Aula 26-27
Aula 26-27
(26 [1.ª], 27/out [3.ª]) Lê este excerto de uma crónica de Miguel Esteves Cardoso:
Vou fazer 55 anos e só esta semana provei
arroz doce quente, acabado de fazer. Avisaram-me que fazia virar a tripa, mas que
valia a pena. E fez, mas valeu.
Faltam-me a marmelada quente e os doces de
ginja e tomate recém-fervidos e arrefecidos só o bastante para não arrancar o
céu da boca. [...]
Adiar prazeres é uma boa estratégia. Convém
que sejam prazeres que não requeiram energia física. Tenho autores guardados,
como Joseph Roth. Ou cidades, como Barcelona. De resto, fui ganancioso e
esbanjei, na estupidez e cobardia do carpe diem, o
pouco conhecimento que tinha na imensidão das coisas que conheci. Antes de
aprender a dar-lhes valor, à parte serem diferentes umas das outras. Só se vai
uma vez a Paris pela primeira vez. Desperdicei-a aos treze anos. A pressa é uma
paixão destrutiva. [...]
Fiz bem com o arroz-doce quente. As alegrias
também se poupam e adiam. Devem guardar-se. Faz mal quem se antecipa tanto que
lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer. Antes de ser
tarde.
Miguel Esteves Cardoso, «O
arroz-doce quente», Público, 18 de julho
de 2010 [transcrito de Expressões. 12.º
ano, Porto, Porto Editora, 2012, de que adapto também duas perguntas]
Explica por que motivo considera o cronista
que «[a]diar prazeres é uma boa estratégia».
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Ouçamos agora uma boa declamação, de Sinde
Filipe, do poema de Ricardo Reis cujo primeiro verso é
«Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio» (p. 75).
A
opção pelo adiamento de prazeres defendida no poema de Reis prende-se com os
mesmas razões que moviam o cronista de «O arroz-doce quente»?
Enquanto
em «O arroz-doce quente» se defende . .
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , no poema de Ricardo Reis
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Para
resolveres a pergunta 1 do manual (p. 75), completa o que já vai muito resolvido,
indicando as estrofes que correspondem aos três momentos:
1.ª parte |
estrofes ___ e ___ |
Desejo epicurista de
usufruir o momento. |
2.ª parte |
estrofes ___ a ___ |
Renúncia voluntária ao prazer
e ao arrebatamento. |
3.ª parte |
estrofes ___ e ___ |
Justificação da renúncia. |
Também
seria possível dividir o poema em quatro partes, cujo assunto se resumiria nas
etiquetas a seguir (que não estão por ordem). Põe a seu lado as estrofes que lhes
correspondem:
A ausência de perturbação
face à morte. |
estrofes ___ e ___ |
A inutilidade dos
compromissos. |
estrofes ___ e ___ |
A efemeridade da vida. |
estrofes ___ e ___ |
A busca da tranquilidade. |
estrofes ___ e ___ |
Circundando-a, seleciona nos
pares a negro a palavra pertinente:
No início do poema, o
sujeito lírico, situado num espaço bucólico/urbano, apela, através da perífrase/apóstrofe presente no primeiro
verso, à presença de Lídia, a quem exorta/desencoraja a observar o rio e a sua corrente como antíteses/metáforas da vida e da sua transitoriedade.
A constatação da brevidade da vida é aceite de modo sereno/perturbado e conduz ao desejo de
fruir os momentos e assumir compromissos, mesmo físicos/psicológicos, como a hipótese (marcada pelo
recurso aos parênteses) de enlaçar as mãos.
Resolvendo agora o ponto 3 (já na p. 76),
completa esta resposta:
O poema é vincadamente neoclássico, de
influência horaciana, e esse cariz manifesta-se sobretudo nas características a
seguir enunciadas: papel do Destino
(Fado) — é o destino que rege o curso do tempo que o rio simboliza e no termo
do qual está a ________; referências
mitológicas — deuses, «barqueiro sombrio» que recebe o ________ (Caronte); presença do epicurismo-estoico — se a
vida passa e não se pode evitar a morte, é preciso, por um lado, aproveitar o
________ (epicurismo), e, por outro, vivê-lo com serena e altiva aceitação do
destino (_______); recurso à ode, na
tradição de _______ (até o nome «Lídia» foi buscado nas Odes
do poeta romano).
Lê o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
na p. 76. Tem algumas semelhanças óbvias com odes de Ricardo Reis — a que alude até no título — e, particularmente, com
«Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio» (p. 75).
Descartando as semelhanças formais
(quartetos com um/dois versos mais curtos; vocativo «Lídia», uso da 1.ª pessoa
do plural), ocupa-te apenas com o contraste em termos de ideologia.
Embora ambos os textos reconheçam a fugacidade
da vida, o poema de Sophia, ao contrário do de Ricardo Reis, . . . . . . . . .
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Se houver tempo, completa a análise do
poema de Ricardo
Reis na p. 73, preenchendo as lacunas com as seguintes palavras:
compromisso — egoisticamente — paralelismos
— natural — quietismo — desvalorizar — apóstrofe — sofrimento — renovação —
interrogação — indiferença — distante — vida — confidente — classicizante —
flores — epicurista — imperturbável — preocupações — fluir
O poeta revela-se inclinado
à ________, ao apagamento, ao ________, à ausência de _________ com
o que quer que seja, à rejeição do não _________. Ele exercita-se na arte de
ser «aquele a quem já nada importa».
«As outras coisas que os humanos / Acrescentam à vida» (vv. 13-14) opõem-se aqui
ao que é natural, representado pelas ________ de gosto clássico — as rosas (que
o poeta prefere — v. 1) e as magnólias (que o poeta ama — v. 2) —, pelo passar
da ________ sem deixar marcas nem comprometer (notar os ________ de construção
ao gosto clássico — «Logo que a vida» / «Que a vida»
/ «Logo que»,
vv. 4 a 6), pelo raiar da aurora (v. 9), pelo aparecer das flores, cada ano,
com a primavera (símbolo da _________ — vv. 10-11) e pelo seu desaparecer com o
outono (símbolo da negatividade e do _________ do tempo — v. 12).
Essas outras coisas não naturais nada «aumentam na alma» do poeta (notar a _________ retórica do v. 15) em
termos positivos. Elas são o sentido de pátria (notar o grafismo em minúscula
para __________ a importância da «pátria» — v. 1 —, com tudo o que «pátria» significa a nível coletivo e individual), a busca da glória e
da virtude (v. 3 — que não deixam de ser mais preocupações), a ambição do poder
e do fazer prevalecer _________ os próprios caprichos («Que um perca e outro vença» — v. 8).
Tudo isto, que só traz ao
poeta «o desejo de indif’rença» (v. 16 — notar a grafia
_________ do termo) «e a confiança mole / Na hora fugitiva» (vv. 17-18), nada lhe
acrescenta. Ele só deseja manter-se sereno e _________, esperando que a passagem
do tempo (a «hora fugitiva») se processe sem ________ («mole» — v. 17).
O destinatário do poema — o «meu amor» (v. 1) — assume aqui o papel de _________, e exprime a ideia de
solidão e intimismo. O poeta dirige-se-lhe (notar a __________ do v. 1, encontrando-se
o vocativo intercalado na frase, ao gosto clássico).
Apesar de referir esse
interlocutor, Reis mostra aqui aspirar a um ideal contemplativo (marca ________)
e ser nada inclinado à comunicação direta autêntica. Ele dirige-se ao seu amor mas
não institui com ele quaisquer laços, antes se mostra ________. O que ele
pretende instituir é uma filosofia de vida que lhe permita atravessar a
existência sem ________.
Lino Moreira da Silva, Do Texto à
Leitura (Metodologia da Abordagem Textual) Com a Aplicação à Obra de Fernando
Pessoa, Porto, Porto Editora, 1989 (adaptado)
[Tarefa retirada do manual Expressões. 12.º ano, Porto, Porto
Editora, 2012]
TPC — Lê as páginas informativas sobre ‘conto’ (pp. 129-131). A ideia
é irmos entrando na técnica de redação de contos, para, mais tarde, escreverem
contos suscetíveis de serem enviados ao Concurso literário Correntes d’escritas.
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