Aula 53-54
Aula 53-54 (20 [5.ª], 21/dez [4.ª], 6/jan [1.ª, 3.ª]) Ouvidos
os primeiros dez minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca das obras
de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos escreve V(erdadeiro) ou F(also).
Fernão Lopes esteve ativo
como escritor no século XV e a esse século pertencem os factos que nos relata.
No documentário, usa-se a
metáfora «as Crónicas [de Fernão Lopes]
são um livro que é um país».
Em 1383, D. Fernando
morreu e deixou a filha, D. Beatriz, casada com um rei catalão, D. Gerard Piqué.
D. Leonor, viúva de D.
Fernando, apoia a subida ao trono de D. João, de Castela.
Fernão Lopes terá nascido
em Lisboa e na década em que decorrem estes acontecimentos que nos relata.
Durante a revolução de
1383-85, o povo estava a favor de D. Zelensky, que preferia a D. Putin.
Depois de estudar, Fernão
Lopes tornou-se taberneiro, na Taberna dos Tombos, sendo nomeado guarda-mor em
1418.
Em 1434 é nomeado cronista-mor
do reino, por D. Duarte, que o encarrega de escrever a história dos reis de
Portugal.
Ao longo de vinte anos,
Fernão Lopes terá cumprido esse objetivo, mas só chegaram até nós as crónicas
de D. Pedro, D. Fernando e D. João.
A Crónica de D. Pedro, segundo António Borges Coelho, é a «meno rica»
historiograficamente, mas é fabulosa do ponto de vista literário.
O caso dos amores de D.
Inês de Castro é-nos relatado na Crónica de
D. Fernando.
Da relação de Pedro e Inês
nasceram Dinis e João, mas, antes, já Pedro e Constança tinham gerado o
legítimo Fernando.
D. Pedro teve ainda outro
filho João, de uma outra senhora.
Fernão Lopes, trata D. Fernando,
cognominado «o feioso», elogiosamente.
O povo gostava de Leonor
Teles, mulher de Fernando, a quem chamava «princesa do povo».
D. Beatriz casou com D.
João I, de Castela, com onze anos.
Quando D. Leonor é regente,
há quatro candidatos ao trono: D. Beatriz, D. João, D. Dinis, D. João (Mestre
de Avis).
D. João, Mestre de Avis, é
convencido a matar o alegado amante da rainha-viúva, Andeiro; e corre por
Lisboa a notícia de que estavam a matar o Mestre no Terreiro do Paço.
O Bispo foi morto porque o
povo achava que estava ao lado dos castelhanos.
No ano seguinte, 1385, o
rei de Castela cercaria Lisboa.
Explicação sobre tipo de articulação
narrativa: encadeamento, encaixe, alternância (cfr. Apresentação).
Em O amor acontece (Love actually) há um passo que me lembra o episódio da Crónica de D. João I que estudámos em primeiro
lugar, «Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como
aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele» (pp. 81-83), com o povo de Lisboa
a ser conduzido aos paços da rainha (restaurante), por ação de um pajem (Sofia)
estimulado por Álvaro Pais (Barros), para defender o Mestre (Aurélia), que, alegadamente,
o Conde Andeiro (Jamie) queria matar (comprar), acabando afinal por se festejar
o triunfo do Mestre (Aurélia), que, afinal, matara o Andeiro (casa com Jamie) e
sai até junto das massas (clientes do restaurante, portugueses), que aplaudem deliciadas.
Nesse trecho do filme, as personagens secundárias (ou mesmo figurantes)
portuguesas — não incluo, portanto, Aurélia — são uma espécie de personagem coletiva, plana, ingenuamente caricaturada, talvez
um estereótipo do português aos olhos dos estrangeiros. A caracterização desta «personagem» é, como é costume em cinema, indireta, já que decorre sobretudo das
suas atitudes, da sua linguagem.
Inscreve no quadro os adjetivos qualificativos
correspondentes à característica psicológica que os comportamentos à direita sugerem.
portugueses são... |
comportamentos no trecho de O amor acontece |
interesseiros,
oportunistas, materialistas |
Veem
o casamento da filha, ou irmã, como possibilidade de melhoria das condições
materiais. |
|
Barros
vem abrir a porta em camisola interior; não hesita em confiar em desconhecido;
chama a filha de imediato. |
|
Barros
diz a Sofia que até pagava para se desenvencilhar dela. |
|
Sofia
trata o pai por «estúpido». |
|
Pai
e filha tentam resolver o pedido do estrangeiro. |
|
Pai
e filha vão pelas ruas a contar a todos o que se está passar. |
|
«O
meu pai vai vender a Aurélia como escrava!». |
|
«É
a minha melhor empregada. Não se pode casar!». |
|
Assistem,
sem desviar olhar, à declaração de amor; [na rua, não se coibiram de engrossar
o pelotão em demanda de Aurélia.] |
|
Diz
Sofia: «casa-te mas é com o príncipe William». |
|
Não
percebem as mais elementares palavras inglesas (por isso ficam calados durante
o assentimento de Aurélia). |
|
Barros
e Sofia beijam genro e cunhado. |
|
Todo
o restaurante fica eufórico com o sucesso da declaração de amor. |
Também em Fernão Lopes a
caracterização da personagem coletiva ‘povo (de Lisboa)’ é sobretudo indireta.
Em vez de adjetivos, tenta nome (ou grupo nominal) que corresponda
à característica de comportamento subjacente. Pus alguns, mas acrescenta.
povo mostra... |
passos em «Do alvoroço [...]», Crónica de D. João I |
subordinação
a desígnios de outrem; cumprimento submisso de ordens mesmo que irrazoáveis; sociabilidade;
... |
O Page do Meestre, [...] como lhe disserom que fosse
pela vila segundo já era percebido [combinado],
começou d’ir rijamente a galope [...] braadando pela rua: // — Matom o Meestre!
[...] // As gentes que esto ouviam, saíam
aa rua veer que cousa era; e, começando de falar uns com os outros, alvoroçavom-se
nas voontades, e começavom de tomar armas cada um como melhor e mais asinha podia. |
disponibilidade para adotar pontos vista que se presumem
maioritários; ... |
[...] e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de
marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que
se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte. |
obstinação;
... |
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta
que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom
logares escusos desejando cada um de seer
o primeiro; |
leviandade;
... |
e preguntando uns aos outros
quen matava o Meestre, nom minguava
quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha. |
índole
vingativa; ... |
E per voontade de Deos todos feitos dum coraçom com
talente de o vingar, como forom aas portas
do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, [...] com espantosas palavras
começarom de dizer: // — U matom o Meestre? que é do Meestre? Quem çarrou
estas portas? |
individualismo;
indecisão; ... |
Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre era
morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem para entrar
dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela. // Deles braadavom por lenha, e que veesse
lume pera poerem fogo aos Paaços, e
queimar o treedor e a aleivosa. Outros
se aficavom pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do
Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uns com os outros, nem determinavom nenhuma cousa. |
cobardia;
... |
[...] dizendo
muitos doestos contra a Rainha. |
materialismo;
... |
De cima nom minguava quem braadar que o Meestre
era vivo, e o Conde Fernandez morto; mas isto nom queria nenhum creer, dizendo:
// — Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.
[...] |
ceticismo;
... |
[O mestre mostra-se] // E tanta era a torvaçam
deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre eram que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele;
porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam
uüs contra os outros: //— Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que
nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos, ainda lhe há de viinr algum mal per ela. [...] O aleivosa! já nos
matou um senhor, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d'acabar por estas cousas que faz! |
lhaneza;
... |
— O, senhor! como vos quiserom
matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom
sejaes lá mais. // E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer
vivo. |
subserviência;
candura; ... |
[Então o Mestre] cavalgou com os seus
acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavam dizendo:
// — Que nos mandaes fazer, Senhor? que
querees que façamos? // E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que
lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester. |
TPC
— Em Gaveta de Nuvens vê ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’; se ainda não o fizeste, traz-me
na próxima aula o tepecê com flexão de verbos a partir do teu nome.
#
<< Home