Pessoa pelo 12.º 1.ª
Seguem-se
trabalhos em torno de poemas de Pessoa. As instruções para esta tarefa ficaram
aqui.
Inês P.
«[Datilografia] Traço
sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano» e «Não estou pensando em nada»
(Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/86 e http://arquivopessoa.net/textos/2484
| Inês P. (17,5) O desenho do slide vai constituindo uma pequena animação
(como as daqueles livros, com ilustrações nos cantos das páginas, que, uma vez
folheados rapidamente, nos vão mostrando figuras em movimento). Outra inteligente
maneira de enquadrar os dois textos de Campos foi a criação de
conversa-discussão com a mãe, que permite a ligação dos dois momentos do
monólogo. A leitura em voz alta tem a expressividade devida (uma das muitas
possíveis), embora apresente duas falhas («abjeção» foi dito «objeção»; «no fim
de contas», no final de contas»).
Marta
«Ah não poder tirar de mim os olhos» (Fernando Pessoa)
| http://arquivopessoa.net/textos/3298
| Marta (13,5-13) A leitura em voz alta da Marta não tem erros, mas talvez
pudesse ser um pouco menos «declamatória» (dramatizada, enfática). O texto
escolhido pertence a Fausto, uma
‘tragédia subjetiva’, portanto trata-se de texto dramático (ainda que os textos
dramáticos de Pessoa não sejam propriamente representáveis). No fundo, este
género de texto (que eu pedira evitassem...) acaba por justificar o estilo de
expressividade — teatral, quase assumidamente pouco natural — que foi adotado.
João Gonçalo
& Guilherme St.
«[Ode Marítima] Sozinho,
no cais deserto, a esta manhã de Verão» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/135
|Guilherme St. & João Gonçalo (13-12,5) Elegante, um pouco exótica, a imagem escolhida, embora me pareça mais
apropriada ao Campos «orientalista» de «Opiário» do que ao
sensacionista-futurista da «Ode Marítima». A leitura em voz alta do Guilherme
não tem erros mas também não adota o tom devido (parece-me demasiado escolar,
teatral); já o João teve momentos em que usou a expressividade adequada, que o
levaram, porém, a seguir em velocidade excessiva (com as dificuldades
inerentes: houve uma ou outra hesitação no texto). Um único erro de pronúncia:
«outrora» soou «outr[ô]ra» (é [ó], é claro). A «passagem de testemunho» entre
os dois leitores implicou a omissão de uma frase.
Mónica
«Dizes-me: tu és mais
alguma coisa» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3358
| Mónica (15-14,5) A crítica que se pode fazer ao trabalho de Mónica é, ao mesmo tempo, um
elogio: a economia de meios, a simplicidade da estratégia escolhida (bem
executada, mas também, reconheça-se, de pouco risco). A leitura não tem erros e
o estilo adotado — o da expressividade de se fingir ser-se inexpressivo,
indiferente ap pensar e esquivo a reflexões — parece-me muito apropriado a
Alberto Caeiro.
Francisco S.
«[XLIX] Meto-me para dentro, e fecho a janela»; «[XLIV] Acordo
de noite subitamente» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1117; http://arquivopessoa.net/textos/622 | Francisco S. (17,5) Boas criação, planificação realização. Na situação
imaginada, para um Francisco Caeiro (que, justamente, reúne características do
autor e do «Guardador de Rebanhos»), insere-se muito bem a leitura do poema.
Esta não tem erros e, ainda que sem arriscar muito na expressividade (ou
exatamente por isso), parece adequada a Alberto Caeiro. Numa das legendas,
talvez pusesse vírgula depois de «de repente».
Ângela
«Tenho dó das estrelas» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4480
| Ângela (16,5) O trabalho da Ângela resulta num objeto muito conseguido em termos
estéticos (som e imagem bem trabalhados, tudo com perfeito acabamento). Não há
erros na leitura em voz alta (texto era curto também, e é esta a crítica que se
deve fazer), embora se possa dizer que não seria este o ritmo mais esperável
para o poema. Mas houve uma reinterpretação, feliz, do texto de Pessoa.
Beatriz
«[XXVI] Às vezes, em
dias de luz perfeita e exacta» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1182
| Beatriz (17-16,5) A própria
autora advertiu que o texto estava no manual, pedindo autorização para o usar.
A situação que enquadra o surgimento do poema (pedido de esclarecimento,
resolvido em carta) foi inteligentemente engendrada (em termos de escrita e de
realização). Na leitura em voz alta, sempre sem erros, distinguiria porém dois
momentos: na parte introdutória (antes do poema) matizaria a expressividade
(mas percebo que houvesse a intenção de marcar o lado lúdico desse momento e
reconheço que haveria o risco de se neutralizar o tom levemente irónico); ao
contrário, na parte propriamente caeiriana, talvez se pudesse ter procurado
mais a coloquialidade, a ingenuidade, que atribuímos a este heterónimo.
Francisco R.
«Aquilo que a gente lembra» e «Cheguei à janela» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2197
e http://arquivopessoa.net/textos/4328
| Francisco R. (17-(17/17,5)) Ponto forte são os momentos, encenados, que ligam as leituras dos
poemas. Nesses momentos, e ao longo de todo o filme, ficam evidentes as
capacidades de realização e de representação do Francisco. Pergunto-me, no
entanto, se parte desses trechos, em que se usa uma estratégia de sketch humorístico, embora revelando
destreza técnica, não retira coerência ao todo (apostaria numa abordagem leve,
propícia ao sorriso, mas sem se arriscar no gag
localizado, no humor mais explícito: a brincadeira incial, a canção final). Na
leitura dos poemas (a do primeiro poema merecia ser mais ensaiada), falta o
determinante em «nos dá [o] agrado»; numa das legendas, não deveria haver vírgula
a seguir ao sujeito (ficaria assim: «Fernando dirige-se à janela»).
Pedro C.
«[V] Há metafísica bastante em não pensar em nada» (Alberto
Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1482
| Pedro C. (17)
Excelente leitura — sem erros e no tom exato (é um Caeiro plausível, em que
houve a preocupação de conseguir alguns momentos de quebra do tom habitualmente
monocórdico a que impele o estilo desinteressado do «guardador de rebanhos»; só
um «É que ele» saiu quase «E que ele»). Imagem — «fixa» mas com movimento —
resulta bem. Crítica que pode ser feita é a de que há pouca criação do autor.
Duarte
& Rui
«[X] Olá, guardador de rebanhos»; «O pastor amoroso
perdeu o cajado»; «Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas»
(Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3507;
http://arquivopessoa.net/textos/3242;
http://arquivopessoa.net/textos/3351
| Rui & Duarte (15-14,5) Muito boa a leitura de Rui (embora em plano descrescente à medida que se
avançava) e bastante razoável a de Duarte. Em nenhum dos casos houve erros. Não
sou grande fã do tipo de imagens usadas (com o acompanhamento de um pastor
talvez menos ingénuo do que Caeiro prrtenderia ser), que levam à letra o que
era mais provavelmente metafórico — Caeiro enquanto guardador de rebanhos. Gostei
mais da ovelha animada e repetivo balido, que funcionou como separador.
Tomi
«[O andaime] O tempo que eu hei sonhado» (Fernando
Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4207
| Tomi (15,5-16) Bom início, com texto próprio e imagens também próprias e apropriadas.
Tenho dúvidas acerca da vantagem de ilustrar o metafórico andaime de Pessoa
(que cerca uma casa por fabricar, também metafórica, é claro, e oximórica
aliás), mas não digo que não. Leitura em voz alta deste longo poema, que não é
fácil, quase não tem falhas (apenas um «soss[ê]go» por «soss[ε]go», já que no
texto parece tratar-se mesmo da forma verbal e não do nome), mas também não
revela significativos desembaraço ou expressividade.
Guilherme Seq.
«[Dactilografia] Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o
plano» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/86
| Guilherme Seq. (17,5) A leitura em voz alta — quer do texto próprio quer do de Campos — é
muito boa (sem falhas e, além disso, com a expressividade adequada, o que
implica momentos mais rápidos, eufóricos, com as inerentes dificuldades —
vencidas, de resto). Interessante a alternância entre imagens correspondentes
ao «eu», ao enunciador, ao presente, e as de criança (que devem reportar-se à
memória sempre presente em Campos). O uso de slides entre o filme talvez
pudesse ter sido evitado (não virá grande benefício da ilustração da máquina de
escrever, por exemplo, e o todo perde um pouco da sua coerência/elegância). Não
gosto de «o quão eu invejo» (experimentar «como invejo»). Na legenda final,
falta o acento em «contém» (polissílabos agudos terminados em -em ou -ens têm de ter acento).
Catarina
«Viajar!
Perder países!» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2195
| Catarina (16-(16,5)) Boa, cuidadosa, articulação de texto e filme próprios com o poema de
Pessoa (embora o texto talvez não deva ter a interpretação literal, turística
quase, que dele é feita). Leitura em voz alta sem erros, ainda que sem arriscar
abordagem muito expressiva. Na redação que precede a leitura do poema,
corrigiria «a Rio de Janeiro» para «ao Rio de Janeiro»; e, em vez de Marrocos,
«Rabat» (todos os topónimos são de cidades menos «Marrocos»).
Inês C.
«A liberdade, sim, a liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349
| Inês C. (18(-17,5)) Poema criado e situação encenada também em filme entroncam-se bem com o
original de Campos. Nos seus vários aspetos, o trabalho ficou perfeito (em
sentido etimológico: ‘acabado’), elaborado com cuidado e saber (texto porém com
alguns lugares comuns — «controlada», «regras», «prazos», «monotonia», «prisão
sem grades» — mas Campos, na sua sofreguidão de querer sentir tudo de todas as
maneiras, também não é sempre requintado). A leitura em voz alta não tem nenhum
erro localizável, mas não atinge a expressividade que me parece ideal (não porque
haja um estilo único obrigatório de ler este texto — mas porque o tom adotado
falha um tanto na naturalidade, é demasiado sentido como exercício de
declamação, como se o orador nos quisesse advertir ‘olhem que este não sou
eu’).
João Sempi
«Ah as horas indecisas
em que a minha vida parece de um outro...»; «[Clearly non-Campos!] Não sei qual é o sentimento, ainda inexpresso» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2868, http://arquivopessoa.net/textos/2248
| João Sempi (17,5(-17)) Neste trabalho, a escrita do próprio autor teve papel importante; através
dessa narrativa são feitas diversas alusões, mais ou menos explícitas, a
tópicos da matéria (heterónimos & Pessoa). Leitura é clara, com boa voz,
mas, aqui e ali, revela leve insegurança (por exemplo, certa monitorização pela
pontuação; e há mesmo um erro: «cosmopolitas» é palavra grave — se fosse
esdrúxula, teria acento gráfico).
Miguel F.
«Estou cansado da inteligência», «Mestre, meu mestre,
querido!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1120
e http://arquivopessoa.net/textos/4398
| Miguel F. (17,5-18) Boa declamação, em estilo apropriado a Campos, com inflexões que
exprimem a ânsia típica deste heterónimo (notei só um «como as ervas» que soa
como «como às ervas»). Mérito também para o texto criado, que introduz os trechos
de Campos (sem deles muito se distinguir), e para as imagens, que se conjugam
bem com o resto.
Luís
«Não, não é cansaço...»
(Álvaro de Campos) | www.arquivopessoa.net/textos/228
| Luís (17(17-16,5)) Apesar da relativa simplicidade do formato, trabalho está completo e bem
concebido. O texto de Campos (que, note-se, não é sobre cansaço propriamente dito,
será mais acerca da angústia, da desilusão, do cansaço existencial) sugeriu um
texto mais objetivo (e sobre o cansaço p. d.), que, em estilo propositadamente
rebuscado (ordem dos adjetivos inusitada, algum léxico), ora pode soar estranho
ora pode soar irónico. Também a leitura está bastante interessante, sem erros
nem hesitações (só «um pouco de sono» parece «um pouco de [ch]ono», talvez por
amálgama involuntária com «choro»), parecendo porém mais proficiente na parte
do poema de Campos do que na do texto criado pelo autor. Na referência (em
legenda), a ordem deveria ser autor (Bernardo Sassetti), título da composição
(«Noite»). Acrescente-se aliás que o acompanhamento sonoro resulta muito bem.
Pedro D.
«[Ode Marítima] Sozinho,
no cais deserto, a esta manhã de Verão» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/135
| Pedro D. (17(-17,5)) Trata-se
de um texto longo e difícil que o Pedro leu quase sem erros (há um «as
extraordinários portos», por «a extraordinários portos») e com adequada
expressividade. Na parte final, nota-se ligeira perda de naturalidade. As
imagens denotam trabalho e cuidado mas, sendo sobretudo ilustrativas, acabam
por não ser relevantes. O fecho (com o acordar), por um lado, integra o poema
numa situação nova; por outro lado, socorre-se de um lugar comum — quase escolar
— das narrativas que é preciso resolver: ‘afinal era tudo um sonho’.
Noorani
«O amor, quando se revela» (Fernando Pessoa) e «[II] O
meu olhar é nítido como um girassol» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1318
e http://arquivopessoa.net/textos/1463
| Noorani (16) A leitura do texto de Pessoa é feita com inesperada coloquialidade
(discutível, mas interessante; há porém umas vírgulas a mais nesta leitura). A
leitura do poema de Caeiro (parte dele, note-se, no manual!) está bastante
apropriada e não tem erros. Todo o trabalho está bem acabado tecnicamente (saliente-se
o som, por exemplo). Talvez prescindisse de anunciar o que se vai fazer, que vinca
demasiado o lado escolar destas tarefas.
Filipe
«[Autopsicografia] O poeta é um fingidor» (Fernando
Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4234
| Filipe (8,5) Não houve atenção às instruções para este trabalho: (1) o texto
está no manual; (2) é demasiado curto. Mesmo assim, houve ainda dois erros na
leitura (não é «a dor que não sente», mas «a dor que deveras sente»; não é «a
que se chama o coração», mas «que se chama o coração»). Único aspeto positivo: pela
primeira vez, em dois anos, Filipe ter tentado fazer um trabalho.
Joana
«[Autopsicografia] O poeta é um fingidor» (Fernando
Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4234
| Joana (8,5-9) Reproduzo o que escrevi em cima, que calha também para
esta tarefa: Não houve atenção às instruções para este trabalho: (1) o texto
está no manual; (2) é demasiado curto. Mesmo assim, houve ainda dois erros na
leitura (não é «mas só que eles não têm», mas «mas só a que eles não têm»; não
é «calhas da roda», mas «calhas de roda»). Enfim, demorei mais eu a escrever
estas linhas do que a Joana a fazer este «trabalho grande».
Guilherme W.
«Ó sino da minha aldeia»
(Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/206
| Guilherme W. (9,5)
Este trabalho foi feito sem... trabalho. Tive aliás eu de o acabar (faltava o
slide — escolhi o campanário da Igreja dos Mártires, ao Chiado, por ser essa
zona de Lisboa a «aldeia» do poeta). Não foram cumpridas instruções: (1) texto
está no manual; (2) é curto. Leitura não tem erros, mas está demasiado «gritada».
Enfim, no futuro, Guilherme terá de mudar bastante a atitude no cumprimento de
trabalhos de casa.
Pedro M.
«Se te queres matar,
porque não te queres matar?» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/4360
| Pedro M. (15-14,5) Trata-se
de texto extenso, lido quase sem falhas (notei só hesitação em «turbilhonante»),
embora se deva dizer que haver cortes na gravação (leitura não foi feita só de
uma vez) desvaloriza um pouco essa eficiência. Quanto à expressividade,
parece-me que se ganharia em alternar diversos estilos (ora eufóricos, ora
disfóricos). Se todo um texto for lido com ênfase, uniformiza-se o tom, esbatendo-se
o que se pretendia fosse percebido como veloz.
Yara
«O amor, quando se
revela» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1318
| Yara (13) A leitura
em voz alta tem algumas falhas («parece que esquece» era «parece esquecer»; «Mas
se isso puder » era «Mas se isto puder») mas deve resultar de razoável número
de ensaios e está aceitável (é certo que não ter sido a gravação feita duma só
vez — notam-se cortes entre algumas das estrofes — facilitou a tarefa). As
imagens (as irmãs de Yara, salvo erro) são elemento muito valorizador, porque
individualizam o texto de Pessoa, transformam-no quase. (Note-se que «O amor»
não é título dado por Pessoa.)
Miguel M.
«[Insónia] Não durmo, nem espero dormir» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2358
| Miguel M. (15,5) A primeira parte e o final usam uma abordagem rara nestes trabalhos —
expressão oral em representação. O autor tem indiscutível capacidade para
representar e esse formato resulta (há um tom brincalhão que é agradável).
Serve esse momento inicial para dar pretexto à leitura do poema. Esta surge,
assim, assumida como verdadeiro encargo escolar (em última análise, poderia
defender-se que o caráter hesitante — por vezes, bastante hesitante — desta
leitura serviria, precisamente, para vincar tratar-se de exercício escolar...).
Não há erros muito concretos (talvez dois: «para mais nada, para mais nada» era
«para nada, para mais nada»; um «traz-me» era «trazer-me»).
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