Amor de Perdição pelo 11.º 2.ª
Camily (Bom/Bom (-))
Se
há uma coisa que move os artistas, essa “coisa” é o amor. Mesmo contra ou a
favor dele, é raro encontrar qualquer artista que nunca tentou retratar a sua
própria ideia de amor. Em Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco nos
transmite uma imagem do amor: leva-nos a fazer loucuras e a esquecer tudo se
isso nos levar para mais perto de quem amamos. É essa a mesma imagem de amor
que o filme O Diário da Nossa Paixão (The Notebook) nos passa.
O
filme em questão é uma adaptação de um livro do escritor Nicholas Sparks, foi
lançado em 2004. Dirigido por Nick Cassavetes, ganhou imensos prémios. O
Diário da Nossa Paixão conta-nos uma história de amor entre um casal
de classes sociais diferentes: Noah Calhoun, um “rapaz do
campo”, e Allie
Hamilton, uma jovem rica. Os dois conheceram-se e apaixonaram-se num parque
de diversões em Seabrook Island, na Carolina do Sul, num verão dos anos 40. Porém, esta história de amor sofre com o mesmo problema que a de Simão
e Teresa, a forte oposição dos pais ao relacionamento, que acaba por impedir o
bem-estar do casal.
Enquanto
no livro a oposição dos pais era movida por uma desavença entre famílias tanto
do lado de Simão como de Teresa tendo o pai da menina apelidado o próprio Simão
de “Infame”, no filme, o ódio, além de ser só por parte da família de Allie, é
movido por um “preconceito” devido à classe social de Noah ̶ os pais afirmam que nunca deixariam a sua filha casar-se com um simples
operário.
Além
da semelhança quanto a esta divergência parental, os dois amores são
eventualmente interrompidos pela ausência de um dos enamorados. Simão Botelho
parte para Coimbra para retomar os estudos — e consta que,
devido ao amor de Teresa ia mais convicto que nunca (“Simão Botelho amava. Aí
está uma palavra única, explicando o que parecia absurda reforma aos dezassete
anos.”) —; Allie regressa a sua casa uma vez que o verão
acabou, e Noah parte para a guerra.
Ainda
mais, as cartas são comuns nos dois romances: Simão e Teresa mantiveram
contacto por meio de cartas e Noah Calhoun escreveu para sua amada trezentas e
sessenta e cinco cartas: uma por dia. Porém, diferentemente do casal no livro
de Castelo Branco, as cartas de Noah nunca chegaram a Allie por intervenção da
sua mãe: um outro imprevisto. A falta de resposta deixou Noah tão abalado que,
após um ano de espera, desistiu de contatar Allie e contentou-se com a ideia de
que nunca mais a veria.
Contudo,
acredito que a diferença mais chocante é o final. O casal de O Diário da
Nossa Paixão acaba por ficar junto e vencem a posição dos pais, enquanto
Teresa de Albuquerque, ao aperceber-se de que não poderá viver feliz com o seu
amado, mata-se, levando assim à morte do próprio Simão.
As
emoções que o livro e o filme nos passam acabam por ser idênticas: medo e temor
pelos casais: queremos que acabem juntos e felizes. Porém, o final e
repercussão chocante de Amor de Perdição leva qualquer leitor a sentir
compadecimento e, até mesmo, certa cólera.
João Pedro (Bom +)
O Fantasma
da Ópera
(Joel Schumacher, The Phantom of the
Opera, 2004) segue um dos temas mais abordados pelo mundo do cinema e
literário, tema capaz de despertar emoções profundas. Falo, é claro, no amor.
“Amou, perdeu-se, e morreu amando”, Camilo
Castelo Branco em cinco palavras resume grande parte dos filmes e livros que
tratam o amor. Outra frase possível seria “E viveram felizes para sempre”.
É no meio de uma banda sonora magnífica de
Andrew Lloyd Webber que a história (relativamente idêntica a Amor de Perdição) se passa.
Em O
Fantasma da Ópera encontramos Christine Daaé, de uma beleza vocal capaz de
arrepiar a mais insensível pessoa, e é pela sua voz que Erik ou, mais
propriamente, o Fantasma, se apaixona, enquanto que para Raoul, a sua beleza, a
sua voz e a sua simpatia fazem de Christine a mais perfeita criação de Deus.
Num lado, temos Simão que está apaixonado por
Teresa e tanto Teresa como Mariana estão apaixonadas por Simão; no outro lado,
Christine, que está apaixonada por Raoul, e tanto Raoul como o Fantasma estão
apaixonados por Christine. Sendo dois homens do século XIX, Raoul e o Fantasma
não perdem tempo a travar uma luta por Christine, enquanto que Mariana cede ao
facto de Simão estar tão apaixonado por Teresa que “nenhuma daquelas páginas
tinha ele lido sem que a imagem de Teresa lhe aparecesse a fortalecê-lo”, mas
Mariana nunca abandona o degredado tanto é o seu amor por este (chegando mesmo
a suicidar-se pois não conseguirá viver sem Simão).
Ambas as personagens que sofrem de um “amor de
perdição” não correspondido têm as suas inseguranças: Mariana acaba por achar
que Teresa é mais digna de Simão por ser “fidalga e rica”; o Fantasma tem
vergonha de mostrar uma parte da face por estar deformada e ter sido alvo de
gozo por esse motivo, por isso esconde-se na cave da ópera de Paris onde passa
o tempo a escrever óperas a que depois assiste no seu camarote privado,
escondido nas sombras, e ataca os portadores de vozes que não são do seu
agrado.
São muitas as comparações possíveis entre Amor de Perdição e O Fantasma da Ópera, como o espaço temporal (século XIX) e o
ambiente romântico, no em que podemos encontrar algumas diferenças.
Em O
Fantasma da Ópera, o Fantasma age por egoísmo e rapta Christine, atraindo-a
com a sua poderosa voz de tenor e com a sua misteriosidade, enquanto que em Amor de Perdição Mariana rende-se ao
facto de Simão ser “o amante de Teresa”, incapaz de fugir mesmo que “não
[tardem] aí soldados”.
Tanto neste filme como na obra de Camilo Castelo
Branco temos uma visão do futuro das personagens. Quer o herói romântico,
Simão, quer a heroína romântica, Christine, estão mortos. No entanto, em Amor de Perdição ambas as personagens do
sexo feminino morreram e em O Fantasma da
Ópera Raoul casa-se com Christine, chora a morte da mesma e o Fantasma
torna-se mais confiante de si mesmo.
Marta (Bom +/Muito Bom -)
O rumo inicial do filme O Bom Rebelde (Gus Van Sant, Good
Will Hunting, 1997) leva-nos ao encontro de Will Hunting, um jovem
conflituoso e sem formação académica, que acaba por se revelar um génio
matemático. Surpreendentemente, a
narrativa afasta-se do expectável (que seria, como em tantos outros casos, o foco
na brilhante inteligência de Will e o futuro que dela adviria). O empenho do
professor universitário que descobre o seu potencial e se compromete a ajudá-lo
não é suficiente para amenizar o caráter complicado de Will, que acaba por ser
condenado a pena de prisão. A história
toma um novo rumo, focando-se no desequilíbrio emocional de Will. Aparentemente
um caso perdido para os psicólogos que é forçado a conhecer, Will conhece Dr. Sean, o único que, a longo
prazo, lhe ensina o que a genialidade não lhe confere: o saber amar, sentir e
sorrir. É na relação que se estabelece entre o terapeuta e o jovem que nasce a
magia do filme.
O temperamento inicial de Will Hunting, jovem
instável, destimido e, sobretudo, desafiante, poderia ter inspirado o autor de Amor de Perdição ao escrever sobre Simão
Botelho (não tivesse ele vivido e bastante antes da personagem do filme). Se
Simão era temido pelo «génio sanguinário»
(p.207, l. 7), embora, simultaneamente, admirado pela «bravura» (l. 9), também
Will intimidava através do seu humor provocador e violento, apesar de ser capaz
de encantar com a sua genialidade. Da
mesma forma que Will é condenado por espancar um homem, o herói romântico é
seduzido pela oportunidade de rebeldia junto ao chafariz – onde parte «muitas
cabeças» e origina o «trágico espetáculo» (p.201, l. 31) que leva à sua condenação.
Curiosamente, Simão, que tem um
estatuto privilegiado, e vive inserido numa família – ao contrário de Will,
orfão e com poucos recursos finaceiros – «na plebe (…) escolhe amigos e companheiros»
(p. 201, l. 20), indo novamente ao encontro da personagem cinematográfica. Se,
porém, o comportamento de Simão suscita na família «um grande dissabor» - ainda
que isso em nada o influencie, pois é individualista e orgulhoso – Will tem falta de quem o tente orientar.
Talvez por esse motivo a similitude entre ambos cesse no momento em que se
deparam com a mesma possibilidade: a de liberdade.
Enquanto Simão se mantém fiel
aos seus caprichos e faz frente ao pai, recusando a comutação de pena, por preferir
«a liberdade do degredo», Will aceita a proposta conseguida pelo professor
universitário e compromete-se a frequenter sessões de terapia psicológica.
Desse momento em diante, o
filme e a obra afastam-se; as duas personagens, que inicialmente pareciam
pareciam reflexos do mesmo espelho, tomam rumos opostos (podendo até ser feita
uma interpretação literal, uma vez que Simão embarcava para a Índia). O antigo
espírito vivo de Simão vai-se degradando, morrendo lentamente com a «dor de
espírito» (p. 223, l. 40). O orgulho compromete-o, obriga-o à infelicidade.
Will, por outro lado, conhece quem é capaz de acordar lentamente a sua
felicidade.
A densidade do carácter de
Simão e de Will aproximam obra e filme de forma evidente. Contudo, ao
afastarem-se, parecem sugerir-nos os únicos desfechos a que as características
semelhantes de ambos podiam conduzir.
Enquanto um, fiel a si mesmo, morre amando, o outro, disposto a mudar,
aprende a amar.
João S. (Bom (+))
Steve Jobs: O homem por trás da máquina conta uma história verídica, como é de se esperar num documentário. Será
esta a primeira parecença entre este filme e o livro Amor de Perdição. Sabemos que este último terá sido mais infiel à ação
original, provavelmente, por motivos de embelezamento do enredo.
Os dois protagonistas
nasceram em contextos muito diferentes. Temos, por um lado, Steve Jobs, um
rapaz adotado por uma família americana de classe média; e por outro, Simão
Botelho, filho de Domingos Botelho, “fidalgo de linhagem e um dos mais antigos
solarengos de Vila Real de Trás-os-Montes”. No entanto, a sua maneira de estar
em sociedade é muito parecida. Como é sabido, Simão possui traços de um herói
romântico, tem fortes ideais e convicções, é extremamente rebelde e não possui
qualquer respeito pelas regras e normas da sociedade. Estas características são
algumas das que são atribuídas a Jobs durante a sua caracterização por parte
das pessoas que fizeram parte da sua vida, de colegas a rivais. Se havia algo
que ele ignorava, eram regras. Para ele o que interessava era apenas alcançar o
objetivo e não a forma como o alcançava, não se importando com o bem-estar dos
outros. Simão ignora também o sofrimento que causa aos que estão à sua volta.
Apenas lhe interessa alcançar a felicidade com Teresa. Não se importou com as
mortes que provocou, direta ou indiretamente- João da Cruz, Baltasar, criados
de Baltasar, Mariana e até a própria Teresa (“Está morta, e morreu quando lhe
tirei a última esperança”) -, revelando até um certo egoísmo e insensatez.
Durante todo o
documentário são várias vezes frisadas as mudanças e inovações, não só
tecnológicas mas também sociais proporcionadas por Jobs. Foi sem qualquer
dúvida capaz de cumprir o objetivo com o qual é apresentado, “mudar o mundo”.
Esta busca por mudança e por melhoramento social também o aproxima de Simão,
que, como outros heróis românticos, “traz uma nova carta para a mesa”. É uma
lufada de ar fresco numa sociedade conservadora e decadente. Concentrou
principalmente os seus esforços na luta contra a opressão paternal, concluindo
que “a submissão é uma ignomínia quando o poder paternal é uma afronta”. Como
já é de se esperar, ambos foram odiados por serem considerados loucos e
excêntricos.
Até no momento das
suas mortes, Jobs e Simão podem ser relacionados. Ambos partiram cedo. O
próprio narrador o diz a respeito de Simão (“Dezoito anos! O arrebol dourado e
escarlate da manhã da vida!”), apesar da sua morte se ter dado com vinte e um
anos. Para além disso, ambos tiveram grande influência emocional sobre outros
na sua hora de despedida. É dito no filme que a morte de Jobs teve uma
repercussão mundial, algo nunca visto. Já em Amor de Perdição a morte de Simão leva ao suicídio de Mariana
(“antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém
já pôde segurar Mariana, que se atira ao mar.”). Apesar de controversos,
percebemos que eram amados.
Henrique (Suficiente +)
O filme Gifted
conta a história de Mary, uma criança cuja mãe (Diane) morreu quando era
ainda bebé. Mary vivia com seu tio, Frank (irmão de Diane), que pretendia
dar-lhe uma infância à imagem do que a irmã queria. Frank queria que Mary
tivesse uma educação como qualquer outra criança, por isso inscreveu-a numa
escola primária na sua povoação. No entanto, tal como sua mãe, Mary era um
génio de matemática, o que despertou a atenção da sua professora logo no
primeiro dia de aulas. Foi sugerido a Frank que este inscrevesse a criança numa
escola mais apropriada ao seu nível, mas este recusou pois isso não ia ao
encontro das ideias de sua irmã. Por outro lado, a avó de Mary (mãe de Frank e
de Diane) queria explorar o seu potencial ao máximo. A partir deste desencontro
de ideias, existe uma disputa entre o filho e a mãe para obter a custódia de
Mary, mesmo que esta preferisse ficar com o seu tio.
Em Amor de
perdição, Teresa pretende casar com Simão, no entanto o seu pai, Tadeu de
Alburquerque, não pensa da mesma maneira. Tal como Mary, Teresa apenas quer
tomar as suas decisões de vida, mas não lho permitem.
Assim como Teresa só pensa em viver o resto da
sua vida com Simão, Mary apenas quer passar a sua infância com o seu tio Frank.
Infelizmente, essas escolhas não lhe são oferecidas e por isso, em ambas a
histórias as personagens passam pelos momentos mais difíceis das suas vidas.
“Hás de casar! Quero que cases! Quero!... (…)”.
Tadeu de Albuquerque tinha a sua má opinião acerca da família de Simão, o que o
levou a impedir que Teresa casasse com ele e a pretender que casasse com
Baltasar (“Hás de casar! Quero que cases! Quero!... (…)”). Mesmo que não
tivesse más intenções, estava a afetar negativamente a vida de Teresa. Por
outro lado, a avó de Mary era da opinião que a sua neta beneficiaria e teria
mais sucesso se frequentasse uma escola para o nível especial dela, mesmo sem
saber que, ao fazê-lo, iria destruir a infância da criança.
A história de Teresa não tem um final feliz,
pois acaba por não conseguir ficar com Simão e morre sozinha num convento,
mesmo sem o pai, que a tinha obrigado a essa resolução. Já Mary, mesmo depois
de ficar sob custódia da sua avó durante algum tempo, encontra maneira de
voltar a viver com o seu tio e tem uma infância normal rodeada de crianças
normais, tal como Diane desejava.
Cardoso (Bom)
“Amou, perdeu-se, e morreu amando” é a mais famosa
citação da célebre novela composta em 1861, por Camilo Castelo Branco, durante o tempo em que o autor esteve preso por adultério na cadeia da Relação do Porto, servindo de mote a todo o romance. Parece que se serviu do
mesmo mote o autor John Green, na composição da sua sexta novela romântica,
publicada cerca de século e meio depois da do famoso romancista português, em
2012, A Culpa é das
Estrelas, adaptado magnificamente ao cinema por Josh Boone.
Surge nas cenas iniciais Hazel Grace (representada
por Shailene Woodley), uma adolescente que sofre de cancro, e se vê forçada a
frequentar um grupo de apoio para jovens com o mesmo problema, uma vez que os
seus pais decidiram que ela está deprimida e que o grupo seria uma boa maneira
de Hazel explorar esses sentimentos. Contra a sua vontade, a protagonista é
obrigada a ir para o “coração literal de Jesus”, o nome que o dinamizador do
grupo dá ao pequeno espaço em que se encontram, para partilhar e ouvir as
histórias sobre os problemas que o cancro lhes tinha trazido. Contudo, o grupo
passa a ser mais apelativo quando Augustus Waters (representado por Ansel
Elgort) aparece pela primeira vez, mudando a vida de Hazel para sempre.
A carga emocional deste filme é muito forte, muito
pesada, e isto é conseguido de uma forma bela, mas dolorosa. Durante a primeira
parte deste romance, somos testemunhas de um amor jovem, um amor puro e doce.
Estes primeiros momentos são cruciais para criar a empatia sentida por Hazel e
Gus, que acaba por dar lugar ao terrível sofrimento causado pelo desenrolar da
história e coincidir, no final, com a morte de Gus. Em paralelo, em Amor de Perdição também se adquire
afinidade, intimidade, pelos personagens principais, o enredo é ultrarromântico: os protagonistas, Simão e Teresa, filhos de famílias inimigas de Viseu, os Botelhos e os Albuquerques,
apaixonam-se. A conselho de Baltasar Coutinho, primo e prometido de Teresa,
despeitado pelo ciúme, Tadeu de Albuquerque decide encerrar a filha no convento
de Monchique, no Porto. Simão espera-os à saída de Viseu, trava-se de razões
com Baltasar e mata-o a tiro, entregando-se logo à justiça. Preso na Cadeia da
Relação no Porto, é condenado ao degredo de dez anos na Índia. Ao
embarcar, Simão ainda consegue avistar o vulto da sua amada, que se despede
dele, já moribunda, esgotada pela desgraça (“Dalém, daquele convento onde outra
existência agonizava, gementes queixas te vinham espremer mel na chaga; e tu,
que não sabias, nem podias consolar, pedias palavras ao anjo da compaixão para
ela, e recebias as do demónio do desespero para ti.”). Horas depois, Simão toma
conhecimento da morte de Teresa e morre também.
Aquilo que estas duas histórias fazem de forma
fenomenal é mostrar-nos que o infinito temporal nada significa, porque, na
verdade, não existe em termos da vida humana. Tudo muda, tudo acaba e todos
somos finitos. Os infinitos que vivemos, os infinitos que criamos, resultam da
interação que temos com as pessoas que amamos. São os infinitos que encontramos
nos nossos dias finitos, e são esses que contam, que nos fazem sentir imortais.
São aqueles pelos quais nos devemos sentir gratos até ao final das nossas
vidas, seja esse momento amanhã ou daqui a cem anos.
Cabo (Bom -)
8 Mile (Curtis Hanson, 2002) é
um filme sobre um jovem “rapper”, Jimmy, que sonha fazer música e obter sucesso
com ela, enquanto luta contra a pobreza e os preconceitos da sociedade contra
ele. Jimmy vive com a mãe, com a irmã mais nova e com o namorado da mãe. A mãe
é alcoólatra e viciada em jogos, apostando todo o seu dinheiro, piorando a já
má situação económica da família. O padrasto é abusador e, quando não está a
desprezar Jimmy, está a desrespeitá-lo, o que torna a sua relação com ele
complicada.
Numa forma de fugir aos problemas em casa,
ganhar dinheiro e fazer uma carreira, Jimmy participa em torneios de música rap
e de rimas, mas não consegue ganhar nem subir na escada do sucesso, devido ao
preconceito de que aquele estilo de música seria só para pessoas de raça negra
e ele ser branco.
Neste filme, Jimmy contrasta com Simão, de Amor de Perdição, pela forma como os
personagens se desenvolvem em direções contrárias.
Em Amor de
Perdição, Simão vive com uma família rica e sem problemas (para além dos
que ele já criava diariamente), até que conhece Teresa e a sua vida vai
piorando ao longo do tempo. Já Jimmy tem uma vida diferente. Jimmy tem
problemas em representar à frente de uma audiência e, quando chega a sua altura
de brilhar, nenhuma palavra sai da sua boca, tornando-se alvo de piadas e
críticas do público. Começa por ser só aceite pelos seus amigos, que reconhecem
o seu talento musical, e, mais tarde, pela namorada, que o ajuda a encontrar um
produtor que o ajudará a fazer música, mas esta acaba por traí-lo com o
produtor, o que destrói Jimmy, mas também o motiva e fá-lo vencer um torneio,
ganhando o respeito do público e começando a sua carreira. A partir daqui, a
carreira de Jimmy cresce, o que resolve os seus problemas económicos e faz
disparar a sua vida para um nível a que ele nunca teria imaginado chegar.
A linha “Tu virás ter connosco; ser-te-emos
irmãos no céu… O mais puro anjo serás tu… se és deste mundo, irmã; se és deste
mundo, Mariana” prova o final triste e escuro de Simão, que acaba por morrer na
manhã seguinte, que contrasta com o final feliz e claro de Jimmy, cheio de
oportunidades e com as portas abertas.
Miguel C. (Bom -/Suficiente +)
No filme Moana somos apresentados a uma
personagem que vive numa ilha paradisíaca. Ela é descendente do chefe, logo na
mesma qualidade podemos encontrar uma comparação com Simão. Tal como Simão ela
é rebelde, desafiando as ordens do pai e seguindo o seu coração.
No caso do filme,
Moana (que é a personagem principal) tem o sonho de explorar o mundo,
navegando, o que lhe é proibido pelo pai com a justificação de que é demasiado
perigoso. Descobrimos mais tarde que esta regra existe devido a uma experiência
traumática do pai quando era mais novo.
Simão também é
proibido de ver Teresa. O seu caso é devido a uma disputa entre os respetivos
pais. Mesmo assim, Simão persegue o seu amor, ainda que este traga
consequências que irei identificar mais para a frente.
Tanto Simão como
Moana não agem de forma dramática até um acontecimento marcante. No caso de
Simão, é o casamento de Teresa com o primo, Baltasar, e, no caso de Moana, é a morte
da avó, a única pessoa que apoiou o lado explorador dela. Moana face a este
acontecimento decidiu agir e abandonou a ilha num barco. No caso de Simão, a
reação é um pouco mais drástica, ele decide matar Baltasar a tiro,
entregando-se depois.
No final de ambas as
histórias é onde se encontra a maior diferença, Amor de Perdição acaba com três mortes, a de Teresa, que morre de
desgosto num convento, a de Simão que morre de uma doença num barco, e a de
Mariana, uma rapariga que se tinha apaixonado por Simão, e se suicida quando
este morre. No filme Moana a história
tem um final feliz com a personagem principal a completar a sua missão e a
regressar para uma casa feliz.
Estes finais podem
ser justificados com o facto de Amor de
Perdição ser um relato que “terá sido mais
infiel à ação original, provavelmente, por motivos de embelezamento do enredo”
(como dito pelo meu colega João Silva no seu trabalho), mas que, mesmo assim,
trata de uma história de tragédia. No filme Moana,
por outro lado, o filme é direcionado a crianças, tendo como é comum o “final
feliz” que faz parte da marca da Disney.
Pedro F. (Suficiente -)
O filme Little
Italy, dirigido por Donald Petrie, lançado em 2018, lembra, em certos
aspetos, o livro Amor de Perdição de
Camilo Castelo Branco, por exemplo na existência de um amor impossível e no
importantíssimo valor da paixão no desenrolar da história, apesar de o final
não ser de caráter trágico como na obra em comparação.
Camilo Castelo Branco, na sua escrita, recorre à
temática romântica em oposição às convenções sociais, como irei exemplificar a
seguir, após um breve sumário das obras em questão.
Amor de
Perdição tem
como herói um rapaz romântico, Simão, que se apaixona por uma rapariga, Teresa,
com quem não se pode encontrar nem falar, pois o seu pai tem um conflito com o
pai de Teresa, enquanto que, no filme Little
Italy, Nikki e Leo são bons amigos
desde a infância mas, após uma discussão entre os pais dos dois, que são ambos
donos de pizarias, iniciou-se uma guerra entre famílias, e eles deixaram de
poder ser amigos. No entanto, quando Nikki volta de Londres para a terra natal,
após ter acabado um curso de culinária, ela relembra todos os momentos que já
passou com Leo e ambos se apaixonam. Porém no decorrer da dita guerra familiar
eles começaram a relação secretamente. Durante duas semanas, Nikki debateu-se
quanto a uma oferta de trabalho em Londres, até que decidiu aceitar a proposta
e deixar tanto a família como o amor de sua vida para trás. Para a impedir de
ir, Leo, num ato de desespero, vai à procura dela no aeroporto no intuito de
dizer o que temia dizer há muito tempo, e ela, comovida pelas suas palavras,
decide ficar. Este é um exemplo perfeito de um ato de um romântico, pois não só
colocou a paixão acima de tudo ao perseguir o amor até onde este o possa levar como
também se rebelou contra o seu pai dizendo que queria abrir a sua própria
pizaria.
Para além de ser uma novela romântica, o Amor de Perdição é sobretudo uma
tragédia, visto que as três personagens, que fazem parte duma espécie de
triângulo amoroso, morrem.
Podemos concluir, então, que existe uma ligação
direta entre o tema geral desta obra, a paixão e as relações amorosas, e o tema
do filme Little Italy. Isto é,
existem vários aspetos convergentes, como o amor impossível e a importância dos
valores românticos na história, apesar de ambas as obras divergirem no que toca
ao estilo.
Diogo S. (Bom -/Suficiente +)
O filme Dei-te
o Melhor de Mim é mais uma adaptação dos famosos romances de Nikolas
Sparks. Como em Amor de Perdição, do
romancista português Camilo Castelo
Branco, o filme retrata o verdadeiro amor entre dois jovens, que movem céus e
terra para tentar ficar juntos, pois o amor que sentem um pelo outro é muito
forte.
Amanda e Dawson conhecem-se na escola e
apaixonam-se. Amanda é uma rapariga de boas famílias, enquanto que Dawson
pertence a uma família de criminosos. O pai bate-lhe e tenta que ele o
acompanhe e aos seus dois irmãos nos crimes que praticam. Mas, apesar de Dawson
ser uma boa pessoa e não aceitar o tipo de vida de seu pai e irmãos, a família
de Amanda não o aceita como namorado da filha.
Já Simão, apesar de ser de boas famílias, desde
novo que é um arruaceiro, estando até preso por falar sobre as suas ideias
políticas. Depois de voltar para Viseu onde vivem seus pais, conhece Teresa,
sua vizinha, por quem se apaixona. Mas, como o pai de Teresa, Tadeu de
Albuquerque, detesta os Botelho, pais de Simão, devido a disputas de terras,
não aceita o namoro de sua filha, tal como acontece com Amanda e Dawson.
Depois de uma tragédia em que Dawson mata
acidentalmente o seu melhor amigo, este vai preso e, como não pode oferecer um
futuro seguro a Amanda, abre mão do seu grande amor. Amanda, com grande
tristeza, é obrigada a aceitar. Ficam assim separados tal como acontece com
Simão e Teresa, quando Simão é preso por matar Baltasar, primo de Teresa. Teresa
estava prometida em casamento a Baltasar por Tadeu de Albuquerque contra
vontade da filha (“Hás de casar! Quero que cases! Quero!... Quando não,
amaldiçoada serás para sempre, Teresa! Morrerás num convento! Esta casa irá
para teu primo”), pois estava apaixonada por Simão e preferia morrer a ficar
sem ele. Simão é condenado à forca, mas consegue ver a pena reduzida para dez
anos de exílio na India, enquanto que Dawson sai quatro anos depois de cumprir
pena.
Amanda e Dawson voltam a encontrar-se vinte e um
anos depois, para o velório de Tuck, grande amigo do casal, que albergou Dawson
quando este saiu de casa de seu pai. Esta está casada e tem filhos mas, ao
reencontrarem-se, descobrem que o amor entre eles ainda se mantém. Já Simão,
como percebe que nunca conseguirá ficar com Teresa, diz-lhe que seria melhor
que ambos morressem, visto não poderem ficar juntos.
O final é trágico e bastante idêntico para as
duas histórias pois, apesar de estarem em circunstâncias diferentes, tanto
Dawson como Simão e Teresa têm o mesmo destino: a morte. Teresa mata-se de
desgosto, Simão morre com uma febre em alto mar e Dawson é assassinado por seu
pai.
Ricardo (Bom +)
O amor é um tema que abrange todos os tipos de arte, passando também
pelo cinema e pela literatura. A frase “Amou, perdeu-se e morreu amando.”
presente na introdução de Amor de
Perdição, sugere ao leitor uma história trágica de amor que se poderia
aplicar perfeitamente ao filme Snu, de
Patrícia Sequeira.
O filme relata a história de amor de Ebba Merete Seidenfaden, a
dinamarquesa que ficou conhecida por todos como Snu Abecassis, com Francisco Sá
Carneiro. Amor de Perdição também nos
narra o amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque, dois jovens que se
apaixonam contra a vontade dos pais, lutando sempre até à morte pelo sentimento
que os une. Estes heróis românticos desafiam a autoridade paterna, pois as suas
famílias desprezam-se mutuamente. A evidência de uma mudança social e a defesa
dos ideais da liberdade e justiça estão presentes nas palavras de Teresa: “...
mate-me, mas não me force a casar com meu primo! É escusada a violência, porque
eu não caso!...” (cap. IV). Inspirado em factos verídicos, o filme Snu acompanha a história de amor e
coragem vivida entre Snu e Francisco Sá Carneiro até ao acidente que lhes
retirou a vida em Camarate, na noite de 4 de dezembro de 1980. Numa época em que a democracia dava os primeiros passos em Portugal, o
par romântico lutou contra o perconceito, quebrou protocolos de Estado,
desafiou o catolicismo e implementou uma mudança social. Tudo em nome do amor
que os unia. Também Teresa se opôs à vontade de seu pai que insistia no
casamento com o seu primo Baltasar e que a obrigou a ir para o convento pela
sua desobediência (“Hás de casar! Quero que cases! Quero!”, cap. IV) e, no
entanto, esta conseguiu contornar a “prisão” em que vivia, continuando a
contactar com Simão através de cartas.
Fundadora das edições D. Quixote, a protagonista do filme conhece
Francisco Sá-Carneiro num almoço para a coleção de livros
"Participar", no dia 6 de janeiro de 1976. Apaixonam-se
irremediavelmente e decidem assumir esse amor, apesar de ambos serem casados e
terem filhos, o que abalou as convenções nacionais. Partilham valores e ambição
e lutam pela democracia, pela liberdade e pela honra. Francisco Sá Carneiro
chega mesmo a afirmar que, se tiver que escolher entre a sua paixão por Snu e a
política, irá optar pelo amor. No caso de Simão e Teresa, é Simão que encara o
herói romântico quando decide que iria para o exílio em vez de aceitar os dez
anos que lhe haviam sido aplicados na cadeia de Monchique (“Ao cabo de dezanove
meses de cárcere, Simão Botelho almejava um raio de sol, uma lufada de ar não
coada pelos ferros…”, cap. XIX). Quer o filme de Patrícia Sequeira quer a obra
de Camilo Castelo Branco mostram que o herói romântico está disposto a deixar
tudo, lutando pelo amor que lhes seja proibido por diversas razões.
Em ambas as histórias de amor o desfecho é trágico. Simão e Teresa não
resistem à fraqueza, Snu e Francisco são vítimas de um acidente de aviação.
Todos acabam por perder a vida demasiado cedo.
Afonso (Bom)
A
valorização do amor é o tema principal do Romantismo. Ao amor acresce a
apologia da liberdade individual. A liberdade de amar sem preconceitos ou
regras, a liberdade de amar sem barreiras ou obstáculos e a liberdade de amar
para lá da vida, enfrentando a morte como destino natural, quando na própria
vida não cabe tal amor. Um amor livre que nem a mais segura prisão pode
separar.
Na obra Amor de Perdição, exemplo ímpar do
Romantismo na literatura portuguesa, Camilo Castelo Branco conta a história de
um amor proibido entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque. Curiosamente,
esta obra foi escrita quando o autor esteve preso por adultério. E foi
precisamente na cadeia da Relação do Porto que o autor encontrou, nos livros de
assentamentos, os registos que deram origem à história, baseada num episódio
real da vida de um tio.
A cadeia
foi, certamente, inspiradora para Camilo Castelo Branco que através das grades
retratou Simão Botelho, anteriormente encarcerado no mesmo local, também por um
amor considerado transgressivo e, que, tendo consciência da dimensão sublime do
seu amor, abdicou, tal como a sua amada, da liberdade e, posteriormente, até da
própria vida.
Haverá
melhor imagem que o plano de fuga de uma prisão — em apenas “72 Horas” — para
voltar a unir dois amantes, para simbolizar o amor livre com que Camilo Castelo
Branco nos fez sonhar através de Amor de
Perdição?
Também no
filme 72 Horas um homem vulgar,
professor universitário, John Brennan, vê a sua vida totalmente destruída
quando a sua mulher, Lara, é acusada de um crime brutal que alega não ter
cometido. Uma vez que Lara é presa e condenada à prisão, o marido, sem
conseguir aceitar a separação física do seu amor, decide agir por conta própria
depois anos de vários recursos negados pela justiça.
Este filme
retrata a capacidade de um homem arriscar tudo por amor, tal como Simão Botelho
fez por Teresa de Albuquerque. Ambos se viram separados das suas amantes
através de grades e nenhum dos dois aceitou essa separação física: “Quando
intimaram a Simão Botelho a decisão de recurso e a graça do regente, o preso
respondeu que não aceitava a graça; que queria a liberdade do degredo; que
protestaria perante os poderes judiciários contra um favor que não implorara, e
que reputava mais atroz que a morte.”
A morte não
os intimidou, dado que encaravam o amor como a razão para se estar vivo. John
Brennan justificava a sua própria transgressão às normas da sociedade, ao
invadir a prisão para libertar a sua mulher, com a revolta legítima de quem
acredita que o amor só é compatível com a liberdade, tornando-se, assim, no
herói do filme.
Também a
injustiça que sentimos face ao destino trágico de Simão e de Teresa, lhes dá um
carácter heroico, pois, em nome do amor, enfrentam, não só os preconceitos
impostos pelas famílias e a repressão da sociedade em que vivem, mas também a
morte – “ Viram-na, um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para
abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços”.
Talvez Simão
Botelho precisasse da ajuda de John Brennan para ter conseguido traçar um plano
de fuga quando esteve preso, mesmo que precisasse de mais do que 72 horas para
o concretizar, pois os tempos eram outros...
Francisco
B. (Bom(-)/Bom-)
Traduzido para
português como O Bom
Rebelde, Good Will Hunting dá-nos a conhecer a história
de um rapaz de vinte anos, chamado Will Hunting, que vivia num bairro problemático,
deixando-se apanhar em diversas confusões. Trabalhando como empregado de
limpeza no MIT, entretinha-se a resolver equações matemáticas. Quando um dos
professores, Gerald Lambeau, descobre este génio, quer trazê-lo para trabalhar consigo,
mas o rapaz volta a meter-se em problemas e o professor consegue um acordo com
um juiz, impedindo-o de ser preso, caso frequente um psiquiatra, que vai ser o
Dr. Sean Maguire. No meio disto tudo, Will apaixona-se por uma rapariga chamada
Skylar.
Basta conhecer
brevemente a história de Amor
de Perdição para percebermos
as ligações entre este romance e o filme acima descrito. Quando nos é dado a
conhecer o protagonista da história, Simão Botelho, também ficamos a saber que
este é um rapaz rebelde, para além de não se dar bem com o pai e de o irmão,
Manuel, dele se queixar: “O filho mais velho escreveu a seu pai queixando-se de
não poder viver com o seu irmão, temeroso de génio sanguinário dele.”;
“Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao meirinho-geral que o
prendesse à sua ordem.”
O segundo ponto
de ligação que podemos ver entre Will e Simão é o facto de ambos conhecerem uma
rapariga, Skylar e Teresa, respetivamente, por quem se apaixonam profundamente,
vendo o seu amor ser correspondido. No entanto, enquanto Teresa recusa
inclusivamente casar com o primo Baltasar, desafiando as ordens do pai, Tadeu
Albuquerque, tudo por amor a Simão, Skylar, embora tenha um grande amor por Will,
está determinada em ir estudar medicina para a Califórnia, querendo-o até levar
com ela. Conseguimos assim perceber que ambas as raparigas são muito determinadas
em defender o seu amor, mas que enquanto Skylar não desiste do seu futuro,
Teresa desiste de tudo, permitindo até que o pai a encerre num convento:
“Morrerás num convento!”.
Podemos ainda
aproximar João da Cruz do psiquiatra Sean, visto que ambos desempenham um papel
importante na vida dos protagonistas, auxiliando-os. Enquanto João da Cruz
auxilia Simão por dívida ao seu pai, protegendo-o contra os criados do primo
Baltasar e acolhendo-o na sua casa quando ele fica ferido, tentando-o impedir
de se meter em problemas (“Acudiu logo mestre João combatendo a ideia de saída,
com encarecer os perigos do ferimento”), Sean vai trabalhar a atitude de Will,
tentando que ele acredite nas suas capacidades e deixe de lado a sua vida de
marginal.
Assim, por um
lado, o final de Amor de
Perdição é trágico, visto
que Simão e Teresa morrem de doença por não conseguirem estar juntos e até
Mariana se suicida por não conseguir ter o amor de Simão — “Rompe a manhã. Vou
ter a minha última aurora… a última dos meus dezoito anos!”; “Viram-na […] não
[…] resistir à morte, mas […]abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe
atirou aos braços.” —; por outro, o amor de Skylar consegue vencer a rebeldia
de Will e este, no fim do filme, acaba por abandonar os seus amigos de sempre,
deixando um recado na caixa de correio do psiquiatra, dizendo que “foi ter com
uma rapariga”.
Sebastião (Suficiente)
No enredo de Eduardo Mãos de
Tesoura, Tim Burton conta-nos a história típica de um amor impossível e
transforma-a para a sua, já conhecida, visão de fantasia sombria. O filme
relata a história do anti-herói Eduard, a criação de um cientista velho, que
falece deixando-o com mãos de tesoura. Eduard abandonado, abriga-se na mansão
do seu criador. Certo dia, uma senhora visita a mansão e deparara-se com o
jovem. Com compaixão, Peg Boggs decide dar refúgio ao jovem, convidando-o para
a sua casa. Eduardo, ao chegar ao que seria a sua nova casa, conhece Kim, filha
de Peg, que se apaixona à primeira vista; no entanto Kim, assustada pelo aspeto
bizarro de Eduard, ainda não sente nada pelo nosso anti-herói.
Enquanto no Amor de Perdição
Simão e Teresa se apaixonam à primeira vista, no filme Eduard é o único com
esse sentimento. Só mais tarde Kim começará a ter sentimentos pelo anti-herói.
A popularidade do jovem cresce na cidade, ao descobrirem os seus
talentos para cortar arbustos, fazer cortes ao pelo dos cães ou cortes de
cabelos. Enquanto isso, Kim vai começando a conhecer melhor Eduard e a criar
uma relação com o jovem. O namorado de Kim, Jim, ciumento, não gosta da relação
entre Kim e Eduard. O jovem, apesar de se tornar celebridade, não o é muito
tempo, pois Eduard é manipulado por Jim para arrombar a própria casa e é
apanhado pela polícia. Ao mesmo tempo, uma mulher espalha falsos rumores de que
Eduard se tentou insinuar a ela. Desta forma a reputação do nosso anti-herói
vai caindo, mas Kim nunca para de ver e Eduardo, para quem ele é um rapaz inocente
e perdido numa sociedade que desconhece.
Em ambas as obras existe um triângulo amoroso: Eduard representa
Simão, o herói romântico. Apesar de Eduard não ser uma personagem que rejeite
normas e convenções, como Simão, Eduard é também rejeitado pela sociedade e é o
foco desta história. Kim representa Teresa, apaixonada pelo nosso anti-herói, e
Jim representa Baltasar, o vilão.
Ao chegámos ao clímax do filme, Jim e a cidade revoltam-se contra o
jovem e ele foge para a mansão do seu criador. Kim segue e encontra-se com ele,
mas das sombras, Jim dispara um tiro que falha o seu alvo. Eduard e Jim lutam
até que o nosso herói espeta as suas mãos de tesoura na barriga do vilão e ele
cai da janela. Kim, finalmente, confessa o seu amor por Eduard e ambos se
despedem com um beijo. Kim sai da mansão e mente à cidade dizendo que o Jim e o
Eduard se mataram. Assim, revela-se que Kim está a contar a história à sua
neta.
Tal como Simão e Eduard, ao matarem o vilão da sua história, Baltasar
e Jim, pagaram o seu preço. Em Amor de
Perdição, Simão vai preso e, mais tarde, é degredado para a India, e, no
filme, Eduard terá de se esconder da cidade, que o acredita já morto. Em ambas
das obras os heróis sofrem finais trágicos que impossibilitam os seus amores:
“Amou, perdeu-se, e morreu amando”. Tal como na obra portuguesa, percebe-se que
a história volta ao primeiro nível narrativo, em que o narrador investigou a
vida do seu familiar; no filme também, com a revelação de Kim a contar a
história.
Pedro P. (Suficiente/Suficiente
(+))
O filme (500)
dias com Summer é o típico filme que
conta a história de um casal através de uma comédia romântica, só que ,nesta,
ao contrario das outras, o casal acaba por não se reunir, tal como na obra Amor de Perdição, onde o fim da obra é
muito mais trágico, devido à morte das três personagens que estão envolvidas
(Simão Botelho, Teresa Albuquerque e Mariana).
Thomas Hansen, a personagem principal do filme,
é, tal como Simão um pouco descontrolado e toma decisões demasiado baseado nos
seus sentimentos, deixando estes interferir muito nas suas decisões. No filme,
esta característica resulta numa luta de bar devido a um homem tentar seduzir
Summer, na altura a namorada de Thomas. Em Amor
de Perdição Simão, devido a esta impulsividade, característica da
personagem, cria um conflito bastante agressivo no chafariz (“Simão passava
nesse ensejo; e, armado de um fueiro que
descravou dum carro, partiu umas cabeças, e rematou o trágico espectáculo pela farsa de quebrar todos os cântaros”).
Além disso, Simão ainda mata Baltasar, primo de Teresa, prometido para noivo da
mesma.
Thomas, nos seus momentos de indecisão ou quando
se sente triste e abalado, recorre aos conselhos de Rachel, em vez dos seus
melhores amigos, McKenzie e Paul (estes servem mais para Thomas relatar o
progresso na sua relação com Summer). Rita, a irmã mais nova de Simão também o
aconselha e ajuda várias vezes ao longo da história no livro. Ao longo destas
duas intrigas nota-se também a decadência da relação (no filme (500)dias com Summer), e, no Amor de Perdição, a dificuldade de vir a
existir uma. No filme vemos o começo das discussões entre Thomas e Summer, o
aborrecimento de um com o outro, que acaba por levar ao fim da relação, e,
depois, o casamento de Summer com outro homem; no livro, vemos a quantidade de
obstáculos a aumentar e a obstruir o começo da relação, a tentativa de
casamento entre Teresa de Albuquerque e o seu primo Baltasar ,a ida de Teresa
para o convento de Monchique, Simão ser
feito prisioneiro e, finalmente, a morte de ambos, que acaba verdadeiramente
com a possibilidade duma futura relação, tal como o casamento no filme.
Em ambos os casos, é mostrado o amor que estes
dois homens sentiam pelas respectivas mulheres, pois, quando deixa de haver
possibilidade de estas personagens virem a entrar num relacionamento com a
pessoa desejada, Simão suicida-se e Thomas entra rapidamente num estado
depressivo.
Guilherme
V.
(Suficiente (+))
Troy baseia-se na guerra de
Troia, um conflito em que batalharam os gregos contra os troianos. O que causou
esta batalha foi o rapto de Helena de Esparta por Paris, o príncipe de Troia.
Os gregos ripostaram, invadindo Troia, causando uma guerra que tinha como
objetivo recuperar Helena e, por sua vez, destruir a nação troiana.
Como acontece no Amor de Perdição, existe uma mulher linda que acaba por levar uma
pessoa a cometer delitos, como matar o primo da belíssima mulher. Neste caso,
Paris, o príncipe de Troia, decide raptar Helena, mulher mais bonita da Terra,
porque três deusas perguntaram a Paris qual era a Deusa mais bonita e ele decidiu
que Afrodite é que era a mais bela e esta ofereceu-lhe a mulher mais bela. Como
acontece em Amor de Perdição, a mulher tem marido (embora não tivesse
no livro, porque se recusava a aceitar Baltasar), que não fica muito agradado
com o rapto da mulher, pelo que decide invadir Troia como vingança: atua como
Simão, por vingança, apenas se acalmaria quando o saque a Troia e a carnificina
acalmassem o impulso do Grego. Um pouco como no livro, existem as duas famílias
rivais: em Amor de Pedição temos a
família dos Albuquerque e a dos Botelho; e em Troy temos a rivalidade entre os troianos e os gregos. No final,
todos os guerreiros acabam por ter a atitude de Mariana, seguindo as vontades
do seu “herói”, embora estes guerreiros não seguissem propriamente o coração
nem “o que a consciência lhe[s] ia dizendo”.
Como Simão, Aquiles também atua guiado por sua
vontade e orgulho, como quando Agámemnon rouba a serva de Aquiles e este decide
abandonar a guerra e, mesmo quando lhe é devolvida a mulher, este continua a
negar-se a ir para a guerra. Isto mostra como o herói luta pelo orgulho e era
corajoso e destemido. Também guiando-se pela vingança, ao saber a morte de
Pátroclo decidiu voltar para a guerra e vingá-lo. E, após o pai de Héctor pedir
pelo corpo do filho, Aquiles acaba por lho entregar. Tal como Simão, este
guerreiro não ouve nenhum conselho por parte dos Deuses que o avisam de que
ainda não era altura para Troia cair, tanto que no filme corta a cabeça da
estátua de Apolo, uns dos Deuses que defende Troia. Para além das
características psicológicas, também era o guerreiro mais belo e forte que as
tropas gregas possuíam. Este guerreiro tal como Simão estava destinado a morrer
jovem.
Ângelo (Suficiente/Suficiente
(+))
O enredo de P.S. Eu amo-te (Richard
LaGravenese, P.S. I love you, 2007) é bastante parecido com o enredo de Amor
de Perdição (Camilo Castelo Branco, 1862), porque, no filme Gerry morre e a
sua amada fica bastante abalada, trancando-se em casa durante dias. Enquanto
que no livro Simão é condenado à forca e, depois ao degredo, o que enlouquece
Teresa.
Em P.S I love you começamos por ver um
casal bastante unido e que claramente se ama; mas tudo o que é bom acaba, e
tudo acaba quando Gerry morre. Não é claro como Gerry morre, mas, antes de
morrer, Gerry, vai preparando várias cartas para a sua mulher, Holly, receber.
Holly começa a receber estas cartas de Gerry no seu trigésimo aniversário.
Em Amor de Perdição, quando Teresa é
enviada para um convento, em Viseu, Simão envia-lhe várias cartas, como Teresa
a Simão, para se irem mantendo em contacto. Passado algum tempo Teresa vai ser
levada para um outro convento, mas no Porto. Quando Simão descobre que Teresa
vai ser transferida para um convento no Porto, decide ir a Viseu, ignorando os
avisos de Teresa, João da Cruz e Mariana («Olhe que ela recomendou-me muito que
não fosse lá — acudiu Mariana») para se despedir de Teresa, uma vez que, estava
desesperado para ver a sua amada uma última vez («Eu hei de vê-la antes de
partir para Coimbra»).
Quando Simão chega ao convento, Baltasar impede-o
de falar com Teresa e o herói romântico mata Baltasar com um tiro à
queima-roupa. Simão recusa-se a fugir com João da Cruz («Eu não fujo (...)
estou preso. Aqui tem as minhas armas.») e confessa que matou Baltasar. Simão é
então condenado à morte mas, com a ajuda de seu pai, é exilado para a Índia,
morrendo a caminho do seu destino.
Podemos ver que o enredo do filme e do livro são
parecidos em alguns aspetos, mesmo tendo várias diferenças entre si. Em P.S.
I love you Gerry e Holly são muito felizes juntos e vivem uma vida feliz e
calma até Gerry morrer, enquanto que em Amor de Perdição Simão e Teresa
não têm tanta sorte, só se conseguem encontrar às escondidas dos pais, uma vez
que estes não aprovam o amor entre os dois jovens e nunca chegam a estar juntos
por muito tempo.
As cartas são comuns aos dois romances, porém os
motivos das cartas são bastante diferentes. No livro, Simão e Teresa enviam
cartas um ao outro para se irem mantendo em contacto, pois nunca se podiam ver,
e, no filme, Gerry preparou cartas para a sua amada para a ajudar a ultrapassar
a morte do seu marido. O contexto das cartas é bastante diferente. Na obra de
Camilo Castelo Branco, o casal trocava cartas de amor, mas, na obra de Richard
LaGravenese, as cartas de Gerry eram de encorajamento e incentivavam Holly a
fazer e a experimentar coisas noivas e conhecer novas pessoas para esquecer a
morte do seu marido.
Tanto em Amor de Perdição como em P.S.
I love you quer Simão quer Gerry acabam por se afastar definitivamente das
suas amadas, um devido ao exílio e o outro devido à sua morte, respetivamente.
No entanto, em P.S i love you Holly tem a sorte de se poder manter em
contacto com o seu marido, e, em Amor de Perdição, Teresa mantém contacto
com Simão até à sua morte.
Miguel B. (Suficiente +/Bom -)
O filme intitulado A Bela e o Monstro, que se inspira no famoso conto de Jeanne-Marie
Leprince de Beaumont (1711-1780), é um dos filmes mais icónicos de todos os
tempos e não falha na vida dos jovens de hoje em dia. Caracterizado por
diversas versões filmográficas e literárias, o mais recente remake foi encenado
por Bill Condon.
Neste conto surge a ideia de um amor impossível,
entre uma donzela bela e um monstro com um coração desgastado e petrificado,
que age de forma impulsiva e destruidora. O momento romântico só chega
efetivamente a acontecer devido à coragem da bela que, em troca da liberdade de
seu pai, se entrega por completo àquele que, no início, seria um pesadelo.
Todavia, ao contrário do que seria espectável, começa a surgir uma certa
cooperação entre os dois que tal como o típico cliché dita (“os opostos
atraem-se”), leva os mesmo a um estado de paixão.
Simão Botelho, filho de Domingos Botelho
“fidalgo de linhagem”, é tido como Herói romântico em Amor de Perdição, tal como o monstro. Um “avesso em génio”,
caracterizado pela atitude rebelde e desafiadora, enfim, bastante impulsivo. A
exemplo, o momento em que “armado de um fueiro (…) partiu muitas cabeças”
porque viu um dos seus criados ameaçados. Pode até dizer-se que parece ter-se
transformado num monstro quando confrontado com um mísero problema, monstro
verídico no conto “A Bela e o Monstro”, que age por diversas vezes como tal em
sua ou em defesa de outros, normalmente em defesa daquela que seria a sua bela
encantada.
Já relativamente a estados de penúria, se o
monstro os vive inicialmente, Simão acaba por os viver sempre um pouco ao longo
de toda a história, atingindo o seu auge quando é exilado para a Índia como
“degredado”. O comandante acaba por fazer o temido anúncio “está morto”. Porém,
o destino não é cruel para todos e o monstro consegue viver o auge da sua
felicidade ao conquistar um coração puro, o da Bela. Mesmo depois de
insistências e desistências de parte a parte, o monstro, finalmente, cede,
quebrando o seu feitiço, sendo assim, para ele, o amor a salvação. Este acaba
mesmo por ser o motivo do degredo de Simão, aliado à sua personalidade
orgulhosa. Tudo culmina quando deixa Baltasar com “o alto do crânio aberto por
uma bala”. Apesar de evitar o penoso casamento de Baltasar com Teresa, Simão
acaba por não conseguir ficar com Teresa, desfecho que poderia ter sido
diferente se, tal como o monstro, Simão não tivesse sido tão orgulhoso e
aceitasse a alteração da pena conseguida pelo pai.
Acaba, assim, por se cruzar a personalidade dos
dois heróis românticos – se, por um lado, temos Simão com o temperamento
parecido com o de um monstro, por outro, temos um monstro. Contudo, apesar de
ambos serem heróis românticos, acabam por traçar percursos exatamente inversos,
mas também inesperados.
Amaral (Bom -/Suficiente +)
O filme O
diário da nossa paixão (Nick Cassavetes, The notebook, 2004)
representa o típico filme romântico, onde um rapaz de uma classe social baixa e
uma rapariga de uma classe social alta se apaixonam, mas, na realidade,
destaca-se muito entre outros filmes do mesmo género.
O filme começa
por mostrar um idoso a contar uma história a uma senhora também já bastante
velhinha. Esta história relata as vivências de dois jovens, Allie e Noah, que
se apaixonam loucamente, mas, devido às suas diferenças sociais, acabam por ser
separados pelos pais da rapariga que a proíbem de namorar com um rapaz do povo.
Entretanto, Noah vai para a guerra e, após o seu fim, a agora noiva Allie, vê
uma foto de Noah num jornal e decide ir passar uns dias com ele. Nestes dias, a
chama entre os dois reacende-se e Allie tem que escolher entre Noah e o seu
esposo. Enquanto o idoso conta esta história para a senhora, esta identifica-se
com Allie e percebe que o homem que lhe conta a história é, na realidade, o
homem com quem ela decidiu ficar. Percebe-se, no fim, que Allie desenvolveu
Alzheimer e que Noah lhe conta esta história repetidamente, para Allie se puder
lembrar do seu amor e puderem estar apaixonados de novo até se voltar a
esquecer.
Neste trabalho,
vou-me apenas focar na parte do amor proibido do filme, parte que se pode
relacionar com o amor entre Simão e Teresa em Amor de perdição. Em
ambos, o filme e o livro, apesar de por razões diferentes, existe um amor
proibido entre as personagens principais.
No livro, Simão e
Teresa são proibidos de namorar devido a uma disputa entra as suas famílias,
querendo o pai de Teresa que sua filha case com o seu primo Baltasar, pensando
que esta obrigação é necessária e o melhor para Teresa, dizendo: “Logo que
deres este passo difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que
precisam de ser impostas pela violência” e “a violência de um pai é sempre
amor”.
Por outro lado, o
namoro entre Noah e Allie é proibido por, aos olhos da mãe de Allie, Noah ser
um pobretanas sem dignidade e não merecedor do amor da sua filha.
Ao longo da
história, ambos os casais acabam por ser separados, sendo Simão preso e Noah
enviado para servir na guerra. Apesar disto, ambos os casais se voltam a
reunir, sendo que Allie e Noah permanecem juntos para sempre e Simão e Teresa
morrem após serem separados uma última vez quando Simão é condenado ao degredo.
Francisco
A. (Suficiente
(-))
O amor, algo que fascina escritores há séculos, o conceito de adorar alguém e de fazer-se tudo o
que se possa por essa pessoa, chegando mesmo ao ponto de sacrifício pessoal, é
algo tentador para qualquer escritor.
Equals descreve um mundo
paralelo, em que a espécie humana, para se proteger de si mesma, se viu livre
das suas emoções, resultando numa sociedade quase robótica, em que todas as
ações são tomadas para serem o mais eficientes possíveis, o que cria um
paralelismo com Tadeu de Albuquerque, que queria por força que Teresa de
Albuquerque se casasse com o seu primo Baltasar Coutinho, ignorando a vontade e
os sentimentos de amor da sua filha por Simão. O mesmo também pode ser dito acerca
de Domingos Botelho, pai de Simão, que pelas mesmas razões que Tadeu, uma
rivalidade com a outra família, não permitiu que Simão se casasse com Teresa.
No filme, a história roda à volta de Silas,
alguém que de alguma forma recuperou as suas emoções, e do seu agora descoberto
amor por Nia, outra pessoa que recuperou as suas emoções. Para manter a ordem e
controlo nesta sociedade, os que recuperam as suas emoções são forçados a serem
“curados”, ou seja, a terem as suas emoções retiradas através de tratamentos;
logo este amor entre Silas e Nia não é permitido, tal como o de Simão e Teresa,
mas, enquanto no livro o que proíbe esta relação de existir é a tirania de
ambos os pais, no filme é a própria sociedade, no intuito de impedir anomalias
no seu seio.
Ao longo de todo o filme, Silas vai encontrando
algumas outras pessoas que recuperaram de sentir emoção, criando um pequeno
grupo secreto onde podem discutir toda esta experiência nova para eles, de
“sentir”, e podem também ajudar-se mutuamente, tal como em Amor de Perdição as personagens não estão sozinhas e têm ajuda ao
longo da sua jornada. No caso de Amor de
Perdição, Simão tem Mariana e João da Cruz sempre ao seu lado até ao fim.
Silas, depois da agora grávida Nia ter sido ser
capturada, sente-se perdido e impotente perante a situação, procura uma forma
de conseguir tirar Nia do seu aprisionamento; entretanto, ela consegue escapar,
fingindo o seu suicídio com a ajuda de Bess, uma mulher que já esconde o facto
de ter recuperado as suas emoções há vários anos e que trabalha para o governo.
Silas, não sabendo do plano de resgate de Nia, fica destroçado com a sua
suposta morte e, depois de todos os membros do seu grupo serem apanhados pelo
governo, decide cometer um “suicídio emocional”, fazendo os tratamentos de
remoção de emoções. Algo que diferencia o filme do livro é a situação em que as
personagens se encontram no fim: enquanto Simão tem Mariana ao seu lado até ao
fim, Silas está completamente sozinho (os amigos capturados pelo governo e o
seu amor supostamente morto). Enquanto no livro Simão se vê como o causador de
todos os acontecimentos (“Tanta gente desgraçada que eu fiz.”), no filme é Nia
que se encontra nesta situação, pois o seu resgate levou à descoberta do seu
grupo, e a sua “morte” à desgraça de Silas.
Carolina (Suficiente (–))
O enredo do filme Me Before You é semelhante ao de muitos outros filmes mas, ao mesmo
tempo, distinto de qualquer outro.
Este filme fala de duas pessoas completamente
díspares uma da outra. A história baseia-se numa rapariga que vai trabalhar
para casa de um homem que teve um acidente e ficou paraplégico. Este tem seis
meses para decidir se vai continuar a viver ou se vai acabar com a própria vida
(mas a rapariga que aceitou o trabalho não sabe de nada). Eles apenas se
encontram por uma mera casualidade, e apaixonam-se quando não deviam, levando a
um encadeamento de eventos que leva a «audiência» a pensar que, afinal, isto é
mais do que uma mera aventura. Mas, mesmo estando apaixonados, o amor deles não
é suficiente para fazer com que o jovem decida viver com ela e acaba por morrer
deixando a sua amada para trás.
No livro Amor
de Perdição a história é bastante semelhante. Dois jovens de famílias
inimigas apaixonam-se e lutam contra todos para que o seu amor consiga vingar
e, por momentos, todos nós pensamos que assim vai ser, que estes dois jovens
vão conseguir ficar juntos mesmo contra a vontade dos pais. Entre os bilhetes
que estes vão enviando um ao outro Teresa diz «serei tua esposa». Mas o amor
que eles tinham um pelo outro também não é suficiente para fazer com que Simão abandone tudo por Teresa. Aqui
prevaleceu o orgulho deste.
Quando Simão está prestes a embarcar, viu que
Teresa estava lá e que «viu, dois a dois,
entrarem amarrados, no tombadilho, os condenados» e, quando ele embarca, viu
mesmo Teresa a morrer («não era de Teresa aquele rosto: seria antes um cadáver
que subiu da claustra ao mirante»).
Em ambas as histórias os
protagonistas são dois jovens que não se deviam ter apaixonado e que são de
mundos diferentes, mas isso não os impede de se amarem. Em Amor de Perdição os jovens apaixonam-se logo na primeira vez que se
veem, mas em Me Before You há bastante resistência da parte dos protagonistas
pois estes sabem que não se deveriam apaixonar, mas não conseguem resistir por
muito tempo, acabando com uma morte.
Mais à frente (em ambas as
histórias) uma das pessoas do casal tem que fazer uma escolha, literalmente,
entre vida e morte. Simão tem de decidir se vai ficar na prisão em Lisboa, o
que para Teresa significa que eles no futuro podem ficar juntos, ou se vai para
o degredo, e as pessoas que são degredadas nunca voltam para casa. No filme
acontece a mesma coisa: o homem sofreu um acidente, ficando paraplégico, e tem
de decidir se vai continuar a viver e ficar com a sua amada ou se vai acabar
com a sua própria vida através de uma injeção letal.
Ambos escolhem a opção que
acaba com a relação. No livro a escolha é baseada apenas no orgulho de Simão, o
que leva à morte de ambos num espaço de poucos meses, e, no filme, a escolha é
feita pelo facto de que a qualidade de vida de ambos nunca será muito boa por
causa das condições do jovem não permitirem que este consiga viver em
felicidade plena devido ao seu estado de saúde.
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