Aula 19-20
Aula 19-20 (14/out [1.ª, 3.ª]) Correção de esboço
de ode futurista (cfr. Apresentação).
Pedro Mexia, «Paterson», Expresso. Revista,
coluna ‘Fraco Consolo’, [não encontro data, mas de há uns dois anos e pouco], p.
106:
Paterson é condutor de autocarros e poeta.
Vive em Paterson, um subúrbio de New Jersey. E tem em casa livros de William
Carlos Williams, entre os quais Paterson
(1946-58), um poema épico factual demótico, que se quer ao mesmo tempo um “orgulho
local; (...) uma confissão; (...) uma réplica ao grego e ao latim sem mais nada;
uma multidão; uma comemoração”.
O último filme de Jim Jarmusch, Paterson (2016), é uma investigação
sobre o equilíbrio entre a felicidade e a banalidade. Paterson, interpretado por
Adam Driver, leva uma vida estável mas espartana. Tem uma namorada giríssima
mas um pouco enfadonha, obcecada com determinados padrões, que usa
indiscriminadamente em pinturas, vestidos e decorações de bolos. Laura (a iraniana
Golshifteh Farahani) é apesar disso a “musa” do namorado, ou não tivesse, como
nos lembram escusadamente, nome igual ao da amada de Petrarca. Paterson escreve
poemas para ela, “se são para ti, são poemas de amor”, embora admita que não é
insensível às outras mulheres.
Os poemas de Paterson, que vamos vendo no
ecrã, são despretensiosos, diretos, como os mais despretensiosos e diretos
versos de Williams. Poemas minimais, discretos, timidamente inventivos, que são
na verdade da autoria de um poeta não-ficcional, amigo de Jarmusch: Ron Padgett.
Esses poemas obedecem a uma máxima de Williams, “no ideas but in things”, tese
que constituía uma reação à poesia erudita e hermética de Eliot e Pound. O
doutor Williams, talvez por ser médico, gostava de coisas concretas, de pessoas
concretas, queria toda a invenção ancorada num presente verificável e gostava
de fazer coincidir, como escreveu um seu estudioso, “os materiais que suscitam
a poesia e a poesia que esses materiais suscitam”. É por isso que no Paterson de Jarmusch as coisas mostradas
ou ouvidas, e os versos que sobre elas se escrevem, são trivialmente poéticas:
caixas de fósforos, copos de cerveja, conversas sobre pugilistas e engates. Mas
quando sugerem a Paterson que a sua cidade é poética, que a sua vida é poética,
ele acha que não, que não são nada poéticas.
Como em todos os Jarmusch, ou quase todos,
o ambiente de Paterson é depurado e
modesto, o clima casto e cool, as pessoas macambúzias mas boas. Mas há uma estranha sensação
de que toda a gente vive numa “ilha das almas perdidas”, parafraseando o título
de um clássico dos anos 30 que Jarmusch cita. De acordo com as nossas possibilidades,
veremos nesta história o copo meio cheio ou meio vazio. O elogio da domesticidade
não se distingue das tragicomédias amorosas das personagens secundárias. A
empatia humana confunde-se com a uniformidade, de modo que aparecem gémeos em
todo o lado. Os indivíduos são em geral decentes, mas há quem avise que é
melhor “não tentar mudar as coisas, senão ainda as tornamos piores”. Escrever
poesia é fundamental para Paterson, mas ele não faz questão de que alguém leia
os seus poemas, e até assistimos a um episódio que lembra ironicamente a
desculpa do cábula: “O cão comeu-me o trabalho de casa.”
Cada um escolherá em Paterson os seus momentos significativos. Lembro-me de três. Um é
quando o condutor de autocarros encontra uma rapariguinha de 10 anos que
escreve poemas tão bons como os dele, o que põe em causa a noção de talento ou
a excecionalidade da poesia. O segundo é a evocação de uma das estrelas de
Paterson, New Jersey, o comediante Lou Costello, sugerindo talvez que a vida
deve ser levada à conta de slapstick. O
último é o verso “preferias ser um peixe?”, de uma canção de 1944. Uma canção
que nos diz que um peixe não faz coisa alguma com a sua vida, que vai apenas
nadando ribeiro abaixo até que, um dia, é pescado. “But then if that
sort of life is what you wish / You may grow up to be a fish.”
[Paterson, de William Carlos Williams, tem edição portuguesa na Relógio
D’Água, com tradução de Maria de Lourdes Guimarães.]
Vai até à p.
60 do manual, para leres o poema «Datilografia», ainda de Álvaro de Campos (e da
face/fase que se tem convencionado dizer intimista-abúlica).
Distribui estas quatro etiquetas descritivas
de partes do poema pela tabela a seguir:
situação
presente do sujeito poético | regresso à situação presente | reflexão
realidade-sonho | nostalgia do passado
estrofe 1 (vv. 1-3) |
situação presente do
sujeito poético |
estrofe
2 (vv. 4-5) |
|
estrofe
3 (vv. 6-8) |
|
estrofe
4 (vv. 9-13) |
|
estrofe
5 (v. 14) |
|
estrofe
6 (vv. 15-16) |
|
estrofe
7 (vv. 17-22) |
|
estrofe
8, vv. 23-29 |
|
estrofe
8, v. 30 |
|
estrofe
9 (vv. 31-33) |
Repara nos vv. 4-5, 15-16 e no verso 33
(que contém uma variante ao segundo verso dos dísticos referidos).
Podemos considerar que as estrofes iguais
constituídas pelos vv. 4-5 e 15-16 representam a monotonia . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ainda assim, o eu lírico consegue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No entanto, no final do
poema, o verso 33 assinala que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Lê na p. 62 um excerto do
longo «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra», sempre de Álvaro de Campos, poema que já ouvimos
logo na primeira aula do ano. Completa o quadro que já comecei a preencher e que
é referido no item 7.
Processos de localização temporal |
Expressões
do poema |
Flexão verbal —
presente — passado — futuro |
|
«não ter ficado em Lisboa» |
|
|
|
Verbo auxiliar temporal |
|
Advérbio |
|
Oração temporal |
|
Relações cronológicas — de
simultaneidade — de anterioridade —
posterioridade |
«sozinho guio»; «me parece»; «ou me forço» |
«Que sigo sem haver Lisboa deixada» |
|
«ou Sintra a que ir ter» |
«Teste de bazófia» (série Barbosa) — que vimos o
ano passado mas para outros efeitos — serve-nos agora para fixarmos os valores aspetuais (perfetivo, imperfetivo; habitual; genérico; iterativo), temporais (anterioridade, simultaneidade,
posterioridade) e modais (modalidades deôntica, epistémica, apreciativa).
Preenche as lacunas:
Quanto ao temperamento criticável que está em foco
no sketch, já teremos dito que lembra
o de um dos peixes repreendidos no «Sermão de Santo António» {escolhe}: a) roncador; b) pegador; c) voador;
d) polvo à lagareiro; e) esparguete à bolonhesa.
Vai
até à p. 14, intitulada «Quem sou eu?».
Depois de leres o artigo do psiquiatra Cristiano Ronaldo, aliás Cristiano Nabo,
aliás Cristiano Nabuco, escreve sobre selfies mas incluindo uma especulação
sobre como Pessoa lidaria com elas. O objetivo é referir temas de Álvaro de
Campos, sobretudo, ou, mais longinquamente, do ortónimo, ou, em geral, o
processo heteronímico. (Não excluo que também haja referência à pintura de
Brendan Donnet, relacionável com o quadro de Magritte.) A caneta, por favor.
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TPC — Faz (ou vê a solução que porei em Gaveta de Nuvens) a
ficha 30 do Caderno de atividades, sobre ‘Valor temporal’.
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