Instruções para tarefa sobre livro lido
O objeto final a entregar em
torno do livro lido (a leitura fora pedida no tepecê da aula 25-26, já há um
mês) é um comentário gravado, escrito pelo aluno e lido em voz alta. Este texto
oral (mas de oralidade formal) deverá ter mais
de três minutos e menos de cinco. Deve ser-me enviado logo que possível (e,
desejavelmente, antes da última semana de aulas).
O ficheiro — a enviar por
mail ou a dar-me em pen — deverá ser de sufixo
WMV ou equivalente (MP4, por exemplo). Embora em formato vídeo, será, no
fundo, um registo áudio. O que haverá de visual será uma única imagem fixa, que
incluirá a capa do livro e
aludirá à receção, à leitura, do livro. Se a passagem aos
formatos vídeo puser problemas, creio que saberia eu colar uma digitalização da
capa a um ficheiro áudio; mas era mais interessante que fossem também vocês a
caprichar na imagem fixa que servirá de capa permanente. A simples capa retirada
da net é solução fraca para este efeito.
Repetindo: não será um filme
(embora o ficheiro final seja de filme), mas gravação de som com uma única
imagem fixa. Esta fotografia pode, e
deve, ser inventiva e incluir outros elementos, mas tem de inserir a capa do
livro. Não são aceitáveis imagens não originais (tiradas da net, por
exemplo). Também o texto tem de ser rigorosamente vosso: é absolutamente proibido recorrer a trechos na net e não aconselho pesquisas wikipédicas ou semelhantes. A abordagem
não será bem a de uma apreciação crítica. O estilo será mais pessoal. O foco
estará mais na experiência de leitura havida, embora, é claro, se deva falar
também do livro.
No fim desta secção dou links
para trabalhos de colegas vossos de há três anos (avaliados por mim). E, já a
seguir, ponho exemplo meu, tentado também há três anos. Sejam piedosos na sua avaliação, porém. Quando
o li então, nunca falara para uma câmara de computador, estava a chover
ruidosamente atrás de mim, tinha mordido a língua ou comido uma maçã verdíssima
e, sobretudo, antecipava as críticas minuciosíssimas, e ironicíssimas, de quem
eu sei muito bem.
O próprio texto não está
exemplar. Creio que os vossos tenderão a ser menos memorialísticos, ainda que devam sempre fazer alusão aos contextos que
enquadraram a leitura. No entanto, como não têm tanto passado, não poderão
ser tão evasivos — as minhas apreciações são demasiadas e demasiado genéricas —
e acabarão decerto por se centrar mais
na obra lida.
A avaliação deste trabalho
terá em conta (i) a qualidade do vosso texto escrito (ainda que eu o vá ouvir e
não ler), o que inclui a relação com livro lido, (ii) a qualidade da vossa
leitura em voz alta (por favor, preparar bem, repetir muitas vezes, antes de
gravar), (iii) a adequação da imagem escolhida para fundo único.
Ponho a seguir o texto lido
no clip em cima, mas apenas por curiosidade. No vosso caso, não me devem dar a versão escrita do
comentário-apreciação crítica-experiência de leitura.
...
Primeiro, pensei escrever sobre um dos policiais que lera nos últimos tempos. Há uns meses tive uma fase Rubem Fonseca, em que li o que fui encontrando deste autor brasileiro. Já conhecia alguns dos livros só publicados no Brasil, também os saídos na Campo das Letras, do Porto, mas pus-me a ler os policiais editados agora pela Sextante, já com capas chamativas, talvez demasiado douradas.
Primeiro, pensei escrever sobre um dos policiais que lera nos últimos tempos. Há uns meses tive uma fase Rubem Fonseca, em que li o que fui encontrando deste autor brasileiro. Já conhecia alguns dos livros só publicados no Brasil, também os saídos na Campo das Letras, do Porto, mas pus-me a ler os policiais editados agora pela Sextante, já com capas chamativas, talvez demasiado douradas.
O herói costuma ser
Mandrake, um advogado femeeiro (digo «femeeiro» em vez de «mulherengo», porque
a palavra soa mais ao estilo de Fonseca). Nada convencional, Mandrake conhece,
e pratica, todas as técnicas dos malfeitores (que vai perseguindo mas com quem
vai quase convivendo). Como são textos em português do Brasil, num registo
contemporâneo e hiperrealista, pode parecer que estamos a lidar com uma língua
que já não é nossa.
A última obra que li de
Rubem Fonseca nem foi um policial, mas umas memórias de infância e juventude, José. Só que nenhum destes livros me
convinha, porque os emprestara. Haverá aliás quem se vá ocupar deste escritor
brasileiro, Prémio Camões em 2003, homenageado no último Correntes d’Escrita, o
congresso que inclui o concurso para que os tenho procurado mobilizar.
Portanto, tinha de me
socorrer de outro livro. O romance policial de que logo me lembrei foi O labirinto das azeitonas, de Eduardo
Mendoza, um catalão que também lhes recomendo muito.
A cidade dos prodígios, que estará para Barcelona como Os Maias para Lisboa, é talvez a obra
mais conhecida de Mendoza. Quanto aos seus policiais, são sobretudo uma paródia
do género policial. O protagonista é um louco, temporariamente escapado do
manicómio, que resolve os casos acrescentando-lhes outros crimes pelo meio. De
novo, me faltava ter o livro comigo, pelo que havia que escolher ainda outro
escritor.
De imediato pensei em
Manuel Vázquez Montalbán, por ser também catalão. O herói dos policiais de
Montalbán é Pepe Carvalho, detetive privado e, salvo erro, gastrónomo
requintado. Já recordo mal a série de Carvalho, que li quando teria uns vinte
anos. Lembro-me que por essa altura o Expresso
publicou, em folhetim, o romance Nos
Mares do Sul. Depois é que passei ao resto da obra de Vázquez Montalbán. Em
todo o caso o exemplar de Nos Mares do
Sul também o levara para a escola.
Enfim, faltando-me já
cerca de um minuto e para me confinar a policiais, decido-me a escolher um
Maigret. O Comissário Maigret é a personagem de boa parte dos livros de Georges
Simenon, um escritor belga prolífico. Pelos catorze ou quinze anos li tudo o
que podia encontrar da coleção de Maigret.
Nos anos setenta, uma
série de televisão francesa adaptou muitas desses romances. Já não sei se foi a
televisão que levou a que as minhas leituras de férias passassem a ser os
policiais de Simenon, à razão de um por dia ou pouco mais. Como não havia assim
tantos traduzidos em português — havia os da coleção Vampiro e os de uma
coleção própria da Bertrand —, fui lendo os Maigret também em francês. É
provável que o conhecimento de algum episódio da televisão fosse anterior à
primeira leitura em papel, porque o retrato que me ficou da personagem está
muito influenciado pelo ator (Jean Richard ou coisa que o valha). E, no
entanto, nos livros a personagem do comissário é bem mais interessante.
O Maigret de Simenon é
pacato, vagamente bonacheirão, doméstico, um parisiense comum, uma personagem
mais redonda do que a que ficou na televisão. No filme — ou numa das séries, porque
houve várias —, acentuaram-se-lhe os traços ligados à capacidade de descobrir o
criminoso, tornando-se o comissário mais proficiente, mais racional, mais
formal, do que Simenon quisera que fosse. A personagem ficou plana, previsível.
Na televisão, Maigret é
mais herói, embora de temperamento reservado. Desde o início de cada episódio,
inferimos que já estará a chegar à solução do crime, por ser mais inteligente
do que nós. Ao contrário, nos livros, o comissário é tão cinzento como qualquer
um.
Na verdade, os policiais
de Simenon focam-se em lugares (um bairro de Paris, uma aldeola da Normandia ou
um porto sempre sob nevoeiro). Não encontramos neles grandes artifícios de
intriga nem brilhantes deduções de detetive. O que interessa é a paisagem e o
retrato social.
Pensando bem, para mim,
os policiais de Simenon eram livros de viagem. O que neles atraía eram os
ambientes. Poder fingir que passava por uma das comportas dos canais franceses,
que estava por um dia numa cidade da Alsácia ou que entrava num bistrô de Paris
para petiscar antes do almoço. Era isso que eu queria.
...
...
No entanto, será melhor verem (ouvirem) exemplos de colegas de 2012-2013,
escolhendo os com melhores classificações e olhando os meus comentários: 11.º 1.ª; 11.º 3.ª; 11.º 4.ª; 11.º 6.ª; 11.º 9.ª. (Não
estranhem tratar-se quase sempre de policiais. Há três anos eu pedira sobretudo
livros desse género. Também é útil ver — aqui — uma lista de observações aos
trabalhos de então, que dá ideia de problemas a evitar.)
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