Saturday, August 31, 2019

Pessoa pelo 12.º 3.ª


Mafalda
«Deixa passar o vento» (Ricardo Reis); «Todos os dias agora acordo com alegria e pena.» (Alberto Caeiro); «Verdadeiramente» (Fernando Pessoa); «Estou cansado, é claro,» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/4508; http://arquivopessoa.net/textos/636; http://arquivopessoa.net/textos/550; http://arquivopessoa.net/textos/2481 | Mafalda (19)
Pontos fortes Planificação (de modo a dar um retrato global de Pessoa). Edição e, decerto, ensaios (tudo bem construído e pensado). Efeito da música de fundo (uniformiza sem se sobrepor). Aspetos melhoráveis A leitura em voz alta está relativamente adaptada a cada heterónimo (o que é um ponto forte ainda) mas talvez Caeiro devesse ter estilo mais infantil e coloquial e Campos aparecer-nos mais eufórico. A corrigir: a ideia de que Campos seria um engenheiro muito famoso (ao contrário, tudo indica que pouco teria exercido...).

Inês S.
«A espantosa realidade das coisas» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3364 | Inês S. (18-18,5) Pontos fortes Texto criado contrasta duas maneiras de conviver com paisagem (podemos até dizer que com a mesma natureza, já que se trata do mesmo Ribatejo que Pessoa escolheu para Caeiro): a Caeiro a natureza não causa especial emoção, é, digamos, natural, por isso basta que se veja; à autora, ao contrário, o campo suscita emoções (recordações de infância, avós), o que faz que o seu registo não possa ser o mesmo de Caeiro (não conseguiria escrever poemas mas apenas apontamentos de prosa, porque tem um passado e um futuro, ao contrário do intemporal guardador de rebanhos, que é só presente). Naturalidade da leitura em voz alta de Caeiro. Som ambiente (de novo, natural, à Caeiro). Imagens do Ribatejo. Momento «"Ela não morde?" pergunta a estudante de Biologia». Aspetos melhoráveis  Corrigir pronúncia de «e[*n]ventos»; e, nas legendas finais, tirar o acento a «Viváldi» (Vivaldi).

Bernardo
«Dá-nos a Tua paz» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/808 | Bernardo (12) Pontos fortes Cuidado com imagens, preparação (escolha) do cenário, todo o lado de produção, edição. Leitura em voz alta aceitável, revelando que houve decerto ensaio, embora não tão expressiva quanto Campos aconselharia. Aspetos melhoráveis Não haver texto próprio (no fundo, a falha foi não se ter lido as instruções com atenção: falhou uma exigência crucial). A corrigir: pronúncia de «preces» (o E é aberto) e, talvez, de «coveiro» (para mim, é «c[u]veiro»; mas admito que haja oscilação).

Beatriz
«O amor, quando se revela» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1318 | Beatriz (17) Pontos fortes Pretexto para o texto (conversa sobre Salvador Sobral). Edição, planificação, bom gosto, na produção do objeto fílmico (embora talvez com mais demora do que o aconselhável: a síntese é uma característica do cinema). Expressão oral (na modalidade de representação) corre bem, em geral. Leitura em voz alta do poema boazinha. Aspetos melhoráveis A certa altura, conversa perde naturalidade, devido a insistência, certo arrastamento, que critiquei há pouco. A corrigir: «Se [*ele] pudesse ouvir o olhar» (no poema não há pronome); «o amor é *o único» não me soa bem.

Leonor
«Todas as cartas de amor são ridículas» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2492 | Leonor (15-15,5) Pontos fortes Edição: imagem, música, fotografia (enfim, toda a produção videográfica). Expressão oral (embora os dizeres sejam bastante fragmentados, o que torna tudo mais fácil).  Aspetos melhoráveis Vários problemas ligados à falta de leitura atenta das instruções (link enviado não era de Arquivo Pessoa, não se indicava o heterónimo; poema fora dado em aula — cfr. as nossas folhas). Também devia ter havido mais transformação do texto original, mais texto da própria autora. A corrigir: talvez se devesse referir mais Álvaro de Campos do que Fernando Pessoa.

Eduardo, Francisco, Miguel
«Não sem lei, mas segundo leis diversas» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/46 | Miguel, Francisco, Eduardo (17-17,5) Pontos fortes Trabalho de grupo, planificação, produção centrada na forma de transmitir uma narrativa (mais tributária do teatro do que do cinema?). Melhoria da capacidade de representação de Eduardo relativamente ao conhecíamos de vídeos anteriores. Aspetos melhoráveis Estrutura quase de alegoria — no fundo, trata-se de uma pequena anedota — esconde, de certa maneira, que não houve transposição da narrativa segundo os recursos propriamente cinematográficos (é teatro filmado, digamos). Miguel e Eduardo também deveriam ter lido algum passo do poema.

Sofia
«Passo, na noite da rua suburbana» (Álvaro de Campos); «Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo" (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3461; http://arquivopessoa.net/textos/1486 | Sofia (18-17,5) Pontos fortes Bom gosto e competência na edição, na produção enquanto objeto completo. Transposição para a cidade hodierna do contexto «suburbano» de Campos. Leitura em voz alta sem erros e fluida, sensível às modulações (ainda que ganhasse em ser mais diferenciadora: Campos, mais nervoso; Caeiro, mais pachorrento e ingénuo). Aspetos melhoráveis O poema de Alberto Caeiro foi usado em aula (é certo que num exercício rápido em que se completavam lacunas com palavras da família de «ver»).

Inês C. & Teresa
«Não sei se os astros mandam neste mundo,» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3147 | Teresa & Inês C. (18,5) Pontos fortes Narratividade bem transposta para o formato «filme» (contar uma história em cinema exige muito trabalho, coordenação, planificação, técnica). Ritmo. Leitura em voz alta sem erros e clara (poder-se-á dizer que um pouco uniforme, mas, dada a opção de integrar o texto de Campos no diálogo, esse aspeto deixa de ser questionável). História criada bem coordenada com poema (embora, para meu gosto, o assunto seja demasiado escolar, ingénuo, tão ESJGF). Texto próprio sem erros (ainda que com certos lugares comuns e simplificação — a tal abordagem bem comportada). Aspetos melhoráveis Cortes no som aqui e ali demasiado visíveis (isto é, audíveis); marca d’água. Alegoria do exame numa mesa no bloco C (mas que se inscreve bem no lado excessivamente didático do enredo).

Inês M.
«Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/743 | Inês M. (17) Pontos fortes Articulação entre texto de Pessoa, texto próprio e filme. Competência da edição (incluindo som). Leitura em voz alta (sem erros, calma). Aspetos melhoráveis O tempo mínimo não foi cumprido, por dezassete segundos, embora se deva reconhecer que, como o vídeo está muito preenchido, não será dos casos mais grevas. A corrigir: «eventualmente» no sentido, inglês, de ‘finalmente’; «*o espetáculo que estamos a assistir» (o espetáculo a que estamos a assistir); «mandar para o ar» é demasiado informal; já criquei em aula estruturas do tipo «espetáculo esse» (não bastava usar, em substituição, um «que»?).

Afonso & Bea
«Vive, dizes, no presente» (Alberto Caeiro); «Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima» (Álvaro Campos); «[Liberdade] Ai que prazer» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/3226; http://arquivopessoa.net/textos/2443http://arquivopessoa.net/textos/4307 | Bea & Afonso (18-17,5) Pontos fortes Ideia de juntar as duas filosofias, a de Caeiro e a de Campos («Liberdade» seria o ponto de confluência); toda a realização, concretização, desse plano. Acho interessante a encenação ter decorrido num espaço que continuou em funcionamento. Leitura em voz alta sem erros (mas talvez demasiado uniforme; coloquialidade, estilo de conversa verdadeira, teria sido preferível?). Final, já só com Pessoa. Aspetos melhoráveis O poema «Liberdade» foi referido em aula (quer este ano, quer há um ou dois anos); foi-lhes recomendado então que lessem este artigo, onde mostro que o texto, além de mal editado, não tem o sentido que é comum dar-se-lhe. A corrigir: «*Não são esse tipo de sensações que» (Não é [...]); «relembre-se» (lembre-se).

Pedro
«Roçou-me» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/3185 | Pedro (13-12,5) Pontos fortes Imagem é pertinente. Há muito texto próprio (e, diga-se, muito pouco de Pessoa, o que, por seu lado, não deixa também de ser uma desvantagem). Leitura em voz alta sem erros e expressiva. Aspetos melhoráveis Texto criado, ainda que sem erros, tem bastantes lugares comuns («meras respostas», «ego», «que me fiz eu a Deus», «os nossos pontos fracos», «somos o nosso pior inimigo», «brincar com os sentimentos dos outros») — ou seja, não estamos no domínio da linguagem literária mas no da linguagem comum embora de pendor sentimental (esperava um pouco mais neste tipo de trabalho). Houve apressadíssima leitura das instruções (recordo-me que o autor não enviou título/verso; não adotou modelo de título do ficheiro; texto está entre os textos dramáticos de Pessoa, pertence a Fausto, que é teatro, embora teatro muito singular). Tempo quase mínimo e adoção de única imagem fixa (embora bem escolhida) confirmam que não houve o investimento que supunha este trabalho.

Matilde
«A flor que és, não a que dás, eu quero» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/3480 | Matilde (15)  Pontos fortes Texto criado e articulação com o texto de Ricardo Reis. Leitura em voz alta competente (embora vacilasse no final do poema de Reis). Aspetos melhoráveis O texto criado tem alguns lugares comuns («não estou buscando», «deveras», «repete infinitamente no meus pensamento», «invade-me o peito com angústia»). Faltam vinte segundos para se chegar ao tempo mínimo exigido. A corrigir: «infera» é palavra grave («in[ε]fera»); ou seja: não é «ínfera», nem lida como «infra»; «a água» saiu quase como «auga».

Margarida
«O amor, quando se revela» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1318 | Margarida (17,5-18) Pontos fortes Estilo gráfico, com lettering animado, entre BD, cartaz e filme com ligeiro movimento (esta escolha original fica um pouco prejudicada pela parte final do filme, com imagens filmadas avulsas — trechos de visitas de estudo, férias, etc. — que não seguem o mesmo padrão gráfico: é importante manter coerência no estilo). Texto criado sem erros (mas com os problemas dos textos sobre amor — cai-se em lugares comuns, não é assunto em que seja fácil ser-se original, criativo). Aspetos melhoráveis Leitura em voz alta talvez pudesse estar menos uniforme (mais ágil, mais nervosa). A corrigir: «*[P’rá] saber que a estão a amar» ([P’ra] saber que a estão a amar).

Tita
«Num dia excessivamente nítido» (Alberto Caeiro)| http://arquivopessoa.net/textos/1108 | Tita (19-19,5) Pontos fortes Criação de situação narrativa e seu desenvolvimento segundo as técnicas do cinema (aproveitando bem os recursos que um filme permite; planificando tendo em conta os requisitos dessa transposição). Edição (montagem, som, imagens de mensagens, carta). Leitura em voz alta de poema e relato oral competentes (mas v. 6 de Caeiro saiu hesitante — ou foi propositado para imitar estilo ingénuo desse heterónimo?). Aspetos melhoráveis A corrigir: «?*uma adiçã0» (é preferível «acrescento», «incorporação», «novo elemento», já que «adição» passou a estar quase reservado para o sentido ‘dependência’).

Nicole
«Na ampla sala de jantar das tias velhas» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3234 | Nicole (13,5-14) Pontos fortes Estilo vintage do filme; ângulos da filmagem. Texto criado interessante e sem erros, ainda que sem evitar alguns lugares comuns. Aspetos melhoráveis Não é cumprido o tempo mínimo (por quarenta segundos...). Na leitura em voz alta do poema, «ah!» saiu muito artificial. A corrigir: «saudade» pareceu quase «*s[ó]dade»; «*memória e ch[ó]ro» («memória e ch[ô]ro» — é o nome, não é ‘eu choro’); «*que não se conheceu» (o que está no poema é «que se não conheceu»).

Ana & Pardal
«Como é por dentro outra pessoa» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2784 | Pardal & Ana (18)  Pontos fortes História do filme, uma alegoria do poema de Pessoa, da dificuldade que é perceber-se cada um a si mesmo e percebermos os outros. Leitura em voz alta coloquial, por Beatriz, para a parte subjetiva, monologal; mais discutível o estilo de Ana, para o texto mais analítico (admito que até seja uma representação naturalista, verdadeira, mas o cinema, para ser verdadeiro, recorre a um fingimento, um estilo forjado que, neste caso, simularia, exageraria até porventura, a psicologia daquela personagem e seria também mais lento). Aspetos melhoráveis Falta uma última demão na montagem (há, por exemplo, momento «vazios», sem som, que um filme mais editado deve evitar; faltou tempo ou mais domínio técnico). No texto criado eram escusados certos lugares comuns («luz ao fundo do túnel»; «vou vivendo um dia de cada vez»; ...). A corrigir: «outrem», no poema, está sem acento, logo não podemos ler «outrém» (as duas formas seriam viáveis, embora se use cada vez mais a forma grave, «outrem»); «?*arrebatamento que é acordar todos os dias» (será mesmo «arrebatamento»?).

Carolina & Carlota
«Passagem das horas [b]» (Álvaro de Campos); «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio» (Ricardo Reis); «Eu nunca guardei rebanhos» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/827; http://arquivopessoa.net/textos/3427; http://arquivopessoa.net/textos/1456 | Carlota & Carolina (14) Pontos fortes Empenho que o filme revela, mostrando gosto pela elaboração do vídeo (sobretudo nos aspetos de encenação, nos adereços, na caracterização), e sensibilidade para a planificação de um enredo, que se consegue concretizar em termos de cinema (embora com preocupação desnecessária de dizer tudo — cinema é, por natureza, sintético). Ideia de abranger os três heterónimos, fazendo uma panorâmica do «essencial» acerca de cada um (diga-se que esta vontade de abarcar tudo e de tratar cada heterónimo com as mesmas etapas levou a que o filme ficasse muito longo e, por isso, surgissem muitos lapsos — se o projeto não fosse tão ambicioso, decerto teriam tido mais tempo para rever, não arriscariam tanto). Aspetos melhoráveis As instruções da tarefa não foram bem lidas (alguns dos textos foram dados em aula, os de Reis e de Caeiro, estavam portanto proibidos; desaconselhara abordagens teóricas, de «sebenta» ou manual, que, mesmo assim, fizeram). A corrigir nos textos: «a primeira pessoa *que me transformei» (a primeira pessoa em que me transformei); «*tivera nascido» (tinha nascido / nascera); «*vi uns amigos onde fiquei» (cuidado com «onde»!); «a única coisa que parecia não mudar *é este caderno» (era); «são algo que me *fascinam» (fascina); «*chamo de diário» (chamo diário); «*sempre fui encantado com máquinas» (as máquinas sempre me encantaram / fascinaram); «?*marca o fim deste» (marca o seu fim); «*sobrepondo a razão sobre a emoção» (sobrepondo a razão à emoção); «*onde mais tarde» ([aos 12.1]; não pode ser «onde»); «*monarquista» (monárquico); «*discordar com a» (discordar da); «?*regresso para a capital» (regresso à capital); «*a forma de como ele» (a forma como ele); «*espontaneadade» (espontaneidade); entretanto, «o sol tornar-se-á algo inimaginável» é muito pouco à Caeiro (a Caeiro só interessa a realidade) e não é verdade que Ricardo Reis viva «cada instante como se fosse o último» (pelo menos, no sentido que esta expressão vai tendo na linguagem quotidiana). A corrigir na leitura em voz alta: em Caeiro: «como um» (com um); «na mão» (nas mãos); «*saudo» (saúdo); «*saudo-os» (saúdo-os); em Reis: «clareza, «atingiu»e «sobrepondo» estão pouco claros.

#