Amor de Perdição pelo 11.º 4.ª
Gonçalo (Bom (+))
A vida é
bela,
filme cuja ação se passa em meados dos anos quarenta do século XX, parece, à
primeira vista, apenas mais um dos inúmeros retratos da Segunda Guerra Mundial
e do Holocausto. Somos, no entanto, surpreendidos por uma arrebatadora e
comovente narrativa de amor e superação entre um pai e um filho que atravessam
uma das fases mais escuras da História com alegria e esperança.
Nos capítulos que referirei, as duas personagens
principais, Simão e Teresa, vivem ainda na ilusão de que poderão um dia ficar
juntos (“súplicas ao seu amor como recompensa dos passados e futuros
desgostosos, visões encantadoras do futuro”‒ Cap. IV), tal como
Guido sonha em voltar a reunir a sua família separada pela
guerra.
Como Simão, Guido dispõe-se a fazer tudo para
conseguir o seu último desejo. Simão arrisca a prisão por ódio a Baltasar (“Ir
dali a Castro Daire e apunhalar o primo de Teresa na sua própria casa”‒ Cap. IV), Guido arrisca a própria vida e sanidade
mental para manter o pequeno Joshua na fantasia de que toda a situação
em que se encontravam se tratava apenas de um jogo elaborado pelo pai. O herói
da obra acaba por retirar a vida ao seu rival, que perece com “o alto do crânio
aberto por uma bala”‒ Cap. XX ‒, e entrega-se às autoridades, por
honra, sendo condenado ao degredo. Por paralelismo, também a personagem central
do filme de Roberto Benigni, alcança a proeza de manter o filho agarrado à
esperança e à alegria até ao fim da guerra e do tempo em cativeiro no campo de
concentração ‒ acabando, no entanto, por ser levado por
autoridades do campo, podendo adivinhar-se o destino da personagem.
Em ambos os casos, as personagens precisam uma
da outra para se manterem sãs e com esperança de que poderão ficar juntas, com
normalidade. Assim, são adotados comportamentos que visam esse mesmo objetivo.
No caso da película italiana, o pai usa a constante e contagiante energia do
filho, onde encontra a força de vontade para ajudar o filho a manter-se alheio
à situação em que realmente se encontram através do já mencionado jogo. Por
outro lado, os fidalgos que vivem o amor proibido recorrem à escrita de cartas
e envio de pequenos bilhetes em que declaram os sentimentos que os percorrem e
os planos que têm para quando se reencontrarem (“Simão releu a carta duas vezes
[...] eram expressões ternas [...] novos juramentos de constância, e sentidas
frases de saudade.” ‒ Cap. IV).
Temos duas histórias distintas, em épocas e
contextos díspares, mas com o amor em comum: dois amantes separados por
assuntos de um passado que não lhes diz respeito, e uma família, castigada por
um regime injusto e abusivo, que encontram na pessoa que mais amam a força para
enfrentar os seus assustadores destinos.
Tomás (Bom/Bom (-))
Amor de
perdição
é uma novela portuguesa, escrita por Camilo Castelo Branco, publicada em 1862 e
que procura retratar a década inicial de 1800. Já La vita è bella é uma obra cinematográfica Italiana, produzida por
Roberto Benigni que, apesar de ter sido elaborada em 1997, remete-nos para a
segunda guerra mundial, estabelecendo-se um facto algo curioso: apesar dos 135 anos
que separam as suas primeiras publicações, o filme do italiano distancia-se cerca
de 140 anos da novela de Camilo, devido ao tema retratado nas obras.
Em La vita
è bella, recuamos aos tempos do Holocausto. Estamos nos finais dos anos
trinta do séc. XX, Roberto Benigni (Guido Orefice, no
filme), que desempenha a personagem principal – tendo recebido em 1998 o prémio
de melhor ator pela Academic Awards –, muda-se para Arezzo. É lá que trabalha
no restaurante do tio, e é ainda lá que encontra o seu amor. Este amor, porém,
era quase impossível. A sua amada, Dora, além de pertencer a uma classe social
bastante elevada, era praticamente já casada. Estabelece-se aqui um paralelismo
entre as duas obras: em Amor de perdição,
Teresa era forçada a casar com o seu primo Baltasar (“Vais hoje dar a mão de
esposa ao teu primo Baltasar, minha filha”), sendo ainda a rivalidade entre as
famílias dos amados um obstáculo ao amor; em La vita è
bella,
o amor entre Guido e Dora é restringido pela mãe de Dora, que a obriga a casar
com um fascista com grande relevância em Itália.
É
após diversas demonstrações de amor entre os apaixonados – em La vita è bella, Guido começa a ganhar a atenção de Dora com os
seus “aparecimentos repentinos” e as suas atitudes divertidas, tendo-a
conquistado quando, a pedido dela, a levou da festa com o seu futuro marido, a
cavalo; em Amor de Perdição, as
demonstrações de amor de Simão levaram à morte do pretendente de Teresa,
aquando este matou Baltasar (“Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma
bala”) – que surge a maior divergência entre as obras. Enquanto Guido e Dora
encontram o seu amor correspondido e têm um filho, Teresa e Simão têm os seus
destinos despedaçados. Teresa encontra-se num convento, e Simão, devido ao
homicídio do primo de Teresa, é degredado para a Índia após lhe ter sido “perdoada”
a pena de morte.
E é aqui que La
vita è bella nos prende ao ecrã. Quando se pensa que o filme vai acabar,
dá-se uma reviravolta e tudo tem um fim. Guido e o seu filho são mandados para
um campo de concentração de judeus, no dia de aniversário de Giosué (filho).
Dora dá a sua maior prova de amor em todo o enredo: apesar de não ser judia, ordena
que a levem para o mesmo campo de concentração da sua família. Guido faz tudo
para salvar o filho e a mulher, escondendo de Giosué a cruel verdade daquele
campo. Diz-lhe que é um jogo onde o filho tem de fazer o que ele diz, com o objetivo
de alcançar mil pontos e receber o prémio final, um tanque. Durante o seu tempo
lá, demonstra amor à sua amada: fala-lhe pela rádio do quartel e põe a música
deles a tocar. Quando o campo de concentração se aproximava do seu final, com o
término da guerra, Guido mascara-se e introduz-se entre as mulheres para salvar
Dora, acabando por morrer naquele ato de amor.
A história acaba com Giosué no “prémio final”,
um tanque, e um encontro sentimental entre filho e mãe. Em Amor de Perdição, o final assemelha-se, visto que tanto Simão como
Teresa morrem. A única diferença é que Guido e Dora puderam deixar uma amostra
do seu amor.
Rodrigo (Bom +/Muito Bom -)
O filme O
Rapaz do Pijama às Riscas (Mark Herman, The
Boy in Striped Pajamas, 2008) centra-se numa das páginas mais negras da
história da Humanidade: o Holocausto, uma época bastante caracterizada em
muitos livros e filmes, tanto pelos seus horrores indescritíveis como pelos
sentimentos de respeito, solidariedade e união que suscita.
Bruno surge como o herói que quebra fronteiras e
ultrapassa preconceitos. Sendo muito novo (oito anos de idade), não lhe foi
ainda incutido o espírito nazi que inundou a Alemanha nos antecedentes da infame
Segunda Guerra Mundial. Ele vê o mundo como uma criança, alheio a todos os
crimes de ódio e disputas entre povos. Tal permite-lhe ver o bem nas pessoas de
uma forma tão simples e inocente que apela de imediato à empatia de quem
assiste, do modo carismático que é típico da sua alegre personalidade.
Simão, herói romântico de Amor de Perdição (de Camilo Castelo Branco; 1862), vai contra a
vontade do pai e luta pelo amor que sente por Teresa, filha do inimigo do seu progenitor.
Este cenário de guerra entre duas famílias rivais contrasta com a perseguição
exercida pelos nazis aos judeus, povo por eles considerado inferior. Bruno
também desobedece à família e vai conversar diariamente com Shmuel, um dos
prisioneiros da sua idade. Começa uma grande amizade entre os dois rapazes,
que, como os amores de Teresa e Simão, desagrada às figuras parentais dos
protagonistas (o pai de Bruno, aliás, trabalhava no próprio campo de
concentração).
Também a prisão é uma dimensão comum às duas
obras. Se, por um lado, os campos de concentração, cenário do filme, eram
grandes prisões, por outro, também Simão foi detido, neste caso por ter assassinado
Baltasar, primo de Teresa, que se preparava para a desposar (“Eu não fujo –
tornou Simão. – Estou preso. Aqui tem as minhas armas.”). O próprio livro se
inicia com um segmento em que o narrador se encontra na Cadeia da Relação e se
depara com os registos da detenção de Simão, que considera dignos da comoção de
qualquer indivíduo (“O leitor decerto se compungia; e a leitora, se lhe
dissessem em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria!”).
O desfecho trágico é um elemento comum a filme e
livro, em ambos os casos através da morte dos protagonistas. Teresa morre após
se despedir de Simão, que, por honra (quase exagerada e roçando o masoquismo),
declina toda a ajuda da família e decide enfrentar a sua pena de exílio,
acabando também, porém, por morrer depois de poucos dias de viagem. Mariana,
cujo pai foi assassinado por vingança do filho de quem ele matara havia anos,
suicida-se após a morte do protagonista (“E, antes que o baque do cadáver se
fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se
atirara ao mar.”), terminando assim o ciclo de mortes e tragédia provocado pelo
amor de perdição a que o título do livro se refere. No filme, Bruno também
morre com honra, vestindo um dos “pijamas às riscas” para ajudar Shmuel a
encontrar o seu pai, que tinha sido morto numa câmara de gás. Acaba por ser
levado acidentalmente para uma delas, concluindo-se o filme com a morte dos
dois rapazes, que morrem asfixiados de mãos dadas, com a família de Bruno
impotente para o salvar.
O Rapaz do
Pijama às Riscas
estabelece uma linha ténue entre o bem e o mal, na qual o protagonista se
insere num contexto de ódio e genocídio, estabelecendo uma ponte entre o seu
pai, que trabalhava no campo de concentração, e Schmuel, o rapaz que dá o nome
ao filme. Também as atitudes de Simão erram pelo espetro da moralidade, sendo
tão românticas e nobres de caráter como irracionais e violentas.
Emilly (Suficiente +)
Dirty
Dancing, um filme clássico de 1987,
relata a história de Frances "Baby" Houseman, que, ao passar férias
num resort com a sua família, conhece Johnny Castle, um instrutor de dança com
um passado bastante diferente do dela. O seu pai, Jake Houseman, proíbe que
Baby tenha algum tipo de relação com Johnny, uma vez que ele é mais velho e não
tem as habilitações académicas que Jake projeta para um futuro namorado de
Baby.
Também a
novela do escritor português Camilo Castelo Branco, um Amor de Perdição, se
baseia no tema de amor proibido. Simão Botelho, um jovem, rebelde de
temperamento incontrolável, filho de Domingos Botelho, apaixona-se por Teresa
de Albuquerque; uma relação entre Simão e Teresa é estritamente proibida, já
que as suas famílias são inimigas («Nenhum infame há de aqui pôr um pé nas
alcatifas dos meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha
filha, não podes herdar apelidos honrosos, que foram pela primeira vez
insultados pelo pai desse miserável que tu amas!»). No caso de Baby e Johnny, a
sua relação é proibida visto que Johnny não pode ter relações com clientes do
resort e os pais de Baby nunca quereriam que a sua filha estivesse associada a
alguém como Johnny.
Simão
Botelho é o típico herói romântico. Ele é um homem bonito («belo homem com as
feições de sua mãe, e a corpolência dela»), um rebelde, um marginal, instável,
violento e impulsivo, «convive com os mais famosos perturbadores da academia, e
corre de noite as ruas insultando os habitantes e provocando-os à luta», até o
seu próprio irmão teme o seu «génio sanguinário, ainda que o pai dele admire a
bravura, comparando-o à «figura e génio de seu bisavô Paulo Botelho Correia, o
mais valente fidalgo que dera Trás-os-Montes». No entanto, após ter-se
apaixonado por Teresa, mudou por completo; ele passou a lutar por amor ideial,
a ser sincero, fiel e honrado, o que o tornou ainda mais num herói romântico.
Já Johnny era um homem de grande beleza física, impulsivo, rebelde e
espontâneo.
Para
contrastar, Dirty Dancing tem o típico final feliz, com Johnny a acabar
por ficar com Baby (com o consentimento de seus pais), enquanto que Amor de
Perdição acaba com a morte tanto de Simão como de Teresa («É já o meu
espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em
que leres esta carta, se me Deus não engana, está em descanso»; «Entrou o
comandante com uma lâmpada, e aproximou-lha da respiração, que não embaciou
levemente o vidro. / — Está morto!... —
disse ele.»).
Pedro (Muito Bom)
O enredo de Ilha
do Medo (Martin Scorsese, Shutter
Island, 2010) desenrola-se na década de cinquenta do século XX e descreve a
história de Teddy Daniels, um agente policial que é levado a investigar a fuga
de uma paciente de um hospital psiquiátrico localizado numa ilha isolada. Esta
produção cinematográfica revela múltiplas ligações a Amor de Perdição, romance da autoria de Camilo Castelo Branco.
Mal chegam ao hospício, Teddy Daniels e o seu
parceiro Chuck Aule encontram restrições à sua ação policial. A direção da
instituição interdita o acesso a determinadas instalações e aparenta ocultar
factos relevantes para a resolução do mistério. Contudo, o detetive não se
conforma com esta conjuntura e persiste em ultrapassar os obstáculos impostos,
evidenciando-se a sua rebeldia e desobediência às normas do manicómio. Na
novela, Simão Botelho denota traços semelhantes, característicos do herói
romântico, dado que se insurge contra as condições da sociedade e apoia os
desfavorecidos, destacando-se o episódio em que protege um criado da ira dos
«donos das vasilhas», «parti[ndo] muitas cabeças» e «remat[ando] o trágico
espetáculo» ao «quebrar todos os cântaros» num ato de descontentamento social e
político.
Numa cena do filme, observa-se a residência de
Teddy e sua esposa, Dolores Chanal: uma vivenda situada numa área remota,
próxima de um enorme lago e rodeada por uma floresta infindável que lhe
conferem uma leve beleza paradisíaca. Retrata-se um cenário idêntico ao
idealizado por Simão e Teresa, uma «casinha, defronte de Coimbra, cercada de
árvores, flores e aves» onde os amantes passeariam «à margem do Mondego».
No clímax do thriller,
descobre-se que o enigma não passava de uma complexa encenação elaborada com o
intuito de curar Andrew Laeddis, verdadeira identidade de Teddy, que seria o
doente mental mais astuto e perigoso do hospício. Caso a operação se revelasse
infrutífera, Andrew seria submetido a uma lobotomia, de modo a deixar de
representar uma ameaça para os restantes pacientes.
Tanto Andrew como Simão desempenham um papel
preponderante no falecimento de suas amadas. A recusa de Simão em cumprir pena
na cadeia de Vila Real arredou de Teresa as derradeiras ilusões de uma união
amorosa e desencadeou o sofrimento que culminaria na sua morte, visto que ela
própria confessa que «morreu quando [ele] lhe tir[ou] a última esperança». Na
fita, Andrew assassina a mulher, que sofria de um distúrbio mental que a levara
a afogar os três filhos no lago adjacente à casa. Enquanto abraça o marido
desesperado, Dolores suplica-lhe que a “liberte”, contrastando com o que Teresa
exigia de Simão, pois queria que desfrutassem da sua paixão. Este terá sido um
dos propulsores da patologia do detetive, forçando-o a desenvolver uma complexa
narrativa, na qual não teria morto a esposa e o homicídio dos filhos não
ocorrera.
Quando Chuck aborda Andrew para atestar a sua
sanidade, este apresenta-lhe um discurso que denuncia que ainda estará
aprisionado àquela fantasia. No entanto, percebe-se que está ciente das
circunstâncias e fá-lo propositadamente, porque prefere viver sem consciência da
própria existência a ter de lidar com os horrores que caíram sobre a sua
família.
Também Simão sofre por se considerar autor da
tragédia que vitimou quem amava («Tanta gente desgraçada que eu fiz!»), tomando
uma decisão similar à do polícia: opta pelo degredo na Índia para se distanciar
do cenário irremediavelmente trágico («Abomino a pátria, abomino a minha
família; todo este solo está aos meus olhos coberto de forcas»).
Os amantes perecem, crendo que se encontrarão na
eternidade; Andrew põe termo ao seu intelecto, cavando um fosso perpétuo entre
si e a sua mulher.
Eduardo (Suficiente +/Bom -)
Ponyo À
Beira-mar foi
um filme escrito por Hayao Miyazaki e produzido pelo Studio Ghibli. Este
filmezinho retrata uma improvável história de amor entre um rapaz e uma
rapariga de cinco anos. A improbabilidade desta história vem do facto de que a
rapariga é um peixe, filha de um feiticeiro que teria renunciado à sua
humanidade há muitos anos e da poderosa Rainha do mar. Apesar de ser um filme
bastante inofensivo acaba por ter muitas parecenças com a grande novela de
Camilo Castelo Branco, o Amor de
Perdição.
Um dos aspetos mais incisivos de que gostaria de
falar é o herói presente em ambas as histórias. Enquanto que na obra de Camilo
Castelo Branco temos Simão Botelho como o herói romântico, o herói impulsivo e
independente que vai contra todas as normas da sociedade e que atravessa todos
os obstáculos para alcançar a sua grande amada, no filme do amor entre rapaz e
peixe temos a Ponyo, que renunciará a tudo para estar de volta com o rapaz
humano que conheceu há menos de uma hora (o muitíssimo realístico amor à
primeira vista estando sempre presente).
Antes de entrarmos mais concretamente nesta
ideia dos heróis românticos gostaria de estabelecer outra parecença e contraste
entre a obra camiliana e o filmezito, bastante importante, o conflito entre as
“famílias” dos dois personagens principais. Em Amor de Perdição temos Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho que,
por razões puramente formais, estão constantemente a batalhar um contra o
outro. Devido a esta rivalidade, Simão e Teresa rapidamente percebem que o seu
amor seria atribulado e repleto de obstáculos como Tadeu ameaçar enviar Teresa
para um convento se esta não renunciasse ao amor por Simão casando-se com o
primo Baltasar (“Hás de casar! Quero […] Morrerás num convento!”). Em Ponyo À Beira-mar temos também um
conflito que acaba por intervir na história de amor entre Ponyo e Sosuke, o
conflito entre a Natureza e a Humanidade. O maior interveniente neste conflito
é o pai de Ponyo, o feiticeiro Fujimoto, que, no primeiro ato do filme rejeita
completamente a ideia da filha de querer viver como um ser humano. Para
prevenir que Ponyo volte a encontrar Sosuke, o feiticeiro acaba por prender a
filha numa bolha (veremos mais à frente que talvez esta não tivesse sido a
melhor ideia). Um contraste interessante entre a obra e o filme é que na obra
temos Domingos e Tadeu a tentar pôr um fim ao amor entre Teresa e Simão,
enquanto que, no filme, só Fujimoto quer impedir o amor entre Ponyo e Sosuke,
sendo Lisa, a mãe de Sosuke até bastante recetiva a esta história, não entrando
em conflito com o pai de Ponyo (isto está parcialmente incorreto se virmos que,
mesmo no início do filme, o feiticeiro procura pela filha-peixe fingindo, que
está a regar plantas ao pé da casa de Lisa, esta fica imediatamente suspeita,
dizendo-lhe ele que não pode usar herbicidas em plantas, o que é um pouco
irónico, já que Fujimoto é apologista da natureza).
Retomando finalmente a ideia dos heróis
românticos, gostaria de me focar num dos eventos mais importantes das suas
histórias, sendo o evento de Ponyo quase paralelo ao evento de Simão. O
acontecimento na obra de Camilo Castelo Branco é o momento em que Simão mata a
tiro o primo Baltasar no seu desespero e impulsividade de estar com Teresa. O
acontecimento na história de Ponyo sucede pouco depois de o pai a prender numa
bolha na tentativa de impedir a sua transformação num ser humano. Ela
facilmente consegue fugir da bolha e, na sua alegria e impulsividade para se
transformar em humana para voltar a estar com Sosuke, liberta os seus poderes,
causando um enorme desequilíbrio na natureza, afundando debaixo do mar a aldeia
em que Sosuke vivia. Estes dois momentos identificam perfeitamente os nossos
protagonistas como heróis românticos, podendo ver-se a sua impulsividade para
estar com aqueles que eles mais amam, o desejo de liberdade e os riscos que
estão prontos a passar para alcançarem aquilo que mais desejam.
Concluindo, gostaria de referir o que os dois
heróis sacrificaram para poderem alcançar o seu amor. Simão sacrificou a sua
vida no final da obra para conseguir encontrar Teresa no Paraíso onde poderiam
ficar juntos para sempre. Ponyo sacrifica os seus poderes, restaurando o
equilíbrio da natureza e transformando-se num ser humano permanentemente para
poder ficar com Sosuke. Ambas estas histórias (apesar de uma ser ligeiramente
mais trágica que a outra) apresentam-nos o Amor como algo que transcende mundos
e que liga as pessoas mais improváveis. É essa a lição que as tragédias e
histórias de amor nos ensinam, o amor existe sempre desde que as duas pessoas
estejam juntas (o que não acontece sempre) contra tudo e todos, seja no
Paraíso, no Oceano ou na Terra.
Júlia (Bom +)
A história narrada por Noah em O diário de nossa paixão (Nick
Casavetes, The notebook, 2004), filme
dramático baseado no romance homónimo de Nicholas Sparks, focaliza-se na sua
relação proibida com Allie devido às suas divergências de classes sociais,
sendo ele o narrador homodiegético de toda a trama. Mesmo que por razões
distintas, pode-se relacionar o drama com o romance Amor de perdição, de Castelo Branco, visto que em ambas as
situações há amor correspondido, mas interrompido por suas famílias.
De forma abrangente, pode-se comparar o amor
impossível que o filme relata com o amor não correspondido que Mariana nutre
por Simão (“E o coração da pobre moça [Mariana], avergando ao que a consciência
lhe ia dizendo, chorava”, cap. X), sendo este, todavia, realmente impossível,
visto que Simão se encontrava apaixonado por Teresa, opondo-se à situação
retratada no filme: o sentimento era recíproco, mas impedido.
Ademais, elementos com extrema importância em
ambas as tramas tornam-as ainda mais próximas, tais como a relevância das
cartas em cada uma delas, mesmo que de maneiras antagónicas. No filme, após os
obstáculos postos pela família de Allie, o casal de namorados evita a
segregação imposta através da troca de cartas, visando prolongar o seu amor.
Todavia, a entrega destas, sempre direcionadas para a casa de Allie,
possibilitou à mãe da jovem recebê-las todas e escondê-las da filha, alegando
estar a protegê-la de um futuro que não lhe pertencia – a pobreza –, forçando-a
a desistir do seu suposto não correspondido amor, uma vez que nunca recebia
respostas de Noah. Em Amor de perdição,
a relevância das cartas advém de ser essa a maior comunicação entre os
apaixonados, visto que, devido às proibições por parte especialmente da família
Albuquerque, o contato físico entre eles era quase nulo. O contraste presente
deve-se a, no romance de Castelo Branco, haver a intervenção de terceiros na
entrega das cartas, tais como Mariana – “Sou uma portadora desta carta para a
vossa excelência./É de Simão! – Exclamou Teresa.” (cap. X) –, tornando possível
a entrega recíproca das cartas.
Porém, a maior distinção encontrável nas
histórias é, definitivamente, os desfechos das mesmas, visto que são
completamente opostos. Em O diário de nossa
paixão, a história apresenta um enredo dramático que os separa mas, no
final, após sete anos separados – e Allie já ter noivado com outro homem –, o
previsível torna-se realidade, considerando que Allie decide regressar ao local
onde conheceu Noah e, por impulsos de amor, rompe o relacionamento com o seu
noivo para viver com aquele que sempre amara. Ao contrário, o desfecho de Amor de perdição revela-se mais
longínquo do tradicional e esperado, tendo um final triste e dramático, com a
morte das duas personangens principais, tendo Teresa deixado as últimas cartas
para Simão antes de falecer, onde anunciava a morte – “É já meu espírito que te
fala, Simão. [...] A tua pobre Teresa, à hora que leres esta carta, se Deus não
engana, está em descanso.” (cap. XX) –, enquanto que Simão, após saber que a
amada o deixara, sente-se mal e acaba por morrer – “Entrou o comandante com uma
lâmpada, e aproximou-lha da respiração [...] Está morto!... – disse ele.” (cap.
XX) –. Assim, ao contrário do que se poderia esperar, Teresa e Simão não
conseguem ultrapassar as medidas impostas pelas famílias rivais, rendendo-se à
incapacidade de amar um ao outro e, consequentemente, perdendo-se por amor.
João (Suficiente (+))
O
filme Wild at heart, de David Lynch,
de 1990, é uma história de amor forte que decorre num ambiente de violência.
Por isso, tem pontos em comum com Amor de
Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Sailor
é um jovem criminoso que sai da prisão, depois de ter morto um homem com as
suas próprias mãos, para defender a sua amada. Também Simão Botelho é preso por
ter morto um homem, Baltasar, por ter ciúmes da sua amada.
Sailor,
com a sua namorada Lula, viajam pelo Sul desértico da América numa fuga
desesperada. Os dois tentam escapar da mãe de Lula, que surge como uma bruxa
que se recusa a ver a filha com o homem que anos antes a rejeitou.
Simão
e a sua amada Teresa não conseguem fugir juntos, mas sofrem com a perseguição
das suas famílias que, sendo inimigas, não aceitam que eles fiquem juntos.
No
decorrer da viagem, os dois enamorados do filme conhecem estranhos personagens
e descobrem que o mundo é perigoso. Sailor cai numa armadilha e volta a ser
preso durante seis anos.
Passado
esse tempo, Lula espera-o com o filho e chegam à conclusão que não podem viver
um sem o outro, que não podem fugir do amor. Percebemos que, se não ficassem juntos
iriam morrer, tal como no Amor de
Perdição.
No
Amor de Perdição, Simão apaixona-se
por Teresa, filha de uma família inimiga. O romance era proibido e foi mantido
em segredo, mas um dia o seu pai descobre e começa o seu sofrimento.
Quanto
ao pai de Teresa, promete a mão da filha ao sobrinho Baltasar, mas quando a
jovem se recusa, decide que ela se casa ou vai para um convento.
Entretanto,
Simão pede ajuda a um amigo, João da Cruz, para tentar ficar com a sua amada.
Esse amigo tem uma filha, a Mariana, que se apaixona perdidamente por Simão.
Como Teresa se recusa a casar, é encarcerada num
convento. Impedido de ficar com a sua amada, Simão acaba por matar o seu rival
Baltasar, o que o leva à condenação à morte. O seu pai consegue anular essa
decisão e Simão tem que optar: dez anos de prisão ou no exílio na Índia.
Com a partida de Simão, Teresa adoece de tanta
tristeza e morre. Simão quando sabe da sua morte também adoece, com febre e
delírios e acaba por morrer durante e viagem de barco. Mariana cuidou dele
sempre com dedicação e quando o corpo é amarrado e lançado ao mar, Mariana não
resiste e joga-se também ao mar, junto ao corpo, acabando igualmente por
morrer.
A história do filme passa-se nos Estados Unidos,
nos anos oitenta, as personagens não têm o mesmo destino que em Amor de Perdição, mas a história é
igualmente forte e dramática.
Francisca (Muito Bom -)
O filme Ligações Perigosas (Stephen Frears, Dangerous Liaisons, 1988), conta-nos a
história de uma aposta entre Marquesa de
Merteuil e o seu ex-amante, o Visconde de Valmont. Merteuil pretende vingar-se
de um dos seus ex-amantes, que se vai casar com a jovem Cécile, e pede a
Valmont que a seduza. No entanto, este acha que seduzir uma jovem ingénua não é
um desafio para ele, propondo-se conquistar Madame de Tourvel, uma mulher
casada e virtuosa. A Marquesa promete-lhe, então, que, caso tenha sucesso no
seu plano, que poderão voltar à sua antiga relação.
Tal
como no livro Amor de Perdição, temos
conhecimento dos acontecimentos através de cartas, trocadas entre as
personagens. No filme, existe a troca de cartas entre o Visconde e a Marquesa
mas estas em nada se comparam com as que são trocadas entre Simão e Teresa. As
cartas destes são cartas de amor inocente, puro e jovem enquanto as dos
aristocratas revelam um jogo de sedução entre um homem e uma mulher, perversos
e controladores, que desprezam o amor sublime e virtuoso (como o dos
protagonistas do livro de Camilo Castelo Branco).
Em
ambas as obras, encontramos um retrato das sociedades, dos séculos XVIII e XIX,
e da maneira como as convenções influenciam as relações dos protagonistas e,
consequentemente, a sua própria vida. Assim, no romance, a felicidade dos
protagonistas é impedida pela rivalidade entre as famílias: Simão e Teresa
tentam ir contra as normas sociais, rebelando-se, mas sem frutos. No filme, por
sua vez, os protagonistas cumprem de forma hipócrita as normas convencionadas
pela sociedade, ao passo que, na sua intimidade, são perversos e debochados. Um
outro aspeto contrastante, no que diz respeito às normas sociais, é o papel da
protagonista feminina. Teresa, enquanto mulher, tinha de obedecer à vontade do
pai (“É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai. Logo que
deres este asso difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que
precisam de ser impostas pela violência. […] a violência de um pai é sempre
amor.”) que a queria obrigar a casar com o primo Baltasar. Quando esta não
cedeu, enclausurou-a no convento. A Marquesa, no entanto, é-nos apresentada
quase como o oposto. É uma personagem manipuladora e inteligente que se
encontra sempre um passo à frente daqueles com quem convive. É uma mulher
independente que não pretende submeter-se às vontades de qualquer homem,
afirmando que “nasceu para dominar o sexo oposto”
Focando-nos
no final de ambas as obras, podemos encontrar algumas semelhanças, contando,
desde logo, com o final trágico: separação e morte dos amantes.
Simão
e Teresa são obrigados a separarem-se, Simão seria condenado ao degredo e
Teresa permaneceria no convento. O Visconde e Madame de Tourvel também se
separam mas por orgulho da parte do protagonista masculino. Este apaixonou-se
pela sua presa mas não o consegue admitir. O desgosto amoroso leva Madame de
Tourvel, tal como Teresa, a entrar num convento. Após a separação, ambas as personagens
femininas adoecem gravemente.
A Marquesa
declara guerra ao Visconde e este luta contra o seu novo amante, sendo
gravemente ferido. Antes de morrer, Valmont entrega ao seu adversário um maço
de cartas, muito parecido com aquele que Teresa enviara a Simão e este confia a
Mariana. Os primeiros a morrer, Visconde e Teresa, encontram-se assim ligados.
Nos seus últimos momentos de vida conseguem a redenção e confessam os seus
sentimentos a quem amam através de uma carta final.
Ambas
as histórias são reveladas ao público com as cartas, no entanto despoletam
sentimentos diferentes em quem as lê. Em Amor
de Perdição as cartas que revelam a história dos apaixonados suscitam
indignação em relação à sociedade, são dignas de comoção, compaixão e lágrimas
(“Essa, a minha leitora […] não choraria se lhe dissessem que o pobre moço
perdera honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por
amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!”).
Em Ligações Perigosas, as cartas
também provocam sentimentos de indignação, mas em relação à personagem (Marquesa
de Merteuil) e às suas ações, dignas de desprezo.
Madalena (Bom (-))
A Bela e o
Monstro
é um clássico que tem vindo a marcar corações desde 1991 – ano em que saiu a
versão original de animação. Em 2017, o mesmo filme foi recriado por
personagens vivas. Numa noite escura, um velho homem, já doente, é
apanhado em plena estrada pelo Monstro e é feito refém no seu castelo. Bela,
uma linda rapariga, parte com o objetivo de trazer o seu pai para casa, mas
vê-se obrigada a trocar a sua vida pela dele e é, assim, uma esperança na
quebra do feitiço que fora lançado ao castelo e a todos que o habitavam. Ao
longo do tempo, uma grande cumplicidade é criada entre ela e o Monstro, que
mais tarde se desenvolve numa grande história de amor.
Em Amor de
Perdição, o amor de Simão e Teresa é rejeitado por ambas as famílias, que
tentam ao máximo eliminar o contacto entre os dois – no caso de Teresa, o pai
convoca o primo Baltasar para a obrigar a casar com ele (“Hás de casar! Quero
que cases! Quero!”). Teresa tenta refutar sempre essa hipótese, pois está
apaixonada por Simão. Uma mendiga proporciona o contacto dos dois, através de
cartas.
No filme, a rejeição é feita por parte do pai de
Bela, amigos e conhecidos que vivem na cidade, pois não aceitam a paixão que
ela tem por Monstro, tentando mesmo, numa emboscada, matá-lo. Eles rejeitam
Bela, e a sua relação, por acharem que Monstro tem maldade dentro de si e que
nunca conseguirá amar alguém.
Entretanto, Simão continua com a revolta de não
poder estar junto do seu amor – estando o seu pai por trás disso, dado não aceitar
que ele namore uma Albuquerque – e tem comportamentos desadequados que o levam
a castigos muito severos. Enlouquecido, Simão encontra Teresa à entrada de uma
igreja e, para matar a saudade, aproxima-se dela; ao atravessar-se no seu
caminho, o primo Baltasar é rapidamente abatido por ele.
Em A Bela
e o Monstro, quem tenta atravessar na história amorosa de Bela, é Gaston –
o seu fiel pretendente, que acredita que um dia ainda se irão casar. Nessa
mesma emboscada – quando tentam matar Monstro –, dá-se uma luta e é Gaston quem
acaba por morrer (abatido pelo mesmo).
Amor de
Perdição
é uma história de amor trágica, pois Simão e Teresa acabam por morrer, nunca
tendo aproveitado momentos juntos com liberdade. Pelo contrário, no conto de
fadas, Monstro tem uma paixão verdadeira por Bela e juntos conseguem quebrar a
maldição e ser felizes (para sempre).
André (Bom (-)/Bom)
Aproveito-me do filme Paixões perdidas, criado por Anne Fontaine em meados de 2013, para
o comparar com a tão famosa novela de Camilo Castelo Branco, Amor de perdição. O filme de Anne
Fontaine fala de duas amigas, que se conhecem desde os tempos da escola, que
acabam por se apaixonarem pelos filhos uma da outra, o que acaba por não correr
bem. Estamos perante uma espécie de um amor proibido, muito à semelhança do que
ocorre na novela de Camilo, com Simão e Teresa a apaixonarem-se um pelo outro.
O caso de Simão e de Teresa é ligeiramente diferente pois, apesar de os seus
pais se conhecerem, não são bons, amigos como no filme de Anne Fontaine. mas
sim inimigos.
Tanto no filme como na novela de Camilo,
verificam-se vários impedimentos na paixão das personagens. No filme vemos
passagens em que os filhos são proibidos de sair de casa, com medo que cometam
algum erro de que possam vir a arrepender-se. Já no filme, os impedimentos
principais são da parte do pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque, que proibe a
filha de sair de casa e, quando este a tenta casar com Baltasar, primo de
Teresa: “Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha”(
Capítulo IV).
Cronologicamente, o filme de Anne Fontaine
afasta-se muito da obra de Camilo, tratando-se de épocas completamente
distintas. O filme localiza-se no século XVI, e as personagens mostram ter mais
liberdade, não estando constrangidos pelas ordens das mães, neste caso. Na obra
de Camilo, como a ação decorre na época
do romantismo no século XIX, época completamente distinta da do filme, vemos comportamentos
muito diferentes. Vemos os pais de ambas as personagens a escolherem com quem
estes se devem casar e vemos Tadeu a enviar a sua filha para um convento após
esta desobedecer às suas ordens.
Volta a haver uma aproximação entre a obra
cinematográfica e a novela de Camilo, quando no filme os dois filhos tentam
afogar o outro, ação que evidencia raiva e frustração, e quando na novela de
Camilo Simão acaba por matar o pretendente de Teresa, Baltasar, baleando-o (“
Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala”).
Estamos perante um filme e uma novela em que o
amor é um sentimento mais forte do que os outros, levando as personagens dos
mesmos a agirem sem pensar. Simão apaixona-se por Teresa, assim que cruzou o
seu olhar com o dele e, até morrer, o seu sentimento por Teresa não muda. No
filme o mesmo acontece, apesar da atração não ser imediata, mas, até ao fim do
filme, os sentimentos dos filhos pelas mães nunca mudam, apesar de viverem um
amor proibido.
Hugo (Bom +)
War Horse (Cavalo de Guerra)
é um filme norte americano, lançado em 2012, dirigido pelo icónico e
reconhecido Steven Spielberg. War Horse, adaptado da obra homónima de
Michael Morpurgo, retrata a história da amizade singular entre Albert (Jeremy
Irvine) e o seu cavalo Joey. Durante a Primeira Guerra Mundial, Albert vê o seu
cavalo a ser recrutado para a cavalaria inglesa. Destroçado, Albert alista-se no
exército inglês com o objetivo de recuperar o fiel companheiro.
Mais de um século e meio antes (1862), Portugal
conheceu uma das obras mais ilustres da sua história: Amor de Perdição, novela portuguesa escrita por Camilo Castelo
Branco, cuja ação remonta até à década inicial do século XIX.
A novela portuguesa contém um enredo romântico:
Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, filhos de famílias rivais, apaixonam-se.
Tadeu de Albuquerque, ao conhecer aquela situação, obriga a sua filha a casar
com Baltasar Coutinho, primo e seu prometido (“Vais hoje dar a mão de esposa ao
teu primo Baltasar, minha filha”). Ao rejeitar aquele cenário, Teresa é enviada
para o convento de Monchique, no Porto. Simão, motivado pela raiva, espera a
família Albuquerque à saída de Viseu e mata Baltasar, entregando-se logo à
justiça, sendo condenado ao degredo na Índia
(“Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala”).
Tanto no filme War Horse como em Amor de
Perdição, é visível o que o amor e paixão despoletam nas pessoas. Em War Horse, o amor familiar é o mais
presente. O simples facto de Albert ter-se alistado no exército, percorrendo um
longo e perigoso caminho até ao reencontro com o seu cavalo, é algo que
emociona e capta o espectador.
Em Amor de
Perdição, o tópico mais presente é a paixão. Apesar das adversidades, tanto
Simão como Teresa lutam um pelo outro, na esperança de que poderão ficar
juntos. As cartas e a utilização de Mariana como Cupido são formas de luta para
que possam ficar juntos, afastando-se dos problemas familiares.
Para além da divergência de épocas e de
temáticas, existe também uma disparidade nos finais das duas obras. Em War Horse, a perseverança de Albert dá
frutos.
Com o final da guerra, dá-se o reencontro de
dois amigos, inteiramente motivados pelo amor que sentem um pelo o outro.
Em Amor de
Perdição, injustamente, o desenlace não é o mesmo. Ao embarcar em direção à
Índia, Simão avista Teresa, que se despede dele, já condenada à desgraça. Horas
depois, Simão toma conhecimento da morte de Teresa e, após dez dias de puro
sofrimento, morre também.
Em ambos os casos, é visível como as personagens
dependem uma da outra e é isso que as faz ultrapassar todas as barreiras que
são impostas ao seu amor.
Lourenço (Suficiente +/Bom -)
Sing, é um filme animação produzido pela companhia Illumination
Entertainment, visualizado a dada altura em aulas de Português.
Trata-se da história de Buster Moon, um coala detentor de um
teatro praticamente falido e à beira de ser despejado e ficar sem local de
residência (já que o teatro era a sua casa). A dada altura, Moon tem a
brilhante ideia de criar um concurso de canto que se torna viral e muito
desejado devido ao seu prémio de cem mil dólares, acidentalmente impresso nos
panfletos.
Com o objetivo de concorrer, vários animais foram aos
castings. Cinco deles destacaram-se: Johnny (gorila), Ash (porco-espinho),
Meena (elefante), Rosita (porca) e Mike (rato).
Através de Johnny e seu pai podemos traçar um contraste entre
Simão e Domingos Botelho, a relação entre pai e filho, visto que, em Amor de Perdição, Simão revela ser rebelde, marginal,
revoltando-se contra as regras impostas pela sociedade, assumindo o papel de
herói romântico (“o corregedor admira a bravura de seu filho Simão”) e seu pai
revela ser calmo, ponderado e, mais tarde, não concorda com a atitude Simão. Em
Sing, o pai de Jonnhy mostra ser rebelde, intempestivo
e marginal ao contrário de Jonnhy, que mostra ser calmo, frágil e nunca
concordando com a conduta do seu pai, havendo uma “troca de papéis”, no que
toca à relação entre pai e filho. À semelhança de Simão, o pai de Johnny é
preso, reforçando-se em ambos os casos a sua marginalidade e a rebeldia.
Entretanto, Mike que enganou três ursos num jogo de cartas,
ficando como dinheiro deles, é ameaçado e forçado a devolvê-lo. Mike disse que
o dinheiro estava no baú que pertencia ao vencedor do concurso e, quando o urso
partiu o baú, repararam que não havia dinheiro. Moon ficou com a situação mais
complicada quando o tanque de água se partiu e destruiu o teatro. O banco
condenou Moon e ficou com o que restava do teatro, uma vez que Moon não pagava
as contas. Simão, à semelhança de Moon, também é condenado. Simão, que matou
Baltasar Coutinho, é condenado à forca (“Baltasar tinha o alto do crânio aberto
por uma bala”, “ Simão, que conservava o dedo no gatilho da outra pistola.”),
pena que foi alterada para dez anos de degredo na cadeia de Vila Real.
O final de ambas as histórias é muito distinto, visto que no
caso de Amor de Perdição há um final
trágico da morte de Simão seguida com a morte de Mariana. Em Sing, Moon realiza um espectáculo sem fins
monetários para os participantes e consegue angariar dinheiro suficiente para
reconstruir o teatro.
Botea (Bom +/Muito Bom -)
Por um Punhado de Dólares é a primeira película
da singular Trilogia dos Dólares. O primeiro dos magistrais Spaghetti
Westerns de Sergio Leone é um ícone — não só inventou um subgénero
cinematográfico completamente novo e fez de Clint Eastwood uma lenda de cinema,
como também rejuvenesceu o previamente moribundo Faroeste. O filme segue
a história do Homem Sem Nome, um pistoleiro solitário que chega à aparentemente
inerte vila de San Miguel e decide servir-se de uma sangrenta rivalidade entre
duas famílias para encher os seus bolsos.
A disputa entre duas famílias rivais é um tema
recorrente tanto na obra do romancista português como no Western. Em Amor de
Perdição, aparecem os Botelho e os Albuquerque num conflito alimentado pelo
ódio que os patriarcas de ambas as famílias partilham um pelo outro. Em Por
um Punhado de Dólares, surgem-nos os Rojos contrapostos aos Baxters,
estando os primeiros, um gangue fora-da-lei, e os segundos, a família do xerife
e os seus associados, num constante conflito por dinheiro e pelo monopólio de
San Miguel.
Entrevejo no Homem Sem Nome bastantes traços de
Simão Botelho, numa fase inicial da novela-romance. Por um lado, temos um
protagonista autónomo e lacónico adubado por uma rigidez e vigor inéditos; um
herói imensamente proficiente com armas — talvez o homem mais perigoso que
alguma vez viveu, como o trailer sugere —, o perigo assenta-lhe como uma luva.
Por outro, temos um jovem que, no início, da história aparece delineado como um
rebelde e um marginal, imprevisível, pronto a revoltar-se contra as regras
impostas pela sociedade. Segundo o seu irmão mais velho, que se encontra
«temeroso do seu génio sanguinário» (cap. 1), este «emprega em pistolas o
dinheiro dos livros [e] convive com os mais famosos perturbadores da academia».
A sua índole excecional, de quem está sempre pronto para lutar e nem se submete
às regras, impressiona Domingues Botelho.
Tal como Simão Botelho, que, durante a
totalidade do primeiro capítulo, partilhava a companhia da ralé, também o Homem
Sem Nome escolhe para seus comparsas o dono da taberna e o construtor de
caixões. Simão, orientado por sentido de justiça, defende um criado e acaba por
partir «muitas cabeças» e quebrar «todos os cântaros». No segundo capítulo,
perseverante e exortado por princípios de liberdade, divulga em Coimbra os
ideais da Revolução Francesa. Também o protagonista do Western, compelido pelo
mesmo sentido de justiça, compromete o seu próprio bem-estar ao ajudar Marisol
a escapar às garras do vilão principal, o cabecilha dos Rojos, Ramón, e a
reunir-se com a sua família. Também Ramón Rojo seria comparável a Baltasar
Coutinho, na medida em que ambos contendem com a principal figura feminina da
sua respetiva obra e, ulteriormente, são mortos pelo protagonista.
Ainda que sejam, à partida, obras bastante
divergentes, noto em ambas semelhanças: duas famílias rivais numa odiosa
disputa, o destemor dos protagonistas, norteados por um espírito de justiça, em
enfrentar os mais poderosos e o individualismo.
Leonor (Bom -/Bom (-))
Escolhi
Romeu e Julieta, uma história trágica e revoltante de um jovem casal que se
amava intensamente, mas cujas famílias os proibiam de se amar. Esta adaptação
de uma das mais famosas obras de Shakespeare ao mundo do cinema, publicada em
2013 e dirigida por Carlo Carlei, é um ótimo objeto de comparação com Amor de Perdição de Camilo Castelo
Branco, pois ambas tratam do mesmo tema: amores proibidos.
Julieta, uma das protagonistas do filme,
interpretada por Hailee Steinfeld, pertence a uma das famílias mais ricas de
Verona, cidade de Itália, os Capuleto, que tem como rival a família igualmente
rica e privilegiada, os Montecchio, à qual pertence Romeu, interpretado por
Douglas Booth. Em Amor de perdição o
caso é semelhante. Simão Botelho pertence a uma classe mais alta, apesar de
defender e lutar pelos direitos da plebe. Os Botelho e os Albuquerque, famílias
de Simão e Teresa, respetivamente, são rivais.
Há várias gerações que ambas as famílias, as de
Romeu e de Julieta, não convivem em harmonia, após uma batalha entre os
Montecchio e os Capuleto, acordou-se que nenhum membro teria qualquer tipo de
interação com outro da família oposta. Mas foi num baile de máscaras organizado
pelos Capuleto que Romeu, ao ter entrado às escondidas para ver Rosalina, por
quem se encontrava apaixonado, se deparou com Julieta e logo se apaixonou pela
belíssima filha dos Capuleto, esquecendo tudo o que sentia por Rosalina pois a
seu ver, Julieta seria uma figura angelical (“Oh, fala outra vez anjo de luz,
pois é assim que te vejo”). Na obra de Camilo Castelo Branco, apesar de Simão
não demonstrar qualquer sentimento de paixão por outra personagem, este vê
Teresa pela primeira vez através da janela de seu quarto e o seu coração não
hesitou em se apaixonar. Era amor à primeira vista em ambos os casos.
Apesar de, em ambas as histórias, existir
rivalidade, proibição e até ódio entre famílias, sempre existiram exceções,
personagens que eram a favor do amor entre ambos os jovens casais. No caso de
Romeu e de Julieta, é possível destacar o comportamento de Frei Lourenço, que
sempre apoiou o casal e fez tudo o que pôde para que os dois apaixonados
conseguissem ficar juntos e, até mesmo, fugirem juntos para onde ninguém os
pudesse impedir de serem felizes. Outras personagens como Benvólio, primo de
Romeu, e a ama de Julieta também demonstram empatia com o casal, apesar de
estes mostrarem algum receio perante a situação. Em Amor de Perdição, é a irmã mais nova de Simão, Rita, que mais
demonstra determinação para que o irmão e Teresa fiquem juntos. João da Cruz é
outro personagem a favor e sua filha, Mariana, que apesar de amar Simão, também
se resolve a ajudar o casal: entrega cartas a pedido de Simão e leva-lhe mensagens
de Teresa.
Ambas as histórias terminam tragicamente. Em Romeu
e Julieta, Romeu descobre que Julieta havia “morrido” e convence-se a fazer
o mesmo. Para passar o resto da eternidade junto do seu amor, o protagonista
decide suicidar-se. Julieta acorda subitamente do seu sono, quando encontra
Romeu morto a seu lado. A jovem Capuleto, vendo o cadáver de Romeu, escolhe
também atentar contra a própria vida, terminando a história com a morte do
casal. No caso de Amor de Perdição, Teresa
adoece e, quando Simão vai preso, implora-lhe que cumpra a pena de dez anos na
prisão de Vila Real, mas o herói romântico escolhe o degredo. Teresa acaba por
falecer, pois o seu estado de saúde havia piorado bastante. Simão, durante a
sua viagem rumo à Índia, apanhou uma febre maligna que também lhe viria a
causar a sua morte.
Mafalda (Muito Bom (-))
A obra-prima dirigida por Cristopher Nolan O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) apresenta-nos um
combate entre Batman e Joker: a ordem e o caos, que põe em causa o ténue limite
entre o bem e o mal. Somos confrontados com o amor e a tragédia, similarmente
ao que acontece quando lemos Amor de
Perdição de Camilo Castelo Branco.
Batman, duplo do milionário Bruce Wayne, é um
justiceiro oculto, combatente contra a corrupção e o crime que violam a
sociedade, numa caracterização de herói contrastante com a idealização do herói
romântico, seguida por Camilo na construção do seu protagonista.
Simão Botelho luta contra a norma e as
convenções sociais, sendo «[n]a plebe de Viseu [...] que ele escolhe amigos e
companheiros». Revela-se um jovem «avesso em génio», orgulhoso e
individualista, vincando o seu egoísmo quando, nem por a mulher que ama, que
lhe implora, aceita sacrificar-se e permanecer na prisão em Portugal,
preferindo o longínquo degredo. Prioriza a sua liberdade e a sua honra, que o
impedem de agir de outra forma e se revelam um forte traço da sua
personalidade, capaz, até, de superar o amor. A própria Teresa deseja que ele
reconheça: «Está morta, e morreu quando eu lhe tirei a última esperança».
Apesar de Bruce ver nos outros a sua prioridade,
independentemente de a sua segurança ser colocada em causa, e de não agir pela
honra, mas para prestar serviço à sociedade, o que indica um caráter muito
distinto do de Simão, esta personagem também vive por valores capazes, em certa
medida, de suplantar o amor. Partilhar a sua vida arriscada com Rachel
colocá-la-ia em perigo, mas nada poderia colocar-se entre si e o seu dever de
proteger a sociedade, nem mesmo o seu amor.
Mantendo a distância da mulher que ama, Bruce
mostra a capacidade de dominar a razão em falta a Simão. Este, guiado pelo seu
desejo de estar com Teresa quando o ódio entre as suas famílias os quer manter
distantes, revela-se impulsivo, chegando a matar, mais por raiva e orgulho
ferido do que por amor, o primo e pretendente de Teresa, Baltasar.
Em Amor de
Perdição, Simão é acompanhado nos seus confrontos por João da Cruz, que
escuta «com boa vontade» por saber «que quer o [seu] bem». No filme Batman
também é auxiliado na sua luta, pelo tenente Jim Gordon e por Harvey Dent, que
se encontra num relacionamento com Rachel. Tanto João como Harvey sofrem de
destinos cruéis: enquanto o primeiro é morto, o segundo é sujeito à dor da
perda, à dor física de ter metade do corpo gravemente queimada e à malignidade
de Joker, que o levarão a tornar-se
no Duas Caras.
Desde que a conhece até ao final trágico, Simão
pode contar com o cuidado fiel de Mariana («O Anjo da compaixão sempre
co[nsigo]»), que o ama verdadeiramente mesmo com o conhecimento de que esse
amor nunca será recíproco e de que não existe a possibilidade de ficarem
juntos. Apesar de ligado ao protagonista por um sentimento diferente, o mordomo
Alfred é, tal como Mariana, o cuidador fiel com quem Batman pode sempre contar.
Nem sempre a razão consegue prevalecer e é no
momento mais crítico que Batman segue o seu coração. Quando tem de escolher
entre salvar Harvey e Rachel que se encontram em edifícios distantes prestes a
explodir, escolhe-a, mas tarde demais descobre que fora enganado por Joker:
salva Harvey enquanto Rachel explode com o edifício. O amor de Bruce, que, tal
como o de Mariana por Simão, não foi abalado pela impossibilidade de ser
vivido, culmina numa morte trágica como o de Simão, Teresa e Mariana em Amor de Perdição, apesar de Bruce,
contrariamente a Simão, ter feito tudo pela pessoa que amava.
Joana (Muito Bom -/Bom +)
A ação do filme Troia (Troy, 2004) contém,
tal como muitos outros filmes, longas batalhas e amores impossíveis. O filme de Wolfgang Petersen, uma adaptação do
poema épico Ilíada, de Homero, recorda-nos
a guerra entre gregos e troianos pelo controle da cidade-estado nos anos 1100
a.C. O realizador recria minuciosamente a Grécia Antiga, um mundo de imensas
galeras de guerra, inesquecíveis batalhas e feitos de armas, cidades-fortaleza
e o lendário Cavalo de Troia. A ação desenrola-se com a fuga da rainha Helena
de Esparta. O princípe de Troia, Páris, seduz Helena num banquete organizado
por Menelau, rei de Esparta, e, mais tarde, leva-a consigo para Troia. Ao
descobrir tudo, o rei de Esparta não conseguindo tolerar essa afronta, declara
um ataque à cidade de Troia. Essa paixão irá desencadear uma guerra e devastar
toda uma civilização. A chave da derrota ou da vitória sobre Troia reside em
Aquiles, tido como o maior guerreiro vivo, o qual se pode comparar com o Simão
do Amor de Perdição.
Aquiles e Simão, apesar de terem vivido em
épocas tão distantes, têm vários aspetos em comum. Ambos se confrontam com as
consequências dos seus atos e o amor que nutrem pelas suas amadas tem um fecho.
Semi-deus arrogante, rebelde e aparentemente
invencível, Aquiles não tem lealdade a nada nem a ninguém, a não ser à sua
própria glória. Também Simão é rebelde, impulsivo, recusa-se à submissão ao
poder; é individualista, com um “génio sanguinário” e, tal como Aquiles, a
defesa da honra é um dos seus principais ideais. A beleza física é partilhada
por ambos. Simão é um “belo homem”, tendo nos seus “quinze anos (...) aparência
de vinte”, e Aquiles é um jovem alto atraente de cabelos loiros. Têm a obsessão
de obter “triunfos e glórias e imortalidade” dos seus nomes.
Quando o primo de Aquiles, Pátroclo, morre numa
das batalhas, o herói é invadido por uma sede de vingança o que faz com que
desafie Heitor, filho mais velho do rei Príamo de Troia e comandante dos
exércitos. Aquiles sai vitorioso neste combate e não tem qualquer piedade com o
corpo do morto. Entretanto Simão, em defesa da sua própria honra (“Não era o
sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o
sangue.”, ll. 2-3, p. 208), mata o primo de Teresa, Baltasar. Tanto Heitor como
Baltazar eram primos das apaixonadas destes dois heróis.
Podemos também relacionar Briseis, prima de
Heitor e sacerdotisa de Apolo, e Teresa, amada de Simão, pois ambas se
apaixonam pelo inimigo. Briseis, que fora capturada pelos gregos enquanto
estava no templo, apaixona-se por Aquiles, um soldado inimigo. Teresa, filha de
Tadeu Albuquerque, amava Simão de Botelho, filho de um velho inimigo de seu
pai. Tadeu de Albuquerque é contra esta paixão e planeia o casamento da filha
com o primo Baltasar, de modo a que ela se afaste de Simão. Quando se apaixona
por Briseis, Aquiles deixa de combater e deseja, finalmente, uma vida pacífica
ao lado do seu amor, tal como Simão e Teresa desejavam (“Estou vendo a casinha
que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves.”, ll.
42-43, p. 223). A paixão de Aquiles não é apoiada pelo rei Agaménon (irmão de
Menelau), que ansiava conquistar Troia a todo o custo. A morte do primo muda os
objetivos de Aquiles e fá-lo voltar para a batalha.
Tanto no filme como no livro, o amor tira vidas,
causa sofrimento e destruição. O desenrolar da história do Amor de Perdição e de Troia
captam-nos pelo extraordinário poder do amor. Simão e Aquiles são dois heróis,
um romântico, outro épico, que, apesar de afastados no tempo por vários
séculos, estão ligados pela mesma linha de um destino impiedoso. Uma nação
reduzida a cinzas, tantas vidas desfeitas.... tudo devido a um amor de perdição.
Laura (Bom +/Muito Bom -)
O filme 12
Anos Escravo (Steve McQueen, 12 Years
a Slave, 2013), adaptação cinematográfica da obra autobiográfica de Soloman
Northup, cuja ação se passa no século XIX, retrata a história verídica de
Solomon Northup, um homem negro nascido livre que vivia com a sua mulher e
filhos, em Nova Iorque. Northup era conhecido pelo seu incondicional talento
para a música, nomeadamente para o violino, e era, por isso, convidado para
inúmeras festas para fazer a sua magia ao som das cordas de um violino e
alegrar os convidados, que, entretidos, dançavam encantados com as suas
melodias. Era um homem de certo prestígio, respeito e admiração, embora mal
possuísse economias suficientes para sustentar a família. No entanto, a sua
vida muda drasticamente quando, em 1841, ao ser abordado com uma proposta de
trabalho em Washington, D.C, que aceita, é sequestrado e acorrentado e vendido
como escravo. Northup é, posteriormente, levado para Louisiana, Estados Unidos,
onde trabalha com outros escravos em plantações, nomeadamente nas do mestre
Epps, durante doze anos.
No filme, enquanto está nas plantações, o
protagonista convive com outros escravos que, ao contrário dele, acreditam que
«uma vez escravos, para sempre escravos» («once a slave, always a slave») e,
vencidos pela dor de uma injustiça que lhes tira tudo, que já não há qualquer
esperança na vida, restando apenas a morte (o que chega até a ser o desejo de
alguns em comparação com a vida de escravo). Contudo, Soloman não desiste de
lutar, não se rende ao que lhe chamam (escravo) e não se submete aos mestres,
arriscando a sua vida numa luta pela liberdade que sempre lhe pertenceu e a que
sempre teve direito ̶ «Eu não quero sobreviver, eu quero viver»
(«I don’t wanna survive, I wanna live»). Assim, o protagonista do filme, que
luta contra a norma e pela sua liberdade (atos de rebeldia e tamanha bravura),
apresenta vários traços característicos dos heróis românticos, como Simão Botelho,
personagem de Camilo Castelo Branco. Simão, tal como Soloman, é errante e
destemido, luta por aquilo a que acredita ter direito, não se submete às
vontades do pai e nunca desiste do seu amor por Teresa, por quem está disposto
a fazer tudo, entregando-se à emoção e impulsividade, que o dominam («Ir dali a
Castro Daire e apunhalar o primo de Teresa na sua própria casa, foi o primeiro
conselho que lhe segredou a fura do ódio»).
Por outro lado, ao contrário de Simão, que
sempre foi insofrido e rebelde, com um espírito individualista e ganancioso,
Soloman Northup, antes da reviravolta da sua vida, era um homem de talento,
ilustre e respeitado por todos. Assim, enquanto Simão era o desgosto e a
vergonha de seu pai («Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao
meirinho-geral que o prendesse à sua ordem»), Northup era o orgulho e a
salvação da sua família.
A adaptação cinematográfica da obra
autobiográfica de Soloman Northup retrata a dura, infeliz e injusta vida de
escravo e, do mesmo modo que, se os escravos não obedecerem às ordens do
mestre, são chicoteados e torturados desumanamente vezes sem conta, na novela
de Camilo, Teresa é obrigada a ir para um convento se não obedecer à vontade do
pai, Tadeu de Albuquerque, e casar com o seu primo Baltasar («Hás de casar! Quero que cases! Quero!… Quando não, amaldiçoada serás
para sempre Teresa! Morrerás num convento!»).
Tanto no filme como em Amor de Perdição existe uma personagem secundária que, ao conhecer
o protagonista, fica sempre a seu lado e faz tudo para o ajudar. No filme, essa
personagem fá-lo, apesar de isso colocar a sua vida em risco, o que demonstra
uma elevada compaixão e lealdade. No filme, Samuel Bass, um empreiteiro
canadense, interpreta esta personagem, enquanto na novela é Mariana. Ambas as
personagens entregam cartas aos entes queridos dos protagonistas; no caso de
Soloman, Samuel presta-se a entregar uma carta do escravo à família, carta que
exige os documentos que comprovam que é um homem livre, e, no caso de Simão, é
Mariana que entrega todas as suas cartas a Teresa, permitindo a continuação
secreta do seu inocente romance («Sou uma portadora
desta carta para vossa excelência»).
É, no entanto, bastante contrastante o desfecho
final da novela de Camilo e a obra de Northup, pois enquanto Camilo acaba com
um final trágico que se resume na morte de quase todas as personagens,
nomeadamente Simão, Teresa, Baltasar, Mariana e João da Cruz, a história de
vida de Soloman tem um final feliz, pois, após Samuel Bass ter enviado aquela
carta, foram-lhe reconhecidos os seus direitos enquanto homem livre e ele foi
levado de volta para junto daqueles de quem nunca devia ter sido separado.
Não só ambos os autores que dão vida à
personagem principal das suas obras escreveram obras a contar as suas experiências
de vida (embora a de Camilo não seja tão literal e com mais desvios à
realidade), Soloman através de 12 Anos
Escravo e Camilo através de Amor de
Perdição, como em ambas as histórias, verídica ou novela, respetivamente,
há um determinado momento em que a vida dos protagonistas muda
incondicionalmente e sem qualquer controlo por parte deles (Soloman, quando é
sequestrado, enganado e vendido como escravo, e Simão, quando vê Teresa pela
primeira vez).
Adolfo (Suficiente (+))
Titanic é um filme que estreou em 1997, e que relata a
história romântica de Jack e Rose, numa viagem deslumbrante pelo Atlântico na
embarcação de nome Titanic. O filme relaciona-se com o livro Amor de Perdição, de Camilo Castelo
Branco, devido às várias semelhanças desde o ínicio até ao desenrolar do fim
trágico que afeta todos os que o enredo
envolve.
No começo, Jack vê
Rose no convés e apaixona-se quando impede que Rose se suicide atirando-se para
o oceano. Este momento assemelha-se à situação de Simão, quando vê Teresa pela
janela e se apaixona, e, por cartas, consegue ter um refúgio mental.
Mas em ambos os casos
o amor é impossibilitado, por diversas razões, como a rivalidade. No livro, a
rivalidade entre duas famílias é um obstáculo para o amor, no filme a
rivalidade entre classes: Rose, sendo de classe alta e Jack de classe baixa, a
restrição social impede a aproximação dos dois. Em ambos os casos, Rose e
Teresa são forçadas a casar com alguém que não amam (“Vais hoje dar a mão de
esposa a teu primo Baltasar, minha filha”).
Apesar destas
barreiras que se impõem aos dois protagonistas românticos, Simão e Jack,
isolados devido às pressões sociais que os rodeiam, seguem o instinto do
coração, com Jack a morrer pela Rose para ela se salvar, e Simão a matar o
Baltasar para Teresa ficar livre (“(...) Baltasar tinha o alto do crânio aberto
por uma bala, (...)”. A combinação de todas as ações que os protagonistas
praticaram por Rose e Teresa deu para uma evolução de amor entre as
personagens, mesmo se fossem a si mesmo se prejudicaram e foram quase até
masoquistas.
Nos últimos momentos
das duas obras, dá-se o desfecho trágico, com a morte de Simão quando seperado
da Teresa, enquanto Jack morre ao sacrificar a sua vida para dar abrigo a Rose
das águas geladas do oceano, acompanhando-a até morrer. A situação não só é
similar como Jack dispõed o seu bem-estar pelo seu amor, como Simão fez, o que
nos lembra o amor incondicional da Mariana, que se atira ao mar para seguir
Simão, mesmo nos seus últimos momentos.
Em conclusão, o
paralelo entre Titanic e Amor de Perdição têm dá-se não só pelas
características do herói romântico, que lutam contra as pressões sociais, mas
também pela devoção dos homens, e as extensões que estão dispostos a percorrer
para chegar a um final feliz ou, no mínimo, justo.
Margarida (Muito Bom)
Camilo Castelo Branco
foi condenado por adultério e encontra-se preso na Cadeia da Relação do Porto.
Em apenas “quinze atormentados dias”, escreve Amor de Perdição. Não obstante a voragem com que foi escrito, este
romance é unanimemente considerado uma das obras-primas da literatura
portuguesa do século XIX.
Também nada faria
prever que Casablanca viesse a ser um
êxito intemporal. Este filme foi realizado por Michael Curtiz, mas apenas
porque William Wyler, entre outros, declinou o convite que lhe foi dirigido. E,
se o filme é protagonizado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, é porque
Ronald Reagan não aceitou o papel de Rick Blaine e Ann Sheridan não quis o
papel de Ilsa Lund.
A improbabilidade do
sucesso de qualquer destas obras, a circunstância de ambas se debruçarem sobre
amores infelizes mas de, ao mesmo tempo, serem profundamente diferentes, fez
que se tornasse irresistível comparar o livro camiliano com a película dos
argumentistas
Murray Burnett e Joan Alison.
Tanto no livro como
no filme, o contexto dificulta o florescimento da relação amorosa entre as
personagens principais. Porém, enquanto em Amor
de Perdição, o amor entre Simão e Teresa é contrariado por familiares e
pelas convenções sociais (“Hás-de casar!” com o primo Baltasar Coutinho), em Casablanca a Segunda Guerra Mundial é o
principal fator que impossibilita Rick e Ilsa de viverem cabalmente sua paixão.
Simão e Rick são
heróis envolvidos em amores, mas têm temperamentos opostos e reagem às
circunstâncias adversas de forma distinta. Simão é dado a fúrias e desvarios,
sente um amor egoísta e possessivo e chega mesmo ao ponto de matar Baltasar.
Aceita o seu trágico destino “como se [o] ignorasse”. Já Rick é forte e calmo
e, sob uma aparente indiferença, mostra-se cavalheiresco e impõe o sublime
sacrifício dos amantes de Paris, pondo os interesses da humanidade à frente dos
seus sentimentos. Apesar de acreditar no destino – “de todos os bares, de todas
as cidades, de todo o mundo, [Ilsa] tinha de entrar no meu” e de atrever-se a
pedir que fosse tocada a famosa As time
goes by –, Rick não se subjuga ao mesmo.
A forma distinta como
Simão e Rick se relacionam com as suas amadas resulta não só da personalidade
de ambos, mas também da diferença de idades e, consequentemente, de maturidade
entre os membros de ambos os casais. Simão é muito jovem e Teresa é “uma menina
de quinze anos regularmente bonita”. Vivem um amor epistolar, espiritual e até
metafísico (“Há um segredo que só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos?”). Ao
contrário, a relação entre Rick e Ilsa é cúmplice, mas também carnal e decorre
quando ambos visivelmente já têm mais de trinta anos. Paradoxalmente, pode
considerar-se que Ilsa se mostra mais submissa a Rick do que Teresa a Simão,
pois Ilsa acata as instruções para embarcar no avião para Lisboa com o marido
Victor Lazsló, mas Teresa não aceita uma vida sem o seu amor e decide-se a
morrer em face da condenação ao degredo do amado (“Adeus. À luz da eternidade
parece-me que já te vejo Simão”).
No inesquecível final
de Casablanca, Rick preserva as suas
recordações, opta pelo sacrifício do seu amor, recusa embarcar no avião para
Lisboa e despede-se de Ilsa, exclamando de forma pungente “We will always have
Paris” (“Teremos sempre Paris”). No trágico final de Amor de Perdição, Simão recusa o sacrifício de passar dez anos pelo
cárcere e opta pela “liberdade do degredo”, apesar dos pedidos de Teresa.
Creio que, se se
tivessem conhecido, não teria havido entre Rick e Simão “the beginning of a
beautiful friendship” (“o começo de uma bela amizade”).
Clara (Bom/Bom (+))
Moulin Rouge é um filme musical dirigido por
Baz Luhrmann, cuja história decorre em Paris no século XIX. Christian é um
rapaz que ruma à cidade luz para se tornar num escritor. Acaba por escrever uma
peça para um grupo de atores que atuam num bordel, o Moulin Rouge, acabando por
se apaixonar por uma das atrizes, Satine. No entanto, a atriz já estaria
comprometida com um homem rico que iria financiar a peça. Depois de muitas
escolhas e de muitas desavenças, o amor prevalece acima de qualquer outro
valor. Satine, entretanto, adoece e acaba por morrer de tuberculose.
Este filme retrata
em muitos aspetos os sentimentos e situações do livro Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. Tanto Simão como
Christian são irreverentes e rebeldes. Simão desobedece constantemente a seu
pai. Até o seu irmão mais velho diz não conseguir viver com ele pois está
“temeroso do génio sanguinário dele”. Da mesma forma, Christian decide mudar-se
para Paris, mesmo sem a aprovação do pai.
As semelhanças mais evidentes entre estas
duas histórias são os problemas associados ao romance entre as personagens.
Tanto a novela de Camilo como o musical de Luhrmann tratam de romances
proibidos e de amores tão grandes que ultrapassam quaisquer barreiras. Teresa e
Simão são dois jovens enamorados, cujo amor é proibido devido a desavenças
entre as respetivas famílias. Teresa já estaria destinada a casar com o seu
primo Baltasar, mesmo sendo “mais certo odiá-lo [eu] sempre”. Da mesma
forma existe uma intromissão no amor entre Satine e Christian, por parte de
Duke, o pecunioso financiador da peça. Tanto Duke como o primo Baltasar são
apresentados como personagens que interferem na paixão das personagens
principais. Inicialmente, ambos têm o
prepósito de assassinar o amante das mulheres pelas quais estão apaixonados. No
entanto, o desfecho destas duas situações é bastante diferente. Enquanto na
novela Baltasar, ao tentar assassinar Simão, acaba por perder “o vigor dos dedos” pois “tinha o crânio
aberto por uma bala” lançada por Simão, no filme, embora o Duke também não
consiga matar o seu rival, sai impune da situação.
Nem o filme nem o
livro evidenciam um desfecho animador. No romance camiliano, Teresa não
consegue conformar-se com o fim da relação e prefere não viver, a viver uma
vida sem Simão (“(...) e morro, porque não posso, nem poderei jamais
resgatar-te.”). O herói romântico falece também a caminho do desterro, levando
Mariana consigo, ela que não conseguiria viver sem ele. Da mesma forma, Moulin Rouge tem um final dramático. No
final do filme, Satine acaba por morrer de tuberculose, deixando Christian com
uma depressão.
Ao terminarem as
narrações destas duas obras, o leitor/observador constata que o enredo seria
uma analepse de tudo o que teria acontecido, e voltamos ao presente. No caso do
musical a história a que temos acesso é a história que Christian prometera
escrever a Satine na altura da sua morte, enquanto no caso da novela voltamos ao primeiro plano da narração onde um prisioneiro
investiga a vida de um familiar antigo.
Diana (Bom/Bom (+))
A paixão entre Olly e Madeleine, personagens do
filme Amor Acima de Tudo (Stella
Meghie, Everything, Everything, 2017),
é mais um daqueles amores que parece impossível, como o de Simão e Teresa, em Amor de Perdição.
Madeleine é uma rapariga de dezoito anos que
sempre sofreu de uma doença que não lhe permitia sair de casa devido ao elevado
risco de apanhar infeções que a podiam levar à morte. Apenas a sua mãe, a
enfermeira e Rosa, a filha da enfermeira, podiam entrar em sua casa. O seu
maior sonho era ver o oceano e nadar. Um dia, Olly muda-se para a casa ao lado
da de Madeleine. Os seus olhares cruzam-se pela primeira vez, quando ambos
olham pela janela dos seus quartos, apaixonando-se de imediato. Também Simão e
Teresa estavam à janela quando repararam um no outro.
No livro, os pais de Simão e de Teresa eram
contra esta relação devido às divergências entre as duas famílias. O pai de
Teresa, Tadeu de Albuquerque, manteve-a fechada em casa e, mais tarde, em
conventos, dificultando o contato entre os dois, que, mesmo assim, se
conseguiram encontrar sem o seu conhecimento.Tadeu de Albuquerque disse também
que Teresa já não era sua filha (“Se és uma alma vil, não me pertences, não és
minha filha, não podes herdar apelidos honrosos”). Em Amor Acima de Tudo, era a doença da protagonista que a mantinha
afastada de Olly. Apenas conseguiu que ele a visitasse em casa duas vezes,
também sem o conhecimento da sua mãe. Mais tarde, Madeleine veio a descobrir
que não sofria de nenhuma doença. A sua mãe só a queria proteger do mundo pois,
quando o seu marido e o seu filho morreram, Madeleine era a única pessoa que
lhe restava. Assim, pode-se concluir que, em ambos os casos, são os pais os
grandes obstáculos a estas relações: no filme, por amor à filha, apesar de lhe
ter causado mais sofrimento; em Amor de Perdição, mais por ódio e
orgulho.
Mesmo sem o consentimento dos pais, em ambas as
relações, a comunicação é mantida e é o que “alimenta” a paixão. Simão e Teresa
comunicam essencialmente por cartas (“É já o meu espírito que te fala, Simão. A
tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à hora em que leres esta carta, [...],
está em descanso.”) ou por recados de uma rapariga do povo, Mariana (“Sou uma
portadora desta carta para vossa excelência.”, “A filha do ferrador [Mariana]
deu o recado, e sem alteração da palavra”). Já Olly e Madeleine, que vivem,
obviamente, numa época mais recente, comunicam através do telemóvel.
Arriscar também é um aspeto em comum entre o
livro e o filme. No primeiro, Simão arrisca a vida e a relação com a família
para ir ver Teresa quando esta sai do convento, mesmo sabendo que lá iriam
estar presentes o pai e o primo de Teresa. No outro caso, Madeleine põe em
risco a sua vida quando decide ir para o Havai com Olly. É certo que Maddy
tinha o sonho de sair de casa e ver o oceano desde muito pequena, mas ela
própria afirma que não o teria feito se não tivesse conhecido Olly, que lhe
dera uma maior vontade de viver em vez de apenas sobreviver.
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