grupo l, A (60 pontos) e B (40), são avaliadas pelo conteúdo e pela organização e correção linguística.

 

No que diz respeito à organização e correção linguística,

é descontado 1 ponto por:

— erro inequívoco de pontuação;

— erro de ortografia (incluindo erro de acentuação, uso indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula inicial e erro de translineação);

— erro de morfologia;

— incumprimento das regras de citação de texto ou de referência a título de uma obra.

 

são descontados 2 pontos por:

— erro de sintaxe;

impropriedade lexical (palavra utilizada inapropriadamente no contexto).

 

GRUPO II

As perguntas do Grupo II (50 = 7x5 + 3x5) avaliam a competência de leitura de um texto não literário e a competência de reflexão sobre o funcionamento da língua.

 

GRUPO III

O Grupo III (50) — a que corresponde a elaboração de um texto expositivo-argumentativo/de reflexão — pretende avaliar a competência de expressão escrita, focando um tema da atualidade.

Aqui avalia-se a:

— estruturação de um texto com recurso a estratégias discursivas adequadas à defesa de um ponto de vista e refletindo a operação de uma planificação produtiva;

— elaboração de um texto coerente e coeso;

— produção de um discurso correto nos planos lexical, morfológico, sintático, ortográfico e de pontuação.

 

Significado dos verbos mais usados em enunciados (tirado de Entre Margens, 12.º ano) (ver Apresentação)

 

[Sobre o Grupo III, em Entre Margens, 12.º ano:]

 

Neste grupo deves redigir um texto expositivo-argumentativo, focando, por norma, um tema atual, respeitando rigorosamente todas as instruções fornecidas:

 

[A.] que tenha entre duzentas e trezentas palavras.

Atenção aos desvios: escrever mais de trezentas palavras ou menos de duzentas implica uma desvalorização que pode ir até aos cinco pontos. Se não escreveres pelo menos oitenta palavras a tua resposta é classificada de imediato com zero pontos, independentemente do conteúdo do texto que tenhas escrito.

[B.] que respeite o tema da citação apresentada (mesmo que não tenhas percebido bem a citação, normalmente o respetivo tema é destacado no enunciado da pergunta — «apresente uma reflexão sobre a importância da literatura para o ser humano»).

[C.] que apresente, no mínimo, dois argumentos e que cada um deles seja ilustrado com, pelo menos, um exemplo significativo.

 

[Do Caderno de Apoio ao Exame de Expressões, 12.º ano:]

 

O grupo III pretende avaliar a capacidade de escrita.

Recorda as fases que deve seguir a elaboração de um texto — planificação, textualização e revisão — e respeita-as, aplicando-te na redação também ao nível da correção linguística.

Utiliza uma caligrafia legível e não te esqueças de estruturar devidamente a tua composição, marcando com parágrafos as mudanças de assunto e utilizando conectores adequados nas ligações frásicas e interfrásicas.

Como o tema do texto que deves produzir pode partir de uma citação, deves remeter para os elementos nela presentes que suscitam a tua reflexão ou comprovam as tuas afirmações.

É igualmente muito importante recorrer ao número de argumentos e de exemplos solicitados no enunciado da pergunta e respeitar os limites de extensão indicados.)

 

[Os grupos I-A que se seguem são de manuais-sebentas vários; devia conseguir identificá-los, mas não fui suficientemente arrumado e falham-me agora as referências:]

 

Grupo I-A

Lê atentamente o seguinte poema de Fernando Pessoa.

 

Em tempos quis o mundo inteiro.

Era criança e havia amar.

Hoje sou lúcido e estrangeiro.

(Acabarei por não pensar.)

 

A quem o mundo não bastava,

(Porque depois não bastaria)

E a alma era um céu, e havia lava

Dos vulcões do que eu não sabia,

 

Basta hoje o dia não ser feio,

Haver brisa que em sombras flui,

Nem se perder de todo o enleio

De ter sido quem nunca fui.

Fernando Pessoa

 

1. O sujeito poético estabelece uma distinção entre dois tempos da sua vida. Identifica-os, mencionando a sua localização no poema. Refere os elementos linguísticos que os evidenciam.

[lacunas a preencher correspondem a citações do texto]

Existe, no poema, uma distinção entre o passado ou o tempo em que o sujeito poético «________» e o presente ou o «________» do adulto. Na primeira estrofe, os dois primeiros versos referem-se à infância e os dois últimos versos ao presente. Na segunda estrofe, o sujeito poético refere-se ao passado e, na terceira estrofe, ao presente.

Os elementos linguísticos que evidenciam a distinção entre o passado e o presente são as formas verbais, o advérbio de tempo e as expressões temporais. Assim, a referência ao passado está marcada através das formas verbais do Pretérito Perfeito do Indicativo e do Pretérito Imperfeito do Indicativo, além da expressão temporal «________». A referência ao presente é feita através da conjugação de verbos no Presente do Indicativo e do advérbio «_________».

 

2. Explicita o estado de espírito do sujeito poético no momento presente.

[lacunas a preencher correspondem a termos de teoria literária ou linguística]

O sujeito poético descreve-se como «lúcido» e «estrangeiro», na primeira estrofe. Estes dois ________ são cruciais na caracterização do seu estado de espírito: a lucidez ou capacidade de a inteligência analisar o real associa-se ao sofrimento que o pensar ou a consciência traz ao _______; o «ser estrangeiro» traduz a incapacidade de o sujeito poético se relacionar com os outros, mantendo distancia­mento, quer em relação aos outros, quer em relação ao real. Estas duas dimensões são fundamentais na poesia de Pessoa ortónimo; são no presente o inverso do que «em criança» havia, o «amar». Além disso, na última ________, constatamos que, para o sujeito poético, a evocação de uma infância mítica (um passado onde havia «amar») constitui uma «brisa», que ele descreve como «sombras», termo que atribui um sentido negativo ao «hoje». Finalmente, a evocação desse passado risonho é considerada um «enleio» associado a algo positivo — a infância — reinventado pela imaginação, representado pelo pensamento e pela linguagem como um tempo em que era possível sentir.

 

3. Identifica a figura de retórica presente em «E a alma era um céu», explicando a sua importância para a construção do sentido do poema.

[lacuna a preencher corresponde ao termo que identifica o recurso estilístico]

A expressão transcrita associa, através da ________, a «alma» a «céu», elemento que constitui o símbolo da felicidade. Através desta associação descreve-se a infância do sujeito poético como momento de extrema felicidade.

 

4. Explica o sentido dos dois últimos versos do poema.

[lacunas a preencher correspondem a termos da ensaística acerca de Pessoa]

«Em tempos quis o mundo inteiro» desenvolve o complexo de dimensões que caracteriza a poesia de Pessoa ortónimo: a evocação de uma ______, em que o poeta se imagina feliz, constitui o reverso de um presente pleno de _______ e de angústia, criados pelo constante ato de ________ que impede o sujeito poético de estabelecer qualquer relação, quer com os outros, quer com o real, que incessantemente ele desconstrói.

 

Grupo I-A

 

Leia atentamente o seguinte texto:

 

            Que noite serena!

            Que lindo luar!

            Que linda barquinha

            Bailando no mar!

 

5          Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...

            O terceiro-andar das tias, o sossego de outrora,

            Sossego de várias espécies,

            A infância sem o futuro pensado,

            O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,

10        E tudo bom e a horas,

            De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.

 

            Meu Deus, que fiz eu da vida?

           

            Que noite serena, etc.

           

            Quem é que cantava isso?

15        Isso estava lá.

            Lembro-me mas esqueço.

            E dói, dói, dói...

           

            Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.

                                                               Álvaro de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993

 

1. Identifique os elementos caracterizadores do passado evocado pelo sujeito poético.

O tempo evocado é o da infância feliz, vivida em Lisboa, que o sujeito poético caracteriza como um tempo de encantamento que a memória convoca quando ouve a cantiga; é também um período de "Sossego de várias espécies" (v. 7), físicas e mentais, vivido com despreocupação, porque se trata de uma "infância sem o futuro pensado" (v. 8). É um tempo de harmonia, de tranquilidade, de vivências familiares e domésticas, representado pelo "terceiro andar das tias" (v. 6), pelo "ruído aparentemente contínuo da máquina de costura" (v. 9) e em que "É tudo bom e a horas" (v. 10).

 

2. Os quatro primeiros versos são a citação de uma cantiga, parcialmente retomada no verso 13. Explique a função de cada uma das citações.

A primeira citação remete para a memória encantada da infância, o tempo em que o su­jeito poético ouvia a cantiga agora evocada; a segunda, para quando a consciência do presente se interpõe entre o "eu" e a recor­dação da infância. A permanência do seu eco na memória do sujeito poético faz com que essa cantiga se revele como um resto do passado morto, que se torna incómodo e que, como tal, o sujeito tenta silenciar.

 

3. Refira os sentimentos do sujeito poético relativamente ao presente.

A consciência do presente, que surge do con­fronto com o passado evocado, desencadeia um sentimento de perda irremediável que domina o sujeito poético. A saudade de um tempo perdido é agudizada e o verso final traduz o desespero do "eu" perante a impossibilidade de esquecer a cantiga e de recuperar a infância perdida.

 

4. Comente o efeito expressivo da repetição «E dói, dói, dói,...» (v. 17).

[lacunas a preencher correspondem a termos de teoria literária ou linguística]

A repetição da forma _______ "dói" acentua o efeito da dor experimentada pelo "eu", para a qual contribui também o valor semântico do ______ utilizado. O facto de essa repetição cons­tituir um ____ curto e tripartido, com recurso a um _______ de sons abertos, confere a essa dor uma dimensão insuportável, uma presença constante, da qual o sujeito poético não se consegue libertar.

 

Grupo I-A

 

Lê atentamente o seguinte poema de Alberto Caeiro.

 

            VII

 

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

 

Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,

Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática, 1946.

 

1. A aldeia é descrita pelo sujeito poético como «tão grande como outra terra qualquer.» Refere o argumento utilizado pelo sujeito poético para sustentar esta afirmação.

[lacunas a preencher em todos os itens correspondem a formas de verbo importante em Caeiro]

O sujeito poético vê a sua aldeia «tão grande como uma outra terra qualquer» porque desse local se tem um horizonte de visão amplo (abrangente) e, para ele, aquilo que se é capaz de _______ é que deter­mina a dimensão dos lugares e dos seres.

 

2. Menciona os elementos que distinguem a aldeia da cidade.

À aldeia o sujeito poético associa a largura de todo o céu, o grau máximo de visibilidade do Universo; por isso, estão associadas à aldeia a capacidade de _____ e, consequentemente, a riqueza de quem vê. Pelo contrário, a cidade é um lugar pequeno e fechado, porque restringe o campo de visão; as suas construções limitam o olhar e, por conse­guinte, impedem-nos de _______ a Natureza e o Uni­verso.

 

3. Explicita em que reside, do ponto de vista do sujeito poético, o tamanho de cada pessoa.

Para o sujeito poético, o tamanho de cada pessoa mede-se a partir daquilo que ele é capaz de ______: se tem uma visão larga e abrangente do Universo, é rico e é grande; se tem uma visão limitada e res­trita, é pobre e é pequeno. O tamanho, o valor de alguém depende daquilo que os seus olhos são capazes de ________.

 

4. Indica a figura de retórica presente na frase «Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), explicitando o seu sentido.

Em «Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), está presente uma metáfora, através da qual se expressa a limitação ou a restrição que as casas da cidade impõem às pessoas que nelas vivem relativamente ao que _______. As fecha­duras das portas vedam a entrada das pessoas nos locais, impedem o acesso. Do mesmo modo, as casas numa cidade impedem a vista de olhar para um espaço aberto. Esta metáfora contribui para a caracterização negativa da cidade em con­traste com a aldeia.

 

***

 

Para revisão de Pessoa e heterónimos, podem ser úteis quer os esquemas no Caderno de Apoio ao Exame, quer as apresentações do manual (que, no fundo, os repetem), quer alguns enquadrados no manual propriamente dito.

O mesmo se diga dos outros «conteúdos» literários.

É claro que mais importante ainda é o próprio conhecimento dos textos (que estará já conseguido).

Para treino de itens de grupo II, pode servir o Caderno de Atividades, onde há uma secção com «Fichas de trabalho com a tipologia do grupo II do Exame Nacional» — incluindo soluções no final do caderno.

 

***

 


Os trechos que se seguem são de «O polícia que prova tudo» (série Barbosa). Completa a tabela, preenchendo a coluna à direita com o tipo de ato ilocutório (assertivo, diretivo, compromissivo, diretivo, expressivo, declarativo):

 

«O polícia que prova tudo» (Barbosa)
ato ilocutório
Senta-te no chão.
diretivo
Pernas cruzadas! Cotovelos em cima dos joelhos!
 
Sempre quero ver o que está aqui.
 
Isto é droga.
 
Sabes o que é isto?
 
Consideramos-te suspeito (arguido / culpado).
 

 


Trata-se de períodos de «Curso de literatura para porteiras» (Lopes da Silva). Divide as frases complexas em orações e classifica-as. (Regista a classificação das orações sem abreviaturas, como se faria nas três perguntas finais de um grupo II.)

 

Se não me engano, / esta é a nossa terceira aula do novo curso de literatura para porteiras.

...

 

Em certa medida, este romance é como uma reflexão sobre as relações da beleza com a corrupção.

[frase simples]

 

Eu não tenho pena nenhuma dela, / porque a Madame Bovary, / se quer ser respeitada, / / tem de se dar ao respeito.

...

 

O Sr. Carlos é um bocado chocho, / mas é bom homem.

...

 

Da Damaia sou eu, / e não sou tão badalhoca.

...

 

Ó Dona Fernanda, como sabe / que, para a semana, vamos dar Os Maias?

...

 

E agora saiu uma, / que é a Colóquio-Letras Mais Atrevida, / que traz todas as posições / que ela fez com o irmão.

...

 


Completa o resumo do sketch «O anão Roberto» (série Meireles), usando estas expressões (que podem ter de ficar no plural):

derivação imprópria / adjetivo / nome próprio / antropónimo / conversão / pronome pessoal

 

Um dos indivíduos relata um acidente, designando as personagens por alcunhas («Anão», «Coxo», «Vesgo», «Fanhoso», «Atrasado mental», «Mariconço»). Estas alcunhas eram todas _______________ que agora estão a ser usados como ______________, em vez de «Roberto», «Nélson», «», «Marco», «Fernando» (que são verdadeiros _____________________) e do __________________________ «ele».

Este processo de «formação» de palavras — em que palavras de uma classe são convertidas a outra classe — designa-se ____________________________, embora talvez fosse mais correto chamar-lhe _________________________. Uma palavra obtida por derivação imprópria/conversão não será, na aparência, diferente da que lhe deu origem, tem é um novo papel sintático.

 

Jorge Jesus trata o seu jogador hispanófono Melgarejo por «Melga», o que consiste

a) numa truncação (que simplifica e mostra afeto).

b) numa extensão semântica (justificável por ser jogador combativo, sempre a tentar roubar a bola aos adversários).

c) numa aférese (que serve de hipocorístico).

d) num empréstimo (especificamente, um castelhanismo).

 

O casal, agora desavindo, Luciana Abreu-Yannick Djaló escolheu como nome da primeira filha «Lyonce Viiktórya». «Lyonce» reúne as iniciais dos nomes de cantora-atriz e futebolista e o fim do nome da mais famosa Beyonce. Trata-se, no essencial, de

a) uma truncação.

b) uma amálgama.

c) um empréstimo.

d) uma onomatopeia.

 

O advérbio «mutuamente» é

a) uma palavra derivada por parassíntese.

b) uma forma de base.

c) uma palavra derivada por sufixação.

d) um composto morfológico.

 

Na palavra «abandalhar» encontramos os afixos «a» e «ar» (a forma de base é «bandalho»; não está dicionarizado «bandalhar»). Trata-se de uma palavra

a) derivada por prefixação.

b) derivada por sufixação.

c) derivada por prefixação e sufixação.

d) derivada por parassíntese.

 

A alínea que inclui apenas compostos morfossintáticos é

a) «geógrafo», «guarda-redes», «girassol».

b) «amá-los», «saca-rolhas», «guarda-chuva».

c) «anjo da guarda», «picapau», «couve-flor».

d) «egiptólogo», «lusodescendente», «autódromo».

 

O nome «sobra» vem do verbo «sobrar». O processo de formação ocorrido é o da

a) derivação por afixação.

b) derivação imprópria.

c) derivação não afixal (antigamente: regressiva).

d) derivação por parassíntese.

 

Temas em torno de Felizmente há luar! em que valeria a pena pensar. Já acrescentei três esboços de comentário. Outras respostas já estarão no que fomos fazendo em aula. Mas, no caso de Felizmente há luar!, vale a pena reler manual e pensar nestas e noutras perguntas, reler enquadrados, etc.

 (No caso de Memorial, Pessoa, Camões, o mesmo trabalho pode ser feito mas é mais em revisão.)

 

1.         Como devemos ver Matilde? Como mulher comum? Como heroína?

2.        Entre os elementos simbólicos presentes em Felizmente há luar podem citar-se os tambores, a moeda de cinco reis, a saia verde, o luar.

Os tambores, que amedrontam os populares mal os ouvem à distância e que tocam em fanfarra em momentos decisivos (como o anúncio da prisão e o fim da execução de Gomes Freire), representam a repressão, simbolizam a opressão aterrorizadora.

A moeda de cinco reis começa por significar a esmola, o auxílio humilhante que os poderosos dão aos que nada têm (por isso, quando Manuel a manda atirar a Matilde logo se arrepende; por outro lado, Matilde, ao pedir-lha, está a associar-se  aos populares). Quando Matilde atira uma moeda aos pés do Principal Sousa, esta passa a ser símbolo da traição da Igreja, eco das moedas que Judas recebeu pela entrega de Cristo.

A saia verde, oferecida a Matilde pelo seu amado para quando voltassem a Portugal, nunca tinha sido usada, talvez porque o país nunca lhes tivesse dado motivos de esperança. Matilde planeava usá-la quando Gomes Freire voltasse para casa (o que revela que não se resignara, que ainda acreditava), mas acabou por ser a que vestiu no momento da execução do marido, simbolizando então a esperança no futuro.

A fogueira destruiu com Gomes Freire a conspiração, a mudança. Porém, foi uma destruição necessária para a purificação, para que todo o horror fosse exposto e reforçasse o desejo de lutar por um Portugal melhor. O clarão é a luz da liberdade que se anuncia. O clarão que se extingue com a morte de Gomes Freire irá iluminar muitas consciências. A sua morte não terá sido em vão.

Para D. Miguel, a luz do luar simboliza a opressão necessária para manter o país submisso. Para Matilde, o início do fim do obscurantismo em que o país stá mergulhado: é a luz que permite ver um exemplo, o caminho a seguir.

3.        Matilde é uma personagem mais redonda, menos plana, do que as outras. Essa maior complexidade psicológica faz dela a figura mais elaborada da peça.

4.        A concentração do tempo da acção é uma das características de Felizmente há luar!. Entretanto, a única data explicitada na peça está numa fala de Matilde: «Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de Outubro de 1817».

Aparentemente, no mesmo dia em que os populares conversam sobre Gomes Freire, Vicente é incumbido por D. Miguel de o vigiar. Também nesse mesmo dia, os Governadores recebem os delatores e Vicente traz a informação de que «Ontem à noite entraram mais de dez pessoas em casa de...». Não sabemos, contudo, o tempo que decorre entre a situação incial e este «ontem». E é impossível determinar o tempo que decorre até declararem Gomes Freire como chefe da conjura.

Note-se ainda que, no segundo acto, o tempo parece mais lento, devido sobretudo ao longo discurso acusatório que Matilde dirige ao Primcipal Sousa. Por outro lado, é-nos transmitida a ideia de que, entre a prisão dos conjurados e a sua execução, decorreram apenas quatro dias.

Esta concentração  do tempo evidencia que o poder não esperava  senão um pretexto para eliminar um adversário. Para prender Gomes Freire não houve necessidade de recolher provas da sua participação na conjura.

5.        Na linha do teatro de Bertold Brecht, Felizmente há luar! analisa criticamente a sociedade, mostrando-a com o objectivo de levar o espectador a tomar uma posição.

6.        Há paralelismos entre os dois actos, mas também há contrastes.

7.        O espaço físico da peça é, no fundamental, Lisboa…

A referência de que a acção se desenrola em Lisboa é-nos dada várias vezes ao longo da peça. Por exemplo, é num café do Cais do Sodré que se «reúnem todos os dias os defensores do sistema das cortes», informa Vicente no seu primeiro encontro com D. Miguel. É também durante este encontro que é referido, pela primeira vez, que o General mora para «os lados do Rato», é aí que é preso e, nesse dia, no Largo do Rato «são mais os soldados do que as pedras», segundo o comentário de um popular. Gomes Freire é levado para o forte de S. Julião da Barra, onde é executado. A execução dos outros conjurados, segundo Sousa Falcão, dá-se no Campo de Sant’Ana (actual Campo dos Mártires da Pátria).

Os espaços exteriores são as ruas de Lisboa e, no final da peça, o alto de uma serra donde se avista o forte de S. Julião. Os espaços interiores são a casa de Matilde, o palácio da Regência e uma igreja onde Matilde se confronta com o principal Sousa.

Na encenação da peça, para se transmitir a ideia de mudança de espaço seriam fundamentais os jogos de luzes, os focos a isolar determinadas personagens.

8.        Os dois actos iniciam-se com a personagem Manuel, um dos poucos populares que tem o seu nome explicitado. Parece, portanto, que Sttau Monteiro quis valorizar a personagem.

9.        Segundo Luciana Stegano Picchio, Sttau Monteiro «constrói em torno da figura do general Gomes Freire uma trágica apoteose da história do movimento liberal oitocentista».

10.      A realidade do período da Regência, que é o contexto histórico de Felizmente Há Luar!, é transponível para a fase política que se atravessava quando Sttau Monteiro escreveu a peça.

11.       A obra tem como figura central o general Gomes Freire de Andrade, que, «embora nunca apareça», como diz Sttau Monteiro, está sempre «presente».

12.      De um lado, temos Manuel, Rita e um Antigo Soldado. Oposto a este, podemos considerar um núcleo que inclui Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento, os dois polícias.

13.      No núcleo de personagens constituído pelos governantes (Beresford, o Principal Sousa, D. Miguel), podemos considerar que cada um representa uma certo grupo social.

 


 

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