Thursday, September 09, 2021

Aula 19-20

 

Aula 19-20 (14/out [1.ª, 3.ª]) Correção de esboço de ode futurista (cfr. Apresentação).

Pedro Mexia, «Paterson», Expresso. Revista, coluna ‘Fraco Consolo’, [não encontro data, mas de há uns dois anos e pouco], p. 106:

Paterson é condutor de autocarros e poeta. Vive em Paterson, um subúrbio de New Jersey. E tem em casa livros de William Carlos Williams, entre os quais Paterson (1946-58), um poema épico factual demótico, que se quer ao mesmo tempo um “orgulho local; (...) uma confissão; (...) uma réplica ao grego e ao latim sem mais nada; uma multidão; uma comemoração”.

O último filme de Jim Jarmusch, Paterson (2016), é uma investigação sobre o equilíbrio entre a felicidade e a banalidade. Paterson, interpretado por Adam Driver, leva uma vida estável mas espartana. Tem uma namorada giríssima mas um pouco enfadonha, obcecada com determinados padrões, que usa indiscriminadamente em pinturas, vestidos e decorações de bolos. Laura (a iraniana Golshifteh Farahani) é apesar disso a “musa” do namorado, ou não tivesse, como nos lembram escusadamente, nome igual ao da amada de Petrarca. Paterson escreve poemas para ela, “se são para ti, são poemas de amor”, embora admita que não é insensível às outras mulheres.

Os poemas de Paterson, que vamos vendo no ecrã, são despretensiosos, diretos, como os mais despretensiosos e diretos versos de Williams. Poemas minimais, discretos, timidamente inventivos, que são na verdade da autoria de um poeta não-ficcional, amigo de Jarmusch: Ron Padgett. Esses poemas obedecem a uma máxima de Williams, “no ideas but in things”, tese que constituía uma reação à poesia erudita e hermética de Eliot e Pound. O doutor Williams, talvez por ser médico, gostava de coisas concretas, de pessoas concretas, queria toda a invenção ancorada num presente verificável e gostava de fazer coincidir, como escreveu um seu estudioso, “os materiais que suscitam a poesia e a poesia que esses materiais suscitam”. É por isso que no Paterson de Jarmusch as coisas mostradas ou ouvidas, e os versos que sobre elas se escrevem, são trivialmente poéticas: caixas de fósforos, copos de cerveja, conversas sobre pugilistas e engates. Mas quando sugerem a Paterson que a sua cidade é poética, que a sua vida é poética, ele acha que não, que não são nada poéticas.

Como em todos os Jarmusch, ou quase todos, o ambiente de Paterson é depurado e modesto, o clima casto e cool, as pessoas macambúzias mas boas. Mas há uma estranha sensação de que toda a gente vive numa “ilha das almas perdidas”, parafraseando o título de um clássico dos anos 30 que Jarmusch cita. De acordo com as nossas possibilidades, veremos nesta história o copo meio cheio ou meio vazio. O elogio da domesticidade não se distingue das tragicomédias amorosas das personagens secundárias. A empatia humana confunde-se com a uniformidade, de modo que aparecem gémeos em todo o lado. Os indivíduos são em geral decentes, mas há quem avise que é melhor “não tentar mudar as coisas, senão ainda as tornamos piores”. Escrever poesia é fundamental para Paterson, mas ele não faz questão de que alguém leia os seus poemas, e até assistimos a um episódio que lembra ironicamente a desculpa do cábula: “O cão comeu-me o trabalho de casa.”

Cada um escolherá em Paterson os seus momentos significativos. Lembro-me de três. Um é quando o condutor de autocarros encontra uma rapariguinha de 10 anos que escreve poemas tão bons como os dele, o que põe em causa a noção de talento ou a excecionalidade da poesia. O segundo é a evocação de uma das estrelas de Paterson, New Jersey, o comediante Lou Costello, sugerindo talvez que a vida deve ser levada à conta de slapstick. O último é o verso “preferias ser um peixe?”, de uma canção de 1944. Uma canção que nos diz que um peixe não faz coisa alguma com a sua vida, que vai apenas nadando ribeiro abaixo até que, um dia, é pescado. “But then if that sort of life is what you wish / You may grow up to be a fish.”

[Paterson, de William Carlos Williams, tem edição portuguesa na Relógio D’Água, com tradução de Maria de Lourdes Guimarães.]

Vai até à p. 60 do manual, para leres o poema «Datilografia», ainda de Álvaro de Campos (e da face/fase que se tem convencionado dizer intimista-abúlica).

Distribui estas quatro etiquetas descritivas de partes do poema pela tabela a seguir:

situação presente do sujeito poético | regresso à situação presente | reflexão realidade-sonho | nostalgia do passado

estrofe 1 (vv. 1-3)

 

situação presente do sujeito poético

estrofe 2 (vv. 4-5)

estrofe 3 (vv. 6-8)

estrofe 4 (vv. 9-13)

 

estrofe 5 (v. 14)

estrofe 6 (vv. 15-16)

 

estrofe 7 (vv. 17-22)

 

estrofe 8, vv. 23-29

estrofe 8, v. 30

 

estrofe 9 (vv. 31-33)

 

Repara nos vv. 4-5, 15-16 e no verso 33 (que contém uma variante ao segundo verso dos dísticos referidos).

Podemos considerar que as estrofes iguais constituídas pelos vv. 4-5 e 15-16 representam a monotonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ainda assim, o eu lírico consegue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No entanto, no final do poema, o verso 33 assinala que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Lê na p. 62 um excerto do longo «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra», sempre de Álvaro de Campos, poema que já ouvimos logo na primeira aula do ano. Completa o quadro que já comecei a preencher e que é referido no item 7.

 

Processos de localização temporal

Expressões do poema

Flexão verbal — presente

— passado

— futuro

 

«não ter ficado em Lisboa»

 

Verbo auxiliar temporal

 

Advérbio

 

Oração temporal

 

Relações cronológicas — de simultaneidade

— de anterioridade

— posterioridade

«sozinho guio»; «me parece»; «ou me forço»

«Que sigo sem haver Lisboa deixada»

«ou Sintra a que ir ter»

«Teste de bazófia» (série Barbosa) — que vimos o ano passado mas para outros efeitos — serve-nos agora para fixarmos os valores aspetuais (perfetivo, imperfetivo; habitual; genérico; iterativo), temporais (anterioridade, simultaneidade, posterioridade) e modais (modalidades deôntica, epistémica, apreciativa). Preenche as lacunas:



Quanto ao temperamento criticável que está em foco no sketch, já teremos dito que lembra o de um dos peixes repreendidos no «Sermão de Santo António» {escolhe}: a) roncador; b) pegador; c) voador; d) polvo à lagareiro; e) esparguete à bolonhesa.

Vai até à p. 14, intitulada  «Quem sou eu?». Depois de leres o artigo do psiquiatra Cristiano Ronaldo, aliás Cristiano Nabo, aliás Cristiano Nabuco, escreve sobre selfies mas incluindo uma especulação sobre como Pessoa lidaria com elas. O objetivo é referir temas de Álvaro de Campos, sobretudo, ou, mais longinquamente, do ortónimo, ou, em geral, o processo heteronímico. (Não excluo que também haja referência à pintura de Brendan Donnet, relacionável com o quadro de Magritte.) A caneta, por favor.

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TPC — Faz (ou vê a solução que porei em Gaveta de Nuvens) a ficha 30 do Caderno de atividades, sobre ‘Valor temporal’.

 

 

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