Pessoa pelo 12.º 6.ª
Seguem-se
trabalhos em torno de poemas de Pessoa. As instruções para esta tarefa ficaram
aqui.
Sofia R.
«Não tenho pressa: não a
têm o sol e a lua.» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/391
| Sofia R. (17,5) Misturou-se
texto criado com o de Caeiro — a prova de que a redação da autora é boa é não
se perceber qual é o texto de Caeiro e o de Sofia. Não há nenhum lapso na
leitura e o estilo de expressividade parece-me precisamente o adequado a textos
deste heterónimo. Em termos visuais, a estratégia foi a mais simples, mas a
imagem revela gosto apurado. Sem culpa de Sofia: no texto de Caeiro há uma série
de «aondes» («toco aonde») que não são gramaticais (pelo menos, na norma culta;
seria «onde» [vou aonde; estou/toco onde]).
Mariana L.
«[O Infante] Deus quer,
o homem sonha, a obra nasce.» (Fernando Pessoa, Mensagem) | http://arquivopessoa.net/textos/2375
| Mariana L. (17,5) Mariana
envolveu um poema de Mensagem em
texto próprio. Este texto criado pela autora, apesar da sua extensão, não tem
erros e consegue cumprir vários objetivos: funciona como elogio de Portugal,
mais ou menos na mesma linha do «Infante» pessoano; é uma espécie de
publicidade-divulgação turística; e acaba até por ser um cartão de boas-festas.
Tudo isto se consegue sem prejuízo da coerência do todo. Em geral, o estilo é alegre,
leve (mesmo assim, em vez de «ao D. Afonso Henriques», poria, com mais
distância, «a D. Afonso Henriques»). Na leitura, que é também boa, não há nenhum
lapso (só do v. 9 para o v. 10, em «português. / Do mar», se esqueceu a pausa a
que obriga o ponto), mas a leitura ideal seria ligeiramente mais lenta e enfática,
quase teatral.
Inês
«A liberdade, sim, a
liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349
| Inês (15-15,5) Na
leitura em voz alta, a Inês revela boas capacidades, grande destreza, digamos,
técnica (não é nada fácil conseguir ler tão rápido quase sem lapsos — notei só duas
hesitações). E, no entanto, talvez em termos estratégicos, se devesse adotar
outro estilo de leitura, menos uniformemente rápida (para se conseguir imitar a
sofreguidão de Campos, precisamos de momentos contrastantes — se tudo for
rápido, nada parece rápido). A pronúncia melhor de «cabarets», um galicismo,
será «c[a]barets», com á aberto, e não «c[α]barets». As imagens, numa sucessão de
curtas justaposições de slides, com um efeito de velocidade trepidante, é uma
boa solução (montagem foi da própria autora?), mesmo se algumas das imagens são
demasiado meramente ilustrativas.
Miguel G.
«Dá-nos a Tua paz» (Álvaro
de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/808
| Miguel G. (14,5(-15)) Leitura de
Miguel quase não tem erros (apenas «À grande mãe pagã» é complemento indireto —
não é, como lê o Miguel, «Ah grande mãe pagã») e revela fluência e
expressividade aceitáveis, embora talvez num estilo que não seria o pensado por
Campos (ou pensado por Pessoa para Campos). Quanto às imagens, provocam uma
interpretação humanitária (beato-humanitária) do poema, o que não deixa de ser
discutível (o poema é mais complexo, mais angustiado e rebelde, do que preocupado
com a pobreza no mundo). Também a música condiciona a perceção do texto, facilitando
a tal versão bondoso-panfletária. Houve mérito neste aproveitamento do texto,
criando-se assim um novo objeto, que funciona e que o autor soube acabar (mesmo
se essa nova função é um pouco abusiva).
Carolina
«[XLVIII] Da mais alta
janela da minha casa» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1112
| Carolina (17) A leitura
do texto de Caeiro não tem lapsos, é uma boa leitura, mas talvez devesse ser mais
coloquial, para estar dentro do espírito deste heterónimo (menos declamatória,
mais plástica, para imitar o estilo desprendido, pacífico, de Caeiro). Quer o
genérico inicial, quer as imagens que acompanham o poema, e ainda o genérico
final, criam um padrão, aliás criativo e com bom gosto, que é quebrado com os
slides néticos (Pessoa, livros) que aparecem a seguir aos dois minutos iniciais.
Teria sido melhor solução manter os placards com dizeres, aproveitando, como se
tinha feito até aí, para incorporar pequenos desenhos ou até memórias fotográficas
da infância da autora. Boa ideia a de recuperar poema próprio (embora a
introdução a esse texto me parecesse demasiado institucional). E, repetindo-me,
creio que, se se tivesse mantido a estilização gráfica, se esbateria certa sensação
de fronteira entre os dois momentos do filme.
Mariana O.
«Aqui na orla da praia,
mudo e contente do mar» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2457
| Mariana O. (17(-17,5)) Excelente
leitura em voz alta, quer do poema de Pessoa quer do texto escrito pela própria
Mariana. Todo o trabalho resulta num objeto agradável e alegre (para o que
concorre a música, o ritmo das imagens — embora, salvo erro, as imagens sejam
universais e até talvez estivessem, em parte, já montadas), revelando boa
intuição artística e, mais especificamente, sensibilidade para um género próximo
do da publicidade/clip musical. Também é aspeto positivo o haver bastante texto
redigido pela autora, mesmo se com naturais lugares comuns (e um erro: não é a
vida que neles habitam» (mas
«habita» — sujeito é «a vida»). Também nas legendas do texto de Pessoa escapou
um lapso: «concede» é com cê.
Catarina
«Chove muito, chove
excessivamente...» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1028
| Catarina (17-16,5) A
Catarina foi intercalando texto seu no do poema de Campos e o resultado é muito
interessante. A leitura foi boa, ou muito boa, não tendo eu detetado erros (há
uma hesitação apenas em «como se de outra pessoa se tratasse»). Quanto aos aspetos visuais, o formato adotado foi o
mais simples, uma imagem fixa, mas essa imagem foi bem escolhida (é, ao mesmo
tempo, ilustrativa e quase abstrata); também o som da chuva funciona bem.
Trata-se de trabalho feito com cuidado, com gosto, bem acabado.
Filipa
«Deixei
de ser aquele que esperava» (Fernando Pessoa); «Começo a conhecer-me Não existo»
(Álvaro de Campos); «Se penso mais que um momento» (Fernando Pessoa); «Há quase
um ano não escrevo» (Fernando Pessoa); «Olhando o mar, sonho sem ter de quê»
(Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/844;
http://arquivopessoa.net/textos/2438; http://arquivopessoa.net/textos/2502;
http://arquivopessoa.net/textos/2329
| http://arquivopessoa.net/textos/222
| Filipa (14-14,5) A Filipa
fez uma composição com trechos de vários textos de Pessoa (ou de Pessoa e de
Campos — «Começo a conhecer-me» é de Campos, ao contrário do que se vê no slide).
Os textos foram bem lidos, sem erros, embora se possa dizer que sem grande
risco na expressividade (admito que parte deles pudesse implicar mais «nervo»).
A crítica que se pode fazer é aliás a de que podia ter havido mais ambição (a
própria extensão do conjunto é pequena, 1.40), mais criação original.
Rita
«[Last poem] É talvez o
último dia da minha vida» | http://arquivopessoa.net/textos/2589
| Rita (16) A Rita
escreveu texto seu, longo e quase sem erros (os que anotei foram estes: «que
julgava já me ter livrado», que seria «de que julgava já me ter livrado»;
«donde as minhas costas já se queixavam», que era «de que as minhas costas já
se queixavam»; e, em vez de «outro alguém», poderia ficar «outrem»; «virar
louca» poderia ficar «tornar-me louca»; «mandei-me para o chão», «deitei-me no
chão» ou «deixei-me cair»; «relembrei», «recordei» ou «lembrei). Pode dizer-se
que a linguagem não é assim tão diferente da do quotidiano (é uma linguagem entre
a literária e o discurso passional corrente), o que limita o mérito da redação
(que há, ainda assim). A quadra de Caeiro funciona como epígrafe, pequeno
pretexto do resto, mas é talvez pouco Pessoa para o que se pedia. Boa leitura (notei
só este lapso: «parecia uma roda viva à minhá volta»), por vezes bastante expressiva, mesmo se a recolha de som
não é sempre perfeita.
Francisca
«Todas as cartas de amor
são» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2492
| Francisca (16-15,5) A própria
Francisca pediu autorização para fazer o trabalho em torno de texto já lido em
aula, o que lhe foi consentido (e, portanto, não é recriminável). Mas mantém-se
um inconveniente: o poema é talvez demasiado curto para o que se pretendia
(trabalho fica com apenas um minuto). Leitura em voz alta tem boa
expressividade, apesar de dois lapsos (nasalação em «em meu[n] tempo»; e um «cart[i]as
de amor» — ambos assimilações de soins vizinhos). No seu todo, o trabalho
revela-se um objeto bem acabado e agradável de seguir. Salientarei ainda a
música e as participações especiais de vários colegas da turma.
Gonçalo
«[XLVI] Deste modo ou
daquele modo» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1104
| Gonçalo (14(-14,5)) É um
trabalho, por assim dizer, limpo, embora pouco ambicioso (é só a leitura do
texto de Caeiro, acompanhada de slide-capa, portanto, a solução mínima).
Leitura não tem falhas (é discutível se deveria ser «arg[o]nauta» com ô ou ó,
ou, como lê Gonçalo, «arg[u]nauta»). O tom parece pertinente para Caeiro,
embora, a partir de certa altura, fosse aconselhável incluir momentos de maior
coloquialidade (a fim de que a abordagem calma, neutra, não se confunda com
estilo monocórdico).
Pedro S.
«Se te queres matar,
porque não te queres matar?» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/4360
| Pedro S. (16) Boa
leitura, sem erros, de um texto extenso e difícil. (Eu diria «rem[ô]rso» — e
não «rem[ó]rso», a não ser no plural, é claro. E, em vez de «cin[ê]matografia»,
diria «cin[’]matografia» com e mudo.
Na edição que sigo está «da tua vida falada», e não «da sua vida falada».) Também
gosto da imagem escolhida. Em apreciação geral, direi que o trabalho está feito
competentemente mas o Pedro conseguiria — tinha obrigação de — ser mais
criativo.
Daniel
«Quando eu não te tinha»
(Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/629
| Daniel (12-11) Não encontro
erros concretos na leitura de Daniel, o que é aspeto positivo. No entanto, há algumas
hesitações (sobretudo no final) e o texto é até bastante curto (demasiado curto,
segundo o que lhes pedira). Tenha-se ainda em conta que «Quando eu não te
tinha» não é título (é primeiro verso, que, à falta de titulo, é usado nas
referências ao texto).
Salomé
«Aqui está-se sossegado»
(Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/3619
| Salomé (17,5(-18)) Excelente
leitura de Salomé, sem erros e sempre com boas entoações. É claro que é discutível
se o estilo de expressividade indicado para o texto era mesmo este. Talvez. De
qualquer modo, não se trata de poema que implicasse grandes dificuldades, nem mesmo
em termos de extensão. A música contribui para que se trate de filme agradável
de seguir, concebido com eficiência e critério estético.
Miguel T.
«Deito-me
ao comprido na erva» (Alberto Caeiro); «O meu tédio não dorme» (Fernando
Pessoa); «Não estou pensando em nada» (Álvaro de Campos); «[Nirvana] Vou
dormir, dormir, dormir» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/379;
http://arquivopessoa.net/textos/2558;
http://arquivopessoa.net/textos/2484;
http://arquivopessoa.net/textos/2033
| Miguel T. (18(-18,5)) Miguel preferiu um formato mais original, em que a
expressão oral surge de dois modos: em representação de texto próprio (encenação
de conversa espontânea) e na leitura de dois poemas (incorporada na própria
encenação que os introduz). Ambos esses orais têm o mérito de percorrer a
matéria toda (alude-se aos três heterónimos e ao ortónimo; leem-se poemas de
cada um dos quatro). O texto da parte encenada consegue o objetivo de
introduzir a leitura dos poemas, em tom leve (mais para sorrir do que para rir)
e está bem representado (a qualidade de texto e representação são aqui
dissociáveis). A leitura dos poemas não tem erros, embora, quase
obrigatoriamente, tivesse de ser uma leitura com a expressividade condicionada
(o contexto é o de alguém que representa uma leitura desprendida, a de quem
está ao mesmo tempo a conversar e, portanto, não declama com empenho integral).
Ainda assim, vê-se que o autor intui bem os estilos apropriados a cada um dos
poetas.
João
Almendra
«Num dia excessivamente
nítido» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1108
| João Almendra (14,5(-15)) O João
escolheu rechear com texto seu (antes e depois) um poema de Alberto Caeiro. Não
há lapsos na leitura em voz alta do poema (que foi lido com boa
expressividade). Na parte do texto próprio, parece ouvir-se «outro e verdadeira»
em vez de «outra e verdadeira»; e há ligeira nasalação em «e[n]ssencialmente». Não
se percebe, cerca de 1.25, «Na negação [?]». A redação está geralmente boa
(tirava o «e não indireto», por estas explicações adicionais serem pouco poéticas;
e, em vez de «porque a não fui achar, achei», tinha mais lógica «porque a não
procurei, achei»). Trabalho simples, mas bem feito.
Karim
«A liberdade, sim, a
liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349
| Karim (14(-13,5)) Boa leitura,
sem erros, mas que talvez devesse ter alguns momentos com mais nervo, mas à Campos
(no final, parece-nos mais um Caeiro, pacífico e calmo, do que o intermitente e
entusiástico Campos). Ligeira pausa indevida em «pensamento são» («são» está a
adjetivar «pensamento», é o modificador restritivo); «apeadeiro» e «às coisas
naturais» saíram demasiado rápidos. Trabalho pouco ambicioso, tendo em conta o
que Karim seria capaz de fazer.
João F.
«Acordar
da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1012
| João F. (14-13,5) Leitura de João não foi muito à Campos (pareceu-me demasiado
adormecida, quando se esperava um estilo quase torrencial, com inflexões,
mudanças de ritmo). E há uns erros localizados: «Syringe» não é para ser pronunciado
à inglesa (vem do grego — aqui é uma ninfa, tornada flauta de Pã); «sossego»
tem de ser dito com é aberto («soss[ε]go»), já que se trata da 1.ª pessoa do
presente do indicativo de «sossegar». Certas marcações com (...) no texto do Arquivo Pessoa significam que há zonas
do texto que não foram decifradas (ou que Pessoa deixou por preencher). Discordo
da associação deste texto a um quase panfleto turístico (que é o filme escolhido,
reforçado aliás pela canção de Amália). Enfim, João costuma ser mais original.
Lara
«[Poema de
canção sobre a esperança] Dá-me lírios, lírios» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3425
| Lara (14,5) A leitura de Lara não teve erros concretos, a não ser o que
explico a seguir. É uma leitura boa, embora sem a expressividade possível. O
texto é longo e difícil, mas, salvo erro, a gravação foi feita em parcelas
(três momentos), o que reduz o grau de dificuldade. «Porque amámos» (Perfeito
do indicativo) foi lido como «Porque amamos» (Presente do indicativo, ou, para
nortenhos, Perfeito também). Bom slide e bom genérico final, mas poderia haver
outros elementos criativos.
Mariana C.
«Penso em ti no silêncio
da noite, quando tudo é nada»; «Tenho escrito mais versos que verdade» (Álvaro
de Campos); «Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/912,
http://arquivopessoa.net/textos/3356 e http://arquivopessoa.net/textos/524 | Mariana
C. (17,5) Mariana escreveu texto próprio a ligar três poemas de Pessoa (aliás, de
Campos e de Reis). Essas ligações estão bem escritas (só «deixaste-me apanhada» parece pouco literário, mesmo tendo em conta que
os acrescentos aos poemas estão sempre num registo coloquial, contemporâneo). Também
a leitura está sempre correta e num estilo de expressividade que torna o todo
coerente (mesmo se, também por causa disso, não demasiado específica de cada
texto). Em «Ou um [...] assustado e mudo», as reticências dentro de
parênteses retos significam que não foi possível decifrar aquela palavra (ou
que o poeta deixou o texto lacunar). O aspeto mais melhorável do filme são as
imagens (não teria sido difícil, mantendo até o traço um pouco fotonovelesco
das imagens, fazer recolha própria, estabelecendo uma narrativa subliminar, por
mera alusão em uma dezena de fotografias, mais ou menos ingénuas-românticas).
Tiago
«[XLVI] Deste modo ou
daquele modo» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1104
| Tiago (17,5) Tiago
escreveu texto — intercalou texto seu, um bom texto, entre versos do de Caeiro.
Em vez de «por muito que momentânea seja a felicidade», poderia ficar «por
muito momentânea que seja a felicidade». A legenda do slide inicial está pouco
cuidadosa (pôr aspas em «O Guardador de Rebanhos»). A leitura em voz alta não
tem erros e tem boa expressividade (embora se deva dizer que a expressividade
de Caeiro não é muito difícil). Dentro da sua simplicidade, boa solução de
imagem (com legendas).
Marta
«Não venhas sentar-te à
minha frente, nem a meu lado» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1448
| Marta (14(-13,5)) Leitura
de Marta quase não tem lapsos (só «envolto» seria «env[ô]lto», em vez do ó
aberto que se ouve; e, em «uma morte que seja / uma coisa que me não rale»,
apesar de haver mudança de verso, não se pode fazer pausa). Também as entoações
são bem cumpridas, embora a expressividade seja prejudicada por se usar um tom
demasiado enfático (por assim dizer, mais declamado para uma plateia do que
murmurado para gravação), o que retira alguma naturalidade. Imagem escolhida
não é especialmente original.
Sofia A.
«Acordar
da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras» (Álvaro de Campos) http://arquivopessoa.net/textos/1012
| Sofia A. (14-14,5) Sofia fez uma boa leitura (embora não talvez com a expressividade
máxima que atribuímos aos textos de Campos). Só há um erro (em «cumes»), e, quase
no final, nota-se certa hesitação em «mais do que as outras». Já agora, explico
certos sinais no texto: partes marcadas com «(...)» significam que não foi
possível decifrar o segmento em causa (ou que o poeta o deixou mesmo por
preencher).
Pedro F.
«Uma vontade física de comer o Universo» (Álvaro de Campos); «Cantos, risos e flores
alumiem» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/2861
e http://arquivopessoa.net/textos/1854
| Pedro F. (14,5(-15)) Inovador,
embora talvez um pouco contra o que eu pedia nas instruções, o processo de incluir
legendas «ensaísticas» (isto é, com abordagem analítica do poema). Também
revela certo sentido pedagógico, de arrumação, o jogo de separadores e o som. A
leitura não tem erros (só «remorso» ficou entre «rem[ô]rso», como deve ser, e
«rem[ó]rso»), tem expressividade aceitável, mas está, por vezes, demasiado presa
à pontuação gráfica (por exemplo: em «Para os lugares que — custa a crer —
realmente existem», o segmento intercalado não precisa de tanta pausa; os
travessões aqui são mais obrigação de regra sintática do que referência para a
reprodução oral). A leitura da curta ode de Reis pareceu-me apressada.
Duarte
«Voam gaivotas rente ao chão» (Fernando Pessoa) | http://gavetadenuvens.blogspot.pt/2009/09/10.html, texto n.º 60 | Duarte (13) Duarte
trabalhou com um texto de 1934, que não figura no acervo do site Arquivo Pessoa (por ser de edição mais
recente do que as da Ática). É de uma edição organizada por mim (Poemas de Fernando Pessoa, 1934-1935, edição
de Luís Prista, Lisboa, INCM, 2000). Deu-se aqui uma pequena confusão de que o
Duarte não é responsável: as versões dos poemas dessa edição que pus no blogue foram
ainda revistas em provas (embora em poucos casos). A versão que eu tinha no
computador e que pus no blogue é anterior, portanto, a essas pequenas
alterações. Por grande azar, o poema «Voam gaivotas rente a chão» teve uma
alteração (no livro, acabou por ficar só com cinco quintilhas, porque
considerei que uma sexta estrofe que está no autógrafo seria apenas uma
primeira tentativa da estrofe definitiva). Assim, embora sem culpa, Duarte leu
uma quinta e sexta quintilhas bastante idênticas, quando, se estivesse a ler
pelo livro publicado, já só teria visto a sexta quintilha que leu (= a vera
quinta quintilha). O engraçado é que eu — já não me lembrando destas peripécias
de edição — julgava que o Duarte tinha criado a tal estrofe depois suprimida (e,
num primeiro momento, até ficara entusiasmado com o estilo tão pessoano que ele
revelava). Infelizmente, não foi o Duarte que foi criativo, fui eu que não revi
os textos que lhes forneci. E, no entanto, creio que era possível ter-se feito
trabalho mais empenhado (era uma ideia esta: escrever estrofes que se
inserissem em poemas de Pessoa). Na leitura ainda houve dois erros de pronúncia
(«ébrio» deve ler-se com é aberto: «[ε]brio»; em «resquício» o U não se diz:
«res[k]ício»). A leitura, aliás, não me pareceu muito ensaiada. As imagens usam,
em parte, estratégia que lhes pedi que evitassem: ir pondo slides a tentar
ilustrar os trechos que se vão ouvindo.
Maria
«[Mar. Manhã] Suavemente
grande avança» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4304
| Maria (13) Trabalho
simples, o que pode ser uma vantagem (embora prefirisse que tivesse havido maior
investimento nesta tarefa). A leitura não tem lapsos sérios. Apenas em «em serenas
/ dobras», apesar da mudança de verso, não se pode fazer pausa, já que «serenas»
é o modificador restritivo de «dobras». Além disso, o último dístico do poema —
que é um pouco mais difícil, já que parece ter aliterações — foi lido com
excessiva lentidão. O texto é demasiado curto (não havendo texto próprio e não
se tendo apostado em recolha de imagens, esperava-se maior risco na leitura em
voz alta).
Sol
«A liberdade, sim, a
liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349
| Sol (15(-14,5)) Deve
reconhecer-se que a Sol tentou imitar a sofreguidão, a velocidade, a ânsia, o
entusiasmo angustiado, de Álvaro de Campos (e fez bem em alernar diversos estilos
e entoações). É verdade também que a gestão dessa expressividade não foi sempre
perfeita (não ficando, portanto, isenta de pequenas hesitações, mas sem que
haja erros). Considero algumas das imagens bem escolhidas (as mais abstratas),
torço um pouco o nariz às quase ilustrativas do texto. De qualquer modo, o trabalho
resulta num objeto simples mas coerente.
André
«Olhando o mar, sonho
sem ter de quê» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/222
| André (9) Embora só
haja um erro direto («erramos» — Presente — é pronunciado como «errámos» —
Perfeito), toda a leitura saiu muito tateante, parecendo precisar de ser
muitíssimo mais ensaiada. Deveria haver mais aplicação, mais demora.
Aurélio
«A liberdade, sim, a
liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349
| Aurélio (16,5) Aurélio
revela ter bom domínio das técnicas de vídeo, bem como noção de como se traduz
em filme uma quase-narrativa (um poema, no caso, mas que, pelas imagens e
montagem, passa a funcionar como pequeno episódio; a presença do próprio autor
enquanto personagem-figurante unifica esse pequeno enredo). Música, porque
viva, alegre e apressada, também concorre para o ritmo que se imprimiu ao texto
e é ela que, em grande parte, dá um ar de coerência à conclusão. Na leitura em
voz alta, há alguns bons momentos de expressividade, também há algumas falhas,
mesmo lapsos, e hesitações, mas percebe-se que houve bastante ensaio.
Francisco
«Falaram-me os homens em
humanidade» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/384
| Francisco (16) Há desde
logo o mérito de se ter tentado um formato diferente. Fica também a sensação de
que o Francisco teve gosto na realização da tarefa e que procurou — e conseguiu
— fazer trabalho criativo. Texto cómico não é sempre extraordinariamente
original, mas é bem representado, o que faz que resulte. Também está boa a
leitura do curto poema (demasiado curto, talvez). Bom genérico inicial. (Referência
ao ópio teria de aludir sobretudo a Campos, não a Reis.)
Ana
«[XXXIX] O mistério das
coisas, onde está ele?» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3452
| Ana (12) Tenho de
criticar certas falhas no cumprimento das instruções do trabalho (por um lado,
o texto escolhido está no manual; por outro, o prazo de entrega foi
ultrapassado); estes aspetos refletem-se na classificação, é claro. Entretanto,
tenho de elogiar a abordagem simples (caeiriana), o bom gosto da solução, a
música (tocada pela autora, decerto). Também gostei de quase toda a leitura (a
exceção é o último terceto, com arranque um pouco atrapalhado).
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