Aula 39-40
Aula 39-40 (16 [1.ª], 17/nov [3.ª]) Correções do conto feito na penúltima aula
(cfr. Apresentação).
Começa
por ler, nas pp. 34-35, os excertos ensaísticos aí intitulados «Da emoção ao
poema» e «O fingimento artístico», para fixarmos essa «matéria» (o
fingimento poético). Depois, relanceia na p. 33 (sobre o Pessoa ortónimo) o terceiro
parágrafo, que se ocupa da fragmentação
do «eu».
Lê o poema que ponho a seguir, «Apócrifo
pessoano». Trata-se de texto de Poesia
Reunida 1990-2000 (Lisboa, Dom Quixote, 2000), de Fernando Pinto do Amaral:
Apócrifo pessoano
O eu sentir quando penso
e pensar enquanto sinto
origina um labirinto
onde me perco e convenço
de que tudo é indistinto,
de que o mundo se organiza
desorganizadamente
nos recônditos da mente
como uma ideia imprecisa
que quando se pensa, sente
e quando se sente, pensa,
numa confusão total,
num processo irracional
em que se esfuma a diferença
entre o que é ou não real.
Dos meandros disso tudo
nasce apenas um desejo:
distinguir o que não vejo
e é talvez o conteúdo
deste infinito bocejo
a caminho não sei de onde,
à espera não sei de quê.
Quem me ouve? Quem me vê?
A vida não me responde
e afinal ninguém me lê.
O poema de Fernando Pinto do
Amaral é um pastiche de Pessoa (ortónimo). Nessa imitação, mais decisivos até
do que a métrica (redondilha maior) e que o esquema estrófico (quintilhas) —
realmente bastante usuais em Fernando Pessoa ele próprio — são tema e
linguagem. No entanto, há dois ou três versos em que a ironia suplanta a
imitação. Copia-os:
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Antes de ouvirmos os três
quartetos em rima cruzada que constituem «Tudo que faço ou medito», de Fernando Pessoa, tenta copiar o poema —
cujos versos ponho em desordem (à exceção do primeiro) — na sequência devida.
Tudo que faço ou medito
E eu sou um mar de sargaço —
Querendo, quero o infinito.
Fragmentos de um mar de além...
Não o sei e sei-o bem.
Ao olhar para o que faço!
Vontades ou pensamentos?
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Minha alma é lúcida e rica,
Um mar onde boiam lentos
Fica sempre na metade.
Tudo que faço ou medito
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Fernando
Pessoa, Poesias, Lisboa, Ática, 1942
Assinala as afirmações Verdadeiras
e Falsas:
a.
O poema desenvolve as tensões querer/fazer e alma/corpo humanos.
b.
Ao longo da composição, o poeta reconhece a incompletude dos seus atos.
c.
Os sonhos do sujeito poético têm uma natureza ilimitada.
d.
O resultado das suas ações provoca no poeta um sentimento de grande satisfação.
e.
O texto termina com um paradoxo que destaca a complexidade psicológica do eu
lírico.
[itens
cedidos simpaticamente por Expressões 12,
Porto, Porto Editora, 2012]
Como se diz no último
parágrafo da p. 70 do manual, «Tabacaria» é um dos mais importantes
poemas de Álvaro de Campos.
Vamos ouvi-lo em trechos lidos por vários declamadores (de cada um ouviremos
apenas uma parte, de modo a conhecermos o conjunto todo mas por diferentes
cinco leitores, quase todos atores).
A ordem dos declamadores segue, ascendente
e aproximadamente, a sua idade (que o respeitinho é muito bonito; note-se que
já morreram João Villaret, Mário Viegas e Antônio Abujamra). O vencedor será
convidado a assistir ao hastear da bandeira no dia da escola (exceto se já
tiver falecido).
{Não
consigo reproduzir aqui a declamação de João Grosso ouvida em aula: de qualquer
modo, não teve votos em nenhuma das turmas}
Declamador |
Verso ou expressão
destacável
(por expressiva) |
Pontuação |
João Grosso |
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Mário Viegas |
|
|
Sinde Filipe |
|
|
Antônio
Abujamra |
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|
João Villaret |
|
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[versos finais do longo «Tabacaria»:]
[...]
Mas um homem entrou na
Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de
mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo
o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os
pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma
consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei
fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na
algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e
viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o
Dono da Tabacaria sorriu.
Fernando
Pessoa, Poesias de Álvaro de Campos,
Lisboa, Ática, 1944 (imp. 1993)
O poema «Tabacaria» tem muitos elementos
narrativos. Se estivesse em linhas corridas, a toda a largura da página,
passaria facilmente por texto de prosa. Escreve um conto / prosa que prossiga o
final do poema (já entendido como texto de prosa) ou que simplesmente aproveite
o contexto de que nos fomos apercebendo ao longo de «Tabacaria». Sistema de
pessoas (1.ª, 2.ª, 3.ª) e tempos não tem
de ser o mesmo. Haverá título (que não será
«Tabacaria»). A caneta.
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TPC — Já lhes pedi que lessem
os três contos que estão na unidade 2 do manual, os de Maria Judite de Carvalho
— «George» (pp. 150-155) —, Manuel da Fonseca — «Sempre é uma companhia» (pp.
136-142) — e Mário de Carvalho — «Famílias desavindas» (pp. 163-165). Ao longo
desta ou inícios da próxima semana, queria que escrevessem, a computador, um
conto (sugiro, como mínimo, 1000 palavras; mas também não aconselho textos
muito maiores — fixemos talvez as 1500 palavras como máximo).
O
objetivo final é o concurso Correntes d’Escritas, o mais importante em
Portugal para autores jovens (e cujo prémio são interessantes mil euros).
Independentemente do concurso, a tarefa é para ser feita por todos e é um dos
trabalhos maiores deste período (correspondendo a vários tepecês). Ainda haverá
uma correção minha da primeira versão que entreguem na classroom:
imprimirei esse texto e trá-lo-ei com emendas manuscritas; depois, enviar-me-ão
a versão já melhorada de novo via classroom.
Evitem,
por mais leve que seja, qualquer aproveitamento de escritos alheios. Não
esqueçam título. Escrevam o vosso nome (depois, para efeito de concurso, é que
usaremos pseudónimo).
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