Melhores bibliofilmes
Brigitta (18) José Gomes Ferreira, Poeta militante Leitura, dicção Não só não há falhas de pronúncia, entoação, como se consegue intercalar momentos de representação mais do que de leitura (sem que o todo fira, precisamente porque a leitura, sóbria, é correcta e os momentos de quase-representação são verosímeis). Relação com livro Lê-se poema, investigam-se palavras do título do livro, associa-se livro a prémio recebido e o autor à escola. Resulta de tudo isto um objecto que está entre o clip de recensão a livro e a autobiografia. Escrita Pela articulação dos dois géneros a que aludi, consegue-se um filme que, parecendo espontâneo e simples, tem escrita impecável (ou quase: «* poema nela contida» seria «poema nela contido») e rica estrutura narrativa. Interessante o aproveitamento de outro livro, o dicionário. Regras Cumpre todas.
Eliana (António Gedeão, Obra poética)
Eliana (16,5) António Gedeão, Obra poética Leitura, dicção A leitura (quer dos textos de Gedeão quer das parte escrita pela autora) é sempre boa (sem falhas de entoação ou de pronúncia; noto só um lapso na leitura de Gedeão: «que dilacera» e não «que se dilacera»). Pena é que um problema técnico — no som — prejudique bastante a percepção dessa qualidade. Relação com livro Relatam-se circunstâncias da leitura, mostra-se livro, dão-se informações biográficas (também acompanhadas da experiência de pesquisa), referem-se ou lêem-se poemas. Articulação de todos estes aspectos está bem pensada, torna agradável a assistência ao bibliofilme (não fosse a maldita ressonância!). Escrita Já fui dizendo que a concepção foi boa, mistura de recensão crítica com pequenas memórias pessoais. E não notei nenhuma falha de redacção (uma apenas: em vez de «era possível» teria de ser «é possível». Regras Cumpre todas.
João Af. (João de Barros, Os Lusíadas de Luís de Camões contados às crianças e lembrados ao povo)
João Af. (17,5) João de Barros, Os Lusíadas de Luís de Camões contados às crianças e lembrados ao povo Leitura, dicção Sem nenhuma falha (aliás: há um «outr[é]m» por «outrem»). Um comediante profissional conseguiria incutir às falas tom mais risível (mas isso não o poderíamos exigir ao João). Relação com o livro Há uma recriação — paródica — da figura de Camões e do texto dos Lusíadas, escrevendo-se uma estância alternativa. Eu acentuaria os aspectos paródicos: gosto do Camões a andar de bicicleta ou a escrever no computador; mas queria ver Camões a fazer mais disparates: a usar telemóvel, a brincar com a pala do olho, a, por alguma razão fútil, perder as folhas do manuscrito antes salvo. (Um reparo: este livro é mais de divulgação do que «livro literário».) Escrita Incluo na escrita toda a planificação, excelente, a montagem e tanto efeitos (que nem sei avaliar se são difíceis ou fáceis de fazer, mas que implicam decerto tempo e cuidado). O próprio texto foi bem preparado. Uma única falha de escrita: «*Nos dias de hoje, onde» (tire-se o «onde» e prefira-se um «em que»). Regras Cumpre todas.
Carolina (Luís Soares, Em silêncio, amor)
Carolina (18-17,5) Luís Soares, Em silêncio, amor Leitura Muito boa. Não notei falha nenhuma. Relação com o livro Apenas duas primeiras frases e a última são do livro, as restantes são criações da autora (segundo o estilo, o modelo, do original). Escrita Que a redacção é boa pode comprovar-se com isto: eu julgava, inicialmente, que a Carolina apenas lia trechos do livro; só depois de muito tentar localizar os passos nas páginas da obra é que consegui apurar que se tratava de texto escrito pela autora do bibliofilme. (E é preciso dizer que considero o livro em causa de muito boa escrita. Já agora, Luís Soares foi, há muitos anos, aluno da Secundária de Benfica.) O enquadramento pelo cenário e a expressividade da leitura são também interpretações criativas. Regras Cumpre todas.
Luís (António Gedeão, Poemas escolhidos)
Luís (16,5) António Gedeão, Poemas escolhidos Leitura Muito boa (não notei falhas). Relação com a obra Mencionada a antologia, passa a aludir-se sobretudo ao «Poema da malta das naus», aproveitando-se imagens do mapa com a cronologia das viagens portuguesas. O comentário distancia-se bem do poema, fazendo-se um novo texto, de prosa quase poética, em torno do tema «o sonho». Escrita Bem redigida a recriação que referi, embora haja alguns lugares comuns («embrulhar infinitamente», «ser humano racional», «atingir os objectivos», «xadrez do teatro do mundo»); mas não há erros (aliás, um apenas: «ir de encontro ao desconhecido» devia ser «ir ao encontro do desconhecido»). Regras Cumpre todas.
Joana G. (Inês Pedrosa, Fica comigo esta noite)
Joana G. (16,5) Inês Pedrosa, Fica comigo esta noite Leitura Boa e pausada; com momentos de expressividade conseguida; apenas uma ou outra frases com sílabas mais contraídas). Erro feio: «*t[ê]nhamos» em vez de «tenhamos» (a palavra é grave; cuidado: esta maneira de dizer a 1.ª pessoa do plural dos conjuntivos está a ganhar terreno, mesmo entre bons alunos — ver também o bibliofilme de José, do 10.º 4.ª). Relação com livro Alude-se a parte do livro de Inês Pedrosa. Poderia ser um trailer quase profissional. É um clip que dá o suficiente da história mas deixa inferir um pouco mais e, sobretudo, faz querer adivinhar o resto. Escrita A redacção não é sofisticada, mas a concepção sim (boas ideias, quer no modo de apresentar a história, quer na estética mais propriamente cinematográfica). Um exemplo de redacção melhorável: «Aconteceu o que ninguém esperava ter acontecido» (melhor: «Aconteceu o que ninguém esperava tivesse acontecido»; ou: «Aconteceu o que ninguém esperava») Regras Cumpre todas, creio.
Tiago P. (José Saramago, As Intermitências da Morte)
Tiago (16,5) José Saramago, As Intermitências da Morte Leitura Boa, embora com «pontuação escrita» aqui e ali (lembro-me, por exemplo, de uma vírgula a seguir a um «que», que existe na escrita mas na oralidade não deve aparecer); outro aspecto que acaba por prejudicar ligeiramente a naturalidade da leitura é a relativa velocidade (que implica uma respiração que força pausas). Escrita e relação com o livro Concepção — planificação narrativa — é interessante: aproveita-se texto radiofónico sobre o mesmo livro, o que resolve a parte informativa, sem que o filme se torne escolar; regresso à entrevista radiofónica, no final, permite ouvir uma interpretação do próprio Saramago (o que é um bom fecho). Texto está bem escrito (entre recensão e sinopse, sem que surja linguagem que o autor não domine). Haverá um erro: «começa a parte mais *romancista de toda a obra» («romancística»?; «romanesca»?) Regras Cumpre todas.
Cláudia (Florbela Espanca, Sonetos)
Cláudia (17) Florbela Espanca, Sonetos Leitura Bastante boa, sem nenhum erro de pronúncia ou má interpretação de pontuação, mas mais sintonizada com o estilo dos trechos escritos pela Cláudia do que com o dos poemas (talvez aqui, sobretudo no caso do poema mostrado em texto também, devesse ter sido um pouco menos segura, mais «desarrumada»: os poemas de Florbela Espanca convidam a que se mime mais o próprio acto de estar a pensar, ficar-lhes-ia bem uma leitura entrecortada, de quem hesita). Relação com livro Enquadra-se a leitura de poemas de Florbela numa pequena narrativa, com a circunstância da descoberta do livro. Escrita Foi tudo bem redigido. Beneficia com ser de 1.ª pessoa (vai-se contando o próprio processo de criação do filme: necessidade de fazer um trabalho, encontro casual com livro — e calhou bem ser livro já com marcas de tempo —, procura de dados no manual, até se chegar à leitura de poemas. Não encontrei erros. Regras Cumpre todas (som da parte final fica mais baixo do que o do resto do filme).
Inês (Alberto Caeiro, Eu só penso no Sol)
Inês (17,5) Alberto Caeiro, Eu só penso no Sol Leitura Trata-se de leitura semi-representada; e sempre bem feita, como se comprova por, sem perder expressividade e ênfase, ser natural, não nos parecer fingida. Uma má pronúncia porém: em Lisboa, pelo menos, dizemos «poesia» com as vogais pré-tónicas mais reduzidas. Relação com a obra Livro a que o bibliofilme alude surge como se a autora com ele se encontrasse por um bom acaso. O conhecimento com que ficamos do poeta vem da leitura do texto; mas o formato do livro (simples e despojado [já agora, numa edição que é pouco rigorosa]), o título do manual de Filosofia (Pensar Azul) e a calma optimista que atravessa todo bibliofilme são também à Caeiro. Escrita Texto foi muito bem planificado. É uma pequena história de como se pode ler: um manual de uma disciplina muito menos importante do que o Português, um relance a um texto aí, busca de outro livro em que esteja aquele excerto, descoberta de muitas lombadas na estante, escolha de um livro, pesquisa em dicionário de palavra que a leitura sugeriu, regresso ao manual de filosofia (quando se devia era estudar Português). Um erro: como explicámos em aula mais do que uma vez (texto de Luísa Dacosta e prova do CLP), «solarengo» é ‘relativo a solar’ (substitua-se, portanto, por «soalheiro»). Regras Cumprem-se todas.
Sara C. (David Lodge, Notícias do Paraíso)
Sara C. (16,5) David Lodge, Notícias do Paraíso Leitura Bastante boa, talvez, na segunda parte, um pouco prejudicada por aparente pressa (que, pensando bem, não tem que ver com a velocidade, que não seria excessiva, mas com a dificuldade de gerir uma sintaxe que é mais da escrita do que preparada para a narração). Relação com o livro Conserva-se tema do livro original e estilo de escrita de Lodge; cria-se um texto (que, visto assim solto, podia ser uma crónica sobre «aeroportos» ou «viagens»). Escrita Boa. O estilo quase humorístico de Lodge não é conseguido na íntegra, mas o texto é agradável de ouvir e tem ironia (e não desastrada, o que não é nada fácil), embora sem o profissionalismo que exige este tipo de «guiões para humor». Erro (que acontece em dias ocasiões): «aperceber de que» é melhor do que «aperceber que». Regras Cumpre todas.
Joana O. (Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilhas / ...)
Joana O. (17) Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilhas /.... Leitura Muito boa. Relação com o livro Se bem percebo, os poemas de Sophia são mera inspiração inicial para textos escritos por Joana. Também me parece que, em vez de um livro, são pelo menos três aqueles a que se alude: Ilhas, Navegações, Coral. Escrita Está bem redigido o texto, intimista, tenha ou não intercalado passos de Sophia. Só notei uma frase feita («certas e determinadas coisas»), que resulta pouco poética, e um lugar comum («o tarde pode ser demasiado tarde»), que parece má poesia. Regras Cumpre todas.
Catarina T. (Grandes viagens marítimas)
Catarina T. (16,5-17) Grandes viagens marítimas Leitura É bastante boa, tanto mais que inclui trechos em português não-contemporâneo e não se notaram aí erros na pronúncia ou na entoação. Quase no final há um «Domingos» (em vez de «Domingues»), mas não sei se é falha de leitura ou de escrita. Relação com livro A estrutura é aproximadamente a de notícia sobre livro, e recomendação de leitura, em programa de televisão. Escrita Houve cuidado na planificação, que inclui momentos em que surge a própria autora do bibliofilme, outros em que são lidos trechos do livro, outros em que há comentário escrito pela autora. Isto torna o conjunto fácil de seguir, apesar de o texto ser relativamente denso. Um único erro de redacção: «*Justifica-se porque é que» (‘justifica-se isto ou aquilo’; ou ‘diz-se por que motivo’). Regras Cumpre todas.
Carlota (Fernando Pessoa, Poemas)
Carlota (17) Fernando Pessoa, Poemas [por problemas técnicos que até agora não consegui resolver, nesta reprodução não se vêem os últimos quarenta segundos do filme] Leitura Bastante boa, sobretudo na parte do texto criado pela autora. Já na leitura do poema de Pessoa, acho discutíveis algumas das pausas (não se pode separar «em que está indistinta / A distinção»; e não faria pausa de «Livros» para «são»). No verso 9 houve lapso: «O rio corre, bem ou mal» é que é. Relação com livro Escolheu-se um poema, o célebre «Liberdade», e aproveita-se o seu tema como leitmotiv da primeira parte do filme, uma espécie de variação do texto pessoano tomada em termos autobiográficos; vem a seguir a leitura do texto de Pessoa (que era irónico, é preciso lembrar, já que respondia a discurso de Salazar; o engraçado é que «o melhor do mundo são crianças», que ficou como defendido pelo poeta, era alusão irónica — seria a visão de Salazar, que, por essa altura, defendera que os intelectuais eram preguiçosos a que não se devia dar crédito, o que enfurecera Pessoa). Crítica que se pode fazer é que o bibliofilme não alude ao resto do livro. Escrita O filme mostra que a Carlota tem um sentido apurado de como, na concepção de um filme, se podem conjugar escrita, imagem, música. Texto inicial é muito bom e, sobretudo, há um trabalho, criativo, de selecção de imagens e montagem que beneficia toda a redacção. Talvez haja aqui um erro: «aquilo que me irradia a alma» não me parece boa sintaxe. Regras É pena que faltem aqui os quarenta segundos finais.
Pedro M. (Álvaro de Campos, Poesias)
Pedro M. (18) Álvaro de Campos, Poesias Leitura Muito boa. Talvez outros tivessem preferido um ritmo menos veloz (até porque essa velocidade é uma dificuldade mais, podia propiciar «tropeções» de pronúncia), mas, na verdade, o ritmo parece-me adequado à ânsia, instabilidade (e, em outros textos, sofreguidão de modernidade) características de Campos. Só notei uma palavra em que houve ligeira hesitação: «libertação» (se calhar, foi um tropeção simbólico). Na minha edição de «Tabacaria», está «À parte isso» e não «À parte disso» (pode ser difrença entre edições, mas talvez seja lapso na leitura). Relação com livro Usam-se trechos de «Tabacaria», o último poema publicado em vida de Pessoa assinado por Álvaro de Campos, e, depois, de «Addiamento», também assinado pelo mesmo heterónimo de Pessoa. Foram ainda intercalados trechos do próprio autor do bibliofilme. Os poemas escolhidos são dos mais introspectivos e de expressão da frustação de Pessoa. Embora o texto não seja dito pela figura que a câmara dá, vai havendo uma representação ao mesmo tempo (e também o resto do que decorre à frente da câmara vai acrescentando sentido ao texto lido em off). As imagens são sofisticadas (o relógio rápido; o choro; o globo; os negros final e inicial; a porta). Escrita Não se nota muito onde começam e acabam as partes efectivamente de Pessoa-Campos e as de Pedro-Campos. Que melhor elogio se pode fazer? Regras O tempo estipulado foi excedido (duração: 5:33); prazo de entrega, também (cerca de um ano).
João Maria (17) Manuel Teixeira-Gomes, Gente Singular Leitura, dicção Boa. Desta vez, quase não houve a excessiva velocidade na pronúncia dos finais de palavra que já tem levado a que, na leitura do João Maria, as palavras se encavalitem umas nas outras. Também a «pontuação» oral já foi devidamente livre da pontuação escrita — excepto num «que» demasiado seguido de pausa, decerto por causa de uma vírgula. Relação com o livro Numa primeira parte, há aproximação ao próprio objecto, visto nas estantes e depois considerado sobretudo pelo título (que o é por ser o de um dos contos). Segue-se a alusão ao autor. Depois, uma segunda parte do filme encontra em personagens-tipo dos nossos dias equivalentes das figuras dos contos de Teixeira Gomes (de certo modo, a estas se faz referência pela sequência de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro; àquelas corresponderá uma série de sketches-perfis (a rapariga que se bronzeia; o arrumador; etc.), em que a ironia resulta. Considero os equivalentes das personagens de Teixeira-Gomes aceitáveis, embora valesse a pena fazer escrutínio caso a caso; e defenderia que a alusão à obra fosse mais explícita. Escrita Tanto a concepção narrativa (que já expliquei em cima) como a redacção propriamente dita são ricas, elaboradas. Um erro notei: «surgiu-me à memória» é substituível por «veio-me à ...», «surgiu-me na ...» Regras Cumpre todas.
Ana C. (Margaret George, As memórias de Cleópatra)
Ana C. (17,5-18) Margaret George, As memórias de Cleópatra Leitura, dicção Muito boa. Sempre correcta a entoação das frases. No entanto, deve notar-se que a leitura em voz alta de textos irónicos [como a prezada autora discorda de que o estilo seja irónico, eu emendo: estilo coloquial, de leve ironia: exemplos: «Sim, foi com o Harry Potter...»; «Chamem-me tola, mas do que eu gosto mesmo é daqueles matacões»; «com algumas mortes à mistura»; «o que não exclui Agatha Christie, com apenas duzentas», «oitenta e cinco crimes publicados»; «eu gosto, mando e leio»; «Ah, e quando me der na telha...»] não é fácil, já que convém que seja o ouvinte a inferir o que haja de risível, não deve o locutor indiciar muito esses momentos — talvez que a solução melhor ainda seja adoptar estilo neutro, como que desinteressado do que se está a dizer. Notei duas pronúncias «hiper-correctas» (leituras segunda a escrita mas sem correspondência com o som normal da palavra): «excepto» com o «p» demasiado audível; «m[i]stura» que em Lisboa se dirá sobretudo «m[e]stura»). Relação com o livro No fundo, não há um livro de que se ocupe o bibliofilme, mas uma lista grande de obras. É o texto — autobiográfico — que sugere a alusão aos livros (e não o contrário). Escrita São muito criativas quer a concepção do texto quer a redacção propriamente dita (e a própria montagem). Contrastes ler/ver filmes e livros juvenis/clássicos estruturam todo o texto. Regras Cumpre todas.
Bruno (Stephen King, Cell)
Bruno (18) Stephen King, Cell Leitura, dicção Há vários tipos de leitura (segundo géneros: notícia de última hora, narrador, monólogo com fobia de Toni Carreira) e até por diferentes locutores; há ainda trechos representados (junto ao campo dos Pupilos). Esta diversidade é um dos grandes méritos do filme. Relação com o livro Tenho de advertir que não li o livro de Stephen King. Percebo que se trata de recriação, paródica, de clima e tema do livro do autor americano (ou a viver nos Estados Unidos). Escrita Deve incluir-se aqui toda a planificação (e depois a montagem) que me parecem excelentes: este bibliofilme, como é típico do cinema, implicou trabalho colectivo, com o realizador a dirigir a várias pessoas. Além disso, o filme revela muita criatividade (e no registo que é mais difícil: a paródia, a ironia). A redacção propriamente dita tem algumas imperfeições (não é fácil gerir tantos géneros textuais diferentes): «o maior desastre para o qual a humanidade não estava preparada» (o maior desastre a que a humanidade se podia sujeitar); «assolam por toda a parte» (tudo assolam; disseminam-se por toda a parte»; «o resto dos outros» (os restantes); «capacidades telepatas» (telepáticas). Regras Salvo erro, Cajó é um dos que fogem logo no início (embora não conste nos agradecimentos no genérico). Se assim for, já fica cumprida uma regra destes filmes.
Joana L. (17-16,5) Frank McCourt, As cinzas de Angela Leitura Muito boa leitura. Não notei falhas. Segue-se o registo ideal — leitura formal, mas não empolada —, a velocidade conveniente — pausada mas sem que deixe de parecer quase natural, sem que nunca a pontuação escrita se evidencie. Palavras inglesas bem pronunciadas também. Relação com o livro Faz-se uma sinopse durante quase todo o tempo, cerzindo-se texto próprio a um início e final de McCourt. Escrita O texto está muito bem redigido, nem se distinguindo os trechos de McCourt da redacção da autora do filme. Um erro: «os malfadados dos ingleses» era para ser «os malvados dos ingleses», se não me engano. Regras São imagens fixas, não propriamente filme.
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