Aula 29-30
Aula 29-30 (28 [3.ª], 29 [4.ª], 31/out [1.ª]) Correção de
comentário sobre «Filósofo Matarruano» e Caeiro.
Lê este excerto de uma
crónica de Miguel Esteves Cardoso:
O arroz-doce quente
Vou fazer 55 anos e só
esta semana provei arroz doce quente, acabado de fazer. Avisaram-me que fazia
virar a tripa, mas que valia a pena. E fez, mas valeu.
Faltam-me a marmelada
quente e os doces de ginja e tomate recém-fervidos e arrefecidos só o bastante
para não arrancar o céu da boca. [...]
Adiar prazeres é uma boa
estratégia. Convém que sejam prazeres que não requeiram energia física. Tenho
autores guardados, como Joseph Roth. Ou cidades, como Barcelona. De resto, fui
ganancioso e esbanjei, na estupidez e cobardia do
carpe diem, o pouco conhecimento que
tinha na imensidão das coisas que conheci. Antes de aprender a dar-lhes valor,
à parte serem diferentes umas das outras. Só se vai uma vez a Paris pela
primeira vez. Desperdicei-a aos treze anos. A pressa é uma paixão destrutiva.
[...]
Fiz bem com o arroz-doce
quente. As alegrias também se poupam e adiam. Devem guardar-se. Faz mal quem se
antecipa tanto que lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer.
Antes de ser tarde.
Miguel Esteves Cardoso, «O
arroz-doce quente», Público, 18 de
julho de 2010 [transcrito de Expressões.
12.º ano, Porto, Porto Editora, 2012, de que adapto também duas perguntas]
Explica por que motivo
considera o cronista que «[a]diar prazeres é uma boa estratégia».
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Ouçamos agora duas
declamações, ambas por Sinde Filipe, do poema de Ricardo Reis cujo
primeiro verso é «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio» (p. 68). [Em
aula, ouvimos a de Luís Lima Barreto, talvez até melhor do que estas:]
A opção pelo adiamento de prazeres
defendida no poema de Reis prende-se com os mesmas razões que moviam o cronista
de «O arroz-doce quente»?
Enquanto em «O arroz-doce quente» se defende . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . . . . . . ., no poema de Ricardo Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Em vez de resolveres os quadros do item 1
da p. 69, que considero complicativos, completa a tabela seguinte, indicando as
estrofes que correspondem aos três momentos:
1.ª parte |
estrofes ___ e ___ |
Desejo de usufruir o momento. |
2.ª parte |
estrofes ___ a ___ |
Renúncia voluntária ao prazer e ao
arrebatamento. |
3.ª parte |
estrofes ___ e ___ |
Justificação da renúncia. |
Como o manual propõe em 1.1, também seria
possível dividir o poema em quatro partes, cujo assunto se resumiria nas
etiquetas a seguir (que não estão por ordem). Põe a seu lado as estrofes que
lhes correspondem:
A consciência e antecipação da morte. |
estrofes ___ e ___ |
A inutilidade dos compromissos. |
estrofes ___ e ___ |
A efemeridade da vida. |
estrofes ___ e ___ |
A busca da tranquilidade. |
estrofes ___ e ___ |
Circundando-a, seleciona
nos pares a negro a palavra pertinente:
No início do poema, o
sujeito lírico, situado num espaço bucólico/urbano, apela, através da perífrase/apóstrofe presente no primeiro verso, à presença de Lídia,
a quem exorta/desencoraja a observar o rio e a sua
corrente como antíteses/metáforas da vida e da sua
transitoriedade. A constatação da brevidade da vida é aceite de modo sereno/perturbado e conduz ao desejo de fruir os momentos e assumir
compromissos, mesmo físicos/psicológicos, como a hipótese (marcada
pelo recurso aos parênteses) de enlaçar as mãos.
Completa esta síntese
sobre as influências clássicas na ode de Ricardo Reis:
O poema é vincadamente
neoclássico, de influência horaciana, e esse cariz manifesta-se sobretudo nas
características a seguir enunciadas:
papel do Destino (Fado) — é o destino que rege o curso do tempo
que o rio simboliza e no termo do qual está a ________;
referências mitológicas — deuses,
«barqueiro sombrio»
que recebe o ______ (Caronte);
presença do epicurismo-estoico — se a vida passa e não
se pode evitar a morte, é preciso, por um lado, aproveitar o _________
(epicurismo), e, por outro, vivê-lo com serena e altiva aceitação do destino (_________);
recurso à ode, na tradição de ___________ (até o nome «Lídia»
foi buscado nas Odes do poeta romano). [NB — «ode», quando se trata de Ricardo
Reis, não tem o sentido que lhe era dado a propósito do Álvaro de Campos
futurista-sensacionista]
O protagonista da curta-metragem
Destiny, de Fabien Weibel,
não tem a mesma perspetiva do eu de «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do
rio» (e que encontraremos sempre nos poemas de Ricardo Reis) quanto a destino, morte, modo de encarar a
vida. Mas o final do pequeno filme parece fazer a apologia do que defende Reis
(e os epicuristas e estoicos em que este se inspirava).
Comprova o que acabo de
dizer em cerca de cem palavras, escritas a caneta (e riscando, quando for
necessário), sem trapalhices de sintaxe e de ortografia.
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[A
curta-metragem centra-se nas rotinas matinais de um protagonista extremamente
rigoroso nos hábitos (de tal modo que não parece «aproveitar o dia»). Tendo
prefigurado o seu atropelamento, revive sucessivamente a mesma manhã, procurando
evitar a repetição dos acontecimentos que conduziriam à sua morte.
Esta
reação do personagem, tentando esforçadamente impedir um desenlace fatal,
contrasta com a atitude de aceitação do destino expressa no poema de Ricardo
Reis.
Já depois da ficha técnica, vemos que se dá razão ao epicurismo-estoicismo à Reis, uma vez que um relâmpago vem cumprir o que o destino já decidira.]
Não
creias, Lídia, que nenhum estio
Por
nós perdido possa regressar
Oferecendo
a flor
Que
adiámos colher.
Cada
dia te é dado uma só vez
E
no redondo círculo da noite
Não
existe piedade
Para
aquele que hesita.
Mais
tarde será tarde e já é tarde.
O
tempo apaga tudo menos esse
Longo
indelével rasto
Que
o não-vivido deixa.
Não
creias na demora em que te medes.
Jamais
se detém Kronos cujo passo
Vai
sempre mais à frente
Do
que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
Dual, Lisboa, Moraes
Editores, 1972
Lê «Não creias, Lídia, que
nenhum estio», de Sophia de Mello Breyner Andresen. O
poema tem semelhanças óbvias com odes de Ricardo Reis — a que alude até no
título — e, particularmente, com «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio».
Descarta as semelhanças
formais (quartetos com um/dois versos mais curtos; vocativo «Lídia», uso da 1.ª
pessoa do plural) e ocupa-te apenas com o contraste em termos de ideologia.
Além do que já escrevi, bastarão umas cinquenta-sessenta palavras.
Embora ambos os textos
reconheçam a fugacidade da vida, o poema de Sophia, ao contrário do de Ricardo
Reis, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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[Embora ambos os textos
reconheçam a fugacidade da vida, o poema de Sophia, ao contrário do de Ricardo
Reis, parece sugerir que não se deve deixar de passar pelas experiências que se
nos apresentem («não existe piedade para aquele que hesita»), alertando-se-nos
para o facto de o «não vivido» deixar «indelével rasto». Quase se aprova uma
certa urgência da fruição («mais tarde será tarde»), o que contraria a atitude
defendida nos poemas de Reis.]
TPC — Lê as pp. 74-75 do
manual, com a análise do poema de Reis «Prefiro rosas, meu amor, à pátria» e um
texto expositivo (sobre classicismo e Ricardo Reis).
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