Friday, August 28, 2020

Frei Luís de Sousa (e canção) pelo 11.º 1.ª

Eder

A canção que na minha perspetiva mais se adequa a esta situação é “Drivers license”, da cantora norte-americana Olivia Rodrigo. Esta triste canção conta a história de uma mulher que, apesar de já não se encontrar num relacionamento com a pessoa que amava, lembra-se frequentemente dela ao passar por sítios onde ambos costumavam passar tempo juntos.

O ritmo, calmo e simples, lembra também o evoluir da história, começando com os medos de Madalena na casa de Manuel de Sousa cheia de quadros e ornamentos familiares, passando depois ao palacete de D. João e à cave, onde o cenário é frio, cru e despido. Apesar de todos os momentos bonitos, agradáveis e dos profundos sentimentos sentidos, o sujeito lírico que está a sofrer por ter saudades do parceiro sabe que tem de ultrapassá-lo e deixar no passado as memórias que tanto a marcam no presente, apesar de o indivíduo que ela amava não estar por perto, podendo isso observar-se em  “I still see you face in the white cars, front yards / Can't drive past the places we used to go to [Ainda vejo a tua cara nos carros brancos, jardins / Não consigo conduzir pelos lugares que costumávamos ir]”, o que mostra que, por mais vezes que ela o tentasse esquecer, as memórias não deixavam, assim como com Dona Madalena quando se lembrava de D. João de Portugal pelos retratos. Madalena de Vilhena vive  atormentada pelo espetro de seu antigo marido, D. João de Portugal. Este inquieta-a, impede-a de ser feliz com o novo marido, Manuel de Sousa Coutinho: “este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha!” (Ato I, cena I).

Concluindo, tanto em Frei Luís de Sousa como em “Drivers license”, há uma transmissão de sentimentos e emoções (as quais são instáveis e controversas), pois, apesar de Madalena já não amar D. João de Portugal como amava antes dele ir para a guerra, as memórias que tinha do tempo que passara com ele ainda a confundiam, fazendo com que ela não o esquecesse e não deixasse de o amar facilmente.

 

Francisca

Frei Luís de Sousa é uma exímia obra que facilmente podemos relacionar com a canção “E agora?” (Daisy Chains), da autoria de Mikkel Solnado (música), letra de Alex Alvarenga e Solnado, cantada por Solnado acompanhado por Joana Alegre.

Tanto no drama-romântico como na canção, o tema principal é o amor. No entanto, existe uma particularidade interessante. Enquanto que em “E agora?”, os interlocutores refletem sobre o amor que sentem um pelo outro, em Frei Luís de Sousa estamos perante um triângulo amoroso. De facto, era como se D. João cantasse para Madalena, mas a protagonista feminina se dirigisse ao seu atual marido.

«Esperei tanto por ti / E caiu um manto em mim» são versos que quase poderíamos acreditar serem recitados pelo cavaleiro desaparecido. Quando acompanhou El-Rei na Batalha de Alcácer Quibir, tentou com todas as forças voltar para a mulher que amava. Contudo, só passados vinte e um anos o conseguiu, e sem obter a calorosa receção que desejava. Teve mesmo de se disfarçar, fazendo passar-se por um Romeiro, assumindo ser “Ninguém”. E, no entanto, enquanto homem honrado, não tinha qualquer intenção de desestabilizar a família de D. Madalena, preferindo “matar-se a si próprio”.

«Corri o mundo por ti / mas o mundo correra sem mim» descreve o esforço de D. João em voltar para casa, mas também o golpe, ao perceber que a vida que há anos tinha deixado tinha avançado sem ele. É por isso que diz “Parentes!...Os mais chegados, os que eu me importava achar...contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que não me conhecem”. Mesmo Telmo, seu fiel escudeiro, percebeu que tudo se alterara (“Que há aqui um anjo...uma outra filha minha (...)”).

Quando Manuel de Sousa Coutinho incendiou o seu palácio, Madalena mostrou-se inquieta e preocupada. Apagar o seu presente significaria voltar ao passado, que tanta culpa lhe trazia e que há tanto tempo tentava deixar para trás. É por isso que o regresso de D. João também comprova a sua infelicidade. Depois de depreender “que um homem que muito bem lhe quis aqui está vivo por seu mal (...)”, ficou consumida de angústia. Era mesmo como se perguntasse ao primeiro marido «Será que te perdeste a caminhar? / Ou foi só para me castigar?».

Em Frei Luís de Sousa, todas as personagens perdem a fonte da sua alegria. «Se terminar aqui / O que será de mim sem ti» pormenoriza os sentimentos dos protagonistas. Maria discursa contra as injustiças da sociedade, enfurecida por se ver separada de quem mais ama. Madalena postula por “Misericórdia, meu Deus!”, mas em vão, visto que Maria morre. Já Manuel e a querida amada, para além de perderem uma das pessoas que mais amavam, veem os votos matrimoniais quebrados, separando-se para sempre. Tomam o hábito e morrem para a vida que conheciam.

 

Francisco C.

Esta canção, vencedora do “Festival da Canção” de 1991 e interpretada por Dulce Pontes, relaciona-se bastante com a peça Frei Luís de Sousa, na medida em que existem passagens da peça à qual partes da música “assentam que nem uma luva”.

«Fado, chorar a tristeza bem / Fado, adormecer com a dor.» nem a propósito da peça, visto que fado, além de ser um género de música, tem também o significado de destino. Isto aplica-se a Telmo, quando  soube que o seu amo, D. João de Portugal, que retrata como quase um herói, uma lenda, teria, sido morto em Alcácer-Quibir. É também possível relacionarmos este passo com D. Madalena de Vilhena, dada a mágoa que sente aquando da morte da sua filha, e perante a notícia que teve anteriormente. Madalena é informada que o seu casamento com D. Manuel de Sousa Coutinho é ilegítimo, portanto a sua filha Maria seria um «fruto do pecado». «Minha filha, minha filha, minha filha! Estou… Estás… perdidas, desonradas… infames!» mostra uma dor que seria maior que a dor de ver a sua filha morrer.

«Arrancar, do meu passado, um grande amor» é uma passagem do poema de Fred Micael e José da Ponte se aplica ao que teria acontecido, de facto, a Madalena, sendo D. Manuel a pessoa que Madalena teria amado, e tendo vindo, do seu passado, D. João, o Romeiro, arrancar-lhe este grande amor, que, agora se chama Frei Luís de Sousa. Acontece o mesmo com Telmo, também lhe é arrancado um grande amor, o amor cuidador que sentia por Maria, apesar de a peça ter acabado antes que pudéssemos perceber a reação deste fiel escudeiro em relação a este acontecimento funesto.

D. João é retratado por outra passagem desta canção. «Mas, não condeno esta paixão / Essa mágoa das palavras», na medida em que D. João não condena a paixão que Madalena teve com Manuel. Ele decide no final ir embora e fingir que teria de facto morrido «Vai, vai: vê se ainda é tempo; salva-os, que ainda podes...», o que revela um coração bondoso e altruísta, uma das muitas qualidades que Telmo admirava.

Outra passagem deste tema, cuja composição musical é da autoria de Jorge Quintela e José da Ponte, que surge no contexto da peça seria «Porque eu quero ser feliz / E a desdita não se diz». Este verso poderia ter sido proferido por Madalena, a mulher que ao longo da sua vida, e da peça, apenas procurou felicidade. Na minha opinião este é o verso mais forte de todos na medida em que Madalena é de facto bastante desventurosa, pois nada do seu futuro trágico teve origem nas suas conscientes, boas ou más, ações.

 

Francisco F.

A letra da música “A Máquina”, da banda portuguesa Amor Electro, adequa-se perfeitamente à peça Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. De facto, alguns dos versos da canção poderiam mesmo ser ditos por algumas personagens da peça.

“Mas sei que vou ficar / por ter o que eu não tenho / eu sei que vou ficar” antecipa o sofrimento que atormentará Madalena de Vilhena, por ter tido uma filha com Manuel de Sousa Coutinho que seria considerada ilegítima e cairia em desonra com o regresso do seu primeiro marido, D. João de Portugal, que se pensava estar morto. Com efeito, todos acreditavam que D. João tinha morrido na batalha de Alcácer Quibir, em 1578. Ainda assim, durante sete anos, D. Madalena, “incrédula a tantas provas e testemunhos”, mandou procurá-lo por todas as terras do Norte de África. Como nada se soube que pudesse pôr em causa “aquela notícia que logo viera com as primeiras novas da batalha”, todos assumiram que D. João tinha morrido e “a ninguém mais ficou resto de dúvida” senão a Telmo, o fiel aio que sempre acreditara que o estimado amo haveria de regressar.

Ainda relativamente ao regresso de João, a letra da canção diz-nos que “porque este amor é meu / e cedo, vou saber / que triste é viver”. O amor a que se refere é àquele que Madalena nutria por Manuel de Sousa Coutinho e que, com o regresso do primeiro marido, lhe traria muito sofrimento, e não ao seu amor por D. João porque, a esse, “respeito, devoção, lealdade”, tudo lhe tivera, mas não amor.

Contudo, a letra da canção não antecipa apenas o que acontecerá a Madalena com o regresso de D. João de Portugal, mas também trata os sentimentos deste quando, após tantos anos, reencontra a esposa. “Que pena é ver-te assim” traduz precisamente o que D. João, disfarçado de Romeiro, sente aquando do regresso e quando percebe que D. Madalena casou com outro homem e com ele teve uma filha. Então, para não trazer desonra ou causar sofrimento à sua “honrada e virtuosa mulher”, pede a Telmo que lhe diga que “o peregrino era um impostor”. No entanto, imediatamente depois de fazer este pedido, ouve Madalena chamar desesperadamente pelo marido e pensa que é por ele que ela chama. Todavia, rapidamente compreende que, na verdade, não é a ele que Madalena se refere quando a ouve dizer “meu marido, meu amor, meu Manuel”. Nesse momento, percebe que quis ser aquilo que, no passado, já fora, tal como mostra o verso “quis ser o que já fui”, dito pela intérprete Marisa Liz, e, arrependendo-se de ter sido “tão cego”, pede a Telmo que prossiga com o plano original que, infelizmente, já não vai a tempo de evitar o triste desfecho da peça.

 

Inês G.

«A máquina», dos Amor Electro, pode ser facilmente enquadrada neste drama de Garrett. Seria como um desabafo aos céus feito por Madalena em que lamentava a sua tristeza em relação ao seu amor por Manuel, por Maria e pelo choque causado pelo regresso de João de Portugal.

«Saber o que fazer / com isto a acontecer» são versos que traduzem o desespero de Madalena com tudo o que está a presenciar de repente. A esposa de Manuel já não aguenta as surpresas negativas, quer apenas paz, harmonia e felicidade com a sua família - «É de pedir aos céus / a mim e a ti Deus / que eu quero ser feliz». 

«Porque este amor é meu / em breve vou saber / que triste é viver» são versos que podem ser ligados ao desespero de Madalena em relação à possível perda de Maria que, mais tarde, é mesmo uma perda dolorosa devido à sua doença (tuberculose).

«Num caso como o meu / ter o meu amor para dar e para vender», os mesmos podem ser talvez adequados ao momento em que Madalena percebe que Manuel não se importa assim tanto com ela, nem com ninguém, apenas com a pátria e com a religião.

«Já nem vou mais chorar / a máquina parou / deixou de tocar», são uns versos de desgaste e de lamentação total da triste esposa de Manuel de Sousa Coutinho, que já nem as suas emoções consegue exprimir, não consegue transmitir mais nada, apenas sofrimento. Madalena é bombardeada com diversas preocupações, diversos problemas e imensas angústias. Quando a vocalista dos Amor Electro diz «A máquina parou», é possível comparar essa máquina ao seu coração, que parou devido às emoções dentro deste drama, Frei Luís de Sousa.

Assim que ouvi esta canção, senti logo uma conexão entre esta obra e certos versos ditos por Marisa Liz, vocalista dos Amor Electro. Ambos significam uma dor profunda, angústia, preocupação e desespero. Marisa diz que não sabe o que fazer com tudo o que está a acontecer com ela, sente-se perdida e numa fase muito difícil da sua vida, a máquina, como já disse, é o seu coração que, tal como diz nesta canção, parou, tal como o de Madalena que, não só está a passar por uma fase assustadora da sua vida como não sabe bem o que está a acontecer com o aparecimento de D. João, com todas as atitudes de Manuel e com a doença da sua filha amada, sabemos bem que tal como Marisa, o coração de Madalena está prestes a parar.

 

Inês P.

“Às vezes” é uma canção que está inserida no álbum Duro, dos Xutos e Pontapés. e que foi lançada em 2019. Esta canção tem como tema as relações, em geral, e a forma como uma simples foto ou palavra podem trazer recordações e revelar sentimentos.

Na peça de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, os retratos que decoravam as paredes interiores da casa de Manuel de Sousa Coutinho e do palacete de D. João de Portugal tinham grande valor sentimental. “Às vezes / basta uma imagem / para nos dar coragem / e continuar” adequa-se ao retrato de Manuel de Sousa Coutinho, que fora destruído pelas chamas. “Ai, é o retrato do meu marido! ... Salvem-me aquele retrato!” disse D. Madalena com preocupação. O retrato era um aconchego para ela e, se não tivesse sido queimado, talvez lhe desse coragem para voltar ao palacete de D. João de Portugal, enfrentando as recordações do passado e a culpa, agora mais vividas, que a consumiam.

Por outro lado, “às vezes / basta outra imagem / para soltar uma lágrima / e duvidar” encerra os sentimentos que foram despoletados em D. Madalena quando entra no palacete e se depara com o retrato de D. João de Portugal, seu primeiro marido. Ela pressente que algo trágico vai acontecer. O regresso à casa onde há vinte anos vivera com D. João de Portugal recorda-a do pecado que cometeu – a traição – de se ter apaixonado por Manuel de Sousa Coutinho quando ainda era casada com o seu primeiro marido, o que a fez sentir culpada e angustiada. Ao contrário de D. Madalena, Telmo sente-se contente por voltar à casa do seu antigo amo, onde fora tão feliz a servi-lo.

A evocação na letra da música “às vezes / basta uma palavra / para soltar a raiva / e enlouquecer” transporta-me para as últimas cenas do segundo ato, quando Jorge, irmão de Manuel, questiona o Romeiro, sobre qual a sua identidade, ao que este responde, apontando para o retrato de D. João de Portugal; “Ninguém”, e para a mensagem por este transmitida a D. Madalena de que D. João estava vivo.

Sendo o Romeiro não mais que D. João de Portugal, acabado de regressar da guerra de Alcácer Quibir e do longo cativeiro, sente-se revoltado ao perceber que D. Madalena não se lhe manteve fiel e que constituiu uma família. Este é, pois, o momento de viragem a partir do qual o seu objetivo passa a ser a vingança.

Na canção, a citação “Não é fácil, nunca é fácil” expressa o dramatismo da letra, que encontra paralelismo ao longo de toda a peça Frei Luís de Sousa, sobretudo na personagem D. Madalena. A ligação entre a canção e a obra encontra-se no facto de ambas revelarem o mesmo estado de espírito.

 

João F.

O tempo muda-nos, com ele crescemos e aprendemos, vivemos o presente, ansiamos o futuro, mas o passado, por muito longínquo que seja, deixa-nos marcas, umas mais profundas que outras, que nos acompanharão para o resto da vida. Na canção “Voltas”, de Fernando Daniel, e na obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, estão interlaçadas as ideias de que com o tempo, a nossa vida pode-se modificar completamente, mas que o passado sempre deixará uma marca profunda.

O sujeito da canção começa por exprimir as suas dúvidas e receios em relação ao que poderá ser a causa do insucesso da sua passada relação amorosa (“Será que dei / Que dei demais / Será que errei / Ou não fui capaz”) , sentimento que, embora por razões diferentes, também afetou Madalena. Durante sete anos, após o desaparecimento de D. João, Madalena, ao contrário do que muitos acreditavam, duvidava de que ele estava realmente morto e fez tudo para tal provar. No entanto, assim como sucede com o sujeito da canção, ambas as dúvidas ficam por esclarecer, pois não são encontradas respostas concretas, o que leva Madalena a desistir das suas buscas e das suas esperanças, afirmando que “Tudo foi inútil; e a ninguém mais ficou resto de dúvida…”.

Quando D. João regressa, apesar dos longos anos passados, tem a esperança de que Madalena o reconheça e que volte para seus braços. Contudo, percebe que tal não pode acontecer. Vê o quanto a ideia de estar vivo perturba Madalena (ideia que posteriormente se arrependerá de ter “espalhado”) e verifica não só que ela já não o reconhece como também o coração de Madalena já não lhe pertence a ele mas a Manuel de Sousa Coutinho. João fica desiludido e irritado quando tal entende, proferindo “ E eu tão cego que já tomava para mim!”. Na canção, também o sujeito percebe que o seu amor pela pessoa em causa já não existe e o que outrora existira hoje não passa de memórias, “Olhas pra mim / Já não sou teu / Esse teu mundo / Já não é o meu.”

Enquanto o sujeito da letra da canção afirma já não esperar uma possível reconciliação - “ Já foi tempo de aproveitar / Já não penso onde podíamos estar” - , João de Portugal vê-se quase obrigado a esquecer essa ideia a fim de evitar o sofrimento de Madalena. Por não ser o que realmente quer, D. João fica hesitante com a sua decisão e por pouco não volta atrás, todavia, cumpre a sua promessa (“Não: o que é dito é dito”) e parte para longe.

A passagem “Andas às voltas, nas voltas que a vida dá” simboliza o quanto a nossa vida pode mudar. A vida de Madalena alterou-se imenso durante sete anos, foi alcançando o que muitos sonhavam ter, uma boa casa, uma família, amor que lhe preenchesse o coração. A sua vida parecia perfeita e, no entanto, o seu passado exercia uma sombra sobre o presente, que, provavelmente, permanecerá para sempre.

 

João N.

Podemos considerar que a canção, «Jar of hearts» se enquadra no contexto dramático da peça Frei Luís de Sousa, uma vez que o «eu» aprendeu a viver sem uma pessoa que amava, mas que mais tarde quis voltar à sua vida, tal como aconteceu com Madalena.

«Because all this waiting is regret» (porque toda esta espera é arrependimento) poderia ser um dos pensamentos do Romeiro (D. João de Portugal), porque esperou tantos anos para poder reencontrar Madalena, mas, quando voltou, a sua existência já tinha sido completamente esquecida. Madalena superou a perda de João após o seu desaparecimento e foi capaz de criar uma nova família com Manuel. Podemos relacionar o sucedido com a frase «I have learned to live, half alive [eu aprendi a viver sem uma parte de mim]», porque, apesar de Madalena ter ficado destroçada, conseguiu desfrutar da sua vida sem D. João.

«Who do you think you are? Running around leaving scars [Quem julgas que és? A andar por aí a deixar cicatrizes]» são frases que mostram como Madalena se sente após o regresso de João, porque para quando volta coloca em causa a sua estabilidade familiar porque torna o casamento de Madalena ilegítimo bem como a sua filha Maria. D. João nunca teve a intenção de magoar Madalena, todos os problemas que causou foram algo sobre o qual não teve controlo: não tinha regressado mais cedo porque estivera aprisionado vinte anos em cativeiro, e não tinha como saber que Madalena já tinha uma nova família.

«So don’t come back for me … it took so long just to feel alright» ( Então não voltes para mim … demorou tanto tempo para me sentir bem) são passagens da canção que podem demonstrar que Madalena não queria voltar a ver João, tinha demorado uma eternidade para ultrapassar a sua angústia e o seu regresso reviveu esse sentimento. Madalena não consegue esconder o arrependimento por ter tido um relacionamento com D. João, porque isso no presente afeta o seu relacionamento com Manuel «I wish I had missed the first time that we kissed [eu desejava que tivesse perdido a oportunidade do nosso primeiro beijo]» é uma das soluções dadas pela canção que resolveria todos os seus problemas.

No final da canção a frase «You are gonna catch a cold, from the ice inside your soul [vais ficar doente, por causa do gelo que tens dentro da tua alma] pode ser uma reação de Romeiro à atitude de Madalena, um desabafo por Madalena não compreender o ponto de vista de D. João.

 

Lynete

A canção "Growing Pains", de Alessia Cara, fala sobre as inseguranças, medos, dúvidas e dificuldades que todos nós temos. Apesar de esta música ter o seu lado mais “escuro”, também tem uma pequena parte mais “bonita”, que fala das pessoas que nos tentam ajudar sempre a sair do local escuro em que nos encontremos. Por isso acho que é fácil relacionar esta música com diversos temas.

Na peça Frei Luís de Sousa há imensos momentos tensos cobertos de medo e desconfiança. Logo no ato I, com a chegada de Manuel de Sousa Coutinho ao seu palácio, Madalena e Maria deveriam estar radiantes. No entanto, Manuel não chegará com a mesma felicidade, por isso associo esta parte a “and I guess the bad can get better gotta be rong before it’s right (e eu acho que o melhor pode sempre melhorar, tenho de errada antes de estar cert)”. Esta passagem parece adequada porque, quando Manuel queima a casa, ele fá-lo com a intenção de proteger a família de um mal que estava para chegar, tudo que ele queria fazer era prevenir a tragédia e preservar o que lhe importava.

“Make my way through the motions, try to ignore it but home is looking further the closer I get (faço o meu caminho através das emoções, tento ignorar, mas, quanto mais a casa parece longe, mais perto eu fico)” fazem-me lembrar de Madalena e do seu desespero ao ver o quadro do seu amado marido ser queimado e, também, à medida que se vai afastando de casa, a sua aflição aumenta, ficando cada vez mais preocupada com o seu marido. Mais destes pequenos ataques acontecem a Madalena quando chega à sua nova/antiga residência, enchendo-se de agonia após ver um quadro de seu ex-marido: “They tell me ain’t that bad, now don’t you overreact so I just hold my breath (eles dizem que não é assim tão mau agora, não exageres por isso, eu sustento a respiração)” é uma passagem perfeita para o acontecimento acima referido pois só após uma conversa com Frei Jorge é que Madalena consegue acalmar-se e voltar ao normal.

Maria… a pobre menina doente cheia de restrições e cuidados. Maria era uma menina delicada mas bastante inteligente, cheia de curiosidade e interesse mas, infelizmente, os seus pais não gostavam muito do facto de ela aprender certas coisa novas; por isso acredito que as passagens que melhor se adequam à perspectiva da história de Maria são “I can’t see the sun when young should be fun (eu não consigo ver o sol, quando ser jovem é suposto ser divertido)”, “every happy phrase increased in my mind (todas as frases felizes estão gravadas na minha mente)”. Mas o facto de a doença da menina perturbar e preocupar demasiado os pais de Maria faz que esta passagem seja perfeita para explicar como os pais dela se sentiam permanentemente: “but still,the growing pains (...) they're keeping me up at night (mas são as dores de crescimento que me mantêm acordada durante a noite)".

 

Madalena

“Train Wreck”, de James Arthur, retrata na perfeição o drama e as tragédias sofridas pela família de Madalena, ao longo de toda a peça Frei Luís de Sousa. O título desta música pode constituir uma metáfora ilustrativa destas mesmas tragédias.

Quais serão os possíveis desfechos de se caminhar em cima da linha de um comboio? D. Madalena construiu a sua vida, o seu amor e a sua família, em cima da suposta morte de D. João, que, mais tarde, se revelou estar vivo. E, como em todos os desastres, existem inúmeras premonições, avisos subtis, de que o pior está para vir.

Ao andarmos em cima da linha do comboio, antes da sua chegada, e antes mesmo de o ouvir, sentimos os carris a vibrar debaixo dos nossos pés, ficando esta sensação cada vez mais intensa até o ouvirmos de facto, ao longe, a chegar. Adiamos as nossas ações até que, em ambos os casos, seja demasiado tarde.

As premonições presenciadas pelas personagens ao longo da peça anunciavam que algo de grave estava para acontecer. Telmo e Maria mostravam-se bastante pessimistas: “tenho cá uma coisa que me diz que antes de muito se há de ver quem é que quer mais à nossa menina nesta casa” – Telmo fala e preocupa Madalena com as suas profecias. (“Creio, Oh! Que são avisos que Deus nos manda para nos preparar...”). Maria mostra-se também, num desabafo com Telmo, bastante agoirenta quanto à situação.

Também as repetidas menções sobre Joana de Castro, cujo destino antecipa o de Madalena e Manuel, e os cuidados exagerados com Maria, prenunciam um desfecho trágico e adivinham um mal que se avizinha, o aparecimento de D. João.

Should I pray, to myself, to a God, to a saviour?” [Devo eu rezar, a algum Deus, a algum salvador?] A notícia dada pelo Romeiro de que D. João estava vivo foi recebida com desagrado e descontentamento. Todos se viraram para Deus, a pedir misericórdia, por eles e pelos outros. Madalena rezou por ela, por Manuel e para que o pecado por eles cometido não recaísse sobre Maria. Telmo reza também por Maria, pois, apesar de estar feliz pelo seu amo estar vivo, sente-se culpado por já gostar mais dela do que de D. João – “é que o amor desta outra filha, desta última filha é maior, e venceu...venceu...apagou o outro.” –, oferecendo mesmo a sua vida em troca da de Maria.

Passando ao final da peça, “Underneath our bad blood we still got a home” [por baixo do nosso sangue conspurcado ainda temos um sítio ao qual chamar casa] é um verso que se aplica bastante a Maria, quando encontra os pais já preparados para se converter à vida religiosa, já que o casamento se tinha tornado ilegítimo, e pede-lhes para voltarem atrás na decisão tomada. Também a frase “I’m down on my knees and I need you to be my God, be my help, be a saviour who can unsay this reckless words” [estou ajoelhado e preciso que sejas o meu Deus, a minha ajuda, a minha salvação que desdigas essas palavras irrefletidas] se aplica à situação de Maria, que, já às portas da morte, implora aos pais para dizerem que ela não era filha de um pecado e que ainda era digna do nome de seu pai (“Não sou: dize, meu pai, não sou”). Mas, nesse momento de necessidade, nada foi proferido.

D. João, ao ver Maria naquele estado, apela a Telmo para agir de acordo com o plano previamente acordado – que podemos relacionar com os versos “It’s not too late to build it back, because one-in-a-million chance is still a chance, and I would take those odds.” [Não é demasiado tarde para remediar a situação, pois uma chance em um milhão ainda é uma chance, e eu aproveitaria] – mas Telmo nada fez, uma vez que Jorge já o tinha dissuadido.

Apesar de ser um final triste, e de esta música representar na perfeição essa dor e essa tristeza, não poderia acontecer de outra maneira. De modo a escapar ao eterno sofrimento no inferno, Madalena e Manuel teriam de se converter à igreja, e a sua penitência só estaria concluída quando Maria, o fruto desse pecado, perdesse a vida, um sacrifício necessário para que Deus os perdoasse.

 

Margarida

“Quem me leva os meus fantasmas?”, canção do quinto álbum de originais, “Luz”, de Pedro Abrunhosa, lançado em 2007, poderia ser dedicada a quase todas as personagens de Frei Luís de Sousa.

A canção nasce de uma viagem noturna pelas ruas do Porto, de onde é originário o cantor, e atravessa fronteiras. Ela pode ser a história de um sem–abrigo, de um trabalhador despedido, de uma mulher traída, de um amor não correspondido. No fundo, esta canção pode ser a história de qualquer um de nós.

O eu da canção, afirma “Quem me leva os meus fantasmas, quem me salva desta espada?” Que melhores palavras para descrever o conflito permanente em que vive D. Madalena de Vilhena, na incerteza da morte do seu primeiro marido, atormentada pelos fantasmas do passado e exorcizando medos de que fala a música. “Mas eu!... Oh! Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores e que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Que amor, que felicidade… que desgraça a minha!”, diz Madalena também preocupada com Manuel.

“Quem me salva desta espada?”, a “espada de dois gumes” que, como diz Madalena quando se vê obrigada a mudar para a sua antiga casa, onde viveu com o primeiro marido, não é mais do que a sombra de D. João que paira e se atravessa no meio dos dois.

Os fantasmas assolam também Telmo, escudeiro da família, que sempre duvidou da morte de D. João de Portugal, que sempre considerou como seu único e verdadeiro senhor: “Não sou já o mesmo homem. Tinha um pressentimento do que havia de acontecer… parecia-me que não podia deixar de suceder. Eu que sempre esperei, que sempre suspirei pela sua vinda…”

E, do outro lado, D. João de Portugal, marido indesejado, cujo regresso foi em vão e sem melhor futuro: “De que serve a terra à vista se o barco está parado, de que serve ter a chave se a porta está aberta, de que servem as palavras, se a casa está deserta.”

“Quem me salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada?”. Que rumo tomar depois de descoberta a verdade? Esta verdade não é possível fugir e que parece que todos esperavam e o previam desde o início. “De que serve ter o mapa se o fim está traçado?”.

O amor de Madalena por Manuel, o amor dos dois pela filha de ambos, Maria, o amor de Maria pelos pais, o amor de D. João de Portugal por Madalena, passados vinte e um anos, do escudeiro Telmo pelo seu primeiro senhor. Segundo a letra de Pedro Abrunhosa, só há um Deus no nosso céu, chama-se “amor” e este amor assume todas as formas.

 

Gabriela

Acontece muitas vezes estarmos a ouvir uma canção, e ela nos transportar para algo que já vivemos, ou que estamos a viver, ligando-nos a essas situações nossas. Podemos associar a canção “Cómo te atreves”, dos Morat, a Madalena e àquilo que ela sente sobre o retorno de D. João de Portugal. Madalena não sabe porque é que D. João volta depois de vinte e um anos, em que ela pensou que ele estava morto: “Cómo te atreves a volver /  A darle vida a lo que estaba muerto (...) Cómo te atreves a volver / Y a tus cenizas convertir en fuego” (Como é que te atreves a voltar / A dar vida ao que estava esquecido (...) Como é que te atreves a voltar / e converter as tuas cinzas em fogo).

Telmo sempre acreditou, ou quis acreditar, que o primeiro marido de Madalena estivesse vivo, algo que a atormentava pois isso implicaria que tudo o que ela passara - procurá-lo durante anos; tentar refazer a sua vida; ser feliz - tudo isso era uma mentira. “Hoy mis mentiras veo caer / Que no es verdad que te olvidé / Cómo te atreves a volver” (hoje vejo as minhas mentiras cair / que não é verdade que te esqueci / como é que te atreves a voltar). Apesar de nunca o ter amado, Madalena tinha-lhe respeito e guardava fidelidade, afinal era o seu marido, mas a dor que lhe estava a causar ao voltar era muito grande (“Minha filha, minha filha, minha filha! Estou... estás... perdidas, desonradas... infames! Oh! Minha filha, minha filha, minha filha!”).

Com Manuel de Sousa Coutinho reconstruiu a sua vida e teve uma filha, que está doente, acreditando-se que em breve a perderão para a tuberculose, algo que acaba por acontecer. No momento em que Maria está para morrer, já em sofrimento pois seus pais iam abandonar a vida secular, ao ver D. João, diz “ É aquela voz, é ele, é ele! Já não há tempo... Minha mãe, meu pai, cobri-me estas faces que morro de vergonha...”, e com isto cai morta. Podemos dizer que talvez Madalena o culpe um pouco pela morte da filha, mas podemos afirmar com certeza que foi por causa dele que ela foi separada do segundo marido que, afinal de contas, era o seu grande amor: “Cómo te atreves a volver / Me hiciste daño pero sigo vivo / Contigo yo me acostumbré a perder / Mi corazón funciona sin latidos” (Como é que te atreves a voltar / magoaste mas continuou vivo / contigo acostumei-me a perder / o meu coração funciona sem bater).

 

Mariana

“Melhor de mim”, uma canção da autoria da cantora portuguesa Marisa, pode ser associada à obra Frei Luís de Sousa, já que o eu da letra e algumas personagens partilham sentimentos semelhantes. 

«Hoje, a semente que dorme na terra e se esconde no escuro que encerra; amanhã nascerá uma flor, ainda que a esperança de luz seja escassa». A passagem reflete parte dos sentimentos de Madalena de Vilhena, que estando apenas na companhia da filha e de Telmo, anseia mais que tudo a chegada do marido que fora a Lisboa, embora, a dada altura, a protagonista já não tivesse tanta certeza do seu regresso: “(...) que me prometeu vir antes de véspera, e não veio; que é quase noite, e que já não estou contente com a tardança”. Madalena mostra um sentimento de preocupação e de certa revolta com a situação; a esperança estava aos poucos a escassear. No entanto, na presença da jovem Maria De Noronha, as coisas pareciam acalmar. O seu otimismo e simpatia traziam paz ao lar, agora que o pai permanecia ausente. 

Ainda que o seu conhecimento pudesse, por vezes, tornar-se inconveniente, Maria é a personagem mais admirável da história, porque, a meu ver, é nela que a obra ganha vivacidade. De facto, embora Maria seja destacada como uma menina afável, sensível e extremamente intuitiva, parece ser a mais afetada pelas tragédias ao longo da peça; todo aquele tempo sem o pai, a mudança de casa, o incêndio na própria residência, a sua doença incurável, que mais tarde, veio a ser a causa da sua morte, foram acontecimentos que pouco facilitaram a vida da jovem, daí que, na minha opinião, ela seja a verdadeira heroína da obra.

« É preciso perder, para depois se ganhar e mesmo sem ver, acreditar.» A partir dos versos é possível fazer uma analogia entre a canção e o drama de Garrett.

De facto, a morte do primeiro marido de Madalena foi dolorosa, e apesar de a ter respeitado, demonstrando lealdade por D. João, a verdade é que o futuro com Manuel de Sousa Coutinho não teria sido possível se João de Portugal não tivesse sido dado como morto na batalha de Alcácer Quibir. O provérbio «há males que vêm por bens», bem como a passagem referida acima, enquadram-se bem nesta situação e pretendem exatamente mostrar que, apesar da morte trágica, de alguém por quem, inclusivamente, Madalena não sentia amor, Madalena ficara com a alegria de que precisava. 

João de Portugal, amava realmente a esposa. Para ele, a relação entre os dois era de amor recíproco, preservação e afeto. No entanto, Madalena não sentia o mesmo. Madalena nunca esteve verdadeiramente apaixonada por João.

Respeitava-o enquanto marido, mas não muito mais que isso. Já a Telmo, esta ideia não agradava, pois tendo sido sempre muito fiel e agradecido ao seu amo, teria preferido que o amor dos dois fosse puro e verdadeiro. 

Afinal, se formos a ver, quando a família Vilhena Coutinho teve de se mudar para a casa do primeiro marido da protagonista, esta ficou apavorada, uma vez que as memórias que havia criado com João naquele palacete pareciam assombrar o futuro e antecipar o destino do mais recente casal: a sua separação: « não me sai esta ideia da cabeça…- de que vou encontrar ali a sombra desrespeitosa de D. João que me está a ameaçar com uma espada de dois gumes..» 

O inesperado regresso de D João de Portugal, ao fim de vinte e um anos, veio trazer o desfecho da obra, com a morte de Maria e o recolhimento de Madalena e Manuel a um convento.

 

Cunha

A canção que eu escolhi foi “Fuyu No Hanashi“ (Um Conto de Inverno), tocada por uma banda de um anime, “Given”. É esta a música que vou relacionar com a peça Frei Luís de Sousa. Ela pode ser associada a D. Madalena mas, mais precisamente, a D. João de Portugal ou, como o vamos conhecer mas lá para o final, ao Romeiro.

Logo que comparamos o título da melodia com o tempo da peça, reparamos que há uma antítese, o título é “Fuyu No Hanashi“ (Um Conto de Inverno) e a peça decorre no verão. O tipo de canção também pode ser considerado uma antítese, já que esta é pop/rock, e para o tipo de peça que é, esperava-se uma música calma, instrumental, que nos pusesse lágrimas nos olhos, sofrida, logo, uma música clássica, por exemplo, de Bach.

D. João de Portugal, do meu ponto de vista, é quem mais sofre ao longo do enredo, pois esteve durante os últimos vinte anos em cativeiro na Palestina, quando lutou pelo seu país na batalha de Alcácer Quibir. Foi ele quem mais sofreu de infelicidade, desprezo e azar. É verdade que a peça se baseia no drama e na tragédia à volta de D. Madalena e da família Vilhena-Coutinho, mas rapidamente nos apercebemos de que D. João, ex-marido de D. Madalena, não é tratado com o respeito e a dignidade a que teria direito.

Quase que podemos fazer uma analogia entre o primeiro verso (“mada toke kirezu ni nokotta”) [Assim como a neve que não derreteu por completo], e o facto de D. João de Portugal não ter desaparecido, afinal, na batalha. O verso “boku wa kono koi o don'na kotoba de tojitara ī no” (Com quais palavras eu / Deveria encerrar esse amor?) traduz, de certa forma, a maneira como o casamento de D.Maria e de D. João ficou suspenso, sem um final.

“hanareta dareka to darekaga ita koto tada soredake no hanashi” (É apenas a história de duas pessoas / Que acabaram por se separar) relembra a desunião entre D. João e D. Madalena. Quando aparece em cena o Romeiro, D. João de Portugal, no ato III, cena VI, este acaba por não compreender à primeira que a quem D. Madalena gritava com tanta ânsia, desespero atrás da porta, não era ele. Talvez, esta ignorância nos demonstre que ele tinha ciúmes, ou seja, que ainda tinha esperanças, como na canção “eien ni boku no naka de ikite ku yo sayonara dekizu ni” (Tu sempre estarás dentro de mim / Para sempre junto comigo).

Na última cena, o Romeiro pede a Telmo que salve Maria, filha de D. Madalena e de Manuel. D. João arrepende-se de ter entrado naquela família e ter destruído a felicidade desta. Não se sabe qual o próximo passo de D. João mas eu acho “aruki dasu boku to zutto issho ni” (Que tenta seguir em frente / Mesmo sem conseguir me despedir); “eien no naka o samayo te iru yo” (E agora está vagando pela eternidade).

Numa análise mais profunda, mais universal, a música pode até ser interpretada como um dueto entre D. Madalena e D. João de Portugal, porque alguns dos versos parece que respondem um ao outro. Até poderíamos interpretar o verso “boku wa kono koi o don'na kotoba de tojitara ī no” (Com quais palavras eu / Deveria encerrar esse amor?) como dito por D. Madalena. Ou “omoi nimotsu o kakae teru” (Eu ainda estou carregando uma mala pesada) esta “mala” representa a “bagagem” do passado de D. Madalena, quando nos apercebemos do medo que ela tinha do seu ex-marido, e da angústia sobre se ele estaria vivo ou morto. 

E, por último, “mada toke kirezu ni nokotta hikage no yuki mitaina omoi o daite iki teru” (Assim como a neve que não derreteu por completo / Como se estivesse na sombra / Eu continuo tendo esse sentimento dentro de mim), onde a neve é uma metáfora para o receio que D. Madalena tinha da vinda do seu ex-marido, medo que tanto tentara esconder na parte mais funda, onde a luz não alcança, mas que permanecera sempre.

 

Marta

"Dernière Danse” (2014) é uma das músicas de Indila. Certas partes da letra da música poderiam muito bem ser transformadas nas falas de D. Madalena. D. Madalena é uma personagem que demonstra muito sofrimentos e que está sempre nervosa, preocupada e em aflição. Quando D. Madalena diz “(...)este medo, estes contínuos terrores que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade(...)”, a sua primeira fala na peça, podemos concluir desde já que Madalena é uma pessoa pessimista, com medos e sofrimentos. O início da música poderia lhe ser então “dedicado” pois descreve exatamente esta “mensagem”:  “Oh ma douce souffrance. Pourquoi s'acharner? Tu recommences.” - Oh meu doce sofrimento. Porquê lutar contra? Se tu voltas.” 

Todos conhecem o diálogo entre Jorge e Romeiro, a “famosa” pergunta “Romeiro, romeiro! quem és tu?!” ao qual Romeiro responde “Ninguém!”. Na música temos uma frase que podia ser utilizada pelo Romeiro: “Je ne suis qu'un être sans importance” - Sou apenas um ser sem importância. 

Depois da visita inesperada do Romeiro, Jorge e D. Manuel têm uma conversa e durante a sua troca de frases D. Manuel está transtornado com o regresso do ex-esposo de D. Madalena. “(...)que esta lembrança é que me mata, que me desespera!(...)É o castigo terrível do meu erro(...) são frases ditas a Jorge por D. Manuel, e na música há uma frase que retrata o seu sofrimento: “Dans cette douce souffrance. Dont j'ai payé toutes les offenses.” - Neste doce sofrimento. Eu paguei por todas as ofensas.

A meu ver, a música "Dernière Danse” exprime todo o sofrimento que atormentou as personagens desta peça. Apesar de achar que a música poderá representar mais D. Madalena existem certas partes delas que podemos atribuir a outros personagens como referi.  

A música exprime sentimentos negativos e com ela a cantora passa a mensagem de estar em sofrimento, angústia, tormento. Considero que os mesmos sentimentos são transmitidos pela Madalena em quase toda a peça, por isso penso que a música retrata mais Dona Madalena do que outra personagem. Mas apesar de assim o considerar, creio que é uma boa música para demonstrar o remoinho de negatividade e aflição que decorre em toda a peça. Não só os sentimentos de Dona Madalena, como também de D. Manuel e D. João, como já os indiquei ao referir que partes da letra da música poderiam ser transformadas nas suas palavras.

 

Maura

“Under pressure” (Sob pressão) é um tema dos Queen e David Bowie que pode ser relacionado com o desenvolvimento da peça Frei Luís de Sousa, de Garrett, e com os sentimentos e a tensão vivenciados pelas personagens, sobretudo de D. João de Portugal, no ato em que descobre a nova vida de Madalena, onde ele não tem lugar.

O título da canção está associado ao estado emocional em que D. João de Portugal se encontra quando chega a casa passados todos aqueles anos e se apercebe de que todos os que tinham feito parte do seu passado viviam agora uma outra vida que não o incluía.  

 Os versos “Pressure pushing down on me/Pressing down on you no man ask for/Splits a family in two” (pressão a empurrar-me para baixo/Pressão que ninguém quer sentir/Divide uma família em dois) sugerem o peso que João de Portugal sentiu ao perceber que o seu aparecimento já não era esperado e que é o causador da divisão e desgraça da família, como é de novo evidenciado na seguinte passagem: “E porque não, se já me pesa a mim dela, se tanto me pesa ela a mim(...)”; “(...) e contudo, vinte anos de ausência e de conversação de novos amigos fazem esquecer tanto os velhos!(...)”. 

Perante esta situação, João de Portugal reflete na posição em que o seu regresso pode deixar a sua esposa e, para não a desonrar (pois ama-a e quer o seu bem), toma a decisão de partir e não assumir a sua identidade: “Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele, que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos(...)”. A esta decisão podemos associar o verso da canção “Turned away from it all like a blind man” (Afastei-me de tudo como um cego) pois João de Portugal deixa tudo o que tem, casa, bens, mulher, para não destruir a vida desta família.

O verso “And love dares you to care for” (E o amor desafia-te a cuidar) simboliza a medida tomada pelo Romeiro. Este sacrifica aquilo que lhe pertence por amor, não querendo ver a mulher que amava desgraçada e com a vida desmoronada. Este ato de cuidar por amor é presenciado numa fala entre Romeiro e Telmo, em que o primeiro diz “Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel.”

Por fim, pude ainda identificar uma última analogia entre esta música e a peça Frei Luís de Sousa. Esta comparação é referente à fala em que, com toda a certeza, João de Portugal confirma a sua partida depois de ouvir Madalena chamar desesperadamente o seu marido. Ao ouvir as suas palavras o  Romeiro pensa que estas se dirigem a ele mas, ao aperceber-se de que se referem a Manuel Sousa, João percebe que o melhor a fazer é partir (“Ah! E eu tão cego que já tomava para mim!... Céu e Inferno! Abra-se esta porta… Não: o que é dito é dito”). Na canção encontramos os versos “ Keep coming up with love but it's so slashed and torn/ Why/Love/Insanity laughs under pressure we're cracking” (Continue a vir com amor mas é tão cortante e rasgado/ Porque/ Amor/ Ri loucamente sob a pressão que nos está a partir), que retratam o sentimento de João de Portugal ao perceber que Madalena não chama por ele, levando-o a pôr em prática a decisão já antes tomada.

 

Miguel M.

A canção “Lealdade Coragem, Verdade”, escrita em 2020 por Christina Aguilera para ser interpretada no filme Mulan de 2020 (não exibido, ainda, por causa da pandemia), exprime, de certa forma, os sentimentos de D. João de Portugal quando este queria voltar para perto da sua família.

Podemos assumir que os versos «Meu destino está nessa guerra / Eu já consigo ver / Minha família é tudo o que eu tenho / Fonte do meu viver» dizem respeito a quando D. João de Portugal se manteve vinte e um anos longe da sua família mas, ainda assim, lutou contra as adversidades e, por fim, pôde ter a hipótese de a rever mais uma vez.

De seguida, a meu ver, podemos associar os versos «Minha verdadeira imagem / Continua a perguntar / Se existe na guerreira / Lealdade Para lutar» ao discurso onde o primeiro marido de Madalena revela a Jorge (e a Madalena) a sua verdadeira identidade, dado que, na visão de quase todos, o Romeiro seria apenas um peregrino que necessitava de falar, descrito na resposta «Ninguém (enquanto aponta para o quadro de D. João de Portugal)», quando lhe perguntam “quem és tu?”. O suposto peregrino revela-se, mostrando, assim, a sua verdadeira imagem, quando poderia não o ter feito.

De seguida, podemos interpretar os versos «Toda a vitória exige coragem / É solitária essa viagem» de diferentes formas. Uma delas, num sentido literal, onde podemos assumir que a vitória se refere ao facto de ele ter sobrevivido à guerra e à viagem que teve de percorrer até chegar à sua família. Ou, num sentido menos literal, onde o sentimento de coragem se adequa ao sentimento sentido quando o Romeiro se revela para todos e está disposto a começar de onde parou.

Apesar de o autor não expressar na obra, de forma clara, os sentimentos de D. João, podemos deduzir que este, após ver a sua amada (uma das razões pela qual ele quis voltar) amando outro homem, ficou despedaçado e triste - o que permite fazer um paralelo com os versos «Minha alma gelada / Quero ser mais forte mesmo na dor». Podemos deduzir que o sentido de querer ser mais forte mesmo na dor se traduz no facto de, apesar de D. João amar D. Madalena, ele teria de seguir em frente pois D. Manuel era o seu novo esposo. Temos uma cena semelhante quando Madalena exclama «Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aí estais» e o Romeiro, como se esqueceu de  existência de D. Manuel, sentiu que aquele chamamento fosse para ele mas, em seguida, D. Madalena chama por «Meu marido. Meu amor, meu Manuel!» e, nesse momento, D. João fica desiludido, dizendo «Não: o que é dito é dito», mostrando que, mesmo com esta informação escandalosa, não iria deixar de fazer o que tinha em mente, e que não iria voltar atrás na sua palavra - a isto se adequam também os versos da canção «Lealdade e coragem / E a verdade para lutar».

 

Miguel S.

Neste comentário à obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, utilizo a música «All Girls Are The Same», do falecido artista norte-americano Juice WRLD. Achei curioso que esta música, mesmo tratando um tema não tão próximo à obra de Almeida Garrett, mencionasse com tanto detalhe algumas coisas pelas quais D. João de Portugal passou igualmente.

O sujeito lírico da canção expressa a sua frustração, que resulta de a sua mulher o ter deixado por outro homem. Esta canção acaba por passar por um desabafo de emoções quase contraditórias. Por um lado, o “eu” está frustrado, dizendo que todas as fémeas são iguais, mas, mesmo assim, mantém um tom triste, como se não quisesse que a relação tivesse terminado. Juice WRLD e D. João de Portugal vão-se aproximando sentimentalmente cada vez mais, tanto no decurso da obra como no da música escolhida.

Logo no início da canção, Juice WRLD canta os versos «Who am I kidding? All this jealousy and agony that I sit in» (Quem é que eu engano? Toda esta inveja e agonia que sinto). Conseguimos associar isto a D. João, pois semelhantemente ao sujeito lírico, ele também se quer convencer que não foi afetado pelo que se passou, mas todos sabem da mágoa e agonia que ele inevitavelmente sente. Observamos o mesmo em “Agora é preciso remediar o mal feito”, porque esta frase é dita com assertividade (por romeiro), quase a tentar mostrar indiferença à situação, mas, como referido acima, mostra também que D. João de Portugal está inevitavelmente abalado. «Pissed off from the way that I don't fit in» (irritado pela forma como não me integro) é um dos versos que vem a seguir, que aplicamos a D. João devido a estar, também, desiludido por não se conseguir voltar a integrar na sua família, porque já não há lugar para ele. Lutara tantos anos para poder voltar para a sua família, e quando finalmente conseguiu chegar a casa, percebe que foi trocado e que não tem lugar.

D. João sente-se como Juice WRLD no segundo verso, onde o mesmo canta «Screw living, I'ma drown in my sorrow» (que se lixe a vida, vou-me afogar na minha tristeza) (...) «Am I dying? Am I living? It's screw feelings, my sorrow goes up to the ceiling» (Estarei a morrer? Estarei a viver? Que se lixem os meus sentimentos, a minha tristeza sobe até ao teto). Este último verso aproxima-se ainda mais de João pois nem ele mesmo sabe se está vivo ou morto. Sente-se fisicamente vivo, mas será que sem lugar na sua mesma família e sem amigos estará mesmo a viver? Estará morto para a sua família? Para o mundo em si? Isto observa-se na seguinte citação, da obra de Garrett: “Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel. E para que? D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera”. O reaparecimento de D. João tornaria o casamento de Madalena e Manuel ilegítimo, e o pensamento radical de agora estar metaforicamente morto, devido a não ter nada por que lutar, terá de certeza passado pela cabeça de D. João de Portugal.

Concluindo, surpreendeu-me que uma canção lançada num álbum de 2018 expressasse tantos sentimentos comuns à obra de 1843. Com isto dito, conseguimos concluir que o amor será sempre intemporal e que, na realidade, o que muda é a forma como as pessoas agem e não os sentimentos.

 

Pedro S.

No comentário da obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, vou utilizar a música «Teu Eternamente», do artista português, de vinte e oito anos, João Batista Coelho, mais conhecido pelo seu nome artístico de Slow J. Achei algo curioso o facto de que esta música descreve com alguma precisão os sentimentos de D. Manuel perto do final da obra Frei Luís de Sousa, sendo esta a razão que me levou a escolher esta música.

Manuel vive um amor impossível devido às circunstâncias à sua volta, nunca poderá resultar. O facto de D. Madalena ainda estar casada com D. João torna a união entre Manuel e Madalena impossível aos olhos da sociedade, o que os obriga a “deixar” o seu amor para trás, escolhendo os dois ingressar na vida religiosa. O mesmo acontece, de certa forma, a Slow J, que também expressa um sentimento de um amor impossível, que, devido a fatores desconhecidos, não funcionou. Podemos porém depreender que o amor de Slow J não funcionou pois embora ele e a sua “amada” ainda sintam amor um pelo outro, ambos acabam por ser incompatíveis.

O sujeito lírico da canção de Slow J diz que espera que, embora este amor seja impossível nesta vida, talvez na próxima funcione (“Próximas vidas virão, vemo-nos novamente”) pois fará um esforço para corrigir as suas falhas e ser melhor dali para diante.

Penso que, de certa forma, D. Manuel poderá ter sentido o mesmo. Embora o seu casamento com D. Madalena fosse impossível devido às circunstâncias em que se encontraram nesta vida, talvez em uma próxima ambos pudessem viver o seu amor sem restrições ou obstáculos.

Outro aspeto da música que achei encaixar bem na obra foi o facto de Slow J dizer que “Eu sei que tás aqui ao lado”, “Mas hoje sinto-me tão distante”. Estes versos evidenciam que a relação entre os dois tornou-se distante e fria, mesmo que os dois ainda estejam perto um do outro fisicamente.

Podemos depreender que uma vez que ambos, D. Manuel e D. Madalena, escolheram seguir uma vida religiosa após o seu relacionamento, estes ao longo da sua vida deve-se ter encontrado durante os seus deveres como figuras religiosas, estando perto fisicamente, mas sentindo-se distantes do que antes eram.

Outro aspeto muito interessante da música é o facto de que na obra Manuel é obrigado a acabar o seu relacionamento com Madalena, não só devido à sua religião como também devido à pressão social e Slow J fala sobre o sentimento que provavelmente ambos Manuel e Madalena sentiram de querer ignorar estes padrões e de continuar a sua relação (“Mas esquece o que as famílias deviam ser E bora ser como nós sonhamos Bora ser como éramos dantes”).

Mesmo uma canção lançada num em 2019, consegue expressar sentimentos comuns à obra de 1843, Frei Luís de Sousa. Por isso conseguimos concluir que o amor será sempre uma coisa intemporal e que na realidade, o que muda não é o sentimento, mas sim como as pessoas reagem com a esse sentimento, de amar alguém mais que tudo na vida.

 

Pedro P.

«Desencontro», de Chico Buarque, foi a canção que escolhi para analisar a par com Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Inicialmente pensei num fado, um que espelhasse a dor e angústia vividas por Madalena, ou então uma música popular, que falasse dos seus dois amores, Manuel e João. Talvez a aleatoriedade de como esta canção apareceu no meu caminho me tenha inspirado para a analisar em conjunto com a peça. 

«A sua lembrança me dói tanto» são palavras do eu da canção que poderiam pertencer à obra de Garrett, tanto por parte de Madalena como de Telmo (porém, este mais otimista, crente no regresso de D. João de Portugal).

 «A sua lembrança me dói tanto», pois dói, Madalena. Mas será que o amavas sequer? Se amavas, já não amas. E temes o seu regresso! E a ti Telmo... A ti também dói a lembrança de alguém como o teu amo, aquele «espelho de cavalaria e gentileza». 

«Sobrou desse nosso desencontro / Um conto de amor / Sem ponto final» talvez possa referir o ponto que, em falta, marca o início do fim. Um ponto final que teria sido melhor existir (João ter morrido em Alcácer-Quibir) do que regressar João a uma ideia por terminar. O regresso de D. João de Portugal, para além de um destino inesperado e inevitável, deduzido dos presságios de Madalena e dos agouros de Telmo, veio destruir o amor de Madalena e Manuel, a sua família.

«Retrato sem cor / Jogado aos meus pés / E saudades fúteis / Saudades frágeis / Meros papéis». Não sei se Buarque e Garrett partilharam ideias mas estes cinco versos não podem escapar à referência do incêndio do palácio dos Sousa Coutinho, em particular à incineração do retrato de Manuel. Madalena teme e antecipa a perda do seu atual marido (do retrato), tal como perdeu João, e é com estes a acomodarem-se nos aposentos do antigo cônjuge, onde também se encontra um retrato seu, que a sua imagem se torna mais presente e nítida entre as personagens do que propriamente a de Manuel, cujo imagem sucumbe às ígneas chamas. A partir daqui, dá-se uma sequência de eventos e presságios trágicos, até à chegada do Romeiro.

Para terminar a análise da peça, irei aproveitar a última oitava da canção de Chico Buarque. Começo pelo verso «Não sei se você ainda é a mesma»: vinte e um anos depois é claro que Madalena não é a mesma que João lembra, mudam-se se os tempos, mudam-se as vontades. «Ou se cortou os cabelos / Rasgou o que é meu / Se ainda tem saudades / E sofre como eu»: Madalena já não tem saudade, na verdade até receia o regresso do antigo marido. O seu sofrimento seria, sim, por poder vir a perder a família, visto que o casamento e a sua filha Maria eram ambos ilegítimos. «Ou tudo já passou / Já tem um novo amor / Já me esqueceu»: Manuel é, sim, o novo amor de Madalena, mas esta nunca esqueceu João, assombrada pelo seu eventual regresso.

 

Raquel

A recomendação feita na canção de Diogo Piçarra, “Tu e Eu'', é de que se há amor entre duas pessoas, há razão para elas ficarem juntas, independentemente de todas as consequências ou obstáculos. Esta definição poderia encaixar-se na situação entre Madalena e D. Manuel, personagens de Frei Luís de Sousa, um amor impossível.

“Se o amor nos deixar (...) e o tempo nos mudar, irei estar sempre aqui.” encerra um conselho que ficaria bem a Madalena e D. Manuel já que estes se casaram por amor e não por ter de ser assim, como a maioria dos nobres se casavam naquela época. No entanto, no final da história, este amor quase parece ser um amor impossível já que o primeiro marido de Madalena “volta à vida”. Esta parte da música também poderia ser encaixada no pensamento de D. João de Portugal já que este deseja que Madalena gostasse dele.

“Se tu pensas em mim, como eu penso em ti” é quase como se fosse um pensamento de Madalena. Na cena VIII, do ato III, percebemos que Madalena estaria disposta a lutar contra tudo e todos pelo amor que sente por Manuel. Veja-se a  “meu Marido, meu amor, meu Manuel''. Também numa fala mais distante podemos ter mais certeza acerca do seu amor impossível: “a nossa união, o nosso amor é impossível".

“Se tu dizes que sim, eu sei por onde seguir” parece ser mais um dos pensamentos de Madalena já que esta também parece querer uma espécie de aprovação por parte de D. Manuel para que o seu amor continue ( cena VIII, do ato III).

“Que nada se constrói, sem que antes tenhas, errado ao tentar” é quase como uma lição de vida para Madalena e Manuel, já que estes tentaram semear frutos do seu amor e, no final, este amor é considerado impossível.

Assim, concluo que o tema da canção seria bem aplicada sobre Manuel e Madalena, quase como se retratasse a situação que cai sobre eles.

 

Ricardo

“Painless” foi o titulo escolhido na obra de Josh A. É um cantor americano que ainda faz músicas para o nosso século, século XXI. Por mais saudades que D. Madalena sentisse por D. João de Portugal quando está partir para a batalha de Alcácer Quibir, João deixava para trás a sua amada, e sem saber o que esperava ou, pior, se ainda voltaria para os braços do seu amor. A distância entre os dois fazia o coração de D. Madalena estar sempre com medo de perder o seu amado, mas ao mesmo tempo, sentia amor esse por D. Manuel.

Ao longo da obra vemos como D. Madalena se ia sentido em relação a D. João. E os sentimentos de D. João? Nunca tivemos uma visão de como ele se sentia. No entanto, agora, com a sua vinda, podemos imaginar como seriam os seus sentimentos durante aqueles sete anos: “Showed me fake love, it was shameless / I should've known that we would never make it / Now my heart is cold, feeling vacant [Mostraste-me um amor falso, foi sem vergonha / Eu deveria saber que nunca conseguiríamos / Agora meu coração está frio, sinto me vazio]”. Estes versos, transmitem-nos os sentimentos que D. João sentiria quando regressou da guerra e viu que D. Madalena estava com D. Manuel. Para D. João, D. Madalena representava a paz, a tranquilidade e a vida (“Amada senhora, morro de paixão”). Mas D. Madalena não entendeu isso. O verso “Lied to me and said you wouldn't run [Mentiste-me e disseste que não ias fugir]” pretende mostrar o quão D. João estava magoado e triste com Madalena.

Antes do regresso, a opção de D. João de Portugal era apenas rezar, esperar e ter esperança de que a sua amada ainda estava à espera do seu regresso a Portugal. Mas os sentimentos de Madalena estavam como neste verso: “But I'll be fine, I'm better off without you [Mas eu vou ficar bem, estou melhor sem ti]”.

Para D. João, mantido em cativeiro durante longos anos, a vontade de se reencontrar com Madalena era cada vez maior. Com isso também crescia o sentimento de preocupação e desespero. Madalena, depois de sete anos decidiria desistir de esperar por D. João e casara com D. Manuel, supondo que D. João estava morto: “Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berbéria, por todas as séjanas de Fez e Marrocos, por todos quantos aduares de Alarves aí houve…”; “… Aquela notícia que logo viera com as primeiras novas da batalha d’Alcácer. Tudo foi inútil; e a ninguém mais ficou resto de dúvida…”.

 

Rita

O romeiro ou, melhor dizendo, D. João de Portugal, depois de ter passado vinte e um anos longe da sua família, da mulher que ele amava, Madalena, voltou a casa, mas o cenário que o esperava não era o mais agradável.

Para ilustrar as cenas XIV e XV do ato II de Frei Luís de Sousa, decidi escolher a canção Six feet under da cantora norte americana Billie Eilish. A letra começa logo com o seguinte verso:  “help i lost myself again / but i remember you” (alguém me ajude que eu me perdi a mim própria de novo / mas eu lembro-me de ti). À semelhança do eu da canção de Billie, também D. João se sente perdido, voltou para a casa onde tinha uma família que já não existia, estava perdido mas lembrava-se de Madalena, a mulher que antes lhe trouxera felicidade. O verso seguinte "don't come back, it won't end well” (não voltes, não acabará bem) seria o que Madalena diria a D. João, visto que o seu regresso era indesejado pois tornaria o casamento de Madalena e de D. Manuel, o homem que ela realmente amava, ilegítimo.

Para fazer este trabalho, utilizando esta canção, tentei focar-me mais nas emoções que o romeiro poderia estar a sentir com o sucedido. Ele amara Madalena mas, agora que voltou, vê que esse amor já não existe: “Our love is six feet under / I can't help but wonder / If our grave was watered by the rain / Would roses bloom? / Could roses bloom / Again?(O nosso amor  está a dois metros de profundidade / não consigo pensar se a nossa sepultura foi irrigada pela chuva / as rosas floresceriam? / conseguiriam rosas florescer? / de novo?). Esta estrofe pode ser analisada de duas maneiras distintas, uma em que D. João sente que o seu amor por Madalena já está enterrado a dois metros de profundidade, já não existe (mas, haveria alguma possibilidade de voltar a nascer, de florescer?) Outra em que, por cima do amor de Madalena e João se formou um amor mais forte, o amor de uma família, onde floresceram rosas que se sustentaram neste amor perdido para crescer.

Por fim, podemos relacionar a estrofe: “And all of these clouds / Cryin' us back to life / But you're cold as a night” (e todas estas nuvens / a chorarem-nos de volta à vida / mas tu estás frio como a noite) com Frei Luís de Sousa. O mesmo sentimento frio e distante que Billie sente assemelha-se ao sentimento que D. João estava a ter: Madalena era agora uma mulher desconhecida, completamente diferente daquela que ele conhecera há vinte e um anos e que deixara com grande angústia no coração quando fora defender a pátria em Alcácer Quibir; Madalena era agora uma nova pessoa que não tinha lugar para ele na sua vida.

Assim, Billie Eilish consegue, a partir de uma música lançada em 2016, descrever a mágoa e dor sentidas por uma personagem de uma peça de teatro escrita em 1843 e publicada em 1844.

 

Tomás V.

A espera ininterrupta por algo, estabelecendo assim uma atmosfera de tensão constante, é um dos aspetos que caracteriza a obra dramatúrgica Frei Luís de Sousa. A versatilidade que encontrei em Homesick permite uma associação direta de diversos aspetos da peça, como o anteriormente apresentado, a versos da canção. Deste modo, qualquer personagem da criação teatral mais afamada de Almeida Garrett pode-se identificar e ver os seus problemas retratados na obra musical.

«I always knew that you existed, no one listened» (Sempre soube que tu existias, mas ninguém me ouviu) é o desabafo de Madison Beer que espelha a angústia e esperança que Telmo vivia. Nas duas situações esse momento é notável o alívio e, de certo modo, conotam a raiva em, finalmente, poder confirmar por que tanto sofriam. No caso de Telmo, é referente à esperança de encontrar o amo após vinte e um anos de espera. 

Isto é complementado pelo questionamento «What took you so long?» (O que te fez demorar tanto?), que é possível inferir que tenha ocorrido a Telmo já que, quando surpreso pela revelação da real identidade do romeiro, questionou-o sobre o seu paradeiro.

 Na canção, escrita também pela intérprete original, a instância onde são recitados os seguintes versos «These ain't my people / Ain't my crew / It ain't my planet / These humans speak my language / Still don't understand it»  (Estes não são o meu povo / Não são da minha banda / Não são do meu planeta / Estes humanos não falam a minha língua / Mas continuo sem entender), a cantora mostra um distanciamento, quase que propositado, de ela mesma dos demais, cuja razão está assente na sua saúde mental. Isto aplica-se ao drama de Garrett, onde o até então romeiro mostra um desapego aos seus parentes já não conseguindo mesmo associá-los a família («A minha família… Já não tenho família.»). Ainda que seja no sentido conotativo, pois tal afirmação constitui uma falácia, o desabafo teve como objetivo acentuar o estado depressivo e de abandono que o mascarado D. João viva: «São vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias...».

Por fim, no último ato, instantes antes da morte, Maria mostra ter repugnância pela presença de D. João naquele momento, já bastante difícil para a pobre criança tuberculosa. Nesse momento questiona a necessidade do aparecimento do até então ex-marido morto de Madalena. («Que me importa a mim com o outro?»), ao de encontro de: «But everything looks perfect when you're far away» (Mas tudo fica perfeito quando estás distante),onde Madison Beer também põe em causa a existência de alguém num lugar específico, e aludindo ao facto de que a retirada da mesma da sua vida trará perfeição à sua vivência. Tal situação não se pode aplicar «ipsis verbis» à da jovem de treze anos; no entanto, a presença de D. João não trouxe qualquer perfeição à morte de Maria, antes pelo contrário.

 

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