Friday, August 28, 2020

Instruções para comentário em torno de Amor de Perdição e filme


Escreve comentário que contraste/aproxime Amor de Perdição e filme. Regras serão semelhantes às do comentário a Frei Luís de Sousa/canção (instruções), só que, desta vez, o termo de comparação será um filme que tenham visto ou conheçam suficientemente (no cimo do trabalho figurará o trailer respetivo, oficial, buscado no YouTube — devem pôr o link no cimo do texto). Dou exemplo meu a seguir (e estão aqui os trabalhos de 2018-1019: 11.º 2.ª, 11.º 3.ª, 11.º 4.ª, 11.º 5.ª, 11.º 9.ª). Não deverão usar filmes que sejam adaptações ou versões do próprio Amor de Perdição ou de Romeu e Julieta, porque esses os usaremos nós em aula provavelmente. Haverá um primeiro texto, já a computador, que corrigirei, e uma versão final (ambos a descarregar na Classroom, em espaços que abrirei entretanto; primeira versão deve ser entregue até à próxima semana inclusivé). Usarão 400 a 500 palavras ou um pouco mais mesmo. Convém fazer algumas citações do texto camiliano. Não percam demasiado espaço a resumir o filme (e não usem, de modo nenhum, as sinopses que encontramos na net). Os capítulos que lemos de Amor de Perdição são os que estão reproduzidos no manual — introdução, I, IV, X, XIX, conclusão —, aqueles a que o programa obriga, mas farão muito bem em relancear outros, se quiserem. (PDF de Amor de Perdição.)

Nome do aluno (#)
O enredo de Os Coristas (Christophe Barratier, Les choristes, 2004) é idêntico ao de tantos filmes cujo espaço é uma escola. Chega um novo professor, que vai contra as regras estabelecidas; conquista os alunos, até aí indisciplinados, mas enfurece o diretor; entra em conflito com o poder e acaba por ser demitido. Aparentemente, o intruso perdeu a sua luta, já que se retoma a vida escolar sem ele, mas os alunos, ainda que se reintegrem num quotidiano tudo indica semelhante ao anterior, continuam do lado do professor, que talvez os tenha mudado um pouco. Dos filmes que seguem este modelo, O Clube dos Poetas Mortos será o mais conhecido.
Só me deterei nos finais de Os Coristas e de Amor de Perdição (do cap. XX, que não está no manual, à «Conclusão», pp. 222-224 e 224-226 do manual). O professor Clément Mathieu, expulso, vai saindo do colégio para ir apanhar a camioneta e não mais voltar ao Fond de l’Étang (‘Fundo do Pântano’, nome apropriado àquele internato). Também Simão, condenado ao degredo, se apresta a viajar no barco, que ainda está na Ribeira.
Tanto Mathieu como o herói romântico têm relativo contacto visual com aqueles de quem foram obrigados a separar-se, alunos e Teresa. Simão avista o vulto de Teresa no mirante do Mosteiro, «que se debruça sobre a margem do Douro, em Miragaia» — e Teresa «viu, dois a dois, entrarem amarrados, no tombadilho, os condenados» —, enquanto, nos Coristas, vemos só as mãos das crianças a despedirem-se pelas frestas da torre do colégio. (Em Amor de Perdição, Simão pôde assistir mesmo à morte de Teresa: «não era de Teresa aquele rosto: seria antes um cadáver que subiu da claustra ao mirante».)
Em ambas os casos, porém, a comunicação entre quem parte e quem fica faz-se por escrito. No filme, os alunos atiram aviões de papel onde registaram palavras de despedida, reconhecendo o professor a caligrafia e os erros ortográficos de cada um. Na novela, Simão vê a carta de Teresa que encima um «pacotinho» devolvido e que diríamos póstuma, como Teresa supõe que seja, pois que é lida já morta a amada: «É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em que leres esta carta [...] está em descanso».
Também aproxima livro e filme o facto de os protagonistas, ao afastarem-se, irem acompanhados: Mariana viaja na nau e seguirá Simão mesmo até às águas do oceano; Pépinot corre atrás do professor, pede para ir com ele  e segue viagem na camioneta.
Nem filme nem livro terminam sem que se volte ao nível narrativo por que se começara. As duas histórias estão encaixadas numa moldura a que vamos regressar depois do fecho da ação. No filme, o relato em analepse tivera o pretexto de o agora maestro Pierre Morhange ter encontrado o diário deixado pelo seu professor. Na novela-romance, o último parágrafo dá conta de que Rita, a irmã predileta de Simão, ainda vivia, e que Manuel, pai do autor, já morrera há muito, recordando-nos que, no primeiro nível narrativo, o narrador investigava a vida de um familiar que, como Camilo, estivera preso na Cadeia da Relação.