Friday, August 28, 2020

Aula 105-106

 

Aula 105-106 (3 [1.ª], 4 [5.ª, 2.ª, 4.ª], 5/mai [3.ª]) Correção de redação segundo matriz sintática (ver Apresentação).

Passamos de Camilo (um romântico, ainda que na sua fase final também tenha escrito ao gosto realista) para um poeta da geração seguinte, Cesário Verde.

Sem abrir o livro, lerás a «A débil», a que retirei a última palavra de quase todos os versos. Deixei a primeira e a última quadra completas. Por elas ficas a saber que em cada estrofe há rima interpolada e emparelhada, num esquema a-b-b-a. Quanto à métrica, por esses oito versos se vê que se trata de decassílabos. Tentarás colocar nos espaços estas palavras deles retirados.

suspirando / suspeites / monarca / bordado / turbulento / respeito / loura / miserável / brando / imaculada / entanto / sossego / ostentação / pisada / quieta / corruptora / sinto / matinais / cabeça / pedestal / fina / peito / braço / saudável / envidraçada / espessa / natural / tanto / casares / nação / pretos / embaraçada / poeta

A Débil

Eu, que sou feio, sólido, leal,

A ti, que és bela, frágil, assustada,

Quero estimar-te sempre, recatada

Numa existência honesta, de cristal.

 

Sentado à mesa dum café devasso,

Ao avistar-te, há pouco, fraca e __________,

Nesta Babel tão velha e ____________,

Tive tenções de oferecer-te o ___________.

 

E, quando socorreste um _____________,

Eu, que bebia cálices de absinto,

Mandei ir a garrafa, porque ____________

Que me tornas prestante, bom, __________.

 

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;

E pus-me a olhar, vexado e ____________,

O teu corpo que pulsa, alegre e __________,

Na frescura dos linhos ____________.

 

Via-te pela porta _____________;

E invejava, — talvez que não o ___________! —

Esse vestido simples, sem enfeites,

Nessa cintura tenra, ____________.

 

Ia passando, a quatro, o patriarca.

Triste eu saí. Doía-me a _____________.

Uma turba ruidosa, negra, _____________,

Voltava das exéquias dum _____________.

 

Adorável! Tu, muito _____________,

Seguias a pensar no teu _____________;

Avultava, num largo arborizado,

Uma estátua de rei num _____________.

 

Sorriam, nos seus trens, os titulares;

E ao claro sol, guardava-te, no __________,

A tua boa mãe, que te ama ____________,

Que não te morrerá sem te ____________!

 

Soberbo dia! Impunha-me _____________

A limpidez do teu semblante grego;

E uma família, um ninho de ____________,

Desejava beijar sobre o teu ____________.

 

Com elegância e sem ______________,

Atravessavas branca, esbelta e ___________,

Uma chusma de padres de batina,

E de altos funcionários da ____________.

 

«Mas se a atropela o povo ____________!

Se fosse, por acaso, ali ____________!»

De repente, paraste _____________

Ao pé dum numeroso ajuntamento.

 

E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,

Julguei ver, com a vista de ___________,

Uma pombinha tímida e ____________

Num bando ameaçador de corvos __________.

 

E foi, então, que eu, homem varonil,

Quis dedicar-te a minha pobre vida,

A ti, que és ténue, dócil, recolhida,

Eu, que sou hábil, prático, viril.

Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde


Vai respondendo às seguintes perguntas na p. 329 (ou completando as respostas).

Educação literária

1. «Eu» | «feio» | «_______» | «______» || «Ela» | «______»| «frágil» | «_______». Os adjetivos usados em cada um dos casos, apesar de antitéticos, sugerem que se podem complementar, na perspetiva de que os opostos se atraem e completam. O «eu», consciente da sua degra­dação, diz-se capaz de lhe ser leal, adotando os valores por ela representados (recato, honestidade).

2. O sujeito poético está «[s] ______» (v. 5), «[n]______» (v. 7) e bebe «_______» (v. 10).

3. Os três recursos são a tripla adjetivação, em «_____, _____, _____» (v. 2); a hipálage, em «______» (v. 4); e a _____ em «[existência] de cristal» (v. 4). Pretende-se caracterizar o tipo de vida associado à figura feminina: uma existência pura, transparente, imaculada, perfeita, como o cristal.

4. A figura feminina, na sua brancura e luminosidade, é «recatada», enquanto a turba é «ruidosa, ______, ______». Os traços sombrios e ameaçadores da multidão contrastam, vivamente, com a naturalidade e a brandura da jovem que passa..

Gramática

1. a) ________. ([sugestão: vê se na 3.ª pessoa seria lhe ou o/a])

b) _______. ([sugestões: é trocável por o/a? Qual é a expressão que faz que o verbo esteja no singular (ou no plural)?])

c) _______.

[Pergunta que surgirá em slide]

Discorre sobre a perspetiva que o sujeito poético tem acerca da «débil» e como essa visão vai evoluindo, com  o «eu» a alterar a sua atitude para com aquela mulher.

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[Resposta possível]

A dita débil, no início do texto, além de admirada pela beleza, juventude, naturalidade (vv. 2, 15, 19, 20, 25, 34, 37, 38), é vista como frágil (vv. 2, 6), de tal modo que o sujeito poético manifesta vontade de a proteger da agitação da cidade. Com ela imagina «uma família, um ninho de sossego» (v. 35). E, perante a ameaça de «um numeroso ajuntamento», o eu, com a sua «vista de poeta», transfigura a rapariga, «tímida e quieta», numa «pombinha branca» cercada por «um bando ameaçador de corvos pretos» (vv. 46-48). No entanto, o retrato da «débil» é complexo, ambivalente: também surge como figura capaz de atravessar a multidão «com elegância e sem ostentação» (v. 37), impondo a sua presença.

Na última estrofe, o sujeito lírico assume mesmo a decisão de dedicar à rapariga a sua «pobre vida» e por ela está disposto a modificar-se. Aquele que no início se se definia como «feio», aparentemente com falta de saúde (v. 12), triste e com dores de cabeça (v. 22) diz-se agora «hábil, prático, viril» (v. 52), pronto a corresponder ao poder do exemplo da jovem, que, afinal, seria «débil» apenas no título do poema.

TPC — Escreve comentário sobre Amor de Perdição e filme, cujas instruções estão aqui.

 

 

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