Thursday, September 08, 2022

Aula 53-54

Aula 53-54 (20 [5.ª], 21/dez [4.ª], 6/jan [1.ª, 3.ª]) Ouvidos os primeiros dez minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca das obras de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos escreve V(erdadeiro) ou F(also).

Fernão Lopes esteve ativo como escritor no século XV e a esse século pertencem os factos que nos relata.

No documentário, usa-se a metáfora «as Crónicas [de Fernão Lopes] são um livro que é um país».

Em 1383, D. Fernando morreu e deixou a filha, D. Beatriz, casada com um rei catalão, D. Gerard Piqué.

D. Leonor, viúva de D. Fernando, apoia a subida ao trono de D. João, de Castela.

Fernão Lopes terá nascido em Lisboa e na década em que decorrem estes acontecimentos que nos relata.

Durante a revolução de 1383-85, o povo estava a favor de D. Zelensky, que preferia a D. Putin.

Depois de estudar, Fernão Lopes tornou-se taberneiro, na Taberna dos Tombos, sendo nomeado guarda-mor em 1418.

Em 1434 é nomeado cronista-mor do reino, por D. Duarte, que o encarrega de escrever a história dos reis de Portugal.

Ao longo de vinte anos, Fernão Lopes terá cumprido esse objetivo, mas só chegaram até nós as crónicas de D. Pedro, D. Fernando e D. João.

A Crónica de D. Pedro, segundo António Borges Coelho, é a «meno rica» historiograficamente, mas é fabulosa do ponto de vista literário.

O caso dos amores de D. Inês de Castro é-nos relatado na Crónica de D. Fernando.

Da relação de Pedro e Inês nasceram Dinis e João, mas, antes, já Pedro e Constança tinham gerado o legítimo Fernando.

D. Pedro teve ainda outro filho João, de uma outra senhora.

Fernão Lopes, trata D. Fernando, cognominado «o feioso», elogiosamente.

O povo gostava de Leonor Teles, mulher de Fernando, a quem chamava «princesa do povo».

D. Beatriz casou com D. João I, de Castela, com onze anos.

Quando D. Leonor é regente, há quatro candidatos ao trono: D. Beatriz, D. João, D. Dinis, D. João (Mestre de Avis).

D. João, Mestre de Avis, é convencido a matar o alegado amante da rainha-viúva, Andeiro; e corre por Lisboa a notícia de que estavam a matar o Mestre no Terreiro do Paço.

O Bispo foi morto porque o povo achava que estava ao lado dos castelhanos.

No ano seguinte, 1385, o rei de Castela cercaria Lisboa.

Explicação sobre tipo de articulação narrativa: encadeamento, encaixe, alternância (cfr. Apresentação).

Em O amor acontece (Love actually) há um passo que me lembra o episódio da Crónica de D. João I que estudámos em primeiro lugar, «Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele» (pp. 81-83), com o povo de Lisboa a ser conduzido aos paços da rainha (restaurante), por ação de um pajem (Sofia) estimulado por Álvaro Pais (Barros), para defender o Mestre (Aurélia), que, alegadamente, o Conde Andeiro (Jamie) queria matar (comprar), acabando afinal por se festejar o triunfo do Mestre (Aurélia), que, afinal, matara o Andeiro (casa com Jamie) e sai até junto das massas (clientes do restaurante, portugueses), que aplaudem deliciadas.

Nesse trecho do filme, as personagens secundárias (ou mesmo figurantes) portuguesas — não incluo, portanto, Aurélia — são uma espécie de personagem coletiva, plana, ingenuamente caricaturada, talvez um estereótipo do português aos olhos dos estrangeiros. A caracterização desta «personagem» é, como é costume em cinema, indireta, já que decorre sobretudo das suas atitudes, da sua linguagem.

Inscreve no quadro os adjetivos qualificativos correspondentes à característica psicológica que os comportamentos à direita sugerem.

portugueses são...

comportamentos no trecho de O amor acontece

interesseiros, oportunistas, materialistas

Veem o casamento da filha, ou irmã, como possibilidade de melhoria das condições materiais.

 

Barros vem abrir a porta em camisola interior; não hesita em confiar em desconhecido; chama a filha de imediato.

 

Barros diz a Sofia que até pagava para se desenvencilhar dela.

 

Sofia trata o pai por «estúpido».

 

Pai e filha tentam resolver o pedido do estrangeiro.

 

Pai e filha vão pelas ruas a contar a todos o que se está passar.

 

«O meu pai vai vender a Aurélia como escrava!».

 

«É a minha melhor empregada. Não se pode casar!».

 

Assistem, sem desviar olhar, à declaração de amor; [na rua, não se coibiram de engrossar o pelotão em demanda de Aurélia.]

 

Diz Sofia: «casa-te mas é com o príncipe William».

 

Não percebem as mais elementares palavras inglesas (por isso ficam calados durante o assentimento de Aurélia).

 

Barros e Sofia beijam genro e cunhado.

 

Todo o restaurante fica eufórico com o sucesso da declaração de amor.

Também em Fernão Lopes a caracterização da personagem coletiva ‘povo (de Lisboa)’ é sobretudo indireta. Em vez de adjetivos, tenta nome (ou grupo nominal) que corresponda à característica de comportamento subjacente. Pus alguns, mas acrescenta.

povo mostra...

passos em «Do alvoroço [...]», Crónica de D. João I

subordinação a desígnios de outrem; cumprimento submisso de ordens mesmo que irrazoáveis; sociabilidade;

...

O Page do Meestre, [...] como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era percebido [combinado], começou d’ir rijamente a galope [...] braadando pela rua: // — Matom o Meestre! [...] // As gentes que esto ouviam, saíam aa rua veer que cousa era; e, começando de falar uns com os outros, alvoroçavom-se nas voontades, e começavom de tomar armas cada um como melhor e mais asinha podia.

disponibilidade para adotar pontos vista que se presumem maioritários; ...

[...] e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte.

obstinação; ...

A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos desejando cada um de seer o primeiro;

leviandade; ...

e preguntando uns aos outros quen matava o Meestre, nom minguava quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha.

índole vingativa; ...

E per voontade de Deos todos feitos dum coraçom com talente de o vingar, como forom aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, [...] com espantosas palavras começarom de dizer: // — U matom o Meestre? que é do Meestre? Quem çarrou estas portas?

individualismo; indecisão; ...

 

Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela. // Deles braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o treedor e a aleivosa. Outros se aficavom pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uns com os outros, nem determinavom nenhuma cousa.

cobardia; ...

[...] dizendo muitos doestos contra a Rainha.

materialismo; ...

De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Fernandez morto; mas isto nom queria nenhum creer, dizendo: // — Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos. [...]

ceticismo; ...

[O mestre mostra-se] // E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre eram que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uüs contra os outros: //— Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos, ainda lhe há de viinr algum mal per ela. [...] O aleivosa! já nos matou um senhor, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d'acabar por estas cousas que faz!

lhaneza; ...

— O, senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais. // E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo.

subserviência; candura; ...

[Então o Mestre] cavalgou com os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavam dizendo: // — Que nos mandaes fazer, Senhor? que querees que façamos? // E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester.

TPC — Em Gaveta de Nuvens vê ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’; se ainda não o fizeste, traz-me na próxima aula o tepecê com flexão de verbos a partir do teu nome.

 

 

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