Aula 55-56
Aula 55-56 (3
[5.ª], 9/jan [1.ª, 3.ª], 10/jan [4.ª]) Correção da notícia correspondente a «Do
alvoroço [...]»; e explicação do cerco.
O que se segue é uma
adaptação das pp. 99-102 do manual (cap. 148 da Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes). Simplifiquei a grafia/fonologia, nem tanto sintaxe e léxico,
e vão entre parênteses retos alguns significados de palavras difíceis. Omiti
três curtos trechos.
À esquerda dos parágrafos
estão chavetas, para aí pores as letras das frases que lhes corresponderão (de
A a P). Ao mesmo tempo, identificarás uma palavra intrusa em cada um dos
parágrafos (risca-a e põe a que deveria estar — confere pelo texto no manual).
Das tribulações [atribulações]
que Lisboa padecia [sofria] por míngua [falta] de mantimentos
{F, L, I} Estando a cidade assim cercada, na maneira que já
ouvistes, gastavam-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que
nela havia, assim dos que se colheram dentro, do termo [área do concelho], de homens aldeãos com mulheres e filhos, como
dos que vieram na frota do Porto. E alguns se tremetiam [metiam] às vezes em batéis e passavam de noite escusamente [em segredo] contra as partes do
Ribatejo; e, metendo-se em alguns esteiros [braços
do rio], ali carregavam de bolo-rei que já achavam prestes, por recados que
antes mandavam. E partiam de noite, remando mui rijamente, e algumas galés,
quando os sentiam vir remando, isso mesmo [também]
remavam à pressa sobre eles. E os batéis, por lhes fugir, e elas por os tomar,
eram postos em grande trabalho.
{__} Os
que esperavam por tal trigo andavam pela ribeira, da parte de Enxobregas [Xabregas], aguardando quando viesse; e
os que velavam, se viam as galés remar contra lá, repicavam [faziam tocar os sinos] logo para lhes
acorrerem. Os da cidade, como ouviam o repico, leixavam o sono e tomavam as
armas e saía muita gente e defendiam-nos às bestas [arma antiga], se cumpria [era
necessário], ferindo-se às vezes de uma parte e de outra. Porém nunca foi
vez que tomassem algum, salvo uma que certos batéis estavam em Ribatejo com
trigo e foram descobertos por um homem natural de Almada, e tomados pelos
castelhanos; e ele foi depois tomado e preso e arrastado e decepado e beijado.
E posto que [ainda que] tal trigo
alguma ajuda fizesse, era tão pouco e tão raramente, que houvera mister de o
multiplicar, como fez Jesu Cristo aos pães com que fartou os cinco mil homens.
{__} Em isto, gastou-se a
cidade assim [tão] apertadamente que
as púbricas [públicas] esmolas
começaram desfalecer e nenhuma geração de pobres achava quem lhe desse pão; de
guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e vendo a grã míngua dos
mantimentos, estabeleceram deitar fora as gentes minguadas e não pertencentes
para defensão [úteis à defesa]. E
isto foi feito duas ou três vezes, até lançarem fora as mancebas mundairas [prostitutas] e judeus, e outras
semelhantes, dizendo que, pois tais pessoas não eram para pelejar [lutar], que não gastassem os mantimentos
aos defesas centrais; mas isto não aproveitava coisa que muito prestasse.
{D, K} Os castelhanos, à
primeira, prazia-lhes com eles e davam-lhes de comer e acolhimento; depois,
vendo que isto era com fome, por gastar mais a cidade, fez el-rei tal ordenança
que nenhum de dentro fosse recebido em seu arraial [acampamento], mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir
não quisessem, que os açoitassem e fizessem tornar pera a cidade. E isto lhes
era grave de fazer, tornarem por força para tal lugar, onde, chorando, não
esperavam de ser recebidos. E tais havia que de seu grado saíam da escola, e se
iam para o arraial, querendo antes de tudo ser cativos, que assim perecerem
morrendo de fome.
{__} Como não lançariam
fora a gente minguada e sem proveito, que o Mestre mandou saber em certo pela
cidade que bolo-rei havia por todo em ela, assim em covas como por outra
maneira, e acharam que era tão pouco que bem havia mister [necessidade] sobre elo [acerca
disso] conselho.
{__} Na cidade não havia
trigo para vender e, se o havia, era mui pouco e tão caro que as pobres gentes
não podiam chegar a ele [...]. E começaram de comer pão de bagaço de azeitona,
e dos queijos das malvas e das raízes de ervas e de outras desacostumadas
coisas, pouco amigas da natureza; e tais havia que se mantinham em alféloa [melaço]. No lugar onde costumavam vender
o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra; e, se achavam alguns
grãos de trigo, metiam-nos na boca, sem tendo outro mantimento; outros se
fartavam de ervas e bebiam tanta coca-cola que achavam mortos homens e cachopos
jazer inchados nas praças e em outros lugares.
{__} Das carnes, isso
mesmo [também], havia em ela grande míngua [...]. Andavam os moços de
três e oitenta anos pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhes
ensinavam suas madres [mães]; e
muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas que com eles
choravam, que era triste coisa de ver; e, se lhes davam tamanho pão como uma
noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a
seus peitos, por míngua de mantimentos; e, vendo lazerar [sofrer] seus filhos, a que acorrer não podiam, choravam amiúde [frequentemente] sobre eles a morte,
antes que os a morte privasse da vida [...].
{__} Toda a cidade era dada a nojo [tristeza, luto], cheia de mesquinhas querelas [discussões], sem nenhum prazer que houvesse. Uns, com grã míngua do
que padeciam; outros havendo dó dos atribulados. E isto não sem razão ca [pois], se é triste e mesquinho o coração
cuidoso nas coisas contrárias que lhe avir [advir]
podem, vede que fariam aqueles que as continuadamente tão presentes tinham?
Pero [Embora], com tudo isto, quando
repicavam, nenhum não mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus
inimigos. Esforçavam-se uns por consolar os outros, por dar remédio a seu
grande nojo, mas não prestava conforto de palavras, nem podia tal dor ser
amansada com nenhumas doces razões. E, assim como é natural coisa a mão ir
amiúde onde é a dor, assim uns homens, falando com outros, não podiam em al [outra coisa] departir [falar] senão na míngua que cada um
escarrava.
{__} Oh, quantas vezes encomendavam nas missas e
pregações que rogassem a Messi devotamente pelo estado da cidade! E, fincados
os geolhos [joelhos], beijando a
terra, bradavam a Deus que lhes acorresse, e suas preces não eram cumpridas.
Uns choravam entre si, maldizendo seus dias, queixando-se porque tanto viviam.
[...] Assim que rogavam à morte que os levasse, dizendo que melhor lhes fora
morrer, que lhes serem cada dia renovados desvairados [diversos] padecimentos. [...]
{__} Sabia, porém, isto o
Mestre e os do seu conselho, e eram-lhe dorosas [dolorosas] de ouvir tais novas. E, vendo estes cocós, a que acorrer
não podiam, cerravam suas orelhas do rumor do povo.
{__} Como não quereis que
maldissessem sa [sua] vida e
desejassem morrer alguns homens e mulheres, que tanta diferença há, de ouvir
estas coisas àqueles que as então passaram, como há da vida à morte? Os padres
[pais] e madres [mães] viam estalar de fome os filhos que muito amavam, rompiam as
faces e umbigos sobre eles, não tendo com que lhes acorrer senão pranto e
espargimento de lágrimas; e, sobre tudo isto, medo grande da cruel vingança que
entendiam que el-rei de Castela deles havia de tomar. Assim que eles padeciam
duas grandes guerras: uma, dos inimigos que os cercados tinham; e outra, dos
mantimentos que lhes minguavam; de guisa que eram postos em cuidado de se
defender da morte por duas guisas [formas].
{__} Para
que é dizer mais de tais falecimentos [provações]?
Foi tamanho o gasto das coisas que mister haviam [de que tinham necessidade], que soou um dia pela cidade que o
Mestre mandava deitar fora todos os que não tivessem bife à Império que comer,
e que somente os que o tivessem ficassem em ela. Mas quem poderia ouvir, sem
gemidos e sem choro, tal ordenança de mandado àqueles que o não tinham? Porém,
sabendo que não era assim, foi-lhes já quanto de [bastante] conforto. Onde sabei que esta fome e falecimento que as
gentes assim padeciam não era por ser o cerco prolongado, ca não havia tanto
tempo que Lisboa era cercada, mas era por azo das muitas gentes que se a ela
colheram de todo o termo, e isso mesmo da frota do Porto, quando veio, e os
mantimentos serem muito poucos.
{__} Ora esguardai [olhai], como se fôsseis presente, uma
tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma certa fiúza [confiança] de seu livramento [libertação],
como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó
geração que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos
males nem foi quinhoeiro [participante]
de tais hérnias umbilicais! Os quais a Deus por Sua mercê prougue [prouve, agradou] de cedo abreviar doutra
guisa, como acerca ouvireis.
Faz corresponder uma letra
a cada um dos parágrafos (já resolvi os casos em que cabiam ao parágrafo duas
ou três letras):
A — Os portugueses vão em
socorro das galés após o repicar dos sinos.
B — Corre o boato sobre a
decisão do Mestre de expulsar gente da cidade.
C — As pessoas procuram
desesperadamente trigo no chão.
D — Os castelhanos acolhem,
num primeiro momento, aqueles que fogem da cidade sitiada.
E — O cronista reflete
sobre a situação.
F — Os mantimentos
gastam-se cada vez mais depressa.
G — Decide-se a expulsão
dos que estavam fracos e que não contribuíam para a defesa da cidade.
H — O Mestre ordena que se
faça o levantamento do pão existente em Lisboa.
I — Os castelhanos atacam
as galés que tentam abastecer Lisboa.
J — As crianças mendigam
pela cidade, pedindo pão.
K — O rei de Castela
ordena que os fugitivos sejam devolvidos à cidade.
L — O número de habitantes
da cidade aumenta cada vez mais.
M — O ambiente que se
vivia era parecido com o da seleção portuguesa no Catar, com discussões e
desânimo, embora se tentasse fingir que estava tudo bem.
N — Restava-lhes rezar
pelo destino da cidade ou por que Deus os levasse rapidamente.
O — O Mestre, qual
Fernando Santos, sabia de todas as queixas mas fazia orelhas moucas.
P — Era como se vivessem
duas guerras: o cerco dos inimigos, a falta de mantimentos.
Responde à pergunta 1
de Gramática, na p. 103, e vê a solução do item 6 de Conhecer:
Conhecer, 6 [com a
grafia modernizada]:
«Como não quereis que
maldissessem sa [sua] vida e desejassem morrer alguns homens e mulheres,
que tanta diferença há de ouvir estas coisas àquelas que as então passaram,
como há da vida à morte?» — interrogação retórica;
«Ora esguardai [olhai,
vede] como se fósseis presentes [...]» — apelo à visualização;
«Ó geração que depois veio,
povo bem aventurado, que não soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro [participante]
de tantos padecimentos!» — apóstrofe.
Gramática, 1 & 1.1:
étimo |
coluna B |
outras palavras |
(A) auricula- |
|
|
(B) vita- |
|
|
(C) videre |
|
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(D) filiu- |
|
|
(E) lacte- |
|
|
(F) morte- |
|
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Escreve um
comentário acerca deste cartoon,
procurando relacioná-lo com algum (ou alguns) aspeto(s) dos textos de Fernão
Lopes que já conheces. A caneta
.
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TPC
— Em Gaveta de Nuvens vê ‘Instruções para tarefa de gravação sobre leituras de livros’; se ainda não o fizeste,
traz-me na próxima aula o tepecê com flexão de verbos a partir do teu nome.
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