Como vai ser o «Projeto de leitura»?
0. As minhas desculpas por ter demorado tanto. Para me ressarcir, segue-se um texto que nunca mais acaba, anárquico e redundante.
1. Para
já, em vez de lhe chamarmos «Projeto de leitura», digamos antes «Leituras de
livros».
2. Não confundamos
estas «Leituras de livros» com a leitura de obras obrigatórias do programa (José
Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis; e ainda os três contos que
estão no manual, de Mário de Carvalho, Judite de Carvalho, Manuel da Fonseca).
No caso do livro de Saramago devem ir tentando encontrá-lo e tê-lo à mão, e nem
me chocava que o fossem já lendo, uma vez que já conhecem a questão dos
heterónimos de Pessoa, em que Saramago se inspirou para criar o seu romance —
mas, por outro lado, estudaremos o livro quase em aula lá mais para a frente. Quanto
aos contos, serão objeto de tepecês e de análise em aula. Prefiro que pensem
agora mais nas leituras fora do programa.
3. Não lhes
pedirei uma apresentação em aula, como às vezes se faz, mas haverá um controlo (provavelmente,
através de pequeno escrito pedido em aula). Esse controlo, que nem terá de ser
igual para todos, não implicará que se decore o livro, apenas que se tenha lido
o livro efetivamente.
4. Devem
ir lendo os livros que escolherem sem estarem à espera do que lhes possa pedir acerca
desses livros.
5.
Gostaria que me pedissem opinião sobre a escolha, que a submetessem à minha aprovação. Nem todos os livros servem
para o que se pretende com «Leituras de livros», embora, note-se, não esteja a
dizer-lhes que não leiam certos livros que não me parecem os mais indicados (em
geral, por serem demasiado comerciais, pensados para uma leitura quase «automática»);
só que, para o nosso efeito, preferia que lessem qualquer obra que eu aprove.
6. Têm de
ser livros lidos em papel e que, a dada altura, se for caso disso, possam
trazer para a aula.
7. Têm de
ser livros em português (mas podem ser livros de autores estrangeiros traduzidos em português).
8. Têm de ser livros a ler a partir de agora (ou já combinados comigo desde o início do
ano letivo). Ou seja, não vale mobilizar para o presente efeito livros já lidos
em outros anos.
9. Evitem-se livros de exposição de alguma matéria disciplinar (livros
de divulgação de filosofia, psicologia, etc.).
10.
Também não convém escolherem livros de poesia. (Livros de teatro também não
serão os ideais, mas, neste caso, não sou tão taxativo.)
11. Podemos tentar desburocratizar a aprovação da obra, ou das obras, a ler. Podem dizerem-me diretamente, presencialmente, e eu irei anotando (num caderno que tenho só para isso).
12. Posso
emprestar livros, mas quero-os mesmo devolvidos depois.
13. Se
não tiverem ideias, perguntem-me, mas com alguma pista sobre o perfil de livro que
lhes interesse.
14.
#
#
Que hão de ler?
Podem optar por
— obra narrativa (não poemas, nem talvez teatro) das listas «oficiais» dos Projetos de leitura (cfr. em baixo);
— livros literários fora dessas listas (cfr. em baixo);
— livros de bons escritores, mesmo que
ainda não pertençam à história da literatura (cfr. em baixo);
— bons policiais (Simenon, Montálban, Mendoza, Rubem Fonseca, Tordo, Viegas, ...);
— bons livros de ficção científica;
— boas biografias (qualidade não tem que
ver com o biografado mas com o autor, é claro);
— boas memórias e autobiografias;
— bons livros de crónicas.
Podem ainda pedir-me sugestão («queria um
livro deste estilo: ...»; «gostei de ler tal; gostava de livro semelhante»;
«queria um livro do autor tal»; «queria um livro com cães»; ...).
Não queria leituras
— de livros demasiado «de supermercado» ou de estação de correio (Pedro Chagas Freitas; Raul Minh’alma, vampirices e todas as adaptações ou guiões de séries de televisão/Netflix; John Grisham, Nicholas Sparks; aquelas narrativas cujos protagonistas têm doenças raras e se apaixonam por alguém que tem outra doença rara e e...);
— ...
#
Além dos livros que constam das listas «oficiais» (em tempos) do Projeto de leitura (lista do 10.º ano; lista do 11.º ano; lista do 12.º ano), podem também considerar outras obras, descartando,
porém, livros do modo lírico e, talvez também, do modo dramático — ou seja, de
poesia e de teatro.
Sugiro, por exemplo, que escrutinem os autores que foram Prémio Nobel de
Literatura (nem tanto José Saramago, que será lido obrigatoriamente).
A lista é enorme (para citar alguns dos mais confiáveis dos laureados nestas
duas últimas décadas, segundo o critério ‘leitura interessante ainda que
implicando inteligência’ ocorrem-me Annie Ernaux, Alice Munro, Patrick Modiano, Ohran Pamuk; ainda não li a recém-premiada Han Kang; o penúltimo, Jon Fosse, sim, embora tema que seja difícil para alguns de vocês).
Quanto ao Prémio Camões
(espécie de Nobel da literatura em português) acaba por incluir os melhores
escritores recentes da literatura portuguesa, brasileira e da restante
lusofonia. Vejam a lista, em que reconhecerão autores que terão lido em
pequenos trechos nos manuais destes anos todos. Destaco, em termos de confiança
de que gostariam da sua leitura, os brasileiros Rubem Fonseca, Dalton Trevisan
— embora de temáticas duras, porventura chocantes para muitos (policial, certo
erotismo) —, João Ubaldo Ribeiro, já mais difícil, ou Jorge Amado, já menos
contemporâneo e muitas vezes demasiado extenso (tem a vantagem de estar em
muitas bibliotecas dos avós). Para citar também algum escritor português fora
das listas escolares, António Lobo Antunes, já um pouco mais difícil (implica
estar sempre a inferir, a colar os indícios que nos são dados um pouco anarquicamente).
Quanto ao Prémio Literário
José Saramago é atribuído a autores mais jovens. Quase todos,
entretanto, se afirmaram. Os premiados Afonso Reis Cabral, Bruno Vieira Amaral,
João Tordo, Ondjaki, #, têm obras muito
capazes de propiciar leitura mobilizadora.
Também podem ponderar os autores que interessem segundo áreas
geográficas. Dou um exemplo. Grandes autores sul-americanos (e nem incluo o
Brasil): Gabriel García Márquez (Colômbia), J. L. Borges (Argentina), Julio
Cortázar (Argentina), Mario Vargas Llosa (Peru); arrisco ainda, mas confesso
que estes nunca os li, Juan Carlos Onetti (Uruguai), Roberto Bolaño (Chile). O mesmo ponto
de partida seria aplicável a grandes autores russos, italianos, espanhóis. Tive aluno há uns anos que se especializou em coleção de autores islandeses.
Livros de literatura relativamente recente, menos clássica
(quase comercial mas sem ser «de supermercado»), inteligente, que vi colegas da
vossa idade lerem com certo entusiasmo: As Cinzas de Angela, de Frank McCourt;
quase todos os livros de Ian McEwan; muitos dos livros de Paul Auster; alguns livros
de Julian Barnes; alguns livros de John Banville; livros de Eduardo Mendoza; Némesis,
de Philip Roth; quase todos os livros de Amos Oz; {a continuar}; ##.
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