Aula 83-84
Aula 83-84 (17 [1.ª], 18 [3.ª, 2.ª, 5.ª], 19/mar [4.ª]) Sobre
trabalhos devolvidos (cfr. Apresentação).
Critérios para distinguir funções sintáticas
funções ao nível da frase
O
sujeito concorda com o
verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito, isso
refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:
Caiu
a cadeira. → Caíram
as cadeiras
(Para se confirmar que «a cadeira» não
é aqui o complemento direto: → *Caiu-a.)
O predicado pode ser
identificado se se acrescentar «e» + grupo
nominal + «também» (ou «também não») à oração:
O Egas partiu para o
Dubai. → O Egas partiu para o
Dubai e o Ivo também (também
partiu para o Dubai).
O vocativo distingue-se
do sujeito porque fica isolado por vírgulas e não é com ele que o verbo
concorda. Antepor-lhe um «ó» pode confirmar que se trata de vocativo.
Tu, Teresa, não
percebes nada disto! → Tu, ó Teresa, não
percebes nada disto!
Para distinguir o modificador
de frase do modificador do grupo verbal, pode ver-se que as
construções que ponho à direita (a interrogar ou a negar) são possíveis com o
modificador do grupo verbal mas não com o advérbio que incide sobre toda a
frase.
Evidentemente, o povo tem razão. → *É evidentemente que o povo tem razão?
Talvez Portugal ganhe. → *Não talvez Portugal ganhe.
Com um modificador de grupo verbal o resultado
seria gramatical:
Ele come alarvemente.
→ É alarvemente que ele come?
funções internas ao grupo verbal
O complemento direto é
substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):
Dei mil doces ao
diabético. → Dei-os ao
diabético.
O complemento indireto,
introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:
Ofereci uma sopa de
nabiças ao arrumador. →
Ofereci-lhe uma sopa de nabiças.
O complemento oblíquo, e
mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar),
nunca é substituível por «lhe»:
Assistiu ao jogo contra
as Ilhas Faroé. → *Assistiu-lhe.
Para identificarmos um modificador
do grupo verbal, podemos fazer a pergunta «O que fez [sujeito] +
[modificador]?» e tudo soará gramatical:
Marcelo fez um discurso na
segunda-feira.
Que fez
Marcelo na segunda-feira? Fez um discurso.
Se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado já
será agramatical:
Dona
Dolores foi à Madeira.
*Que fez Dona Dolores à
Madeira? Foi.
O complemento agente da passiva
começa com a preposição «por», precedida por verbo na passiva, e podemos
adotá-lo como sujeito da mesma frase na voz ativa:
A casa foi comprada por
Monica Bellucci. → Monica Bellucci
comprou a casa.
As joias de Kim foram
roubadas pelos ladrões. → Os ladrões
roubaram as joias de Kim.
O predicativo do sujeito
é uma função sintática associada a verbos copulativos (como «ser», «estar»,
«parecer», «ficar», «permanecer», «continuar», mas também «tornar-se»,
«revelar-se», «manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito ou
localiza-o no tempo ou no espaço.
Os taxistas andam revoltados.
A Violeta está em casa.
O predicativo do complemento direto é uma função sintática associada a
verbos transitivos-predicativos (como «achar», «considerar», «eleger»,
«nomear», «designar» e poucos mais), os que selecionam um complemento direto e,
ao mesmo tempo, lhe atribuem uma qualidade/característica.
A ONU elegeu Guterres secretário-geral.
(Para confirmar que «Guterres» é o complemento direto e «secretário-geral», o
predicativo do complemento direto: → A ONU elegeu-o secretário-geral.)
Eles deixaram a porta aberta.
(→ Eles deixaram-na aberta.)
Cfr.,
porém, «Comprei o bolo podre», que pode ter duas interpretações: uma em que
todo o segmento «o bolo podre» é o complemento direto (‘Comprei-o’); e outra em
que «o bolo» é o complemento direto e «podre» é o predicativo do complemento
direto (‘Comprei-o podre’).
funções internas ao grupo nominal
O complemento do nome,
quando tem a forma de grupo preposicional, é selecionado pelo nome (ou seja, é
obrigatório, mesmo se, em alguns casos, possa ficar apenas implícito). Os nomes
que selecionam complemento são muitas vezes derivados de verbos.
A absolvição do réu
desagradou-me. (Seria aceitável «A absolvição desagradou-me» num contexto em
que a referência ao absolvido ficasse implícita.)
A necessidade de
estudar gramática é uma balela. (*A necessidade é uma balela.)
Quando tem a forma de
grupo adjetival, o complemento do nome
constitui uma unidade com o nome, ficando tão intimamente ligado a ele, que, na
sua ausência, aquele parece ter já outro sentido. (Reconheça-se que estes casos
não são fáceis de distinguir de certos modificadores restritivos do nome.)
A previsão meteorológica
falhou.
Os conhecimentos informáticos
são úteis.
O modificador restritivo do nome
restringe a realidade que refere, mas não é selecionado pelo nome (não é
«obrigatório»).
Comprei o casaco azul.
Cão que ladra não
morde.
O modificador apositivo do nome,
sempre isolado por vírgulas, travessões ou parênteses, não restringe a
realidade a que se refere nem é selecionado pelo nome (a sua falta não
prejudicaria o sentido da frase).
O filme de que te falei, Cinema Paraíso, já foi objeto de
paródias.
O Renato Alexandre, que
é amigo do seu amigo, conhece o Busto.
função interna ao grupo adjetival
O complemento do adjetivo
é selecionado por um adjetivo (embora seja, frequentemente, opcional).
Ela ficou radiante com
os presentes. (Ela ficou radiante.)
Isso é passível de pena
máxima. (*Isso é passível.)
Os itens seguintes — sobre
funções
sintáticas — são retirados da Nova
Gramática didática de português (Carnaxide,
Santillana, 2011), com quase nenhumas adaptações:
Seleciona, em cada
conjunto de frases apresentadas nas alíneas abaixo, aquela cujo constituinte
destacado não desempenha a função sintática indicada.
Complemento direto
A Marlene vendeu o barco na semana passada.
Os velejadores perderam a regata.
O nadador-salvador atirou a boia ao náufrago.
As focas comem peixe.
Complemento
oblíquo
Não te aconselho a fugir.
Ele bateu ao
irmão.
Gosto de
passear.
Duvido disso.
Complemento
agente da passiva
O Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral.
O Porfírio anseia pelo teu regresso.
O barco foi desviado da rota pelo vento.
Os papéis foram organizados pela secretária.
Predicativo
do complemento direto
A Luana continua na mesma empresa.
Os padrinhos estimavam-no como filho.
O juiz considerou-o inocente.
Os vizinhos tinham-no por caloteiro.
Os itens
seguintes — sobre funções sintáticas — retirei-os de Desafios. Português. 11.º ano. Caderno de
Atividades (de Alexandre Dias Pinto, Carlota Miranda, Patrícia Nunes;
Carnaxide, Santillana, 2011), alterando apenas alguns nomes próprios.
Identifica a função
sintática desempenhada pelo constituinte destacado nas frases:
a) O Adão e a Eva chegaram agora.
b) O filme era muito emocionante.
c) Ofereceram-me
um livro muito interessante.
d) O juiz declarou-o culpado.
e) O texto foi entregue pela minha aluna.
f) A venda das camisolas foi um sucesso.
g) O Marciano, que é um excelente dançarino, venceu o concurso.
h) Prometemos que regressaríamos daí a dois
anos.
i) É fantástico que venhas connosco.
Indica a função
sintática das expressões sublinhadas, em frases do episódio «Débora vs.
Luciana», de Último a sair. Só tens de preencher a coluna da direita (a
do meio serve apenas para lembrar elementos úteis ao teu raciocínio).
Frase (em geral de Último a
sair) |
A ter em atenção |
Função sintática |
Ó pessoal,
podem vir até aqui? |
|
|
Ó pessoal, podem
vir até aqui? |
* que fazem eles
até aqui? |
|
Antes que expluda,
é melhor falarmos entre todos. |
oração adverbial
temporal |
|
Antes que expluda,
é melhor falarmos entre todos. |
|
|
Basicamente,
é isto. |
* É basicamente
que é isto |
|
Vocês acham normal
terem-me nomeado? |
acham normal isso |
|
Vocês acham normal
terem-me nomeado? |
cfr. verbo transitivo-predicativo |
|
terem-me
nomeado |
terem-na /*
terem-lhe |
|
Limpo esta
merda todas as semanas. |
Limpo-a |
|
Limpo esta merda todas
as semanas. |
Que faço todas as semanas? |
|
Limpo a merda que
vocês deixam espalhada na cozinha. |
«que» = ‘a merda’,
‘a qual’ |
|
Trato das plantas. |
e a Luciana também |
|
Estou-te a
perguntar se és tu que vais limpar tudo isto. |
|
|
Vê se te
acalmas. |
se o acalmas / * se lhe acalmas |
|
Deixa o Bruno
em paz. |
|
|
Olha a gaja que
fala com as árvores. |
oração adjetiva relativa restritiva |
|
Olha a gaja que
fala com as árvores. |
|
|
Ai, coitadinha,
que eu sou tão especial. |
cfr. verbo copulativo |
|
Vou mostrar ao
mundo a verdadeira Luciana. |
Vou mostrar-lhe |
|
Olha, filha,
verdadeiro é isto. |
cfr. «verdadeiras são estas» |
|
Pensas que vens
aqui falar assim para as pessoas. |
= isso / substantiva completiva |
|
Sónia, gostas de
partir pratos? |
* Que faz ela de partir pratos? Gosta |
|
Débora e Luciana, que
são ambas tripeiras, discutem. |
|
|
Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão. |
|
|
Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão. |
|
|
— O Roberto uniu-nos
— disseram Débora e Rui. |
|
|
— Os quartos e a casa de banho foram limpos por mim. |
|
|
A Susana também é
capaz de partir de pratos. |
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|
A mãe da
Luciana não a educou assim. |
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|
Débora não fez
sequer uma queixa dos colegas. |
|
|
TPC
— Sobre funções sintáticas podes
consultar ‘Funções sintáticas’, uma reprodução de páginas da Nova
gramática didática de português (Carnaxide, Santillana, 2011). De qualquer
modo, o manual trata bem este assunto nas pp. 372-380. Também deves ler a ficha
do Caderno de atividades (p. 30) que reproduzirei já com correções.
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