Análise de Frei Luís de Sousa e Canções pelo 11.º 1.ª
Marta [Bom (-) {tal como as
notas seguintes, esta apreciação diz respeito sobretudo à primeira versão do
texto, embora tenha tentado também vigiar a revisão havida}]
O título desta canção de Metronomy, banda
britânica, “The upsetter”, pode ter a interpretação daquele que perturba, que
muda o normal decurso das coisas. Como sabemos, é isto que D. João de Portugal provoca
quando regressa à sua antiga casa após vinte e um anos desaparecido e por todos
presumido morto. Esta canção poderia ter sido escrita pelo nobre que é
apresentado inicialmente como um romeiro, um velho, quando chega à residência.
“I've gotta beam my message to you” (Tenho de te
transmitir a minha mensagem), que é aqui dito por Joseph Mount, o vocalista de
Metronomy, poderia ter sido sido dito por D. João, que explica, a quem o
recebe, que tem uma mensagem a transmitir a Madalena. Uma vez ao pé de
Madalena, que não o reconhece, o homem dá a entender que conhecera o primeiro
marido de Madalena e que tem uma mensagem dele. É neste momento que o
leitor/espetador pode supor que quem fala é o próprio D. João e não alguém que
partilhara com ele tempo de cativeiro. Ao ouvir isto, Madalena fica preocupada
com a desonra que ela e a sua filha poderão vir a sofrer com D. João vivo.
Maria teria sido resultado de uma paixão ilegítima vivida com Manuel de Sousa
Coutinho. Lê-se na obra “Estou… estás.. perdidas, desonradas… infames! Oh!
Minha filha, minha filha!...”. Manuel, ao ouvir isto, comunga do mesmo
sentimento que a mulher: “Oh, minha filha, minha filha! Desgraçada filha, que
ficas orfã!...”. Decerto que D. João terá ficado, também ele, desolado quando
descobre que Madalena tem uma nova família. Madalena está acompanhada e
apaixonada, não por si mas por D. Manuel. Como diz a canção, “You're not alone
and you're still in love” (Tu não estás sozinha e ainda estás apaixonada).
Os únicos que se apercebem da identidade do
homem serão Manuel e, já antes, o seu irmão Frei Jorge como, depois, Telmo. Na
peça é dito por Frei Jorge que ”o segredo do seu nome verdadeiro está entre mim
e ti” e os irmãos tudo fazem para esconder D. João. ”But I'm alone and I'm so
in love” (Mas estou sozinho e muito apaixonado) podia dizer D. João sozinho na
cela, já que sentia ainda o mesmo amor por Madalena. É o seu velho aio Telmo
que lhe interrompe o devaneio. Telmo era o único que durante todos aqueles anos
nunca acreditara na morte do amo. Sabia da existência de uma carta escrita para
Madalena em que D. João dizia que, vivo ou morto, voltaria a vê-la. De novo,
“I've gotta beam my message to you”(Tenho de te transmitir a minha mensagem):
ou a da sua vida ou da sua morte.
Carolina D. [Suf +]
A canção ‘’Coming
Home’’, de Gwyneth Paltrow, escrita por Hillary Lindsey, Troy Verges, Tom
Douglas e Bom DiPiero, pertencente à trilha sonora do filme Country Song, pode aplicar-se a um
momento de grande importância do Frei
Luís de Sousa, o regresso de D. João de Portugal.
Os primeiros quatro
versos com que se inicia a canção — «It's a four letter word (É uma palavra de
quarto letras) / A place you go to heal your hurt (Um lugar onde vais para
curar a tua dor) / It's an alter, it's a shelter (É um altar é um abrigo) / One
place you're always welcome (Um lugar onde és sempre bem vindo)» — remetem para
o espaço para onde D. João regressa como romeiro («Aqui está o romeiro»), sua
casa, um palácio, na verdade.
D. João teria sido
dado como morto na batalha de Alcácer Quibir («D. João ficou naquela batalha com
seu pai, com a flor da nossa gente») por todos, ou quase todos, masTelmo não
acreditara que o seu tão amado amo estava realmente morto, pois tinha fé e
confiava no que tinha lido na carta entregue a Frei Jorge («vivo ou morto —
rezava ela — vivo ou morto…»). No entanto, percebemos que o romeiro vindo do
nada e que deixa tal mensagem tão atormentadora a D. Madalena («Ide a
D.Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis… aqui
está vivo… por seu mal… e daqui não pode sair nem mandar-lhe novas suas, de há
vinte anos que o trouxeram cativo») é D. João de Portugal. Os versos «After all
of my running (Depois de tanto correr) / I'm finally coming (Estou finalmente
de volta) / Home (A casa) / The world tried to break me (O mundo tentou quebrar-me)
/ I found a road to take me (Encontrei um caminho para me levar) / Home (A
casa)», de certa forma, podiam reportar-se à possível experiência de D.João,
durante os anos em que andava longe, e todos o julgavam morto.
São continuação dessa
mesma ideia os versos «And you're lost out in the great wide open (E estás
perdido na grande imensidão) / Looking for a map (À procura de um mapa) /
Finding your way back (Encontrar o caminho de volta) / To where you belong
(Onde tu pertences) / Well that’s where I belong (Bem, é aqui que eu pertenço)
/ Home (casa)». Depois de todo o tempo ‘’perdido’’— não que estivesse perdido
no sentido literal da palavra, mas sim perdido como quem não está no lugar a
que pertence — finalmente está de volta a casa. O mundo tentara matá-lo — todos,
menos Telmo, o queriam matar, na medida em que não acreditavam que pudesse
estar vivo e nem sequer colocavam essa hipótese. Mas D. João, apesar disso,
conseguiu regressar a casa, ainda que fosse tomado como apenas um romeiro por
parte de D. Madalena.
Guilherme [Bom (-)]
Analisando a letra da música «Carta aos Mortos»,
da banda portuguesa Doismileoito, pertencente ao seu mais recente álbum Pés Frios (2011), podemos encontrar
versos que são relacionáveis com a peça Frei
Luís de Sousa, mais concretamente, com a personagem D. João de
Portugal-Romeiro.
Sendo assim, vamos ter de imaginar que foi D. João
Portugal quem escreveu esta música, momentos antes da sua morte. Ele é sem
dúvida a personagem da história que mais sofre de infelicidade, desprezo e
azar, se virmos a peça de uma forma global: é verdade que a peça se baseia no
drama e tragédia à volta de Madalena e da família Vilhena-Coutinho, mas
rapidamente nos apercebemos de que D. João, ex-marido de Madalena, não é
tratado com o respeito e a dignidade a que teria direito. Foi para a batalha de
Alcácer Quibir lutar pelo seu país – era um homem patriota, honrado e fiel ao
rei – e lá foi dado como morto, apesar de a sua morte não ter podido ser
confirmada.
Assim, é fácil relacionar alguns versos de
«Carta aos Mortos» com o rancor sentido por D.João, imaginando-o citar algo
semelhante.
A sua vida inglória podia ser lamentada pelo verso
«Cumpri tudo tão bem / Até já escuteiro eu fui». De facto, tanto quanto sabemos
D. João teria sido homem cumpridor do seu dever: era um reconhecido senhor da
nobreza que ajudara na época gloriosa dos descobrimentos e no crescimento de
Portugal enquanto nação. Era fiel ao rei e à pátria. Mais que tudo isto foi um
bom marido, ou seja, amou sempre Madalena e tratou-a com o devido respeito. A
personagem que nos dá o seu testemunho acerca deste casamento é o aio da
família, Telmo Pais. Por exemplo, numa conversa com Maria assegura ter ele tido
amor por Madalena: «Pois tinha, oh! Se tinha…!». D. João fora também um homem
com coragem e bravura, podendo-se comparar estas duas qualidades com as
características de um escuteiro.
O verso «Tenho quem chore quando eu também
morrer» traduz, de certa forma, o estado de espírito de D. João. Penso que no
patriota português havia sentimentos de revolta e também de algum ressentimento
para com Madalena. Já estava velho e desgastado dos seus tempos em África mas,
mesmo assim, correu o risco de fazer a viagem a caminhar até encontrar a antiga
esposa e a fazer cair numa situação de desonra e infâmia. Sabia que tinha
tornado a sua vida uma miséria e que ela “morreria” de vergonha («Minha filha!
Estou… estás… perdidas, desonradas… infames!»).
Com «Que ardam com as coisas / que os levaram ir
lá parar» outra vez voltamos ao sentimento de vingança que carregou ao longo
dos anos que esteve fora de casa. D. João tem muitas razões para se sentir
injustiçado e revoltado, desejando assim a Madalena e a Manuel de Sousa
Coutinho, o tal “inferno” onde ardem devido aos seus pecados, visto que estes
dois casaram sem se preocuparem verdadeiramente com o seu paradeiro e, pior que
isso, tiveram uma filha juntos: «Parentes! Os mais chegados, os que eu me
importava achar… contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela;
hão de jurar que não me conhecem».
D. João, de certa forma, escreve a tal «Carta
Aos Mortos». Não a escreve com papel e caneta, escreve-a sim com a sua
existência, a sua presença na vida de Madalena. O seu reaparecimento é como que
uma sentença de morte ao casamento da ex-mulher e à honra dos Vilhena-Coutinho.
Maria [Bom (-)/Bom -]
A canção “Onde quero estar”, de Paulo Sousa,
remete-me para Frei Luís de Sousa.
Esta canção transmite várias emoções, como tristeza, solidão e saudade («Diz
que é hoje que me vais salvar / Beija-me, não quero sufocar / E, por favor, não
me deixes nunca escapar / Por entre os braços onde eu só quero estar»), tal
como D. João de Portugal se deveria sentir, após vinte anos de ausência («São
vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias que por aqui
passaram»).
Ao contrário de D. João, D. Madalena
encontrava-se “fugitiva” de qualquer memória deste («Parece-me que é voltar ao
poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali…»), pois
sabia que o seu casamento com Manuel, aos olhos de muita gente, era ilegítimo.
O instrumental, por Paulo Sousa, Pedro Gonçalves
e Daniel Almeida, leva-nos numa viagem de dor, de distância («Nem consigo
escrever / Como te quero ver / Sempre que anoitecer / Sempre que amanhecer») e,
também, de amor. Este amor parece-nos algo doloroso, talvez por motivos como a
inexistência de sentimentos por parte da outra pessoa, como seria o caso de D.
João, que teria achado que D. Madalena não o teria esquecido («Ah! E eu tão
cego que já tomava para mim!»).Como o próprio título da canção indica (“Onde
quero estar”), João também teria sonhado com o seu regresso, em que Madalena o
esperaria, mesmo após vinte anos, ainda de braços abertos.
O desfecho de Frei Luís de Sousa vinca a importância da religião e da vida
católica que as pessoas daquela altura levavam, principalmente, quando D.
Manuel e Madalena marcam a cerimónia para tornar definitiva a sua separação,
por muito que gostem um do outro, o que nos dias de hoje se tornaria um
absurdo. Madalena ainda tenta arranjar uma solução para este triste desfecho,
apesar do cunhado Jorge e de Manuel não reagirem ao seu desespero («Jorge, meu
irmão, meu bom Jorge, vós, que sois tão prudente e refletido, não dais nenhum
peso às minhas dúvidas?»). Madalena, já mentalizada deste desfecho, aceita a
situação («E eu vou»).
Por muito que seja o amor, por muita que seja a
vontade, por vezes é melhor deixarmos a outra pessoa ir, não só porque estamos
a sofrer, mas porque as situações são postas nas nossas vidas para que possamos
reagir e aprender com elas. Foi assim que Madalena e Manuel aprenderam, e o
sujeito poético da canção de Paulo Sousa também («Se fosse fácil falar / Eu
dizia a cantar / Que não posso negar / Que sou rio, tu és mar»).
Catarina
C. [Bom
(-)]
Por se tratar de uma
peça bastante trágica com personagens que demonstram ter noção desse clima, a
canção, de Jorge Palma, “A Origem do Drama” pode ligar-se a esta obra devido à
conexão que conseguimos estabelecer com algumas das personagens, tanto em
termos gerais como em casos concretos, e por relatar situações semelhantes
àquelas de que trata a peça.
A música inicia-se
logo com versos que podemos relacionar com a peça, mais especificamente com a personagem
de D. Madalena: “Olha essa nuvem que tu já conheces / Ela é negra e carrega de
novo na tua cabeça”. Quando no ato segundo, cena V, Madalena se apercebe, por
intervenção de seu marido, D. Manuel, de que era sexta-feira, imediatamente
refere que aquele dia amaldiçoado lhe trará desgraças, como sempre acontecera (“Sexta-feira!
(Aterrada) Ai que é sexta-feira! (…)
Logo hoje!... Este dia de hoje é o pior… se fosse amanhã, se fosse passado
hoje!...”).
Os versos “E onde
agora há uma parte que já não parece caber / Como a imagem que tu adoravas /
Onde é que a vais esconder?” podem também associar-se a Madalena, relacionando
a “imagem” mencionada na canção com o retrato de D. João de Portugal com que Madalena
se depara na noite em que o seu palácio se incendiou e teve de mudar de casa.
Sua filha, Maria, curiosa por saber quem era a pessoa representada naquela
pintura, que fortes emoções tinha causado a sua mãe (“Minha mãe, que me trazia
pela mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito. (…)Pergunto-lhe o que é,
não me respondeu.”), não obtém resposta fácil. D. Madalena tentou evitar, ao
máximo, que Maria soubesse quem era D. João de Portugal.
“Será que existe
algum bom movimento / Neste momento em que nada vai bem?” é um momento da
canção relacionável perfeitamente com todo o desenrolar da peça em geral.
Classificando-se como uma tragédia, as personagens, nomeadamente D. Madalena,
anteveem sempre o pior, desempenhando um papel bastante pessimista (“Então não
conhece (…) toda a indubitável verdade da nossa desgraça. (…) talvez possa
duvidar, consolar-se com alguma esperança de incerteza”).
Mais especificamente
a seguir ao incêndio do palácio de D. Manuel, sucedem-se acontecimentos que
deixam as já bastante sofridas e dramáticas personagens ainda menos esperançosas
e optimistas. “Há cansaço no ar, amargura no chão / Há tristeza nas torres de
gente” pode aplicar-se a quase todos nesta peça. Com efeito, são vários os que
se apresentam bastante tristes, por isso a expressão da canção “torres de
gente” assenta-lhes perfeitamente pois, talvez com a particular exceção de
Jorge, todos os outros aparentam estar sempre cansados de sofrer e bastantes
tristes (“Eu não sofro nestes hábitos, eu não aturo, com estes vestidos de
vivo, a luz desse dia que vem a nascer”).
R. Leal [Suf]
Frei Luís
de Sousa é
uma tragédia que se centra no triângulo amoroso de Madalena com o seu antigo
marido, D. João de Portugal, e o seu atual marido, Manuel de Sousa Coutinho. As
personagens Telmo, Maria e Jorge vão-nos ajudando a perceber que se trata de
uma tragédia. Sabemos que Telmo acredita que o seu antigo amo, D. João de
Portugal, está vivo e vamos tendo indícios ao longo do texto de que Maria sofre
de tuberculose.
Na música “Gives you hell”, da banda All
American Rejects, há uma parte em que o vocalista canta “when you see my face
hope it gives you hell hope it gives you hell”, que, traduzido para português,
fica algo como, “quando vires a minha cara, espero que fiques mal”. Podemos
associar essa parte ao Frei Luís de
Sousa, de Almeida Garrett, na parte que tem a ver com os sentimentos entre D.
João de Portugal e Madalena.
No texto de Almeida Garrett, no segundo ato, na
cena XIV, quando Madalena e Jorge são visitados por um romeiro que diz ter uma
mensagem para Madalena, percebemos pela mensagem que D. João de Portugal está
vivo e que não estará contente pelo facto de Madalena se ter casado com outro
homem. Madalena, ao saber que João estará vivo, fica muito assustada, fugindo e
gritando “Minha filha, minha filha, minha filha! (Em tom cavo e profundo) estou, estás, Perdidas, desonradas.
Infames! (Com outro grito do coração)
Oh! Minha filha, minha filha! (Foge
espavorida e neste gritar)”. Percebemos na cena seguinte que esse romeiro
era mesmo D. João de Portugal. Tal como na música, quando Madalena olha para a cara
de D. João de Portugal, fica muito assustada, triste.
Também existe outro exemplo do que referimos
quando Maria e Madalena entram na sala e Madalena vê o retrato de D. João,
ficando muito assustada (“Na noite que viemos para esta casa, no meio de toda
aquela desordem, eu e a minha mãe entrámos por aqui dentro sós, e viemos ter a
esta sala. Estava ali um brandão aceso, encostado a uma dessas cadeiras que
tinham posto no meio da casa; dava todo o clarão da luz naquele retrato. A
minha mãe, que me trazia pela mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito.
Oh, meu Deus! Ficou tão perdida de susto, ou não sei de quê, que me ia caindo
em cima. Pergunto-lhe o que é, não me respondeu. Arrebata da tocha, e leva-me
com uma força. Com uma pressa a correr por essas casas, que parecia que vinha
alguma coisa má atrás de nós”).
Pedro [Suf]
Na análise da música “Apaixonei-me por ti”, de
Yellow G, é possível relacionar alguns dos versos da canção com acontecimentos
passados em Frei Luís de Sousa, mais
especificamente com o ato 3, cenas V e VI, onde o Romeiro (ou D. João) reflete
com Telmo sobre a sua situação e, mais tarde, no aparecimento de Madalena em
cena, e, no ato 2, cena XIV, quando o ainda desconhecido Romeiro visitava o
afinal seu antigo palácio.
Na cena XIV, quando o Romeiro se vai dando a
conhecer gradualmente, Madalena fica aterrorizada ao tomar conhecimento de que
D. João de Portugal está vivo, que o seu casamento com Manuel de Sousa está
ferido do pecado e Maria é filha ilegítima. O Romeiro, como já se suspeita
nesta cena, é, na verdade, D. João de Portugal e tenta manter a sua postura na conversa
mantendo-se calmo e assertivo nas suas falas, (“Quando finjo que não olho para
ti”).
Nesta cena V, Telmo vai ao encontro do Romeiro e,
aqui, Telmo reconhece, no Romeiro, a voz de D. João e a sua dolorosa
fragmentação afetiva é cada vez mais viva. Romeiro pede-lhe para evitar a
desgraça iminente, mandando-o dizer que aquele peregrino é um impostor e que
tudo não passara de um "embuste" organizado pelos inimigos de Manuel
de Sousa.
D. João mostra-se muito debilitado depois de
tantos anos preso na Palestina (”São vinte anos de cativeiro e miséria, de
saudades, de ânsias, que por aqui passaram. Para a cabeça bastou uma noite como
a que veio depois da batalha de Alcácer; a barba, acabaram de a curar o sol da
Palestina e as águas do Jordão”), tanto a sua voz como o seu rosto mostram que
estes anos não foram agradáveis, o desgaste físico foi intenso. Porém, foi
psicologicamente que D. João fora mais afectado: as saudades da sua vida em
Portugal e, principalmente, de Madalena foram as principais causas para a sua
decadência, apesar de acreditar que Madalena o quisera e ainda o amara (“São
tantas as horas / Que penso num beijo teu / Imaginando que tu me queres / E que
o teu coração é meu”).
Já na cena VI, em que D. João, iludido pelo
chamamento que Madalena fizera ao seu esposo Manuel de Sousa (”Esposo, esposo,
abri-me a porta por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri!”), sente esperanças
de que ela estivesse a chamá-lo e ainda o amasse (”Lá no fundo / Sinto que
sentes algo por mim”), D. João, depois de perceber que não era ele por quem
Madalena suplicava, sai entristecido de cena.
Beatriz [Suf]
Analisando a música
por mim escolhida“Canção do Engate”, de António Variações, do álbum O melhor de António Variações (1997),
podemos comparar alguns dos seus versos com algumas cenas da obra de Frei Luís de Sousa.
Madalena, durante
sete anos procurou D. João de Portugal desesperadamente, não acreditando que
este tivesse morrido na batalha de Alcácer Quibir. Telmo, ex-aio de D. João de
Portugal, sempre duvidou de sua morte e Madalena vivia constrangida e
amedrontada pelo seu desaparecimento duvidoso («tu continuas à espera / do
melhor que já não vem / e a esperança foi encontrada / antes de ti por
alguém»).
Madalena estava só,
não sabendo que D. João estava vivo e sozinho, percorrendo caminhos para
conseguir chegar até Madalena («tu estás só e eu mais só estou»). Quando
Madalena finalmente aceitou a “morte” de D. João, sete anos depois do dia da
batalha de Alcácer Quibir (4-08-1578), D. Manuel casou com D. Madalena («tens a
minha mão aberta / à espera de se fechar / nessa tua mão deserta») e juntos
tiveram uma filha, Maria, frágil, agora com tuberculose e sempre “a cismar”.
Mais tarde, aparece
um romeiro (D. João de Portugal), que teria vivido vinte anos da sua existência
nos Santos-Lugares, e que os teria também visitado a todos. Jorge falou-lhe em
família. O romeiro/João, com ar desapontado e em sofrimento, disse-lhe que já
não a tinha («tu que buscas companhia / eu que busco quem quiser»). D. João de
Portugal tinha feito uma promessa em carta a Madalena, escrita no dia da
batalha («vivo ou morto, Madalena, hei-de ver-vos pelo menos mais uma vez neste
Mundo»), e Madalena, sempre que se lembrava disto, ficava aterrorizada,
lembrava-se de D. João e da possibilidade de ainda estar vivo.
Manuel de Sousa, anos
mais tarde, decide terminar com o seu relacionamento com Madalena devido a D.
João estar vivo («ser o fim desta energia / ser o fim de mais de mais um dia»).
A meio desta cerimónia, Maria, já muito doente e muito perto de sua morte,
intervém subitamente e, com um ar confuso e revoltado, interpela retoricamente
os que estavam a assistir («quem sois vós, espectros fatais?...»), dizendo que
lhe queriam roubar os pais e que sonhara com um homem mau que a acusa: «é
aquela voz, é ele, é ele! Já não é tempo… Minha mãe, meu pai, cobri-me estas
faces, que morro de vergonha…». Terminada esta frase, Maria morre nos braços de
seus pais.
Carlota [Suf+/Bom-]
Toda a peça é constituída por momentos com
muitas emoções de tristeza, medo, raiva, vingança e desconfiança.
D. Madalena casou com D. João de Portugal que
morre em Alcácer Quibir. Após sete anos da morte deste seu primeiro marido,
volta a casar com outro homem, Manuel de Sousa Coutinho, com quem tem uma
filha, Maria. Após vinte e um anos da suposta morte de D. João, este volta a
casa, percebendo-se que afinal não morreu. Este regresso traz consigo muitas
memórias e ainda muito amor por Madalena mas também desilusão por tudo o que
aconteceu.
A música que eu escolhi foi “Im not the only one
[Eu não sou o único]”, de Sam Smith. Ao analisarmos o título, podemos logo
fazer um paralelismo entre a obra em causa e a música escolhida. Na peça, D.
João vem a saber de todos os pecados que D. Madalena cometera pois pensava que
ele estava morto mas, apesar de toda a desilusão, não deixa de sentir ainda
alguma coisa pela sua “viúva”. Ele fica a saber que ela casou com Manuel e é a
ele que ela ama e, por todas as evidências, D. João sabe que não é quem está no
coração de Madalena.
Ao ouvirmos a canção, é-nos muito óbvio o porquê
desta escolha. Os primeiros versos (“You and me we made a vow/ for better or
for worse [tu e eu fizemos um voto para o bem e para o mal]”) remetem-nos logo
para a ideia de casamento. D. João e D. Madalena casaram-se para o bem e para o
mal (“I cant belive you let me down / but the proofs in the way it hurts [“eu
não acredito que me desapontasses mas a prova é a maneira como isto dói]”). Como
ele ama Dona Madalena, ainda não acredita que ela casou com outro homem e não
acredita que o tomou como morto mas diz também que a prova dos pecados todos de
Madalena está na maneira como isso lhe dói. Ele nunca pensou que Madalena fosse
refazer a sua vida com outro homem sem antes ter uma prova da morte do seu
primeiro amor e, como isso o magoou, ele voltou para se vingar.
Apesar de toda a mágoa, toda a revolta e raiva,
João ainda a ama e ainda necessita do da companhia dela e talvez esta seja
outra razão para o facto de ter voltado: apesar de não ter a perfeita noção do
seu amor ou até nem querer voltar a ter sentimentos por Madalena, ele não
consegue evitá-la pois, enquanto casados, ela era a sua vida e não havia uma
paixão tão profunda como aquela. No final da cena I do segundo ato, numa
conversa entre Telmo e Maria, podemos perceber o amor que D. João tinha por D
Madalena: “Aquele aspeto tão triste, aquela expressão de melancolia tão
profunda… aquelas barbas tão negras e cerradas… e aquela mão que descansa na
espada, como quem não tem outro arrimo, nem outro amor nesta vida… / — Pois
tinha, oh! se tinha…”). Isto pode ser representado pelo seguinte verso: “but i
know that i still need you here [mas eu sei que ainda preciso de ti aqui]”.
Também o verso “your heart is unotainable [o teu
coração está inalcançável]” dirige-nos à noção que D João tem acerca de quem
governa agora o coração de Madalena; apesar de que lhe custe admitir, Manuel e
Madalena amam-se, têm uma filha e, portanto, João sabe que nunca irá ter o amor
de Madalena de volta. Afinal, passaram se vinte anos…
Quando um romeiro aparece para falar com
Madalena, ninguém sabe quem ele é. Esse vagabundo falou cara a cara com
Madalena, dizendo-lhe que D. João estava vivo mas não sabia onde. Madalena
aflige-se mas não percebe que esse romeiro é mesmo D. João de Portugal, que
voltou para atormentar a sua vida e de sua filha. Só Jorge, cunhado de
Madalena, é que, no final da cena, percebe quem ele é (“You say im crazy / ‘cause
you dont think i know what you have done [tu dizes que sou louco porque não
pensas que eu sei o que fizeste]”). Como Madalena não sabe onde o antigo esposo
possa estar, ela também nem sequer pensa que ele possa saber de tudo o que ela
fez. Dona Madalena, com esta notícia, percebe que tudo o que criou ainda o fez
enquanto casada com D João. “Minha filha, minha filha, minha filha!... Estou…
estás… perdidas, desonradas… infames!” — Ela não faz ideia onde ele está mas de
uma coisa ela tem a certeza: que, no final, nada vai acabar bem.
Para concluir esta análise, fazendo paralelismos
entre a obra estudada e a canção escolhida, temos o verso do refrão: “but when
you cal me baby / I know I’m not the only one [mas quando me chamas de amor eu
sei que não sou o único]”. Recorda-nos a cena em que D. João está a conversar
com Telmo e, de repente, D. Madalena surge a gritar “esposo, esposo!”. D João
pensa que é para ele, e aqui percebemos que ele ainda não a esqueceu; mas,
quando Madalena expressa o nome do seu atual marido (“meu querido Manuel…”),
toda a raiva e toda a vontade de vingança de acabar com a felicidade daquela
família volta a governar a sua alma e, logo depois, percebe que não há nada a
fazer.
Inês [Suf]
A música “Hell Above”, dos Pierce The Veil,
evidencia alguns dos sentimentos partilhados por D. Madalena de Vilhena quando
se muda para a casa que fora a sua e de D. João de Portugal.
Esta personagem de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, vive sempre num enorme medo
de que o seu ex-marido volte da batalha de Alcácer Quibir e, quando descobre
que terá de ir viver para a sua antiga casa, partilhada com D. João de
Portugal, o seu mundo desaba, pois ela não sabe como é que irá aguentar viver ali.
Na cena oito do ato primeiro, Madalena diz a D. Manuel como se sente ao pensar
em ter de voltar a entrar naquela casa: « tu não sabes a violência, o
constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela
casa».
Na canção, o “eu” poético diz que está farto de
viver na casa onde mora, que tenta acalmar-se e pensar que tudo vai melhorar,
porque sabe que, se for embora, ficará sozinho («I cannot spend another night
in this home [Não posso ficar mais uma noite nesta casa], I close my eyes and
take a breath real slow [Fecho os olhos e respiro fundo], The consequence is if
I leave I'm alone [A consequência é que, se eu me for embora, ficarei
sozinho]»); da mesma forma, D. Madalena sente que não conseguirá ficar naquele
lugar, a casa do seu ex-marido, que ainda lhe aterroriza a alma, mas ela sabe,
tal como o sujeito poético, que não pode sair de lá pois é ali que se encontra
a filha, D. Maria de Noronha, e nunca seria capaz de a abandonar. No verso «As
I run through glass in the street [Enquanto corro no vidro na rua]», «Walking
on broken glass [Andar por cima de vidro partido]» é uma metáfora utilizada para descrever um castigo. Ora, Madalena sente que, ao estar dentro daquela casa, está
a ser castigada por se ter casado com Manuel de Sousa Coutinho, após o
desaparecimento de D. João. D. Madalena sente que o que fez pode não ser
correto, pois o corpo de D. João de Portugal nunca fora encontrado e, portanto,
ele ainda pode estar vivo, e, se tal for verdade, ela estará a traí-lo.
Quando Manuel de Sousa descobre que, na
realidade, D. João de Portugal está vivo e está de volta, sente-se arrependido
por se ter casado com D. Madalena e aceitado o seu amor por ela, quando o seu
marido ainda se encontrava vivo. Por isso, num momento de desespero, e sendo ele
proprio muito cristão, decide que terão de se separar. Tal decisão cria uma
aflição enorme em Madalena, mas, não existindo qualquer outra opção, acaba por
aceitá-la. Quando Maria descobre o que se estava a passar e percebe o que os
pais pretendem fazer, morre, fechando tragicamente o que lhe estava destinad
desde o início.
Bea [Suf (+)]
No drama escrito por Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, existe um permanente
clima de angústia, tensão e obscuridade, pelo que pensei em escolher uma música
com um vocabulário português «pesado». Porém, dei por mim a ouvir a música «Everglow»,
novo hit da banda Coldplay, e a relacioná-la inconscientemente com a peça
tratada em aula. Na letra escrita pela banda Coldplay revejo a maior parte dos
estados de espírito das personagens, desde a profunda tristeza ao extremo
carinho por alguém.
Facilmente se extrapola o significado dos versos
desta música para a história tratada por Garrett. Um dos pontos de toda a peça
que mais toca o leitor, a meu ver, é a relação entre a pequena e «delgadinha»
Maria, filha de Dona Madalena de Vilhena e de D. Manuel Coutinho, e Telmo,
velho aio de D. Madalena de Vilhena e antigo aio de D. João de Portugal. «And
we swore on that night we’d / Be friends until we die [E jurámos naquela noite
que seriamos / Amigos até morrer]». «Like a lion you ran / Goddess you roll /
Like an eagle you circle / Perfect but bold [Como um leão correste / Como uma
deusa continuaste / Como uma águia circulas / Perfeita, mas audaciosa]» será
esta a perfeita ideia que Telmo nos apresenta ter da pequena Maria. Ele
acredita que Maria é mais forte do que toda a gente pensa e que tem um espírito
e uma vida fora do comum («Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora,
está uma senhora…»).
Maria, sofrendo de tuberculose não diagnosticada
como sofre, tem sentidos mais apurados do que outros, nomeadamente a audição,
por isso relaciono o verso «Like an eagle you circle [Como uma águia circulas]»
com a personagem pois as águias são seres com uma visão e audição muito
apuradas: Maria era uma pequena águia («Obrigada, Miranda. É extraordinária
esta criança; vê e ouve em tais distâncias…»).
Telmo é uma personagem que não tem medo de
mostrar o que pensa, mas é claro sempre com o devido respeito pelos seus amos.
Foi o único que não aceitou a morte de D. João de Portugal devido ao seu amor
eterno pelo antigo amo expresso na cena II do primeiro ato. Com este amor eterno
que recusa ser apagado relaciono os versos da canção «And though you might be
gone / And the world may not know / Still I see you celestial [Podes ter ido
embora / E o mundo pode não saber / Ainda assim, eu vejo-te celestial]». Telmo
recusa aceitar que D. João de Portugal morreu na batalha de Alcácer Quibir («Vivo
não veio…inda mal! E morto… a sua alma, a sua figura…”; «Não vos apareceu de
certo»; «Bem sei que não. Queria-vos muito; e a sua primeira visita, como de
razão, seria para minha senhora. Mas não se ia sem aparecer também ao seu aio
velho»).
A peça é marcada pela contínua tristeza de
Madalena, que deixou de viver em paz a partir do momento em que se deslocou
juntamente com a sua família e todos os que viviam na casa de D. Manuel de
Sousa, atual esposo, para o palácio do seu antigo marido, para o tomarem como
propriedade sua. A tristeza e pânico de Madalena são evidentes («Meu esposo,
Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor te peço, pela nossa filha… vamos
seja para onde for, para a cabana de algum pobre pescador desses contornos, mas
para ali não, oh não!...»). Acabando por ir para o castelo de D. João de
Portugal, Madalena fica em estado de permanente tristeza pois pensa que o
espírito do marido a vai assombrar a si e à sua família por ter casado de novo
«So how come things move on? / How come cars don't slow? / When it feels like
the end of my world / When I should but I can’t let you go [Então como podem as
coisas seguir em frente? / Como podem os carros não travar? / Quando parece que
é o fim do meu mundo / Quando devia mas não consigo deixar-te ir]». Este verso
adequa-se a muitas outras partes da peça, nomeadamente ao aparecimento do
romeiro (D. João de Portugal), que faz com que o chão de D. Madalena desabe, e
que, posteriormente, nas cenas VI, VII, VIII, IX, X e XI do terceiro ato, faz
que D. Manuel e D. Madalena se divorciem e Maria sinta que o seu mundo esta a
colapsar. Ambas não sabem como o mundo pode continuar a girar se tudo está a
desmoronar-se. Relaciono também esta quadra com a maneira como Telmo se deve
ter sentido até ao dia equivalente à cena V do terceiro ato, em que o romeiro
revela ser D. João de Portugal, sentimentos de agonia por D. Madalena ter
casado novamente «So how come things move on? [Então como podem as coisas
seguir em frente?]» e Telmo ainda não acreditar na morte de seu amo, não
conseguindo «seguir em frente».
O desfecho da peça é algo súbito e repentino.
Maria tenta juntar seus pais de novo mas acaba por falecer. A origem desta
tragédia foi o regresso de D. João de Portugal. Até aí Madalena tinha já as
suas inseguranças e medos, mas, nesse dia, tudo mudou «But the changing of
winds / and the way waters flow [Mas a mudança da direção do vento / e a
maneira como a agua corre]». Para esta família, o vento mudou de direção, tendo
consequências catastróficas.
Maria era a luz da vida de Madalena e de Telmo,
sendo este “muito seu amigo”. A saudade que esta irá deixar em todos suponho
que seja a maior tristeza que retiramos da peça «The light that you left me
will everglow [A luz que me deixas-te irá para sempre brilhar]».
Carolina
S. [Suf
+]
A música «She [Ela]» foi escrita pelo cantor e
compositor Charles Aznavour, sendo regravada em 1999 por Elvis Costello, constituindo
a banda sonora do filme Notting Hill.
Esta música pode-se relacionar com a peça Frei
Luís de Sousa, de Almeida Garrett, mais especificamente com as suas
personagens masculinas, D. João de Portugal, Manuel de Sousa Coutinho e Telmo.
Manuel de Sousa Coutinho era um nobre
cavalheiro, muito religioso, patriota, um homem corajoso e profundamente
apaixonado por Madalena. Este cavaleiro casa com Madalena devido ao pressuposto
de que D. João de Portugal, anterior marido de Madalena, havia morrido. No
entanto, sofre quando percebe que este amor, segundo as suas crenças, é um
pecado:«be my treasure or / The price I have to pay [pode ser o meu tesouro ou
o preço que tenho que pagar]». Simbolizam estes versos o que Manuel de Sousa
Coutinho sente por Madalena quando descobre o regresso de D. João de Portugal,
que desaparecera na batalha de Alcácer Quibir, onde fora dado como morto.
Madalena era tudo para Manuel («my treasure [o meu tesouro]»); no entanto, como
o seu amor é considerado um pecado, terá de a deixar e, sendo muito religioso,
considerava o seu amor impossível, sendo este “o preço a pagar”(«Oh Madalena,
Madalena! não tenho mais nada que te dizer. Crê-me, que to juro na presença de
Deus: a nossa união, o nosso amor é impossível»).
Telmo tinha um grande amor por Maria pois
cuidara dela desde criança, considerando-a sua filha. Tinham uma grande
cumplicidade e ele chegou a afirmar que a amava mais que os próprios pais («E
daí começou a crescer, a olhar para mim com aqueles olhos… a fazer-me tais
meiguices, e a fazer-se-me um anjo tal de formusura e de bondade, que —
vedes-me aqui agora, que lhe quero mais do que seu pai.»). Na canção existe um
verso que se adequa perfeitamente a este amor de Telmo: «She may be the reason I
survive, / The why and wherefore I'm alive, / The one I'll care for through the
/ Rough and ready years [ela pode ser a razão porque sobrevivo / o porque de
estar vivo / aquela de quem cuidarei pelos anos difíceis que estão para vir]».
«For where she goes I've got to be / The meaning of my life is she [para onde
ela vai eu tenho de estar / o sentido da minha vida é ela]» lembra-nos que, quando Manuel de Sousa
Coutinho teve de viajar para Lisboa com Maria, Madalena pediu que levasse Telmo
para acompanhar Maria pois o aio estaria melhor com ela, assim como ela
necessitaria da sua proteção e dos seus cuidados («Porque… Maria… Maria não
está bem sem ele, e ele também… em estando sem Maria, que é a sua segunda vida,
diz o pobre do velho»).
No ato III, Telmo é confrontado por Jorge com a
possibilidade de D. João estar vivo, como este sempre defendera. Perante esta
hipótese, Telmo pede que tal situação não seja verdade pois o seu amor por
Maria supera o amor que tivera por D. João de Portugal («o filho que eu criei
nestes braços... vou saber novas certas dele, no fim de vinte anos de o
julgarem todos perdido; e eu, eu que sempre esperei, que sempre suspirei pela
sua vinda... — era um milagre que eu esperava sem o crer! — Eu agora tremo... É
que o amor desta outra filha, desta última filha, é maior, e venceu... venceu,
apagou o outro»). Quando Telmo se encontrou com D. João, este pede-lhe para
mentir, e assim Telmo revela-lhe que assim como amou e criou D. João como
filho, ama agora Maria («que há aqui um anjo… Uma outra filha minha , senhor ,
que eu também criei…»).
D. João amava muito Madalena, nunca a esquecera
desde que partira para a batalha de Alcácer Quibir «She may be the face I can't
forget [ela pode ser a cara que eu não esqueço]». Volta, como Romeiro, no ato
III, vinte anos após ter partido, na esperança de encontrar de novo Madalena.
Ao saber que esta casara de novo, pretende vingança e volta para tornar
pecaminoso o seu amor por Manuel. Quando descobre que ela estivera durante sete
anos em busca dele («é verdade que por toda a parte me procuraram, que por toda
a parte… ela mandou mensageiros, dinheiro?»), arrepende-se de voltar («A trace
of pleasure or regret [um vestígio de prazer ou arrependimento]») e, para
remediar o que fizera, manda Telmo dizer que o Romeiro é um impostor («vai
dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desaparece, que ninguém mais
houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro imbuste de inimigos de…dos
inimigos desse homem que ela ama…») . Esta é a forma que D. João encontrou para
mostrar o seu amor por Madalena, quando diz que ela merecia ser feliz mesmo com
Manuel de Sousa Coutinho («e que sossegue, que seja feliz») e também quando se
arrependeu de voltar, declarando o amor que teve e, no fundo, que sempre vai
ter, por Madalena («Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel. E para quê?
D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua
mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava… — oh , Telmo, Telmo com
que amor a amava eu! — sua mulher que ele já não pode amar sem desonra e
vergonha!... Na hora em que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri.»).
Esta fala de D. João pode-se conjugar com o seguinte verso da música: «She may
be the love that cannot hope to last, / May come to me from shadows of the
past, / That I'll remember till the day I die [ela pode ser o amor que não se
espera durar, / pode vir a mim pelas sombras do passado / que eu vou lembrar
até ao dia que morrer]».
Joãozão [Suf]
A canção “Mais um dia”, de José Cid, adequa-se
ao desfecho desta peça pois tudo o que D. Madalena pedia a Manuel de Sousa
Coutinho era mais uma palavra, mais um tempo para estar com o homem que amava:
“Madalena — Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousa!”
“Guardar num cofre, o segredo que há em nós” diz
a canção. Ora tudo o que D. Madalena desejava era poder viver a sua vida com o
homem que amava, mas, mesmo passados vários anos do desaparecimento de D. João,
ela ainda o tinha com pavor no seu pensamento, com receio de que ele voltasse (“Oh!
Que não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo,
estes contínuos terrores…”). Telmo, que fora o seu aio fiel e que sempre
acreditara que D. João estava vivo, guardava o amor do seu senhor no coração e,
apesar de todas as provas que fizessem querer que D. João não se encontrava
vivo, sempre acreditara na sua sobrevivência (“Madalena — […] o aio fiel de meu
senhor D. João de Portugal, que Deus tenha em glória?”/“ Telmo — Terá…”).
O verso “Não, não vou esconder esta emoção, e
vou abrir o meu coração” recorda-nos que, após uma longa espera e várias
tentativas para encontrar D. João, D. Madalena voltou a casar, desta vez com outro
homem, Manuel de Sousa Coutinho, que começara a amar durante o seu casamento
com D. João. “Eu/não sei explicar o que senti / Como na primeira vez, encontrei
o teu olhar / Nessa magia me perdi” poderia exprimir os sentimentos de D.
Madalena quando se apaixonou por Manuel de Sousa Coutinho. No entanto, esta
nova união começara por não ser bem aceite por Telmo que se mantinha leal a D.
João (“uma donzela honesta e digna de melhor… de melhor…”/“Madalena — melhor
quê?” “Telmo — De nascer em melhor estado…”).
Mais um dia era tudo o que D. Madalena, Manuel
de Sousa Coutinho e Maria queriam em família, mas a chegada de D. João como
romeiro veio impedir todos os desejos de uma vida cheia de amor e felicidade. Apesar
de D. Madalena não ter tido conhecimento de que o romeiro era de facto D. João,
bastou a Jorge, irmão de Manuel, e a este mesmo terem o conhecimento desse
facto, para que o casamento entre D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho tivesse
de ser dissolvido, já que o esposo morto de D. Madalena estava vivo e voltara a
casa.
Isabela [Suf]
Com a música “Beneath The Skin [Debaixo da pele]”,
lançada em 2014, no álbum Unconditional, pela banda Memphis May Fire, podemos relacionar os
sentimentos vividos pela personagem Dona Madalena de Vilhena, na obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
Logo os primeiros versos da
música, ”Another day she sets foot in this prison / Dreading what they'll say [Outro
dia, ela põe os pés nesta prisão / Temendo o que eles lhe vão dizer]”, os podemos
comparar com a Cena VII, onde D. Manuel Sousa Coutinho regressa a sua casa
parecendo inquieto, anunciando que iriam para a casa de D. João de Portugal, o que
levou a que Dona Madalena ficasse aflita (“Aquela casa… eu não tenho ânimo”), permanecendo
assim até à cena seguinte, quando Madalena teme os seus próprios pensamentos (“Mas
tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso
em ter de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele, que é
tirar-me dos teus braços, que vou encontrar ali…“).
Madalena vive com constantes
premonições trágicas, mantidas por Telmo, de que D. João de Portugal está vivo,
o que a aterroriza, deixando-a com medo de que essa memória lhe possa arruinar
a vida presente (”No one knows all the weight that she holds when she feels
alone / The memories, they haunt her / No one sees all the pain she brings /
Everywhere she goes [Ninguém sabe todo o peso que ela suporta quando se sente
sozinha / As memórias, elas assombram-na / Ninguém vê toda a dor que ela
carrega / Por todos os lugares por onde passa]”).
Já no palácio de D. João de
Portugal, no Ato Segundo, Cena I, Maria segreda a Telmo que a sua mãe ainda não
conseguiu superar os acontecimentos vividos minutos antes de abandonar sua casa
(“Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que
dorme com sossego. […] À minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos;
vai a fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a
rodear-lhe a casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal…”),
podendo encontrar-se analogia com o verso da música “She dreams of a day when
she won't have to cry herself to sleep [Ela sonha com um dia em que não terá de
chorar até dormir]”).
Madalena deseja para sua
família paz, sabendo que não quer viver com essas memórias a assombrá-la: “She
knows this is not who she wants to be [Ela sabe que isso não é o que ela quer
ser]”.
Gonçalo [Suf -]
A canção “Room to breathe”, da banda britânica
You Me At Six, que tem como género musical preferencial o pop-rock, permite-me
lembrar o Frei Luís de Sousa. “Room
to breathe [espaço para respirar]” é uma canção que está relacionada com toda a
história da peça, mas só o título da canção nos faz logo pensar como Madalena,
apesar de viver em felicidade com o homem que ama, não consegue respirar pois,
desde o momento em que se casou com Manuel de Sousa, ficou com receio de que D.
João de Portugal estivesse vivo (pois seu corpo nunca fora encontrado) e
voltasse.
Durante a peça toda, durante o diálogo de cada
personagem, nesta tragédia romântica, somos capazes de ver a utilização de uma
racionalidade estratégica. Logo no primeiro ato, quando Manuel de Sousa
incendeia a sua casa e foge com os seus entes queridos de um mal iminente, se
vê que se tratou de uma ação em que houve pouco tempo para pensar nos prós e
contras. Manuel tomou a sua decisão para o bem da sua família mas, se tivesse
mais tempo, se calhar poderia ter pensado numa estratégia melhor. Tudo isto vai
ao encontro da música e aos sentimentos que ela nos transmite.”When all i need
is to be set free / I need a little time to think [quando tudo o que preciso é
ser libertado / eu preciso de um pouco de tempo para pensar]” são versos que
são ditos pelo vocalista Josh Franceshi e que, na minha opinião, se enquadram
perfeitamente com o texto de Almeida Garrett.
“I’ve been through and seen a lot / left at the
bottom and the top [já passei e vi muita coisa / deixado no fundo e no cimo]” remete-me
para a história de D. João de Portugal. Apesar de ser uma personagem que
aparece menos no palco do que as outras personagens, ele é constantemente
falado, seja positivamente, pelo querido Telmo que o criou, como negativamente,
pelas personagens que o veem como uma ameaça. Durante a cena V do terceiro ato,
D.João de Portugal fala com Telmo sobre o que ele passara durante a sua
ausência, transmitindo-lhe o seguinte: «vinte anos de cativeiro e miséria, de
saudades, de ânsias que por aqui passaram”, “e por tão longe eu morrera! Mas não
quis deus assim”. Como nós todos podemos ver, estas palavras são de um homem
que passou por muito, que sofreu com vários problemas ao longo da vida, mas
que, como é óbvio, não teve só momentos maus, de tristeza, também teve momentos
bons e de felicidade junto com Madalena, em que esteve no «cimo», como se diz
na canção.
João R. [Suf]
O assunto no Frei
Luís de Sousa de que quero tratar é a relação de D. Madalena de Vilhena com
o seu primeiro marido, D. João de Portugal, e com o seu segundo marido, Manuel
de Sousa Coutinho. A melhor música que encontrei para associar estes dois
relacionamentos de Madalena foi “I Found [Eu Encontrei]”, de Amber Run, do
álbum 5AM, saído no ano de 2015.
Como sabemos, na peça garretiana, Madalena de
Vilhena casou muito nova com D. João de Portugal, pois já estava comprometida a
partilhar a sua vida com ele, ainda que não o amasse mas porque no século XVI
as famílias combinavam os casamentos. Existe um paralelo entre o estado de
espírito de Madalena e a música ”I Found”, quando podemos relacionar os versos
“I’ll use you as a warning sign / That if you talk enough sense then you’ll
lose your mind”, que, traduzido, significa “Eu vou usá-lo como um sinal de perigo
/ que se falares de algum juízo, então vais perder a cabeça”, com a sua opinião
em relação a D. João pois Madalena não o ama, usa-o como um sinal de perigo
para não se aproximar dele e também afirma que a sua mente não está bem, se
disser que o ama, pois o coração diz o contrário. Também os versos ”I’ve moved
futher than I thought I could / But I miss you more than I thought I would [Eu
segui em frente, mais do que eu pensei que conseguia / Mas eu sinto a tua falta,
mais do que eu pensei que iria sentir]” nos remetem para quando D. João parte
para a batalha de Alcácer Quibir e é julgado morto ─
então, Madalena, passados sete anos, casa-se outra vez, com Manuel de Sousa
Coutinho; contudo vive numa aflição e numa agonia insuportáveis, pois teme que
o seu primeiro marido esteja vivo. Por isso, a alusão que faço ao último verso
referido.
Relativamente ao verdadeiro amor de Madalena,
temos a associação aos versos “I’ve found love where it wasn’t supposed to be /
right in front of me / talk some sense to me [Eu encontrei amor onde não era
suposto estar / mesmo à minha frente / traz algum juízo para mim]”, porque D.
Madalena encontrou o seu verdadeiro amor, enquanto estava casada com D. João, o
que faz sentido com a parte do “não era suposto estar”, que acabou por ser
Manuel de Sousa Coutinho, com quem depois casara e tivera uma filha. Depois de
várias observações, conclui-se que houve dois relacionamentos que D. Madalena
teve ao longo da sua vida, que, quase podemos dizê-lo, foram opostos um ao
outro.
Sofia [Suf]
A música que achei que se enquadraria melhor com
o enredo de Frei Luís de Sousa foi
“Dizer que não”, do artista Dengaz.
A canção retrata um apaixonado que tenta
resistir ao sentimento e à paixão que sente por outra pessoa. Porém, deixa-se vencer
pelas emoções que sente (“Eu queria dizer que não, mas estou contigo, eu queria
dizer que não, mas não consigo”). É um amor que, pelas palavras do sujeito
poético, “só vale a pena se for de verdade”. Por isso, será preciso que haja um
sentimento mútuo e uma vontade para que tudo dê certo. Como em todas as paixões,
existem momentos que põem à prova o casal (“O que valia um obrigado, agora é
obrigação”) e é nessas alturas que ambos têm de demonstrar que a ligação que os
une é muito superior a todas as coisas más que os poderiam separar (“Venha o
que vier a nossa história não acaba aqui”). No final, acabam por reconhecer que
o amor fala mais alto que tudo o resto e que nada os vai separar: “Não nasci
para ficar sem ti, mas só para nós é que isso faz sentido”.
Frei Luís
de Sousa
baseia-se um pouco neste tipo de amor, pois D. Madalena sempre sentiu uma atração
por Manuel Coutinho – actual marido- antes do desaparecimento do seu marido na
época – D. João de Portugal. Esse sentimento tinha de ser mantido em segredo
pois devia lealdade para com o seu marido, porém sentia que essa mesma lealdade
já tinha sido quebrada porque há muito que o traíra no pensamento. Após o
desaparecimento de D. João de Portugal, passados sete anos, Madalena deixou de
resistir ao amor e casou com Manuel Coutinho, o que se associa à letra da canção.
Apesar de se tratar de épocas diferentes assim
como de contextos, tanto a letra da canção como a tragédia Frei Luís de Sousa partilham um sentimento que está sempre presente
nas nossas vidas e que chega a tornar-se banal devido à elevada frequência com
que são feitos trabalhos baseados no amor. Passe o tempo que passar, nunca
iremos deixar de ver casais apaixonados mas também casais que passam por
situações difíceis que servem para provar a capacidade de ultrapassar
problemas. Esses problemas são ultrapassados mais facilmente com a ajuda
exterior, que na maioria dos casos, se trata dos exemplos dados pelas outras pessoas.
Muitas vezes nos compreendemos através dos outros e, assim, com os exemplos —não
só das canções mas também dos filmes e dos livros —, sentimos que não somos só
nós a passar pela mesma situação. Daí ser tão necessária a partilha de ideias.
Catarina
F. [Suf
(-)]
Analisando a letra da canção de Agir
“Como ela é bela”, encontramos algum paralelismo com a cena VI do ato terceiro
de Frei Luís de Sousa, em termos de
sentimentos e emoções.
D. João de Portugal, primeiro marido
de D. Madalena, sobrevivente de Alcácer Quibir mas julgado morto pela sua
mulher e família, exceto por Telmo que sempre acreditara que o seu amo estava
vivo, volta, na cena XIV e XV do ato segundo, como um peregrino que transporta
uma mensagem de D. João de Portugal. Tal aparecimento perturba a paz de
Madalena e Manuel. Maria é vista nestas últimas cenas como a filha do pecado, pois
é fruto de um casamento proibido, segundo a igreja, devido ao regresso de D.
João de Portugal.
Mais tarde, na cena V do ato
segundo, D. João de Portugal, ao saber que Madalena casara de novo e que desse
casamento nascera uma filha, fica desolado (“Fiquei a saber que uma carta não
chega / Há muito mais a dizer / Pois quem não sente esquece”), ao perceber que
perdera D. Madalena para D. Manuel de Sousa Coutinho. D. João sentira-se traído
pois pensara que sua mulher o tinha esquecido (“na hora em que ela acreditou na
minha morte, nessa hora eu morri”).
Posteriormente, no mesmo ato mas na
cena seguinte, Telmo e D. João de Portugal foram interpelados com o bater
desesperado de D. Madalena no portão (“Esposo, esposo, abri-me, por quem sois!“).
D. João pensa que tal chamamento de desespero era a si dirigido, até perceber
que Madalena está a chamar o segundo marido (“meu marido, meu amor, meu
Manuel”).
Naquele momento, D. João sentira-se
de tal modo angustiado que o enfatiza (“o que é dito, é dito”), mostrando assim
a determinação para esquecer D. Madalena (“Eu só espero que sejas feliz / Já
que te levaram de mim”). Apesar da cólera que estava a sentir, prefere virar as
costas e deixar Madalena ter a vida que construíra ao lado de Manuel.
D. João de Portugal despede-se de
Telmo e vai-se embora, deixando Madalena ainda em desespero, pois ninguém se
dignava a responder. D. João parte, com um pensamento que permanece na sua
mente (“E eu só espero que sejas feliz / E que um dia ainda voltes pra mim”).
Pedira a Telmo que desmentisse tudo a Madalena para que nada mudasse na sua
vida, mas o que D. João não sabia é que já era tarde. Manuel estava decidido a
abdicar da vida secular e, de seguida, também Madalena o faria, abandonando ambos
Maria, que, na última cena, falece nos braços de seus pais.
Maria
Madalena
[Bom -]
Para estabelecer um paralelo entre Frei Luís de Sousa e uma música, escolhi
a canção “Knockin’ On Heaven’s Door”, dos Guns N’ Roses, de 1976. A partir
desta música vamos conseguir estabelecer um paralelismo com os
sentimentos de Madalena e Maria.
Frei Luís de Sousa é uma obra dramática em que se
reconhecem várias fases: hybris, clímax, anagnórise,pathos e anankê. Destas fases vou apenas tratar do pathos.
Pathos é uma palavra grega que significa ‘sofrimento’.
Todas as personagens, cada uma à sua maneira, estão relacionadas com o
sofrimento — ou à espera do amo que desapareceu há vinte e um anos e nunca mais
regressou (Telmo), ou a viver com o medo de D. João de Portugal regressar (D
.Madalena). O sofrimento que a minha música ilustra é o de Maria no Ato III,
cena XI.
Maria, filha de D. Madalena de Vilhena e de
Manuel de Sousa Coutinho, sofre, tanto física como psicologicamente. Maria não
só sofre de tuberculose, já numa fase avançada da doença, como sofre por não
ter resposta às suas intuições e porque se vê numa grave situação tanto a nível
social como ao nível de honra. Maria entra em sofrimento, em desespero, quando
se apercebe de que os pais vão entrar na vida religiosa, devido ao regresso do
primeiro marido de D. Madalena. Com esta situação, Maria implora a seus pais
que mintam para ela não viver na desonra. Os versos “Mama, take this badge from
me I can't use it anymore / Mama, put my guns to the ground I can't shoot them
anymore [Mamã, tira este distintivo de mim não o consigo usar mais / Mamã, põe
as minhas armas no chão, eu não consigo usá‐las mais]” estabelecem uma relação com as
falas de Maria “Não sou; dize meu pai, não sou... dize a essa gente que não sou...
/ Pois dize agora para salvar a honra de tua filha, para que lhe não tirem o
nome de seu pai”. Quando Maria pede a seus pais para mentirem, está a redimir‐se pois uma das características que define Maria
é o facto de ser bastante perspicaz e corajosa (contrastando isso com as suas
características físicas — era frágil e sensível). Ao pedir aos seus ajuda para não ser desonrada, Maria rebaixa‐se e percebe que já não consegue lidar com a situação. Embora esta analogia seja possível, admito que
não seja a mais óbvia.
Outra relação entre a música dos Guns N’ Roses e Frei Luís de Sousa é o refrão “Knock,
knock, knocking on heaven’s door [Bate,bate,bate nas portas do céu]”. Embora
pequeno e repetitivo, o refrão traduz o que Maria sente no final do Ato III. Maria
já está a morrer por ter tuberculose; no entanto, o facto de ver os seus pais
serem separados de si faz com que ela própria já não tenha vontade de viver (“Mate‐me ,mate‐me, se quer, mas deixe‐me pai e esta mãe que são meus”). Maria, ao fazer o seu discurso final, já na cena XII, está a tocar
às portas da morte: ao ouvir as palavras do romeiro (D. João de Portugal), sente
que já não consegue viver e morre.
Madalena [Bom (+)]
Podemos ouvir bastantes vezes a alusão a algo que nos lembra um
sentimento de dor e de mágoa, deixado por alguém que o sujeito poético assumido
pelo cantor realmente amava — “Ainda há vidros pelo chão / De quem partiu sem dizer
porquê / Ainda hoje não sei / Se foi o bem, se foi o mal” —, mais ou
menos como aconteceu com Madalena de Vilhena, embora ela não amasse realmente
D. João de Portugal e até tivesse algum receio de que o primeiro marido pudesse
voltar a qualquer momento (“Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o
estado em que eu vivo. Este medo, estes contínuos terrores…”).
A canção interpretada por Agir tem como refrão “Ai se eu tivesse uma bola de cristal / Eu iria ver o que és afinal /
Será que é verdade ou é mentira”, que logo associamos ao momento em que o
romeiro, D. João de Portugal, fala com Telmo e vem a descobrir que Madalena o
procurara durante sete longos anos, sem nunca deixar que desistissem de o
fazer, até que ela própria acabara por desistir — “É verdade que por toda a
parte me procuraram, que por toda a parte... Ela mandou mensageiros,
dinheiro?”. Este é um momento bastante dramático no enredo e até acaba por ser
um ponto de reviravolta, pois, após a conversa entre D. João, que fingia ser
apenas um simples romeiro, e D. Madalena, esperava-se que João de Portugal
revelasse a sua verdadeira identidade à sua amada, o que acaba por não
acontecer. Mais tarde, isso acontecerá de novo, agora devido ao sentimento de
culpa que se apoderou de D. João, por ter vindo interferir com a vida de
Madalena, passados vinte e um anos em que estivera desaparecido. Com tudo isto,
D. João de Portugal ordena ao seu velho e fiel aio que convença toda a gente de
que o romeiro era um mentiroso e um impostor, enviado por inimigos de D.
Manuel, para tirar a estabilidade que havia naquela nova família de Madalena:
“Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que
ninguém mais houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de
inimigos, de inimigos desse homem que ela ama.”.
Se atentarmos na letra da canção, percebemos que a
situação de D. João de Portugal é bastante semelhante à situação que o sujeito
poético da canção nos relata. Quando ouvimos “Hoje senti a tua falta / Hoje
queria a tua mão”, lembramo-nos logo do amor incondicional que D. João sente
por Madalena, mesmo passados tantos anos sem ter notícias dela. Os dois versos
seguintes remetem-nos para o momento em que sabemos que Madalena desiste de o
procurar e como D. João reage (“Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel.
E para quê? D. João de Portugal morreu no dia em que a sua mulher disse que ele
morrera.”), pois podemos associar o verso “Tu fizeste as malas” à desistência
de Madalena, em relação à procura de seu marido, sete anos depois da batalha de
Alcácer Quibir, na medida em que D. João sente que foi abandonado pela mulher
que amava, assim que esta acredita na sua morte. As memórias de João de
Portugal também não partiram, como diz o «eu» da canção de Agir (“Só que as
memórias, não”), e podemos comprovar isso com a felicidade e o entusiasmo
demonstrados pelo mesmo, quando Madalena diz “Esposo, esposo, abri-me, por quem
sois! Bem sei que aqui estais! Abri!”, pensando ele que D. Madalena chamava por
si, enquanto que, na verdade, chamava por Manuel. Esta felicidade por parte de
D. João mostra-nos que continua apaixonado por Madalena e que nem o tempo que
estiveram separados fez com que isso mudasse, porque as memórias que o falso
romeiro tinha da honrada dama sempre permaneceram na sua mente: “Ah! E eu tão
cego que já tomava para mim!”.
Tiago [Suficiente (+)]
Considero que a música “Contentores”, escrita e
cantada pelo grupo Xutos e Pontapés, do seu álbum Circo de Feras, de 1987, se relaciona bastante com a tragédia de
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa
pois, na canção, percebemos que o “eu” vai deixar o seu grande amor para ir
para outro mundo mundo, como fez Madalena com D. João de Portugal, deixando-o
para ficar com Manuel de Sousa Coutinho.
Após ter procurado D. João de Portugal durante
sete longos anos, passados em buscas exaustivas, Madalena perde todas as suas
esperanças e foi obrigada, para seu próprio bem, a pensar que o seu marido
estava morto. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho e ambos têm uma filha,
Maria. Maria tem tuberculose.
Na letra da canção, os versos “A carga pronta
metida nos contentores / Adeus aos meus amores que me vou / P’ra outro mundo /
É uma escolha que se faz / O passado foi lá atrás” podem associar-se ao facto
de que, apesar de Madalena ter feito de tudo para tentar encontrar D. João de
Portugal, não conseguiu logo «seguir em frente» pois já é parte do passado.
Madalena despede-se “dos amores”, que podemos relacionar com D. João de
Portugal, pois, antes de Manuel, era ele o seu esposo, e e vai para “outro
mundo”, que podemos relacionar com Manuel de Sousa Coutinho: começa uma vida
nova, ao casar-se com ele e ao terem Maria. Também conseguimos relacionar com
os versos “De novo Adão e Eva a renascer” e “Voltar a zero num planeta
distante” a vida de Madalena, que recomeça após encontrar Manuel de Sousa
Coutinho pela primeira vez e ter tido uma filha com ele. Mas essa vida acaba
quando se dá notícia de que D. João de Portugal ainda está vivo, trazida pelo
Romeiro (que, mais tarde, se descobre ser o próprio D. João).
Por fim, na última parte da canção dos Xutos, o
sujeito poético diz que é preciso ter fé (“Um pouco de fé”), tal como Madalena
e Manuel devem ter fé na sua relação e como Maria tem na relação dos pais.
Madalena e Manuel também têm de ter fé na saúde da sua filha, que acabará por
morrer, o que coincide com o desgosto de ver D. João de Portugal na igreja.
Esta canção até podia ser escrita por Madalena,
se esta deixasse de pensar no passado e começasse a pensar mais no seu futuro
com outra pessoa, noutro mundo. Não deixaria de ficar abalada com a sua perda
mas «iria em frente» e começaria do zero, começaria outra memória e teria fé em
que poderia ser tudo melhor.
Filipe [Suficiente (+)]
Analisando a letra da canção de José Cid “Vem
viver a vida amor” (1973), podemos fazer várias analogias entre certos
acontecimentos de Frei Luís de Sousa
e alguns versos da canção.
Focando-nos na obra Frei Luís de Sousa, Madalena é uma personagem que vive muito
agarrada ao passado e que ainda se sente traumatizada pela eventual morte do
seu primeiro marido, D. João de Portugal, na Batalha de Alcácer Quibir. Todo
este mistério dado o seu desaparecimento faz criar a angústia em Madalena,
levando-a pensar se o seu casamento com Manuel de Sousa faz mesmo sentido.
Se olharmos para algumas partes da música,
«Daqui a vinte anos» e «Vinte anos mais tarde» dão uma sensação de
acontecimentos que surgem periodicamente pela ação do destino com data/anos bem
definidos. Em relação à obra,podemos encontrar no ato primeiro da cena II a
fala de Madalena «como respeitei a sua memória, como durante sete anos», «a que
se apega esta credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e um anos?».
Nesta fala, em comparação com a canção, estabelece-se um pouco esta realidade
do poder do destino, que levaria a que em datas/anos com intervalos bem
estabelecidos acontecesse algo de fenomenal, como, por exemplo, o
desaparecimento e o aparecimento de D. João de Portugal, na sexta-feira, dia
13.
O título da canção, “Vem viver a vida amor”,
podemos associá-lo a um possível título de uma canção feita por D. João de
Portugal dedicada a Madalena e com esperanças de voltar para ela, depois
daqueles anos todos em que estivera desaparecido. Esta canção poderia ser a
demonstração do amor que ele sentia por ela e de que, apesar dos inúmeros
obstáculos que ocorreram nas vidas de ambos, ele finalmente estava ali para
ela. «Vem viver a vida amor» poderia ser uma forma de começo de uma vida nova
entre ambos, agora sem problemas de guerras, nem batalhas, mas sim para
aproveitarem a vida ao máximo.
Voltando agora à obra, podemos verificar que o
Romeiro foi a personagem que mais sofreu na história. Ele, que sempre lutou
pelo seu país e sempre foi um honrado português, submeteu a sua vida ao risco
para proteger a nação contra os outros povos, sendo sempre fiel ao seu rei. Com
o seu aparecimento, vimos que não foi acolhido com agrado, nem mesmo o seu
próprio escudeiro, Telmo, o reconhecia, dando assim a sensação de que ele
estava a mais, mesmo estando na sua própria casa. Apesar disto tudo, o Romeiro
tem esperanças de que Madalena volte para ele, o que podemos confirmar com
elementos textuais: «É ela que me chama! Santo Deus! Madalena que chama por
mim», «Pois por quem? Não lhes ouves gritar “esposo, esposo”», «Que encanto,
que sedução! Como lhe ei de resistir!?»
Sendo assim, podemos encontrar algum paralelismo
entre a canção de José Cid com a personagem de Madalena e do Romeiro na obra de
Frei Luís de Sousa, que, de um modo
geral, realça um pouco o destino e, neste caso, o “Vem viver a vida amor” como
uma forma de oportunidade que o Romeiro tem para com a sua ex-mulher de voltar
a viver a sua vida como dantes.
Bruno [Suficiente -]
Ao analisarmos a letra da música “New Divide”, por
Linkin Park que está inserido no álbum do filme Transformers: Revenge of the Fallen, podemos fazer um paralelismo de
alguns versos para situações ou até mesmo estados de espírito de algumas
personagens de Frei Luís de Sousa.
Madalena, esposa de Manuel de Sousa Coutinho,
antes viúva de D. João de Portugal, vive um casamento que está a ser
atormentado pelo “fantasma” de seu marido. Casou, passados sete anos do
desaparecimento de D. João de Portugal, podendo dizer-se que, depois da aceitação da morte de seu
antigo marido,”incrédulo a tantas provas e testemunhos da sua morte”, conseguiu
seguir em frente.
“Give me a reason to fill this hole (dá-me uma razão
para preencher este buraco)” é um verso que assenta a Madalena que nem uma
luva, pois a mesma, depois da morte do ex marido, só depois de várias buscas
que apontaram para que o mesmo estivesse morto, é que casou com outro homem.
Telmo, aio da família Coutinho, depois de o ter
sido de D. João de Portugal, não acredita que o “filho seu” esteja realmente morto.Telmo
manifesta esse sentimento múltiplas vezes durante a peça, como, por exemplo,
com o “terá” na cena ll do primeiro ato, ao conversar com Madalena, Telmo é
muito cético quanto à morte e, por isso, associamo-lo ao verso “give me a
reason to prove me wrong [dá-me uma razão para provar que estou errado]”. Só iria
acreditar se visse o corpo de seu antigo amo.
Manuel, marido de Madalena, casou-se com ela depois
de não haver sinal de vida de D. João, tendo agora uma filha, que mais tarde iremos descobrir que é uma “filha do pecado”, depois
do aparecimento do romeiro (D. João de Portugal). Manuel, mesmo admirando D. João
pelo português que o mesmo fora, nunca lhe perdoará a destruição completa de
sua família e casamento e, no entanto, compreende-o e entrega-se à fé.
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