Thursday, September 07, 2023

Aula 109-110

Aula 109-110 (15 [3.ª, 1.ª], 16 [4.ª], 20/mai [5.ª]) Correção de questionário de compreensão feito na aula anterior.

Apresentam-se os inícios (1-8) e os finais (A-H) de oito romances de Eça de Queirós. (Dos publicados em vida do autor só não estão Os Maias e A Ilustre Casa de Ramires, que aliás é semipóstumo. Também não incluo, por ter sido escrito em colaboração com Ramalho Ortigão, O Mistério da Estrada de Sintra.)

Põe ao lado dos títulos os que te pareçam ser os respetivos inícios (1 a 8) e finais (A a H):

Romances de Eça de Queirós (segundo a ordem de publicação)

Inícios (1-8)

Finais (A-H)

O Crime do Padre Amaro

 

 

O Primo Basílio

 

 

O Mandarim

 

 

A Relíquia

 

 

A Cidade e as Serras

 

 

A Capital! (começos duma carreira)

 

 

O Conde de Abranhos

 

 

Alves & C.ª

 

 

Inícios

1             A estação de Ovar, no caminho de ferro do Norte, estava muito silenciosa, pelas seis horas, antes da chegada do comboio do Porto.

2            À EX.MA SR.A CONDESSA DE ABRANHOS

               MINHA SENHORA: Tive, durante quinze anos, a honra tão invejada de ser o secretário particular de seu Ex.mo Marido, Alípio Severo Abranhos, Conde de Abranhos, e consumo-me, desde o dia da sua morte, no desejo de glorificar a memória deste varão eminente, orador, publicista, estadista, legislador e filósofo.

3            Nessa manhã, Godofredo da Conceição Alves, encalmado, soprando por ter vindo do Terreiro do Paço quase a correr, abria o batente de baetão verde do seu escritório num entressolo na Rua dos Douradores, quando o relógio de parede por cima da carteira do guarda-livros batia as duas horas, naquele tom, cavo, a que os tetos baixos do entressolo davam uma sonoridade dolente, e cava. Godofredo parou, verificou o seu próprio relógio preso por uma corrente de cabelo sobre o colete branco, e não conteve um gesto de irritação vendo a sua manhã assim perdida, pelas repartições do Ministério da Marinha: e era sempre assim quando o seu negócio de comissões para o Ultramar o levava lá: apesar de ter um primo de sua mulher Diretor-Geral, de escorregar de vez em quando uma placa de cinco tostões na mão dos contínuos, de ter descontado a dois segundos oficiais letras de favor, eram sempre as mesmas dormentes esperas pelo ministro, um folhear eterno de papelada, hesitações, demoras, todo um trabalho irregular, rangente e desconjuntado de velha máquina meio desaparafusada.

4            Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sanguíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da Botica — que o detestava — costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado:

               — Lá vai a jiboia esmoer. Um dia estoura!

5            O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.

               No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando por colina e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei D. Dinis. A sua quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo Douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o Tinhela, por cinco fartas léguas, todo o torrão lhe pagava foro. E cerrados pinheirais seus negrejavam desde Arga até ao mar de Âncora. Mas o palácio onde Jacinto nascera, e onde sempre habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, n.° 202.

6            Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha Quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha Vida — que neste século, tão consumido pelas incertezas da Inteligência e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.

7             Eu chamo-me Teodoro — e fui amanuense do Ministério do Reino.

               Nesse tempo vivia eu à Travessa Conceição n.° 106, na casa de hóspedes da D. Augusta, a esplêndida D. Augusta, viúva do major Marques. Tinha dois companheiros: o Cabrita, empregado na Administração do bairro central, esguio e amarelo como uma tocha de enterro; e o possante, o exuberante tenente Couceiro, grande tocador de viola francesa.

8            Tinham dado onze horas no cuco da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luís Figuier que estivera folheando devagar, estirado na velha voltaire de marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:

               — Tu não te vais vestir, Luísa?

 

Finais

A           Artur, instintivamente, olhou o molho de erva, que a pequena com muito cuidado apertava na dobra da saia, contra o ventrezinho. Já havia naquela erva, pensou, — porque sempre, de Coimbra, conservara ideias panteístas — havia já alguma coisa da doce velha.

               — Para que é a erva, tio Jacinto?

— A erva? Ah, que é muito tenra. Escolhi-a de propósito. Saiba V. S.ª que é para os coelhos — respondeu o tio Jacinto, fechando a grade de ferro do cemitério.

B            E não é sem uma emoção profunda que ali vou cada ano em piedosa romagem, contemplar a alta figura, marmórea, com o seu porte majestoso, o peito coberto das condecorações que lhe valeu o seu merecimento, uma das mãos sustentando o rolo dos seus manuscritos, para indicar o homem de letras, a outra assente sobre o punho do seu espadim de moço fidalgo, para designar o homem de Estado — e os olhos, por trás dos óculos de aros de ouro, erguidos para o firmamento, simbolizando a sua fé em Deus e nos destinos imortais da Pátria!

C            E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta ideia: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste, desde a Grande Muralha da Tartária até às ondas do Mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!

D           E tudo isto perdera! Porquê? Porque houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na Terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao Céu — cria, através da universal ilusão, ciências e religiões.

E            E na verdade me parecia que, por aqueles caminhos, através da natureza campestre e mansa — o meu Príncipe, atrigueirado nas soalheiras e nos ventos da serra, a minha prima Joaninha, tão doce e risonha mãe, os dois primeiros representantes da sua abençoada tribo, e eu — tão longe de amarguradas ilusões e de falsas delicias, trilhando um solo eterno, e de eterna solidez, com a alma contente, e Deus contente de nós, serenamente e seguramente subíamos — para o Castelo da Grã-Ventura!

F            E o homem de Estado, os dois homens de religião, todos três em linha, junto às grades do monumento, gozavam de cabeça alta esta certeza gloriosa da grandeza do seu país, — ali ao pé daquele pedestal, sob o frio olhar de bronze do velho poeta, ereto e nobre, com os seus largos ombros de cavaleiro forte, a epopeia sobre o coração, a espada firme, cercado dos cronistas e dos poetas heroicos da antiga pátria — para sempre passada, memória quase perdida!

G           — E nós que estivemos para nos bater, Machado! A gente em novo sempre é muito imprudente... E por causa duma tolice, amigo Machado!

               E o outro bate-lhe no ombro também, responde sorrindo:

               — Por causa duma grande tolice, Alves amigo!

H           Ao fundo do Aterro voltaram; e o visconde Reinaldo passando os dedos pelas suíças:

               — De modo que estás sem mulher...

               Basílio teve um sorriso resignado. E, depois dum silêncio, dando um forte raspão no chão com a bengala:

               Que ferro! Podia ter trazido a Alphonsine!

               E foram tomar xerez à Taverna Inglesa.

Continuação de _____ || . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Trecho antecedente de _____ || . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Título || _______________________________

Início || . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — Está em curso tarefa sobre A Ilustre Casa de Ramires / Os Maias. Se ainda não o fizeste, consulta as instruções em Gaveta de Nuvens. Independentemente dessa tarefa, a leitura do livro de Eça é imprescindível (e será controlada muito proximamente).

 

 

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