Saturday, August 25, 2018

Amor de Perdição pelo 11.º 3.ª


Mafalda (Bom -)
A rapariga que roubava livros (The book thief), produzido por Brian Percival, é uma adaptação do livro com o mesmo nome de Markus Zusak. Assim que estreou, este filme teve um grande impacto no público devido, principalmente, à mensagem que contem. Conta-se a história de uma jovem rapariga, Liesel, que desde muito cedo se habituou a sofrer, encontrando conforto num lugar incomum — os livros — com a ajuda do seu pai adotivo, Hans Hubermann, que a ensinou a ler. Tanto o Amor de Perdição como The book thief são marcados pela linguagem emotiva, apelativa e expressiva, que nos fazem sentir a amargura, por exemplo, do amor proibido de Teresa, ou ainda o peso e a aflição de certas situações que são retratadas nas duas obras. Um dos momentos mais importantes e marcantes no filme de Zusak é a chegada de Max Vanderbug, um judeu perseguido que procurou abrigo na casa dos Hubermann.
Tal como Max, que tinha a sua vida condenada por ser judeu, temos Simão Botelho condenado à morte pelo assassinato de Baltasar em Amor de Perdição. Max e Simão veem o rumo das suas vidas alterado devido a uma escolha amorosa ou a uma crença religiosa. Teresa, a rapariga que Simão amava interditamente — “Os nossos corações que estão unidos" —, tinha o casamento com o seu primo Baltazar previamente planeado pela família. Simão e Teresa amavam-se reciprocamente, mas o conflito entre as duas famílias não permitia esse amor. Foi num encontro determinante entre os dois pretendentes — “Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos (…)” — que Simão acabou por matar Baltasar. No filme, Max procurou abrigo na casa de Liesel para que os perseguidores nazis não o matassem. Deste modo, podemos dizer que a sentença de Max era fatal como a de Simão, que matara Baltasar por um ato de amor. Embora as circunstâncias sejam diferentes, o que liga estes protagonistas é essencialmente a sentença que determina a sua liberdade e vida.
Nas partes finais do filme, Liesel tem de se despedir de Max porque há o perigo iminente de ser encontrado na casa Hans Hubermann e de colocar em risco toda a família. Este é um momento bastante emotivo e difícil, pois os dois tinham construído uma bela amizade, que os amparava e protegia durante o tempo em que se mantiveram cativos na casa. Podemos assistir a uma despedida semelhante na carta de Teresa para Simão, antes da sua morte — “É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em que leres esta carta, se me Deus não engana, está em descanso.”. Outra das razões pelas quais o livro e o filme podem ser comparados é a Morte. No filme, a história é contada pela própria Morte, que persegue toda a vida de Liesel e de Max, e, no livro, o final é também marcado pela morte, que carrega Simão, Teresa e Mariana.

Inês M. (Bom (-)/Bom)

The Princess Bride (ou A Princesa Prometida, na sua tradução para o português) é um filme estreado em 1987, dirigido por Rob Reiner, baseado no romance, de 1973, de William Goldman.
Este filme conta a história de Buttercup, interpretada pela atriz Robin Wright, uma jovem aristocrata que se apaixona por Westley, encarnado por Cary Elwes, um simples camponês que trabalha para ela. Westley parte numa longa viagem para conseguir fortuna a fim de poder casar com Buttercup, mas nunca chega ao seu destino pois a sua embarcação é atacada por um barco pirata. A jovem recebe a notícia de que o amado tinha sido morto e fica devastada por acreditar ser ele o amor da sua vida. Após cinco anos, relutantemente, aceita casar com o príncipe Humperdinck, nunca escondendo o facto de não o amar.
Antes do casamento, Buttercup é raptada por três bandidos que veem o seu plano arruinado quando aparece um guerreiro vestido de preto, que, mais tarde, a princesa reconhece como sendo o seu amado Westley, quando ouve a sua costumada frase “As you wish [Como desejar]”.
Esta história de amor proibido é facilmente comparável com a obra de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, que retrata a realidade de Simão e Teresa, dois jovens apaixonados, proibidos pelas suas famílias de estarem juntos. Tal como Buttercup estava prometida a Humperdinck, também a mão de Teresa foi concedida, pelo pai, ao primo Baltasar, que ela diz abominar “como nunca [pensou] que se pudesse abominar”.
Ambas as personagens femininas sentem uma intensa repugnância pelo casamento a que estão destinadas, dizendo mesmo preferirem a morte. Bettercup diz ao noivo numa conversa: “Se me disser que terei de casar convosco daqui a dez dias, por favor, acreditai que estarei morta pela manhã”; igualmente Teresa se dirige ao pai, dizendo “Meu pai… Mate-me, mas não me force a casar com o meu primo! É escusada a violência porque eu não caso!”.
Tanto Buttercup como Teresa se ancoram no seu amado, que é o seu verdadeiro amor; a primeira afirma “Não casarei (…) O meu Westley salvar-me-á”, segura de que, após o seu “resgate”, estará livre daquele casamento indesejado. Por outro lado, Teresa continua a comunicar com Simão por cartas secretas contra a vontade do pai.
Também os pretendentes a casar com as personagens femininas apresentam semelhanças, ambos são indiretamente caracterizados de forma pejorativa: Baltasar Coutinho revela o seu espírito manipulador ao encomendar a morte de Simão e, talvez, a maldade herdada do tio, de quem se faz cúmplice, representando a concentração de todas a críticas aos fidalgos; Humperdinck é, também, o vilão da história, expondo, desde o início, o seu lado interesseiro, quando revela que apenas quer casar com Buttercup com o intuito de causar um confronto entre reinos e reforça, ainda, a sua malvadez, ao admitir ter sido ele próprio a encomendar o rapto da noiva.
Trata-se, em suma, de duas histórias em que o amor verdadeiro prevalece sobre qualquer confronto ou interesses alheios ao sentimento.

Bea (Bom/Bom (-))

Amor acima de tudo (Everything, Everything) é um filme romântico produzido por Elysa Dutton e Leslie Morgenstein.
Madeline, uma rapariga que está perto de completar dezoito anos, foi diagnosticada, desde que nasceu, com SCID (imunodeficiência combinada grave), sendo desde sempre muito ajudada pela sua mãe, Pauline, que é médica. Esta, por vezes, chega mesmo a ser obsessiva a cuidar da sua filha, pois não a quer perder como perdeu o marido e o filho. Dado o seu estado de saúde, Maddy nunca saiu de casa, pois isso podê-la-ia levar à sua morte.
Madeline e Olly conheceram-se exatamente da mesma forma que Teresa e Simão. Olly era o novo vizinho de Maddy e, numa noite quando estava à janela, viu-a do outro lado e apaixonou-se de imediato, tal como Simão. A partir daí começaram a comunicar por mensagens ou pela Internet, enquanto que Teresa e Simão comunicavam por cartas.
Olly era um rapaz que vivia com uma família problemática e revela ser um jovem rebelde e desafiador, podendo ser considerado um herói romântico, assemelhando-se este “estatuto” ao de Simão em Amor de Perdição, que desafia tudo e todos, sem pensar nas consequências (“Simão emprega em pistolas o dinheiro dos livros, convive com os mais famosos perturbadores da academia, e corre de noite as ruas insultando os habitantes e, provocando-os à luta com as assuadas.”).
Ao longo dos dias, Olly vai percebendo que algo de estranho se passa com Maddy e pergunta-lhe por que razão nunca a vê na rua e esta explica-lho. À medida que a história vai avançando, eles vão-se encontrando, sem que Pauline saiba, e seu o amor vai crescendo cada vez mais até ao dia em que Maddy comete uma loucura (que em Amor de Perdição pode ser associada ao momento em que Teresa desafia o pai, dizendo que não casa com o seu primo Baltasar: “mate-me; mas não me force a casar com o meu primo! É escusada a violência porque eu não caso”) e sai de casa quando vê, pela janela, que Olly está a ser agredido pelo seu pai.
Pauline, depois de a sua filha ter quebrado todas as regras e de ter posto a sua vida em causa, percebeu que ela e Olly já se andavam a encontrar há algum tempo e proibe-a de o voltar a ver, tal como Teresa foi proibida por Tadeu de ver Simão, porque as suas famílias eram inimigas, o que não acontece no filme. Tanto num caso como no outro, podemos considerar que, à partida, era um amor quase impossível.
Durante o tempo em que estiveram separados, Teresa e Simão, trocaram cartas onde ambos imaginavam um futuro juntos numa casinha “cercada de árvores, flores e aves”. Este futuro “perfeito” imaginado pelos dois nunca chegou a acontecer, ao contrário do filme onde Maddy foge de casa e viaja com Olly de avião para o Hawaii, concretizando assim o seu maior desejo: ver o mar. Viveram dias felizes e inesquecíveis.
Durante a viagem, Madeline sente-se mal, é levada ao hospital e chega mesmo a estar entre a vida e a morte. No dia seguinte, acorda já em casa e é chamada à razão pela mãe, percebendo que esta relação teria de acabar, e volta a contactar Olly uma última vez. Este momento do filme poderia corresponder ao momento em que, em Amor de Perdição, Simão lê a última carta que Teresa lhe mandara, pois esta chega mesmo a morrer: “É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em que leres esta carta, se me Deus não engana, está em descanso”.
O final do filme é bastante diferente do final do livro. Enquanto que no livro Simão e Teresa morrem, no filme Maddy acaba por descobrir que, afinal, não tem SCID e que a mãe lhe mentira toda a vida e vai ter com Olly, que voltará para Nova Iorque. E acabam por viver um “final feliz”.

Tita (Bom +/Muito Bom -)

Vejo em Charlie, personagem principal do filme de Stephen Chbosky, algo que me leva a recordar o clássico herói romântico (também presente em Amor de Perdição sob a forma de Simão Botelho). Charlie, tal como Simão (e, de forma geral, este tipo de personagem), mostra-se diferente do “comum”, fugindo a certas convenções do seu meio social. Charlie é tímido e vê no mundo o que talvez não seja visto por muitos, um encanto e uma vertente artística (é sempre mostrado como amante de literatura e de música). Um pormenor em comum é também a utilização da correspondência por cartas – na obra da literatura portuguesa, Simão e Teresa comunicam desta forma e, ao longo do filme, Charlie escreve cartas para um destinatário desconhecido, o “amigo”, sendo esta a maneira de desabafar e expor os seus sentimentos e emoções.
Em simultâneo com esta aproximação evidenciam-se igualmente características contrastantes entre os protagonistas das duas obras – Simão parece ser mais confiante, expondo ao mundo os seus pensamentos e o seu sentimento de honra, enquanto que Charlie é o que se chama um wallflower (em português, “goivo amarelo”), expressão utilizada para designar alguém extremamente introvertido que, embora frequente festas e outros eventos semelhantes, se distancia das pessoas e prefere estar fora do centro das atenções, numa posição de “invisibilidade”. Simão não procura ser o centro das atenções, mas também não o evita, sendo a sua principal preocupação a defesa da honra – acima até do seu amor por Teresa.
Já que se aborda o amor, aproveito para apontar que nas obras em comparação ambos os protagonistas estão profundamente apaixonados, embora Charlie não se aperceba e, quando o faz, não deixe que isso o conduza, o que considera poder significar estragar a sua amizade com Sam (a rapariga da sua paixão). Como acontece mais do que uma vez ao longo do enredo, Charlie deixa as oportunidades passarem e toma os outros como uma prioridade – até Sam o chega a alertar disso: “You can’t just sit there and put everyone’s life ahead of yours and think that counts as love [Não podes simplesmente ficar aí sentado e pôr a vida de todos à frente da tua e achar que isso conta como amor]”. Este é mais um ponto em que o filme se diferencia fortemente de Amor de Perdição – Simão Botelho é retratado como tendo um orgulho quase doentio e colocando-se a si próprio como prioridade: “Tenho a demência da dignidade: por amor da minha dignidade me perdi.”
Aproximando-se o final de ambas as histórias, há um episódio de demência e loucura por parte de ambos, Charlie e Simão – o primeiro é internado num hospital após um episódio de depressão e PTSD, stress pós-traumático, sintomas que teriam piorado após a partida dos seus melhores e únicos amigos para a faculdade, enquanto que Simão é assaltado por um intenso sentimento de culpa pela morte de Teresa (“Tanta gente desgraçada que eu fiz!...”).
É emocional o desfecho de ambas as histórias. No caso da obra camiliana é mais trágico e cortante, enquanto que o de As Vantagens de Ser Invisível é um final aberto, permitindo variadas especulações quanto aos acontecimentos seguintes (que, certamente, não seriam relevantes para a história).

Teresa (Muito Bom (-))

Ao ler a novela Amor de Perdição, é muito fácil associá-la a um filme romântico a roçar o lamechas, que retrate uma história de amor maravilhosa e idílica e acabe com o famoso “viveram felizes para sempre”, embora não seja o que acontece na história original. No entanto, penso que um dos melhores filmes com que se pode relacionar a mais célebre obra de Camilo Castelo é Que mal fiz eu a Deus? (Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu?), uma comédia francesa, realizada por Philippe de Chauveron, que estreou em 2014.
Este filme conta a história de Claude e Marie Verneuil, um casal de classe média alta e fervorosamente católico que tem quatro filhas. Para desgosto do casal, que, embora não o admita, é extremamente racista, as três filhas mais velhas têm casamentos interculturais: uma casou-se com um judeu, outra com um muçulmano e a terceira com um chinês. Quando a filha mais nova, Laure, conta aos pais que se vai casar com um homem católico, os pais ficam radiantes: finalmente vai haver na família um casamento tradicional, na igreja, como sempre sonharam. O problema é que Charles, como mais tarde descobrem, não é francês, mas proveniente da Costa do Marfim.
É aqui que começam as semelhanças com Amor de Perdição, sendo a mais evidente o desagrado das famílias. Tal como Tadeu de Albuquerque desaprovava o amor entre Teresa e Simão, chegando a trancar a filha, primeiro, no seu quarto, e, depois, num convento (“Entra nesse quarto, e espera que daí te arranquem para outro, onde não verás um raio de sol”), também o casal Verneuil desaprova o casamento inter-racial que Laure está prestes a levar a cabo, mesmo que o noivo seja católico como eles. No entanto, como a trama se passa em 2013 e não no século XIX, têm consciência de que já não têm qualquer controlo sobre a vida da filha e que nada podem fazer para impedir o casamento. Assim, Marie entra em depressão e Charles faz tudo para o boicotar. Também o pai de Charles, André Koffi, está profundamente desapontado por não conseguir impedir que o filho se case com uma francesa.
Outro momento paralelo entre novela e película é o “casamento arranjado” que as famílias de ambas as apaixonadas, Teresa e Laure, tentam forçar. Se, por um lado, Tadeu quer forçar Teresa a casar com o primo Baltasar contra a sua vontade (ato de alegado amor, afirma: “A violência de um pai é sempre amor”), o casal Verneuil (que vive num século e numa sociedade em que casamentos arranjados não são tão frequentes) tenta, sem sucesso, empurrar Laure para os braços de Xavier, filho de um casal amigo, bem nascido, com um bom emprego e católico — para eles, um candidato ideal.
O filme poderia, tal como a obra camiliana, que se fecha com Simão e Teresa separados e mortos, acabar de forma trágica. Ao perceber que o seu casamento poderá destruir a família, com a depressão de Marie e o iminente divórcio dos Verneuil, Laure decide cancelá-lo, chegando mesmo a despedir-se de Charles e a entrar no comboio para voltar a casa. No entanto, num filme de comédia um final desses não é frequente, pelo que Claude e André, pai e sogro, põem de lado as divergências e convencem-na a voltar e casar com Charles. Afinal, no século XXI, forçar os filhos a cancelar um casamento por preconceito ou desagrado pessoal seria puro egoísmo.

Sofia (Muito Bom -)
Titanic (James Cameron, Titanic, 1997) é o típico filme romântico que desenvolve a história de um amor proibido entre dois jovens (Rose Bukater e Jack Dawson), tal como em Amor de Perdição (Teresa de Albuquerque e Simão Botelho). O romantismo, presente nas duas obras, leva a que estas se assemelhem em derivados aspetos.
O conflito amoroso gira em volta de um casal apaixonado e de outras personagens que interferem ativamente nesse amor. Em Amor de Perdição, Mariana não chega propriamente a interferir no amor do casal, apesar de amar Simão. A posição de Mariana ainda se revela mais dura por esta viver e morrer amando incondicionalmente alguém que, em troca, só lhe oferece amizade. É Baltasar Coutinho quem entra intensamente no conflito amoroso, pedindo a mão de sua prima em casamento e querendo tirar a vida a Simão, mas sem sentir qualquer espécie de amor. A par de Baltasar está o herdeiro, Cal Hockley, que, no filme, persegue Jack a tiro pela mão de Rose, mas, neste caso, talvez se possa admitir que sinta algo por ela apesar de também considerar outros interesses.
Sendo duas obras românticas, caracterizam e definem as personagens principais como heróis românticos. Estas personagens (Simão, em Amor de Perdição, e Rose, em Titanic) caracterizam-se pelos seus sentimentos fortes, rebeldia, obstinação, sinceridade, honra e estatuto social nobre («É forte de compleição; belo homem»). Este estatuto é elevado propositadamente pelos autores para que estas personagens possam demonstrar de forma enfática a sua generosidade (quase caridade) para com as outras personagens de classe inferior («Na plebe de Viseu é que ele escolhe amigos e companheiros»). Esta demonstração de acessibilidade faz com que os leitores/espectadores se encantem e aproximem mais ainda destas personagens.
O desenlace das duas obras também é semelhante pelo seu carácter trágico. Na novela, a procura de felicidade, com alguém que amam profundamente, faz com que os jovens percam todas as suas forças, levando-os mesmo à morte. No filme, os jovens são levados à morte acidentalmente, pelo naufrágio do barco onde estavam. Em todo o caso, podemos assistir à confirmação de um amor verdadeiro seguida da morte dos amantes tanto no filme como na novela.
Se no filme a morte está inevitavelmente relacionada com o navio, na obra de Camilo, ainda que menos diretamente, o barco que levaria Simão Botelho para o degredo na Índia acaba por ser o local da morte dele e a causa da morte de Teresa («Está morta e morreu quando lhe tirei a última esperança»). Assim, o barco representa, de certa forma, o fim nas duas obras.

Eduardo (Suficiente +)
Usarei um filme de Francis Fitzgerald, The curious Case of Benjamin Button, em português, O Estranho Caso de Benjamin Button, para o relacionar com a obra de Camilo Castelo Branco  Amor de Perdição. Em ambos os casos estamos perante uma situação de amor proibido, um amor que enfrenta obstáculos e que  tenta superá-los mesmo que nem sempre com o melhor desfecho.
O filme relata a história de um rapaz “diferente” relativamente a todos os outros, pois sofre de uma condição que o fez nascer idoso e ir, com o tempo, rejuvenescendo. Simão de Amor de Perdição, em contraste com Benjamin Button, é um jovem que vive a sua adolescência normal embora bastante atribulada. Os dois conhecem uma rapariga pela qual se apaixonam e,em ambos os  casos, num amor à primeira vista. Para o primeiro, Daisy, uma rapariga de olhos azuis, para Simão,Teresa.
Benjamin conhece a sua amada na casa onde vive e foi acolhido, sendo ela neta de uma das senhoras também aí residentes. Desde o momento em que a conhece apaixona-se por aquela rapariga, que, naquela altura, tem em relação a ele tanta diferença de idade ela é jovem e ele idoso. No entanto, a sua relação floresce até que o protagonista abandona a casa e vai trabalhar para um barco rebocador numa grande viagem, enquanto ela segue o seu sonho e se torna uma grande bailarina, vivendo em Nova Iorque. A partir daqui conseguimos uma relação com o texto de Camilo no sentido em que Teresa e Simão também foram separados, tendo ido Teresa para o Convento de Monchique e Simão para a cadeia da relação, mais tarde, para o degredo na Índia.
Ao nível do narrador estas duas obras apresentam uma correlação. O narrador (filha de Daisy) do filme apresenta o enredo na 3.ª pessoa, lendo à mãe o diário que Benjamin deixara para trás com todo o seu passado (a ação desenrola-se em analepse). No caso de Amor de Perdição o narrador é igualmente heterodiegético, sendo, neste caso, o sobrinho de Simão Botelho que reproduz a vida do tio, fazendo-o tal como Caroline, na 3.ª pessoa “Simão, que tem quinze, estuda humanidades em Coimbra (…)”, mas, por vezes, retomando o uso da 1.ª pessoa, em breves comentários.
Outro aspeto a destacar quando comparamos os dois é o desfecho. Um final mais abrupto e infeliz é associado à obra camiliana, enquanto que o filme se finda de uma forma mais previsível e calma.

Nicole (Suficiente)
La traviata, filme dirigido por Franco Zeffirelli, é também a ópera de Giuseppe Verdi, constituída por 4 atos. É baseado na peça de Alexandre Dumas La Dame aux Camélias, e estreou em 1982, em Itália, entrando em lançamento geral um ano depois.
Neste filme existem duas personagens principais, Violetta Valéry e Alfredo, que se irão apaixonar. No entanto, enfrentam alguns obstáculos no seu relacionamento, tal como Teresa e Simão em Amor de Perdição. Violetta é uma cortesã famosa, no entanto luta contra a tuberculose. O seu sonho de um amor verdadeiro reacende-se quando conhece Alfredo, e desiste da sua estabilidade financeira para seguir o seu coração. Alfredo é um jovem burguês de uma família provinciana, que de há muito adorava Violetta. Tal como Teresa e Simão, no momento em que se conhecem ficam apaixonados um pelo outro.
Violetta dá uma festa luxuosa no seu salão de Paris para celebrar a recuperação da sua doença. Gastone, um visconde, leva consigo Alfredo Germont. Diz a Violetta que Alfredo já a conhecia há algum tempo e que a amava em segredo, fazendo com que Alfredo se declare a Violetta na hora do brinde. No entanto, estava já prometida ao Barão Douphol. Douphol faz-nos lembrar o primo de Teresa, Baltasar, que seria o seu futuro marido, mas Teresa não aceita casar, contrariando o seu pai e diz “mate-me; mas não me force a casar com o meu primo!...”.
No segundo ato, Violetta e Alfredo vão morar numa casa no campo, nos arredores de Paris. Porém Giorgio Germont, pai de Alfredo, visita Violetta e suplica-lhe que abandone Alfredo para sempre. Já em Amor de Perdição ambas as famílias não concordam com o relacionamento de Teresa, sendo o pai de Teresa que tenta separá-los, pondo-a num convento, já que Teresa se recusara a casar com Baltasar. Em La Traviata é o pai de Alfredo que faz com que que se separarem. Violetta envia uma carta de despedida a Alfredo, tal como Teresa envia uma carta a Simão; porém, quando a escreve, já sabe que, quando Simão a for ler, ela já estará morta, ao contrário do que acontece em La traviata.  
Violetta atende às súplicas de Giorgio, separando-se de Alfredo. Mais a frente Violetta começa a ficar muito doente e fragilizada. Tomada pela tuberculose, recebe várias cartas: uma chama-lhe especial atenção, era de Giorgio, arrependido por ter acabado com relacionamento. Os dois reconciliam-se, começando a fazer planos para depois da recuperação de Violetta. No entanto, começa a ficar muito debilitada e a sentir o corpo a ceder, entregando a Alfredo um retrato seu e avisando de que o entregue à próxima mulher por quem ele se apaixonar.
La Traviata apresenta algumas semelhanças e diferenças com o Amor de Perdição, porém ambos contam a história de um amor que passa por vários obstáculos, em que as personagens lutam para ficarem juntas.

Inês C. (Bom +)
Moulin Rouge (2001) é um musical que, tal como o Amor de Perdição, conta a história de um amor que, apesar de ser proibido, viverá para sempre. Este filme, do mesmo realizador de Romeo+Juliet (1996), Baz Luhrmann, passa-se no final do século onde a invenção de equipamentos como o telefone e a introdução das novas tecnologias, deram origem a uma revolução boémia.
Christian, um dos principais personagens do musical, é um poeta jovem e revolucionário que, contra a vontade de seu pai, se mudara para Paris para participar da revolução e escrever acerca dos ideais boémios. Interpretado por Ewan Mcgregor, Christian acaba por ficar apaixonado pela estrela do Moulin Rouge, Satine. Simão Botelho surge como um herói romântico e rebelde – «(…) Simão passava nesse ensejo; e armado de um fueiro (…) partiu muitas cabeças (…)», ll. 30-31, cap. I − que procura uma mudança social na sociedade conservadora e decadente em que vivia. Assim sendo, o caráter do protagonista é um elemento comum entre a obra e o filme.
Também o amor dividido é uma dimensão comum às duas obras. Em Moulin Rouge, Satine é uma cortesã que vendia o seu amor aos homens. Mais conhecida como «Diamante Cintilante», Satine encontra-se dividida entre Christian (o poeta que procurava seduzi-la para ela colaborar no espetáculo boémio, «Espetacular, Espetacular») e o duque (um investidor de Zidler, o manager de Satine, que ela teria de seduzir para financiar o clube noturno, Moulin Rouge). Posteriormente, a estrela do Moulin Rouge apaixona-se por Christian mas é forçada a ficar com o duque, uma vez que este tem a escritura do reino dos prazeres noturnos, mais conhecido por Moulin Rouge. Por outro lado, em Amor de Perdição, Teresa apaixona-se por Simão ainda que seu pai a queira casar com o seu primo Baltasar («(…) Vais hoje dar a mão de esposa ao teu primo Baltasar (…)», l. 6, cap. IV). Além disso, Teresa adquire ao longo da obra uma dimensão heroica, uma vez que se mantém firme e resoluta quanto ao seu amor e prossegue inflexível perante todas as tentativas de seu progenitor para a casar com o primo ou mesmo para a fazer freira («(…) É escusada a violência porque eu não me caso (…)», l. 31-32, cap. IV).
O desfecho trágico é um elemento comum a filme e livro, em ambos os casos através da morte dos protagonistas. Teresa morre após se despedir de Simão, que, por honra, recusa toda a ajuda da família e decide enfrentar a sua pena de exílio, acabando, também, por morrer depois de poucos dias de viagem. Mariana, que decidira acompanhar Simão no caminho para o degredo, suicida-se após a morte do protagonista. Da mesma maneira, o musical termina com a morte de Satine, que sofria de tuberculose, nos braços do amado. Este, porém, permanece vivo e até escreve um livro a contar a sua história com Satine.
Temos, então, duas histórias distintas, em contextos diferentes, mas com o amor proibido em comum: dois apaixonados separados pela inimizade das respetivas famílias e outros dois afastados por questões de negócios.   

Inês S. (Muito Bom)

O amor entre jovens adolescentes, lutando pelas suas paixões e resistindo a variados obstáculos na busca da felicidade, é um tema muito comum na literatura e nos filmes românticos, assim como o é na vida real em todo o mundo e ao longo dos séculos. No entanto, uma história de amor pode ser vivida de forma mais ou menos intensa, com ou sem drama, com um final que evoque o maravilhoso ou a tragédia shakespeareana...
Para contrastar com o conceito do amor vivenciado em Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco, optei por abordar a história de amor protagonizada por Mario Casas e María Valverde em Tres Metros Sobre El Cielo, o filme de maior sucesso do ano de 2010 em Espanha, dirigido por Fernando González e baseado no livro intitulado Tre Metri Sopra il Cielo, de Federico Moccia. Tal como Camilo conquistou a sociedade oitocentista com este seu romance (adaptado posteriormente para teatro e cinema várias vezes), parece que também este italiano terá cativado milhões de conterrâneos, em 1992, com a sua primeira obra literária, que teve uma primeira adaptação cinematográfica em Itália, em 2004.
Tendo como cenário a cidade de Roma, este filme apresenta-nos dois adolescentes, com estilos de vida completamente diferentes, que se  apaixonam ao olharem-se através da “janela” de um carro, como acontece com Teresa e Simão (“Da janela do seu quarto é que ele a vira... para amá-la sempre... amou-o também...”), do romance camiliano. A exemplo de Teresa, Babi é uma menina inocente, fina e educada com princípios rígidos. Muito respeitadora das regras e normas (até conhecer Hugo), vive com a sua família, composta por uma irmã mais nova, um pai compreensivo, mas uma mãe controladora, que se importa fundamentalmente com a imagem da família e com a preservação de um estilo de vida que considera ideal. Como Simão (antes de conhecer Teresa), Hugo é um rapaz rebelde, impulsivo, orgulhoso e violento. Participa em corridas ilegais e tem problemas com a polícia, provocando grande descontentamento nos seus pais e irmão mais velho. Tal como as famílias dos dois jovens protagonistas de Amor de Perdição possuem uma posição social elevada, rivalizando entre si, as de Babi e Hugo pertencem à classe média-alta e utilizam o seu dinheiro para resolver os problemas dos filhos (impedir que Babi fosse expulsa do colégio; não permitir que Hugo fosse preso).
Na defesa do seu amor, ambos os pares românticos lutam contra preconceitos, e as personagens masculinas alteram a sua personalidade violenta (“Quando uma pessoa relaxa consegue perceber melhor as coisas, pequenas coisas. A Babi está a ensinar-me a relaxar e isso faz-me bem”), sendo os erros do passado redimidos pelo amor. Envolvidos na relação amorosa (Teresa e Simão, através de cartas) há muito drama mas, no caso de Babi e Hugo, também muita diversão, já que o casal vive uma paixão desenfreada e arrebatadora, partindo para o mundo das descobertas e da aprendizagem mútua. Juntos, criam expetativas, num final que fica em aberto.
Sabemos que, em Camilo, o amor é concebido como uma espécie de fatalidade, de destino, orientando e dominando a vida (e a morte) das personagens principais. É no sofrimento que estas encontram a razão de ser e o sentido mais profundo da sua vida. A este par romântico restaria apenas o amor impossível, vivido na eternidade (“A eternidade apresenta-se tenebrosa... Mas não pode findar assim o nosso destino... Ver-nos-emos num outro mundo, Simão?” – escreve Teresa). Daí o trágico desenlace da história de amor entre Simão e Teresa (e Mariana, a mais romântica das personagens, pela sua paixão e abnegação).
É, assim, neste final que reside a maior diferença entre as duas histórias, entendida clara e fundamentalmente à luz dos contextos sociais nos quais as mesmas se desenrolam (contemporaneidade do filme vs época oitocentista). Vê-se, contudo, nas interrogações de Teresa, por exemplo (“Que mal fariam a Deus os nossos inocentes desejos”), que a obra camiliana, para além de expor a hipocrisia da sociedade, pretende já levantar algumas “questões do coração” à moral da burguesia de então.
Talvez por isso, a afirmação de Esther de Lemos “O Amor de Perdição tem assim a dimensão de um livro de adolescência, antes que a adolescência passasse a ser na literatura objecto de análises e estudos;...” (p. 54), ao terminar a sua Introdução à edição de Amor de Perdição que li, da Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 3ª edição, setembro 1991.

Pedro (Muito Bom -/Bom +)
As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky, autor do livro e diretor do filme, conta-nos a história de um rapaz, Charlie, que não se consegue enquadrar na sociedade em que vive. Charlie sempre tivera uma ligação especial à sua tia e, quando esta morre, durante a sua infância, fica traumatizado e os seus problemas de integração agravam-se. É um apaixonado pela literatura e encontra nos livros uma maneira de escapar àquilo que o assusta — a realidade. Podemos encontrar várias semelhanças entre Charlie e a personagem Mariana, de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Depois das férias de Verão, Charlie volta à escola, onde está completamente sozinho, sem amigos. Tudo muda quando conhece Sam e Patrick, que rapidamente se tornaram nos seus primeiros e melhores amigos. Ao longo do ano letivo, os três passavam a maior parte do tempo juntos e os sentimentos de Charlie por Sam intensificavam-se. Só tarde de mais, quando ela já se comprometera com outro, é que este percebe que estava apaixonado e que não havia nada mais a fazer. Em Amor de Perdição, Mariana tem um papel semelhante. Aquela que representa a pura mulher romântica do século XIX, também se apaixona por um homem cujo coração pertencera a outra e que, por isso, não consegue corresponder aos seus sentimentos de amor.
No filme, há uma importante frase de Charlie com a qual penso que Mariana se identificaria. Numa conversa com o seu professor de Inglês, de quem é intimo, ele confessa-lhe que “nós aceitamos o amor que pensamos merecer”. Estabelece-se um paralelismo entre as duas obras, na medida em que se percebe que ambos não se consideram dignos do amor daqueles que amam.
Charlie e Mariana não só se encontram em situações muito semelhantes, como apresentam um perfil psicológico parecido também: são os dois inseguros. No entanto, as suas inseguranças parecem ter fontes diferentes. Mariana não se considerava bonita, nem rica o suficiente para ser digna do coração de Simão — “Não lhe bastava ser fidalga rica: é, além de tudo, linda como nunca vira outra!”. Já as incertezas de Charlie, aquele que se considerava, como o próprio nome do filme indica, “invisível”, provinham dos traumas que sofrera na infância, nomeadamente da morte da sua tia, que ele tanto amava. Nenhum dos dois tem vergonha, nem deseja esconder os seus sentimentos, ainda que não sejam correspondidos. As duas personagens são puras, honestas e amam profundamente. Tão profundamente, que não são capazes de deixar os seus próprios sentimentos e interesses interferir com a felicidade dos outros, preferindo punirem-se a si mesmos.
As duas histórias aproximam-se, assim, por tratarem, ainda que em diferentes épocas e contextos sociais, do dilema passividade versus paixão.

Duda (Bom - / Suficiente +)

Baseado no best-seller de Ian McEwan, o filme, que ganha o mesmo título do livro, Atonement (em português europeu, Expiação; em português do Brasil, Desejo e Reparação), relata a dramática e romântica história de Robbie Turner (James McAvoy), Cecilia Tallis (Keira Knightley) e Briony Tallis (Saoirse Ronan). Ao comparar Expiação e Amor de Perdição podemos notar a forte homogeneidade entre as duas obras. Posso dizer que são quase idênticas.
As histórias são as dos casais Robbie e Cecilia e Simão e Teresa, ambos os casais vivendo uma profunda e intensa paixão que, infelizmente, nunca pode se concretizar devido às intervenções familiares, no caso de Robbie e Cecilia, a intervenção de Briony Tallis, irmã caçula de Cecilia. Briony pode ser vista neste contexto como Mariana e como as família que separam Simão Botelho e Teresa Albuquerque, já que a menina, que, na época com treze anos, descobre um possível romance entre sua irmã mais velha e o filho da governanta (e encontra-se enciumada já que nutre certos sentimentos pelo rapaz, como Mariana pelo Simão, apesar de ser um sentimento quase insignificante comparado com o de Mariana) toma decisões precipitadas, separando os jovens apaixonados.
Com efeito, no verão de 1935 um trágico mal entendido leva Briony acusar levianamente Robbie Turner de violar sua prima Lola, situação semelhante à que ocorre na obra de Camilo, quando Simão Botelho é acusado, desta vez justamente, pelo assassinato do também primo de sua amada, Baltasar. Ambos os protagonistas são presos e condenados, mas recebem propostas de um cárcere alternativo: a Robbie restou o alistamento no exército britânico, já que estava acontecendo a Segunda Guerra Mundial, enquanto Simão embarcada numa longa viagem para Índia. As cartas ganham forte destaque nas duas obras, já que foi um meio importantíssimo de comunicação entre os casais além de serem importantes para o desenvolvimento dos relacionamentos, desejos, sonhos e planos que nutriam os jovens amantes.
Antes e durante a ida de Robbie para prestar serviço no exército britânico, Cecilia não desiste do sonho de reencontrá-lo, até faz planos de morarem juntos após o regresso de Robbie, que também nutre o mesmo desejo, afirmando para si mesmo, como um ato de manter-se lúcido durante sua sobrevivência no caos causado pela guerra, "eu preciso voltar...para ela", "te achar, amar você, casar com você, viver sem ter vergonha". Esta situação contrasta com o casal português, que perde as esperanças de um dia viver este amor a partir do momento que Simão, num ato orgulhoso e egoísta, decide viver como um degredado.
No fim, Robbie e Simão nunca retornam a casa, morrendo ambos doentes devido à situação em que se encontravam, guardando para si um chumaço de cartas de suas amadas, o mesmo fim foi destinado a Cecilia e a Teresa. Cecilia morre após uma bomba que destruiu a estação de metro onde se encontrava escondida com de dezenas de pessoas e Teresa morre de desgosto devido a impossibilidade de ficar com seu grande amor, Simão.

Francisco (Muito Bom -)

O filme Thor, de 2011, aproxima-se bastante de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, publicado em 1862. Apesar de terem sido publicados quase com cento e cinquenta anos de diferença, os seus enredos acabam por se aproximar em várias ocasiões.
Odin, rei de Asgard, um planeta próximo da Terra, tem dois filhos, Thor e Loki. No início do filme, Thor prepara-se para subir ao trono, e é, sem dúvida, o predileto do pai. É um homem corajoso e destemido, apaixonado pela guerra e vencedor de várias batalhas. Tal como Thor, Simão Botelho, em Amor de Perdição, é um rebelde que «emprega em pistolas o dinheiro dos livros». Tal como Thor, que vê a guerra quase como um jogo, Simão é também bastante impulsivo, não hesitando quando se trata de magoar alguém. Percebemos isso no episódio do chafariz em Viseu, quando o jovem «partiu muitas cabeças» a homens que tinham espancado um criado da sua casa. E, não estando completamente satisfeito, ainda com um sentimento de vingança, decide partir todos os cântaros. Provavelmente, Thor, à semelhança de Simão Botelho, terá matado mais inimigos do que o necessário, tratando-se em ambos os casos de atos espontâneos sem uma prévia ponderação das consequências.
Asgard encontrava-se em tréguas com Jotunheim, um planeta vizinho, sendo as relações entre os dois planetas ainda muito frágeis. Thor, ignorando as ordens do pai, invade Jotunheim. Odin acaba por ter de intervir, uma vez que Thor, acompanhado de uns poucos amigos de confiança, encontra-se em inferioridade numérica e precisa urgentemente de alguém que o tire dali. Por sua vez, Simão Botelho decide matar Baltasar, primo de Teresa, a amada de Simão. As famílias de Teresa e Simão odiavam-se e a sua relação não era aceite pelas suas famílias. O assassinato de Baltasar piorou esta relação, tal como a invasão por Thor quebrou as tréguas entre Asgard e Jotunheim. Como consequência destes atos, Simão e Thor têm de ser castigados. Ambos são julgados pelos seus pais, que acabam por expulsá-los da sua terra: Thor é expulso de Asgard e enviado para a Terra, e Simão, após passar algum tempo preso, à espera da pena de morte, acaba por ser degredado para a Índia. A única diferença nas penas aplicadas é que Simão escolhe o degredo, enquanto que Thor vem para a Terra contra a sua vontade.
Na Terra, Thor conhece Jane Foster, uma cientista por quem acaba por se apaixonar. Simão está, também, apaixonado por Teresa. Surge assim mais um elemento comum entre o filme e o livro de Camilo Castelo Branco. Simão e Thor veem-se forçados a ficar sem as suas amadas. Simão, ao ser preso, deixa de poder ver Teresa, e esta não o pode visitar pois foi enviada para um convento pelo pai. Acaba por vê-la uma última vez, quando regressa da Índia, e Teresa morre à sua frente. Thor também é forçado a ficar sem Jane, pois é resgatado pelos seus amigos, que o levam para Asgard, tomada por Loki, num plano maquiavélico para subir ao poder e tornar-se rei. Ao voltar para casa, Thor tem de destruir a Ponte Bifröst para deter Loki. Ao fazê-lo, Thor deixa de poder voltar à Terra, vendo-se assim separado de Jane, que o espera ansiosamente. Este filme acaba em aberto, ficando no ar a grande questão: será que Thor vai voltar a ver Jane?

Pardal (Bom -)
No começo de Antes do Adeus (Chris Evans, Before we go, 2014) vemos numa estação de comboios em Nova Iorque uma série de casais juntos. Alguns estão prestes a serem separados pela chegada do comboio e a despedida emocionada pode ser comparada com Amor de Perdição, na cena em que Simão, depois de ter escolhido enfrentar a pena do degredo, entra no barco com destino para a Índia. A despedida de Teresa e Simão deixou muito a desejar, eles amavam-se mas, devido a condições mais trágicas e extremas nem se puderam encontrar antes de Simão partir, tendo-o Teresa visto pela última vez da janela do convento de Monchique: «No dia 10 desse mês, recebeu o condenado intimação para sair na primeira embarcação que levava âncora do Douro para a Índia. Nesse tempo vinham aqui buscar os degredados […]» (p.220, l.73 e 74).
Tal como Teresa e Simão, Brooke e Nick desenvolveram uma forte relação quase imediatamente, quando se encontraram de madrugada na estação de comboios após Brooke ter perdido o último comboio da noite que a levava de volta a casa. Achei esta e as seguintes cenas do filme bastante interessantes porque me fizeram lembrar do desejo de Simão e de Teresa de fugir de suas casas e das suas famílias, e da aventura que enfrentariam. Nick e Brooke andaram pelas ruas de Nova Iorque, tentando sempre arranjar maneira de a protagonista regressar a casa, tendo em conta que tinha sido roubada e não tinha dinheiro, telemóvel nem identificação e o seu “parceiro” tinha apenas o seu trompete e algum dinheiro que tinha feito nas suas atuações na estação, o que se assemelharia ainda mais a uma situação em que Simão e Teresa conseguissem mesmo fugir.
No decorrer da noite ou, neste caso, já de madrugada, eles conseguiram contactar um amigo de Nick que mesmo sem saber do que equivalia àquela situação de “vida ou morte”, ajudou sem fazer mais perguntas. Esta característica remete-me para João da Cruz, que esteve sempre disposto a ajudar Simão sem o questionar. Neste drama romântico não há tragédia presente como acontece no livro de Camilo Castelo Branco, o que não invalida a sua comparação, muito pelo contrário, é um dos contrastes que podemos mencionar.
Mais à frente, quando Brooke ganha mais confiança em Nick, confessa-lhe o verdadeiro motivo da sua urgente necessidade de ir para casa, e diz-lhe que tem tudo que ver com ter-se arrependido de uma carta que escreveu e, por isso, como vê que não vai conseguir chegar a casa antes do marido, a quem ela não quer mostrar a carta, pede a uma amiga que entre em casa dela e vá buscar a carta. Já na novela Camiliana acontece o contrário. Estas situações apresentam uma certa simetria visto que Simão escreve uma carta a Teresa e pede a uma amiga, Mariana, que lha entregue por ele: «A voz de Mariana tremia, quando D. Teresa lhe perguntou quem era.­ – Sou portadora desta carta para vossa excelência. – É de Simão! – exclamou Teresa. – Sim, minha senhora.» (p. 210, ll. 1-5). O casamento de Brooke impediu que ela e Nick ficassem juntos no momento. Eles estavam destinados a encontrarem-se, mas não a ficar juntos, se bem que o final ficou muito em aberto, no sentido em que não sabemos se Brooke eventualmente vai voltar para Nick ou se nunca mais se vão ver. É um pouco também como Simão e Teresa mas, em Amor de Perdição, há um final muito trágico, resultando nas mortes de Simão e Teresa que, no fundo, só acabariam finalmente juntos no céu, segundo Teresa («mas perdoa à tua esposa do céu a culpa» p. 222, ll. 21-22).

Beatriz (Suficiente)
A Casa do Lago, tal como Amor de Perdição, relata uma intensa paixão entre duas personagens. O filme, dirigido por Alejandro Agresti, narra a história de Kate Foster uma médica solitária, que morava numa casa à beira de um lago e Alex Wyler, um arquiteto frustrado, que também morou nessa casa,  num espaço de tempo diferente. Ela preparava-se para a mudança, deixando um bilhete na caixa de correio para o próximo inquilino. No entanto, surpreende-se quando respondem a esse bilhete, cuja data é 2004, dois anos antes do ano em que se encontra Kate. Tal bilhete teria sido enviado por Alex, começando assim uma incessante troca de cartas entre os dois. Já Amor de Perdição mostra-nos o amor de dois jovens, Simão Botelho e Teresa Albuquerque, que enfrenta a oposição das suas famílias. Esse corte entre as duas famílias é bem anterior ao amor dos dois jovens, é resultado de sentença desfavorável ao pai de Teresa.
Na obra de Camilo, a paixão entre os dois jovens desenrola-se em volta das cartas trocadas entre Simão e Teresa. Após os pais terem descoberto este amor, o corregedor (pai de Simão) manda o filho para Coimbra e a Teresa restaram duas opções: casar-se com o primo Baltasar ou ir para o convento. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam correspondência, ajudados por uma mendiga e por Mariana, filha do ferreiro João da Cruz. O mesmo vemos acontecer no filme, o casal, separado pelo espaço temporal de dois anos, comunica por cartas, acabando por manter um relacionamento à distância. A casa do lago é a protagonista do filme e também o cupido entre o casal, já que é por ela que o casal se comunica, fazendo no filme o mesmo papel que a mendiga e Mariana fazem no livro. No filme também podemos ver uma cadela, chamada Jack, que possui um comportamento quase humano e que está sempre presente com Alex, podendo compará-la a Mariana, que esteve sempre ao lado de Simão, assumindo um papel de amante em silêncio.
Em ambos casos são descritos dois amores impossíveis. No filme, no momento em que o casal se apercebe estar apaixonado, eles tentam encontrar uma forma de se encontrar; no entanto, entre os dois existia um grande obstáculo que teriam de vencer: o Tempo. Na obra Amor de Perdição, o amor funciona como uma espécie de destino e de fatalidade que domina e orienta tanto a vida quanto a morte das personagens que passam a seguir cegamente os seus impulsos amorosos.  O amor é o tema central. Apresenta-se desenfreado, profundo, além das forças e dos limites, trazendo consigo o sofrimento. Existe toda uma luta por parte das personagens para alcançar a felicidade amorosa, que, em contrapartida, apresenta-se em vão contra a sociedade injusta da época. As personagens possuem a consciência de que não se deveriam se apaixonar, porém não conseguem abdicar de sua paixão. Enfrentam tudo e todos mesmo quando a felicidade se apresenta cada vez mais longínqua até que o destino realmente fala mais alto. Chegando a morte, ocorre também a sublimação do amor das personagens através dela. O destino trágico do protagonista é-nos apresentado pelo autor logo na introdução do livro: “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

Matilde (Bom +)
A história de O Diário da Nossa Paixão (The Notebook, 2004), realizado por Nick Cassavetes, é o típico drama romântico, em que um rapaz e uma rapariga se apaixonam indevidamente, são separados, acabando, porém, juntos, como era de esperar. Tal acontece na novela camiliana Amor de Perdição, onde Simão e Teresa se apaixonam apesar da rivalidade entre as suas famílias, fazendo tudo ao seu alcance para manterem a relação.
Tanto o pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque, como os pais de Allie, Anne e John Hamilton, são incapazes de aprovar os relacionamentos das filhas, proibindo-as imediatamente de ver os amantes. Enquanto o ódio de Tadeu vem da antiga rivalidade entre as famílias Albuquerque e Botelho, o do casal Hamilton provém do facto de estes serem ricos e de classe alta e Noah, rapaz por quem Allie se apaixonara, ser apenas um operário pobre. Nenhuma das jovens se submete à vontade dos pais, lutando contra ela, por isso estes precisaram de tomar uma decisão rápida: Tadeu fecha Teresa num convento no Porto e os Hamilton enviam a filha para uma universidade em Nova Iorque. Mesmo assim, a mãe de Teresa é mais compreensiva com a filha, enquanto o pai é impiedoso. O mesmo se pode ver no filme, mas já na segunda metade.
Ambos os casais jovens comunicavam por cartas, apesar de, no filme, Anne ter impedido Allie de as receber, o que faz Noah pensar que ela já não o amava.
Noah assemelha-se ao herói romântico Simão, na medida em que, quando vê Allie feliz com outro homem, age por impulso – característica típica – e constrói a casa que sonhou um dia ter com ela. Simão, assim que recebe a notícia de que o pai de Teresa a obrigara a casar com Baltasar, seu primo, pensa imediatamente em matá-lo, mais por feitio do que por amor – “Não era o coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue”.
Na jornada de Simão para salvar Teresa, este é acolhido por João da Cruz. Mariana, sua filha, rapidamente se apaixona por Simão, mesmo sabendo que o seu amor nunca seria correspondido por causa de Teresa. Martha Shaw, uma viúva que se torna amante de Noah, assemelha-se a Mariana pois esta sabe que ele nunca deixara de amar Allie. Ela consegue perceber que, quando ele a olha nos olhos, ele vê outra mulher.
Entretanto, Allie encontrara outro homem com quem era feliz ou, pelo menos, achava que era feliz. Lon, quando descobre que a noiva voltara a Seabrook – onde Noah e Allie se conheceram – para se encontrar com o antigo amante, reage violentamente, dizendo que o mata. O mesmo é proferido por Baltasar, que queria casar com a prima, mesmo sabendo que ela nunca seria correspondido.
O desfecho destas duas histórias de amor é, simultaneamente, semelhante, dado que ambos os casais morrem, e diferente, pois, em O Diário da Nossa Paixão, Allie e Noah morrem abraçados, felizes. Já no caso da obra de Camilo, Simão e Teresa morrem de desgosto por não poderem estar juntos.

Miguel (Bom (-))
O Amor é um Lugar Estranho (Sofia Coppola, Lost in Translation, 2003) é um filme sobre o profundo amor que se pode sentir por uma pessoa, mesmo quando é inconveniente. Bob Harris, um ator de sucesso e homem de família, encontra-se em Tóquio no mesmo hotel  que Charlotte, a jovem mulher de um fotógrafo. Harris está infeliz com a sua vida rotineira e aborrecida. O marido de Charlotte vai trabalhar para outras partes do Japão, deixando-a sozinha em Tóquio, ela sente-se só e apercebe-se de que não tem propriamente uma vida para além do seu casamento e que ainda não encontrou a sua vocação. Harris e Charlotte, ao longo de poucos dias aventureiros, apaixonam-se.
A relação e história amorosa de Harris e Charlotte assemelha-se em alguns aspetos à de Simão Botelho e Teresa de Amor de Perdição. Em ambos os casos, o amor entre os dois é muito inconveniente para as vidas pessoais dos dois intervenientes. Charlotte é casada com alguém da sua idade com sucesso profissional que lhe consegue providenciar uma vida confortável e, não só seria considerado pouco inteligente o divórcio, como ela tem medo de saltar para uma vida completamente diferente. Harris tem filhos e não está disposto a obrigá-los a crescer num lar despedaçado. As famílias de Simão e Teresa são inimigas e ambas fariam tudo para acabar a sua relação. O pai de Teresa está tão determinado que decide obrigá-la a casar com o seu primo Baltasar e, ao ver que este plano não impede o amor de Teresa, decide interná-la no Convento de Monchique.
Simão e Teresa, tal como Harris e Charlotte, veem um no outro e na sua relação a possibilidade de um futuro não necessariamente perfeito, mas que consiste em tudo o que querem na vida. A única diferença entre os dois casais é que Simão e Teresa estão dispostos a lutar pela sua paixão, ambos afrontam várias vezes os seus pais quando estes lhes dizem que a sua relação não pode existir, ambos continuam a trocar correspondência quando é proibido ou quando deveria mesmo ser impossível e Simão faz várias viagens em tentativa de alcançar Teresa.
No fim de ambas as obras, a relação acaba. Na longa-metragem, a estadia de Harris chega ao fim e ele e Charlotte despedem-se um do outro, para sempre, destinados a voltar às suas vidas normais que consideram miseráveis. Em Amor de Perdição Simão é condenado ao degredo por ter matado Baltasar, e Teresa está internada num convento, acabando assim qualquer possibilidade de ficarem juntos. Acrescentando-se a esta impossibilidade, estão ambos, tragicamente, destinados à morte. Simão morre de doença antes de chegar à Índia para cumprir a sua pena, e Teresa escreve a Simão com a perspetiva de uma Teresa já morta (“É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em que leres esta carta, se me Deus não engana, está em descanso.”), pois tem a certeza de que irá morrer em breve.
Assemelha-se também a última vez que os amados estão relativamente próximos um do outro e se afastam ao ponto de nunca mais se verem. Simão parte num barco em direção à Índia, deixando Teresa no convento. Harris parte num táxi em direção ao aeroporto, deixando Charlotte sozinha nas ruas de Tóquio.

Edu (Suficiente (-))
Este filme é sobre um homem, Pi, que fala a alguém que conheceu o seu pai sobre a história da sua vida e, particularmente, sobre a história mais duvidosa e mais extraordinária que pode haver: enquanto a família ia num barco para outro país com os animais todos (eles tinham um zoo), houvera uma tempestade que causou um naufrágio mas Pi consegue-se salvar num barco pequeno; há, porém, um problema enorme, que é estar lá um tigre lá dentro. Pi fica à deriva no meio de nenhures num barco pequeno com um tigre a fazer-lhe “companhia”.
A primeira comparação e, se calhar, a mais importante é que, quando Pi era pequeno, tinha um fascínio pelo tigre do zoo do pai. Mas o pai não queria que Pi estivesse com o felino porque dizia que ele não era de confiança. Esta situação é parecida com a de Simão, que queria namorar Teresa contra a vontade do seu pai, porque não gostava do Albuquerque. Portanto, ambos estavam proibidos de estar com quem queriam. Mesmo assim, Simão ia ter com Teresa secretamente, tal como o pequeno menino indiano ia ter com o tigre às escondidas.
Outra parecença é que Simão esteve num barco que ia para Índia com Mariana, que, desde o momento que o conheceu, ficou apaixonada por ele, embora ele gostasse de Teresa, logo nunca podendo ser esse um amor “correspondido”. Nessa viagem, Simão adoece e fica sem forças, como em A Vida de Pi, em que Pi e o tigre adoecem por falta de comida e água potável. Enquanto doente, Simão tem uma “alucinação” em que via uma casa onde viveria com Teresa nas margens do Mondego; e Pi também tem um sonho em que imagina que as estrelas fazem o rosto de sua mãe.
Por falar em amor correspondido, uma das partes mais tristes e com mais significado do filme é o final, quando o barco atraca em areia. Finalmente, estavam salvos, mas, mal saem do barco, o tigre vai-se logo embora. Ora, ao longo da viagem Pi achava que tinha feito uma “amizade” com o animal, mas o pai dele tinha razão: os animais como o tigre não têm sentimentos. Esta situação é parecida com a de Mariana e Simão, porque ela sempre teve esperança de que Simão sentisse algo por ela, mas isso nunca se concretizou, porque Simão só queria saber do seu amor, Teresa, o que fazia com que Mariana ficasse triste.

Carolina (Bom -)
Me before you (Viver depois de ti, na sua tradução para português) é um filme dirigido por Thea Sharrock. Retrata a vida de Will Traynor, que ficou tetraplégico devido a um acidente de mota, e a sua batalha pela vida com a ajuda da sua cuidadora Louisa Clark. A este filme assemelha-se a história de Simão Botelho no livro Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Viver depois de ti e Amor de Perdição iniciam-se com a tragédia de Will e Simão, respetivamente. O acidente de mota de Will é o momento que muda toda a sua vida, tendo ele de aprender a ultrapassar os obstáculos de uma pessoa tetraplégica, e a prisão do filho de Domingos Botelho é a consequência da sua vida impetuosa e do seu amor por Teresa.
Enquanto Will se via como a pior pessoa do mundo, uma pessoa já sem vida, revoltada e zangada, mantida apenas viva pelos cuidados médicos e ajuda de outros, Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, já achava que esta devia casar com seu primo Baltasar “Teu primo é um composto de virtudes; nem a qualidade de ser gentil moço lhe falta, como se a riqueza, a ciência e as virtudes não bastassem a formar um marido excelente” –, mesmo que esta decisão fosse contra à de Teresa “mate-me; mas não me force a casar com o meu primo!”.
Simão escreve uma carta a Teresa expondo o seus sentimentos de angústia e raiva –“Poderia viver com a paixão infeliz; mas este rancor sem vingança é um inferno”– e a sua vontade de morrer por não poder estar com o seu amor – “ Ficarás sem mim, Teresa”.
Na obra camiliana tanto Teresa como Simão se tratam por esposo e esposa do céu, uma vez que em vida sofreram de um amor proibido, que seria permitido no céu.
O final trágico que ambas as histórias representam, morte dos protagonistas, deve-se a diferentes razões. Will tem o desejo de morrer pois não suporta viver a sua vida como tetraplégico, mesmo que a sua decisão fosse contra a vontade da sua família e de Louisa, cuidadora e apaixonada por ele. No seu último dia de vida, Louisa visita-o, despedindo-se dele e ficando lá até este morrer, morrendo ela posteriormente de desgosto.
No caso da obra camiliana, Simão é preso pela morte de Baltasar e é degredado para a Índia. Já a caminho, Simão adoece com febre maligna. No último delírio de Simão este apenas referiu “a casinha, defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves. Passeavas comigo margem do Mondego, à hora pensativa do escurecer (…)”, casinha que referia tantas vezes nas cartas que enviara a Teresa, a imaginar o quanto iriam ser felizes. 
Simão é lançado ao mar, após nove dias de delírios e ânsias, juntamente com todos os seus papéis e cartas de Teresa. Mariana atira-se também, agarrando-se depois ao corpo do seu amor, suicidando-se por um ato de amor.
O filme retrata a dificuldade de viver tetraplégico e todas as consequências que isso pode trazer, nomeadamente um amor proibido.
A pormenorização, a escolha das palavras, as emoções e descrições tornam a obra de Camilo única, de um rapaz revolucionário que “Amou, perdeu-se e morreu amando” por um ato de amor proibido.

Carlota (Suficiente +/Bom -)
Five Feet Apart (ou A distância entre nós, na sua tradução para o português europeu) é um filme que estreou já em 2019, dirigido por Justin Baldoni e escrito por Mikki Daughtry e Tobias Laconis. Este filme teve um grande impacto devido à mensagem que pretende transmitir.
Conta a história de Stella Grant, interpretada pela atriz Haley Lu Richardson, uma jovem que tenta viver uma vida normal apesar da doença (fibrose cística) que a impede de sair do hospital. Durante a sua estadia no hospital Stella conhece Will Newman, interpretado por Cole Sprouse, outro paciente com a mesma doença, que está no hospital para um teste de medicação, na tentativa de se livrar da infeção bacteriana que tem nos pulmões.
Will nunca foi muito de seguir as regras do tratamento mas, com a ajuda de Stella, rapidamente muda de hábitos. Ao realizarem os tratamentos em conjunto, Will e Stella começam a revelar interesses um no outro. O único problema é não se poderem tocar uma vez que com um simples toque pode ser fatal.
Ao perder Poe, melhor amigo de Stella que também se encontrava no hospital pelas mesmas razões que ela, Stella decide mudar de hábitos por achar que está viver a vida muito incompletamente, convencendo Will a sair do hospital para ver a cidade. Enquanto estavam na cidade, o hospital é notificado de que Stella conseguira um transplante de pulmões e, algum tempo depois, Stella chega ao hospital após ter tido um acidente que obrigou Will a realizar os cuidados de primeiros socorros.
Esta história pode ser facilmente comparada com a obra de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, uma vez que ambas retratam a história de um amor proibido. O amor de Simão e Teresa era proibido pelas suas famílias e o amor entre Stella e Will era proibido pela doença.
Conseguimos encontrar parecenças logo no início, uma vez que, em ambas as obras, os casais se apaixonam à primeira vista (“Da janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la sempre”).
Embora exista uma certa parecença entre Simão e Will pois ambos tentam desafiar as leis e não querem respeitar as regras, Stella tem mais parecenças com Simão, pois, de certo modo, Simão estava disposto a morrer por Teresa (“Eras a minha vida: tinha a certeza de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o desejo de perder-te me mata.”) tal como Stella quando não quis aceitar os pulmões por não querer deixar Will sozinho, uma vez que o seu tratamento não estava a resultar e este, possivelmente, iria acabar por morrer.
Aproximando-se o final de ambas as histórias, conseguimos encontrar algo que as aproxima. No caso da obra camiliana Teresa, ao querer despedir-se de Simão, pois tenciona acabar com a sua vida, deixa-lhe um conjunto de cartas nas quais expressa toda a tristeza que estava a sentir, enquanto no filme. Will deixa um caderno com os desenhos que fez enquanto estava com Stella, expressando não tanto a tristeza que sentia por ter de a abandonar, mas a felicidade de ter passado bons momentos com ela.
O desfecho de ambas as histórias é bastante emocional e embora o defecho de Amor de Perdição seja mais trágico, as emoções sentidas por Simão e Stella são semelhantes. Depois da partida de Will, Stella partilha um vídeo refletindo em todos os bons momentos que passou no hospital, concluindo-o dizendo: “We need that touch from the one we love almost as much as we need air to breathe. But I never understood the importance of touch until I couldn’t have it” (Precisamos do toque daquele que amamos quase tanto como o ar que precisamos para respirar. Mas eu nunca entendi a importância desse toque, até não o poder ter mais). Simão sentiu o mesmo que Stella pois a sua opção pelo degredo tinha sido a causa de morte de Teresa, o que o estava a consumir, e, no caso de Stella, ela sente-se culpada pois sabe que Will só vai embora porque é muito arriscado ficarem juntos.
Existe um pequeno contraste nesta parte final, uma vez que Simão decide morrer por Teresa e Stella decide viver por Will.

Margarida (Bom +)
Camilo Castelo Branco uma vez disse que: «O amor só vive pelo sofrimento e cessa com a felicidade; porque o amor feliz é a perfeição dos mais belos sonhos, e tudo que é perfeito, ou aperfeiçoado, toca o seu fim». Vejo no enredo de La la land, um filme que tornou bastante popular graças a episódios menos felizes, o sofrimento amoroso a que o escritor se referia, narrado sobre a forma de um musical.
É o início eleito das narrativas românticas: rapaz conhece rapariga. Rapaz apaixona-se pela rapariga. Em alguns casos, a paixão é fugaz, quase instantânea, como nos relata o escritor do Amor de Perdição com a seguinte passagem: «Da janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la sempre», sendo «ele» Simão Botelho e «ela», Teresa Albuquerque, que, através de um olhar, ficaram para sempre ligados. A história de Mia e Sebastian, o par amoroso de La la land, varia ligeiramente, no que toca ao seu primeiro encontro: Sebastian mostrou-se arrogante e ignorou Mia, quando esta estava prestes a elogiar a suas qualidades musicais.
Simão também tem um temperamento característico: rebelde, individualista e orgulhoso, provoca na família «um grande dissabor» por se manter sempre fiel aos seus caprichos, tendo sempre como principal prioridade a defesa da sua honra, não o seu amor por Teresa, sendo esta uma das desfeitas que irá resultar no seu fim («Tenho a demência da dignidade: por amor da minha dignidade me perdi»).
É na «city of stars» (cidades das estrelas) que Mia e Sebastian partilham as suas aspirações e sonhos e, sobretudo, o amor que sentem um pelo outro. Contudo, vemos, com o passar das estações, que as inseguranças de não conseguir vencer no mundo das estrelas e o medo de uma vida mundana, sem paixão, se tornam a principal frustração na relação de ambos. Aos poucos, Sebastian coloca-se também a si próprio como prioridade ao priorizar a sua carreira musical relativamente à sua relação amorosa, o que, conjuntamente, vai conduzir ao fim da relação. Mia acaba por ir para Paris com o objetivo de realizar o seu sonho, graças à fé constante de Sebastian no seu talento, mesmo que isso lhes traga sofrimento e tristeza, sobretudo por admitirem que iriam para sempre amar-se.
O que torna a obra camiliana e o filme realizado por Damien Chazelle diferente de muitas histórias sobre amor é o seu desfecho trágico e desgostoso. No Amor de Perdição é com fundamento que o narrador considera a história de Simão digna de comoção: «O leitor decerto se compungia; e a leitora, se lhe dissesse em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria!» ─Teresa morre depois de se despedir de Simão, que, ao partir para o exílio, por ter matado o primo de Teresa, acaba por morrer depois de alguns dias de viagem. E Mariana, importante na narrativa por ser uma vítima da fatalidade, ou seja o amor não correspondido por Simão, suicida-se após a morte do mesmo, o que mostra o resultado de amar perdidamente e o que se perde por amor. Em La la land, ambas as personagens conseguem alcançar os seus sonhos, não conseguiram foi encontrar-se um ao outro. O espetador consegue apenas fantasiar a ilusão daquele amor desencontrado. Estes são exemplos de histórias de amor que não acabam com «felizes para sempre». O amor é que dura para sempre. O fim. Para novos começos. Só aí é que podemos encontrar a beleza na tragédia.

Bernardo (Bom -/Suficiente +)
O Rapaz de Pijama às Riscas (The Boy in the Striped Pyjamas) é uma adaptação ao cinema de um livro que foi um dos mais conhecidos livros sobre o holocausto. O rapaz do pijama às riscas conta-nos a história de Bruno, um rapaz alemão de nove anos, que, de repente, tem de sair da sua casa em Berlim para ir para uma casa em Auschwitz, sem os seus melhores três amigos. A nova casa é delimitada por uma vedação de arame. Através da janela, do outro lado da vedação, Bruno consegue ver pessoas, todas vestidas de igual forma, usando todas um pijama às riscas. Certo dia, Bruno desobedece às ordens expressas do pai e resolve investigar até onde vai a vedação. É então que encontra um rapaz mais ou menos da sua idade e que em breve se torna o seu melhor amigo.
Estes encontros mantêm-se durante algum tempo. Também em Amor de Perdição, durante três meses, Simão e Teresa encontravam-se e falavam às escondidas dos pais, através da janela do quarto, sem levantar nenhuma suspeita. Em ambos os casos, estabelece-se uma amizade bastante forte e arriscada, pois Bruno era proibido pelos pais de ir explorar os lados que iriam dar à vedação e Simão e Teresa eram proibidos igualmente pelos pais de falarem um com o outro devido a uma rivalidade entre Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque, pai de Simão e Teresa respetivamente.
Bruno ia todos os dias falar com o Samuel, mas, para surpresa do rapaz, durante alguns dias este encontro tornou-se impossível, pois o rapaz não se encontrava à espera dele no outro lado da vedação, sendo, portanto, a habitual conversa entre ambos impossível. Em Amor de Perdição, durante uma festa em casa de Tadeu, Simão decide ir ver Teresa, e, ao contrário de Bruno, consegue estar com Teresa; porém esse tempo é muito reduzido, devido a Baltasar Coutinho e mais dois homens que o obrigam a retirar-se, sendo impossível ter uma boa conversa com a amada. Devido a esta confusão, Simão sai ferido. Neste caso, Simão e Teresa mantêm o contacto, mas só através de cartas.
Certo dia, Samuel perde o seu pai e Bruno oferece-se para ajudar o amigo a encontrar o pai. No dia seguinte, Bruno entra pela primeira vez para o outro lado da vedação e procura em conjunto com Samuel o pai do mesmo. Apesar do perigo da missão, Bruno está disposto a sacrificar-se por Samuel e seu pai. Ambos são apanhados por guardas e, em conjunto com muitos outros prisioneiros, acabam por morrer numa câmara de gás. Em Amor de Perdição, durante a viagem para o degredo, Simão fica bastante doente e numa conversa entre ele e Mariana, esta diz-lhe, questionada pelo mesmo, que morrerá se ele morrer («Se eu morrer, que tenciona fazer, Mariana?» / «Morrerei, senhor Simão»). Passado uma semana Simão acaba por morrer e no momento em que o cadáver era lançado ao mar, Mariana sacrifica-se, cumprindo a sua palavra e suicida-se.

Leonor (Suficiente +)
Dei-te o Melhor de Mim é um filme de 2014, dirigido por Michael Hoffman e escrito por Will Fetters e J. Mills Goodloe, baseado na obra de Nicholas Sparks ,com o mesmo nome, de 2011. O filme é estrelado por James Marsden, Michelle Monaghan, Luke Bracey e Liana Liberato.
Quando se conhecem, com apenas dezoito anos, Amanda e Dawson descobrem a magia do primeiro amor. Apesar da pressão das respetivas famílias, que não aceitam a sua relação, continuam juntos. Dawson vive com o seu pai, um homem violento e sem caráter que desafia o filho após este fugir de casa; no decorrer da luta entre pai e filho, o melhor amigo de Dawson é morto por um tiro perdido. Dawson é preso, e na esperança de que Amanda continue a sua vida, não autoriza as suas visitas na prisão. Vinte e cinco anos mais tarde, quando um amigo em comum morre, os dois reencontram-se. Porém, nas duas décadas de separação, muita coisa aconteceu e agora os dois têm de enfrentar as escolhas que fizeram e os compromissos que assumiram. Tal como em Amor de Perdição, no filme também nos é contada a história de um amor profundo entre jovens que lutam pela sua paixão, que vai além das suas próprias forças, resistentes a todos os obstáculos, procurando a felicidade, mas que, no final, são desviados para a desgraça e morte.
Em Amor de Perdição, a conceção do amor é-nos apresentada como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina, orienta e define a vida e a morte das personagens principais. Esse amor trará consigo sempre o sofrimento e a infelicidade. Apesar das tentativas de união do casal Simão e Teresa, o destino acaba por os separar, levando à morte de ambos. Em Dei-te o melhor de mim, podemos dizer que o destino atua de forma diferente uma vez que é ele que volta a juntar as duas personagens passados vinte e cinco anos, após Dawnson recusar as visita de Amanda, atitude que pode ser comparada à de Simão quando preferiu o exilio à prisão, provocando a morte de ambos (em Dei-te Tudo de Mim apenas separa as duas personagens seguindo cada uma o seu caminho). Em ambas as histórias, os finais trágicos podem também ser caracterizados como similares, uma vez que em ambos os casais existe uma esperança de felicidade mesmo antes da desgraça final das historias. Em Amor de Perdição há a possibilidade de Simão ficar na cadeia e, anos depois, quando a sua pena fosse levantada, então casaria com Teresa, e, no filme, depois do telefonema de Amanda a pedir que Dawnson voltasse para ela, também ambos contam com um final feliz, até o pai de Carlos matar o próprio filho na cena final. Ambas são histórias de amor e infelicidade.

Ana (Bom +/Muito Bom -)
Amor de Perdição certamente encontra paralelo em vários filmes, mas será em Anna Karenina (Joe Wright, 2012), uma adaptação cinematográfica do romance homónimo de Leo Tolstói, que me focarei agora. Este filme britânico transporta o espetador para a Rússia czarista do final do século XIX onde Anna, casada com o destacado oficial Alexei Karenin e com uma vida até então relativamente estável, conhece o irresistível conde Vronsky, por quem se apaixona irremediavelmente.
A relação impetuosa entre eles que se seguirá, altamente impactante para ambos mas sobretudo para Anna, lembra a arrebatadora paixão de Simão e Teresa, também motivo de transformação para aquele. Antes, temido pelo seu “génio sanguinário” e sempre metido em zaragatas, após conhecer Teresa torna-se mais calmo e estudioso para espanto geral: “Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que parecia absurda reforma aos dezassete anos.”. Anna, por seu lado, vê a sua posição na sociedade para sempre manchada com o escândalo em que se envolve, enquanto acaba completamente paranoica e obcecada com o amante, o que terá consequências desastrosas.
Movimentando-se nos círculos das classes altas é claro que o relacionamento extraconjugal de Anna e Vronski foi mal visto e alvo de fortes pressões sociais, sendo também extremamente humilhante para Alexei e levando-o mesmo a pedir o divórcio, ideia da qual depois desistirá. Vejo na maneira como a sociedade da época encara este caso uma similitude com as talvez até mais intransponíveis objeções à relação amorosa dos protagonistas da obra camiliana, neste caso por imposição familiar. Movidos por injustos caprichos que acabam por tomar proporções desmedidas, Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque impedem os filhos de se verem, dizendo este último à filha “É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai”, com o objetivo de que esta aceitasse o casamento com o seu primo Baltasar, em que Tadeu tinha interesse. Com efeito, esta imposição familiar era tão forte, que até Anna e Vronski tinham mais liberdade para viver a sua paixão, chegando esta a ser consumada fisicamente (e não poucas vezes) enquanto a de Teresa e Simão residia, sobretudo, nas cartas de que as famílias não se inteiravam.
Não podia deixar de mencionar a maneira como se estabelecem claramente triângulos amorosos em ambas as obras, bem como a forma discreta e honrada como estes são encarados por Mariana e Alexei, que se pode considerar terem neles papéis paralelos. Mariana, apesar de se encontrar perdidamente apaixonada por Simão e de ter nas suas mãos, na qualidade de intermediária entre Simão e Teresa, a oportunidade de estragar o seu relacionamento, não o faz, mantendo-se antes fiel a Simão e dando os recados “sem alteração da palavra”. Para além disso, recusa uma recompensa pelo seu trabalho de Teresa, de quem certamente se sentia inferior, por motivos de honra e orgulho. Alexei é também uma personagem que conseguiu permanecer leal a si mesma e aos seus valores, talvez até de uma maneira mais demarcada que Mariana. Não só a maneira como sempre procurou manter o bom senso, mas também a sua disponibilização para depois perdoar Anna e acolher a filha ilegítima que esta entretanto tivera com Vronski, são reveladoras do carácter bondoso de Karenin e, sobretudo, da honra, que conseguiu, dentro do possível, manter intacta. Devido a isto, considero-o também um herói e, embora não exatamente do estilo romântico como Simão, é inegável que partilham características, (sobre)valorizando também este a sua honra. De facto, até certo ponto, era esta obsessão com a honra, já transformada em orgulho e arrogância, que o movia contra Baltasar, que o havia insultado, e não o seu inegável amor por Teresa: “Não era o sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue.”.

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