Aulas (1-20)
Aula 1-2 (16 [3.ª], 17 [4.ª],
19/set [1.ª]) Os parágrafos que se seguem tratam do autor de que este ano mais
falaremos, Fernando Pessoa. Deves assinalar a sua veracidade (V) ou falsidade (F). Estão escondidas subtis impossibilidades, anacronias, mas
também é preciso ter em conta que Fernando Pessoa tinha efetivamente muitas
idiossincrasias.
Fernando Pessoa chamava-se
António porque nasceu no dia de Santo António (em Lisboa, no Largo de São
Carlos, a 13 de junho de 1888).
Estudou em Durban (na
atual África do Sul, na região de Natal, então uma colónia inglesa), onde o
padrasto era cônsul. Aprendeu a dominar tão bem o inglês, que venceu prémios
literários e se distinguiu como o melhor aluno da região (o que aliás, em princípio,
lhe deveria ter dado acesso a Oxford — era o prémio oficial —, mas não
aconteceu).
Fernando Pessoa e o
Mahatma Gandhi viveram ambos na África do Sul pela mesma época (no início do
século XX).
Fazendo-se passar por
psiquiatra, com o nome de Faustino Antunes, por razões clínicas interessado em
informar-se sobre a saúde mental de um seu paciente — precisamente, o próprio
Pessoa —, já em Lisboa, em 1907, Fernando Pessoa escreveu a antigos professores
e condiscípulos da Durban High School, a pedir-lhes um retrato psicológico
daquele seu suposto doente. Houve respostas, cuidadosas e detalhadas.
Com vinte um anos, em
agosto de 1909, Pessoa viajou até Portalegre, para ir comprar maquinaria de
tipografia. É provável que nos vinte e seis anos que se seguiram, até à sua
morte, pouco mais tenha saído para lá dos arredores de Lisboa. Quanto à
tipografia que foi comprar (para a Empresa Íbis, Tipográfica e Editora), quase
nada nela se imprimiu.
Na Olisipo, editora que
criou, Pessoa publicou livros considerados escandalosos, como as Canções, de António Botto, poeta,
homossexual (e assumido frequentador dos urinóis de Lisboa), ou Sodoma divinizada, de Raul Leal, que
tinha «uma pulsão irresistível para o bizarro e o excessivo». Pessoa defendeu
sempre a liberdade de expressão, sem receio de afrontar as indignações e os
movimentos de censura.
O poema em inglês Antinous (1918), raro caso de livro de
Pessoa publicado em vida, hoje dir-se-ia ser de apologia da pedofilia e o
próprio poeta o considerava obsceno.
Os heterónimos são autores
fictícios, com biografias inventadas por Pessoa, cujos nomes subscrevem textos
concebidos pelo poeta nos estilos de cada um. Os mais importantes, os
verdadeiros heterónimos, serão Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis.
Costuma ser referido como semi-heterónimo Bernardo Soares. No entanto, se
quisermos considerar os vários autores fictícios criados por Pessoa,
contabilizaremos cento e trinta e seis.
Um dos heterónimos de
Pessoa — e que é autor de contos policiais em inglês — chama-se Cocó.
Nos primeiros trinta e
dois anos de vida, Pessoa mudou de residência mais de vinte vezes, tendo
chegado a morar na área do Agrupamento de escolas de Benfica.
«Amorzinho», «Terrível
Bebé», «Vespa vespíssima», «Bebé fera», «Bebezinho mau», «Ophelinha pequena»,
«Bombom», «Boquinha doce», «Minha bonequinha»,
«Meu Íbis chamado Ophélia», «Íbis do Íbis da Íbis do Íbis», «Bebé rabino»,
«Bebé do Nininho», «Anjinho bebé», «Anjinha bué lindinha» e «Nenuquinho
fofinho» são nomes carinhosos por que Fernando (Pessoa), nas suas cartas de
amor, trata Ofélia (Queirós), com quem namoriscou em 1920 e no final de 1929.
Há poemas de Pessoa
escritos em sessões de espiritismo e a meias com espíritos. A letra de Pessoa
surge-nos então com um desenho diferente.
O aforismo «Penso logo
existo» é da autoria de Pessoa.
O texto «Ultimatum», do
heterónimo Álvaro de Campos, publicado em 1917 no número único da Portugal Futurista, inclui, a letras
garrafais, a exclamação «Cocó!».
Pessoa teve intervenção
decisiva num episódio espetacular que envolveu o mágico internacional, e
espião, Aleister Crowley, que se teria suicidado (ou teria sido assassinado) na
Boca do Inferno.
O poema de Álvaro de
Campos cujo primeiro verso é «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Cintra»,
de 1928, teve que ver com a promoção de um modelo daquela marca de automóveis
que acabava de ser comercializado em Portugal.
Fernando Pessoa deu-se
sempre bem com padrasto, com o irmão do padrasto e com o cunhado com que teve
de coabitar.
Ia aos escritórios em que
trabalhava também ao domingo.
Foi dispensado da
colaboração em O Jornal porque a
Associação dos Motoristas de Lisboa protestou, ofendida com uma referência que
Pessoa fizera numa das suas crónicas aos chauffeurs
(que, segundo ele, guiariam mal).
Já no último ano de vida,
em 1935, Pessoa não compareceu na sessão de entrega de prémios de concurso
literário do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional), que vencera na
categoria ‘poema’, com o livro Mensagem,
no valor de cinco mil escudos (correspondente a mais do que um salário anual de
um professor).
Como causa da morte de
Fernando Pessoa, a 30 de novembro de 1935, tem-se indicado uma crise hepática
(teria o fígado demasiado deteriorado pelo muito que bebia). A última frase que
escreveu, já no Hospital de São Luís dos Franceses, para onde fora levado dois
dias antes, foi «I know not what tomorrow will bring».
Veremos o episódio de As minhas coisas favoritas (de Nuno Markl) de que trata «Letras Prévias», na p. 14 do manual, «Aqueles momentos imediatamente a seguir a acabar um livro incrível».
Não vale a pena, porém,
seguir muito o que se indica aí, a não ser talvez para decidir a resposta do
ponto 1.3:
1.3. Seleciona opção que
completa adequadamente a frase.
No final da rubrica
radiofónica, os locutores trocam impressões sobre
(A) autores preferidos.
(B) questões práticas de
leitura.
(C) aspetos gráficos dos
livros.
(D) experiências de
leitura da mesma obra.
Eis os títulos de outras
crónicas de Nuno Markl sobre as minhas coisas favoritas:
Arrancar um autocolante de
uma vez.
Escrever com um lápis bem
afiado.
A maneira como os cães nos
recebem.
Meter os pés na areia
molhada.
Cafuné.
Pizza.
Lojas chinesas.
Quando o gelado sai com a
consistência perfeita.
Entrar numa casa de banho
pública vazia.
Quando chega uma
encomenda.
Partir um ovo de maneira
perfeita.
Conseguir tirar uma coisa
presa no dente.
Comer coisas extremamente
tostadas.
Acordar e perceber que é
sábado.
Frascos que a abrir fazem
«ploc».
A chuva.
Ver filmes de terror.
Tirar um soutien ao fim do
dia.
Uma alegria do
estacionamento.
Entrar numa cama lavada.
Chegar a casa.
Karaoke.
Dar a coisa certa aos
entes queridos.
Mexer em barrigas de cães
oferecidos.
Tomar duche depois de um
treino.
Buffet de pequeno-almoço
de hotel.
Segundos de amor numa
escada rolante.
Acompanhar sopa com
batatas fritas.
Encontrar objetos de
infância na casa dos pais.
Comer chantilly da lata.
Sestas.
Cantar no carro.
Ter conversas profundas
com os filhos.
O momento mágico em que
uma cãibra desaparece.
Esvaziar o recycle bin no
computador.
A semana entre o Natal e o
Ano Novo.
Ir a hortos.
Pôr um bebé a arrotar.
Encontrar dinheiro em
bolsos de casacos.
Encontrar lugar à porta.
Séries, podcasts e
documentários de crimes reais.
Ter o carro lavado.
Rebentar bolhas de
plástico de embalagens.
Coçar as costas.
Gomas.
Dar banho ao cão.
Sem repetires nenhum dos
itens em cima, escreve uma lista tua de «coisas favoritas», procurando
seguir o estilo adotado por Markl:
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Escreve, com um
desenvolvimento semelhante ao das crónicas que vimos, um texto sobre uma — só
uma — das tuas coisas favoritas.
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TPC
— Em Gaveta de Nuvens lê «Preceitos para o trabalho ao longo do ano».
Aula 3 (18 [3.ª], 19/set [1.ª, 4.ª]) Lê este poema de Cesário Verde:
De
verão
I
No campo; eu acho nele a musa que me anima:
A
claridade, a robustez, a ação.
Esta
manhã, saí com minha prima,
Em
quem eu noto a mais sincera estima
E
a mais completa e séria educação.
II
Criança encantadora! Eu
mal esboço o quadro
Da
lírica excursão, de intimidade.
Não
pinto a velha ermida com seu adro;
Sei
só desenho de compasso e esquadro,
Respiro
indústria, paz, salubridade.
III
Andam cantando aos bois; vamos cortando as leiras;
E
tu dizias: «Fumas? E as fagulhas?
Apaga
o teu cachimbo junto às eiras;
Colhe-me
uns brincos rubros nas ginjeiras!
Quanto
me alegra a calma das debulhas!»
IV
E perguntavas sobre os últimos inventos
Agrícolas.
Que aldeias tão lavadas!
Bons
ares! Boa luz! Bons alimentos!
Olha:
Os saloios vivos, corpulentos,
Como
nos fazem grandes barretadas!
V
Voltemos! No ribeiro abundam as ramagens
Dos
olivais escuros. Onde irás?
Regressam
os rebanhos das pastagens;
Ondeiam
milhos, nuvens e miragens,
E,
silencioso, eu fico para trás.
VI
Numa
colina brilha um lugar caiado.
Belo!
E, arrimada ao cabo da sombrinha,
Com
teu chapéu de palha, desabado,
Tu
continuas na azinhaga; ao lado,
Verdeja,
vicejante, a nossa vinha.
VII
Nisto,
parando, como alguém que se analisa,
Sem
desprender do chão teus olhos castos,
Tu
começaste, harmónica, indecisa,
A
arregaçar a chita, alegre e lisa,
Da
tua cauda um poucochinho a rastos.
VIII
Espreitam-te,
por cima, as frestas dos celeiros;
O
sol abrasa as terras já ceifadas,
E
alvejam-te, na sombra dos pinheiros,
Sobre
os teus pés decentes, verdadeiros,
As
saias curtas, frescas, engomadas.
IX
E,
como quem saltasse, extravagantemente,
Um
rego de água sem se enxovalhar,
Tu,
a austera, a gentil, a inteligente,
Depois
de bem composta, deste à frente
Uma
pernada cómica, vulgar!
X
Exótica!
E cheguei-me ao pé de ti. Que vejo!
No
atalho enxuto, e branco das espigas
Caídas
das carradas no salmejo,
Esguio
e a negrejar em um cortejo,
Destaca-se
um carreiro de formigas.
XI
Elas,
em sociedade, espertas, diligentes.
Na
natureza trémula de sede,
Arrastam
bichos, uvas e sementes
E
atulham, por instinto, previdentes,
Seus
antros quase ocultos na parede.
XII
E
eu desatei a rir como qualquer macaco!
«Tu
não as esmagares contra o solo!»
E
ria-me, eu ocioso, inútil, fraco,
Eu
de jasmim na casa do casaco
E
de óculo deitado a tiracolo!
XIII
«As
ladras da colheita! Eu, se trouxesse agora
Um
sublimado corrosivo, uns pós
De
solimão, eu, sem maior demora,
Envenená-las-ia!
Tu, por ora,
Preferes
o romântico ao feroz.
XIV
Que compaixão! Julgava até que matarias
Esses insetos importunos! Basta.
Merecem-te espantosas simpatias?
Eu felicito suas senhorias,
Que honraste com um pulo de ginasta!»
XV
E enfim calei-me. Os teus cabelos muito loiros
Luziam,
com doçura, honestamente;
De
longe o trigo em monte, e os calcadoiros,
Lembravam-me
fusões de imensos oiros,
E
o mar um prado verde e florescente.
XVI
Vibravam,
na campina, as chocas da manada;
Vinham
uns carros a gemer no outeiro,
E
finalmente, enérgica, zangada,
Tu,
inda assim bastante envergonhada,
Volveste-me,
apontando o formigueiro:
XVII
«Não me incomode, não, com ditos detestáveis!
Não
seja simplesmente um zombador!
Estas
mineiras negras, incansáveis,
São
mais economistas, mais notáveis,
E
mais trabalhadoras que o senhor!»
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde, 1887
Para as estrofes de «De verão», de Cesário Verde, dar-te-ei hipóteses de títulos, frases alusivas,
meras observações a aspetos de ordem estilística. Escolhe a melhor dessas
quatro opções (relativas a cada uma das quintilhas I a XVII):
I
a) A luz do campo inspira-me!
b) A minha prima inspira-me!
c) A musa da poesia inspira-me!
d) Gosto da irreverência da priminha.
II
a) O poeta está doente.
b) Prefere a cidade, industrial, ao campo,
envelhecido.
c) Detestável prima!
d) Não conseguirá dar notícia de tudo o que se
passou.
III
a) Está-se bem no campo!
b) Que seca!
c) É perigoso fumar junto às eiras.
d) A observação do trabalho dos outros é já por si
cansativa.
IV
a) Os saloios são uns mentirosos.
b) Rudes mas delicados, os saloios.
c) A agricultura está demasiado industrializada.
d) No campo, todos são muito lavados.
V
a) Decide-se o regresso. Estou pensativo.
b) A prima é demasiado rápida; não a acompanho.
c) A prima entra por um olival.
d) Pôs-se frio.
VI
a) «Verdeja, vicejante, a nossa vinha» contém uma
aliteração.
b) Tudo isto me enoja!
c) O poeta (e a prima) são donos de uma vinha.
d) Vá lá, despacha-te!
VII
a) Afinal, a prima é uma sereia.
b) O poeta entrevê o rabo da prima.
c) A iguana comprada pela prima rasteja.
d) Um instantâneo: a prima ergue um pouco a saia.
VIII
a) Uma minissaia (que desconcentra o poeta).
b) Vê-se a roupa interior da prima.
c) Há fogo na seara.
d) As mulheres, ao longe, usam saias curtas,
brancas, engomadas.
IX
a) Uma polaroid: a prima a alongar a perna.
b) És muito séria, pois, mas dás as tuas pernadas,
não é?!
c) Uma pernada cósmica!
d) Um momento ordinário.
X
a) Olhando o chão, um pormenor.
b) As espigas caíram.
c) Salmões.
d) Sem a prima notar, o poeta aproxima-se.
XI
a) A sociedade na aldeia.
b) As pessoas da aldeia atulham as casas de animais
e sementes.
c) Como são repelentes os bichos!
d) Para uma sociologia das formigas.
XII
a) O poeta usava uma flor.
b) O poeta ofereceu um jasmim à prima.
c) O poeta estava deitado.
d) O poeta usava óculos.
XIII
a) «As ladras da colheita» são as aves.
b) «As ladras da colheita» são as formigas.
c) «As ladras da colheita» são as aldeãs pobres.
d) «As ladras da colheita» são as raparigas que
sejam como a prima.
XIV
a) O poeta deu um pulo de ginasta.
b) A prima tivera o cuidado de não esmagar as
formigas.
c) «Suas senhorias» são as espigas.
d) A prima não teve compaixão com os pobres insetos.
XV
a) O poeta avistou uma serra, onde havia trigo.
b) Aspetos cromáticos.
c) Amuei.
d) Ao longe, o mar.
XVI
a) Cocó.
b) Envergonhada por ter calcado as formigas.
c) Genuinamente zangada.
d) Futilidades.
XVII
a) A prima replica à ironia do poeta também na
brincadeira.
b) A prima acha que aquele senhor é realmente
preguiçoso.
c) A prima enfurece-se com a falta de compaixão
pelos animais revelada pelo poeta.
d) A prima detesta insetos.
Ficam aqui algumas
estâncias de «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde, talvez as mais aproveitáveis numa
resposta ao item 7 da prova de exame que lhes será mostrada:
[estrofes 9-11
da parte I, «Ave Marias»:]
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infeção!
[estrofes 9-10 da parte II, «Noite Fechada»:]
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas
[estrofes 9-11 da parte III, «Ao Gás»:]
Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós de arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se, nas frentes,
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
«Dó da miséria!… Compaixão de mim!…»
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-nos sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de latim!
A prova do exame nacional de 2021, 2.ª fase, trazia um item sobre Cesário Verde. Era o item 7 do grupo
I (parte C), que é sempre uma pergunta para «expor matéria», em geral sem apoio
em texto dado. (Na resposta já resolvi a introdução e a conclusão.)
7. Tal como no excerto do
conto que acabou de ler o narrador repara na figura do «padeiro» que distribui
«pão fresco», também no poema «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde, o
olhar do sujeito poético se detém, frequentemente, naqueles que trabalham.
Escreva uma breve exposição sobre a «Dor humana» sentida por aqueles que
trabalham, no poema «O Sentimento dum Ocidental». A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual
refira de que modo duas das personagens observadas pelo sujeito poético
comprovam o sofrimento daqueles que trabalham;
• uma conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
O sujeito poético de «O Sentimento dum Ocidental» deambula e observa, sempre muito sensorialmente. Confessa que as ruas de Lisboa, ao entardecer, fazem que tenha um «desejo absurdo de sofrer». Além disso, parece atento ao mal-estar dos outros.
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Resta saber se estas
alusões à dor humana não decorrem em parte de uma propensão, que vemos em
outros textos de Cesário Verde, para a admiração estética por quem enfrenta as
condições adversas com ousadia física.
Na
p. 415 do manual reproduz-se um outro item 7 de prova de exame em torno de
Cesário Verde. Neste caso, o assunto da exposição era ‘a representação da
cidade na poesia de Cesário’. Lê os conselhos aí dados sobre como responder a
este tipo de itens e o exemplo de solução para a pergunta em causa. (As páginas
112, 113 e 114 são também de revisão de «O Sentimento dum Ocidental».)
TPC — Quando puderes, lê o
capítulo ensaístico sobre «O Sentimento dum Ocidental» (de Hélder Macedo, Nós
—uma leitura de Cesário Verde, pp. 165-191) copiado em Gaveta de Nuvens.
Ainda é um ensaio longo e denso, por isso não estabeleço um prazo para esta
leitura. Vai lendo quando puderes.
Aula 4-5 (19 [3.ª], 20/set [1.ª, 4.ª]) Correção de «As minhas coisas favoritas». Debruça-te sobre o poema na p. 33 — «A ceifeira», de Fernando Pessoa. Completa as lacunas nas respostas que se seguem.
[Sobre as três primeiras estrofes (1-3), em que o
poeta se detém na ceifeira]
Como
caracteriza o poeta o canto da ceifeira?
O
canto da ceifeira brota de uma voz simultaneamente alegre e _______, é suave e
musical como um ______.
Que
recursos estilísticos melhor contribuem para essa caracterização?
A
expressão «a sua voz, cheia / de
alegre e anónima viuvez» (vv. 3-4) contém uma dupla ______ e um paradoxo
expressivos; igualmente significante é a metáfora «_____» (v. 5).
A
«pobre ceifeira» canta, «julgando-se feliz» (1-2). Explica o efeito semântico
da anteposição do adjetivo «pobre» ao nome «ceifeira».
O
adjetivo «pobre», anteposto
ao substantivo «ceifeira», expressa
a apreciação {escolhe}
subjetiva/objetiva que o sujeito poético faz da mulher — ‘pobre’, porque não
sabe. Se o mesmo adjetivo estivesse colocado depois do substantivo, indicaria a
condição social da ceifeira (e teria então o seu valor {escolhe} conotativo/denotativo).
O
que sente o poeta ao ouvir o canto?
Ao
ouvir o canto, o poeta sente-se, paradoxalmente, ____ e ____.
[Sobre as três estrofes finais (4-6), em que o poeta se analisa a si próprio]
«Ah,
canta, canta sem razão! / O que em mim sente ‘stá pensando» (vv. 13/14). Mostra
como estes versos exprimem a antítese ceifeira/poeta (sentir/pensar).
A
ceifeira canta «sem razão», isto é, sem pensar. Pelo contrário, o sujeito
poético, que sente tristeza e alegria ao ouvir o canto, pensa no que sente, não
consegue sentir sem ____. Nele, a sensação converte-se em ______,
intelectualiza-se.
Explicita
a ambição paradoxal que o poeta expressa no final do poema.
O
poeta gostaria de ser a ceifeira com a sua «alegre inconsciência», o que é o mesmo que dizer que
gostaria de sentir sem pensar, mas gostaria, simultaneamente, de ser ele mesmo,
de ter a consciência de ser ________. O que o poeta deseja, afinal, é unir o
sentir ao ______.
«A
ciência / pesa tanto e a vida é tão breve!» (vv. 20-21). Que sentimentos o
poeta exprime com esta afirmação?
É com tristeza e desolação que o poeta afirma a consciência que
tem do peso da ciência, do pensamento, que impede que a vida, que é tão breve,
seja vivida inconsciente e _____.
Identifica
o desejo que o poeta expressa no final do poema (vv. 19-24).
No
final do poema, o poeta exprime o desejo de se deixar invadir e conduzir pelas
sensações despertadas pela _______ — o céu, o campo — e pelo canto da ceifeira.
Este desejo de sentir equivale ao desejo de não _____.
Veremos um sketch
com ceifeiras (série Barbosa) que nos mostra um «mundo ao contrário» do de
Pessoa. A genuinidade das ceifeiras é aqui procurada por um jornalista que, se
não lhes inveja a inocência, pelo menos acredita na sua espontaneidade, que
pretende aproveitar numa reportagem «etnográfica». Esta presunção de
superioridade — o jornalista crê ser mais racional do que a boa gente do campo,
que julga submissa — vai ser beliscada pela progressiva revelação das alegadas
simples mulheres rústicas.
Passa ao poema, também do Pessoa ortónimo, «Gato que brincas
na rua» (na p. 32). Porei no quadro o que pretendo faças com ele:
Estabelece a relação entre os dois textos («Gato
que brincas na rua» e «A ceifeira»), no que diz respeito ao desejo impossível
expresso em ambos — compatibilizar o sentir e o pensar. Inclui duas ou três
citações de «Gato que brincas na rua». Cerca de cem palavras. A caneta.
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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«Pensar Cansa» (Fricção Científica, por Isilda Sanches)
TPC
— Em Gaveta de Nuvens lê «Carta deFernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos».
Aula 6-7 (23 [3.ª], 24 [4.ª], 26/set [1.ª]) Correção do comentário sobre «A ceifeira»/«Gato que brincas na rua».
Quase anónima sorris
E o sol doura o teu
cabelo.
Porque é que, pr’a ser
feliz,
É preciso não sabê-lo?
Fernando Pessoa, Poesias Inéditas
(1930-1935), Lisboa, Ática, 1955
Nesta quadra de Fernando
Pessoa há uma falha de coesão frásica (justificada pela intenção de
fazer rima e pelo estatuto, entre o da imitação de quadra popular e o da
brincadeira assumida, que tem este quarteto). Reescreve o último verso já
corrigido:
v. 3
Porque é que, pr’a ser feliz,
v. 4 __________________
O que faz que o pronome
(«__») tenha de ficar anteposto ao verbo (o infinitivo «saber») é o facto de a
frase ser __________.
Vejamos algumas circunstâncias que obrigam
à alteração da ordem mais normal no português europeu (a da {escolhe} próclise / mesóclise /
ênclise): estar a frase na negativa,
ficar o pronome numa subordinada
completiva, tratar-se da variante
sul-americana do português, ter a frase certos advérbios. Completa a coluna da direita:
Stora, por favor, dê-mo. |
negativa > |
Stora, por favor, não ______. |
Comprei-o. |
subordinação
completiva
> |
Já te disse que ______. |
Gyökeres revelou-se um craque. |
variante
brasileira
> |
Gyökeres ______ um craque. |
Registo-o. |
presença de
certos advérbios > |
Talvez _____. |
Dístico
Ó meu menino que brincas
o dia todo na rua
e ainda pensas que a Vida
é só a vida que é tua,
fica lá no teu engano.
Não perguntes, não te
apresses.
Sobra tempo p’ra saberes
coisas que antes não
soubesses.
Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo, Mem Martins, Arrábida, 2004
Estabelece analogias entre
«Dístico», de Sebastião da Gama, e «Gato que brincas na rua» (p. 32), de
Fernando Pessoa, completando a minha resposta:
O tema de «Dístico», de
Sebastião da Gama, é quase o mesmo do do poema de Pessoa «Gato que brincas na
rua» — também aqui o sujeito poético se dirige a . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . —, mas a perspetiva
é diferente: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .
Qual é o vocativo da
quintilha? Faltará alguma vírgula?
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .
. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Explica o título «Dístico»
(sabendo que não se trata de uma estrofe de dois versos, um dos significados da
palavra).
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .
. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cria um título, também de
uma só palavra, para «Gato que brincas na rua» (não, não pode ser «Gato»; nem
«Brincadeira», nem «Rua», nem «Que»).
______________________
Exemplo de redação
possível do comentário em torno de «A ceifeira» e «Gato que brincas na rua»,
dois poemas de Fernando Pessoa ele-mesmo:
Em ambos os poemas o tema
é a dor de pensar provocada pela intelectualização do sentir. O poeta gostaria
de ser como a ceifeira, ter a sua alegre inconsciência, mas, ao mesmo tempo,
saber-se possuidor dessa inconsciência. Do mesmo modo, gostaria de ser como o
gato que apenas sente («sentes só o que sentes», v. 8) e, por isso, é feliz
(«és feliz porque és assim», v. 9), enquanto o poeta pensa («vejo-me e estou
sem mim, / conheço-me e não sou eu», vv. 11-12).
[85
palavras]
Para
ires resolvendo os quatro itens de «Gramática», na p. 34:
Em
cada um dos itens, seleciona a opção correta.
1.
Nos versos «Entrai por mim dentro! Tornai / Minha alma a vossa sombra leve!»
(vv. 22-23), a dêixis pessoal
é assegurada
(A) pelo pronome pessoal
e pelos determinantes possessivos.
(B) pelas formas verbais
e pelo pronome pessoal.
(C) pelos determinantes
possessivos, pelo pronome pessoal e pelas formas verbais.
(D) pelos nomes, pelo
adjetivo e pelos determinantes possessivos.
2. As expressões «de
alegre e anónima viuvez» (v. 4) e «a vossa sombra leve» (v. 23) desempenham,
respetivamente, as funções sintáticas
de
(A) complemento do nome
e predicativo do complemento direto.
(B) complemento do
adjetivo e modificador restritivo do nome.
(C) complemento do nome
e predicativo do sujeito.
(D) complemento do
adjetivo e predicativo do complemento direto.
3. Todas as expressões
desempenham a função sintática
de complemento direto exceto
(A) «o campo e a lida»
(v. 10).
(B) «A tua incerta voz
ondeando» (v. 16).
(C) «tão breve» (v. 21).
(D) «me» (v. 24).
4. O verso «O que em mim
sente ‘stá pensando» (v. 14) integra uma oração
subordinada
(A) substantiva
completiva, com a função sintática de sujeito.
(B) substantiva
relativa, com a função sintática de sujeito.
(C) substantiva
completiva, com a função sintática de complemento direto.
(D) substantiva
relativa, com a função sintática de predicativo do sujeito.
Muitos romances,
contos e filmes têm tomado a figura de Fernando Pessoa (ou dos seus
heterónimos) como personagem, mais ou menos ficcionada depois. Escreve tu
também um trecho narrativo — que seria fragmento de um texto «literário»
maior que não tem de ficar completo — cujo início será o apontamento que copiei
do espólio de Pessoa e se percebe ser um recado deixado por uma Adelaide.
O narrador pode ser
homodiegético ou heterodiegético. Aliás, todos os aspetos da estrutura
narrativa ficam ao teu critério. (E não tens de te preocupar demasiado com a
coerência com dados históricos da biografia de Pessoa.)
“Sr. Pessoa,
Precisei de sair. Está o
jantar pronto: é só sentar à mesa, tirar do lume e comer.
Adelaide”.
.
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TPC
— Não esqueças a leitura da longa carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro acerca da génese dos heterónimos, reproduzida em Gaveta de Nuvens.
Aula 8 (24 [1.ª], 25 [3.ª], 26/set [4.ª]) Correção de questionário sobre «De Verão», de Cesário Verde.
Solução possível para o
item 7 sobre a dor humana em «O Sentimento dum Ocidental»:
O sujeito poético de «O
Sentimento dum Ocidental» deambula e observa, sempre muito sensorialmente.
Confessa que as ruas de Lisboa, ao entardecer, lhe despertam «um desejo absurdo
de sofrer». Além disso, parece atento ao mal-estar dos outros.
Se admira o vigor das
varinas, não deixa de fazer notar as condições de vida degradantes destas
representantes do povo: trabalham todo o dia descalças nas descargas de carvão,
transportam os filhos nas canastras e vivem em bairros sem condições sanitárias
e onde proliferam doenças. Outra menção às dificuldades de quem trabalha pode
encontrar-se na caracterização das costureiras e das floristas, a quem custa
elevar os pescoços (porque trabalham diariamente curvadas) e que, à noite,
trabalham no teatro como comparsas ou coristas, representando assim o trabalho
árduo do povo para sobreviver. Quanto à menção ao professor de Latim, agora
pedinte, mostra a falta de apoio na velhice a quem dedicou a vida ao trabalho,
significando a sensibilidade do poeta às injustiças sociais.
Resta saber se estas
alusões à dor humana não decorrem em parte de uma propensão, que vemos em
outros textos de Cesário Verde, para a admiração estética por quem enfrenta as
condições adversas com ousadia física, como acontecia com a regateira de «Num
bairro moderno» ou com os calceteiros de «Cristalizações».
Na p. 37, responde ao item
1 («Identifica as ideias-chave de cada um dos excertos»), completando o
que já fui escrevendo:
A dor de pensar envolve:
— «um estado emotivo
perturbado e ______»;
— a _____ de
verdadeiramente sentir;
— a recusa da interrogação
e da ______ dos sentimentos;
— uma ______ extrema.
Em pouco mais de oitenta
palavras, resolve o ponto 2 da p. 37:
Escuta atentamente o tema
musical «Talvez se eu dançasse», de Miguel Araújo, e explica em que medida a
«luta» do sujeito enunciador da canção se aproxima da dor de pensar pessoana.
Inclui citações da letra
(de preferência, incrustadas na tua sintaxe).
. . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . .
Exemplo de redação possível:
O «eu» da canção vive
«sempre em supervisão de [si]», em contínuo processo de autoanálise. O excesso
de «autoconsciência» fá-lo estar sempre «à espreita», em autocontrolo. A sua
«luta» por deixar de estar sempre «alerta, atento» aproxima-se do desejo manifestado
na poesia de Fernando Pessoa ortónimo de se libertar da racionalização e de
poder simplesmente sentir, tal como o sujeito de «Se eu dançasse» revela a
vontade de ser «leve», dançar e cantar, sem constrangimentos.
Nos espaços à direita da
letra da canção, escreve a função sintática dos constituintes que sublinhei:
Talvez
se eu dançasse
(Miguel Araújo)
Eu tenho uma noção de mim, ________
Perfeita noção de mim; ________
Tenho-me sempre à espreita, ________
Sob escuta atenta.
É uma luta, eu sei,
Tenho essa noção de mim.
Tenho
uma noção de mim, ________
Estreita noção de mim,
Debaixo de olho,
Alerta, atento,
Bem ciente do espelho, eu sei. ________
Eu tenho essa noção de mim.
Talvez
se alguém me jurasse ________
Que talvez ninguém soubesse,
Talvez até me convencesse, ________
Até me convencesse.
Talvez
se eu dançasse
Como se ninguém me visse, ________
Como se ninguém medisse os meus passos…
Talvez
se eu cantasse
Como se ninguém me ouvisse,
Como se ninguém contasse os compassos…
________
Eu
tenho uma visão de mim,
Sempre em supervisão de mim; ________
A autoconsciência armou o alarme
E dar-me eu já nem sei. ________
Eu tenho essa visão de mim.
Eu
tenho uma visão de mim,
Uma mais alta versão de mim,
Em que eu sou leve ________
E o que me leva é a vida inteira,
________
Inteiro até,
Uma mais alta versão de mim.
Talvez
se alguém me jurasse
Que talvez ninguém soubesse, ________
Talvez até me convencesse,
Até me convencesse.
Talvez
se eu dançasse
Como se ninguém me visse,
Como se ninguém medisse os meus passos…
________
Talvez
se eu cantasse
Como se ninguém me ouvisse, ________
Como se ninguém contasse os compassos…
Talvez
se eu dançasse …
TPC — Se puderes, relanceia a análise de «De Verão»
em Gaveta de Nuvens.
Nas pp. 52-54, vai relendo o excerto da carta de Fernando
Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, cuja versão integral sugerira que lesses
em Gaveta de Nuvens. O questionário,
ainda assim, tratará apenas das partes da carta que vêm no manual e não te
prejudicará não conheceres o texto na íntegra. Circunda em cada item a melhor
alínea.
Como acontece
habitualmente em textos do género epistolar, a seguir à data («Lisboa, 13 de
janeiro de 1935») surge um
a) sujeito (correspondente
ao sujeito poético).
b) sujeito (equivalente a
Adolfo Casais Monteiro).
c) vocativo
(correspondente ao remetente).
d) vocativo
(correspondente ao correspondente de Pessoa).
Entre as ll. 5 e 20,
Pessoa considera que a propensão para a criação heteronímica
a) não radica em
características mentais.
b) se deve a uma tendência
para a despersonalização e o fingimento.
c) foi exclusivamente
casual.
d) foi consequência de
trauma após pisadela de cocó de cão.
Entre as ll. 20-26, Pessoa
considera que os poemas de Álvaro de Campos
a) são um alarme para a
vizinhança.
b) não são um alarme para
a vizinhança.
c) foram escritos por
1912.
d) são histéricos.
Nas ll. 27-30, Pessoa
recorda
a) a tendência que sempre
tivera para produzir matéria orgânica.
b) a propensão que nele
sempre se manifestara para criar personagens fictícias.
c) a facilidade que sempre
revelara em se cercar de amigos e conhecidos.
d) a história direta dos
seus ortónimos.
Pessoa situa em 1912 os
primeiros poemas, de «índole pagã» (ll. 31-32 e 44-45)
a) assinados por Ricardo
Reis.
b) escritos por Álvaro de
Campos.
c) ao estilo de Ricardo
Reis.
d) ao estilo de Álvaro de
Campos.
O poeta bucólico que
Pessoa resolvera criar para fazer uma partida a Mário de Sá-Carneiro (ll.
33-42) foi
a) Álvaro de Campos.
b) Bernardo Soares.
c) Alberto Caeiro.
d) Ricardo Reis.
O heterónimo que Pessoa
diz ser mestre de todos os outros e até do ortónimo é (cfr. ll. 33-42)
a) Álvaro de Campos.
b) Fernando Pessoa.
c) Ricardo Reis.
d) Alberto Caeiro.
Pessoa considera 8 de
março de 1914 como o «dia triunfal da [sua] vida» (l. 39), porque foi nesse
momento que
a) pisou um cocó de cão
com interessante consistência, muito doce e simpático.
b) criou espontaneamente
uma série de textos de um dos heterónimos.
c) escreveu, com
elaboração cuidadosa e planeada, os primeiros poemas de Caeiro.
d) desistiu, finalmente,
de inventar um poeta bucólico.
O surgimento de Álvaro de
Campos é-nos descrito (ll. 43-48) como momento
a) calmo.
b) vertiginoso.
c) demorado.
d) planeado.
A «Ode triunfal», de
Álvaro de Campos, foi escrita
a) num avião a jato.
b) em 1914.
c) em Tavira.
d) no Brasil.
À época da enunciação — a
da escrita da carta —, ainda estavam vivos (ll. 49-76)
a) Caeiro, Campos, Reis.
b) Campos e Reis.
c) Reis e Caeiro.
d) Caeiro e Campos.
Os dois heterónimos de
Pessoa que aprenderam latim foram (cfr. ll. 68-76)
a) Alberto Caeiro e
Ricardo Reis.
b) Ricardo Reis e Álvaro
de Campos.
c) Alberto Caeiro e
Bernardo Soares.
d) Álvaro de Campos e
Alberto Caeiro.
As formações de Caeiro,
Campos e Reis, eram (cfr. ll. 49-76), respetivamente,
a) CEF de pastor; pintura;
línguas clássicas.
b) ensino secundário;
engenharia naval; medicina dentária.
c) instrução primária;
engenharia; medicina.
d) estilismo;
datilografia; genealogia.
Pessoa tinha de altura (cfr.
ll. 62-68)
a) 1,75 m.
b) 1,73 m.
c) 1,77 m.
d) 1,80 m.
O «Opiário» (ll. 74-75)
a) foi escrito em latim.
b) foi inspirado por
viagem ao Oriente.
c) é um poema de férias.
d) foi inspirado por ida
ao Parque das Nações.
O estímulo para escrever
em nome de Caeiro, Campos, Reis e Soares é, respetivamente (cfr. ll. 76-90),
a) cansaço e sono;
inspiração inesperada; decisão abstrata; impulso súbito.
b) inspiração inesperada;
impulso súbito; decisão abstrata, cansaço e sono.
c) decisão abstrata;
impulso súbito; cansaço e sono; inspiração inesperada.
d) inspiração inesperada;
cansaço e sono; decisão abstrata; impulso súbito.
Segundo ll. 80-90,
Bernardo Soares é um semi-heterónimo porque
a) é anão.
b) é um mutilado (maneta e
perneta).
c) não tem personalidade
completamente diferente da de Pessoa ele-mesmo.
d) é uma mutilação de
Pessoa.
Os protótipos textuais
mais presentes neste excerto de carta são
a) descritivo, expositivo,
instrucional.
b) conversacional,
argumentativo, instrucional.
c) descritivo, narrativo,
preditivo.
d) expositivo,
argumentativo, narrativo.
Se tiveres sido dos mais rápidos, na p. 51 lê o texto A,
sobre o significado de «heterónimo».
Lê depois também este excerto de «Opiário» (da fase
decadentista de Álvaro de Campos):
Opiário
Ao
senhor Mário de Sá-Carneiro
É antes do ópio que a
minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e
estiola
E eu vou buscar ao ópio
que consola
Um Oriente ao oriente do
Oriente.
Esta vida de bordo há-de
matar-me.
São dias só de febre na
cabeça
E, por mais que procure
até que adoeça,
Já não encontro a mola
p’ra adaptar-me.
Em paradoxo e
incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a
minha vida,
Onda onde o pundonor é uma
descida
E os próprios gozos
gânglios do meu mal.
É por um mecanismo de
desastres,
Uma engrenagem com
volantes falsos,
Que passo entre visões de
cadafalsos
Num jardim onde há flores
no ar, sem hastes.
Vou cambaleando através do
lavor
Duma vida-interior de
renda e laca.
Tenho a impressão de ter
em casa a faca
Com que foi degolado o
Precursor.
Ando expiando um crime
numa mala,
Que um avô meu cometeu por
requinte.
Tenho os nervos na forca,
vinte a vinte,
E caí no ópio como numa
vala.
Ao toque adormecido da
morfina
Perco-me em transparências
latejantes
E numa noite cheia de
brilhantes
Ergue-se a lua como a
minha Sina.
Eu, que fui sempre um mau
estudante, agora
Não faço mais que ver o
navio ir
Pelo canal de Suez a
conduzir
A minha vida, cânfora na
aurora.
Perdi os dias que já
aproveitara.
Trabalhei para ter só o
cansaço
Que é hoje em mim uma
espécie de braço
Que ao meu pescoço me
sufoca e ampara.
E fui criança como toda a
gente.
Nasci numa província
portuguesa
E tenho conhecido gente
inglesa
Que diz que eu sei inglês
perfeitamente.
Gostava de ter poemas e
novelas
Publicados por Plon e no Mércure,
Mas é impossível que esta
vida dure,
Se nesta viagem nem houve
procelas!
A vida a bordo é uma coisa
triste,
Embora a gente se divirta
às vezes.
Falo com alemães, suecos e
ingleses
E a minha mágoa de viver
persiste.
[...]
Eu fingi que estudei
engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a
Irlanda.
Meu coração é uma avozinha
que anda
Pedindo esmola às portas
da Alegria.
Não chegues a Port-Said,
navio de ferro!
Volta à direita, nem eu
sei para onde.
Passo os dias no smoking-room
com o conde —
Um escroc francês,
conde de fim de enterro.
Volto à Europa
descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta
sonambólico.
Eu sou monárquico mas não
católico
E gostava de ser as coisas
fortes.
Gostava de ter crenças e
dinheiro,
Ser vária gente insípida
que vi.
Hoje, afinal, não sou
senão, aqui,
Num navio qualquer um
passageiro.
[...]
[excertos de:] Álvaro de Campos, «Opiário», Fernando Pessoa, Poesia dos outros eus, edição de Richard
Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007
A curta-metragem Dia Triunfal,
de Rita Nunes, perverte o que se tem como certo
relativamente à génese dos heterónimos. O filme adota como título a expressão
de que Pessoa se serviu para designar o dia 8 de março de 1914, quando teria
escrito, «numa espécie de êxtase», dezenas de poemas de Alberto Caeiro
(seguindo-se Reis e Campos).
Escreve uma breve apreciação crítica (cfr. pp. 354-355) que se
debruce sobre como o filme propõe uma ficção alternativa à explicação, célebre,
dada por Pessoa
a Adolfo
Casais Monteiro
acerca da criação dos heterónimos.
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TPC
— Lê em Gaveta de Nuvens duas fichas do Caderno de Atividades já
corrigidas: uma ficha com poema de Fernando Pessoa ortónimo; outra com poema de Álvaro de Campos.
Aula 11-12 (30/set [3.ª], 1 [4.ª], 3/out [1.ª]) Correção de questionário de compreensão de carta sobre génese dos heterónimos.
O texto informativo que se
segue apresenta a obra de Álvaro de Campos. Atendendo às relações
indicadas entre parênteses, completa-o com os conectores apropriados, de
entre os transcritos abaixo:
| mas sobretudo | depois
da | e | não só | portanto | realmente | ao
mesmo tempo | por isso | igualmente | mas | ou |
em vez da |
Álvaro de Campos goza de
um estatuto especial entre os heterónimos, ____ (enumeração) por ser aquele que
tem um perfil biográfico mais completo, ____ (enumeração), porque Pessoa fez
dele um poeta atual, modernista e vanguardista [...].
Na época em que foi
criado, em conjunto com os outros heterónimos, a função de Campos estava, _____
(conclusão), circunscrita a um vanguardismo europeísta _____ (oposição) _______
(tempo) nacional, aproximando-se do Futurismo no que respeita ao culto das
tecnologias ______ (adição) da ciência moderna [...].
Foi ______ (confirmação) a
este heterónimo que Pessoa atribuiu a autoria de dois incisivos textos
programáticos do Modernismo: o «Ultimatum»,
que foi publicado em 1917 na revista Portugal
Futurista [...]; os «Apontamentos
para uma estética não aristotélica», que viram a luz na revista Athena (1924-1925), contêm a proposta de
uma nova estética, adaptada aos tempos modernos, e, ______ (consequência),
baseada na ideia de força ______ (contraste) aristotélica (10) _____
(alternativa) helénica ideia de beleza.
[...] «Opiário» representa
a época pré-modernista de Pessoa. Ficticiamente anterior às grandes odes
sensacionistas, foi _______ (certeza) composto vários meses ______
(sequencialização temporal) «Ode Triunfal».
[tarefa tirada do manual Expressões,
12.º ano, com texto de António Apolinário Lourenço]
Na p. 84 do manual,
resolve estes itens sobre Álvaro de Campos, depois de ouvirmos gravação
com texto de João Pedro George:
Nos itens 1. a 4.,
seleciona a opção correta.
1. No início do texto, a
apresentação de Álvaro de Campos como heterónimo que «se desprendia do seu
criador para ganhar vida própria» decorre, entre outros aspetos,
(A) do seu envolvimento nas interações sociais de
Pessoa.
(B) das diferenças entre a sua poesia e a do
ortónimo.
(C) da quantidade de elementos biográficos criados
por Pessoa.
(D) do seu posicionamento político divergente do
de Fernando Pessoa.
2. Relativamente a Fernando
Pessoa, Álvaro de Campos representa
(A) contraste.
(B) desinibição.
(C) rigor.
(D) imitação.
3. As odes produzidas por
Álvaro de Campos
(A) coincidem tematicamente com as odes de Ricardo
Reis.
(B) são marcadas por uma melancolia profunda.
(C) exaltam as viagens marítimas do passado.
(D) celebram a vida de forma efusiva.
4. Às duas fases da produção
poética de Álvaro de Campos corresponde, de acordo com o texto, um contraste
entre
(A) subjetividade e objetividade.
(B) tradição e modernidade.
(C) exterioridade e interioridade.
(D) realidade e ficção.
5. De acordo com a
informação apresentada, completa o esquema.
Fases da poesia de Álvaro
de Campos
Fase sensacionista |
Fase metafísica, _______ |
Características: sensibilidade
sobre-excitada, revolta interior, choque e _____, atenção à vida em renovação
constante, interesse pelo mundo ______, linguagem metafórica, discurso nem
sempre lógico. |
Características:_______, melancolia
profunda, intimismo, luta contra o excesso de _______. |
A «Ode triunfal»,
de Álvaro de Campos, é muito maior do que os excertos que vemos nas pp.
85-88 do manual (vai até lá). Como as outras grandes odes
futuristas-sensacionistas deste heterónimo («Ode marítima», «Saudação a Walt
Whitman», «A passagem das horas»), é um poema de várias páginas, torrencial.
(Como tepecê, aliás, sugiro que dês uma vista de olhos ao resto da «Ode triunfal», através de http://arquivopessoa.net/.)
Para já, ponho os versos
que se seguem ao v. 32 (a partir do qual o manual faz muitos cortes), mas sem
que cheguemos, sequer, a meio do poema. A fechar, incluí os versos que causaram
polémica há uns anos por terem sido censurados num manual (no nosso, optou-se
por nem chegar perto dessa parte).
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das
correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras
do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às
docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos
portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos
hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la
foule!
Tudo o que passa, tudo o que para às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente
bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família
vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa
o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por
dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam,
lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e
se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur
disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes
—
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta
branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para
mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis
vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da
agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da
Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos
escritórios!
[...]
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre
a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo
e amo-o! —
Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de
escada.
[...]
Uso um ensaio (que também
está no manual, na p. 91) — de Lino Moreira da Silva, sobre linguagem
da «Ode triunfal» — a que acrescentei, entre parênteses curvos, citações do
poema e, entre parênteses retos, os números dos versos. Completa essa minha
ampliação do original com os exemplos que encontres nas três estrofes iniciais
(vv. 1-32, pp. 85-86). (Pus ainda outros exemplos, de versos já não
reproduzidos no manual.)
E a preocupação do poeta é
ainda fazer corresponder o modo de exteriorização daquilo que sente àquilo que
diz que sente, isto é: o nível da expressão ao nível do conteúdo. E assim todas
essas manifestações da dinâmica da vida moderna são apresentadas por ele
repetitivamente, desordenadamente, em catadupa, sugerindo o movimento das
máquinas e a pressa em usufruir de tudo, em ser tudo e ser de tudo, a emoção e
a ansiedade que o invadem. [...]
Ao sentido de modernidade
que deseja transmitir, e a que recorre para sentir
tudo de todas as maneiras — conferindo poeticidade a temáticas não usuais,
como motores, fábricas, energia [...] —, faz o poeta corresponder um nível de
expressão carregado de nomes concretos e abstratos («Inconsciente», «Matéria»),
isolados ou em conjuntos («aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos,
mínimos, / Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, /
Engenhos, brocas, máquinas rotativas» [vv. 102-104]), fonemas substantivados
(«____ eterno» [v.
5]), topónimos («Panamá, Kiel, Suez» [108]), antropónimos («____», «Virgílio»,
«Alexandre», «_____»), estrangeirismos («souteneur»; «escrocs»; «la
foule»), maiúsculas desusadas («Momento», «Horizonte», «Nova Revelação»,
«Inconsciente», «Matéria»), adjetivação expressiva («excesso ______ de vós»
[14]), simples e múltipla («____ ruídos
______» [10]; «flora estupenda, negra, artificial e insaciável»),
polissíndetos («_______» [16]; «por
estas correias de transmissão __ por estes êmbolos __ por estes volantes»
[24]), metáforas («_______»
[25], «frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita» [112]), apóstrofes
(«____, _____» [5]), anáforas («______» [8-9]; «Amo-vos [...] /
Amo-vos»), personificações («________» [6]; «átomos que hão de _______» [22]), sinestesias («tenho os lábios secos […] / ______»
[10-11]; «bebedeira dos metais»; «rubro ruído»), perífrases, iterações (retoma
de «ó» de apóstrofes), gradações («Atirem-me para dentro das fornalhas! /
Metam-me debaixo dos comboios! / Espanquem-me a bordo de navios» [63-65]),
comparações («______» [15]; «exprimir-me
todo _______» [26]; «ser
completo como uma ____» [27]; «ir
na vida triunfante como um automóvel último-modelo» [28]; «um orçamento
é tão natural como uma árvore / e um parlamento tão belo como uma borboleta»),
neologismos («______» [28]; «aeroplanos»), grande variedade de formas verbais
(por todo o texto), advérbios expressivos («amo-vos carnivoramente»), gerúndios
expressivos («rugindo, rangendo,
ciciando, ______, ferreando» [25]), musicalidade e ritmo (por
todo o texto), aliterações («dolorosa luz das grandes ______» [1]; «rodas, engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno» [5]), interjeições («Olá», «Ah», «Eia», «Hup-lá», «Hé-lá»),
rimas internas, onomatopeias («_____»
[5] «Z-z-z-z-z-z-z-z-z!» [125]; «hô-ô-ô» [113]), etc...
E tudo isto surge
caoticamente e esfuziantemente organizado, em verso livre branco e estrofes
heteromórficas, manifestando euforia, descontrolo emocional, admiração pelo
progresso e pela técnica.
[Sobre a
forma da ode em Álvaro de Campos:]
«Definida como um poema
lírico dividido em estrofes semelhantes entre si pelo número e medida dos
versos [como sucede nas odes de Ricardo
Reis], a ode ganha em Campos características completamente
diversas. Trata-se, no seu caso, de composições em longos versos brancos,
alternando com versos curtos, à maneira de Walt Whitman. São odes futuristas,
destinadas a cantar (como se preceitua para este tipo de poema) a máquina e a
vida moderna.»
Manuela Parreira da Silva,
«Odes», Fernando Cabral Martins (coord.), Dicionário
de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Lisboa, Caminho, 2008
Depois de leres o trecho
sobre «ode» (e, especialmente, «ode» à Campos) que deixei em cima, escreve boa
parte de uma ode, ao estilo do Campos futurista-sensacionista, acerca de uma
realidade qualquer (que conheças suficientemente). Título será «Ode a/à/ao
______ {nome}» ou «Ode _______ {adjetivo}».
Ode ____________
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TPC — Dá uma vista de olhos
ao resto da «Ode triunfal», para que lincarei no tepecê em Gaveta
de Nuvens.
Aula 13 (1 [1.ª], 2 [3.ª], 3/out [4.ª]) Apreciação crítica de Dia Triunfal (correção e exemplo):
[Exemplo de apreciação
crítica sobre a curta-metragem Dia Triunfal:]
Rita Nunes vence sem
precisar de derrotar Fernando Pessoa
Dia Triunfal desafia-nos a imaginar
tudo ao contrário mas não se esquece de nos dar as âncoras para reconhecermos o
ponto de partida, o verdadeiro dia triunfal.
«Dia triunfal» foi como
Fernando Pessoa recordaria, decerto muito fantasiosamente, o dia 8 de março de
1914, quando lhe teriam surgido, num ímpeto, os primeiros poemas assinados
pelos heterónimos Alberto Caeiro (logo uma trintena de poesias de O
Guardador de Rebanhos), Ricardo Reis e Álvaro de Campos. O relato desse
momento «epifânico» está numa carta de mais de vinte anos depois enviada ao
mais jovem poeta, e fã de Pessoa, Adolfo Casais Monteiro. O fenómeno
heteronímico é talvez o aspeto mais sedutor da figura literária de Fernando
Pessoa, dado até o caráter lúdico implicado na criação de três
personagens-autores, ou quatro — se contarmos com o semi-heterónimo Bernardo
Soares —, embora se possa dizer que bastaria a produção ortónima para que
Pessoa já fosse, como é, um dos grandes escritores do século XX.
Na curta-metragem que
intitulou precisamente Dia Triunfal, Rita Nunes vira do avesso o
episódio já mítico, propondo-nos um novo enredo para a génese dos heterónimos.
A heteronímia seria afinal uma estratégia de cinco poetas menores, um golpe de
marketing genial, sugerido pelo mais histriónico e extrovertido dentre eles,
Álvaro de Campos. E se tivesse havido cinco autores de carne e osso que
resolvessem abdicar de publicidade individual em favor da glória de um só
deles, convenientemente determinado por sorteio? E, claro, para a nova
explicação poder aderir ao que firmou a história, o escolhido à sorte tinha de
ser Fernando Pessoa.
Apesar da assumida
desconfiança relativamente à história oficial da génese dos heterónimos, o
filme não deixa de aproveitar as idiossincrasias dos quatro. Talvez Ricardo
Reis seja um tanto desaproveitado (esperaríamos vê-lo a argumentar contra
táticas tão industriosas) e Bernardo Soares tenha saído demasiado caricatural
no seu estatuto de heterónimo secundário (por culpa também da representação
estilizada do jovem ator André Teodósio?). Ao contrário, nas cenas iniciais, em
ritmo vivo que resulta de se ir alternando a presença no ecrã dos quatro
poetas, vemo-los a saírem do seu ambiente — que funciona como um primeiro
emblema —, resultando ainda melhor o que se vai ouvindo à medida que percorrem
o caminho até ao café onde os espera Fernando Pessoa. São fragmentos de alguns
dos poemas mais conhecidos de cada um dos heterónimos — versos que se
constituem como segundo elemento identificador —, a que se juntam ainda as
indumentárias (o boné de Caeiro, o chapéu convencional de Reis, a camisola azul
de Campos).
É no esforço bem sucedido
que faz para que reconheçamos o que já sabemos dos heterónimos que reside boa
parte do mérito desta curta. Se é certo que é um interessante achado a novidade
da explicação para heteronímia e a surpresa no fecho do filme, esse sucesso
assenta bastante nos momentos anteriores em que fomos chamados ao exercício de
reconhecer os quatro perfis. Ou seja, de qualquer modo é sempre a invenção de
Pessoa que triunfa.
As subordinadas adverbiais desempenham funções sintáticas de modificadores (do grupo verbal — causais, finais, temporais, comparativas — ou da frase — condicionais e concessivas).
Nos cinco períodos a seguir (de «A sua tia faleceu derivado a
complicações», série Meireles), temos frases simples e frases complexas.
Todas elas têm um modificador (que,
neste caso, exprime causa), mas, por vezes, essa função é desempenhada por uma
oração (uma subordinada adverbial causal).
1. A sua tia faleceu devido a uma condição rara.
5. Como tinha um duende no
peito, a sua tia faleceu.
Distingue as frases complexas e as simples:
Têm duas orações as frases n.º __ e n.º __, que são também as
que têm dois predicados (cujas formas verbais são: ______ e _____; _____ e _____).
São, portanto, frases ________. Ao
contrário, são frases simples as n.º
__, n.º __ e n.º __, cada uma com uma única oração.
Em cada uma das duas frases complexas há uma oração subordinante e outra subordinada. Sublinha as orações
subordinantes (as que poderiam aparecer sozinhas) e circunda as subordinadas
(já fui dizendo que, neste caso, são subordinadas
adverbiais causais). As palavras que introduzem essas orações («porque» e
«____») são conjunções subordinativas
causais.
Regressemos às frases simples. Nelas, há um sujeito («_________») e um predicado, incluindo-se aí o modificador do grupo verbal
(respetivamente: «devido a uma condição rara», «________» e «______»).
Podemos reescrever as frases, substituindo os modificadores
não oracionais por orações [completa 2’ e 3’] e vice versa [completa 5’]. (Repara que já o fiz para 1 e para 4. Nas
orações há verbo, que marquei a itálico; nos modificadores não oracionais,
não.)
1. A sua tia faleceu
devido a uma condição rara.
1’. A sua tia faleceu | porque se deu uma condição rara.
2’. A sua tia faleceu | _____________________.
3’. A sua tia faleceu | visto que _______________.
4’. A sua tia faleceu por
causa da repetição da palavra «pinhal».
5. Como tinha um duende no peito, | a sua tia faleceu.
5’.
_______________________, a sua tia faleceu.
Quando a oração subordinada adverbial precede a subordinante
ou fica intercalada, deve ser isolada por vírgulas
(se estiver depois da subordinante, é aceitável que não se ponha vírgula,
embora, por mim, ainda prefira ir pondo vírgula também). A posição da subordinada causal relativamente à subordinante costuma
poder alterar-se (mas, por exemplo, no caso da frase 5 — com «como» —, a
subordinada tem de estar antes da subordinante).
Nota ainda que «A sua tia faleceu derivado a complicações» é
uma frase simples, em que «derivado a complicações» é o _________. No entanto,
a expressão «derivado a» não é correcta (o que se deve dizer é: «devido a»).
Nos três períodos que se seguem (6-8), temos exemplos de
frases com orações subordinadas
adverbiais causais não finitas
(infinitiva, gerundiva, participial). Distribui estas últimas designações por
cada uma das orações sublinhadas.
6. Por ter um duende no peito, a sua tia faleceu. —
______________
7. Tendo um duende no
peito, a sua tia faleceu. — ______________
8. Alojado o duende no
peito, a sua tia faleceu. — ______________
Transforma o modificador (do grupo verbal), que sublinhei,
numa oração subordinada adverbial causal.
Vim aqui de propósito por
causa dos carapaus à espanhola.
Vim aqui de propósito |
________________________
Transforma o modificador (do grupo verbal) sublinhado, que é
uma oração subordinada adverbial causal, num modificador não oracional.
Pedi-te para vires hoje aqui | porque eu ando aqui com um
problema.
Pedi-te para vires hoje
aqui ____________________________
Divide em orações e classifica-as (destaquei os verbos, porque
ajudam a identificar as orações):
Se quisesse bitoque, comia ao pé de casa, no
Aires.
_________________________
Abres a manteiga e os patês das
entradas com cuidado, comes tudo e, depois, enches os pacotes com
miolo de pão.
_________________________
Classifica as orações que já fui delimitando:
Aconselho-te | a não referires
o meu nome | quando andares a resolver esse assunto
_________________________
Fechas aquilo bem fechado | e,
depois, parece | que não foi encetado.
_________________________
Classifica as orações que sublinhei quanto à função sintática
que desempenham:
Olha este jogo | que eu inventei.
______________________
Olha | que são só dois douradinhos.
______________________
Fiz isso | antes de vir.
______________________
TPC
— No manual, percorre as páginas mais relacionadas com classificação de orações
(pp. 337-340); também úteis são as classificações de conjunções (pp. 323-324).
Aula 14-15 (3 [3.ª], 4/out [1.ª, 4.ª]) O poema em baixo — que ouvimos já — está datado de 21-10-1935, pouco mais de um mês antes de Pessoa morrer, sendo assinado por Álvaro de Campos. Não tem algumas das características do Campos futurista e sensacionista das odes nem da fase decadente (a do Campos jovem, a de «Opiário»).
Não modernizei a grafia (Pessoa
escrevia segundo a escrita comum antes da primeira reforma ortográfica, em 1911).
Atualiza tu a grafia, emendando o texto a lápis.
Há uma estrofe que traduz bem a reflexão que o Pessoa ortónimo fazia em «A ceifeira» e em «Gato que brincas na rua». É a ______ estrofe.
Todas as cartas de amor são
Ridiculas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridiculas.
Tambem escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridiculas.
As cartas de amor, se ha amor,
Têm de ser
Ridiculas.
Mas, afinal,
Só as creaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridiculas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridiculas.
A verdade é que hoje
As minhas memorias
D’essas cartas de amor
É que são
Ridiculas.
(Todas as palavras exdruxulas,
Como os sentimentos exdruxulos,
São naturalmente
Ridiculas.)
Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, edição de Cleonice Berardinelli, Lisboa, INCM, 1990
Passa agora a «Aniversário» (pp. 102-103), também deste Álvaro de Campos dito da fase intimista.
Transcreve algum verso em que se perceba ainda o problema existencial
que vimos em «Gato que brincas na rua», «A ceifeira» — do ortónimo — e, há pouco,
em «Todas as cartas de amor são ridículas», de Álvaro de Campos.
_______________
Entre as características de Campos (em parte, também encontráveis
no Campos das odes futuristas), vê o que esteja abonado em «Aniversário». Para isso,
transcreverás trechos de «Aniversário» que ilustrem cada um destes itens:
comparações inesperadas: _______________
metáforas inesperadas: _______________
exclamações: ______________
anáforas: ______________
apóstrofes: _______________
paradoxos: _______________
repetições: _______________
versos longos e livres: muitos
das primeiras estrofes, sobretudo.
articulados com alguns bastante curtos: os da última estrofe, por exemplo.
fuga para a recordação e/ou sonho: _______________
poetização do prosaico, comum e quotidiano: _________________
fragmentação do eu: _________________
angústia existencial: [todo
o texto, decerto]
O texto constrói-se a partir da memória de um tempo passado. Caracteriza
esse passado, considerando as duas primeiras estrofes.
O passado era o tempo da ________________.
Justifica o uso do pretérito imperfeito do indicativo nessas mesmas
estrofes.
_________________________.
Relaciona o quinto verso da terceira estrofe com a estrofe anterior.
Na infância, o sujeito poético era feliz, mas __________________.
Só no presente, em que já perdeu essa felicidade inocente da infância é que sabe
que ________________.
Explica o valor aspetual do pretérito perfeito usado nesta terceira
estrofe.
___________________________.
Mostra como, na estrofe 6, a memória do passado se sobrepõe ao
presente.
A expressão «Vejo tudo
outra vez» inicia a presentificação do passado que, assim, substitui o _______________.
Mostra como, à euforia dessa presentificação,
se segue a disforia da tomada de consciência.
À euforia do passado tornado presente segue-se, na estrofe seguinte,
a disforia da tomada de consciência de que é impossível recuperar _______________.
Numa telenovela brasileira
de há anos, uma personagem gostava de recitar trechos de poemas de Álvaro de
Campos (na telenovela diz-se serem de Fernando Pessoa, mas trata-se efetivamente
de textos assinados por Álvaro de Campos).
Transcrevo, a seguir, um deles
(«Na noite terrível, substância natural de todas as noites»). O outro, o «Poema
em linha reta», está no manual, na p. 95.
Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem
viver...
Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos
os universos.
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra
mim.
Poesias de Álvaro de Campos, Lisboa, Ática, 1944 (imp.
1993), p. 34
As palavras sublinhadas são
pronomes relativos (ou palavras
relativas); introduzem orações relativas. Reportam-se à expressão que as precede.
A sua função sintática na oração relativa é a que teria essa palavra. Diz
qual é em cada oração relativa:
oração adjetiva
relativa
Comi o gato | que brincava na rua | porque o tomei por uma
lebre.
[=
o qual] || função sintática de que: _____
oração
adjetiva relativa
Eram muito sofisticadas as ceifeiras | que o jornalista
entrevistou.
[as quais] || função sintática de que: _____
oração adjetiva relativa
A mercearia | onde vendem ópio | faliu.
[na
qual] || função sintática de onde: ______
Agora,
escreve a função sintática dos segmentos
sublinhados:
Bruno Fernandes|, que
eu considero bom jogador,| não escreve cartas ridículas | mas dá saltinhos ridículos
| ao marcar penáltis, | que enervam os guarda-redes.
função do primeiro que:
_______ || função do outro que: ________
Depois de vermos mais um trecho de Ruby Sparks, completa a tabela:
Livro escrito dentro do filme
Ruby Sparks |
Relato na carta a Adolfo Casais
Monteiro |
Autor |
|
____ (que é também personagem
do filme) |
Fernando
____ (que é também o herói da narrativa) |
Narrador |
|
Narrador é ________ (de 3.ª pessoa). Será, creio, omnisciente
mas, se bem me lembro, ocasionalmente com focalização _____ na personagem Calvin
(e, por essa via, indiretamente, talvez próximo do autor). |
Narrador é homodiegético (de ___ pessoa).
Não será propriamente omnisciente (é pouco realista um nar-rador interveniente
na ação saber tudo acerca de todos), mas, quando se reporta aos heterónimos, pa-rece
proceder como o típico narrador ______. |
Protagonistas |
|
Calvin (personagem que parece inspirada na realidade, isto é,
no ____, que aliás promete alterar-lhe o nome, para desfazer essa identidade)
e _____ (que não resulta de inspiração em alguém real preexistente, mas, ao contrário,
vem criar uma nova pessoa na realidade exterior à narrativa). |
______ (que seria o «mestre de todos»), Ricardo Reis, Álvaro
de Campos, os três verdadeiros heterónimos. Também se refere o semi-heterónimo
______ (que o narrador considera não ser muito diferente do próprio Pessoa) e
até personagens inventadas por Pessoa desde a infância. |
Retorno entre autor e personagens |
|
Autor pode conformar a intriga da narrativa que cria e, portanto,
também a caracterização da protagonista. Só que, neste caso, como a personagem
Ruby invade a realidade exterior ao romance, o autor molda também a própria vida,
na medida em que interage, na vida real, com o reflexo da Ruby ficcionada. Resume
a situação o neologismo «mentalcesto», amálgama de «mental(idade)» + «_____». |
Autor conforma o enredo da criação dos heterónimos
ao que, vinte anos depois, no ano da sua morte (1935), quer fixar para futura
glória do «dia _____». Mas tem de moldar o relato às características das figuras
esboçadas nas duas décadas através dos textos que escreveram (na verdade, da autoria
de Pessoa). Resume a situação: «estará o Casais Monteiro pensando que má sorte
o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio». |
TPC — O poema «Aniversário», como outros da fase intimista
de Álvaro de Campos (ou mesmo, por vezes, certos trechos das odes sensacionistas),
aproveita o que podemos caracterizar como ‘a nostalgia da infância’. Este
tema é também frequente no Pessoa ortónimo. Para já, gostava que relanceasses —
em Gaveta de Nuvens — «Un soir à Lima»,
um longo poema que, tanto quanto se pode identificar sujeito poético e autor (e
não deve), se diria autobiográfico.
Aula 16-17 (7 [3.ª], 11/out [1.ª, 4.ª]) Correção de odes futuristas. Assistência a vídeo sobre exposição sobre Futurismo (cfr. p. 85).
Na coluna da direita, identifica o responsável por esse matiz aspetual:
o verbo auxiliar (AUX); o significado
do verbo principal (V); o tempo em que
o verbo está usado (T); alguma expressão
temporal presente na frase.
Frase |
Aspeto |
Através de... |
A competição é inevitável |
genérico |
|
As carmelitas
descalças estão a comercializar doçaria conventual |
|
Aux («estar a») |
As freiras
vicentinas andam a vender rendas de bilro |
|
|
As carmelitas sabem perfeitamente
que os doces conventuais são o nosso negócio |
situação estativa |
|
Deus é grande [mas parece ser pequeno para o amor destas religiosas] |
|
V («ser») |
Tudo estava bem [até que as carmelitas quiseram mais] |
imperfetivo |
|
Lá vem ela |
|
T (presente) |
Nós sempre dominámos o mundo
dos bordados |
imperfetivo |
|
Às vezes, dá-me vontade de
rir |
|
«às vezes», T (presente) |
Já recordei todos os trocadilhos
com freiras |
|
T (perfeito), «já» |
O Maior costuma observar o
vosso Bingo |
|
Aux («costumar») |
O Maior vê sempre os vossos
cartões |
habitual |
|
Quem ama o Senhor são as vicentinas |
situação estativa |
|
As carmelitas têm ido a Santiago
todos os meses |
iterativo |
|
As vicentinas tropeçaram nas
escadas |
|
T (perfeito) |
Nestes dois passos a seguir, mais do que o aspeto interessam os
valores temporais: anterioridade, simultaneidade, posterioridade.
Frase |
Localização temporal |
Através de... |
Vai dizer à tua abadessa [que quem
ama o Senhor são as vicentinas] |
posterioridade |
|
Na procissão de maio vamos
rezar menos uma novena por elas |
|
«Na procissão de maio», Aux
(«ir») |
«Lisbon
Revisited (1923)» — na p.
93 — foi publicado, na Contemporânea,
em 1923. Três anos mais tarde, no mesmo periódico e também assinado por Álvaro de Campos, saiu o poema em baixo,
com título idêntico mas datado, entre parênteses, de 1926.
Compara o tom e o tema dos dois textos. Inclui pelo
menos uma citação de cada um dos poemas. (Aproveita para procurar explicar também
o uso do inglês no título.)
Lisbon Revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo
tempo.
Anseio com uma angústia de fome
de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num
sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade
a sonhar.
Fecharam-me todas as portas
abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as
hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o
número de porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para
que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados
sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram
falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta
— até essa vida…
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio
arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro
compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível
aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura
me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra
cousa, nem cousa nenhuma…
E, no fundo do meu espírito,
onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma,
onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural
de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas
longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos
restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados,
derrotados sem ter sido,
As minhas coortes por existir,
esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente
perdida…
Cidade triste e alegre, outra
vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui
vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a
voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive
aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas
por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de
alguém de fora de mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo,
a alma menos minha.
Outra vez te revejo — Lisboa
e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de
mim,
Estrangeiro aqui como em toda
a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de
recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas
que rangem
No castelo maldito de ter que
viver…
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de
sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre
desconhecida,
E entra na noite como um rastro
de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em
que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico
vejo só um bocado de mim —
Um bocado de ti e de mim!…
Álvaro de Campos
(Fernando
Pessoa, Poesia dos Outros Eus, edição
de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007)
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Classifica quanto à classe
de palavras os ques da canção:
Olá, Solidão
(Os Quatro e Meia)
Eu já fui assim,
Tão focado em mim,
Sem querer conselhos de ninguém.
Fiz das nuvens lar,
Saltei sem olhar,
Crendo que no fim sairia tudo bem. ________
(o.
subordinada substantiva completiva)
Fiz bandeira de um velho ditado,
«Melhor só que mal acompanhado»,
Nem pensava em apoiar os pés no chão.
Olá, solidão;
Olá, solidão.
Eu tinha um lugar com vista
para o mar
Que ninguém chegou a conhecer. ________
(o. subordinada adj. relativa
restritiva)
Voei rente ao céu,
Tudo era só meu
E o que ainda não era iria ser. ________
Olho em volta, agora estou
sozinho.
Não liguei às placas do caminho
Nem parei p’ra perguntar a direção.
Olá, solidão;
Olá, solidão;
Olá, solidão;
Olá, solidão.
Fiz bandeira de um velho ditado,
«Melhor só que mal acompanhado», ________
(o. sub. adv. comparativa)
Nem pensava em apoiar os pés
no chão.
Olho em volta, agora estou
sozinho.
Não liguei às placas no caminho,
Nem parei p’ra perguntar a direção.
Olá, solidão
Olá, solidão
Olá, solidão
Olá, solidão.
Eu já fui assim,
Tão focado em mim,
Sem querer conselhos de ninguém.
TPC — Lê na p. 321 do manual o que aí se diz sobre funções sintáticas
dos pronomes pessoais e dos pronomes relativos; e, sobretudo, a p. 324 toda (sobre
conjunções subordinativas e «que»).
Aula 18 (8 [1.ª], 9 [3.ª], 10/out [4.ª]) Assistência a começos de seis versões de Frei Luís de Sousa:
Começar aos 6 minutos e
trinta:
Encenação de Jorge Listopad em 1967 acessível só aqui.
Começar no final do
primeiro minuto:
Começar aos 9 minutos:
Começar aos 3 minutos:
As representações de que vimos
a parte correspondente à cena I e ao começo da cena II do Ato
Primeiro de Frei Luís Sousa, de Almeida Garrett, são:
Filme/Peça |
Ano |
Realizador/Encenador |
Atores
para Madalena e Telmo |
Frei Luís de Sousa |
1950 |
António Lopes Ribeiro |
Maria Sampaio, João Villaret |
Frei
Luís de Sousa |
1967 |
Jorge
Listopad |
Carmen
Dolores, Luís Santos |
Frei
Luís de Sousa |
1986 |
Jorge
Listopad |
Carmen
Dolores, Carlos Wallenstein |
Quem és tu? |
2001 |
João Botelho |
Suzana Borges, José Pinto |
Madalena |
2013 |
Jorge
Pinto |
Emília
Silvestre, ¿Jorge Pinto? |
Frei
Luís de Sousa |
2019
|
Miguel
Loureiro |
Maria
Duarte, Ângelo Torres |
Agora, o texto de Garrett (descarto
só título, género — «Drama» — e «Pessoas»):
Ato Primeiro
Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa
dos princípios do século dezassete. Porcelanas, charões , sedas, flores, etc. No
fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Tejo
e donde se vê toda Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro
moço, vestido de preto, com a cruz branca de noviço de S. João de Jerusalém. Defronte
e para a boca da cena um bufete pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado
de prata; sobre o bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso
da China de colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes rasos, contadores.
Da direita do espectador, porta de comunicação para o interior da casa, outra da
esquerda para o exterior. É no fim da tarde.
Cena
I
Madalena só, sentada junto à banca,
os pés sobre uma grande almofada, um livro aberto no regaço, e as mãos cruzadas
sobre ele, como quem descaiu da leitura na meditação.
Madalena (repetindo maquinalmente
e devagar o que acaba de ler) –
Naquele engano d’alma ledo
e cego,
que a fortuna não deixa durar
muito…
Com paz e alegria d’alma...
um engano, um engano de poucos instantes que seja... deve de ser a felicidade suprema
neste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se
morrer. Mas eu!... (Pausa). Oh! que o não saiba ele ao menos, que não suspeite
o estado em que eu vivo... este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não
deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor.
Oh! que amor, que felicidade... que desgraça a minha! (Torna a descair em profunda
meditação; silêncio breve).
Cena
II
Madalena, Telmo Pais
Telmo (chegando ao pé de
Madalena, que o não sentiu entrar) – A minha senhora está a ler?…
Madalena (despertando) –
Ah! sois vós, Telmo... Não, já não leio: há pouca luz de dia já; confundia-me a
vista. E é um bonito livro este! o teu valido, aquele nosso livro, Telmo.
Telmo (deitando-lhe os
olhos) – Oh! oh! livro para damas – e para cavaleiros... e para todos: um
livro que serve para todos – como não há outro, tirante o respeito devido ao da
palavra de Deus! Mas esse não tenho eu a consolação de ler, que não sei latim
como meu senhor… quero dizer como o Sr. Manuel de Sousa Coutinho – que, lá
isso!... acabado escolar é ele. E assim foi seu pai antes dele, que muito bem o
conheci: grande homem! Muitas letras, e de muito galante prática, e não somenos
as outras partes de cavaleiro: uma gravidade!… Já não há daquela gente. Mas,
minha senhora, isto de a palavra de Deus estar assim noutra língua, numa língua
que a gente… que toda a gente não entende… confesso-vos que aquele mercador
inglês da Rua Nova, que aqui vem às vezes, tem-me dito suas cousas que me
quadram… E Deus me perdoe, que eu creio que o homem é herege, desta seita nova
d’Alemanha ou d’Inglaterra. Será?
Madalena – Olhai, Telmo; eu não
vos quero dar conselhos: bem sabeis que desde o tempo que… que…
Telmo – Que já lá vai, que era
outro tempo.
Madalena – Pois sim… (suspira).
Eu era uma criança; pouco maior era que Maria.
[...]
Responde a este item (que
inventei eu, ainda que procurando cumprir os moldes habituais de uma pergunta 7
de prova de exame):
Grupo
I
Parte
C
7. Escreva uma breve
exposição na qual mostre que, desde o início da peça Frei Luís de Sousa,
se vão acumulando elementos que contribuem para o clima de tragédia que logo se
insinua.
A sua exposição deve
incluir:
• uma introdução;
• um desenvolvimento no qual
explicite dois aspetos que promovam o clima de tragédia;
• uma conclusão adequada ao
desenvolvimento do texto.
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TPC — Vê a ficha corrigida
que porei em Gaveta de Nuvens (é a ficha nas pp. 34-35 do Caderno de
Atividades), que trata das falas de Madalena e Telmo imediatamente a seguir
ao passo que lemos hoje. (Menos importante por agora: nas pp. 398-401 do manual
estão «guias» para a compreensão de Frei Luís de Sousa.)
Aula XIX-XX (10/out [3.ª]) Correção de comentário contrastivo sobre os dois «Lisbon Revisited».
[Exemplo de comentário sobre
os dois «Lisbon Revisited», de Álvaro de Campos:]
Se é verdade que os poemas
apresentam um tema comum — a desilusão do sujeito poético face ao seu
desencontro emocional com o espaço que o envolve —, o tom usado é distinto.
Em «Lisbon Revisited
(1923)», o tom do discurso é de irrequietude e revolta, como denota a presença
frequente de frases com valor modal deôntico («Paguem o que devem!»; «Não me
peguem no braço!»; etc.), tantas vezes acumulando negação, imperativo e exclamação.
Já em «Lisbon Revisited
(1926)» as palavras do sujeito lírico assumem uma dimensão de desilusão e
desânimo, a que não é alheia a fragmentação do eu («Mas, ai, a mim não me
revejo! / Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico, / E em cada
fragmento fatídico vejo só um bocado de mim»).
Entretanto, nos dois
textos o poeta sente-se como um «estrangeiro», não integrado nas vivências
comuns e nos hábitos culturais da capital. A utilização do inglês no título dos
poemas acentua a inadaptação do eu lírico,
que expressa assim a sua circunstância de «estrangeiro» em Lisboa.
Na p. 92 do manual,
trata-se da distinção entre complemento do nome e modificador do nome
(restritivo e apositivo).
1. Identifica os versos da «Ode
triunfal» em que as expressões sublinhadas correspondem ao complemento do nome.
[Circunda as alíneas com complementos; nos outros casos teremos
modificadores.]
(A) «À dolorosa luz das grandes
lâmpadas elétricas da fábrica».
(B) «Escrevo rangendo os dentes,
fera para a beleza disto».
(C) «Ó artigos inúteis que
toda a gente quer comprar!».
(D) «Parlamentos, políticas, relatores
de orçamentos».
(E) «Eh-lá desabamentos de
galerias de minas».
(F) «Alterações de constituições,
guerras, tratados, invasões».
(G) «Eia aparelhos de todas
as espécies, férreos, brutos, mínimos».
2. Associa as expressões
sublinhadas à função sintática que lhes corresponde (Complemento do nome
[CN] / Modificador restritivo do nome [MRN] / Modificador apositivo
do nome [MAN]).
Álvaro de Campos assume-se como discípulo de
Alberto Caeiro (a), o mestre inspirador (b), com quem
partilha a valorização das sensações (c). Contudo, para o autor da
«Ode triunfal» (d), que exalta o triunfo da técnica (e),
o sensacionismo associa-se à descrição e às imagens da modernidade (f),
ultrapassando a ligação à natureza (g). O contacto intenso
(h) com as máquinas (i) desencadeia no sujeito poético o
desejo de se fundir com elas (j). Febril e furioso (k),
expressa a sua admiração por todas as coisas contemporâneas (l),
incluindo no seu canto elogioso (m) realidades que poucas
vezes haviam merecido registo poético (n), banais e disfóricas
(o), mas merecedoras de exaltação (p) por integrarem a
diversidade do mundo moderno.
Singular entre os heterónimos (q), a poesia
futurista de Campos (r) recorre a um estilo livre e excessivo
(s), que se manterá (t), mesmo quando tematicamente os
seus versos se tornarem o retrato de um «eu» entregue à solidão e ao
pessimismo (u).
Indica o valor aspetual predominante em cada uma das frases de Último a sair:
Ela estava a fazer jogo, esteve a fazer jogo
desde o início. |
|
Há muitas melgas nesta casa. |
|
Já acabou o Fenistil. |
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A melga entrou lá dentro. |
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A melga vinha [a voar]. |
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Procurei bué. Estive ali um quarto de hora
à procura da melga. |
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Tu és meu amigo, Rui. |
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* Costumo sair do quarto dos homens e visitar
o das mulheres. |
|
* Tens procurado as melgas todas as noites. |
|
* inventados para efeitos do
exercício
As folhas que distribuirei
são de um suplemento-revista (Fugas) que sai aos sábados com o Público.
A coluna que nos interessa
chama-se «Fugas dos leitores». É escrita por leitores e é acompanhada por uma
fotografia, que costuma ser também da autoria de quem escreveu a crónica de
viagem. Os textos têm cerca de três mil caracteres (um pouco mais de
quinhentas palavras).
Ao mesmo tempo que
relanceies os textos que te calharam, verifica a qual dos tipos seguintes
correspondem (E, PT ou ALD) e preenche as linhas em baixo.
[E] — Viagem ao
estrangeiro (com destino a uma dada localidade ou a toda uma região ou mesmo
país).
[PT] — Descrição de
localidade portuguesa visitada em turismo.
[ALD] — Texto sobre
localidade portuguesa que se conhece por vivência familiar (terra dos avós ou
dos pais, lugar onde se costuma passar as férias repetidamente, etc.).
Tipo da crónica: E
/ PT / ALD
Título: __________________
Localidade (ou região) que é o foco do texto:
___________________
País: _______________
Tipo da crónica: E
/ PT / ALD
Título: __________________
Localidade (ou região) que é o foco do texto:
___________________
País: _______________
Tipo da crónica: E
/ PT / ALD
Título: __________________
Localidade (ou região) que é o foco do texto:
___________________
País: _______________
Tipo da crónica: E
/ PT / ALD
Título: __________________
Localidade (ou região) que é o foco do texto:
___________________
País: _______________
Escreve texto ao mesmo
estilo, de crónica de viagem. Pode ser num dos três tipos que enunciei. Texto
deverá ter, para já, umas 300 palavras. A tinta.
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TPC — Relanceia as páginas
sobre «Relato de viagem» no manual (pp. 364-365).
Aula 19-20 (14 [3.ª], 15/out [4.ª, 1.ª (só primeiros cinquenta minutos)]) Correção de crónica para «Fugas» (12.º 3.ª) ou de comentário sobre «Lisbon Revisited» (12.º 1.ª e 4.ª).
Nas pp. 98-99, lê a
crónica «O país dos teimosos», de Ricardo
Araújo Pereira, e escolhe as melhores alíneas. Não uses outras
páginas do manual nem outros materiais. E demora só o tempo que eu aconselhar.
A expressão «para os
picuinhas» (l. 2) é
a) caricatural, e diz-nos que, embora se trate de
poema de Campos, não é relevante distingui-lo dos de Pessoa.
b) erudita, assinalando que não se deve deixar de
fazer a correta referência bibliográfica.
c) irónica, sublinhando que o poema está, na verdade,
assinado por Fernando Pessoa ortónimo.
d) agressiva, mostrando repulsa por quem está
sempre disposto a encontrar defeitos no trabalho dos outros.
A palavra «picuinhas» (l. 2)
a) está mal escrita, porque deve grafar-se
«picuínhas» (com acento).
b) não leva acento, uma vez que se trata de uma palavra
esdrúxula.
c) não tem acento sobre o i porque o
ditongo ui é mesmo para ser lido.
d) não leva acento, apesar de se fazer hiato (u-i),
porque o nh seguinte faz que não seja necessário.
O verso «Onde é que há gente no mundo?» (l. 4)
revela, por parte do poeta,
a) vontade de saber onde há pessoas.
b) espanto e indignação por todos se acharem tão
perfeitos.
c) melancolia e tristeza dada a solidão que o eu
poético sente.
d) arrependimento e remorso, por o sujeito lírico se
considerar muito inferior aos outros.
A alusão a Álvaro de Campos e a citação de versos
do «Poema em Linha Reta» (ll. 1-4) permite ao cronista
a) introduzir a sua perspetiva.
b) introduzir um contra-argumento.
c) apresentar um exemplo.
d) reforçar o ponto de vista defendido.
Os questionários de Proust (cfr. l. 5) — a
que, no verão, os jornais costumam recorrer —, são inquéritos
a) sobre Marcel Proust.
b) sobre o verão.
c) sobre a personalidade de quem lhes responde.
d) que se focam particularmente nos defeitos dos
inquiridos.
«Trata-se de uma boa pergunta» (l. 5) e «Todos os
verões, tenho estudado os questionários de Proust dos jornais» (ll. 5-6) são
exemplo de segmentos com os valores aspetuais, respetivamente,
a) genérico, perfetivo. |
b) genérico, iterativo.
c) imperfetivo, habitual.
d) habitual, iterativo.
A frase «Este ano, o DN e o Público
[...] têm continuado a sua busca meritória por um ser humano verdadeiramente
defeituoso» (ll. 9-11) constitui um exemplo de ironia, porque
a) elogia a análise psicológica desenvolvida pelos
questionários de verão dos jornais.
b) salienta a naturalidade dos defeitos humanos.
c) desvaloriza os objetivos dos questionários dos
jornais e a qualidade dos inquiridos.
d) sugere a inutilidade dos questionários de verão
dos jornais.
A função sintática desempenhada pela oração «uma
vez que se trata da mais chata e insignificante das falhas de carácter» (l. 13)
é
a) modificador (de G. V.).
b) complemento do nome. |
c) complemento direto.
d) complemento oblíquo.
Na l. 15, «incluí»
a) leva acento para que não se leia o ditongo ui.
b) está mal escrito (devia ser «inclui»).
c) não devia ter acento porque se trata da 3.ª
pessoa do Presente do Indicativo (ele inclui).
d) tem acento porque se trata da 1.ª pessoa do
Presente do Indicativo.
No segundo parágrafo (ll. 19-29), o cronista destaca,
em relação aos defeitos assumidos nos questionários dos jornais, o facto de
a) serem inatos aos inquiridos.
b) corresponderem a imperfeições físicas.
c) decorrerem de motivações externas.
d) serem comuns.
Em «lhes esgota a paciência» (ll. 20-21) o pronome
pessoal encontra-se anteposto ao verbo, porque
a) é usado numa frase declarativa.
b) depende de uma oração coordenada.
c) está integrado numa oração subordinante.
d) ocorre numa oração subordinada.
Na l. 25, «desgraçado» é
a) irónico.
b) objetivo.
c) metafórico.
d) hiperbólico.
Em «a pobre inquirida» (l. 28), o adjetivo «pobre»
a) tem valor denotativo, dado estar anteposto.
b) significa ‘com poucos recursos’.
c) quer dizer ‘infeliz’, sentido conotativo que
advém da anteposição.
d) significa ‘sem abrigo instalada em tenda em
Arroios’.
A função sintática desempenhada pela oração «que
confessam defeitos apresentáveis» (ll. 32-33) é
a) complemento direto.
b) modificador restritivo do nome.
c) modificador apositivo do nome.
d) sujeito.
No contexto em que se encontra, «apresentáveis»,
que é modificador de «defeitos» (l. 33), significa
a) ‘não demasiado graves’
b) ‘verdadeiros’.
c) ‘perdoáveis’.
d) ‘que não deem má imagem’.
Na expressão «por contraste com o pudor com que
outros escondem os seus» (l. 35), «seus» é um
a) determinante que assegura a coesão referencial.
b) pronome que garante a coesão referencial.
c) determinante que assegura a coesão frásica.
d) pronome que garante a coesão frásica.
A função sintática desempenhada pelos pronomes
«nos» (l. 21) e «me» (l. 37) é, respetivamente,
a) complemento direto, complemento indireto.
b) complemento indireto, complemento direto.
c) complemento direto, complemento direto.
d) complemento indireto, complemento indireto.
A citação na l. 40, que faz alusão ao escrutínio
para entrada no paraíso,
a) indica um pecado que decerto impediria esse
ingresso.
b) assume ser pecado o que, na verdade, é uma
virtude.
c) é irónica porque não há paraíso.
d) é absurda porque refere um pecado demasiado
grave.
O poema «Un soir à Lima», que pedi lesses em casa,
é
a) do mesmo heterónimo do do poema que o cronista
refere no início de «O país dos teimosos».
b) do Álvaro de Campos da fase futurista.
c) acerca do mesmo assunto do «Poema em Linha
Reta».
d) um texto de nostalgia da infância.
Como se fazia notar em ficha do Caderno de
atividades que te pedi fosses lendo, são características da poesia de Álvaro
de Campos (se excetuarmos a sua fase decadente)
a) a regularidade formal e a impetuosidade ao
nível do sentido.
b) a irregularidade estrófica e métrica, a
ausência de rima.
c) a regularidade da métrica e a ausência de rima.
d) a regularidade da métrica, a irregularidade
estrófica, a rima.
Ainda
antes de vermos o episódio de As minhas coisas favoritas, de Nuno
Markl, sobre «Fazer férias fora do verão», escreve uma resposta
possível para o ponto 1.2 (p. 102):
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. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Final do filme Ruby Sparks |
Começo da peça Frei Luís
de Sousa |
Ruby
______ do passado, por determinação do seu criador. |
______
está cada vez mais aprisionada no passado, o que é também suscitado por Telmo. |
Está
a ler A Namorada, de manhã, quando chega
______. |
Tinha
estado a ler Os Lusíadas, ao ______,
quando entra Telmo. |
Diz
a Calvin que está a gostar do livro embora um amigo lhe tivesse dito ser um pouco
______. |
Diz
a _____ como admira Os Lusíadas, com
o que concorda o velho aio, para quem o livro é o seu «valido». |
Acaba
por reconhecer no seu interlocutor o _____ da obra, ao ver a badana. |
Alude-se
a Camões, que _____ ainda conhecera. |
Trata-se
de um livro ______ de lançar: Ruby pede que não lhe seja revelada a intriga. |
Trata-se
de um livro já clássico: Madalena e Telmo ______ ambos o conteúdo da obra. |
Ruby
e Calvin decidem _____. |
Madalena
pede a Telmo que não continue a influenciar _____. |
Indica a função sintática do que esteja sublinhado:
Morro na praia
(Capitão Fausto)
Trabalhar
nunca me fez bem nenhum, _________
Mas é melhor que ver o tempo
a passar.
Atrasado, faço mais um refrão.
Ao menos, vou gastar o tempo
todo a cantar.
Não paro enquanto ainda
for a tempo.
A tempestade virou costas
ao mar, _________
Por muito que eu não queira,
De hoje não vai passar.
Fecho-me em casa, finjo que sou cantor, _________
Ostento a tentativa de me
levar a sério,
Mas, no fundo, nada mais
vai mudar.
Eu canto a parolada, tu só tens de aceitar. ________
Mãe, eu só te quero lembrar,
Até morrer no peito eu vou-te
levar;
Minha mãe, eu só te quero
lembrar, _________
Até morrer no peito eu vou-te
levar.
Caladinho, tu andaste a
pastar,
Por esta altura tinhas já
o trunfo na mão. _________
Adormeço sempre a equacionar
E durmo mal dormido a pensar
nesta canção.
Adio mais um dia perceber
Que aos vinte e seis não
posso mais empatar.
Assumo o compromisso, ________
Deixo as nuvens entrar.
Morro na praia a vinte passos
de ser
Um gajo formado, um gajo
pronto a vingar;
Mas, no fundo, fundo, tudo tem de mudar, _________
Agora, que eu não estudo,
não me vou mais calar.
Mãe, eu só te quero lembrar,
Até morrer no peito eu vou-te levar; _________
Minha mãe, eu só te quero
lembrar,
Até morrer no peito eu vou-te levar. _________
TPC — Faz leitura de poema,
perguntas e soluções de «Notas sobre Tavira» (pp. 100-101), de Álvaro de
Campos. Vai procurando ler sempre as partes «teóricas» das zonas do manual por
que formos passando.
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