Aula 62-63
Aula 62-63 (11 [1.ª], 12/jan [3.ª]) Lê «Fernando
Pessoa: o ciclo das estações» (p. 89), crónica (ou artigo de opinião, como lhe chama o manual) de José Manuel dos
Santos. Completa (segundo o que se lê no texto):
os vários Pessoas |
meteorologia |
característica que
permite a analogia |
________ |
inverno |
«inverno interior»; «gelo invariável da ____»; «vento tão
mortal e tão alto [...]»; «febre ____» |
Ortónimo — Mensagem |
_____ |
«________ no inverno da História» |
Alberto Caeiro |
_____ |
«fatalismo feliz, em que nascemos naturais como as flores»;
«torna a ____, a ____ e a verdade uma e a mesma coisa» |
________ |
verão |
«ardor alucinado, doloroso, sexual, fazendo dos ___ um verão
explodido» |
Ricardo Reis |
_____ |
«numa serena _____, [...] contempla a vida na luz dourada e
triste que antecede o ___» |
Bernardo Soares / LdoD |
_____ |
«todas as estações se perturbam e ______» |
Responde
à pergunta 3, fazendo corresponder
estes onze trechos às sete classificações mais em baixo (que, portanto, podem
estar abonadas mais do que uma vez):
1. «é o silêncio do sol»
(l. 29)
2. «um vento tão mortal e
tão alto que nos assombra como um ritual cumprido sob um céu vazio.» (ll.
10-11)
3. «como em certos dias
dos Açores, todas as estações se perturbam e confundem em Bernardo Soares e no
seu Livro do Desassossego»
(ll. 24-25)
4. «O inverno é o remorso
do verão» (l. 1)
5. «em todas as estações
por onde passa o comboio que nos leva, [...], e em cuja carruagem da frente o
destino joga um jogo fatal com cartas que têm o nosso rosto». (ll. 30-32)
6. «Quando leio Pessoa
ele-mesmo» (l. 8)
7. «tornando desconhecido
o que conheço e inesperado o que espero». (ll. 4-5)
8. «na sua febre fria»
(ll. 13-14)
9. «para olhar o que se
esconde e escutar o que emudece» (ll. 28)
10. «O
frio (...) é nos olhos que cintila.» (ll. 26-27)
11. «numa serena ansiedade
saciada» (ll. 17-18)
aliteração —
_______
comparação —
_______
metáfora —
_______
metonímia —
_______
antítese —
_______
paradoxo —
_______
sinestesia — _______
Lê
«Eu nunca fiz se não sonhar» (pp. 80-82), do Livro
do Desassossego. Como se dizia na crónica de José Manuel dos
Santos, no Livro todas as estações
(isto é, todos os Pessoas) surgem, de certo modo, misturadas, como acontece em
certos dias nos Açores.
Tenta localizar no
texto de Bernardo Soares passos que
pudessem caracterizar o ortónimo ou os heterónimos. Completa:
Ortónimo (sonho/realidade) |
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Ortónimo (dor de pensar) |
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Ortónimo (fingimento poético) |
«Ter de estar aqui escrevendo isto, por me ser preciso à
alma fazê-lo, e mesmo isto, não poder sonhá-lo apenas, exprimi-lo sem
palavras, sem consciência mesmo, por uma construção de mim próprio em música
e esbatimento [...]» |
Ortónimo (fragmentação do eu) |
«alinho na minha imaginação [...] figuras que habitam, e são
constantes e vivas, na minha vida interior. Tenho um mundo de amigos dentro
de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas» // . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Ortónimo (decifração do enigma do
ser) |
«Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida
interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se quando, abrindo a janela
para dentro de mim, pude esquecer-me na visão do seu movimento» |
Álvaro de Campos ou Ortónimo (tédio, nostalgia) |
«Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que
nunca foram! O que eu sinto quando penso no passado que tive no tempo real,
quando choro sobre o cadáver da vida da minha infância ida...» // . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Álvaro de Campos
futurista |
«[...] outros têm uma vida boémia, pitoresca, humilde. Há
outros que são caixeiros-viajantes. (Poder sonhar-me caixeiro-viajante foi
sempre uma das minhas grandes ambições [...])» |
Alberto Caeiro |
«As flores do jardim da pequena casa de campo [...] // As
hortas, os pomares, o pinhal, da quinta [...] // . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . |
Ricardo Reis |
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Finalmente,
ouçamos num depoimento de Cleonice Berardinelli (inserido num bom documentário
da Globo acerca de Fernando Pessoa) como a professora brasileira tipifica cada
um dos heterónimos (ver só os minuto 52 a 54):
Escreve
uma apreciação crítica da publicidade de «A Nossa Aposta». O teu comentário
deve preocupar-se com a análise do cartaz enquanto veículo publicitário, mas,
ao mesmo tempo, revelar conhecimentos pessoanos. Não explicites demasiado um
juízo valorativo. Um texto deste género deixa, em parte, que o leitor infira a
opinião do crítico.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
[Solução minha:]
Trata-se de anúncio comercial, cujo
objetivo é publicitar as apostas de uma dada casa de jogos, a Nossa Aposta
(nossaaposta.pt).
Para efeitos de atrair o leitor, aposta-se
no reconhecimento dos elementos icónicos, três figuras que assumimos serem os
heterónimos de Pessoa — seria mais transparente se fossem quatro retratos, que
conotaríamos de imediato com Fernando Pessoa ele-mesmo, com Campos, Reis e
Caeiro. O que ajuda à identificação das três caras é o vocativo na pergunta
«Fernando, em quem apostas?», que, porém, só descodificamos se for lida em
conjunto com o reconhecimento das três faces. É-nos sugerido sermos nós a
inferir que aquele «Fernando» é Pessoa, o que, na psicologia destas coisas,
funciona como um primeiro reforço ao potencial cliente.
Se a pergunta visa chamar a atenção, a
resposta corresponde ao slogan, «A Nossa Aposta é na Odd Triunfal», que associa
o nome da marca a ‘odd’, situando-a assim no seu contexto de casa de jogos, e a
‘triunfo’, o que transmite uma imagem positiva. Os criadores do anúncio partem
do princípio de que o público que é alvo desta publicidade conhece a «Ode
triunfal», de Álvaro de Campos, o que despertaria simpatia (pelo trocadilho) e
contribuiria para a memorização da frase. Esta assunção, contudo, parece-nos
demasiado otimista: serão assim tantos os que descobrirão no slogan uma alusão
ao poema do heterónimo futurista-sensacionista?
O filme que começaremos a ver hoje — Howl
(Uivo), 2010, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman — trata de um caso
verídico, o julgamento a que foi sujeito Allen Ginsberg por causa do longo
poema Howl (Uivo), de 1956.
Ginsberg integrou a chamada «Beat Generation», que — cinquenta
anos depois de Fernando Pessoa (aliás Álvaro de Campos e Alberto Caeiro) — se
inspirou também em Walt Whitman.
Trechos em Uivo |
Recursos estilísticos |
«a sopa de massinhas do tempo» |
metáfora |
«que provaram as pássaras de um milhão de
catraias» |
hipérbole (e metáfora/perífrase) |
«para verificar se eu tenho uma visão ou se tu
tinhas uma visão ou se ele tinha uma visão para descobrir a Eternidade» |
polissíndeto |
«Denver tem saudades dos seus heróis» |
metonímia |
«o cabelo da alma iluminou-se» |
|
«[Moloch] cujos olhos são mil janelas cegas» |
|
«ficaram apenas com a sua insanidade e as suas
mãos e um júri anulado» |
|
«cujo amor é pedra e petróleo sem fim» |
|
«a quem foi dado um vazio concreto de insulina,
Metrazol, eletricidade, hidroterapia, psicoterapia, terapia ocupacional,
pingue-pongue e amnésia» |
|
«cujas fábricas sonham e morrem no nevoeiro» |
|
Ó legiões magras, corram
lá para fora |
|
Ó
choque misericordioso de estradas ornado, a guerra eterna chegou |
|
Ó vitória, esquece as
tuas ceroulas |
|
Estou contigo em Rockland, onde irás cindir os
céus... / Estou contigo em Rockland, onde os vinte... / Estou contigo em
Rockland, onde achamos e beijamos... / Estou contigo em Rockland, onde
acordamos eletrificados... |
|
A máquina de escrever é sagrada. / O poema é
sagrado. / A voz é sagrada. / As orelhas são sagradas. / O êxtase é sagrado. |
|
vieram lançar bombas angélicas |
|
Walt Whitman, Leaves of Grass
(Folhas de erva), 1897
Álvaro de Campos (primeiros textos em 1914)
Dadaístas (ca. 1916, Tristan Tzara, etc.)
Geração Beat
Allen
Ginsberg, Howl (Uivo), 1956
Jack Kerouac, On the road (Pela estrada fora), 1957
William S.
Burroughs, Naked lunch (Almoço nu),
1959
Carl Salomon
Neal Cassady
TPC — Durante as férias, pus em Gaveta de Nuvens informação sobre duas tarefas (esta e esta) a fazer nos próximos
tempos; no final da aula de hoje haverá chamada para ambos os trabalhos via
Classroom.
#
<< Home