Tarefas interessantes (avaliadas e comentadas)
Juntei aqui os trabalhos elaborados a pensar num
dos três «concursos interessantes» (Calouste, Olimpíadas da cultura clássica, Inês
& Pedro).
O
primeiro já se efetuou (Tita ficou em 2.º lugar).
Para
o segundo concurso, o de Cultura Clássica, a escola escolherá três trabalhos (dos
cinco que reproduzo mais à frente, ou, se houver, dos que saiam de outras turmas) e enviá-los-á a concurso; o resultado nacional saber-se-á
em maio, mas, ainda antes disso, lá para finais de abril, saberemos quais os
três trabalhos que o júri da escola escolheu [atualização: foram escolhidos os trabalhos de B. Entrezede, Guilherme, Mafalda F., Natacha (11.º 5.ª), «Dido e Eneias, o musical»; Marta (11.º 2.ª), «Perseu e Andrómeda — a magia das armas que sangram amor»; e de Eduardo, Júlia, Margarida, Rodrigo (11.º 4.ª), «Os deuses é que escolhem as maravilhas dos homens»]. Os meus comentários e apreciações aqui não têm que ver com essa escolha e nem serão do conhecimento de quem vai decidir.
Para
enviar ao concurso de Inês e Pedro, a escola só pode escolher um trabalho e
terá de o fazer brevissimamente (quando souber mais, lhes direi, embora, também neste caso, não integre o júri) [atualização: foi escolhido trabalho de Joana, Laura & Mafalda (11.º 4.ª), «Pedro e Inês»]. O resultado
do concurso propriamente dito saber-se-á a 31 de maio.
Calouste
Tita (11.º 3.ª) — «Intemporalidade fugaz» (Muito Bom)
Sintetizarei
o que está dito na memória descritiva apresentada com o trabalho, que dará
ideia de que se trata a quem não queira ler o conto todo. O género do texto pode situar-se entre
conto e crónica de viagem. Neste último caso, seria uma
peripécia de passeio que decorre mais no tempo, propriamente, do que num espaço.
Calouste regressa e confronta-se com o que, a pouco e pouco, vai percebendo
serem resultados do seu legado. Essa observação, mais saliente à medida que se
avança no texto, entrecruza-se alusões de índole memorialística. Reconhecem-se
espaços da Lisboa de hoje, filtrados pelo olhar do herói. O
narrador não é autodiegético (nem mesmo homodiegético) e, no entanto, através
da focalização interna, colocada na perspetiva da personagem Calouste, conseguimos acompanhar
o que seria a personalidade do
homenageado. Acrescentarei que o conto está muito bem escrito. Só não gosto do
título (um pouco pomposo, parece-me).
Inês C. & Inês S. (11.º 3.ª) — «Sonhar é fácil? (peça em
três atos muito curtos)» (Muito Bom)
Para
dar ideia do trabalho, usarei partes da memória descritiva que acompanhou a peça
das Ineses. A peça é um pequeno drama moral, com apenas cinco cenas, que alude
à época da formação de Calouste e ao debate íntimo que terá sentido quanto à
área de estudos que preferiria prosseguir. Sabe-se que Calouste, depois da frequência
do ensino liceal em Londres, no King’s College, ponderava estudar matérias
científicas e práticas (geologia, engenharia mecânica), em detrimento dos
estudos clássicos para que o pai pensara remetê-lo. O tema interessou as duas autoras
porque nele se antecipa uma discussão que sentimos hoje também, no século XXI e
em Portugal. Com efeito, os estudantes sensivelmente da idade que tinha o
Calouste que frequentava o ciclo secundário em Londres confrontam-se com a
mesma necessidade de optarem pela área de formação em que hão de prosseguir os estudos.
Podem aliás acontecer, hoje como há centro e trinta e tal anos, pressões no
sentido de se enveredar por esta ou por aquela área de formação. Assim, Sonhar é fácil? lembra o caso de
Calouste, põe depois estudantes do nosso tempo a viverem a mesma situação e,
por fim, a decidirem sobre as suas vidas inspirados no caso do arménio e no
trabalho que sobre ele fizeram. É uma excelente peça, bem escrita, que peca só
por, nos diálogos em que intervêm os jovens de hoje, a linguagem estar
demasiado direta (chega-se logo ao que a personagem quer dizer, quando, na vida
real, é tudo menos simples, há matizes).
Miguel B. (11.º 2.ª) — «Contradições» (Suficiente
+/Bom-)
O autor
adotou o formato de poema, ainda que sem rima nem regularidade métrica. Desta
preferência pelo modo lírico mas sem as convenções da poesia mais formal resulta
uma «voz» que soa enigmática, contraditória, complexa, como seria talvez a
personalidade de Calouste Sarkis Gulbenkian. Essencialmente, trata-se das
consequências da exploração do petróleo, com um olhar ecologista. É um tema
mais do século XXI, e da segunda metade do século passado, que Calouste não
podia valorizar como fazemos hoje. Ponto de partida foi bem escolhido. No
entanto, para efeitos de concurso, poema teria de ser mais longo. Não seria
aliás difícil encontrar mais «contradições» na figura que se homenageava.
Camily (11.º 2.ª) — [Pequeno texto de cariz narrativo em torno de
Calouste e prisão] (Bom -)
Entre parênteses retos
já sintetizei o tema da redação de Camily, que já constituía uma segunda versão
de texto que me foi apresentado (e que não publico porque não foi enviado a
concurso e não tenho comigo agora o texto que li). Como digo no comentário ao
poema de Miguel, faltou maior desnvolvimento (e, talvez também, investigação mais
profunda). Narrativa estava bem escrita.
Cultura clássica
[Dido e Eneias]
B. Entrezede, Guilherme, Mafalda, Natacha (11.º 5.ª) — «Dido e Eneias, o Musical»
(Muito Bom)
Já o
tenho dito outras vezes. O vídeo, o cinema, implica planificar, coordenar,
obriga a que nada seja feito sobre o joelho (texto, música, espaços). Também é
uma arte de composição a partir de outras artes. Ora, neste trabalho, entrou a
literatura — escrita de poemas e de texto —, a literatura-história — o
conhecimento da Eneida e da
mitologia —, a música — criação das composições —, a dança/ginástica —
coreografia e execução —, a própria história do cinema, na medida em há uma
óbvia intertextualidade com filmes musicais. O grande mérito deste grupo foi
saber planear tudo de modo a que, em relativamente pouco tempo de filme, tenhamos
imensas coisas e tão diversificadas. Todas as peripécias do mito em causa —
que, como sempre nas narrativas da antiguidade e na mitologia, não são poucas —
são percorridas por alusões em composições musicais, na história de adormecer
ou na representação. Só não gosto, no genérico final, de «lyrics» (preferia, em
português, «letra da canção»). Aí, no genérico, anotei que um dos «câmaras» foi
o Tiago.
[Perseu e Andrómeda]
Marta (11.º 2.ª) — «Perseu e Andrómeda: a magia das armas que sangram amor» (Muito Bom)
Tal
como em outros vídeos de Marta fugiu-se à abordagem informativa ou de simples
relato do tópico de que se trata e preferiu-se adotar formato de criação mais
poética que, ainda assim, tem como pano de fundo o mito de Perseu e Andrómeda.
O resultado é requintado, metafórico, difícil (permite muitas leituras),
constituindo um objeto com bom gosto (destaco também o tratamento da imagem e
do som), que vale por si próprio, mesmo fora do contexto escolar ou de concurso
sobre cultura clássica.
Ana, Beatriz Pi, Leonor, Rita (11.º 5.ª) — «A História de Perseu e Andrómeda» (Bom+)
Começo pelo que me
parece ter falhado, e aliás um pouco desnecessariamente, que corresponde sobretudo
à fase de acabamento ou edição (a leitura em off — Beatriz conseguiria fazer
muito melhor, se tivesse tido tempo para ensaiar; de resto, havia no grupo quem
também conseguisse fazer muito boas leituras, mas percebe-se que, nessa fase
final, foi tudo já terminado pela responsável pela edição, em esforço para
cumprir prazo, decerto apressadamente —; o fundo musical escolhido, quanto a
mim, não resulta bem). Que faltou mais tempo é percetível também no texto, que
me pareceu pouco elaborado. Com a mesma base informativa, mais ou menos
wikipédica, era fácil escrever texto criativo, com ironia ou com observações
mais subjetivas, embora aproveitando os mesmos dados. Quanto ao resto, só tenho
a dizer bem. As imagens recolhidas mostram boa planificação (incluindo
representação, adereços, escolha de cenário, diversidade das imagens),
constituem uma boa ilustração das complicadas peripécias mitológicas e devem
ter dado muito trabalho a planear e executar (e algum gozo a serem recolhidas).
Há ritmo na forma de apresentar a intriga, há o poder de síntese e a velocidade
que o cinema exige. Houve igualmente competência técnica, criatividade, não
pouca informação.
[Maravilhas da
antiguidade]
Eduardo, Júlia, Margarida, Rodrigo (11.º 4.ª) — «As sete maravilhas do
mundo antigo [proponho eu este outro título: ‘Os deuses é decidem as maravilhas
dos homens’]» (Muito Bom)
Receava
que o tratamento de um assunto destes tivesse demasiado de wikipédico e pouco
de literário, criativo, expressivo. Ora o grupo teve uma ideia engenhosa, a de
pôr deuses a eleger as maravilhas dos humanos: com isso, alargou o assunto
clássico à mitologia e conseguiu pretexto para situação paródica, que levou a
um texto bem escrito, engraçado, inteligente, sem humor falhado (não é fácil!)
e a bons exercícios de representação (destaco Eduardo, num papel com mais risco).
Fizeram-no sem erros (e não é fácil citar tantos nomes antigos sem cair em
algum lapso). A ideia foi além disso bem acabada, não ficou a meio (veja-se a
solução para a maravilha egípcia e para as outras que ficavam a faltar ainda).
Assumira-se entretanto que a parte informativa era momento secundário, sem que
se deixasse de ir debitanto os dados que o assunto do concurso exigia, mas não
investindo demasiado nesses assumidos trechos de leitura de cábulas.
Francisco B. (11.º 2.ª) — «[As maravilhas das
capacidades do ser humano]» (Bom(-))
A ideia
de passar das maravilhas monumentais da antiguidade para feitos de superação desportiva
é bem achada. A concretização da ideia é prejudicada por se ter centrado na
figura de um surfista em particular, o que exigiu o uso extensivo de imagens
não originais (teria sido preferível fazer abordagem mais genérica, por
exemplo, sobre o surf enquanto maravilha, recorrendo a imagens de surf mas da
responsabilidade do autor; e calculo que não fosse difícil, se pensado com mais
tempo de antecedência). Quanto ao texto lido em off, como se detém muito em
dados sobre o desportista em causa, acaba por não poder ser muito criativo, mas
está correto, sem nenhuma falha de sintaxe ou qualquer outro lapso. Também foi
bem lido e com o cuidado de procurar ser expressivo (talvez no limite do
natural uma vez ou duas).
Inês & Pedro
Ivânia (com Francisco) (11.º 9.ª) — «O amor também é uma pessoa»
(Muito Bom(-))
Trabalho
agradável, feito com cuidado e elegância, com texto bem escrito (um ou outro lugar
comum da linguagem romântica) e com leitura em voz alta segura e na velocidade
certa. Imagens e som também acompanham o texto com inteligência, no ritmo e
variedade ideais, tendo sido montados com saber e gosto (não são imagens de
ilustração do que é dito, articulam-se com o que é dito sem perderem a
importância que as imagens têm num filme). Dir-se-á que não há muito Inês e
Pedro, mas um dos tópicos que se podiam desenvolver era o da narrativa que
desse conta de paixão, o que o filme cumpre.
Joana, Laura, Mafalda (11.º 4.ª) — «Pedro e Inês» (Muito Bom(-))
Lado criativo,
poético, até quase onírico, foi plenamente conseguido. Embora saiba que se
optou por não ancorar o filme em dados concretos do mito de Inês-Pedro, creio
que podia haver, ainda assim, um pouco mais de «intertextualidade» com a
história de amor de Inês de Castro (sim, bem sei que há a reveladora menção dos
nomes, quase no final). Muito bons tanto o texto como a leitura em voz alta.
Talvez se pudesse ter intercalado um ou dois momentos de diálogo, para esbater o
largo predomínio da narração em off, mas o ritmo e variedade das imagens (bem
tomadas e montadas), a música (e quase dança), os momentos finais em que a ação
é mais nítida, passando-se de um foco lírico para outro mais narrativo, fazem
que o filme não seja monótono, antes um clip (mais que filme) com a síntese e apelo
emocional-sensorial que convém ao género.
André, D. Botea, Tomás (11.º 4.ª) — «O meu único amor é a
língua portuguesa» (Muito Bom(-))
É um
trabalho que se nota ter sido planificado, concebido com criatividade e bastante
saber técnico. A pós-produção (montagem, efeitos, legendas) é muito rigorosa. O
texto foi bem representado, bem filmado. A escrita com humor não é fácil, por
isso o grupo tem o mérito de não ter caído em passos falhos de inteligência, ainda
que nem todos os momentos em que se procura ser irónico ou absurdo resultassem
ao mesmo nível: há uns bem achados e há outros assim assim (nem incluo nestes
os casos da caracterização muito radical da personagem desempenhada por Daniel,
que têm óbvias desvantagens para efeitos de classificação em concursos
promovidos por instituições bem comportadas, como é o caso da Fundação Inês de
Castro). Conseguiu o grupo resolver com originalidade a necessidade de referir o
episódio de Inês (a leitura de Os
Lusíadas, depois a tentativa de reconto do mito) e a necessidade também de
lhe não dar grande continuidade (a pretexto dos erros, o desfecho passa a
orientar-se para a língua portuguesa).
Pedro e Teresa (11.º 3.ª) — «[Cartas entre Inês e Pedro]»
(Bom+)
Escrita,
leitura, domínio da técnica de vídeo mostram-se competentes, sem nenhuma falha
apontável (embora a «os seguintes doze anos» se deva preferir «os doze anos
seguintes»). E, no entanto, perpassa a noção de que não houve especial
envolvimento criativo, como se se tratasse de tarefa que havia que cumprir e se
resolvesse limpamente, com a destreza habitual dos autores mas sem especial originalidade.
A solução de ocupar boa parte das imagens com o texto das cartas, que tem a
virtude de nos mostrar que não há erros de redação, é a confissão de falta de
tempo para fazer cinema (ao contrário, destaco como boa ideia o separador entre
as várias missivas, o momento em que cai o objeto que referencia a carta).
Eduardo, Francisco, Miguel (11.º 3.ª) — «[Amores de Manuel Inês
Joana Pedro]» (Bom+)
Vídeo
mostra planificação, trabalho, domínio técnico, embora sem arriscar muito em
efeitos ou estrutura de montagem complexa. Textos de narração e de monólogos muito bem
escritos (no entanto: «era apaixonado» > «estava apaixonado»). Leitura em voz
alta no ritmo certo por Eduardo (certa lentidão, certo escandir das frases são
corretos, é mesmo essa a forma que deve usar a locução em televisão). Boa
representação por Francisco (no entanto: um «e» seguido de pausa a tentar
lembrar-se do texto, pareceu-me; e, ainda, na primeira cena, não totalmente
disfarçada procura de leitura do texto ao longe). Solução do ecrã sem imagem
aquando da narração é aceitável (económica, é claro, mas coerente porque usada
sempre); no fundo, a estrutura corresponde a cinco atos-cenas de uma peça de teatro
que fosse filmada, ligados por comentário em off. Talvez tivesse sido possível
encontrar alusões mais explícitas ao mito Inês/Pedro (não sendo aspeto
obrigatório no regulamento do concurso, seria decerto fator de valorização).
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