Thursday, September 10, 2015

Instruções para tarefa sobre Frei Luís de Sousa


O trabalho implica escrever um comentário-análise a Frei Luís de Sousa (aliás, a um dado aspeto desta obra, a um seu momento, etc.) a partir de letra de uma canção.

Em termos práticos, consistirá em ficheiro que conterá o link da canção (no YouTube — o simples link, que eu é que buscarei o código de incorporação) e o comentário-análise escrito pelo aluno. Uma primeira versão do texto será por mim corrigida, devendo o autor lançar as emendas e dar-me/enviar de novo o ficheiro corrigido. [Para correio eletrónico: luisprista@netcabo.pt. (Como sempre: se não tiver agradecido, é que nada recebi.)]

Em baixo dou exemplo meu, que tirará certamente muitas dúvidas (e nos links seguintes ficam exemplos de comentários-análises por colegas de 2012-2013: 11.º 1.ª, 11.º 3.ª, 11.º 4.ª, 11.º 6.ª, 11.º 9.ª).

Sublinho agora estes aspetos:

O comentário pode ocupar-se de parte relativamente localizada (circunstancial) ou, como se fez mais no exemplo em baixo, aproveitar para fazer uma abordagem quase global. Mas é importante que haja alguma interpretação estrutural.

Tem de haver citações (quer do texto da canção, quer de Frei Luís de Sousa), embora eu tenha talvez exagerado quanto a este aspeto.

É essencial incorporar esses passos citados com certo engenho, usando bem a pontuação, mas conseguindo uma integração elegante.

A canção poderá ser portuguesa, brasileira ou mesmo de língua estrangeira. Neste último caso, cada citação conterá um par com versão em inglês (ou a língua de que se trate) e tradução em português. Pedia-lhes que não escolhessem nenhuma das seguintes canções, que já foram muito aproveitadas: «Nunca me esqueci de ti» (Rui Veloso); «Por quem não esqueci» (Tim); «Encosta-te a mim» (Jorge Palma); «Sexta-feira (Emprego bom já)» (Boss AC).

Não haverá referência «bibliográfica» (como se fez num anterior trabalho), mas é aconselhável que, ao longo da canção, vá aparecendo, com naturalidade, indicação do cantor, do letrista, etc.

A extensão do texto deve aproximar-se da do exemplo que dou (convencionemos: de quatrocentas a quinhentas palavras).




A recomendação feita na canção de Rui Veloso — no fundo, a regra de sensatez, já que «As regras da sensatez» é mesmo o título desta faixa do álbum Avenidas (1998), aqui na versão recente (2012) com Maria João e Mário Laginha — poderia aplicar-se a várias personagens do Frei Luís de Sousa, ainda que, por vezes, por negação.

«Nunca voltes ao lugar / onde já foste feliz» encerra um conselho que quase calharia bem a Madalena no momento em que, incendiada a casa de Manuel de Sousa, a família Vilhena-Coutinho tem de se acolher sob o antigo teto dos Vimioso, o palacete onde vivera com o primeiro marido. Contudo, dificilmente se pode dizer que Madalena tivesse sido feliz durante a união com D. João de Portugal. Telmo, reconhecendo que «o pobre de meu amo» recebera «respeito, devoção, lealdade» de Madalena, recrimina à sua senhora não ter amado o primeiro marido («mas amor!»), enquanto Madalena replica que ao amor «não está em nós dá-lo, nem quitá-lo», assentindo o que afirmara o aio. Além disso, bem vistas as coisas, era até o coração que lhe dizia que não faria bem em regressar àquela casa («tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa»), o que infirma o dístico «Por muito que o coração diga / Não faças o que ele diz».

A D. João talvez o conselho da canção conviesse mais, porque amara Madalena (Telmo o lembra: a primeira visita, «vivo ou morto», seria decerto a Madalena, já que lhe queria muito). Significaria que, tendo sido dado como morto em Alcácer Quibir, se lhe pedia que não se mostrasse depois. Teria sido indesejável um regresso logo sete anos depois e, mais ainda, vinte e um anos decorridos. Mas que faria então o zombie D. João? Estaria condenado a penar entre o Norte de África e Almada? Mas é o que acontecerá ao Romeiro-D. João de Portugal, depois de vir empecilhar tudo.

Afinal, a frase imperativa da canção assentaria melhor a Telmo. O escudeiro é quem foi feliz, naquela mesma casa e com o amo dileto, e se vê agora constrangido a regressar onde, digamo-lo muito conotativamente, «ardera de paixão». Como se adverte no poema de Carlos Tê, só irá encontrar «erva rasa por entre as lajes do chão». Nada do que Telmo lá vai ver «será como no passado». O reencontro com D. João não resulta apenas, porém, da cedência a uma tentação a que levasse a saudade, embora matasse mesmo «a recordação / que lembra a felicidade» (e, de caminho, alterasse todo o presente, como «cinza / que dá na garganta nós»). Tudo escapa ao arbítrio de Telmo, tudo depende de um destino que ele não controla, apesar de o invocar constantemente. É o destino e a sua irrevogabilidade que interessam à tragédia.

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