Frei Luís de Sousa (e canção) pelo 11.º 1.ª
Eder
A canção que na minha perspetiva mais se
adequa a esta situação é “Drivers license”, da cantora norte-americana Olivia
Rodrigo. Esta triste canção conta a história de uma mulher que, apesar de já
não se encontrar num relacionamento com a pessoa que amava, lembra-se
frequentemente dela ao passar por sítios onde ambos costumavam passar tempo
juntos.
O ritmo, calmo e simples, lembra também o
evoluir da história, começando com os medos de Madalena na casa de Manuel de
Sousa cheia de quadros e ornamentos familiares, passando depois ao palacete de
D. João e à cave, onde o cenário é frio, cru e despido. Apesar de todos os
momentos bonitos, agradáveis e dos profundos sentimentos sentidos, o sujeito
lírico que está a sofrer por ter saudades do parceiro sabe que tem de
ultrapassá-lo e deixar no passado as memórias que tanto a marcam no presente, apesar
de o indivíduo que ela amava não estar por perto, podendo isso observar-se em “I still see you face in the white cars, front yards / Can't drive past the
places we used to go to [Ainda vejo a tua cara nos carros brancos, jardins /
Não consigo conduzir pelos lugares que costumávamos ir]”, o que mostra que, por
mais vezes que ela o tentasse esquecer, as memórias não deixavam, assim como
com Dona Madalena quando se lembrava de D. João de Portugal pelos retratos.
Madalena de Vilhena vive atormentada pelo espetro de seu antigo marido,
D. João de Portugal. Este inquieta-a, impede-a de ser feliz com o novo marido,
Manuel de Sousa Coutinho: “este medo, estes contínuos terrores, que ainda me
não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu
amor. Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha!” (Ato I, cena I).
Concluindo, tanto em Frei Luís de Sousa
como em “Drivers license”, há uma transmissão de sentimentos e emoções (as
quais são instáveis e controversas), pois, apesar de Madalena já não amar D.
João de Portugal como amava antes dele ir para a guerra, as memórias que tinha
do tempo que passara com ele ainda a confundiam, fazendo com que ela não o
esquecesse e não deixasse de o amar facilmente.
Francisca
Frei Luís de Sousa é uma exímia obra que facilmente podemos
relacionar com a canção “E agora?” (Daisy Chains), da autoria de Mikkel
Solnado (música), letra de Alex Alvarenga e Solnado, cantada por Solnado
acompanhado por Joana Alegre.
Tanto no drama-romântico como na canção, o
tema principal é o amor. No entanto, existe uma particularidade interessante.
Enquanto que em “E agora?”, os interlocutores refletem sobre o amor que sentem
um pelo outro, em Frei Luís de Sousa estamos perante um triângulo
amoroso. De facto, era como se D. João cantasse para Madalena, mas a
protagonista feminina se dirigisse ao seu atual marido.
«Esperei tanto por ti / E caiu um manto em
mim» são versos que quase poderíamos acreditar serem recitados pelo cavaleiro
desaparecido. Quando acompanhou El-Rei na Batalha de Alcácer Quibir, tentou com
todas as forças voltar para a mulher que amava. Contudo, só passados vinte e um
anos o conseguiu, e sem obter a calorosa receção que desejava. Teve mesmo de se
disfarçar, fazendo passar-se por um Romeiro, assumindo ser “Ninguém”. E, no
entanto, enquanto homem honrado, não tinha qualquer intenção de desestabilizar
a família de D. Madalena, preferindo “matar-se a si próprio”.
«Corri o mundo por ti / mas o mundo correra
sem mim» descreve o esforço de D. João em voltar para casa, mas também o golpe,
ao perceber que a vida que há anos tinha deixado tinha avançado sem ele. É por
isso que diz “Parentes!...Os mais chegados, os que eu me importava
achar...contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de
jurar que não me conhecem”. Mesmo Telmo, seu fiel escudeiro, percebeu que tudo
se alterara (“Que há aqui um anjo...uma outra filha minha (...)”).
Quando Manuel de Sousa Coutinho incendiou o
seu palácio, Madalena mostrou-se inquieta e preocupada. Apagar o seu presente
significaria voltar ao passado, que tanta culpa lhe trazia e que há tanto tempo
tentava deixar para trás. É por isso que o regresso de D. João também comprova
a sua infelicidade. Depois de depreender “que um homem que muito bem lhe quis
aqui está vivo por seu mal (...)”, ficou consumida de angústia. Era mesmo como
se perguntasse ao primeiro marido «Será que te perdeste a caminhar? / Ou foi só
para me castigar?».
Em Frei Luís de Sousa, todas as
personagens perdem a fonte da sua alegria. «Se terminar aqui / O que será de
mim sem ti» pormenoriza os sentimentos dos protagonistas. Maria discursa contra
as injustiças da sociedade, enfurecida por se ver separada de quem mais ama.
Madalena postula por “Misericórdia, meu Deus!”, mas em vão, visto que Maria
morre. Já Manuel e a querida amada, para além de perderem uma das pessoas que
mais amavam, veem os votos matrimoniais quebrados, separando-se para sempre.
Tomam o hábito e morrem para a vida que conheciam.
Francisco C.
Esta canção, vencedora do
“Festival da Canção” de 1991 e interpretada por Dulce Pontes, relaciona-se
bastante com a peça Frei Luís de Sousa, na medida em que existem
passagens da peça à qual partes da música “assentam que nem uma luva”.
«Fado, chorar a tristeza bem / Fado,
adormecer com a dor.» nem a propósito da peça, visto que fado, além de ser um
género de música, tem também o significado de destino. Isto aplica-se a Telmo,
quando soube que o seu amo, D. João de Portugal, que retrata como quase um
herói, uma lenda, teria, sido morto em Alcácer-Quibir. É também possível
relacionarmos este passo com D. Madalena de Vilhena, dada a mágoa que sente
aquando da morte da sua filha, e perante a notícia que teve anteriormente.
Madalena é informada que o seu casamento com D. Manuel de Sousa Coutinho é
ilegítimo, portanto a sua filha Maria seria um «fruto do pecado». «Minha filha,
minha filha, minha filha! Estou… Estás… perdidas, desonradas… infames!» mostra
uma dor que seria maior que a dor de ver a sua filha morrer.
«Arrancar, do meu passado, um grande amor» é uma
passagem do poema de Fred Micael e José da Ponte se aplica ao que teria
acontecido, de facto, a Madalena, sendo D. Manuel a pessoa que Madalena teria
amado, e tendo vindo, do seu passado, D. João, o Romeiro, arrancar-lhe este
grande amor, que, agora se chama Frei Luís de Sousa. Acontece o mesmo com
Telmo, também lhe é arrancado um grande amor, o amor cuidador que sentia por
Maria, apesar de a peça ter acabado antes que pudéssemos perceber a reação
deste fiel escudeiro em relação a este acontecimento funesto.
D. João é retratado por outra passagem desta
canção. «Mas, não condeno esta paixão / Essa mágoa das palavras», na medida em
que D. João não condena a paixão que Madalena teve com Manuel. Ele decide no final
ir embora e fingir que teria de facto morrido «Vai, vai: vê se ainda é tempo;
salva-os, que ainda podes...», o que revela um coração bondoso e altruísta, uma
das muitas qualidades que Telmo admirava.
Outra passagem deste tema, cuja composição
musical é da autoria de Jorge Quintela e José da Ponte, que surge no contexto
da peça seria «Porque eu quero ser feliz / E a desdita não se diz». Este verso
poderia ter sido proferido por Madalena, a mulher que ao longo da sua vida, e
da peça, apenas procurou felicidade. Na minha opinião este é o verso mais forte
de todos na medida em que Madalena é de facto bastante desventurosa, pois nada
do seu futuro trágico teve origem nas suas conscientes, boas ou más, ações.
Francisco
F.
A letra da
música “A Máquina”, da banda portuguesa Amor Electro, adequa-se perfeitamente à
peça Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. De facto, alguns dos versos
da canção poderiam mesmo ser ditos por algumas personagens da peça.
“Mas sei que vou
ficar / por ter o que eu não tenho / eu sei que vou ficar” antecipa o
sofrimento que atormentará Madalena de Vilhena, por ter tido uma filha com
Manuel de Sousa Coutinho que seria considerada ilegítima e cairia em desonra
com o regresso do seu primeiro marido, D. João de Portugal, que se pensava
estar morto. Com efeito, todos acreditavam que D. João tinha morrido na batalha
de Alcácer Quibir, em 1578. Ainda assim, durante sete anos, D. Madalena,
“incrédula a tantas provas e testemunhos”, mandou procurá-lo por todas as
terras do Norte de África. Como nada se soube que pudesse pôr em causa “aquela
notícia que logo viera com as primeiras novas da batalha”, todos assumiram que
D. João tinha morrido e “a ninguém mais ficou resto de dúvida” senão a Telmo, o
fiel aio que sempre acreditara que o estimado amo haveria de regressar.
Ainda
relativamente ao regresso de João, a letra da canção diz-nos que “porque este
amor é meu / e cedo, vou saber / que triste é viver”. O amor a que se refere é
àquele que Madalena nutria por Manuel de Sousa Coutinho e que, com o regresso
do primeiro marido, lhe traria muito sofrimento, e não ao seu amor por D. João
porque, a esse, “respeito, devoção, lealdade”, tudo lhe tivera, mas não amor.
Contudo, a letra
da canção não antecipa apenas o que acontecerá a Madalena com o regresso de D.
João de Portugal, mas também trata os sentimentos deste quando, após tantos
anos, reencontra a esposa. “Que pena é ver-te assim” traduz precisamente o que
D. João, disfarçado de Romeiro, sente aquando do regresso e quando percebe que
D. Madalena casou com outro homem e com ele teve uma filha. Então, para não
trazer desonra ou causar sofrimento à sua “honrada e virtuosa mulher”, pede a
Telmo que lhe diga que “o peregrino era um impostor”. No entanto, imediatamente
depois de fazer este pedido, ouve Madalena chamar desesperadamente pelo marido
e pensa que é por ele que ela chama. Todavia, rapidamente compreende que, na
verdade, não é a ele que Madalena se refere quando a ouve dizer “meu marido,
meu amor, meu Manuel”. Nesse momento, percebe que quis ser aquilo que, no
passado, já fora, tal como mostra o verso “quis ser o que já fui”, dito pela
intérprete Marisa Liz, e, arrependendo-se de ter sido “tão cego”, pede a Telmo
que prossiga com o plano original que, infelizmente, já não vai a tempo de evitar
o triste desfecho da peça.
Inês G.
«A máquina», dos Amor
Electro, pode ser facilmente enquadrada neste drama de Garrett. Seria como um
desabafo aos céus feito por Madalena em que lamentava a sua tristeza em relação
ao seu amor por Manuel, por Maria e pelo choque causado pelo regresso de João
de Portugal.
«Saber o que fazer / com
isto a acontecer» são versos que traduzem o desespero de Madalena com tudo o
que está a presenciar de repente. A esposa de Manuel já não aguenta as
surpresas negativas, quer apenas paz, harmonia e felicidade com a sua família -
«É de pedir aos céus / a mim e a ti Deus / que eu quero ser feliz».
«Porque este amor é meu /
em breve vou saber / que triste é viver» são versos que podem ser ligados ao
desespero de Madalena em relação à possível perda de Maria que, mais tarde, é
mesmo uma perda dolorosa devido à sua doença (tuberculose).
«Num caso como o meu / ter
o meu amor para dar e para vender», os mesmos podem ser talvez adequados ao
momento em que Madalena percebe que Manuel não se importa assim tanto com ela,
nem com ninguém, apenas com a pátria e com a religião.
«Já nem vou mais chorar / a máquina parou /
deixou de tocar», são uns versos de desgaste e de lamentação total da triste
esposa de Manuel de Sousa Coutinho, que já nem as suas emoções consegue
exprimir, não consegue transmitir mais nada, apenas sofrimento. Madalena é
bombardeada com diversas preocupações, diversos problemas e imensas angústias.
Quando a vocalista dos Amor Electro diz «A máquina parou», é possível comparar
essa máquina ao seu coração, que parou devido às emoções dentro deste drama, Frei
Luís de Sousa.
Assim que ouvi esta canção,
senti logo uma conexão entre esta obra e certos versos ditos por Marisa Liz,
vocalista dos Amor Electro. Ambos significam uma dor profunda, angústia,
preocupação e desespero. Marisa diz que não sabe o que fazer com tudo o que
está a acontecer com ela, sente-se perdida e numa fase muito difícil da sua
vida, a máquina, como já disse, é o seu coração que, tal como diz nesta canção,
parou, tal como o de Madalena que, não só está a passar por uma fase
assustadora da sua vida como não sabe bem o que está a acontecer com o
aparecimento de D. João, com todas as atitudes de Manuel e com a doença da sua
filha amada, sabemos bem que tal como Marisa, o coração de Madalena está
prestes a parar.
Inês P.
“Às vezes” é uma canção que está inserida
no álbum Duro, dos Xutos e Pontapés. e que foi lançada em 2019. Esta
canção tem como tema as relações, em geral, e a forma como uma simples foto ou
palavra podem trazer recordações e revelar sentimentos.
Na peça de Almeida Garrett, Frei Luís de
Sousa, os retratos que decoravam as paredes interiores da casa de Manuel de
Sousa Coutinho e do palacete de D. João de Portugal tinham grande valor
sentimental. “Às vezes / basta uma imagem / para nos dar coragem / e continuar”
adequa-se ao retrato de Manuel de Sousa Coutinho, que fora destruído pelas
chamas. “Ai, é o retrato do meu marido! ... Salvem-me aquele retrato!” disse D.
Madalena com preocupação. O retrato era um aconchego para ela e, se não tivesse
sido queimado, talvez lhe desse coragem para voltar ao palacete de D. João de
Portugal, enfrentando as recordações do passado e a culpa, agora mais vividas,
que a consumiam.
Por outro lado, “às vezes / basta outra
imagem / para soltar uma lágrima / e duvidar” encerra os sentimentos que foram
despoletados em D. Madalena quando entra no palacete e se depara com o
retrato de D. João de Portugal, seu primeiro marido. Ela pressente que algo
trágico vai acontecer. O regresso à casa onde há vinte anos vivera com D. João
de Portugal recorda-a do pecado que cometeu – a traição – de se ter apaixonado por Manuel de Sousa Coutinho quando ainda
era casada com o seu primeiro marido, o
que a fez sentir culpada e angustiada. Ao contrário de D. Madalena, Telmo
sente-se contente por voltar à casa do seu antigo amo, onde fora tão feliz a
servi-lo.
A evocação na letra da música “às vezes /
basta uma palavra / para soltar a raiva / e enlouquecer” transporta-me para as
últimas cenas do segundo ato, quando Jorge, irmão de Manuel, questiona o
Romeiro, sobre qual a sua identidade, ao que este responde, apontando para o
retrato de D. João de Portugal; “Ninguém”, e para a mensagem por este
transmitida a D. Madalena de que D. João estava vivo.
Sendo o Romeiro não mais que D. João de
Portugal, acabado de regressar da guerra de Alcácer Quibir e do longo cativeiro,
sente-se revoltado ao perceber que D. Madalena não se lhe manteve fiel e que
constituiu uma família. Este é, pois, o momento de viragem a partir do qual o
seu objetivo passa a ser a vingança.
Na canção, a citação “Não é fácil, nunca é
fácil” expressa o dramatismo da letra, que encontra paralelismo ao longo de
toda a peça Frei Luís de Sousa, sobretudo na personagem D. Madalena. A
ligação entre a canção e a obra encontra-se no facto de ambas revelarem o mesmo
estado de espírito.
João F.
O tempo muda-nos, com ele crescemos e
aprendemos, vivemos o presente, ansiamos o futuro, mas o passado, por muito
longínquo que seja, deixa-nos marcas, umas mais profundas que outras, que nos
acompanharão para o resto da vida. Na canção “Voltas”, de Fernando
Daniel, e na obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, estão
interlaçadas as ideias de que com o tempo, a nossa vida pode-se modificar
completamente, mas que o passado sempre deixará uma marca profunda.
O sujeito da canção começa por exprimir as suas dúvidas e receios
em relação ao que poderá ser a causa do insucesso da sua passada relação
amorosa (“Será
que dei / Que dei
demais / Será que errei / Ou não fui capaz”) , sentimento que, embora por razões
diferentes, também afetou Madalena. Durante sete anos, após o desaparecimento
de D. João, Madalena, ao contrário do que muitos acreditavam, duvidava de que
ele estava realmente morto e fez tudo para tal provar. No entanto, assim como
sucede com o sujeito da canção, ambas as dúvidas ficam por esclarecer, pois não
são encontradas respostas concretas, o que leva Madalena a desistir das suas
buscas e das suas esperanças, afirmando que “Tudo foi inútil; e a ninguém mais
ficou resto de dúvida…”.
Quando D. João regressa, apesar dos longos anos passados, tem a
esperança de que Madalena o reconheça e que volte para seus braços. Contudo,
percebe que tal não pode acontecer. Vê o quanto a ideia de estar vivo perturba
Madalena (ideia que posteriormente se arrependerá de ter “espalhado”) e
verifica não só que ela já não o reconhece como também o coração de Madalena já
não lhe pertence a ele mas a Manuel de Sousa Coutinho. João fica desiludido e
irritado quando tal entende, proferindo “ E eu tão cego que já tomava para
mim!”. Na canção, também o sujeito percebe que o seu amor pela pessoa em causa
já não existe e o que outrora existira hoje não passa de memórias, “Olhas pra mim /
Já não sou
teu / Esse teu mundo / Já não é o meu.”
Enquanto o sujeito da letra da canção afirma já não esperar uma possível
reconciliação - “ Já foi tempo de aproveitar / Já não penso onde podíamos estar” - , João de
Portugal vê-se quase obrigado a esquecer essa ideia a fim de evitar o
sofrimento de Madalena. Por não ser o que realmente quer, D. João fica
hesitante com a sua decisão e por pouco não volta atrás, todavia, cumpre a sua
promessa (“Não: o que é dito é dito”) e parte para longe.
A passagem “Andas às voltas, nas voltas que a vida dá” simboliza o quanto
a nossa vida pode mudar. A vida de Madalena alterou-se imenso durante sete
anos, foi alcançando o que muitos sonhavam ter, uma boa casa, uma família, amor
que lhe preenchesse o coração. A sua vida parecia perfeita e, no entanto, o seu
passado exercia uma sombra sobre o presente, que, provavelmente, permanecerá
para sempre.
João N.
Podemos considerar que a canção, «Jar of
hearts» se enquadra no contexto dramático da peça Frei Luís de Sousa,
uma vez que o «eu» aprendeu a viver sem uma pessoa que amava, mas que mais
tarde quis voltar à sua vida, tal como aconteceu com Madalena.
«Because all this waiting is regret»
(porque toda esta espera é arrependimento) poderia ser um dos pensamentos do
Romeiro (D. João de Portugal), porque esperou tantos anos para poder
reencontrar Madalena, mas, quando voltou, a sua existência já tinha sido
completamente esquecida. Madalena superou a perda de João após o seu
desaparecimento e foi capaz de criar uma nova família com Manuel. Podemos
relacionar o sucedido com a frase «I have learned to live, half alive [eu
aprendi a viver sem uma parte de mim]», porque, apesar de Madalena ter ficado
destroçada, conseguiu desfrutar da sua vida sem D. João.
«Who do you think
you are? Running around leaving scars [Quem julgas que és? A andar
por aí a deixar cicatrizes]» são frases que mostram como Madalena se sente após
o regresso de João, porque para quando volta coloca em causa a sua estabilidade
familiar porque torna o casamento de Madalena ilegítimo bem como a sua filha
Maria. D. João nunca teve a intenção de magoar Madalena, todos os problemas que
causou foram algo sobre o qual não teve controlo: não tinha regressado mais
cedo porque estivera aprisionado vinte anos em cativeiro, e não tinha como
saber que Madalena já tinha uma nova família.
«So don’t come back for me … it took so
long just to feel alright» ( Então não voltes para mim … demorou tanto tempo para
me sentir bem) são passagens da canção que podem demonstrar que Madalena não
queria voltar a ver João, tinha demorado uma eternidade para ultrapassar a sua
angústia e o seu regresso reviveu esse sentimento. Madalena não consegue
esconder o arrependimento por ter tido um relacionamento com D. João, porque
isso no presente afeta o seu relacionamento com Manuel «I wish I had missed the
first time that we kissed [eu desejava que tivesse perdido a oportunidade do
nosso primeiro beijo]» é uma das soluções dadas pela canção que resolveria
todos os seus problemas.
No final da canção a frase «You are gonna
catch a cold, from the ice inside your soul [vais ficar doente, por causa do
gelo que tens dentro da tua alma] pode ser uma reação de Romeiro à atitude de
Madalena, um desabafo por Madalena não compreender o ponto de vista de D. João.
Lynete
A canção "Growing Pains", de
Alessia Cara, fala sobre as inseguranças, medos, dúvidas e dificuldades que
todos nós temos. Apesar de esta música ter o seu lado mais “escuro”, também tem
uma pequena parte mais “bonita”, que fala das pessoas que nos tentam ajudar
sempre a sair do local escuro em que nos encontremos. Por isso acho que é fácil
relacionar esta música com diversos temas.
Na peça Frei Luís de Sousa há
imensos momentos tensos cobertos de medo e desconfiança. Logo no ato I, com a
chegada de Manuel de Sousa Coutinho ao seu palácio, Madalena e Maria deveriam
estar radiantes. No entanto, Manuel não chegará com a mesma felicidade, por
isso associo esta parte a “and I guess the bad can get better gotta be rong
before it’s right (e eu acho que o melhor pode sempre melhorar, tenho de errada
antes de estar cert)”. Esta passagem parece adequada porque, quando Manuel
queima a casa, ele fá-lo com a intenção de proteger a família de um mal que
estava para chegar, tudo que ele queria fazer era prevenir a tragédia e
preservar o que lhe importava.
“Make my way through the motions, try to
ignore it but home is looking further the closer I get (faço o meu caminho
através das emoções, tento ignorar, mas, quanto mais a casa parece longe, mais
perto eu fico)” fazem-me lembrar de Madalena e do seu desespero ao ver o quadro
do seu amado marido ser queimado e, também, à medida que se vai afastando de
casa, a sua aflição aumenta, ficando cada vez mais preocupada com o seu marido.
Mais destes pequenos ataques acontecem a Madalena quando chega à sua
nova/antiga residência, enchendo-se de agonia após ver um quadro de seu
ex-marido: “They tell me ain’t that bad, now don’t you overreact so I just hold
my breath (eles dizem que não é assim tão mau agora, não exageres por isso, eu
sustento a respiração)” é uma passagem perfeita para o acontecimento acima
referido pois só após uma conversa com Frei Jorge é que Madalena consegue
acalmar-se e voltar ao normal.
Maria… a pobre menina doente cheia de
restrições e cuidados. Maria era uma menina delicada mas bastante inteligente,
cheia de curiosidade e interesse mas, infelizmente, os seus pais não gostavam
muito do facto de ela aprender certas coisa novas; por isso acredito que as
passagens que melhor se adequam à perspectiva da história de Maria são “I can’t
see the sun when young should be fun (eu não consigo ver o sol, quando ser jovem
é suposto ser divertido)”, “every happy phrase increased in my mind (todas as
frases felizes estão gravadas na minha mente)”. Mas o facto de a doença da
menina perturbar e preocupar demasiado os pais de Maria faz que esta passagem
seja perfeita para explicar como os pais dela se sentiam permanentemente: “but
still,the growing pains (...) they're keeping me up at night (mas são as dores
de crescimento que me mantêm acordada durante a noite)".
Madalena
“Train Wreck”, de James Arthur, retrata na
perfeição o drama e as tragédias sofridas pela família de Madalena, ao longo de
toda a peça Frei Luís de Sousa. O título desta música pode constituir
uma metáfora ilustrativa destas mesmas tragédias.
Quais serão os possíveis desfechos de se
caminhar em cima da linha de um comboio? D. Madalena construiu a sua vida, o
seu amor e a sua família, em cima da suposta morte de D. João, que, mais tarde,
se revelou estar vivo. E, como em todos os desastres, existem inúmeras
premonições, avisos subtis, de que o pior está para vir.
Ao andarmos em cima da linha do comboio,
antes da sua chegada, e antes mesmo de o ouvir, sentimos os carris a vibrar
debaixo dos nossos pés, ficando esta sensação cada vez mais intensa até o
ouvirmos de facto, ao longe, a chegar. Adiamos as nossas ações até que, em
ambos os casos, seja demasiado tarde.
As premonições presenciadas pelas
personagens ao longo da peça anunciavam que algo de grave estava para
acontecer. Telmo e Maria mostravam-se bastante pessimistas: “tenho cá uma
coisa que me diz que antes de muito se há de ver quem é que quer mais à nossa
menina nesta casa” – Telmo fala e preocupa Madalena com as suas profecias.
(“Creio, Oh! Que são avisos que Deus nos manda para nos preparar...”).
Maria mostra-se também, num desabafo com Telmo, bastante agoirenta quanto à
situação.
Também as repetidas menções sobre Joana de
Castro, cujo destino antecipa o de Madalena e Manuel, e os cuidados exagerados
com Maria, prenunciam um desfecho trágico e adivinham um mal que se avizinha, o
aparecimento de D. João.
“Should I pray,
to myself, to a God, to a saviour?” [Devo eu rezar, a algum Deus, a algum
salvador?] A notícia dada pelo Romeiro de que D. João estava vivo foi recebida
com desagrado e descontentamento. Todos se viraram para Deus, a pedir misericórdia,
por eles e pelos outros. Madalena rezou por ela, por Manuel e para que o pecado
por eles cometido não recaísse sobre Maria. Telmo reza também por Maria, pois,
apesar de estar feliz pelo seu amo estar vivo, sente-se culpado por já gostar
mais dela do que de D. João – “é que o amor desta outra filha, desta última
filha é maior, e venceu...venceu...apagou o outro.” –, oferecendo mesmo a
sua vida em troca da de Maria.
Passando ao final da peça, “Underneath
our bad blood we still got a home” [por baixo do nosso sangue conspurcado
ainda temos um sítio ao qual chamar casa] é um verso que se aplica bastante a
Maria, quando encontra os pais já preparados para se converter à vida
religiosa, já que o casamento se tinha tornado ilegítimo, e pede-lhes para voltarem
atrás na decisão tomada. Também a frase “I’m down on my knees and I need you
to be my God, be my help, be a saviour who can unsay this reckless words”
[estou ajoelhado e preciso que sejas o meu Deus, a minha ajuda, a minha
salvação que desdigas essas palavras irrefletidas] se aplica à situação de
Maria, que, já às portas da morte, implora aos pais para dizerem que ela não
era filha de um pecado e que ainda era digna do nome de seu pai (“Não sou:
dize, meu pai, não sou”). Mas, nesse momento de necessidade, nada foi
proferido.
D. João, ao ver Maria naquele estado, apela
a Telmo para agir de acordo com o plano previamente acordado – que podemos
relacionar com os versos “It’s not too late to build it back, because
one-in-a-million chance is still a chance, and I would take those odds.”
[Não é demasiado tarde para remediar a situação, pois uma chance em um milhão
ainda é uma chance, e eu aproveitaria] – mas Telmo nada fez, uma vez que Jorge
já o tinha dissuadido.
Apesar de ser um final triste, e de esta
música representar na perfeição essa dor e essa tristeza, não poderia acontecer
de outra maneira. De modo a escapar ao eterno sofrimento no inferno, Madalena e
Manuel teriam de se converter à igreja, e a sua penitência só estaria concluída
quando Maria, o fruto desse pecado, perdesse a vida, um sacrifício necessário
para que Deus os perdoasse.
Margarida
“Quem me leva os meus fantasmas?”, canção
do quinto álbum de originais, “Luz”,
de Pedro Abrunhosa, lançado em 2007, poderia ser dedicada a quase todas as
personagens de Frei Luís de Sousa.
A canção nasce de uma viagem noturna pelas
ruas do Porto, de onde é originário o cantor, e atravessa fronteiras. Ela pode
ser a história de um sem–abrigo, de um trabalhador despedido, de uma mulher
traída, de um amor não correspondido. No fundo, esta canção pode ser a história
de qualquer um de nós.
O eu da canção, afirma “Quem me leva os
meus fantasmas, quem me salva desta espada?” Que melhores palavras para
descrever o conflito permanente em que vive D. Madalena de Vilhena, na
incerteza da morte do seu primeiro marido, atormentada pelos fantasmas do
passado e exorcizando medos de que fala a música. “Mas eu!... Oh! Que o não
saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes
contínuos terrores e que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a
imensa felicidade que me dava o seu amor. Que amor, que felicidade… que
desgraça a minha!”, diz Madalena também preocupada com Manuel.
“Quem me salva desta espada?”, a “espada de
dois gumes” que, como diz Madalena quando se vê obrigada a mudar para a sua
antiga casa, onde viveu com o primeiro marido, não é mais do que a sombra de D.
João que paira e se atravessa no meio dos dois.
Os fantasmas assolam também Telmo,
escudeiro da família, que sempre duvidou da morte de D. João de Portugal, que
sempre considerou como seu único e verdadeiro senhor: “Não sou já o mesmo
homem. Tinha um pressentimento do que havia de acontecer… parecia-me que não
podia deixar de suceder. Eu que sempre esperei, que sempre suspirei pela sua
vinda…”
E, do outro lado, D. João de Portugal,
marido indesejado, cujo regresso foi em vão e sem melhor futuro: “De que serve
a terra à vista se o barco está parado, de que serve ter a chave se a porta
está aberta, de que servem as palavras, se a casa está deserta.”
“Quem me
salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada?”. Que rumo tomar depois de
descoberta a verdade? Esta verdade não é possível fugir e que parece que todos
esperavam e o previam desde o início. “De que serve ter o mapa se o fim está
traçado?”.
O amor de Madalena por Manuel, o amor dos
dois pela filha de ambos, Maria, o amor de Maria pelos pais, o amor de D. João
de Portugal por Madalena, passados vinte e um anos, do escudeiro Telmo pelo seu
primeiro senhor. Segundo a letra de Pedro Abrunhosa, só há um Deus no nosso
céu, chama-se “amor” e este amor assume todas as formas.
Gabriela
Acontece muitas vezes
estarmos a ouvir uma canção, e ela nos transportar para algo que já vivemos, ou
que estamos a viver, ligando-nos a essas situações nossas. Podemos associar a
canção “Cómo te atreves”, dos Morat, a Madalena e àquilo que ela sente sobre o
retorno de D. João de Portugal. Madalena não sabe porque é que D. João volta
depois de vinte e um anos, em que ela pensou que ele estava morto: “Cómo te atreves a
volver / A darle vida a lo que estaba muerto (...) Cómo te atreves a
volver / Y a tus cenizas convertir en fuego” (Como é que te atreves a voltar /
A dar vida ao que estava esquecido (...) Como é que te atreves a voltar / e
converter as tuas cinzas em fogo).
Telmo sempre acreditou, ou quis acreditar, que o
primeiro marido de Madalena estivesse vivo, algo que a atormentava pois isso
implicaria que tudo o que ela passara - procurá-lo durante anos; tentar refazer
a sua vida; ser feliz - tudo isso era uma mentira. “Hoy mis mentiras veo caer
/ Que no es
verdad que te olvidé / Cómo te atreves a volver” (hoje vejo as minhas mentiras cair
/ que não é verdade que te esqueci / como é que te atreves a voltar). Apesar de
nunca o ter amado, Madalena tinha-lhe respeito e guardava fidelidade, afinal
era o seu marido, mas a dor que lhe estava a causar ao voltar era muito grande
(“Minha filha, minha filha, minha filha! Estou... estás... perdidas,
desonradas... infames! Oh! Minha filha, minha filha, minha filha!”).
Com Manuel de Sousa Coutinho
reconstruiu a sua vida e teve uma filha, que está doente, acreditando-se que em
breve a perderão para a tuberculose, algo que acaba por acontecer. No momento
em que Maria está para morrer, já em sofrimento pois seus pais iam abandonar a
vida secular, ao ver D. João, diz “ É aquela voz, é ele, é ele! Já não há
tempo... Minha mãe, meu pai, cobri-me estas faces que morro de vergonha...”, e
com isto cai morta. Podemos dizer que talvez Madalena o culpe um pouco pela
morte da filha, mas podemos afirmar com certeza que foi por causa dele que ela
foi separada do segundo marido que, afinal de contas, era o seu grande amor:
“Cómo te atreves a volver / Me hiciste daño pero sigo vivo / Contigo yo me
acostumbré a perder / Mi corazón funciona sin latidos” (Como é que te
atreves a voltar / magoaste mas continuou vivo / contigo acostumei-me a perder
/ o meu coração funciona sem bater).
Mariana
“Melhor de
mim”, uma canção da autoria da cantora portuguesa Marisa, pode ser associada à
obra Frei Luís de Sousa, já que o eu da letra e algumas personagens partilham
sentimentos semelhantes.
«Hoje, a
semente que dorme na terra e se esconde no escuro que encerra; amanhã nascerá
uma flor, ainda que a esperança de luz seja escassa». A passagem reflete parte
dos sentimentos de Madalena de Vilhena, que estando apenas na companhia da
filha e de Telmo, anseia mais que tudo a chegada do marido que fora a Lisboa,
embora, a dada altura, a protagonista já não tivesse tanta certeza do seu
regresso: “(...) que me prometeu vir antes de véspera, e não veio; que é quase
noite, e que já não estou contente com a tardança”. Madalena mostra um
sentimento de preocupação e de certa revolta com a situação; a esperança estava
aos poucos a escassear. No entanto, na presença da jovem Maria De Noronha, as
coisas pareciam acalmar. O seu otimismo e simpatia traziam paz ao lar, agora
que o pai permanecia ausente.
Ainda que o seu
conhecimento pudesse, por vezes, tornar-se inconveniente, Maria é a personagem
mais admirável da história, porque, a meu ver, é nela que a obra ganha
vivacidade. De facto, embora Maria seja destacada como uma menina afável,
sensível e extremamente intuitiva, parece ser a mais afetada pelas tragédias ao
longo da peça; todo aquele tempo sem o pai, a mudança de casa, o incêndio na
própria residência, a sua doença incurável, que mais tarde, veio a ser a causa
da sua morte, foram acontecimentos que pouco facilitaram a vida da jovem, daí
que, na minha opinião, ela seja a verdadeira heroína da obra.
« É preciso
perder, para depois se ganhar e mesmo sem ver, acreditar.» A partir dos versos
é possível fazer uma analogia entre a canção e o drama de Garrett.
De facto, a
morte do primeiro marido de Madalena foi dolorosa, e apesar de a ter
respeitado, demonstrando lealdade por D. João, a verdade é que o futuro com
Manuel de Sousa Coutinho não teria sido possível se João de Portugal não
tivesse sido dado como morto na batalha de Alcácer Quibir. O provérbio «há
males que vêm por bens», bem como a passagem referida acima, enquadram-se bem
nesta situação e pretendem exatamente mostrar que, apesar da morte trágica, de
alguém por quem, inclusivamente, Madalena não sentia amor, Madalena ficara com
a alegria de que precisava.
João de
Portugal, amava realmente a esposa. Para ele, a relação entre os dois era de
amor recíproco, preservação e afeto. No entanto, Madalena não sentia o mesmo.
Madalena nunca esteve verdadeiramente apaixonada por João.
Respeitava-o
enquanto marido, mas não muito mais que isso. Já a Telmo, esta ideia não
agradava, pois tendo sido sempre muito fiel e agradecido ao seu amo, teria
preferido que o amor dos dois fosse puro e verdadeiro.
Afinal,
se formos a ver, quando a família Vilhena Coutinho teve de se mudar para a casa
do primeiro marido da protagonista, esta ficou apavorada, uma vez que as
memórias que havia criado com João naquele palacete pareciam assombrar o futuro
e antecipar o destino do mais recente casal: a sua separação: « não me sai esta
ideia da cabeça…- de que vou encontrar ali a sombra desrespeitosa de D. João
que me está a ameaçar com uma espada de dois gumes..»
O inesperado
regresso de D João de Portugal, ao fim de vinte e um anos, veio trazer o
desfecho da obra, com a morte de Maria e o recolhimento de Madalena e Manuel a
um convento.
Cunha
A canção que eu escolhi foi
“Fuyu No Hanashi“ (Um Conto de Inverno), tocada por uma banda de um anime,
“Given”. É esta a música que vou relacionar com a peça Frei Luís de Sousa.
Ela pode ser associada a D. Madalena mas, mais precisamente, a D. João de
Portugal ou, como o vamos conhecer mas lá para o final, ao Romeiro.
Logo que comparamos o
título da melodia com o tempo da peça, reparamos que há uma antítese, o título
é “Fuyu No Hanashi“ (Um Conto de Inverno) e a peça decorre no verão. O tipo de
canção também pode ser considerado uma antítese, já que esta é pop/rock, e para
o tipo de peça que é, esperava-se uma música calma, instrumental, que nos
pusesse lágrimas nos olhos, sofrida, logo, uma música clássica, por exemplo, de
Bach.
D. João de Portugal, do meu
ponto de vista, é quem mais sofre ao longo do enredo, pois esteve durante os
últimos vinte anos em cativeiro na Palestina, quando lutou pelo seu país na
batalha de Alcácer Quibir. Foi ele quem mais sofreu de infelicidade, desprezo e
azar. É verdade que a peça se baseia no drama e na tragédia à volta de
D. Madalena e da família Vilhena-Coutinho, mas rapidamente nos apercebemos de
que D. João, ex-marido de D. Madalena, não é tratado com o respeito e a
dignidade a que teria direito.
Quase que podemos fazer uma
analogia entre o primeiro verso (“mada toke kirezu ni nokotta”) [Assim como a
neve que não derreteu por completo], e o facto de D. João de Portugal não ter
desaparecido, afinal, na batalha. O verso “boku wa kono koi o don'na kotoba de
tojitara ī no” (Com quais palavras eu / Deveria encerrar esse amor?) traduz, de
certa forma, a maneira como o casamento de D.Maria e de D. João ficou suspenso,
sem um final.
“hanareta dareka to
darekaga ita koto tada soredake no hanashi” (É apenas a história de duas pessoas
/ Que acabaram por se separar) relembra a desunião entre D. João e D. Madalena. Quando
aparece em cena o Romeiro, D. João de Portugal, no ato III, cena VI, este acaba
por não compreender à primeira que a quem D. Madalena gritava com tanta ânsia,
desespero atrás da porta, não era ele. Talvez, esta ignorância nos demonstre
que ele tinha ciúmes, ou seja, que ainda tinha esperanças, como na canção “eien
ni boku no naka de ikite ku yo sayonara dekizu ni” (Tu sempre estarás dentro de
mim / Para sempre junto comigo).
Na última cena, o Romeiro
pede a Telmo que salve Maria, filha de D. Madalena e de Manuel. D. João
arrepende-se de ter entrado naquela família e ter destruído a felicidade desta.
Não se sabe qual o próximo passo de D. João mas eu acho “aruki dasu boku to zutto
issho ni” (Que tenta seguir em frente / Mesmo sem conseguir me despedir); “eien
no naka o samayo te iru yo” (E agora está vagando pela eternidade).
Numa análise mais profunda,
mais universal, a música pode até ser interpretada como um dueto entre D. Madalena
e D. João de Portugal, porque alguns dos versos parece que respondem um ao
outro. Até poderíamos interpretar o verso “boku wa kono koi o don'na kotoba de
tojitara ī no” (Com quais palavras eu / Deveria encerrar esse amor?) como dito
por D. Madalena. Ou “omoi nimotsu o kakae teru” (Eu ainda estou carregando uma
mala pesada) esta “mala” representa a “bagagem” do passado de D. Madalena,
quando nos apercebemos do medo que ela tinha do seu ex-marido, e da angústia
sobre se ele estaria vivo ou morto.
E, por último, “mada toke
kirezu ni nokotta hikage no yuki mitaina omoi o daite iki teru” (Assim como a
neve que não derreteu por completo / Como se estivesse na sombra / Eu continuo
tendo esse sentimento dentro de mim), onde a neve é uma metáfora para o receio
que D. Madalena tinha da vinda do seu ex-marido, medo que tanto tentara esconder
na parte mais funda, onde a luz não alcança, mas que permanecera sempre.
Marta
"Dernière Danse” (2014) é uma das músicas de
Indila. Certas partes da letra da música poderiam muito bem ser transformadas
nas falas de D. Madalena. D. Madalena é uma personagem que demonstra muito
sofrimentos e que está sempre nervosa, preocupada e em aflição. Quando D.
Madalena diz “(...)este medo, estes contínuos terrores que ainda me não
deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade(...)”, a sua primeira
fala na peça, podemos concluir desde já que Madalena é uma pessoa pessimista,
com medos e sofrimentos. O início da música poderia lhe ser então “dedicado”
pois descreve exatamente esta “mensagem”: “Oh ma douce souffrance.
Pourquoi s'acharner? Tu recommences.” - Oh meu doce sofrimento. Porquê lutar
contra? Se tu voltas.”
Todos conhecem o diálogo entre Jorge e Romeiro, a “famosa” pergunta
“Romeiro, romeiro! quem és tu?!” ao qual Romeiro responde “Ninguém!”. Na música
temos uma frase que podia ser utilizada pelo Romeiro: “Je ne suis qu'un être
sans importance” - Sou apenas um ser sem importância.
Depois da visita inesperada do Romeiro, Jorge e D. Manuel têm uma
conversa e durante a sua troca de frases D. Manuel está transtornado com o
regresso do ex-esposo de D. Madalena. “(...)que esta lembrança é que me mata,
que me desespera!(...)É o castigo terrível do meu erro(...) são frases ditas a
Jorge por D. Manuel, e na música há uma frase que retrata o seu sofrimento:
“Dans cette douce souffrance. Dont j'ai payé toutes les offenses.” - Neste doce sofrimento. Eu
paguei por todas as ofensas.
A meu ver, a música "Dernière Danse” exprime
todo o sofrimento que atormentou as personagens desta peça. Apesar de achar que
a música poderá representar mais D. Madalena existem certas partes delas que
podemos atribuir a outros personagens como referi.
A música exprime sentimentos negativos e com ela a
cantora passa a mensagem de estar em sofrimento, angústia, tormento. Considero
que os mesmos sentimentos são transmitidos pela Madalena em quase toda a peça,
por isso penso que a música retrata mais Dona Madalena do que outra personagem.
Mas apesar de assim o considerar, creio que é uma boa música para demonstrar o
remoinho de negatividade e aflição que decorre em toda a peça. Não só os
sentimentos de Dona Madalena, como também de D. Manuel e D. João, como já os
indiquei ao referir que partes da letra da música poderiam ser transformadas
nas suas palavras.
Maura
“Under pressure” (Sob
pressão) é um tema dos Queen e David Bowie que pode ser relacionado com o
desenvolvimento da peça Frei Luís de Sousa, de Garrett, e com os sentimentos
e a tensão vivenciados pelas personagens, sobretudo de D. João de Portugal, no
ato em que descobre a nova vida de Madalena, onde ele não tem lugar.
O título da canção está
associado ao estado emocional em que D. João de Portugal se encontra quando
chega a casa passados todos aqueles anos e se apercebe de que todos os que
tinham feito parte do seu passado viviam agora uma outra vida que não o
incluía.
Os versos
“Pressure pushing down on me/Pressing down on you no man ask for/Splits a family in two”
(pressão a empurrar-me para baixo/Pressão que ninguém quer sentir/Divide uma
família em dois) sugerem o peso que João de Portugal sentiu ao perceber que o
seu aparecimento já não era esperado e que é o causador da divisão e desgraça
da família, como é de novo evidenciado na seguinte passagem: “E porque não, se
já me pesa a mim dela, se tanto me pesa ela a mim(...)”; “(...) e contudo,
vinte anos de ausência e de conversação de novos amigos fazem esquecer tanto os
velhos!(...)”.
Perante esta situação, João de Portugal reflete na
posição em que o seu regresso pode deixar a sua esposa e, para não a desonrar
(pois ama-a e quer o seu bem), toma a decisão de partir e não assumir a sua
identidade: “Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu,
que ninguém mais houve novas dele, que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de
inimigos(...)”. A esta decisão podemos associar o verso da canção “Turned away
from it all like a blind man” (Afastei-me de tudo como um cego) pois João de
Portugal deixa tudo o que tem, casa, bens, mulher, para não destruir a vida
desta família.
O verso “And love dares you to care for” (E o amor
desafia-te a cuidar) simboliza a medida tomada pelo Romeiro. Este sacrifica
aquilo que lhe pertence por amor, não querendo ver a mulher que amava
desgraçada e com a vida desmoronada. Este ato de cuidar por amor é presenciado
numa fala entre Romeiro e Telmo, em que o primeiro diz “Agora é preciso
remediar o mal feito. Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel.”
Por fim, pude ainda
identificar uma última analogia entre esta música e a peça Frei Luís de
Sousa. Esta comparação é referente à fala em que, com toda a certeza, João
de Portugal confirma a sua partida depois de ouvir Madalena chamar
desesperadamente o seu marido. Ao ouvir as suas palavras o Romeiro pensa
que estas se dirigem a ele mas, ao aperceber-se de que se referem a Manuel
Sousa, João percebe que o melhor a fazer é partir (“Ah! E eu tão cego que já
tomava para mim!... Céu e Inferno! Abra-se esta porta… Não: o que é dito é
dito”). Na canção encontramos os versos “ Keep coming up with love but it's so slashed and
torn/ Why/Love/Insanity laughs under pressure we're cracking” (Continue a vir
com amor mas é tão cortante e rasgado/ Porque/ Amor/ Ri loucamente sob a pressão
que nos está a partir), que retratam o sentimento de João de Portugal ao
perceber que Madalena não chama por ele, levando-o a pôr em prática a decisão
já antes tomada.
Miguel
M.
A canção “Lealdade Coragem,
Verdade”, escrita em 2020 por Christina Aguilera para ser interpretada no filme Mulan de
2020 (não exibido, ainda, por causa da pandemia), exprime, de certa forma, os
sentimentos de D. João de Portugal quando este queria voltar para perto da sua família.
Podemos assumir que os
versos «Meu destino está nessa guerra / Eu já consigo ver / Minha família é
tudo o que eu tenho / Fonte do meu viver» dizem respeito a quando D. João de
Portugal se manteve vinte e um anos longe da sua família mas, ainda assim,
lutou contra as adversidades e, por fim, pôde ter a hipótese de a rever mais
uma vez.
De seguida, a meu ver,
podemos associar os versos «Minha verdadeira imagem / Continua a perguntar / Se
existe na guerreira / Lealdade Para lutar» ao discurso onde o primeiro marido
de Madalena revela a Jorge (e a Madalena) a sua verdadeira identidade, dado que, na
visão de quase todos, o Romeiro seria apenas um peregrino que necessitava de
falar, descrito na resposta «Ninguém (enquanto aponta para o quadro de D. João
de Portugal)», quando lhe perguntam “quem és tu?”. O suposto peregrino
revela-se, mostrando, assim, a sua verdadeira imagem, quando poderia não o ter feito.
De seguida, podemos
interpretar os versos «Toda a vitória exige coragem / É solitária essa viagem»
de diferentes formas. Uma delas, num sentido literal, onde podemos assumir que
a vitória se refere ao facto de ele ter sobrevivido à guerra e à viagem que
teve de percorrer até chegar à sua família. Ou, num sentido menos literal, onde
o sentimento de coragem se adequa ao sentimento sentido quando o Romeiro se
revela para todos e está disposto a começar de onde parou.
Apesar de o autor não
expressar na obra, de forma clara, os sentimentos de D. João, podemos deduzir
que este, após ver a sua amada (uma das razões pela qual ele quis voltar)
amando outro homem, ficou despedaçado e triste - o que permite fazer um
paralelo com os versos «Minha alma gelada / Quero ser mais forte mesmo na dor».
Podemos deduzir que o sentido de querer ser mais forte mesmo na dor se traduz
no facto de, apesar de D. João amar D. Madalena, ele teria de seguir em frente
pois D. Manuel era o seu novo esposo. Temos uma cena semelhante quando Madalena
exclama «Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aí estais» e o
Romeiro, como se esqueceu de existência de D. Manuel, sentiu que aquele
chamamento fosse para ele mas, em seguida, D. Madalena chama por «Meu marido.
Meu amor, meu Manuel!» e, nesse momento, D. João fica desiludido, dizendo «Não:
o que é dito é dito», mostrando que, mesmo com esta informação escandalosa, não
iria deixar de fazer o que tinha em mente, e que não iria voltar atrás na sua
palavra - a isto se adequam também os versos da canção «Lealdade e coragem / E
a verdade para lutar».
Miguel
S.
Neste comentário à obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett,
utilizo a música «All
Girls Are The Same», do falecido artista norte-americano Juice WRLD. Achei
curioso que esta música, mesmo tratando um tema não tão próximo à obra de
Almeida Garrett, mencionasse com tanto detalhe algumas coisas pelas quais D.
João de Portugal passou igualmente.
O sujeito lírico da canção
expressa a sua frustração, que resulta de a sua mulher o ter deixado por outro
homem. Esta canção acaba por passar por um desabafo de emoções quase
contraditórias. Por um lado, o “eu” está frustrado, dizendo que todas as fémeas
são iguais, mas, mesmo assim, mantém um tom triste, como se não quisesse que a
relação tivesse terminado. Juice WRLD e D. João de Portugal vão-se aproximando
sentimentalmente cada vez mais, tanto no decurso da obra como no da música
escolhida.
Logo no início da canção, Juice
WRLD canta os versos «Who am I kidding? All this
jealousy and agony that I sit in» (Quem é que eu engano? Toda esta inveja e agonia que
sinto). Conseguimos associar isto a D. João, pois semelhantemente ao sujeito
lírico, ele também se quer convencer que não foi afetado pelo que se passou,
mas todos sabem da mágoa e agonia que ele inevitavelmente sente. Observamos o
mesmo em “Agora é preciso remediar o mal feito”, porque esta frase é dita com
assertividade (por romeiro), quase a tentar mostrar indiferença à situação,
mas, como referido acima, mostra também que D. João de Portugal está
inevitavelmente abalado. «Pissed off from the way that I don't fit in»
(irritado pela forma como não me integro) é um dos versos que vem a seguir, que
aplicamos a D. João devido a estar, também, desiludido por não se conseguir
voltar a integrar na sua família, porque já não há lugar para ele. Lutara
tantos anos para poder voltar para a sua família, e quando finalmente conseguiu
chegar a casa, percebe que foi trocado e que não tem lugar.
D. João sente-se como Juice WRLD
no segundo verso, onde o mesmo canta «Screw living, I'ma drown in my sorrow»
(que se lixe a vida, vou-me afogar na minha tristeza) (...) «Am I dying? Am I living? It's screw feelings, my sorrow goes up to the
ceiling» (Estarei a morrer? Estarei a viver? Que se lixem os meus sentimentos, a minha
tristeza sobe até ao teto). Este último verso aproxima-se ainda mais de João
pois nem ele mesmo sabe se está vivo ou morto. Sente-se fisicamente vivo, mas
será que sem lugar na sua mesma família e sem amigos estará mesmo a viver?
Estará morto para a sua família? Para o mundo em si? Isto observa-se na
seguinte citação, da obra de Garrett: “Fui imprudente, fui injusto, fui duro e
cruel. E para que? D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse
que ele morrera”. O reaparecimento de D. João tornaria o casamento de Madalena
e Manuel ilegítimo, e o pensamento radical de agora estar metaforicamente morto,
devido a não ter nada por que lutar, terá de certeza passado pela cabeça de D.
João de Portugal.
Concluindo, surpreendeu-me que
uma canção lançada num álbum de 2018 expressasse tantos sentimentos comuns à
obra de 1843. Com isto dito, conseguimos concluir que o amor será sempre
intemporal e que, na realidade, o que muda é a forma como as pessoas agem e não
os sentimentos.
Pedro S.
No comentário da obra Frei
Luís de Sousa, de Almeida Garrett, vou utilizar a música «Teu Eternamente»,
do
artista português, de vinte e oito anos, João Batista Coelho, mais conhecido
pelo seu nome artístico de Slow J. Achei algo curioso o facto de que esta
música descreve com alguma precisão os sentimentos de D. Manuel perto do final
da obra Frei Luís de Sousa, sendo esta a razão que me levou a
escolher esta música.
Manuel vive um amor
impossível devido às circunstâncias à sua volta, nunca poderá resultar. O facto
de D. Madalena ainda estar casada com D. João torna a união entre Manuel e
Madalena impossível aos olhos da sociedade, o que os obriga a “deixar” o seu
amor para trás, escolhendo os dois ingressar na vida religiosa. O mesmo
acontece, de certa forma, a Slow J, que também expressa um sentimento de um
amor impossível, que, devido a fatores desconhecidos, não funcionou. Podemos
porém depreender que o amor de Slow J não funcionou pois embora ele e a sua
“amada” ainda sintam amor um pelo outro, ambos acabam por ser incompatíveis.
O sujeito lírico da
canção de Slow J diz que espera que, embora este amor seja impossível nesta
vida, talvez na próxima funcione (“Próximas vidas virão, vemo-nos novamente”)
pois fará um esforço para corrigir as suas falhas e ser melhor dali para
diante.
Penso que, de certa
forma, D. Manuel poderá ter sentido o mesmo. Embora o seu casamento com D.
Madalena fosse impossível devido às circunstâncias em que se encontraram nesta
vida, talvez em uma próxima ambos pudessem viver o seu amor sem restrições ou
obstáculos.
Outro aspeto da música
que achei encaixar bem na obra foi o facto de Slow J dizer que “Eu sei que tás
aqui ao lado”, “Mas hoje sinto-me tão distante”. Estes versos evidenciam que a
relação entre os dois tornou-se distante e fria, mesmo que os dois ainda
estejam perto um do outro fisicamente.
Podemos depreender que
uma vez que ambos, D. Manuel e D. Madalena, escolheram seguir uma vida
religiosa após o seu relacionamento, estes ao longo da sua vida deve-se ter
encontrado durante os seus deveres como figuras religiosas, estando perto
fisicamente, mas sentindo-se distantes do que antes eram.
Outro aspeto muito
interessante da música é o facto de que na obra Manuel é obrigado a acabar o
seu relacionamento com Madalena, não só devido à sua religião como também
devido à pressão social e Slow J fala sobre o sentimento que provavelmente
ambos Manuel e Madalena sentiram de querer ignorar estes padrões e de continuar
a sua relação (“Mas esquece o que as famílias deviam ser E bora ser como nós
sonhamos Bora ser como éramos dantes”).
Mesmo uma canção
lançada num em 2019, consegue expressar sentimentos comuns à obra de 1843, Frei
Luís de Sousa. Por isso conseguimos concluir que o amor será sempre uma
coisa intemporal e que na realidade, o que muda não é o sentimento, mas sim
como as pessoas reagem com a esse sentimento, de amar alguém mais que tudo na
vida.
Pedro P.
«Desencontro», de Chico
Buarque, foi a canção que escolhi para analisar a par com Frei Luís de Sousa,
de Almeida Garrett. Inicialmente pensei num fado, um que espelhasse a dor e
angústia vividas por Madalena, ou então uma música popular, que falasse dos
seus dois amores, Manuel e João. Talvez a aleatoriedade de como esta canção
apareceu no meu caminho me tenha inspirado para a analisar em conjunto com a
peça.
«A sua lembrança me dói
tanto» são palavras do eu da canção que poderiam pertencer à obra de Garrett,
tanto por parte de Madalena como de Telmo (porém, este mais otimista, crente no
regresso de D. João de Portugal).
«A sua lembrança
me dói tanto», pois dói, Madalena. Mas será que o amavas sequer? Se amavas, já
não amas. E temes o seu regresso! E a ti Telmo... A ti também dói a lembrança
de alguém como o teu amo, aquele «espelho de cavalaria e gentileza».
«Sobrou desse nosso
desencontro / Um conto de amor / Sem ponto final» talvez possa referir o ponto
que, em falta, marca o início do fim. Um ponto final que teria sido melhor
existir (João ter morrido em Alcácer-Quibir) do que regressar João a uma ideia
por terminar. O regresso de D. João de Portugal, para além de um destino
inesperado e inevitável, deduzido dos presságios de Madalena e dos agouros de
Telmo, veio destruir o amor de Madalena e Manuel, a sua família.
«Retrato sem cor /
Jogado aos meus pés / E saudades fúteis / Saudades frágeis / Meros papéis». Não
sei se Buarque e Garrett partilharam ideias mas estes cinco versos não podem
escapar à referência do incêndio do palácio dos Sousa Coutinho, em particular à
incineração do retrato de Manuel. Madalena teme e antecipa a perda do seu atual
marido (do retrato), tal como perdeu João, e é com estes a acomodarem-se nos
aposentos do antigo cônjuge, onde também se encontra um retrato seu, que a sua
imagem se torna mais presente e nítida entre as personagens do que propriamente
a de Manuel, cujo imagem sucumbe às ígneas chamas. A partir daqui, dá-se uma
sequência de eventos e presságios trágicos, até à chegada do Romeiro.
Para terminar a análise
da peça, irei aproveitar a última oitava da canção de Chico Buarque. Começo
pelo verso «Não sei se você ainda é a mesma»: vinte e um anos depois é claro
que Madalena não é a mesma que João lembra, mudam-se se os tempos, mudam-se as
vontades. «Ou se cortou os cabelos / Rasgou o que é meu / Se ainda tem saudades
/ E sofre como eu»: Madalena já não tem saudade, na verdade até receia o
regresso do antigo marido. O seu sofrimento seria, sim, por poder vir a perder
a família, visto que o casamento e a sua filha Maria eram ambos ilegítimos. «Ou
tudo já passou / Já tem um novo amor / Já me esqueceu»: Manuel é, sim, o novo
amor de Madalena, mas esta nunca esqueceu João, assombrada pelo seu eventual
regresso.
Raquel
A recomendação feita na
canção de Diogo Piçarra, “Tu e Eu'', é de que se há amor entre duas pessoas, há
razão para elas ficarem juntas, independentemente de todas as consequências ou
obstáculos. Esta definição poderia encaixar-se na situação entre Madalena e D.
Manuel, personagens de Frei Luís de Sousa, um amor impossível.
“Se o amor nos deixar
(...) e o tempo nos mudar, irei estar sempre aqui.” encerra um conselho que
ficaria bem a Madalena e D. Manuel já que estes se casaram por amor e não por
ter de ser assim, como a maioria dos nobres se casavam naquela época. No
entanto, no final da história, este amor quase parece ser um amor impossível já
que o primeiro marido de Madalena “volta à vida”. Esta parte da música também
poderia ser encaixada no pensamento de D. João de Portugal já que este deseja
que Madalena gostasse dele.
“Se tu pensas em mim,
como eu penso em ti” é quase como se fosse um pensamento de Madalena. Na cena
VIII, do ato III, percebemos que Madalena estaria disposta a lutar contra tudo
e todos pelo amor que sente por Manuel. Veja-se a “meu Marido, meu amor,
meu Manuel''. Também numa fala mais distante podemos ter mais certeza acerca do
seu amor impossível: “a nossa união, o nosso amor é impossível".
“Se tu dizes que sim,
eu sei por onde seguir” parece ser mais um dos pensamentos de Madalena já que
esta também parece querer uma espécie de aprovação por parte de D. Manuel para
que o seu amor continue ( cena VIII, do ato III).
“Que nada se constrói, sem que antes tenhas,
errado ao tentar” é quase como uma lição de vida para Madalena e Manuel, já que
estes tentaram semear frutos do seu amor e, no final, este amor é considerado
impossível.
Assim, concluo que o tema da canção seria bem
aplicada sobre Manuel e Madalena, quase como se retratasse a situação que cai
sobre eles.
Ricardo
“Painless” foi o titulo escolhido na obra
de Josh A. É um cantor americano que ainda faz músicas para o nosso século,
século XXI. Por mais saudades que D. Madalena sentisse por D. João de Portugal
quando está partir para a batalha de Alcácer Quibir, João deixava para trás a
sua amada, e sem saber o que esperava ou, pior, se ainda voltaria para os
braços do seu amor. A distância entre os dois fazia o coração de D. Madalena
estar sempre com medo de perder o seu amado, mas ao mesmo tempo, sentia amor
esse por D. Manuel.
Ao longo da obra vemos como D. Madalena se
ia sentido em relação a D. João. E os sentimentos de D. João? Nunca tivemos uma
visão de como ele se sentia. No entanto, agora, com a sua vinda, podemos
imaginar como seriam os seus sentimentos durante aqueles sete anos: “Showed me
fake love, it was shameless / I should've known that we would never make it /
Now my heart is cold, feeling vacant [Mostraste-me um amor falso, foi sem
vergonha / Eu deveria saber que nunca conseguiríamos / Agora meu coração está
frio, sinto me vazio]”. Estes versos, transmitem-nos os sentimentos que D. João
sentiria quando regressou da guerra e viu que D. Madalena estava com D. Manuel.
Para D. João, D. Madalena representava a paz, a tranquilidade e a vida (“Amada
senhora, morro de paixão”). Mas D. Madalena não entendeu isso. O verso “Lied to
me and said you wouldn't run [Mentiste-me e disseste que não ias fugir]”
pretende mostrar o quão D. João estava magoado e triste com Madalena.
Antes do regresso, a opção de D. João de
Portugal era apenas rezar, esperar e ter esperança de que a sua amada ainda
estava à espera do seu regresso a Portugal. Mas os sentimentos de Madalena
estavam como neste verso: “But I'll be fine, I'm better off without you [Mas eu
vou ficar bem, estou melhor sem ti]”.
Para D. João, mantido em cativeiro durante longos anos, a vontade de se reencontrar com Madalena era cada vez maior.
Com isso também crescia o sentimento de preocupação e desespero. Madalena,
depois de sete anos decidiria desistir de esperar por D. João e casara com D.
Manuel, supondo que D. João estava morto: “Sabeis como chorei a sua perda, como
respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e
testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berbéria, por
todas as séjanas de Fez e Marrocos, por todos quantos aduares de Alarves aí
houve…”; “… Aquela notícia que logo viera com as primeiras novas da batalha
d’Alcácer. Tudo foi inútil; e a ninguém mais ficou resto de dúvida…”.
Rita
O romeiro ou, melhor
dizendo, D. João de Portugal, depois de ter passado vinte e um anos longe da
sua família, da mulher que ele amava, Madalena, voltou a casa, mas o cenário
que o esperava não era o mais agradável.
Para ilustrar as cenas
XIV e XV do ato II de Frei Luís de Sousa, decidi escolher a canção Six
feet under da cantora norte americana Billie Eilish. A letra começa logo
com o seguinte verso: “help i lost myself again / but i remember you” (alguém
me ajude que eu me perdi a mim própria de novo / mas eu lembro-me de ti). À
semelhança do eu da canção de Billie, também D. João se sente perdido, voltou
para a casa onde tinha uma família que já não existia, estava perdido mas
lembrava-se de Madalena, a mulher que antes lhe trouxera felicidade. O verso
seguinte "don't come back, it won't end well” (não voltes, não
acabará bem) seria o que Madalena diria a D. João, visto que o seu regresso era
indesejado pois tornaria o casamento de Madalena e de D. Manuel, o homem que
ela realmente amava, ilegítimo.
Para fazer este
trabalho, utilizando esta canção, tentei focar-me mais nas emoções que o
romeiro poderia estar a sentir com o sucedido. Ele amara Madalena mas, agora que voltou, vê que esse
amor já não existe: “Our love is six feet under / I can't help but wonder / If our
grave was watered by the rain / Would roses bloom? / Could roses bloom / Again?”
(O nosso amor está a dois metros de
profundidade / não consigo pensar se a nossa sepultura foi irrigada pela chuva
/ as rosas floresceriam? / conseguiriam rosas florescer? / de novo?). Esta
estrofe pode ser analisada de duas maneiras distintas, uma em que D. João sente
que o seu amor por Madalena já está enterrado a dois metros de profundidade, já
não existe (mas, haveria alguma possibilidade de voltar a nascer, de
florescer?) Outra em que, por cima do amor de Madalena e João se formou um amor
mais forte, o amor de uma família, onde floresceram rosas que se sustentaram
neste amor perdido para crescer.
Por fim, podemos relacionar a estrofe: “And all
of these clouds / Cryin' us back to life / But you're cold as a night” (e
todas estas nuvens / a chorarem-nos de volta à vida / mas tu estás frio como a
noite) com Frei Luís de Sousa. O mesmo sentimento frio e distante que
Billie sente assemelha-se ao sentimento que D. João estava a ter: Madalena era
agora uma mulher desconhecida, completamente diferente daquela que ele
conhecera há vinte e um anos e que deixara com grande angústia no coração
quando fora defender a pátria em Alcácer Quibir; Madalena era agora uma nova
pessoa que não tinha lugar para ele na sua vida.
Assim, Billie Eilish consegue, a partir de uma
música lançada em 2016, descrever a mágoa e dor sentidas por uma personagem de
uma peça de teatro escrita em 1843 e publicada em 1844.
Tomás V.
A espera ininterrupta por algo, estabelecendo
assim uma atmosfera de tensão constante, é um dos aspetos que caracteriza a
obra dramatúrgica Frei Luís de Sousa. A versatilidade que encontrei em
Homesick permite uma associação direta de diversos aspetos da peça, como o
anteriormente apresentado, a versos da canção. Deste modo, qualquer personagem
da criação teatral mais afamada de Almeida Garrett pode-se identificar e ver os
seus problemas retratados na obra musical.
«I always knew that you existed, no one
listened» (Sempre soube que tu existias, mas ninguém me ouviu) é o desabafo de
Madison Beer que espelha a angústia e esperança que Telmo vivia. Nas duas
situações esse momento é notável o alívio e, de certo modo, conotam a raiva em,
finalmente, poder confirmar por que tanto sofriam. No caso de Telmo, é
referente à esperança de encontrar o amo após vinte e um anos de espera.
Isto é complementado pelo questionamento «What
took you so long?» (O que te fez demorar tanto?), que é possível inferir que
tenha ocorrido a Telmo já que, quando surpreso pela revelação da real
identidade do romeiro, questionou-o sobre o seu paradeiro.
Na canção, escrita também pela intérprete
original, a instância onde são recitados os seguintes versos «These ain't my
people / Ain't my crew / It ain't my planet / These humans speak my language /
Still don't understand it» (Estes não são o meu povo / Não são da minha
banda / Não são do meu planeta / Estes humanos não falam a minha língua / Mas
continuo sem entender), a cantora mostra um distanciamento, quase que
propositado, de ela mesma dos demais, cuja razão está assente na sua saúde
mental. Isto aplica-se ao drama de Garrett, onde o até então romeiro mostra um
desapego aos seus parentes já não conseguindo mesmo associá-los a família («A
minha família… Já não tenho família.»). Ainda que seja no sentido conotativo,
pois tal afirmação constitui uma falácia, o desabafo teve como objetivo
acentuar o estado depressivo e de abandono que o mascarado D. João viva: «São
vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias...».
Por fim, no último ato, instantes antes da
morte, Maria mostra ter repugnância pela presença de D. João naquele momento,
já bastante difícil para a pobre criança tuberculosa. Nesse momento questiona a
necessidade do aparecimento do até então ex-marido morto de Madalena. («Que me
importa a mim com o outro?»), ao de encontro de: «But everything looks perfect
when you're far away» (Mas tudo fica perfeito quando estás distante),onde
Madison Beer também põe em causa a existência de alguém num lugar específico, e
aludindo ao facto de que a retirada da mesma da sua vida trará perfeição à sua
vivência. Tal situação não se pode aplicar «ipsis verbis» à da jovem de treze
anos; no entanto, a presença de D. João não trouxe qualquer perfeição à morte
de Maria, antes pelo contrário.
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