Aula 16-17
Aula
16-17 (12 [1.ª], 13/out
[3.ª]) Correção de poema sobre «Quedas de água». Explicação sobre Valores
aspetuais (cfr. Apresentação).
Verifica quais são os valores
aspetuais mais nítidos em cada frase de «E tudo o convento levou»
(série Lopes da Silva), preenchendo a segunda coluna com uma destas palavras: genérico, imperfetivo, perfetivo, habitual, iterativo. Na coluna da direita, identifica o responsável por esse
matiz aspetual: o verbo auxiliar (AUX);
o significado do verbo principal (V);
o tempo em que o verbo está usado (T);
alguma expressão temporal presente na frase.
Frase |
Aspeto |
Através de... |
A
competição é inevitável |
genérico |
|
As carmelitas descalças estão a comercializar doçaria
conventual |
|
Aux
(«estar a») |
As freiras vicentinas andam a vender rendas de bilro |
|
|
As
carmelitas sabem perfeitamente que os doces conventuais são o nosso negócio |
situação estativa |
|
Deus
é grande [mas parece ser pequeno
para o amor destas religiosas] |
|
V
(«ser») |
Tudo
estava bem [até que as carmelitas
quiseram mais] |
imperfetivo |
|
Lá
vem ela |
|
T
(presente) |
Nós
sempre dominámos o mundo dos bordados |
imperfetivo |
|
Às
vezes, dá-me vontade de rir |
|
«às
vezes», T (presente) |
Já
recordei todos os trocadilhos com freiras |
|
T
(perfeito), «já» |
O
Maior costuma observar o vosso Bingo |
|
Aux («costumar») |
O
Maior vê sempre os vossos cartões |
habitual |
|
Quem
ama o Senhor são as vicentinas |
situação estativa |
|
As
carmelitas têm ido a Santiago todos os meses |
iterativo |
|
As
vicentinas tropeçaram nas escadas |
|
T
(perfeito) |
Nestes dois passos a
seguir, mais do que o aspeto interessam os valores temporais: anterioridade, simultaneidade, posterioridade.
Frase |
Localização
temporal |
Através de... |
Vai dizer à tua abadessa [que quem
ama o Senhor são as vicentinas] |
posterioridade |
|
Na
procissão de maio vamos rezar menos uma novena por elas |
|
«Na procissão de maio», Aux («ir») |
«Lisbon Revisited (1923)» — na p. 68 do manual — foi publicado, na
revista Contemporânea, em 1923. Três
anos mais tarde, no mesmo periódico e também assinado por Álvaro de Campos, saiu
o poema em baixo, com título idêntico mas datado, entre parênteses, de 1926.
Compara o tom e o tema dos dois
textos. Inclui pelo menos uma citação de cada um dos poemas. (Aproveita para
procurar explicar também o uso do inglês no título.)
Lisbon Revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo
indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e
necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu
poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o
número de porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem
sonhados.
Até a vida só desejada me farta — até essa vida…
Compreendo a intervalos
desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha
angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me
náufrago;
Ou que palmares de
literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra cousa, nem cousa
nenhuma…
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que
sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas
falsas),
Nas estradas e atalhos das
florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter
sido,
As minhas coortes por
existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida…
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui
voltei,
E aqui tornei a voltar, e a
voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um
fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de
mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver…
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de
sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me
revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia
idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de
mim —
Um bocado de ti e de mim!…
Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa, Poesia dos Outros Eus, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio
& Alvim, 2007)
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Indica
a função sintática do que esteja sublinhado:
Velha infância
(Tribalistas)
Você é assim,
Um sonho p’ra mim,
E, quando eu não te vejo, __________
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você __________
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança,
A gente brinca _________
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão,
Seus pés me abrem o caminho, ________
Eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim, _______
Um sonho p’ra mim,
Quero te encher de beijos.
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo, ________
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta, _________
A gente dança,
A gente não se cansa
De ser criança.
A gente brinca
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão, ________
Seus pés me abrem o caminho,
Eu sigo e nunca me sinto só. ________
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim, ________
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim.
TPC
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