Amor de Perdição pelo 11.º 5.ª
Guilherme (Bom (+))
A Forma
da Água foi em 2018 o grande vencedor dos prémios da academia de
Hollywood com a distinção de melhor filme, melhor banda sonora e ainda o prémio
de melhor diretor, atribuído a Guillermo del Toro. Nos primeiros minutos de
filme é-nos apresentada Elisa, a protagonista, uma empregada de limpeza muda
devido a uns cortes na sua garganta feitos na juventude, que trabalha num
centro de pesquisa secreto americano durante os anos sessenta, anos de
atribulados conflitos políticos envolvendo os Estados Unidos da América.
Simão
Botelho vivia em Coimbra a sua vida rebelde e despreocupada quando, nas férias,
em Viseu, vê pela janela do seu quarto Teresa, por quem se apaixona. Elisa
obedecia todos os dias a uma mesma rotina até que, ao seu local de trabalho,
chegou algo secreto que alterou totalmente o ritmo da sua vida monótona. Elisa
vê pela janela de um aquário algo peculiar que a fascina. Não era um peixe nem
um homem mas uma mistura de duas espécies tão díspares. Mesmo não sabendo o que
era ou sequer potenciais perigos, Elisa sentia-se atraída por aquele mistério
que era mantido cativo pelo governo do seu país para ser estudado. Todos os
dias limpava a sala onde o enorme aquário se encontrava, entusiasmada por poder
contemplar a beleza daquele ser que tomava como seu semelhante. Nenhum deles
conseguia falar. Eram olhados pelos outros com estranheza devido às suas
características. A sua atração por este ser era mais que carnal, transcendendo
a compreensão do ser humano. Era isto que Simão sentia por Teresa. Esta paixão
inexplicável que o fazia cometer loucuras para concretizar o enorme desejo de
estar junto dela. Em ambas as histórias, porque a comunicação era um fator
condicionado por diversos obstáculos, as personagens en métodos de comunicar
com os seus amados. Elisa ensinou linguagem gestual ao que que os cientistas
achavam ser irracional, enquanto Simão, através de uma mendiga, trocava
correspondência com Teresa. Este amor era em ambos casos algo proibido. De um
lado, a Ciência e a Racionalidade, e, do outro, as antigas tradições e brigas
familiares. Estes eram os principais fatores que justificavam a impossibilidade
e a loucura associada a esta união.
Ao longo da película é-nos ainda apresentado Giles, vizinho
de Elisa, que ,tal como Mariana em Amor de Perdição, apoia os heróis a
concretizar o seu amor. Ambos funcionam como personagens meramente
instrumentais que permitem que a intriga se desenvolva e conduza a uma conclusão.
Mas é, de facto, no desfecho das duas histórias que a maior
semelhança se verifica. O amor de Teresa e Simão vai sobrevivendo a todas as
peripécias que surgem no enredo até ao momento em que Simão parte para o exílio
na India. É junto ao mar que a vida terrena de Teresa acaba ao ver Simão
partir, consolando-se com a promessa de Simão de se reencontrarem na outra
vida. É também junto do mar que Elisa é assassinada juntamente com o seu Romeu.
E, por fim, concretiza-se nas docas, em ambas as histórias, o desejo de uma
vida eterna de amor transcendente à vida terrena. A “forma da água” transporta
Elisa para o mar onde, através dos seus poderes curativos e pelo facto de
estarem num outro mundo, no paraíso, neste caso subaquático, lhe concede a
capacidade de respirar ali, através dos cortes na sua garganta, que se
transformam em guelras, e possibilitam, assim, a sua sobrevivência e o amor
eterno.
Sara (Bom -)
Em Amor de
Perdição, de Camilo Castelo Branco, o protagonista da novela, Simão, é
considerado um herói romântico, não só pelo seu heroísmo mas também pelo seu
"génio sanguinário"(capítulo I) e as suas ações face às regras da
sociedade em que vive. Já Steve Rogers, mais conhecido por ser o Capitão
América, é visto como um herói no sentido tradicional, mas, percebendo o que
define um herói romântico, podemos ver características da personagem do filme
que encaixam nesta descrição.
Apesar de esta personagem aparecer em vários
filmes, aquele que mais se relaciona com a obra é Capitão América: Guerra Civil (Captain
America: Civil War, 2016), não só
pelo enredo do filme mas também pelos relacionamentos entre as personagens.
Steve Rogers, que até agora tinha tido uma cabeça fria e tinha seguido todas as
regras à letra, neste filme revela-se uma alma rebelde que, quando acredita em
algo, vai até contra o governo. Além deste comportamento, critica também a
sociedade decadente em que vive, uma sociedade que não se importa com a
inocência de um homem. Assim como Simão esteve preso ("no cartório das
cadeias da Relação do Porto [...] no das entradas dos presos... Simão António
Botelho", Introdução) devido às suas ações, Steve Rogers acaba por ser
perseguido pelas autoridades por contrariar o governo de vários países que
procuravam controlar a equipa em que estava inserido, e também por proteger o
seu amigo Bucky Barnes, acusado de inúmeros homicídios.
Outra parecença entre estas duas obras é a
relação entre o 'herói' e a sua pessoa mais querida. No caso de Simão é Teresa,
filha do inimigo do seu pai. É considerado um amor impossível pois as suas
famílias fazem tudo para separá-los devido às desavenças que ocorreram entre os
seus pais, mas, mesmo com estes obstáculos decidem lutar contra o que os divide
para ficarem juntos. Simão, porém, não se afasta da ideia de que as suas ações
poderão levá-lo a uma morte precoce ("[...]cavando a sua sepultura e a
minha!", Capítulo X). O amor de Steve é o seu velho amigo Bucky, que tinha
sido torturado e obrigado a matar várias pessoas. Conhecendo a sua inocência,
Steve procura protegê-lo dos governos que desejam imprisioná-lo. Este ato, que
poderemos considerar irracional, é o que vai acabar por dividir os Avengers, a
equipa a que Steve pertencia, e o que o torna num fugitivo, que pretende
sobreviver para viver outro dia com o amigo que não via há muito tempo. Também,
tal como Teresa é posta num convento para ser afastada de Simão, Bucky é preso
pelas autoridades mas acaba por escapar a essa injusta prisão.
Ambas as histórias retratam um amor impossível
devido a fações opostas, contudo os protagonistas acabam por ter apoiantes que,
apesar de até não concordarem com as decisões que os 'heróis' tomam, os ajudam
ao longo do enredo, e também as personagens principais acabam por ser levadas a
reagir devido aos seus temperamentos sem pensar muito nas consequências das
suas ações, que, felizmente, no filme não são tão graves como na novela.
Ana (Bom)
Tau (2018) é um filme de
ficção científica. Uma das personagens principais, Julia, é uma jovem com cerca
de vinte anos que sobrevive à custa de trabalhos ilegais em bares noturnos. Num
contexto social contemporâneo, é extremamente reprovável a maneira como esta
leva a sua vida. Em Amor de perdição,
entre as diversas personagens principais, destaca-se Simão. À semelhança de
Julia, Simão era condenado pela sociedade envolvente pelo seu temperamento
explosivo, que originava inumeras confusões, não só em Viseu, onde vivia, como
em Coimbra, para onde foi estudar.
Em ambos os casos, uma mudança drástica do
quotidiano altera por completo o rumo das suas vidas – há alteração do cenário
onde viviam bem como o surgimento de novas pessoas. No filme, Julia é raptada e
usada por Alex. Este obriga-a a realizar testes a nível cognitivo, no âmbito de
um projeto que o levara à loucura. Já Simão, após voltar de Coimbra, conhece
Teresa, o amor da sua vida. Isto torna-o uma pessoa muito sensível, que começa
a valorizar bastante o amor.
Nem sempre mudança é sinónimo de
felicidade: tudo se complica quando os
dois protagonistas resolvem desafiar o inimigo. A refém de Alex é sujeita a
experiências traumáticas e o seu instinto de sobrevivência leva-a a desafiar a
morte constantemente. Acaba mesmo por desenvolver uma relação inesperada com o
mecanismo de inteligência artificial, Tau, que Alex tem vindo a elaborar e que,
no fundo, é a razão para ela estar presa.
O romance de Camilo Castelo Branco também tem ações
desafiantes e imprevistas. O amor entre Simão e Teresa, tal como a relação
entre Julia e Tau, é algo inaceitável por quem domina. Ambos os protagonistas
tomam decisões imprudentes que colocam a sua integridade em risco. Cegamente
apaixonado, Simão comete um crime bárbaro, quando mata Baltasar, o primo de
Teresa e suposto noivo.
Independentemente dos obstáculos, Julia e Tau
continuam a amizade proibida, sujeitando-se a crueldades inacreditáveis que os
vão danificando ao poucos. Simão e Teresa tomam a mesma atitude, continuando a
trocar cartas em segredo. Contudo, as atitudes têm consequências. A fatalidade
final da narrativa de Camilo é desesperante. Um amor tão jovem e inexperiente
leva à morte, quase que como se tratasse de um pecado. Por outro lado, em Tau,
a amizade entre Julia e o robô é vitoriosa, sendo que existem,
inexplicavelmente, sentimentos com uma máquina.
Ainda que com finais diferentes, ambas as histórias
têm um enredo semelhante, uma vez que há uma luta constante contra as
adversidades. O espectador acaba por prezar o esforço e dedicação dos infelizes
intérpretes. Considera-se que Simão é o herói romântico da novela e, de certa
forma, podemos atribuir o mesmo título a Júlia, uma vez que, dado os seus
contextos respetivos, ambos têm atitudes contraditórias das previstas.
Ângela (Bom -/Suficiente +)
Desde o aparecimento da humanidade, a palavra “amor”
foi, sem dúvida, a palavra com maior significado, pois sem ela não há razão de
vida e a sua existência pode ser encontrada em todos os seres vivos. Houve
vários filmes que me chamaram a atenção pelos seus atos de amor e heroísmo, mas
um que me mais marcou foi sem dúvida Titanic.
Titanic é um filme de paixão e drama, estreado em 1997 que retrata um
naufrágio real do RSM TITANIC. Existem algumas personagens que são meramente
ficcionais enquanto outras são figuras históricas.
O filme começa com uma espécie de flashback de
Rose para contar o que aconteceu naquele grande e famoso navio. Rose embarca
com o seu noivo Carl e com a sua mãe Ruth. Ruth, ao longo da viagem relembra
sempre a Rose que é muito importante o casamento entre ela e Carl, mesmo ela
sabendo que a sua filha não está interessada no homem com que se defronta e é
obrigada a casar. Também no Amor de
Perdição Teresa é obrigada por seu
pai a casar com o seu primo Baltasar, mesmo sabendo-se que não quer casar com
ele. Podemos imaginar e supor que os casamentos de ambas as personagens
poderiam vir a ter acontecido se ambas não se apaixonassem pelos seus grandes
amores, Teresa por Simão e Rose por Jack. Jack conhece Rose quando esta estava
prestes a suicidar-se porque não queria casar com Carl e acaba por salvá-la,
mas, no Amor de Perdição, Teresa
morre de desgosto por causa de Simão, pois Simão recusa-se a ir para a prisão
por dez anos e diz-lhe que era melhor que ambos morressem (“A luta contra a
desgraça é inútil, e eu não posso já lutar. Foi um atroz engano o nosso
encontro. Não temos nada neste mundo. Caminhemos ao encontro da morte…”).
Tanto o pai de Teresa como o noivo de Rose ficam
furiosos quando descobrem que Teresa e Rose estavam apaixonadas por homens que achavam
inaceitáveis e ambos tentaram arranjar maneiras para se livrarem deles. Tadeu
de Albuquerque queixou-se a Baltasar de que tinha apanhado a filha na varanda a
falar com Simão e Baltasar tranquilizou-o e disse-lhe que ele próprio iria tratar
do assunto. Tentou matar Simão, ainda que sem sucesso. Carl quando reparou na
pintura que Jack tinha feito da Rose, ficou furioso e decidiu tratar do assunto
pelas suas próprias mãos colocando o colar de cristal, que ofereceu a Rose
quando a pediu em casamento, no bolso do casaco de Jack e, depois, incriminou-o,
dizendo às autoridades que tinha sido ele, fazendo com que Jack fosse parar à prisão
do navio. Carl não só tentou incriminá-lo como também tentou matá-lo quando o
viu a fugir com Rose, o que o faz ter um comportamento semelhante a Baltasar.
Rose vai salvar Jack mas não encontram botes para poderem usar para escapar e
sobreviver. Destinados a ficar no navio a afundar-se, Jack também salva Rose
pondo-a em cima de uma parte do navio para não morrer congelada.
Ambos os amores da vida das duas mulheres
históricas morrem mas, ao contrário do que acontece no Amor de Perdição, Rose sobrevive, e quando lhe perguntam o nome,
ela diz o apelido de Jack, parecendo, assim, que se casaram, fazendo que uma
parte do que ambos queriam se realizasse. Tanto Rose como Teresa foram
inspiradas por Jack e por Simão e nenhuma delas se arrependeria por tê-los conhecido
apesar do final trágico que ambas tiveram.
Natacha (Bom +)
O enredo do filme Dança comigo (Dirty Dancing), dirigido por Emile Ardolino, é bastante comum: a
jovem de família rica apaixona-se por um rapaz bonito e sensual de classe
baixa. Juntamos-lhe uma banda sonora vencedora de um óscar e temos um sucesso
dos anos oitenta que ainda hoje é visto por pessoas de todas as idades.
O meu interesse no
filme não tem, neste caso, a ver com a famosa música “The time of my life” mas
com as semelhanças que este apresenta com a obra Amor de Perdição. Em primeiro lugar, a paixão de Baby e Johnny é
altamente desencorajada, para não dizer proibida, pela família de Baby. Tal
como na novela de Camilo Castelo Branco, a oposição da família não impede os
encontros, no caso do livro a correspondência, por carta (“À hora em que leres
esta carta…”) ou via Mariana, entre os apaixonados.
Johnny e Simão
apresentam também algumas parecenças de carácter, comuns ao herói romântico: ambos
desafiam as regras e as leis, numa atitude de rebeldia, Johnny através do seu
estilo de dança e Simão através do seu “génio sanguinário”. Em ambos os casos,
também as suas motivações parecem ser semelhantes. À primeira vista podemos
achar que é o amor pelas respetivas amadas que os motiva a rebelar-se, mas
considero que a principal razão serão motivos de honra e valores de liberdade:
Johnny quer provar ao pai de Baby, e aos outros homens ricos como ele, que não
é uma pessoa inferior apesar de ser de uma classe mais baixa; e Simão acredita
que “a submissão é uma ignomínia”, procurando a todo o custo afirmar a sua
liberdade e fazer aquilo que entende que deve ser feito.
Existem outras personagens
no filme que nos fazem lembrar as personagens de Amor de Perdição. A irmã de Baby poderia facilmente corresponder a
Manuel, irmão de Simão, pois ambos funcionam quase como figurantes na história.
Baltasar, o primo “composto de todas as virtudes” de Teresa, também tem um
correspondente no filme, Robbie, que se supõe ser o pretendente de Baby, um
menino rico que cai nas boas graças do pai de Baby. Tal como Simão e Baltasar,
também Johnny e Robbie têm desavenças, ambos se envolvem numa briga. Claro que
a briga entre Johnny e Robbie não tem um desfecho fatal como acontece com a
morte de Baltasar, que resulta na prisão de Simão.
Focando-me agora nas
protagonistas femininas, chego à conclusão de que Baby foi mais bem-sucedida do
que Teresa, no que toca ao final feliz. Teresa acaba morta não por maus tratos,
não por doença −“Está morta, e morreu quando eu lhe tirei a última esperança”−
mas porque Simão pôs a honra e a liberdade à frente da possibilidade de um dia
virem a ficar juntos – “Em dez anos terá morrido meu pai e eu serei tua esposa”.
No caso do filme, Johnny enfrenta o pai de Baby motivado por ela e, juntos,
dançam a sua dança sensual e revolucionária, que acaba por ser o meio de
convencer os pais de Baby de que afinal o seu amor não era assim tão errado.
Leonor (Bom +)
A Culpa é das Estrelas (2014) é um filme
baseado na obra homónima do escritor norte-americano John Green, tendo sido
dirigido por Josh Boone.
O seu enredo é muito semelhante ao de muitos
outros filmes que abordam a temática da doença grave, com a consequente morte
das personagens. Apesar deste aspeto, é também muito diferente, porque Hazel
Grace e Gus, os protagonistas, embora saibam que podem morrer a qualquer
momento, não se sentem vítimas e querem viver a vida que lhes resta com emoção
e entusiasmo, esforçando-se por não dar ao cancro demasiada atenção, brincando
com a situação: Hazel ri-se das suas dificuldades respiratórias e Gus do facto
de ter perdido uma perna e de usar uma prótese.
A maneira de ser destes jovens aproxima o filme
do livro Amor de Perdição, pois tanto
Teresa e Simão como Hazel e Gus são jovens corajosos, decididos, que decidem
lutar pelo amor que sentem e contra as dificuldades que a vida lhes impôs: no
romance, devido às desavenças entre as suas famílias; no filme, devido à
doença de ambos.
Outro aspeto interessante é a forma como se
conheceram e apaixonaram: Teresa e Simão conheceram-se à janela e, através do
olhar, ficaram para sempre ligados um ao outro, pelo amor (“Da janela do seu
quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la sempre”); Hazel e Gus
viram-se a primeira vez num grupo de apoio para jovens doentes com cancro e, no
momento em que os seus olhares se cruzaram, perceberam que se tinham
apaixonado. No filme, esta é uma cena muito forte, em que tudo é dito através
do poder do olhar de ambos.
Simão e Gus também têm em comum alguns traços de
herói romântico, como o sentimento individualista, quando tomam nas suas mãos o
seu destino: Gus, pensando na felicidade de Hazel, faz a viagem a Amesterdão
sabendo já que o seu cancro se tinha espalhado pelo corpo e que essa viagem
seria perigosa para ele; Simão, ao saber que Teresa partirá para o Porto,
decide ir vê-la, apesar dos perigos que poderá correr, dizendo que fará “o que
a honra e o coração” lhe mandarem.
Após a morte de Teresa e de Gus, Simão e Hazel
recebem uma carta, última mensagem de quem partiu: nessas cartas, além de
reafirmarem o amor que sentem, há ainda outras mensagens: Teresa garante a
Simão que esperará por ele no Céu; Gus faz o elogio fúnebre de Hazel, que lhe
tinha sido solicitado por ela.
A vida após a morte e a eternidade do amor
vivido num outro mundo está presente no romance e no filme. Hazel fala do
infinito, Gus tem a certeza de que há vida para lá da morte, porque, de outra
forma, nada teria sentido na vida terrena, e Teresa, ao despedir-se do amado,
diz-lhe “Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!”.
Devido a esta certeza de outra vida, outros
tempos, a aceitação da morte com serenidade é evidente em ambas as obras.
B. Entrezede (Bom +/(Muito Bom-))
A música está do teu lado (Footloose) é o
nome de uma música pop-rock de Kenny Loggings e um dos maiores êxitos
cinematográficos de Herbert Ross. Este musical, romance e drama de 1984,
retrata a vida de Ren McCormack, um adolescente rebelde e divertido, que viaja
até uma cidade de Chicago, Bomont, para ir morar com os seus tios. Esta cidade
era muito diferente de todas as outras que conhecia, tendo uma série de leis
invulgares. Ao deparar-se com a impossibilidade de ir a festas, dançar e ouvir
música, Ren sente-se obrigado a revelar o seu lado rebelde como um ato de
revolta e mudança. Em Amor de Perdição, Simão, uma personagem de “génio
sanguinário”, é caracterizado como violento, conflituoso e ameaçador por
defender a classe mais baixa e por “[conviver]
com os mais
famosos perturbadores da academia”.
É possível comparar este filme com a obra de
Camilo Castelo Branco, onde Ren e Simão desempenham papéis principais de
adolescentes com um caráter psicológico semelhante, que se apaixonam à primeira
vista. No caso de Simão, este apaixona-se quando vê Teresa de Albuquerque na
janela; e Ren apaixona-se por Ariel, a filha do reverendo da igreja católica
(reverendo Moore) assim que a vê no dia da apresentação da escola. A
dificuldade que estas personagens têm em se relacionar com quem amam é outro
aspeto em comum. Em Amor de Perdição, a rivalidade que existia entre a
família de Domingos Botelho, pai de Simão, e a de Tadeu de Albuquerque, pai de
Teresa, impossibilitava a aproximação entre os dois jovens. O mesmo acontece
com Ren, quando o pai de Ariel descobre todas as ilegalidades e lutas em que
Ren se envolvera, proibindo o contacto entre os dois.
Focando-me agora em personagens secundárias, o
reverendo Moore podia corresponder a Tadeu de Albuquerque, uma vez que ambos
são radicais no seu comportamento e não permitem o amor entre as suas filhas e
os seus amados, Ren e Simão, respetivamente. Em Amor de Perdição, Tadeu
de Albuquerque envia Teresa para o Convento de Monchique, no Porto; no filme, o
reverendo Moore denigre a reputação de Ren por este constituir uma ameaça para
a sociedade, impedindo qualquer aproximação entre os jovens. Também Baltasar
Coutinho, o primo a quem Teresa ia “dar a mão de esposa”, correlaciona-se, no
filme, com Chuck Cranston, o namorado possessivo de Ariel, pois são os
pretendentes desejados por Tadeu de Albuquerque e reverendo Moore. No entanto,
Teresa, apaixonada por Simão, afirma que não casará com o seu primo, preferindo
a morte (“– Mate-me; mas não me force a casar com o meu primo!”). Ariel, ao
sentir uma atração por Ren, termina a relação com o seu namorado e, desafiando
as ordens do pai, começa a namorar com Ren.
Consigo também comparar João da Cruz, um
ferreiro sensato, com os tios de Ren. João da Cruz, por gratidão à família
Botelho, deu abrigo a Simão e protegeu-o quando este foi visitar Teresa na sua
festa de casamento; e os tios de Ren sempre o defenderam e pagaram todas as
multas de que Ren foi alvo, por ouvir música e dançar na rua.
A música está do teu lado, ao contrário de Amor
de Perdição, termina com um final feliz e previsível. No filme, Ren
convence o reverendo Moore a fazer um baile de finalistas num bar longe da
cidade, sendo o seu par Ariel, a rapariga mais cobiçada de Bomont. Na obra camiliana, Teresa, uma rapariga
charmosa e bonita, suicida-se depois de acenar a Simão. Este, após nove dias
com febre e delírios (“A febre aumentava. Os sintomas de morte eram visíveis
aos olhos do capitão”), acaba por morrer e ser atirado ao mar (“Foi o cadáver
envolto num lençol, e transportado ao convés”).
Rodrigo (Suficiente (+))
Crepúsculo, sendo o primeiro filme da série Twilight Saga, adaptado do primeiro da trilogia e indiscutível “besta célebre” por mais de 250 semanas,
de Stephenie Meyer, por Melissa Rosenberg, conta-nos a história de Isabella Swan, de 17 anos, uma jovem que nunca tinha experienciado
grandes emoções. A vida dessa jovem acaba por dar uma reviravolta quando a
mesmas decide mudar para a pequena e
chuvosa cidade de Forks,
onde iria viver com seu pai, Charlie, o chefe da polícia local.
Simão
Botelho, protagonista de Amor de perdição,
vivia uma vida monótona e rebelde em Coimbra até que, certo dia, avista pela
janela do quarto Teresa, por quem se apaixona imediatamente. Edward Cullen, uma das personagens
principais de Crepúsculo, que vivera durante mais de duzentos anos,
teria algumas semelhanças com a vida de Simão, até que conhecendo Bella numa
aula da Biologia, mas, ao contrário de Botelho, o protagonista sente-se
profundamente irritado com a presença da jovem sem razão aparente. Até que um
dia, Swan descobre que Edward seria então um vampiro e que o sentimento precoce
de repulsa em relação à mesma derivava de um ímpeto completamente oposto ao
qual o mesmo tentou resistir com medo de magoar a inocente Bella que entrava
numa realidade completamente diferente daquele em que estivera inserida durante
toda a sua vida. É essa mesma paixão que ambos os pares amorosos retratados
tinham que os fazia cometer qualquer loucura para estarem com quem mais
queriam. Em ambos os casos, o fator “amor impossível” era notório. De um lado,
um vampiro e uma humana, que arriscariam tudo para estar juntos sem ligarem aos
perigos consequentes desse mesmo amor; do outro, uma história, ao princípio
facilitada, que acaba por se mostrar complexa quando os dramas familiares tomam
as rédeas da relação dos dois jovens.
Ao longo da longa-metragem são-nos apresentadas
inúmeras personagens-chaves para o desenrolar da história de que se poderiam
destacar a família de Edward, que apoia a relação do casal a todo o custo,
arriscando por vezes as suas próprias vidas em prol do bem-estar de ambos, mas,
principalmente, Jacob Black (de uma família
amiga de Charlie),
amigo de infância de Bella, que, apesar de apoiar a união dos dois, aparenta
ter uma paixoneta pela protagonista, tal e qual como Mariana, que, na obra,
apresenta um papel importante para o desenlace final. Apesar de Crepúsculo se tratar de um filme apenas
e não da trilogia inteira, o desfecho do mesmo aparenta uma semelhança incrível
com o livro, quando, apesar de não acabar de forma trágica, Bella expressa a Edward o seu desejo de se tornar
vampira, para que possam permanecer juntos para sempre, fruto do amor incondicional
que sente pelo mesmo e que é claramente recíproco, também em Amor de Perdição, no final, Teresa e
Simão acabam por conceber esse mesmo desejo, pensando sempre um no outro
(“Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!"- Excerto da
carta de Teresa para Simão momentos antes de falecer”), apesar de numa forma
trágica, com a morte dos dois amados, finalmente reunidos, sem dramas nem
dilemas, no paraíso.
Elisa (Suficiente (+)/Suficiente)
O Espaço Entre Nós inventa um cenário elaborado de ficção científica para contar um romance
adolescente impossível. No filme, o adolescente Gardner Elliot é o primeiro
humano nascido em Marte. Mas ele deseja fazer uma viagem à Terra para conhecer
a verdade sobre o seu pai biológico, e sobre o seu nascimento. Nesta fase, tem
o apoio de Tulsa. Para alguns, esta seria o suficiente para um romance lindo.
Concebido na Terra por um pai que ele nunca conheceu, Gardner é mantido em
segredo desde então por Nathaniel Shepherd (Gary Oldman), que escreveu uma
carta ao presidente dos EUA, aos 12 anos de idade, onde explicava como “coragem
sem limites” levaria os homens a colonizar Marte.
Na necessidade desesperada de contacto com humanos “normais”, descobre
uma maneira de conversar por vídeo com uma rapariga chamada Tulsa, na Terra
(evidentemente a tecnologia de comunicações evoluiu mais do que viagens
espaciais visto que conversam em tempo real, embora o trajeto entre planetas
ainda seja de sete meses). Isso leva Gardner a querer viajar para a Terra e, em
mais uma má decisão, Nathaniel aceita em deixá-lo fazer a viagem. Amor de Perdição, escrito por Camilo
Castelo Branco, conta-nos história de
amor não muito feliz. O título do livro foi escolhido em grande parte devido à
própria situação do autor. Com efeito, parte do enredo retrata situações que
Camilo Castelo Branco e Ana Plácido viveram, como uma relação amorosa infeliz.
Apesar das épocas e histórias serem muito distintas, conseguimos perceber a
igualdade dos sentimentos das personagens principais entre o filme e Amor de Perdição. No filme, Gardner e
Tulsa mantêm contacto através de mensagens. Na novela, Simão Botelho e Teresa
de Albuquerque trocam as suas cartas. Gardner, após a primeira tentativa de
sobreviver na Terra, é obrigado a voltar para Marte devido a questões de saúde,
sendo assim o casal separado. Teresa de Albuquerque é obrigada a ir para um
convento, para não manter contacto com Simão Botelho.
Podemos considerar ambas as histórias como de amores impossíveis. Em
ambos, o principal “entrave” à paixão são os pais. No Amor de Perdição, o pai de Teresa, sendo um homem austero e duro,
não permite que a filha mantenha contacto com Simão que, a seu ver, era um irresponsável,
mandando-a para longe. Em Espaço Entre
Nós, o pai de Gardner, só reconhecido por Gardner a meio do desenrolar da
história, força-o a voltar para sua casa, Marte. Duas histórias com muitas supresas, que nos
mostram que nem sempre o amor ganha, ao contrário dos enredos tradicionais.
Beatriz Pi
(Bom)
Dei-te o Melhor de Mim (Best of Me) é um filme
romântico cujo enredo se baseia na história de amor entre Dawson Cole e Amanda
Collier, desde o momento em que estes se apaixonaram na primavera de 1964, até
que se reencontram após estarem afastados durante vinte anos.
A paixão de Dawson e Amanda, tal como a de Simão e Teresa,
não está isenta de obstáculos. Em Amor de Perdição, o ódio entre Tadeu
de Albuquerque e Domingos Botelho não permite que os jovens fiquem juntos:
Tadeu procura forçar a sua filha a casar-se com Baltasar, ameaçando enviá-la
para um convento, caso esta recuse. No entanto, Teresa
é corajosa
e obstinada e, mesmo tendo sido uma filha afetuosa, recusa-se a casar-se com
alguém por quem não está apaixonada. Amanda partilha estas características com
Teresa, apesar de amar os seus pais, recusa-se a terminar a relação com Dawson
quando o pai ordena que o faça, já que Harvey Collier não aprova o facto de que
a sua única filha namore com alguém de classe baixa, acabando mesmo por tentar
subornar Dawson para que este termine o namoro com a sua filha, o que ele
recusa. Ambas as relações prevalecem, apesar de terem as suas famílias como um
grande obstáculo às suas relações.
Antes
de se apaixonar por Teresa, Simão revelava um comportamento violento e sem qualquer
consideração pelos outros. No entanto, o amor de Teresa tem um impacto positivo
na vida e personalidade de Simão, que deixa para trás a vida boémia e passa a focar-se apenas nos estudos e na
sua irmã mais nova, Rita (“No espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão”).
Amanda afectou também Dawson, que era introvertido e sem quaisquer objectivos
para o futuro: é ela que o faz abandonar a sua zona de conforto e finalmente
considerar a hipótese de que ele poderá fazer mais com a sua vida do que os
seus pais e irmãos, e Dawson apercebe-se destas mudanças e de que a sua amada é
a responsável por estas (“I love who I am when I'm with you, Amanda” —“Adoro
quem sou quando estou contigo.”).
“E
história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos (…)?!” — esta questão de Camilo
Castelo Branco poder-se-á aplicar a ambas estas histórias de amor, com
desfechos trágicos e de partir o coração. Teresa morre, doente e longe do amor
da sua vida, e este morre apenas alguns dias depois e, em Dei-te o Melhor de
Mim, Dawson morre às mãos do seu pai e irmãos, num ato de vingança por ter
denunciado as suas atividades criminosas à policia. Tanto Teresa com Dawson
deixam para trás cartas de despedida destinadas aos que amam.
Teresa
envia cartas a Simão, sabendo já que ia morrer, procurando esclarecer que a
razão de tal estar a acontecer se devia à partida do seu amado (“Está morta e
morreu quando lhe tiraste a última esperança”), acabando por morrer ao observar
a partida de Simão. Por outro lado,
Dawson despede-se de Amanda, pensando que esta vai regressar a casa e que nunca
ficarão juntos, desconhecendo o seu
destino trágico. E procura garantir ao seu amor que entende o porquê do que ela
está a fazer e assegura-a de que a amará para sempre (“You have commitments, I
understand. And you wanna keep them, I can only
love you more for that.” — “Tu tens compromissos, entendo. E,
queres honrá-los, eu apenas posso amar-te mais por isso”).
Ambas
estas relações atribuladas acabaram em tragédia e em sofrimento, mas têm uma
diferença. Enquanto Simão tenha acabado por morrer de coração partido e a
sofrer, Amanda decide que vai viver por Dawson, e aproveitar a sua vida ao
máximo, concretizando todos os objectivos que tinha na adolescência, algo que
Dawson a incentivou a fazer durante a sua breve reunião em adultos.
Maia (Bom +)
O filme
que tratarei de comparar com a obra mais célebre de Camilo Castelo Branco é Interstellar,
que ganhou o Oscar de melhores efeitos visuais de 2015 (além de quatro
outros prémios bem conhecidos). Como é, certamente, percetível pelo trailer
desta obra de ficção-científica, Christopher Nolan explora a ideia de uma Terra
apocalítica atacada por pragas a nível mundial (apenas resistindo o milho e
mesmo assim estando prevista a sua extinção). Após algumas intervensões
fictícias, o protagonista, Coop, ex-piloto da NASA de mente brilhante, encontra
o plano para salvar a Humanidade da extinção. Colonizar outro planeta parece
ser a única possibilidade graças ao wormwhole que apareceu
"magicamente" perto de Saturno.
Em Amor
de Perdição, o herói romântico fala com a sua amada, principalmente,
através de cartas manuscritas. Por vezes, é Mariana a transportadora de
mensagens pela via oral, mas este facto é irrelevante para esta comparação.
Após a partida do grupo enviado pelo chefe da NASA, a única maneira de
comunicação disponível é por ondas rádio. É-nos apresentada uma maneira de
falar muito parecida com a que Simão e Teresa utilizavam em seu tempo.
Estranhamente, o envio de vídeos, em monólogo que o interlocutor pode apenas
ouvir gravando depois o seu próprio vídeo e enviando-o como resposta, funciona
exatamente como as dezenas de cartas trocadas entre os jovens apaixonados. Na
cena de 1:41:00, os cientistas exploradores recebem uma mensagem-vídeo de
Murph, filha de Coop, que, devido à relatividade temporal (que não explicarei
neste ensaio de modo a poupar quaisquer leitores desinteressados) envelheceu
mais rápido e, neste momento, encontra-se mais ou menos com a mesma idade que
seu pai. O motivo desta mensagem é a morte do pai da Drª. Brand, também chefe
desta missão heróica. É-nos revelado de forma certamente trágica, mas de origem
diferente da da típicamente romântica e apresentada em Amor de Perdição. Vemos,
no entanto, a cara da Drª ao saber que uma pessoa amada pereceu perante a
idade. De forma análoga à obra camiliana, imaginamos (neste caso) a cara de
Simão ao perceber que a sua amada ja teria falecido enquanto ele lê as suas
últimas palavras sobre o céu que Simão havia pintado na mente da fidalga:
"É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. [...] A vida
era bela, era, Simão".
A obra
de arte cinematográfica começa na forma de documentário que mostra testemunhos
de pessoas já idosas a contarem como era a vida na sua altura (a vida na Terra
após a vinda das pragas mundiais), percebemos que uma das jovialíssimas
senhoras é, de facto, a adorável e brilhante Murph, que sobreviveu a todos os
eventos apresentados no filme e que (aparentemente) os relata no restante
tempo. Forma-se assim uma analepse, onde se começa por contar o desfecho da
história e, só depois, se conta o início. O mesmo se verifica na obra de
literatura. O sobrinho de Simão Botelho começa por encontrar um registo da
prisão onde se encontra que o informa do mandato de aprisionamento e, mais
tarde, de degredo para a Índia. Logo de seguida, Camilo conta a história do seu
tio Simão, formando outra analepse.
Daniel (Suficiente -)
Ao
estudar Amor de Perdição de Camilo
Castelo Branco foquei-me na personagem Mariana e na sua cega lealdade para
Simão, lealdade daquelas que vemos em alguns animais com os seus donos.
Uso
palavras de outros: «Mariana é uma moça altruísta e simples que coloca o seu
amor por Simão à frente da sua vida. É mais importante estar ao lado e apoiar
Simão do que viver uma própria vida – é esse o destino de Mariana. Protege e
cuida de Simão, como vemos no pensamento deste no capítulo X: “O teu anjo da
guarda fala pela boca daquela mulher, que não tem mais inteligência que a do
coração alumiado pelo seu amor”».
Tal
como Mariana, o cão e o cavalo são considerados os animais mais leais, capazes
de arriscar as suas próprias vidas para salvar o seu dono e daí me ter lembrado
do cão do filme Hachi. Hachi: a Dog's
Tale é um filme dramático baseado numa história verídica de um cão japonês
chamado Hachikō. É um filme alegre e triste, que nos mostra também um amor
dedicado e leal.
Aproveitemos uma sinopse
coorente: «Hachiko é um cão encontrado pelo professor universitário Parker
Wilson que o leva para casa. Hachi passa a acompanhar Parker todas as manhãs
até à Estação do Comboio, onde o professor apanha o comboio para a
Universidade. Hachi volta para casa e ao final do dia, volta para a Estação
para acompanhar o dono para casa. Um dia, Parker tem um ataque cardíaco fatal
enquanto dá uma aula. Na estação Hachi espera pacientemente que o comboio
chegue, mas Parker nunca regressa».
De novo, palavras de sebentas:
«Em Amor de Perdição o pai de Mariana
é totalmente contra, tenta dissuadi-la, mas o seu amor é mais forte do que ela.
É um amor cego, leal e desprovido de necessidade de reciprocidade. Mariana nem
tenta rivalizar com Teresa; ela apenas existe para servir os intuitos de Simão.
Aliás, é ela que permite que a paixão entre Simão e Teresa viva e reviva. O seu
espírito de sacrifício é tanto que, quando Simão escolhe o degredo para a
Índia, Mariana acompanha-o cegamente. Simão sabendo da morte de Teresa, morre
de doença e desgosto e Mariana, apaixonada por Simão, atira-se ao mar agarrada
ao seu corpo».
Também
Hachi se “agarra” à Estação de Comboios por vários dias – dia e noite – sempre
com esperança que Parker volte para irem juntos para casa. Hachi é enviado para
viver noutra casa no entanto, na primeira oportunidade, escapa e encontra o
caminho de volta para a estação, onde se senta no lugar do costume. Durante os
nove anos seguintes, Hachi espera pelo seu dono. A mulher de Parker, que
entretanto tinha mudado de casa, e pensava que o cão estava a viver com outros
donos, regressa um dia à estação e emociona-se ao ver o cão ainda ali. Esse
reencontro entre Hachi e a mulher de Parker representa uma última união entre o
cão e o seu dono e Hachi já cansado e velho fecha os olhos pela última vez.
Esta
lealdade, esta confiança cega, esta preocupação com o bem-estar da outra pessoa
mais do que o seu próprio bem-estar, é semelhante em Mariana e em Hachi.
Quem é
leal partilha todos os momentos – os difíceis e os bons – é como se cumprisse
um compromisso, uma obrigação para com o próximo.
Alexandra (Bom -)
O filme americano Everything, everything (Amor
Acima de Tudo), realizado por Nicola Yoon, conta a história de uma rapariga de
dezoito anos, inteligente e cheia de imaginação, confinada na sua própria casa devido a uma doença que a impede de estar
no exterior. Tudo muda quando se apaixona pelo adolescente que mora ao seu
lado.
O
amor de Teresa e Simão, intriga principal de Amor de Perdição, é desde cedo proibido pelas famílias de ambos por
a relação entre estas não ser a melhor devido a discordâncias no passado (“não
podes herdar apelidos honrosos, que foram pela primeira vez insultados pelo pai
desse miserável que tu amas”, p. 207 do manual). Os jovens, contra todos os
impedimentos e todos os que os querem separar, lutam com persistência pelo seu
amor. Semelhante situação ocorre no filme, onde os adolescentes Olly e Maddy se
veem impedidos de estar juntos e viverem o seu amor pela doença da jovem e a
protecção extrema da mãe.
O
amor dos protagonistas de ambas as histórias inicia-se num primeiro olhar que
mudará as suas vidas irreversivelmente. Simão e Teresa veem-se pela primeira
vez através da janela do quarto, tal como Maddy e Olly. A partir deste momento,
a paixão das personagens aumentou de dia para dia até não se imaginarem mais
sem a companhia um do outro. Com a constante necessidade de comunicarem, Simão
e Teresa trocam cartas entregues por uma mendiga, enquanto que Olly e Maddy
comunicam por mensagens e emails através do telemóvel e computador. Estes,
quando impedidos de utilizar a tecnologia, recorrem a recados entregues por
Carla, enfermeira de Maddy.
No
desenrolar da ação do filme é Carla, sem o conhecimento da mãe de Maddy, quem
permite o contacto físico entre os adolescentes, pois é com a sua ajuda que os
dois se encontram mais do que uma vez. Na obra de Camilo Castelo Branco, é Mariana a interveniente que ajuda
Simão e Teresa sendo ela, a certa altura, a mensageira dos apaixonados (“Sou
uma portadora desta carta para vossa excelência”, p. 210 do manual). A ação de
Mariana é determinante e difícil de suportar pois também ela estava apaixonada
por Simão (“E o coração da pobre moça, avergando ao que a consciência lhe
dizendo, chorava”, p. 211 do manual).
Por
só pensar em Teresa e desejar estar com ela, Simão mata a tiro Baltasar, primo
da sua amada — “Baltasar tinha o crânio aberto por uma bala” (p. 217 do manual)
— e, consequentemente, é exilado; Maddy, por ter uma vontade incontrolável de
sair de casa e conhecer o mundo lá fora, foge com Olly para o Havai, onde é
encaminhada de urgência para o hospital pela exposição ao ar livre.
Em Amor de Perdição e Everything Everything estão presentes diversas características que
nos permitem comparar ambos os enredos em muitos momentos da ação e, no
entanto, o final é diferente. A história de Simão e Teresa termina de forma
trágica com a morte de ambos após a ida de Simão para a Índia sem lhes ter sido
possível viver o seu amor. Com Maddy e Olly o destino foi mais simpático e os
dois foram viver juntos para Nova Iorque sem qualquer impedimento.
Rita
(Bom (+))
O romance de ficção
científica, adaptado por Mark Romamek, Never
let me Go (Nunca me deixes ir) é
um filme imensamente requintado e é uma elegante, mas também sombria,
representação do mais puro sentimento e da sensação poética de perigo,
incertezas, inseguranças e, sobretudo, de amor, o mais puro e frágil
sentimento. Essencialmente, o enredo desenvolve-se através do triângulo amoroso
estabelecido entre três órfãos, Tommy (Andrew Garfield), Ruth (Keira Knightley)
e Kathy (Carey Mulligan), que se conhecem desde que se conseguem lembrar. À
semelhança do Amor de Perdição, este
filme é uma história de amor entre dois jovens, um amor puro, mas impossível.
São situações
bastante diferentes as vividas por ambos os casais, contudo acabam por se
resumir ao mesmo fim: a desilusão por não lhes ser possível terem um final
feliz ou, pelo menos, um final juntos; e a vontade insaciável de quererem
passar mais tempo com a pessoa que verdadeiramente amam. No entanto, mesmo que
as histórias não tenham “O Final Feliz” tão esperado por qualquer espectador,
as decisões tomadas e os caminhos percorridos por Teresa de Albuquerque, com
Simão Botelho, e por Tommy, em conjunto com Kathy, são bastante distintas e até
opostas. Talvez possa até dizer que as personagens de Amor de Perdição tiveram a oportunidade de “decidir” que se não
pudessem viver juntos preferiam não viver de todo, enquanto que, pelo
contrário, em Never let me go, os
protagonistas não tiveram esta opção de escolherem se podiam continuar vivos,
mesmo que separados um do outro, acabando por morrer sem terem escolha, mas com
a certeza de que se amavam.
No filme, ambas as
personagens tinham um terrível destino programado ao mais minúsculo pormenor e
viviam uma realidade absurda e impensável na atual sociedade do século XXI; na
qual, a única razão de terem nascido seria que, quando fossem jovens/adultos,
estivessem perfeitamente saudáveis e aptos para doarem todos os órgãos vitais a
um desconhecido, mesmo que não o soubessem ou quisessem. Desta forma, na
maioria das vezes o terceiro transplante é o último, ou seja, o coração. Visto
que tanto Tommy como Kathy tinham este destino, ter esperança de que poderiam
ser felizes juntos era muito difícil. Contudo, como a maioria dos seres
humanos, foram teimosos e orgulhosos e
decidiram passaram a maior parte das suas vidas com outras pessoas (no
caso de Tommy, terá sido com Ruth) e sem serem honestos com os seus
sentimentos, e foi preciso que a vida, ou a morte lhes pregasse um susto para
se aperceberem de que tinham que aproveitar o pouco tempo que tinham, e
realmente concretizarem e viverem aquele amor já tão profundo. Na obra de
Camilo Castelo Branco, Teresa e Simão não demoraram muito tempo para se
aperceberem que queriam estar juntos para o resto das suas vidas, mesmo que,
para isso, só lhes restassem poucos dias.
Concluindo, em ambas
estas obras de arte, o amor é um conceito importante, mesmo que, no meio de
tantas discussões, inseguranças e obrigações não fosse percetível ou
valorizado. E mesmo que o final fosse a morte, todas as personagens (quer do
filme, quer do Amor de Perdição)
conseguiram fazer com que um amor impossível, quer o seu “inibidor” fosse a
morte ou os preconceitos de uma sociedade ou de família, deixasse de ser tão
impossível, mas sim um amor de dedicação, entrega e sacrifício.
Mafalda F. (Suficiente +/Bom -)
O filme Step
Up revolução (Step Up Revolution,
2012, de Adam Shankman), tem como principal elenco Ryan Guzman e Kathryn
McCormick, respetivamente Sean e Emily Anderson, dois jovens que se apaixonam e
que têm em comum a mesma paixão, a dança. O pai de Emily, rico empresário, vai
tentar destruir o bairro dos The Mob,
grupo de dança de Sean, e a partir daí surge um grande conjunto entre pai e
filha.
No segundo capítulo de Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, vimos a descobrir que
Simão e Teresa, dois jovens pertencentes a famílias que se odeiam e vizinhos
também, se apaixonam, criando assim ambos momentos de tensão entre família e
famílias (“Amava Simão sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira,
regularmente bonita e bem nascida.”; “O magistrado e sua família eram odiosos
ao pai de Teresa, por motivo de litígios, em que Domingos Botelho lhes deu
sentenças contra.”).
Na peça de Adam Shankman, Sean e Emily também se
apaixonam, no entanto não é um ódio que os separa mas os interesses e valores
que o casal tenta lutar contra o empresário.
De forma a tentar evitar que o bairro histórico
de Miami seja destruído pelo pai de Emily, os The Mob juntam-se, usando a sua principal arma, a dança. Com
pequenos momentos de pura imaginação, representação e dança defendem os seus
ideais. Emily acaba por se juntar ao grupo de Sean, e virar-se contra o pai,
tal como Teresa de Albuquerque e Simão, quando os proíbem de se amarem, por
pertencerem a famílias que se odeiam (“Fugirei como um assassino, e meu pai
será meu primeiro inimigo, e ele mesmo há de horrorizar-se da minha vingança… A
ameaça só ele a ouviu (…) ”- Cap. IV).
Ao longo de ambas as histórias, os casais
assemelham-se por, apesar de os pais não gostarem que tal relação exista,
nenhum deles desiste dele, tomando até algumas loucuras por amor. No filme,
Emily acaba por desistir do sonho de ser bailarina para se juntar ao protesto
com os The Mob e Teresa por aceitar
ir para um convento.
Finalmente, apesar de os dois casais lutarem
para ficarem junto, o fecho da história acaba por ser díspar. Em Amor de Perdição, depois de muitas
cartas como única fonte de contacto graças a Mariana, acabam os dois a morrer,
Teresa por tuberculose e Simão por não aguentar o sofrimento de ter a sua amada
morta (“Tu verás esta carta quando eu estiver num outro mundo, esperando as
orações das tuas lágrimas. As orações! Admiro-me desta faísca da fé que me
alumia nas minhas trevas!...Tu deras-me como amor a religião, Teresa. Ainda
creio; não se apaga a luz que é tua; mas a providência divina desamparou-me.”- Cap
X), e, em Step Up Revolução, acabam
os dois juntos, e de pazes feitas com o empresário, após um dos seu últimos
protestos ritmados ter feito o pai de Emily mudar de ideias quanto à destruição
do bairro.
Grego
(Bom (+))
O Amor nos Tempos de Cólera (Mike Newell, Love in the Time of Cholera, 2007) é
baseado no livro com mesmo nome, da autoria do colombiano Gabriel García
Márquez e publicado em 1985. A trama versa o amor de Florentino Ariza e Fermina
Daza, que se apaixonaram à primeira vista mas foram separados dada a diferença
de estados sociais.
Ao contrário de Amor de Perdição, o filme de Mike
Newell passa-se em duas épocas diferentes: primeiro, no final do século XIX,
quando Florentino e Fermina se veem pela primeira vez, e a meio do século XX,
quando se reencontram, já com idade avançada. Já a ação principal da obra de
Camilo passa-se num curto espaço de tempo, em inícios do século XIX.
Em ambas as
histórias, os personagens se veem pela primeira vez (e, consequentemente,
apaixonam-se) através de uma janela, Simão e Teresa da janela das suas
respetivas janelas, enquanto Fermina está na sua janela e Florentino vai a
passar na rua. O desenvolvimento do amor dá-se de diferentes formas em cada
obra: Simão e Teresa falam à noite pela janela no romance camiliano, enquanto
Florentino escreve cartas apaixonadas a Fermina.
Os pais de Teresa e
Fermina, ambos de caráter tirano e opressivo, descobrem o amor secreto das
filhas. Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, rejeita o amor da filha por Simão
devido ao ódio recíproco que tem por Domingos Botelho, pois este, um juiz,
havia-lhe dado uma sentença desfavorável.
Depois de separadas
dos seus amados, ambas as raparigas foram obrigadas a casar. Fermina acaba por
com o médico da família, Juvenal, anos mais tarde, enquanto Teresa rejeita
casar com o primo Baltasar. A ação de casamento forçado por Tadeu é imediata,
enquanto Lorenzo manda Fermina para a casa dos tios e, anos mais tarde, aí sim,
a força a casar com Juvenal. Já em Amor
de Perdição, Tadeu manda Teresa para o Convento de Monchique, no Porto,
após esta ter rejeitado casar com Baltasar ("Meu pai... mate-me, mas não
me force a casar com meu primo! É escusada a violência, porque eu não
caso!"), que acaba morto por Simão.
No final do romance
de Camilo, Simão, após estar preso, é exilado para Goa durante dez anos. No
caminho de barco, passa em frente ao Convento de Monchique onde está Teresa,
fraquíssima devido à doença. Teresa acaba por morrer em frente à janela, de
amor. Simão, também doente, morre também de amor. O seu corpo é atirado ao mar,
que segue Mariana da Cruz, apaixonada pelo herói da obra, e que o tinha ajudado
a manter contacto com Teresa. No final do filme de Mike Newell, Juvenal morre
acidentalmente em casa. Florentino vai ao funeral do médico e fala pela primeira
vez em cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com a sua amada, Fermina,
com a qual viverá até ao final da sua vida.
Amor de Perdição é uma das grandes obras da
literatura portuguesa e O Amor nos Tempos
de Cólera é baseado num dos grandes livros da literatura do século XX.
Ambas as histórias se centram num amor proíbido, com aspetos semelhantes e
contrastantes durante todo o enredo. Os finais são as partes mais distintas,
pois um acaba em alegria e o outro em tragédia, mas ambas as histórias nos
marcam, seja ao leitor de O Amor de
Perdição e o espectador d’O Amor nos
Tempos de Cólera.
Beatriz Pa
(Suficiente +)
A história do filme Endless Love, de 2014, assemelha-se à obra de Camilo Castelo Branco
Amor de Perdição.
Tal como Teresa, Jade Butterfield é uma rapariga de
uma família abastada que tem um futuro brilhante pela frente e se apaixona por
um rapaz (“o amor da fidalga”) com um historial agressivo, roçando a
delinquência. À semelhança de Simão Botelho, David Elliott desempenha, de uma
certa forma, o papel de herói romântico, forte, charmoso que não segue os
padrões da sociedade, tornando-se desta forma uma má influencia aos olhos dos
pais. A diferença entre ambos reside no facto de David trabalhar para ajudar o
pai a manter a oficina, já Simão provinha de famílias com posses.
Simão mete-se em brigas desnecessárias («corre de
noite as ruas insultando os habitantes e provocando-os à luta») o que faz com
que seu irmão o tema («Manuel, cada vez mais aterrado das arremetidas de
Simão»). A forma impulsiva e enérgica com que David defende os seus valores
confere-lhe um rótulo que não é o verdadeiro.
Os pais de Teresa e Jade são extremamente
protetores e fazem tudo para mantê-las longe de Simão e de David,
respetivamente. São ambos rapazes problemáticos e, até mesmo, com cadastro, no
caso de David; Simão só fica com cadastro criminal depois de ter morto
Baltasar, primo de Teresa («Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma
bala»), e se ter entregue à polícia, pois Tadeu Albuquerque tinha prometido a
mão da sua filha a Baltasar.
Tadeu, pai de Teresa, nunca aceitou o “namoro”
entre a filha e Simão, dada a rivalidade e a inimizade entre as duas famílias.
No entanto, o pai de Jade aceita inicialmente o namoro, no pressuposto de que
este não passaria de uma paixoneta de verão. Contudo, quando Jade se recusa a
ir para o curso de medicina, seu pai envida todos os esforços para terminar o
namoro, chegando ao extremo de conseguir uma ordem judicial de afastamento de
David. Também Tadeu tenta resolver o assunto de forma drástica, enviando sua
filha para um convento com o intento de impedir o namoro com Simão e, ao mesmo
tempo, forçá-la a aceitar o casamento com Baltasar, assumindo afastá-la da vida
secular para sempre num convento («Morrerás num convento!»).
Na obra de Camilo os dois amantes acabam por morrer
de desgosto por se verem apartados para sempre; já no filme Endless Love o casal apaixonado fica
junto para viver o seu amor intensamente.
João R. (Bom (-)/Bom)
(500) Days
of Summer,
ou (500) Days of Summer, em português,
não é a típica história de amor com um final feliz a que estamos habituados. O
protagonista Tom, conhece Summer (também traduzível para “verão” em português)
no seu local de trabalho. Após alguns meses de convívio, Tom e Summer
aproximam-se e existe um claro contraste: enquanto Tom se apaixona, Summer faz
questão de dizer que não acredita no amor e que não está à procura de uma
relação. O amor floresce involuntariamente durante algumas semanas, e culmina
numa relação amorosa. O cliché
aparece a meio do desenrolar da ação, quando se adivinhava um final feliz.
Semelhante a Amor de Perdição, e a tantas outras obras com um fundo
romântico, o antecipado final feliz, presumível através do desenlace do enredo,
acaba por não acontecer. A relação de Summer e Tom parecera ser perfeita, mas
repentinamente e partindo da vontade da protagonista, uma discussão acesa
provoca a separação do casal. Em causa estaria o facto de Summer Finn não
acreditar no amor verdadeiro. Após a separação, muitos são aqueles que se
esforçam para tentar reunir o casal, tal como Mariana em Amor de Perdição,
à exceção da irmã mais nova do protagonista masculino que o aconselha a
seguir em frente. A distância entre os
dois ao longo de alguns meses desempenha um papel fulcral nesta história e, mais
uma vez, o contraste entre a atitude dos dois é fundamental. Mais uma vez são
sublinhadas as inúmeras diferenças de personalidade e carácter. A forma como Summer lida com a separação é
completamente diferente da forma como Tom procura, ainda que não seja bem
sucedido, esquecê-la. De facto, Tom não é capaz de esquecer Summer devido a um
sentimento muito característico e humano – a saudade: “Não deve custar a morte
a quem tiver o coração tranquilo. O pior é a saudade, saudade daquelas
esperanças que tu achavas no meu coração”(Amor de Perdição).
Os dois protagonistas reencontram-se numa festa
de noivado de um colega de trabalho e Tom ilude-se ao pensar que se estaria
novamente a aproximar da sua amada. Repara que ela tem um anel de noivado no
dedo, e sai da festa em choque. Entra, então, num período muito complicado da
sua vida ao enfrentar uma dura depressão. Cortando todos da sua vida, refugia-se no álcool. Tom
“amou e perdeu-se”.
Acabaria por encontrar Summer algum tempo depois
e, num local muito simbólico a ambos, ela acaba por confessar que, finalmente,
encontrara o amor verdadeiro e que em nada era semelhante ao que alguma vez
sentira por Tom. Doze dias depois, o protagonista marca um encontro com uma
rapariga que concorrera à mesma entrevista de emprego que ele – Autumn
(“Outono” em inglês). O final do verão marca o início do Outono e o começar de
um novo ciclo, de uma nova etapa, de uma nova aventura e, para Tom, uma nova
paixão. Esquecer a desgraça que em tempos o atormentara e escrever uma nova página.
Como escrevera Camilo Castelo Branco: “Ama-me assim desgraçada, porque me
parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e de conforto.”
Tomás (Bom
-/Suficiente +)
Embora não pareça, o filme Me before you (ou,
em português; A Minha Vida Depois de ti), dirigido por Thea Sharrock, e
o romance Amor de perdição, escrito por Camilo Castelo Branco, têm um
tema idêntico. Ambos relatam num amor impossível, com personagens que têm um
destino quase sombrio.
No filme, temos Louisa Clark que começa a
trabalhar como enfermeira de William Traynor, um homem rico que, após um
acidente terrível, fica tetraplégico. Depois de
algum tempo, as personagens apaixonam-se (algo muito pouco profissional
mas um ótimo enredo para um filme romântico), mas o seu amor é impossível, visto
que, como William não se consegue mexer e, consequentemente, não consegue
aproveitar os momentos com Louisa, consequentemente Louisa descobre os planos
de William para acabar com a sua vida num suicídio assistido.
O filme e o texto estudado em aula são bastante
parecidos porque ambos tratam de um amor impossível, num caso por uma
personagem ser tetraplégica e, no outro, porque as personagens pertencem a
famílias que se odeiam. No texto, Simão é condenado a uma vida no degredo
(consequência de matar Baltasar, primo e prometido marido de Teresa), mas morre
antes de cumprir a sua sentença; no filme, William é “condenado” a uma vida
numa cadeira de rodas (consequência de ter sido atropelado por um motociclista)
mas morre ou, mais corretamente, suicida-se antes de cumprir a “pena”. No
texto, Teresa (o amor da vida de Simão), depois de desafiar o seu pai
negando-se a casar com o seu primo, é posta num convento e morre de desgosto e
tristeza por nunca mais poder estar com Simão. No filme, a Louisa, enfermeira e
amor de William, saiu a lotaria, literalmente. Depois de se suicidar, William
deixa a Louisa uma “pequena” quantia de dinheiro para que consiga seguir os
seus sonhos e, como se não chegasse, paga-lhe uma viagem a Paris para que
Louisa consiga saborear um croissant num café ao pé da torre Eiffel.
No filme não existe, no entanto, uma Mariana, a
amiga de Simão que está apaixonada por ele e o acompanha até à sua morte e se
suicida. Temos exatamente o contrário: o melhor amigo de William rouba-lhe a
sua namorada, que o deixara depois do acidente e que depois convida William
para o seu casamento, despertando sentimentos de ódio. Outra distinção entre o
filme e o texto e o facto de o amor de Louisa e William não ser um amor à
primeira vista. No início da sua relação profissional, Louisa pensa que William
a odeia, consequência de o segundo ser bastante rude.
Mafalda M. (Suficiente (+))
O amor impossível! Quem não gosta de suspirar
por uma história de amor impossível? Tanto Camilo Castelo Branco como Jojo
Moyes, o escritor do livro Amor de
Perdição e a escritora do livro e roteirista do filme Me Before You, que nas salas portuguesas teve o título Viver Depois de Ti, nos souberam trazer
esse estado.
O filme Me
Before You foi lançado em 2016, tendo tido muitas críticas, por retratar um
tema bastante controverso, a eutanásia. Lembro-me da primeira vez que vi o
filme, achei uma grande injustiça duas pessoas que aparentemente estão
destinadas a ficar juntas não poderem ter um final feliz, por conta de
problemas externos. Assim que acabei de ler o livro de Camilo, esse sentimento
voltou a tomar-me.
No filme, as personagens principais são Louisa
Clark, uma mulher alegre, divertida, extremamente persistente e romântica; e
Will Trainor, que sofreu um acidente grave que o deixa tetraplégico, que lhe
tira toda a garra de viver que um dia tivera, por isso é um homem taciturno,
ainda que com sentido de humor (embora quase sempre usado de forma obscura),
decidido e atento aos pormenores. Quando se conhecem, é um braço de ferro até
Will aceitar que Lou e todo o seu carisma entrem na sua vida. No final deste
processo, Will parece ter esperança num futuro melhor, até que Lou descobre o
verdadeiro motivo por que foi contratada. A partir desse momento, há uma
corrida contra o tempo, para tentar que Will mude de ideias.
Amor de
Perdição
é um romance que nos leva à superficialidade dos patriarcas da família Botelho
e Albuquerque, que nem tentam colocar a felicidade dos filhos à frente dos
problemas antigos, e esse começa por ser o problema principal. Enquanto Simão
Botelho é rebelde e não tem mãos a medir quando se trata de ajudar alguém,
Teresa Albuquerque é uma moça pintada à época, dona duma beleza angelical, uma
imagem pura. No início encontram-se as escondidas dos pais, e sem que ninguém
desconfie fazem juras de amor. Quando Tadeu de Albuquerque descobre, faz tenção
de que a filha case com o primo, Baltasar. A trama torna-se sombria quando
Simão é preso por matar o primo de Teresa e esta é levada para um convento,
onde acaba por morrer, mas antes deixa uma carta a Simão onde fala da sua
morte. Quando ele a recebe, vai a entrar a no barco que o levaria àÍndia,
cumprindo assim o seu exílio de dez anos pelo crime cometido.
A personagem Simão, tal como Will, muda o seu comportamento
após conhecer a amada. Os dois acabam por morrer, Simão porque entra numa espiral
de sofrimento induzida pela morte de Teresa e pelas doenças que o atingem em
alto mar. Já Will planeia a sua morte, por não conseguir imaginar uma vida em
que não seja capaz de viver, como vivera antes do acidente. Surpreendentemente,
em Me Before You, Lou tem um maior
desenvolvimento na sua forma de ver a vida depois de Will.
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