Instruções para tarefa de gravação com poesia trovadoresca
Que me será enviado? O resultado final do trabalho será um ficheiro de vídeo, ou de
áudio mas com uma imagem fixa (que, no fundo, o torna num ficheiro vídeo — MP4, WMV
ou equivalente), que incluirá a leitura em voz alta de um texto escrito pelo aluno. Este texto integrará uma parte, pelo
menos, de uma cantiga trovadoresca (de um dos três géneros que
estudámos), que escolherão em CantigasMedievais Galego-Portuguesas (não devem escolher cantiga que tenhamos estudado em aula; se puderem, evitem também a cantiga «Ai ondas que eu vim veer», de Martim Codax, porque já tenho alguns trabalhos que a usam). O texto que lerão terá, portanto, um momento em
que se reproduzirá uma parte de cantiga (ou toda, mesmo, se a cantiga não for
das mais extensas ou complicadas) mas será sobretudo de criação vossa
(narrativo, poético, expositivo, etc.). Deve haver ainda um breve momento em
que se fará algum comentário acerca da cantiga.
Esta tarefa pretende avaliar a expressão oral (a leitura em voz alta), a
escrita (na redação do texto, mesmo que eu o vá ouvir apenas), a criatividade (na
parte de imagem ou imagens; na própria realização em termos técnicos), o
domínio desta matéria da poesia galego-portuguesa (mais revelado discretamente, por não haver incorreções, do que exibido).
Quais são as características do
ficheiro? Será um ficheiro MP4, VMW ou equivalente (não será, portanto, um PowerPoint). Deve ter,
no mínimo, dois minutos e meio e, no máximo, três minutos e tal (o tempo máximo
é mais flexível). O texto lido deve ocupar quase todo este tempo. Embora
o formato final seja um ficheiro de vídeo, é perfeitamente aceitável que esse ficheiro resulte de um ficheiro áudio com uma única imagem fixa (que o tornasse num ficheiro
vídeo), como sucede no meu exemplo em baixo. Também é possível usar um
verdadeiro filme (mas sempre da vossa lavra).
Como se fará o envio? Enviarão o ficheiro para luisprista@netcabo.pt
(se eu não agradecer — num prazo de um dia, no máximo —, é que nada recebi e
terá havido algum lapso no envio). No mail em que venha, em anexo, o ficheiro, indicarão
o nome do trovador, o primeiro verso da cantiga e o link do site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas específico da cantiga em causa.
Não quero que sejam os alunos a alojar o vídeo em alguma plataforma.
Serei eu quem o publicará, sem possibilidade de comentários (no blogue, farei eu
depois um comentário e a avaliação). Dava-me jeito que o nome do ficheiro que
me enviassem seguisse este modelo: Poesia
trovadoresca por Fulano do 10.º 0.ª (em que Fulano será o nome por que são conhecidos em aula e 0.ª será o
número efetivo da vossa turma).
Vejam bem se o ficheiro que me enviam é ficheiro de MP4, WMV ou equivalente. É comum chegarem-me ficheiros que são ainda projetos do MovieMaker, WLMP, que
não servem, já que só são visíveis no computador em que estão feitos — é
preciso concluí-los e é esse ficheiro que me devem enviar.
Prazo para envio Até 6 de dezembro [entretanto, este prazo foi alargado até dia 8] (para as turmas 2.ª, 3.ª, 5.ª) ou até 8 de dezembro (turmas 4.ª e 9.ª), mas podem fazê-lo logo que tenham
o trabalho concluído (para mim, é vantajoso ir lançando os trabalhos a pouco e
pouco). Quem ache que se vai confrontar com aquelas confusões de última hora que
alguns costumam alegar — incompatibilidade de programas informáticos, avaria no
computador com perda de tudo o que já estava feito, incêndio em casa, terramoto
no bairro, destruição do universo — que vá apontando para uns dias antes, para poder
superar as supracitadas calamidades.
Exemplos Em baixo, está uma tentativa minha, em que adotei o estilo visual mais
simples: imagem única. Em aula, vimos uma paródia a «Ai, dona fea, fostes-vos queixar», por
alunos brasileiros, que tinha algumas características do que se pretende (mas
não cumpria tudo; por exemplo, a situação implicava mais do que um ator). Alguns dos
trabalhos com poemas de Fernando Pessoa feitos em anos anteriores por colegas
vossos do 12.º ano (há quatro anos: 1.ª, 3.ª, 4.ª, 6.ª; o ano passado: 1.ª,
5.ª, 7.ª, 8.ª) tinham regras com algumas semelhanças com as deste — mas havia diferenças também (é-lhes talvez mais útil relancearem os meus comentários a alguns desses trabalhos do que ver os vídeos).
Mais uns conselhos
Conselhos quanto ao uso do site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas Para se ter o índice das cantigas, pode clicar-se em http://cantigas.fcsh.unl.pt/listacantigas.asp. As cantigas estão arrrumadas por letra
inicial (não vejam só as dos AA!; cliquem nas outras letras também). Depois,
vão clicando no título (isto é, o v. 1) das cantigas.
Acede-se à explicação das palavras mais difíceis nas cantigas através
das anotações marcadas nos versos (clicáveis).
No caso de cantigas com versões musicadas, é útil ouvi-las, porque podem
algumas expressões e pronúncias ficarem dilucidadas. Nestas versões, porém,
usa-se, por vezes, uma pronúncia mais fiel ao original, o que não me parece
devam imitar (também eu, na leitura em baixo, não procurei imitar o som do português medieval).
Na página do site relativa a cada cantiga há sempre, em baixo, um
comentário que nos ajuda a perceber o contexto e a apreciar o poema em
termos literários. Esse comentário é útil para o curto parágrafo de reflexão
literária que o vosso texto terá de ter. Note-se, porém, que devem usar
palavras vossas e, se for caso disso, não deixar de referir que se fundaram nessa
síntese.
Para imprimir as cantigas — se acharem útil ter o texto em papel — há
link específico (à esquerda).
Conselhos acerca do vosso texto O vosso texto pode ser de qualquer género. O meu exemplo é narrativo, de
tipo autobiográfico, mas poderão fazer textos narrativos de outra índole, ficcionados, descritivos, poéticos, conversacionais, até
expositivos (só não aconselho uma abordagem de explicação literária ou
comentário focado só no texto medieval: não se pretende uma abordagem
ensaística, académica, preocupada em exibir conhecimentos da «matéria», mas um
aproveitamento criativo, inteligente, pessoal).
Terão de incluir, incrustada a meio da vossa redação (ou logo no início
ou no final), uma parte razoável da cantiga (se for das mais pequenas, até pode
ser toda a cantiga; se for das maiores ou das médias, escusa de ser tudo, pode bastar uma estrofe).
A relação entre os trechos da cantiga que incluirão e o vosso texto será
de tipo muito variado (no meu exemplo, associei algumas palavras da cantiga a
um acontecimento cujo quinquagésimo aniversário se dava na altura em que
consultava o site à procura da cantiga que me convinha). Pode o trecho usado
encaixar-se no vosso texto, pode o vosso texto tratar do mesmo tópico, pode continuá-lo
de modo coerente ou invertendo o caminho até aí seguido, pode transpô-lo para
outro contexto, etc.
Terá de haver um curto parágrafo de comentário literário — o tal em que
se devem guiar, sem a copiar, pela síntese que haja no site —, que ficará um
pouco à margem do resto.
Em nenhum caso se pode aproveitar o que já foi escrito por outrem, da net
ou de fora da net. Neste, como em todos os trabalhos futuros, punirei sempre o
que revele algum grau de plágio.
Convém que o texto do vídeo seja escrito, mesmo que seja depois mais representado do que lido. São de
descartar improvisos.
Conselhos acerca da parte visual
do trabalho Pode ser em filme. Pode ser um slide fixo (como fiz
eu, aproveitando uma fotografia, tirada há muito, da casa que menciono no texto). Em
qualquer dos casos, deve tratar-se de originais (nada de imagens googladas,
filmes existentes na net, etc.) ou imagens trabalhadas criativamente. Por exemplo,
ainda pensei socorrer-me de alguma página de jornal da época com notícia das
grandes inundações ou de um mapa de Lisboa com a zona de Alcântara, que seriam igualmente consideradas imagens próprias.
São desinteressantes aqueles vídeos que usam imagens que se reportam ao
que vai sendo dito — fala-se em fonte e aparece uma fonte; em pinheiro, e
surgem umas árvores.
Talvez não devam pôr nenhum tipo de legendas (a identificação do autor, cada
um de vocês, ficará no próprio título do ficheiro e no blogue). Porém,
se usarem legendas, vejam bem se não há erros de ortografia.
Conselhos sobre a leitura em voz
alta do vosso texto Desejavelmente, a cantiga que tiverem escolhido não
será das mais difíceis (terá sido um dos critérios da escolha — havendo
centenas de cantigas, para quê escolher logo uma que tivesse muitas palavras
demasiado difíceis de pronunciar?). Se não souberem pronunciar uma dada palavra
ou expressão, podem tentar ouvi-la nas versões musicadas (se essa cantiga for
das que têm versão musicada), mas também podem pedir-me ajuda.
Antes de gravar, ensaiem bastante. Podendo gravar-se (e repetir quantas
vezes tiver de ser), não se espera que as leituras fiquem com tropeções,
lapsos, hesitações. (Até chegar ao pobre resultado que se ouve em baixo, ainda repeti uma dúzia de vezes — metade só com o papel, o resto já a gravar.)
Uma leitura em voz alta sem que o ouvinte siga o texto escrito tem de
ser relativamente lenta (e a nossa tendência, por estarmos ansiosos, é sermos demasiado rápidos).
Não aconselho — a não ser se for esse mesmo o objetivo — que haja música
de fundo (geralmente, fica afetada a clareza do texto lido). Não esquecer
aliás que segmentos musicais — salvo erro, a partir de uns vinte segundos — estão sujeitos a direitos de autor.
Fulano
João Zorro, «Em
Lixboa, sobre lo mar» | http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1177&pv=sim
| Fulano ([classificação atribuída pelo professor]) | [comentário do professor]
[Transcrevo em
baixo o texto lido no vídeo, para lhes facilitar agora a compreensão e terem a
noção de que é importante terem um texto acabado e pensado para a leitura em
voz alta. Contudo, na tarefa propriamente dita, não me darão o texto escrito —
só quero o ficheiro de vídeo, MP4 ou WMV, e, no e-mail que me enviarem,
o verso que identifica a cantiga, o autor e o link para a página da cantiga no site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas]
«Em Lixboa, sobre lo
mar, / barcas novas mandei lavrar, / ai mia senhor veelida! // Em Lixboa, sobre
lo lez, / barcas novas mandei fazer, / ai mia senhor veelida!».
E reparo que
estou a escrever a 25 de novembro. É uma data que sugere várias efemérides, e a
mais óbvia seria o 25 de novembro de 75. Mas a cantiga do trovador João Zorro,
com Lisboa, com mar, com barcas, com construção, lembra mais uma noite de há exatos
cinquenta anos, a noite das grandes cheias de 25 para 26 de novembro de 1967.
Na altura, estava prestes a completar sete anos. Já
não sou capaz de dizer como foram essa noite e madrugada. É provável que não nos
apercebêssemos das cinco horas de chuva torrencial, que causaram setecentos
mortos, conforme se sabe hoje (e se escondeu então). Nem sei se já vivia em
Benfica ou ainda em Campo de Ourique. Lembro-me que no sismo de 1969, portanto um
ano e três meses depois, já saímos todos em pijama para a segunda circular. De
qualquer modo, fosse num sétimo andar da Nuno Pinheiro Torres ou num primeiro
da Tomás da Anunciação, as inundações não nos afetavam diretamente.
Porém, há de ter havido forte preocupação lá em casa. Os meus avós viviam
em Alcântara, numa zona sensível aos efeitos das chuvas, mesmo que tivessem
sido menos diluvianas do que foram efetivamente. Era uma casa de três andares.
Todo o rés-do-chão ficou alagado até ao teto. Do dia seguinte tenho fixado na
memória que a lama enchera a garagem onde o meu avô guardava o Austin vermelho que
quase nunca usava. Era nesse carro que me era permitido ficar dono do volante
numa ou noutra saída pelos arredores.
Segundo leio no site Cantigas
Medievais Galego-Portuguesas, este poema fará alusão a D. Dinis, que se
identificaria com o sujeito lírico, o construtor de navios. Também é referido o
facto de o género da cantiga não ficar claro. Em termos formais, trata-se de uma
cantiga de amor, porque a voz é de um homem, o tal que mandou construir barcas.
Por outro lado, há elementos típicos das cantigas de amigo: a paralelística, a simplicidade
da abordagem, até a palavra «velida».
Voltando às cheias de 67. A caminho da ponte, vejo o começo da Rua de
Alcântara e noto que o número cinco, o mesmo de que estive a falar, está agora
à venda. Os franceses que o comprarem deviam ser informados de que passava ali
a Ribeira de Alcântara. Enfim, «[casas] novas mandei lavrar / e no mar as mandei
deitar», «[casas] novas mandei fazer / e no mar as mandei meter».
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