Instruções para comentário a canção e Frei Luís de Sousa
O trabalho implica escrever um
comentário-análise a Frei Luís de Sousa
(aliás, a um dado aspeto desta obra, a um seu momento, etc.) a partir de letra
de uma canção.
Em termos práticos, consistirá em
ficheiro que conterá o link da canção (no YouTube — o simples link, que
eu é que buscarei o código de incorporação) e o comentário-análise
escrito pelo aluno. Uma primeira versão do texto será por mim corrigida, devendo
o autor lançar as emendas e dar-me/enviar de novo o ficheiro corrigido. [Para
correio eletrónico: luisprista@netcabo.pt.
(Como sempre: se não tiver agradecido, é que nada recebi.)]
Em baixo dou exemplo
meu, que tirará certamente muitas dúvidas (e nos links seguintes ficam exemplos
de comentários-análises por colegas de 2015-2016: 11.º 1.ª, 11.º 5.ª, 11.º 7.ª,
11.º 8.ª, 11.º 12.º).
Sublinho agora estes aspetos:
O comentário pode ocupar-se de parte
relativamente localizada (circunstancial) ou, como se fez mais no exemplo em
baixo, aproveitar para fazer uma abordagem quase global. Mas é importante que
haja alguma interpretação estrutural.
Tem de haver citações (quer do texto da
canção, quer de Frei Luís de Sousa), embora eu tenha talvez exagerado
quanto a este aspeto no meu exemplo.
É essencial incorporar esses passos
citados com certo engenho, usando bem a pontuação, mas conseguindo uma
integração elegante.
A canção poderá ser portuguesa,
brasileira ou mesmo de língua estrangeira. Neste último caso, cada citação
conterá um par com versão em inglês (ou a língua de que se trate) e tradução em
português. Pedia-lhes que evitassem canções já aproveitadas há três anos (até
por isso, deem uma vista de olhos às escolhidas pelos colegas de 2015).
Não haverá referência «bibliográfica» (ou
discográfica, neste caso), mas é aconselhável que, ao longo da canção, vá
aparecendo, com naturalidade, indicação do cantor, do letrista, etc.
A extensão do texto deve aproximar-se da
do exemplo que dou (convencionemos: de quatrocentas a quinhentas palavras).
Se se tratar de canção que implique traduzirem-se as citações, convém que se aponte
para o limite máximo.
Finalmente, o exemplo:
Nome do aluno [nota]
A recomendação feita na canção de Rui
Veloso — no fundo, a regra de sensatez, já que «As regras da sensatez» é mesmo
o título desta faixa do álbum Avenidas (1998), aqui na versão recente
(2012) com Maria João e Mário Laginha — poderia aplicar-se a várias personagens
do Frei Luís de Sousa, ainda que, por
vezes, por negação.
«Nunca voltes ao lugar / onde já foste
feliz» encerra um conselho que quase calharia bem a Madalena no momento em que,
incendiada a casa de Manuel de Sousa, a família Vilhena-Coutinho tem de se
acolher sob o antigo teto dos Vimioso, o palacete onde vivera com o primeiro
marido. Contudo, dificilmente se pode dizer que Madalena tivesse sido feliz
durante a união com D. João de Portugal. Telmo, reconhecendo que «o pobre de
meu amo» recebera «respeito, devoção, lealdade» de Madalena, recrimina à sua
senhora não ter amado o primeiro marido («mas amor!»), enquanto Madalena
replica que ao amor «não está em nós dá-lo, nem quitá-lo», assentindo o que
afirmara o aio. Além disso, bem vistas as coisas, era até o coração que lhe
dizia que não faria bem em regressar àquela casa («tu não sabes a violência, o
constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela
casa»), o que infirma o dístico «Por muito que o coração diga / Não faças o que
ele diz».
A D. João talvez o conselho da canção
conviesse mais, porque amara Madalena (Telmo o lembra: a primeira visita, «vivo
ou morto», seria decerto a Madalena, já que lhe queria muito). Significaria
que, tendo sido dado como morto em Alcácer Quibir, se lhe pedia que não se
mostrasse depois. Teria sido indesejável um regresso logo sete anos depois e,
mais ainda, vinte e um anos decorridos. Mas que faria então o zombie D. João?
Estaria condenado a penar entre o Norte de África e Almada? Mas é o que
acontecerá ao Romeiro-D. João de Portugal, depois de vir empecilhar tudo.
Afinal, a frase imperativa da canção
assentaria melhor a Telmo. O escudeiro é quem foi feliz, naquela mesma casa e com
o amo dileto, e se vê agora constrangido a regressar onde, digamo-lo muito
conotativamente, «ardera de paixão». Como se adverte no poema de Carlos Tê, só
irá encontrar «erva rasa por entre as lajes do chão». Nada do que Telmo lá vai
ver «será como no passado». O reencontro com D. João não resulta apenas, porém,
da cedência a uma tentação a que levasse a saudade, embora matasse mesmo «a
recordação / que lembra a felicidade» (e, de caminho, alterasse todo o
presente, como «cinza / que dá na garganta nós»). Tudo escapa ao arbítrio de
Telmo, tudo depende de um destino que ele não controla, apesar de o invocar
constantemente. É o destino e a sua irrevogabilidade que interessam à tragédia.
[475 palavras]
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