Aula 109-110
Aula 109-110 (15 [3.ª, 1.ª], 16 [4.ª],
20/mai [5.ª]) Correção de questionário de compreensão feito na aula anterior.
Apresentam-se os inícios (1-8) e os finais (A-H)
de oito romances de Eça de Queirós.
(Dos publicados em vida do autor só não estão Os Maias e A Ilustre Casa de Ramires, que aliás é
semipóstumo. Também não incluo, por ter sido escrito
Põe ao lado dos títulos os que te pareçam ser os respetivos
inícios (
Romances de Eça de
Queirós (segundo a ordem de publicação) |
Inícios (1-8) |
Finais (A-H) |
O
Crime do Padre Amaro |
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O
Primo Basílio |
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O
Mandarim |
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A
Relíquia |
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A
Cidade e as Serras |
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A
Capital! (começos duma carreira) |
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O
Conde de Abranhos |
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Alves
& C.ª |
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Inícios
1 A estação de Ovar, no caminho de ferro do Norte, estava
muito silenciosa, pelas seis horas, antes da chegada do comboio do Porto.
2 À EX.MA SR.A
CONDESSA DE ABRANHOS
MINHA SENHORA: — Tive, durante quinze anos, a honra tão invejada de ser o secretário
particular de seu Ex.mo Marido, Alípio Severo Abranhos, Conde de Abranhos, e
consumo-me, desde o dia da sua morte, no desejo de glorificar a memória deste
varão eminente, orador, publicista, estadista, legislador e filósofo.
3 Nessa manhã, Godofredo da Conceição Alves, encalmado,
soprando por ter vindo do Terreiro do Paço quase a correr, abria o batente de
baetão verde do seu escritório num entressolo na Rua dos Douradores, quando o
relógio de parede por cima da carteira do guarda-livros batia as duas horas,
naquele tom, cavo, a que os tetos baixos do entressolo davam uma sonoridade
dolente, e cava. Godofredo parou, verificou o seu próprio relógio preso por uma
corrente de cabelo sobre o colete branco, e não conteve um gesto de irritação
vendo a sua manhã assim perdida, pelas repartições do Ministério da Marinha: e
era sempre assim quando o seu negócio de comissões para o Ultramar o levava lá:
apesar de ter um primo de sua mulher Diretor-Geral, de escorregar de vez em
quando uma placa de cinco tostões na mão dos contínuos, de ter descontado a
dois segundos oficiais letras de favor, eram sempre as mesmas dormentes esperas
pelo ministro, um folhear eterno de papelada, hesitações, demoras, todo um
trabalho irregular, rangente e desconjuntado de velha máquina meio
desaparafusada.
4 Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria que o
pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O
pároco era um homem sanguíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos
comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da
Botica — que o detestava —
costumava dizer, sempre que o via
sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado:
— Lá vai a
jiboia esmoer. Um dia estoura!
5 O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove
contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.
No
Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando por
colina e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os
campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em
tempos de el-rei D. Dinis. A sua quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo
Douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o Tinhela, por cinco fartas léguas,
todo o torrão lhe pagava foro. E cerrados pinheirais seus negrejavam desde Arga
até ao mar de Âncora. Mas o palácio onde Jacinto nascera, e onde sempre
habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, n.° 202.
6 Decidi compor, nos vagares deste
verão, na minha Quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as
memórias da minha Vida — que neste século, tão consumido pelas incertezas da
Inteligência e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e
pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.
7 Eu chamo-me Teodoro — e fui amanuense do Ministério do
Reino.
Nesse
tempo vivia eu à Travessa Conceição n.° 106, na casa de hóspedes da D. Augusta,
a esplêndida D. Augusta, viúva do major Marques. Tinha dois companheiros: o
Cabrita, empregado na Administração do bairro central, esguio e amarelo como
uma tocha de enterro; e o possante, o exuberante tenente Couceiro, grande
tocador de viola francesa.
8 Tinham dado onze horas no cuco da sala de jantar.
Jorge fechou o volume de Luís Figuier que estivera folheando devagar, estirado
na velha voltaire de marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:
— Tu não
te vais vestir, Luísa?
Finais
A Artur, instintivamente, olhou o molho de erva, que a pequena
com muito cuidado apertava na dobra da saia, contra o ventrezinho. Já havia
naquela erva, pensou, — porque sempre, de Coimbra, conservara ideias panteístas
— havia já alguma coisa da doce velha.
— Para que
é a erva, tio Jacinto?
— A erva? Ah, que é muito tenra. Escolhi-a de propósito. Saiba
V. S.ª que é para os coelhos — respondeu o tio Jacinto, fechando a grade de
ferro do cemitério.
B E não é sem uma emoção profunda que ali vou cada ano em
piedosa romagem, contemplar a alta figura, marmórea, com o seu porte majestoso,
o peito coberto das condecorações que lhe valeu o seu merecimento, uma das mãos
sustentando o rolo dos seus manuscritos, para indicar o homem de letras, a
outra assente sobre o punho do seu espadim de moço fidalgo, para designar o
homem de Estado — e os olhos, por trás dos óculos de aros de ouro, erguidos
para o firmamento, simbolizando a sua fé em Deus e nos destinos imortais da
Pátria!
C E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta
ideia: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste, desde a Grande Muralha da
Tartária até às ondas do Mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum
Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e
herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má
argila, meu semelhante e meu irmão!
D E tudo isto perdera! Porquê? Porque houve um momento em
que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na Terra
com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao Céu — cria, através da
universal ilusão, ciências e religiões.
E E na verdade me parecia que, por aqueles caminhos,
através da natureza campestre e mansa — o meu Príncipe, atrigueirado nas
soalheiras e nos ventos da serra, a minha prima Joaninha, tão doce e risonha
mãe, os dois primeiros representantes da sua abençoada tribo, e eu — tão longe
de amarguradas ilusões e de falsas delicias, trilhando um solo eterno, e de
eterna solidez, com a alma contente, e Deus contente de nós, serenamente e
seguramente subíamos — para o Castelo da Grã-Ventura!
F E o homem de Estado, os dois homens de religião, todos
três em linha, junto às grades do monumento, gozavam de cabeça alta esta
certeza gloriosa da grandeza do seu país, — ali ao pé daquele pedestal, sob o
frio olhar de bronze do velho poeta, ereto e nobre, com os seus largos ombros
de cavaleiro forte, a epopeia sobre o coração, a espada firme, cercado dos
cronistas e dos poetas heroicos da antiga pátria — para sempre passada, memória
quase perdida!
G — E nós que estivemos para nos bater, Machado! A gente em
novo sempre é muito imprudente... E por causa duma tolice, amigo Machado!
E o outro
bate-lhe no ombro também, responde sorrindo:
— Por
causa duma grande tolice, Alves amigo!
H Ao fundo do Aterro voltaram; e o visconde Reinaldo
passando os dedos pelas suíças:
— De modo
que estás sem mulher...
Basílio
teve um sorriso resignado. E, depois dum silêncio, dando um forte raspão no
chão com a bengala:
— Que ferro! Podia ter trazido a
Alphonsine!
E foram
tomar xerez à Taverna Inglesa.
Continuação de _____ || . . . . . . . .
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Trecho antecedente de _____ || . . . . . . . .
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Título ||
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Início || . . . . . . . . . . .
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TPC — Está em curso tarefa
sobre A Ilustre Casa de Ramires / Os Maias. Se ainda não o fizeste,
consulta as instruções em Gaveta de Nuvens. Independentemente dessa
tarefa, a leitura do livro de Eça é imprescindível (e será controlada muito
proximamente).
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