Tarefas (7.º ano, 2004/5)
2. «Exactíssimos» (no grau normal, no feminino e no singular). // Abreviatura de «Senhor» (ao contrário).
3. Em Língua Portuguesa, nas turmas 1, 2, 3, 5 e 6 do 7.º ano, não haverá aqueles testes (marcados antecipadamente, feitos numa aula inteira, etc.) que farás na maioria ____ outras disciplinas. «Então como é que seremos avaliados?», perguntam. Serão avaliados por tudo o que forem fazendo em aula. // Um século antes de Jesus nascer, as moedas não tinham gravado «Séc. I _____».
4. Tentarei que as aulas terminem sempre à hora certa; mas, se der o _________ para a saída e estivermos ainda a falar ou a terminar algum trabalho, peço-lhes que não arrumem logo as coisas à pressa. // Abreviatura de «Senhor», em inglês.
5. A aula é uma _____ altura para mascar pastilha elástica. // O Tejo é-o e o Presidente da Câmara do Porto também. // A sala da ____ (sigla) da escola fica no bloco C; no mesmo piso, ao fundo, tens o CRE e a Biblioteca (também é possível levar livros para casa, por períodos de cinco dias).
6. Aqui vai um exemplo de _______ ouvido na televisão: queixava-se Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, de que «os super-sumos já queriam arranjar novos jogadores» (a palavra correcta é «supra-sumo»). // Abreviatura de «televisão».
7. A ele recorremos quando ignoramos o significado de uma palavra (em casa, tenta ter um à mão).
8. Interjeição que exprime medo ou dor, mas não é «ai».
9. Há palavras variáveis e palavras invariáveis: «palavras», «variáveis» e «invariáveis» são _________ variáveis (mas, por exemplo, «e» é uma palavra invariável). // A partir de agora, devem trazer sempre o livro Com Todas ____ Letras (cada um o seu, não um por carteira!); e nada de chegar à sala e dizerem que ainda têm de o ir buscar ao cacifo.
10. Infinitivo do verbo «Asilar». // Nas aulas vão sobretudo fazer tarefas para treino da leitura e da escrita, já que é _____ o principal objectivo da disciplina de Língua Portuguesa.
A. Antónimo de «mal». // É importante que tragam sempre algumas folhas onde escrevam o que eu lhes peça, e que essas folhas possam ficar no dossiê ou serem-___ entregues; queria também que trouxessem sempre lápis, borracha e, já agora, afia-lápis. // Interjeição que significa 'para cima'.
B. A ___-mulher de Pedro Miguel Ramos, Bárbara Guimarães, vai apresentar um concurso sobre Língua Portuguesa (regulamento em http://194.65.57.196/misc/). // Provavelmente, não te deitas a horas _______.
C. «O Epaminondas não tem jeito nenhum para o críquete, é um _______» (vegetal). // No Contra-Informação, Rui Rio é «Rui __». // Como há muitos anos não dava aulas ao sétimo ano, reli agora livros de que já pouco me lembrava (Lobos do Mar, de Rudyard Kipling, O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen, Gente da Terceira Classe, de José Rodrigues Miguéis) e ____ pela primeira vez outros (O menino no espelho, de Fernando Sabino; Dentes de Rato, de Agustina).
D. Alguns dos livros de Júlio Verne (por exemplo, Viagem à Lua) são os antepassados dos livros de _____ (sigla). // No sul de França, antigamente, falava-se a «língua d'__». //Muitas palavras que herdámos da presença dos árabes na península começam por esta sílaba.
E. Pronome pessoal inglês. // O tipo de aulas que faremos permite que, ao mesmo tempo que se treina a leitura e a escrita, eu ____ verificando o vosso rendimento.
F. Tudo o que fores fazendo em aula ficará guardado no teu dossiê (ou no teu _______), que trarás sempre. // Abreviatura de estação de rádio, de que aliás não gosto.
G. Quase _____ foi como a rapariga letã invadiu o campo pouco antes de Cristiano Ronaldo marcar um golo.
H. A nossa __________ tem o nome de um poeta que foi também um excelente prosador (as suas crónicas, memórias, diários são bem agradáveis, embora seja mais referido como autor das Aventuras de João Sem Medo). // Não faremos sumários, nem abriremos lições; porém, ____ gostas de ir numerando as lições e pôr as datas, podes fazê-lo tu; talvez venha a copiar os sumários em http://gavetadenuvens.blogspot.com/ (o título é o de um livro de José Gomes Ferreira), mas os sumários de Língua Portuguesa não têm grande interesse.
J. Há muitas ___________. Se já tens alguma em casa, aproveita-a, que virá a ser útil. Se não tens, talvez te aconselhasse Da Palavra ao Texto (Olívia Figueiredo & Rosa Bizarro; Edições Asa) ou a Breve Gramática do Português Contemporâneo (Celso Cunha & Luís Lindley Cintra; Edições João Sá da Costa), mas, repito, se já tens alguma outra, essa bastará (e, mesmo que não tenhas, não é imprescindível que vás agora comprar uma); também te pode ajudar o caderno de fichas informativas que acompanha o nosso livro.
L. Quando ___________ na aula de Língua Portuguesa, devo usar folhas com margens, porque o excelso, sublime, magnificente, eminentíssimo professor que as vai ler pode querer aí corrigir alguma coisa. // ____ já completaste as palavras cruzadas, marca as indicações que te pareça serem mais úteis para as nossas aulas.
Evita que as frases sirvam apenas para declarar aquilo de que gostas ou de não gostas. Boa solução é não te limitares a qualificar o que escolhes («é bom», «mau», «gosto de», etc.) e usares antes uma redacção «de comentário» aos temas que destaques no alfabeto.
Repara também que a palavra que é escolhida pode nem ser o exacto assunto, servindo afinal como pretexto para se aludir ao tema que importa mesmo.
Podes ir alternando letras tratadas em algumas linhas (3 ou 4) com outras que desenvolvas apenas numa frase.
A, de Automóvel. Irrita-me a importância que em Portugal se dá aos automóveis, sempre prejudicando quem usa os transportes públicos (e os passeios, paisagens, etc.).
B, de Benfica. Foi em 1983 a primeira vez que dei aulas na Secundária de Benfica. Antes de a escola ser construída havia aqui uma quinta e a minha casa era do outro lado do muro.
C, de Capitu. Capitu é o hipocorístico de Capitolina, personagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um dos meus livros preferidos.
D, de Dona Leonor. O liceu onde andei a partir do 5.º ano (o actual 9.º ano). Foi em 1974-75, o que explica que nada tivesse sido convencional (aliás, salvo erro, no ano anterior o liceu ainda era exclusivamente feminino). Recordo um dos hábitos de então: saindo das aulas, à tarde e no inverno, o grupo dos que moravam em Benfica ia apanhar o autocarro a Entrecampos, compartilhando as castanhas assadas compradas no caminho.
E, de Escolas públicas versus privadas. Ao contrário do que a imprensa e a televisão acabam por fazer crer, os rankings provam que as escolas públicas são melhores do que as privadas. É que, tendo em conta que aquelas acolhem alunos de todas as classes sociais e que para as escolas privadas que estão no topo da lista vão apenas os alunos de classes pelo menos remediadas (e sabendo-se como as origens sociais e culturais influenciam as capacidades básicas de leitura, escrita, etc.), era de esperar que as médias das escolas privadas contrastassem fortemente com as do ensino público. Não acontecendo isso, significa que as privadas preparam mal os alunos.
F, de Futebol. Passei boa parte da minha infância a jogar à bola na rua. A minha primeira bola a sério (dizíamos de «catechumbo», por caoutchouc) foi roubada por uns rapazes que logo fugiram pelos campos que são agora a Avenida do Colégio Militar.
G, de Gonçalves. Apelido de duas excelentes professoras que tive na Pedro de Santarém, e com quem nem sempre fui justo: Odete Gonçalves, de História; Adelaide Gonçalves, de Português.
H, de Hector Malot. O francês Hector Malot (1830-1907) é o autor de Sem Família, o primeiro livro de certa extensão que me lembro de ler. O romance conta a história de Remy, órfão e depois comprado por Vitalis, que, como músico ambulante, vai percorrendo parte da Europa.
I, de Inglês. A primeira língua estrangeira que aprendíamos era o francês. Ainda hoje não domino como gostaria, e deveria, a língua inglesa, o que é óbvia desvantagem.
J, de Jornais. Ao sábado, Expresso e Público; à sexta, Independente e Público (e, neste, o Inimigo Público); nos outros dias, Público, mas nem sempre.
L, de Letras. Não havia então esta pirosice de se querer ir para Medicina. Os melhores alunos da minha geração são hoje em geral professores, e da área de Letras.
M, de Mourinho. Intriga-me o ódio que as pessoas mais simples têm a José Mourinho, que é comprovadamente competentíssimo.
N, de Natação. Ainda é o desporto que vou fazendo (se se pode chamar «natação» ao meu estilo tão peculiar).
O, de Oz. Não o filme O Feiticeiro de Oz (e nem mesmo a célebre música que ouço agora em telenovela brasileira), mas o livro, e sobretudo a sua capa, que eu estranhava por ter um leão que se via logo ser um actor mascarado de leão. O mesmo se passava com o Homem de Lata e com o Espantalho.
P, de Pessoa. Não sei dizer se Fernando Pessoa é o poeta que prefiro, mas pelo menos foi sobre ele que mais escrevi.
Q, de Queijo. Um dos alimentos de que mais gosto, o que deve ter que ver com o facto de ser também de Francês.
R, de Rubianes. Carlos Rubianes, amigo durante a adolescência, inteligente, criativo, culto, tão cedo desaparecido num estúpido acidente de carro.
T, de Televisão. Estou a trabalhar com a televisão ligada, como quase sempre. Não percebo como pode um telejornal, e do canal público, abordar durante tanto tempo o funeral de Fialho Gouveia (que, sim, foi decerto bom profissional e excelente pessoa). Ainda mais impertinente é dar-se tanto destaque ao facto de ter sido benfiquista.
U, de Ulurus. Não me lembrando de mais nada, fica o nome do poeta inventado por Antero de Quental e que alguns, entre os quais Luciano Cordeiro, aceitaram como verdadeiro e genial.
V, de Vestimentas. Ora aí está uma coisa que não me preocupa. Por exemplo, nunca usei uma gravata.
X, de Xadrez. Quando os alunos me perguntam de que clube sou, digo que sou do Boavista (o que não é bem verdade, mas serve para explicar que não gosto dos três grandes); há muito tempo era da CUF, que naqueles anos era uma espécie de Boavista.
Z, de Zahovic. Dá-me jeito para poder dizer mal do Benfica. Não tanto do clube em si, mas de como em Portugal se beneficiam os clubes grandes, a igreja, os partidos, a construção civil, os hipermercados, ...
A viagem de Helen Tew teve início onde? ___
E a chegada? ___
A data da partida foi ___
A data da chegada foi ___
Helen teve um acompanhante durante toda a viagem, que foi ___
Teve ainda durante a parte final a companhia do ___
Que levou Helen a fazer esta viagem? ___
2. Tens agora, em baixo, o começo de outras quatro notícias, todas publicadas no dia 5 de Outubro (esta terça, portanto). Qual é para ti a mais estranha (a que mais te surpreende)? Com o teu colega de carteira tenta perceber por que motivo achamos essa notícia inesperada.
[Público (http://jornal.publico.pt/2004/10/05/Sociedade/S10.html)]
2004-10-05 Fenómeno durou dez minutos no céu
[Correio da Manhã (http://www.correiomanha.pt/)]
Terça-Feira, 5 de Outubro de 2004
«Solução informática está errada»
O «algoritmo milagroso» desenvolvido pela empresa ATX Software, que permitiu finalmente a divulgação das listas de colocação de docentes no dia 28 de Setembro, está «errado» e, «em teoria, poderá afectar todo o universo do concurso nacional».
2004-10-05 Escola adopta regras rígidas de comportamento e pune alunos que pisarem a linha
Mini-saia não entra
Usar mina-saia, calções, chinelos, decotes ou dizer palavrões passou a ser expressamente proibido aos alunos da Escola C+S de Colares (Sintra).
[Correio da Manhã (http://www.correiomanha.pt/)]
3. Escreve tu também o título e o primeiro período de uma notícia, que vais imaginar. Como acontecia nas notícias que leste, terá de ser uma situação pouco habitual (ou mesmo insólita), mas em que acreditaríamos.
Completa ou escolhe a opção certa
1. Onde estão Sam e Benjy? No pátio da escola / Numa sala de aula / No refeitório
2. Em que momento do dia? Ao almoço / Ao lanche / No começo das aulas
3. Em que parágrafo se faz a caracterização do senhor McEvoy? O das linhas ___-___.
4. Na linha 28, surgem umas reticências entre parênteses: (...). Que significam? Que Benjy hesitou no que estava a dizer. / Que uma parte do texto original do livro foi cortada. / Que Benjy quis insinuar alguma coisa em vez de a dizer completamente.
5. O texto tem: vinte e três parágrafos / vinte e quatro parágrafos / vinte parágrafos [não se contam o título, a explicação a azul, a referência do livro]
6. O segundo parágrafo tem: sete períodos / seis períodos / oito períodos
7. Os parágrafos com discurso directo... têm travessão, depois de uma margem igual à dos outros parágrafos / têm travessão, depois de uma margem maior do que a dos outros parágrafos / têm travessão, depois de uma margem mais curta do que a dos outros parágrafos
8. No parágrafo das linhas 40-43, as aspas servem para assinalar que: se trata do que Benjy pensou mas não pronunciou / Benjy está a citar o que outros disseram / as frases são irónicas e não correspondem ao que Benjy pensava
9. As maiúsculas nas linhas 44-47 servem para representar... nomes próprios / voz muito alta ou grito
No livro de onde foi tirado este texto — Esta Escola Põe-me Doido —, a história prossegue assim:
[escolhe um dos trechos a seguir (A, B ou C) — só um é verdadeiro]
A.
— PRONTO! — O senhor McEvoy falava de modo que o ouvissem no refeitório todo. — PRONTO! NÃO VALE A PENA PREOCUPAREM-SE! O APARELHO DENTÁRIO NÃO ENTROU EM CONTACTO COM COMIDA ALGUMA. A COZINHEIRA JÁ O ENCONTROU: ESTAVA NUM PRATO QUE NÃO CHEGOU A SER USADO.
Os miúdos, sentados à mesa, olhavam para os tabuleiros cheios de comida ainda um pouco desconfiados. Mas a fome tudo fez esquecer e começaram a comer. A bicha para o almoço recomeçou a andar, e ninguém parecia ter perdido o apetite.
B.
— PRONTO! — O senhor McEvoy falava de modo que o ouvissem no refeitório todo. — PRONTO! NÃO SE ALARMEM! PODEM CONTINUAR A COMER SEM RECEIO. JÁ ENCONTREI O APARELHO, ESTAVA NO MEU PRATO DE MASSA. JÁ O DESINFECTEI E VOU DEVOLVÊ-LO AO CABEÇA-NO-AR DO SAM. — E, depois, murmurando — Ainda bem que foi a mim que calhou...
Os miúdos, sentados à mesa, já nada ouviam. Atiravam-se aos tabuleiros cheios de comida. Alguns, muito poucos, comentavam com nojo o facto de McEvoy ter chegado a levar à boca o aparelho de Sam.
C.
— PRONTO! — O senhor McEvoy falava de modo que o ouvissem no refeitório todo. — PRONTO! NENHUM APARELHO, NENHUM APARELHO DENTÁRIO CAIU EM COMIDA ALGUMA: UM RAPAZ INFANTIL PENSOU QUE ESTAVA A SER ENGRAÇADO. MAS, DE FACTO, NÃO ESTAVA. E VAI-SE ARREPENDER SERIAMENTE. CONTINUEM A ALMOÇAR!
Os miúdos, sentados à mesa, olhavam desconfiados para os tabuleiros cheios de comida. Alguns começaram a remexer a massa. A bicha para o almoço recomeçou a andar, mas a maior parte tirava tão pouca comida que não parecia ter apetite.
Repara nas seguintes séries de dez palavras, que criei a partir de duas palavras em foco no texto: «Aparelho dentário» e «Massa».
Ronaldo
Figo
Algarve
ingleses
Porto
Clérigos
Papa
Itália
massa
italianos
ópera
Pavarotti
Quinta das Celebridades
Marco de Canaveses
Marco Polo
Veneza
Aveiro
Aparelho dentário lembra Ronaldo (que usa um), Ronaldo lembra Figo (porque jogam na mesma equipa), Figo lembra Algarve (porque o figo é um fruto típico do Algarve), Algarve lembra ingleses (que há muitos a viver lá), ingleses lembra o Porto (porque sempre estiveram, por exemplo, muito associados ao Vinho do Porto), que lembra Torre dos Clérigos, etc. Cheguei a massa, mas quase por acaso.
Depois tenta fazer uma outra série — também começada por uma destas palavras (ou outra qualquer) — que venha a ter como décimo elemento a mesma palavra que iniciou a lista.
A e também não era preciso andar com a t-shirt vestida
B também por maioria absoluta
C E que as eleições nunca se deveriam ter realizado assim. Estava-se mesmo a ver que aquilo tinha sido boicote. E mais isto e mais aquilo. Pronto. Lá voltou tudo ao princípio.
D Estive vai não vai para alinhar, mas quando olhei para a t-shirt da propaganda, com a cara dele estampada a toda a largura, achei muito tolo andar por aí com um fulano a rir em cima do meu peito e a frase «VOTA RAMIRO/BUÉ DA GIRO» mesmo em cima do meu umbigo. O que é certo é que ele ganhou com maioria absoluta.
E Às vezes era muito pior, sonhava que mal chegava a minha vez de deitar o boletim para dentro da urna se ouvia uma grande barulheira lá fora, muitos tiros, muita gritaria e de repente o Salazar entrava e dizia «a festa acabou, todos para Angola e em força!». Depois toda a gente começava a cantar «Angola! É nossa! É nossa! É nossa!», e eu a querer deitar o meu voto na urna e a urna a afastar-se, a afastar-se, a voar pela janela fora, e eu à procura da minha mãe e do meu pai e da minha irmã e todos tinham desaparecido. Acordava sempre nessa altura, toda encharcada em suor. E depois já não conseguia pregar olho.
Por que razão a narradora, Glória, se lembra de contar como tinham sido as eleições na sua escola?
Porque __________.
O delegado que foi eleito ficou contente? (Sim/Não).
Em que linhas ficamos a saber o motivo desse descontentamento? Linhas ____-____.
Prepara uma resposta à pergunta 2.3 da p. 44:
R: A repetição de ele é que pretende mostrar que _____________.
Lê os parágrafos que transcrevo a seguir (já no verso desta página), que em Caderno de Agosto estão logo depois da parte que lemos no manual, e compara a versão do pai com a da mãe. Escolhe a alínea certa:
a) Segundo a mãe, conheceram-se numa bicha para as eleições; segundo o pai, que é psiquiatra, conheceram-se na Gulbenkian e ela foi a sua primeira namorada.
b) Segundo a mãe, conheceram-se numa bicha nas eleições, estava ele com a avó; segundo o pai, que é psiquiatra, conheceram-se na Gulbenkian, e nessa altura ele tinha uma namorada.
c) Segundo a mãe, conheceram-se na bicha das eleições; segundo o pai, que era músico, conheceram-se na Gulbenkian, e nessa altura ele tinha uma namorada.
d) Segundo a mãe conheceram-se na Gulbenkian, durante as eleições para a Constituinte; segundo o pai, encontraram-se realmente na Gulbenkian, mas durante um espectáculo de música clássica.
e) Segundo a mãe, conheceram-se numa bicha das eleições; segundo o pai, que é psiquiatra, conheceram-se na Gulbenkian, e nessa altura ele tinha uma namorada.
O meu pai diz que conheceu a minha mãe à saída de um concerto na Gulbenkian, onde ele tinha ido acompanhar a rapariga que então namorava.
— Eu nem gostava assim muito de música clássica, mas ela insistia muito, era um quarteto, ou um terceto, já não me lembro bem, sei que era da União Soviética ou de um qualquer país do Leste, e nessa altura, nesses primeiros anos da revolução, ninguém faltava a espectáculos desses. Muito cossaco vi eu aos pulos num palco, minha Nossa-Senhora! E muita balalaica ouvi! E sessões de ginástica! Essas vinham mais da Roménia... Eu e a tal namorada não falhávamos uma! E nessa tarde do concerto da Gulbenkian a vossa mãe estava mesmo à minha frente e não parava quieta com a cabeça, e eu não conseguia ver nada, então pedi-lhe, com muita delicadeza, se ela podia decidir-se de que lado queria ficar, porque eu também tinha direito a assistir ao espectáculo em boas condições.
— Se vocês soubessem o palavrão que ela me mandou!... A minha namorada, coitada, até ficou toda corada, eu então nem sabia por onde me havia de enfiar...
A minha mãe nega tudo: nesses tempos primeiros da revolução ela tinha muito mais em que pensar do que em concertos na Gulbenkian, por muitos países de Leste que lá fossem; e que apesar de falar como lhe dá na real gana, nunca faria uma fita dessas em público. Além disso, lembra-se muito bem: foi nas eleições para a Constituinte que o viu pela primeira vez, até lhe tinha dado o seu lugar na bicha porque ele estava acompanhado por uma velhinha de bengala de pé há imenso tempo e sempre a suspirar «no tempo do Dr. Salazar não era nada disto!».
— É claro que lhe dei a vez só para ela não estar ali a dizer aquelas coisas, ainda podia haver por perto alguém de ânimo mais exaltado e acontecer algum disparate — diz a minha mãe. — Foi então que eu disse ao vosso pai: «Desculpe, mas você não deve deixar a sua avozinha estar para aí a dizer coisas dessas! Até porque é proibido: à boca das urnas não se pode fazer propaganda política!»
Aqui a minha mãe faz a sua pausa, respira fundo e murmura:
— Se vocês soubessem o palavrão que ele me mandou!... Que a avozinha era... enfim, vocês imaginam...
Dá uma gargalhada e continua:
— Parece que realmente a velha não lhe era nada, estava à frente dele e ele, também por delicadeza e em vista da bengala e da idade avançada, propusera-se aju dar dando-lhe o braço para ela se apoiar. Mas não era caso para me insultar daquela maneira... Eu ali toda feliz por ir votar pela primeira vez e ele a estragar-me a alegria. O vosso pai nunca foi muito de partilhar alegrias, também é verdade. Um feitiozinho muito especial, muito especial. Se calhar, também é lá por causa do trabalho dele. Os psiquiatras são todos assim.
A minha mãe diz sempre isto: «Os psiquiatras são todos assim», mas nunca explica o que «assim» quer dizer. Sorri, encolhe os ombros: — Assim.
[A fazer com o colega do lado ou individualmente]
Relativamente ao livro de Alice Vieira que te calhou (ou calhou à vossa carteira), tenta (tentem) perceber pela leitura das primeiras páginas — e, talvez, da contracapa, etc. — qual é o assunto da narrativa, para depois apresentarem o livro à turma: onde se passa a história; qual é o/a protagonista (nome, que faz, etc.); quais parecem ser as outras personagens principais; qual é a intriga; etc.
Escreve (escrevam) um trecho de cerca de 5 linhas que pudesse ser intercalado em algum ponto das primeiras 15 linhas do texto verdadeiro, sem que se notasse esse acrescento. O objectivo é ler depois em voz alta o começo do livro de Alice Vieira já com a parte que intercalaram e ver se os outros colegas não notam o que foi acrescentado. Por isso, preparem também a leitura em voz alta dessa versão já misturada.
Texto que escreveste/escreveram ficaria intercalado depois de ... (linha ... do original).
Turma: ... Nome(s): ...
Tarefas da aula 15-16
[Grelha para avaliar as leituras do princípio dos livros de Alice Vieira]
Livro de Alice Vieira / trecho intercalado escrito por .... / Percebeu-se que houve mudança? (Não/Sim) / Leitura foi agradável? (Sim/Não) / Livro foi bem apresentado? (Sim / Mais ou menos / Não)
Rosa, minha irmã Rosa
Lote 12, 2.º frente
Chocolate à chuva
Este rei que eu escolhi
Graças e desgraças da corte de el-rei Tadinho
Águas de Verão
Flor de mel
Viagem à roda do meu nome
Paulina ao piano
Às dez a porta fecha
A Lua não está à venda
Úrsula, a maior
Os olhos de Ana Marta
Promontório da Lua
Caderno de Agosto
Se perguntarem por mim digam que voei
Um fio de fumo nos confins do mar
Vinte e cinco a sete vozes
Lê este excerto de uma «Autobiografia» de Alice Vieira publicada há pouco tempo.
1. Nasci em Março de 1943 na Av. Almirante Reis, em Lisboa, num prédio há muito deitado abaixo e substituído por um stand de automóveis. Gosto de pensar que a minha primeira cama pode ter sido ali, onde agora se exibe um qualquer topo de gama. Acho que não foi má troca. Embora eu não perceba rigorosamente nada de carros (mas conheço na perfeição a carreira do 21: passa à porta das pessoas da família que me interessam, da minha editora, do médico, e desagua no Parque das Nações, lugar onde leio, escrevo, re vejo provas e curo as neuras.)
Não aqueci o lugar na Almirante Reis, que é só minha pátria em termos de Bilhete de Identidade: de lá saí aos 15 dias de idade. Andei por várias casas antes de assentar numa (então) moderna rua das chamadas Avenidas Novas. De nenhuma guardei recordação especial. De resto, tenho muito poucas recordações de infância. Possivelmente como defesa, digo eu agora. E o pouco de que me lembro nunca tem a ver com a casa, mas com hotéis. Por isso também esta paixão por hotéis, que guardo até hoje.
Nos hotéis eu lembro-me de ter sido uma criança feliz. O Grande Hotel da Belavista, em Caldelas, por exemplo, onde passei férias anos e anos seguidos, foi sempre o meu oásis de alegria. Os tios com quem vivia deixavam-me um pouco à solta e ali eu encontrava crianças da minha idade, e adultos que gostavam de mim. Por tudo isto, esse hotel é o cenário real onde se passa a história do meu livro Águas de Verão.
2. Fiz toda a escola primária em casa. Coisa que nunca perdoei. Claro que tive aquilo a que se poderá chamar uma «primária de oiro», no exame da quarta-classe até sabia o que eram plantas fanerogâmicas. Mas a que preço. Quando eu disse que queria ir para o liceu, os meus velhos tios concordaram, porque estavam convencidos, como me diziam, de que «tu chegas lá, não te habituas, e estranhas tanto que vens logo para casa.» Os sete anos que passei no Liceu Filipa de Lencastre foram dos melhores da minha vida. Chegava a inventar aulas que não existiam só para poder ficar lá mais tempo. E, se fui para Filologia Germânica, foi apenas para lá continuar mais dois anos uma vez que, ao ser necessário escolher, no final do então 5.º ano, a alínea que queríamos seguir, o liceu só dava as hipóteses de Matemática ou Germânicas. E como a Matemática, comigo, foi um caso de desamor à primeira vista... Claro que sempre gostei de línguas. Mas nesse caso o factor afectivo (colegas, professores, bairro) pesou muito mais.
Os meus tios estavam convencidos de que eu iria ter uma profissão decente nesta vida. Isto, evidentemente, depois de eu lhes ter comunicado que queria ir para a Faculdade — porque, decente, o que se chama decente, para eles era eu acabar o liceu, casar, ter muitos meninos e ser uma óptima fada do lar. «Tens de saber fazer tudo, para poderes mandar no pessoal», repetia muitas vezes a minha tia.
3. Mas pior, muito pior do que a ideia de eu ter um dia de trabalhar, foi a descoberta de que, se calhar, eu não iria ter aquela profissão, enfim, mais ou menos decente que as meninas tinham, ou seja, que eu não iria ser professora, porque entretanto tinha entrado num antro de todos os vícios, ou seja, a redacção de um jornal.
Eu entrei na tipografia do Diário de Lisboa era ainda miúda, só para ver como é que se fazia o «Juvenil». Foi há muitos anos. Ainda havia tipografias e cheiro a chumbo. E esse cheiro, quando se entranha nas nossas veias, é pior que a droga. O que sei de jornalismo aprendi nessa tipografia.
[JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 29 Setembro-12 de Outubro 2004, p. 44]
[A fazer em folha solta, em casa; trazer para aula 17]
Vais desenvolver as frases que transcrevo a seguir, de modo a termos uma tua autobiografia (ainda curta, é claro). Não se trata de seguir exactamente o modelo da autora de Rosa, minha irmã Rosa. Mas tenta continuar as expressões/frases com recordações tuas, escritas em estilo, como o de Alice Vieira, criativo e inteligente.
Autobiografia de _______ [o teu nome]
Nasci em _____________
Conheço na perfeição a carreira do ... : ....
De resto, tenho muito poucas recordações de infância. O pouco de que me lembro tem a ver com ...
Fiz a escola primária em ...
Os anos que passei no 2.º ciclo foram ...
Tarefa da aula 17-18
Vai lendo o texto «Que raio de professor era aquele?» (p. 46) e responde a estas perguntas:
O Rui costumava portar-se bem? ____. Em que linhas do texto percebemos isso? Nas linhas ____.
O Luís é caracterizado como aluno que
a) gosta de ler.
b) gosta de mostrar que estudou.
c) é desatento.
d) gosta de fingir que estudou.
Ao perguntar «Não achaste o gajo esquisito?» (l. 48), o Joel está a referir-se
a) à Dra. Odete.
b) ao novo professor, que tem ideias diferentes sobre a leitura.
c) a um professor que tinham tido no ano anterior.
d) ao inspector Cavadinhas.
Resolve o ponto 3.1 da p. 48.
Resolve o ponto 4.1 da p. 48.
Os fragmentos que se seguem [e que no blogue não se põem] pertencem ao livro O Assassino Leitor, de Álvaro Magalhães, onde está também o texto que acabaste de ler. Escolhe a ordem correcta destes catorze trechos, sabendo que três deles estão no livro imediatamente antes do texto «Que raio de professor era aquele?» e que os restantes aparecem no livro logo depois dele.
Tarefa da aula 19
Lê o poema «Liberdade», de Fernando Pessoa, na p. 50 do manual. Responde (ou escolhe a alínea certa).
O poema defende
a) que há coisas mais importantes do que o trabalho intelectual.
b) a natureza, a ingenuidade, a vida simples.
c) que o trabalho dos intelectuais é importante.
d) a preguiça.
O poema de Pessoa foi posto nesta página do livro porque as autoras do manual acharam que
a) defendia, como o professor do texto anterior, que não se deve ler com sacrifício.
b) se opunha ao sentido do texto anterior.
c) falava da importância de se ler, como o texto anterior.
d) falava de crianças, tal como o texto anterior.
«Livros são papéis pintados com tinta» (linha 14) pretende significar que
a) os livros não são assim tão importantes.
b) os livros são fundamentais para o espírito.
c) os livros são baratos.
d) os livros são obras de arte.
No entanto, a intenção de Fernando Pessoa não era bem a que julgam as autoras do Com todas as letras. Vejamos como tudo se passou.
Este poema foi escrito a 16 de Março de 1935. Em finais de Fevereiro, Salazar — que começara por ser ministro das Finanças e era já então o chefe do governo — fizera um discurso em que dizia como os escritores se deviam comportar relativamente à política. Salazar desvalorizava a escrita e a leitura, concluindo com uma citação do escritor latino Séneca: «Mas virá algum mal ao Mundo de se escrever menos, se se escrever e, sobretudo, se se ler melhor? Relembro a frase de Séneca: "em estantes altas até ao tecto, adornam o aposento do preguiçoso todos os arrazoados e crónicas"».
Ora, a frase «em estantes altas até ao tecto, adornam o aposento do preguiçoso todos os arrazoados [discursos] e crónicas» quer dizer que
a) os livros são importantes.
b) os aposentos dos preguiçosos estão bem decorados.
c) deve ter-se muitos livros em casa.
d) os livros são coisa de preguiçosos.
Pessoa tencionava pôr no poema a mesma frase de Séneca (vê, à direita, o que estava no texto que Pessoa escreveu à máquina). Não o chegou a fazer, porque o poema não foi logo publicado, já que a censura não deixou, e porque o próprio poeta morreria nesse ano de 1935.
Sabendo isto — que era para aparecer no início do poema a frase de Séneca — e que Pessoa estava contra Salazar, percebemos que a verdadeira a intenção do poema «Liberdade» era afinal
a) defender que há coisas mais importantes do que o trabalho intelectual.
b) defender a natureza, a ingenuidade, a vida simples.
c) troçar da posição de Salazar e defender que o trabalho dos intelectuais é importante.
d) defender a preguiça.
Na última estrofe está o que permitiu ao censor perceber que o poema era anti-salazarista e, por isso, impedir a sua publicação. A palavra dessa última estrofe que o censor identificou como alusão a Salazar terá sido __________.
Repara agora no verso 21. É um verso que ficou célebre e que hoje todos repetimos sem nos lembrarmos de que veio deste texto. No entanto, o que Fernando Pessoa escreveu não foi exactamente o que está no manual (e na maioria das edições). Vê o que está no original escrito à máquina por Pessoa. [neste blogue não se copia o fac-símile do original de Pessoa]
vv. 21-22 (no Com todas as letras): Mas ... / Flores...
vv. 21-22 (no papel de Pessoa): Mas... / Flores...
A ligeira diferença de sentido das duas versões é que na verdadeira, a que Pessoa escreveu mesmo,
a) «crianças» tem menos importância, por faltar o determinante «as» e, assim, ficarem as crianças no mesmo plano que «flores» e «música».
b) «crianças» tem mais importância.
Tarefa da aula 20
Os trechos que copiei nesta folha são do Diário Secreto de Camila, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, tal como os que no manual estão nas pp. 51-52 («Página de um diário») e na p. 85 («Sacrifícios»). Lê-os segundo a ordem dos dias a que respeitam e preenche o quadro:
Dia / As preocupações maiores de Camila são...
4 de Novembro: ...
8 de Novembro: ...
10 de Novembro: ...
11 de Novembro (p. 85): ...
19 de Fevereiro (pp. 51-52): ...
4 de Novembro (à noite)
Fui para a escola em jejum e com uma ideia luminosa vibrando na cabeça: talvez o surfista estivesse na secretaria a pedir a transferência... Ainda tentei congeminar uma cena de encontro em que ele avançava de frente para mim, mas não fui capaz. Imaginei-o então de esguelha, a preencher papéis, com os cabelos manchados caídos para a testa. Não tive qualquer dificuldade em rever mentalmente o perfil mais-que-perfeito, incluindo o traço ao canto da boca. Fiz o resto do caminho em tais ânsias que, se ele lá estivesse, acho que teria percebido tudo à primeira vista. Mas não estava e o choque foi tremendo. Encostei-me ao balcão da secretaria danada comigo por ter embalado a sonhar assim e danadíssima porque o sonho não se tornara realidade. Devo ter sido brusca com a empregada quando ela me perguntou o que queria, saí de rompante e segui para a aula evitando o bar para fugir ao cheiro dos bolos.
8 de Novembro
Odeio a minha turma. O ano passado estava noutra muito melhor, quer dizer muito pior, o que era óptimo. Quase todos os colegas tinham problemas complicados, não estudavam nada e portavam-se pessimamente. Os professores passavam a vida a fazer reuniões, às vezes até suspendiam a aula para termos uma conversa e assim davam pouquíssima matéria. Quem estudasse um mínimo conseguia nota máxima. Era o meu caso. Sentia-me supervalorizada, mas apesar disso arranjei vários amigos.
Maldita a hora em que a directora de turma resolveu chamar a minha mãe! Entenderam-se logo as duas de maravilha e o resultado foi este: passei de valorizada a marginalizada. Aqui já todos se conhecem, têm os seus grupos, não me ligam nenhuma. Eu também não me ralo muito, porque os rapazes são uns crianções e as raparigas bastante parvas, mas é chato estar quase sempre sozinha nos intervalos. E ainda há outro problema. Como toda a gente estuda imenso, damos toneladas de matéria em todas as disciplinas. Palpita-me que vou ter negas e estou com uma neura de cão.
10 de Novembro
Hoje estou mais bem-disposta porque comprei um poster espectacular com imagens dos campeonatos de surf no Hawai. Pendurei-o na parede ao lado da cama e o meu quarto até ganhou luz! Além disso não como bolos há uma semana. Devo ter emagrecido mas ainda não me quero pesar nem experimentar as calças de ganga.
A casa em frente continua vazia. Por que será que não se mudam? Preciso de lhe ver a cara. Às vezes penso que pode vir morar para ali outra família mas recuso-me a aceitar isso. Tem que vir ele, senão morro de desgosto!
[A fazer em folha solta]
Escreve a página do teu diário relativa a um dos dias de Outubro ou Novembro deste ano. Tal como se fez no diário de Camila, procura misturar o relato de factos com as opiniões que deles decorrem. (Se preferires, em vez de um dia mais desenvolvido, podes fazer vários mas mais curtos.)
Tarefa da aula 21
Os textos que se seguem pertencem ao Diário de Sofia & C.ª (aos 15 anos), de Luísa Ducla Soares. Lê cada um deles e vai escolhendo V ou F, consoante as afirmações sejam verdadeiras ou falsas.
4 de Março - Sofia julga mesmo que houve um vírus.
8 de Março - Sofia tem muitos apaixonados.
9 de Março - Houve um bebé que deixou de ir à escola.
12 de Março - Sofia considera os pais antiquados..
12 de Março - Para Sofia é importante que os amigos queiram saber dela.
18 de Março - Cátia, Sofia e Miguel quiseram denunciar o Jorge Ferreira.
18 de Março - Sofia ficou desesperada por ter denunciado o Jorge Ferreira.
18 de Março - Sofia ficou desesperada por, sem querer, poder ter denunciado o Jorge Ferreira.
19 de Março - Sofia queria que os avós experimentassem pizza.
19 de Março - Sofia queria evitar comer línguas de bacalhau.
20 de Março - Sofia está infeliz, porque os pais se separaram.
20 de Março - Sofia deseja que os pais se separem.
4 de Março
Este ano quase toda a gente apanhou gripe, constipações, resfriamentos. Às vezes nas aulas desatamos todos a espirrar, uns sem querer, outros de propósito, para os professores ficarem furiosos.
Acho que o vírus diabólico vinha nos sacos de água que apanhámos no Carnaval.
O setôr de ginástica é obrigado a dispensar-nos, porque, se não o fizer, tossimos tanto que ele até fica surdo.
A setora de matemática, que é maníaca, diz que qualquer dia a contaminamos e já não chama ninguém ao quadro.
Para a assustar ainda mais, o Raul espalhou ramos de eucalipto pela aula e pôs em cima da secretária um monte de radiografias.
Foi remédio santo, nós é que estamos doentes, ela é que faltou uma semana.
8 de Março
Os meus pais pensam que eu tenho muitos apaixonados. Passam a vida a dizer parvoíces, à moda do tempo deles.
Se soubessem...
O Rodrigo adorava-me, agora trata-me por «micróbio falante».
O Raul telefona-me todas as noites, a fazer queixas da Inês.
O Zé bate-me à porta porque a mãe da Sílvia não a deixa sair sozinha com ele e eu faço de pau-de-cabeleira.
O Pedro chateia-se a toda a hora com toda a gente, só comigo é que não. Procura-me só para desabafar.
O Fernando anda perdido por uma inglesa que conheceu em Albufeira. Quer que eu o ajude a escrever e decifrar cartas, porque é um zero a línguas. Com certeza em Albufeira só dava beijos à rapariga, nem sequer falou com ela...
O Miguel toca-me constantemente à porta... Mas vem quase sempre com a Cátia. Tem um pacto secreto comigo. E os pactos, que eu saiba, não levam a paixões. Antes levassem...
Todos me convidam para o cinema, para a praia, para os anos, para fazer número. Falam-me a combinar as horas, a pedir para eu preparar sanduíches, comprar fruta, prendas, bilhetes...
Mas que me importa?
É tão bom ser livre!
9 de Março
O Bebé não voltou mais à escola. Anda na vadiagem, foge de nós. Acho que toda a gente está a ficar farta dele.
12 de Março
[lê no teu manual, na p. 81]
18 de Março
[lê no teu manual, nas pp. 53-54]
19 de Março
Como sabia que o petisco que a avó Glória me ia dar eram línguas de bacalhau porque as vi de molho, resolvi escapar a esse tormento horripilante. Comprei uma pizza e apresentei-me lá com ela, ainda quentinha.
— É para provarem.
A avó torceu o nariz.
Mas o avô Francisco provou, repetiu e combinou comigo irmos no domingo todos a uma pizzaria.
— Nunca pensei que o avô gostasse... — descaí-me logo eu.
Ele deu-me uma palmadinha nas costas.
— Quando era miúdo passava-se uma fome... Fiquei órfão com 9 anos. Uma vizinha dava-me um pão saloio, outra um pedaço de queijo, outra uma sardinha, uma cebola ou chouriço. Eu apanhava tomates, no tempo deles, punha tudo numa grande fatia de pão. Pedia à tia Joaquina, que tinha forno, para aquecer lá a minha comida e, sem saber, já então comia pizzas!
20 de Março
Os pais da Vanessa divorciaram-se agora. Mais uns. De 31 que somos na minha turma, 11 são filhos de pais divorciados. É certo que 2 são gémeos. Mesmo assim...
Os adultos, principalmente os velhotes, andam sempre com muita pena dessas pobres criancinhas. Mas eu vejo que eles nalgumas coisas têm muito mais sorte. O pai e a mãe nunca entram de acordo para lhes dar um castigo. Recebem duas semanadas, têm férias por duas vezes. Os padrastos e madrastas que eu conheço são simpáticos, evitam discussões, dão-lhes imensa liberdade.
Os que não têm padrastos recebem todos os miminhos da mamã...
A mim marcam-me sempre horas certas (e estúpidas) para chegar, fico sem semanada por dá cá aquela palha. Os meus pais fartam-se de discutir um com o outro mas, quando se trata de me prejudicarem, estão sempre de acordo! Será que algum dia se irão divorciar?
«Olho para a televisão. Passa anúncios — gente feliz porque gasta lixívia, usa collants, lava os dentes. Feliz pela coca-cola, pelo papel higiénico, pelas batatas fritas, pelos insecticidas...» (12 de Março; p. 81 do manual). Tenta escrever outras satisfações consumistas ou fúteis. Dou mais um exemplo:
Feliz por pôr uma bandeira na janela a apoiar a selecção portuguesa;
Feliz por ...
Feliz por ...
Feliz por ...
Feliz por ...
Feliz por ...
Feliz por ...
Tarefa da aula 22
Circuito fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro‑negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforo. Paletó, gravata, Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Ricardo Ramos, Circuito fechado
O fardo do homem bronco
Chegar a casa. Abrir a porta. Descalçar os sapatos. Fechar a porta. Despir metade da roupa. Abancar no sofá. Ligar a televisão. Ver que está novela (uma morena com ar tolo interpelando um idiota ainda mais moreno, num cenário ranhoso). Mudar de canal e ver que está novela. Mudar de canal e ver que está uma série chamada «Cops» (polícias americanos gordos empurrando pretos para cima da capota de um carro). Mudar de programa. Levantar. Ir à cozinha. Preparar uns ovos com fiambre. Beber sumo de fruta. Escutar o vento. Suspirar. Regressar ao sofá. Desligar a televisão. Olhar a estante dos livros. Sentir os olhos doendo. Dormitar meia hora. Ligar a televisão. Ver o Carlos Cruz num sofá amarelo. Mudar e ver a Maria Vieira. Desesperar. Respirar fundo. Evocar com nostalgia as velhas séries inglesas. Sentir‑se de repente muito velho. Fazer nota mental: não esquecer de dar um tiro na cabeça qualquer dia. Recolher ao leito.
Luís Coelho, «Públicas vicissitudes», Expresso, pp. R52-R55, 4 de Fevereiro de 1995, p. R55.
Relativamente ao texto «Circuito fechado»:
A impressão de ritmo-monótono-do-dia-a-dia resulta de quê? [Como se conseguiu esse efeito?] __
A que classe pertencem todas as palavras deste texto (se exceptuarmos «e» ou «de»)? __
Relativamente a «O fardo do homem bronco»:
Qual é classe de palavras que inicia todas as frases? ____
O efeito conseguido é semelhante ao do texto anterior? ___
Faz um texto ao estilo de «Circuito fechado» — só com nomes, portanto —, sobre um dia normal, teu ou de outra pessoa, ou sobre um dia de verão ou um domingo, ou sobre um momento qualquer mais curto que implique algum tipo de rotinas: por exemplo, espectáculo ou jogo, algum acto de sociedade (festa, cerimónia, ....). O teu texto escusa de ser tão grande quanto o de Ricardo Ramos; bastará cerca de metade da extensão.
Tarefa da aula 23-24 (7.º 2.ª; 7.º 3.ª) ou 25-26 (7.º 1.ª, 7.º 5.ª, 7.º 6.ª)
Tendo também em conta o filme cuja primeira parte viste — Anne Frank —, lê no manual (pp. 65-66) a página do diário de Anne relativa a 7 de Novembro de 1942.
Na página de diário que vimos, Anne está
a) em Amesterdão, no anexo onde os Frank viviam clandestinamente.
b) no campo de concentração de Auschwitz.
c) no campo de concentração de Westerbork.
Nesta página do seu diário, Anne dirige-se
a) à mãe.
b) a si própria, no fundo, como se estivesse a reflectir.
c) a uma sua amiga, Kitty.
Anne sente
a) afinidades semelhantes por pai, mãe e irmã.
b) maior proximidade relativamente ao pai, enquanto se ressente da frieza da mãe.
c) que pai e mãe a rejeitam, e que só a irmã a compreende.
Na origem destas queixas de 7 de Novembro esteve o facto de
a) Anne ter surripiado um livro da irmã.
b) Anne ter aproveitado para ver um livro que a irmã não estava a usar naquele momento.
c) Anne estar a ler um livro que a irmã abandonara e não o ter cedido imediatamente assim que Margot se dispusera a voltar à leitura.
Os sentimentos de Anne devem-se
a) apenas àquele episódio em particular, que era uma situação inusual.
b) ao tipo de relações que havia entre ela e os pais, naquele dia manifestadas naquele episódio em concreto.
c) a uma distorcida visão dos factos, já que ambos os pais tinham por ela o mesmo tipo de afeição.
O sentimento de Anne é de
a) saudade.
b) irritação.
c) mágoa.
No verso desta página pus reportagem sobre caso, recentemente noticiado, que tem semelhanças com o de Anne Frank. O artigo é de Simon Kuin e saiu há pouco no Expresso (caderno Única, 6-11-2004, p. 28). [No blogue não se copia o texto]
Pode ver-se também:
http://geocities.yahoo.com.br (dw/article/0,1564,1231515,00)
http://www.channels.nl (amsterdam/annefran)
http://www.annefrank.com
Tarefas da aula 25-26 (7.º 2.ª; 7.º 3.ª) ou 23-24 (7.º 1.ª, 7.º 5.ª, 7.º 6.ª)
Nas pp. 57-58 do manual temos o texto «O acidente», tirado de Cortei as Tranças, de António Mota. Vai lendo e escolhendo as respostas certas. (As perguntas são relativas aproximadamente às linhas que à esquerda vou anunciando.)
[ll. 1-2] A narradora tinha o
a) 6.º ano de escolaridade.
b) 7.º ano de escolaridade.
c) 5.º ano de escolaridade.
[ll. 3-6] Saída do banho, a narradora via-se ao espelho,
a) com certa vaidade.
b) envergonhada.
c) assustada, por o seu corpo estar diferente.
[ll. 7-15] A mãe saíra para
a) o emprego.
b) entregar o que fizera em casa.
c) fazer compras.
[ll. 16-31] Apesar de ter ouvido passos na escada, deixou-se ficar despida, porque
a) imaginou que fosse o seu irmão Julinho.
b) imaginou que fosse o seu irmão Miguel.
c) se queria mostrar assim a Eleutério, o namorado.
[ll. 32-48] Era afinal o pai, que lhe disse para não se demorar, porque
a) algo de grave acontecera.
b) ficara aborrecido por perceber que ela estava a ver-se ao espelho.
c) queria que a casa de banho ficasse livre.
[ll. 49-52] «A corrida louca do táxi tornou-se de repente interminável e mais lenta que o andar dum caracol» significa que
a) houve de repente um engarrafamento.
b) a Marta se apercebeu de que algo grave acontecera à mãe.
c) o táxi tivera um acidente.
[ll. 53-63] Por este final de texto, ficamos a saber que
a) o corpo de Marta parecia transformar-se em pássaro.
b) a mãe de Marta fora atropelada.
c) a Marta se revoltara.
A seguir transcrevo duas frases que no livro Cortei as Tranças estão antes e depois da parte que ficou no manual. Lê essas duas frases e diz como se relacionam entre si e com o texto lido.
«Nesse tempo, minha mãe gostava de me entrançar os cabelos e aproveitava para também me pentear o miolo com umas conversas que eu conhecia de cor» (capítulo 1, p. 13);
«Dias depois do funeral fui à cabeleireira e pedi-lhe que me cortasse as tranças» (capítulo 4, p. 25).
O corte das tranças marca uma mudança na vida de Marta: ._____
Vê agora o poema «Para Sempre» (p. 61 do manual). O seu autor, Carlos Drummond de Andrade, é um poeta brasileiro, aliás um dos maiores poetas de língua portuguesa. (Lê na p. 10 a breve biografia que o manual apresenta e depois regressa à p. 61.)
Copia os vv. 1-2 da primeira estrofe e 1-3 da segunda, adaptando-os ao português europeu.
1.ª estrofe, vv. 1-2:
2.ª estrofe, vv. 1-3:
Na 1.ª estrofe há várias definições de mãe, todas elas a comprovarem que «mãe não tem limite». Copia-as:
v. 4 é tempo sem hora
vv. 5-7 ___________
vv. 8-9 ___________
v. 10 _______ / _______
v. 11 _________
v. 16 é eternidade
Nos três primeiros versos da 2.ª estrofe, o poeta mostra
a) dúvidas sobre se Deus existe.
b) querer resolver um mistério.
c) inconformismo por as mães também morrerem.
d) lembrar-se de Deus.
Repara nos vv. 4-5 da 2.ª estrofe: «Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei». Nesta frase, baixava significa:
a) punha em baixo
b) punha em cima
c) estabelecia
d) descia
Que lei seria essa? (Vê os vv. 6-11 e tradu-los em linguagem simples.)
Que as mães _________
Tarefas da aula 27-28
Lê o pequeno texto que está no cimo da p. 72 do manual, tirado de O Mundo em que Vivi, de Ilse Losa. Trata-se aliás do início desse livro.
São aí retratadas três personagens: ______, no 1.º parágrafo; ______, no segundo parágrafo; a própria ______, no 3.º parágrafo.
Vê agora a seguinte série de adjectivos e escreve à sua esquerda os nomes a que se no texto se reportam: _____ alto; _____ magro; _____ larga; _____ ossuda; ______ avermelhada; _____ claros; _____ tristes; _____ pendente; _____ apurado; _____ farto; ____ penteado; _____ esguia; _____ imponente; _____ baixa; ______ miúda; ______ branco; ______ penteado; _____ redondo; _____ apertado; ______ escuros; ______ frágil; ______ louro; ______ lisas.
Ponho a seguir o final de O Mundo em que Vivi. Nesta parte do livro, a narradora — que no texto que leste se decrevia como «menina frágil, de cabelo louro, de feições infantilmente lisas» — está agora numa circunstância dramática (que nos lembra Anne Frank).
— Vamos, vamos. Tenho mais que fazer do que estar ao seu serviço, judia Frankfurter.
— Não sei por que é que escrevi aquilo... (Não me ocorreu outra coisa que lhe pudesse dizer).
Bateu com o punho na mesa:
— Não sabe? É o cúmulo! Não estava no seu juízo perfeito, hem? O que não me admira. Juízo é coisa que os judeus não têm. Ou é porventura sonâmbula, judia Frankfurter? Neste caso talvez lhe fizessem bem umas férias num sítio bonito, cheio de verdura. Temos um bom sortido, e luar não falta em nenhum deles...
O corpo gela-se-me. Quero viver. Tenho o direito de viver. Quero estar debaixo do meu salgueiro e ouvir os soluços de Raquel, a ninfa. Quero ir com o avô Markus buscar a Boneca-Mais-‑Linda-do-Mundo, quero andar de trenó, comer maçãs assadas e pão escuro com geleia de framboesa...:
— Porque é tão cruel?
[...]
— Onde é que íamos, judia Frankfurter? Ah, sim... os judeus nunca estão no seu juízo perfeito...
As mãos brincam com a carta de Kurt.
Sinto calor. Gostaria de tirar a boina. Tiro-a mesmo.
— Tem piada: uma judia loura. Há cada coisa neste mundo!
Não me mexo. Tudo em mim é tensão.
— Ora diga, judia Frankfurter, sabe que os judeus são uma raça inferior que tem que ser exterminada? Que são a nossa desgraça? Pior que a piolhada? Mas não pode compreender, claro. Numa palavra: o meu dever é prendê-la. Mas o que sabem os judeus do dever?
Espero. Espero. Minutos de tormenta. Minutos sem fim. Espero, hirta, calada. Mas atrás da minha testa o sangue bate com força.
— Judia Frankfurter, é muito loura. E eu estou bem disposto hoje. Acontece-lhe estar bem disposta, por vezes?
— Acontece.
Meu Deus, meu Deus! O sangue, o sangue. Rebenta-me a testa, as fontes.
Carrega num botão. Entra uma rapariga.
— Escreva. Directamente na máquina.
O bater da máquina. Não ouço o que o homem dita, só ouço o bater da máquina. Taquetaquetaquetaque... Os joelhos colam-se-me um contra o outro. Eo sangue bate, a máquina bate... taquetaquetaquetaque...
A rapariga sai. Eo homem que tem o meu destino na mão, lê em voz alta:
«Eu, Rose Frankfurter, declaro que escrevi a carta a Kurt Feldberg, mas retiro as ofensas que fiz ao Führer do Terceiro Reich. O Führer...».
Não ouvi o resto, só ouvi o meu sangue bater. E vi os lábios moverem-se, para cima, para baixo, para cima, para baixo.
— Quer assinar?
Peguei na pena. A minha mão estava morta. Mas escreveu: Rose Frankfurter.
— Pronto. Isto será apresentado a uma instância superior. Dentro de cinco dias saberemos para onde a teremos de levar, judia Frankfurter.
E depois duma pausa:
— Se, nessa altura, ainda por cá estiver...
Levantei-me. «Cinco dias! Cinco dias!».
[...]
Aproximou-se, com passo hesitante, uma mulher franzina, quarentona. O funcionário, junto da porta, fez-me um sinal imperioso:
— Você, pequena, desapareça! Sem demora, ouviu?
[...]
— Bom dia, disse eu e não sabia se o disse para o homem que me interrogara ou para a mulher de cabelo preto e pele amarelada.
— Heil Hitler!, despediu-se o homem.
Mas não respondi.
Passei pela mulher. Gostaria de lhe dizer: «Ele está bem disposto. Tenha coragem!». Mas eu sabia: esta não recuperará a liberdade. E senti repugnância por mim própria, vergonha de ser nova e de ter um aspecto «ariano». Do meu prazo de cinco dias...
Novamente o corredor comprido. Portas, portas, portas.
Homens e mulheres: gente, gente: uns de cabeça enterrada nas mãos, outros com os olhos cravados no vazio, outros a chorar em surdina.
Alexanderplatz. O mar da multidão que me absorve, a mim, a gota insignificante, que vivia, respirava, via o céu, o sol. Ao meu lado, diante de mim, atrás de mim, corpos, rostos, vozes. Gente como eu. Mas ninguém sabe que a minha vida esteve em jogo poucos minutos antes, que eu, judia Frankfurter, tenho cinco dias para deixar o país.
Escolhe a alínea certa:
Rose Frankfurter é
a) narradora deste texto mas não personagem.
b) narradora e também personagem.
c) personagem mas não narradora.
Percebemos que Rose terá escrito
a) um bilhete ao Führer.
b) uma carta a um amigo em que dizia mal de Hitler.
c) uma carta ao Führer.
«Quero estar debaixo do meu salgueiro e ouvir os soluços de Raquel, a ninfa. Quero ir com o avô Markus buscar a Boneca-Mais-Linda-do-Mundo, quero andar de trenó, comer maçãs assadas e pão escuro com geleia de framboesa...». Ao escrever isto, a narradora
a) recorda momentos da infância, porque está agora numa situação de grande angústia.
b) sonha com situações que pensa realmente ainda poder viver.
c) delira, dado estar extremamente fatigada.
«Passei pela mulher. Gostaria de lhe dizer: "Ele está bem disposto. Tenha coragem!". Mas eu sabia: esta não recuperará a liberdade. E senti repugnância por mim própria, vergonha de ser nova e de ter um aspecto "ariano". Do meu prazo de cinco dias...». A narradora sente um peso na consciência por
a) ter sido deixada em liberdade, porque não era judia, o que não acontecerá com aquela mulher, que é realmente judia.
b) ter sido deixada em liberdade, porque, apesar de judia, ser loura, o que ela percebe não irá suceder àquela mulher, que é judia e morena.
c) ter denunciado, ainda que sem querer, aquela mulher judia, enquanto ela ficava em liberdade, pelo menos durante cinco dias.
O texto — e, portanto, o livro — termina com Rose
a) indiferente, entre a multidão, disposta a fazer a mesma vida de sempre.
b) aliviada, por ter escapado.
c) angustiada, por ter de sair do país o mais depressa possível.
Continua a série com recordações tuas — umas cinco, igualmente prazenteiras —, ao estilo das que ficaram na memória de Rose:
estar debaixo do meu salgueiro
ir com o avô Markus buscar a Boneca-Mais-Linda-do-Mundo
andar de trenó
comer maçãs assadas e pão escuro com geleia de framboesa
..............
O Mundo em que Vivi tem bastante de autobiográfico, ainda que não seja exactamente a biografia de Ilse Losa. Vê na p. 17 do manual o que se diz sobre a escritora.
Lê agora «Duas pessoas extraordinárias» (p. 69 do manual).
Podemos aplicar ao avô do narrador quatro dos seis adjectivos que se seguem. Marca os dois que estão a mais:
desordenado; reformado; calmo; meticuloso; nervoso; arranjado.
Façamos o mesmo com nomes (quais dos seguintes também não lembram o avô?):
miniaturas; sábados; sorriso; futebol; barcos; bolinhos.
Pensa numa figura histórica, personagem literária ou figura pública, etc. Escolhe cinco adjectivos que a caracterizem, o mais especificamente possível. (Depois tentar-se-á que identifiquemos a pessoa ou personagem em causa.)
________
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Tarefas da aula 29-30
Pus a seguir três trechos do livro Que ano aquele!, de Oriol Vergés. Esses trechos foram suprimidos no texto do manual («Duas pessoas extraordinárias», pp. 69-70) e, por isso, estão assinalados com «(...)» (ll. 13, 24, 46). Faz corresponder às linhas os textos omitidos:
Ela e a Tata passavam grandes bocados a conversar. A Tata sempre com a lágrima ao canto do olho, e a fungar, mas a avó, nunca. E também não tenho nada que dizer do avô, que nunca perdeu a compostura diante de mim. Quando falávamos dos meus pais, fosse do papá ou da mamã, referiam-se a eles como se fossem personagens históricas, quero dizer, muito distantes no tempo, e sempre com muita delicadeza. E evidentemente que deviam sofrer muito. Se se referiam assim a eles, era por minha causa.
E devia andar um bocado na lua, porque, um dia, um par de gajos — deveria dizer mais altos e fortes do que eu, mas não creio que fossem — atacaram-me. Andava de tal maneira baralhado com os meus pensamentos, que nem percebi o que me disseram; não os entendi. Melhor dizendo, nessa altura só estava preocupado com o papá. Um deles sacou de uma navalha e dei-lhe as mil pesetas que tinha comigo.
Só tinham um defeito, embora, pensando bem, não se pudesse considerar um defeito; tinham de ir ao cinema duas tardes por semana. E, se no filme — por que os acompanhei um par de vezes — aparecia uma senhora meia despida, ou uma cena de amor na cama, a avó ficava tão incomodada que começava a contar-me em voz alta qualquer coisa que não tinha nada a ver com o filme. Sob os fortes protestos das cadeiras vizinhas, claro.
Vejamos, de novo, textos de diários, agora uns dias do Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 anos e ¾, de Sue Townsend.
Sábado, 24 de Janeiro
Hoje foi o pior dia da minha vida. A minha mãe ficou com um emprego a fazer a porcaria da dactilografia numa companhia de seguros! Começa na segunda-feira. O Sr. Lucas trabalha na mesma companhia. Vai-lhe dar boleia todos os dias.
E o meu pai está mal-disposto — pensa que se acabaram os tempos de ouro.
Pior do que tudo, o Bert Baxter não é um reformado velhinho e simpático! Bebe e fuma e tem um lobo-d’alsácia chamado «Sabre». O «Sabre» esteve fechado na cozinha todo o tempo enquanto eu aparei a sebe, mas não parou de rosnar nem um bocadinho.
Mas ainda pior que isso! A Pandora namora com o Nigel!!!!! Acho que nunca mais vou recuperar deste choque.
Domingo, 25 de Janeiro
TERCEIRO DEPOIS DA EPIFANIA
10 da manhã. Estou doente por causa de todas as preocupações, muito fraco para escrever muitas linhas. Ninguém reparou que eu não tomei o pequeno-almoço.
2 da tarde. Tomei duas aspirinas júnior e fui passear um bocado. Talvez quando eu for famoso e o meu diário for descoberto as pessoas compreendam o tormento de ser um intelectual incompreendido de 13 anos e ¾.
6 da tarde. Pandora! Meu amor perdido! Agora nunca vou tocar os teus cabelos cor de melaço! (Embora a minha caneta de feltro azul continue à tua disposição.)
8 da noite. Pandora! Pandora! Pandora!
10 da noite. Porquê? Porquê? Porquê?
Meia-noite. Comi uma sanduíche de pasta de camarão e uma tangerina (para bem da minha pele). Sinto-me um bocado melhor. Espero que o Nigel caia da bicicleta e seja atropelado por uma camioneta. Nunca mais lhe falo. Ele sabia que eu estava apaixonado pela Pandora! Se me tivessem dado uma bicicleta de corrida no Natal em vez da porcaria do despertador electrónico com rádio, nada disto tinha acontecido.
[...]
Terça-feira, 27 de Janeiro
A aula de Desenho hoje foi impecável. Pintei um rapaz solitário em cima de uma ponte. O rapaz tinha acabado de perder o seu primeiro amor para o seu ex-melhor amigo. O ex-melhor amigo debatia-se na corrente torrencial do rio. O rapaz estava a ver o ex-melhor amigo a afogar-se. O ex-melhor amigo parecia-se um bocado com o Nigel. O rapaz parecia-se um bocado comigo. A Sr.ª Fossington-Gore disse que o meu desenho «tinha profundidade», o rio também tinha. Ah! Ah! Ah!
Quarta-feira, 28 de Janeiro
Hoje de manhã acordei um bocado engripado. Pedi à minha mãe para me escrever um bilhete para ter dispensa da Ginástica. Ela disse que se recusava a dar-me mimo durante mais um dia que fosse! Gostava de vê-la a correr num campo todo lamacento, com a chuvinha fria, só com uns calções de ginástica e uma camisola de algodão. No ano passado, quando eu entrei na corrida de três pernas do dia de desporto da escola, ela foi lá ver-me, e levou o casaco de peles e pôs um cobertor à volta das pernas, e já estávamos em Junho! De qualquer maneira, a minha mãe arrependeu-se. Jogámos futebol e a roupa da ginástica ficou tão cheia de lama que entupiu o esgoto da máquina de lavar roupa.
O veterinário telefonou para irmos buscar o cão. Já está lá há nove dias, desde que foi operado. O meu pai diz que vai ter de ficar até amanhã, quando receber o ordenado. O veterinário só aceita pagamento em dinheiro e o meu pai não tem um chavo.
Pandora! Porquê?
[...]
Quinta-feira, 12 de Fevereiro
ANIVERSÁRIO DE LINCOLN
Esta noite encontrei a minha mãe a pintar o cabelo na casa de banho. Isto para mim foi um autêntico choque. Durante treze anos e três quartos pensei que tinha uma mãe ruiva, mas afinal tem o cabelo castanho claro. A minha mãe pediu para eu não dizer nada ao meu pai. Em que estado deve estar o casamento deles! Será que o meu pai sabe que ela usa um soutien acolchoado? Ela não o pendura na corda a secar, mas eu vi-o uma vez atirado para o pé do armário da roupa suja. Pergunto a mim mesmo que mais segredos terá a minha mãe?
Sexta-feira, 13 de Fevereiro
Foi mesmo um dia de azar para mim!
A Pandora já não se senta ao meu lado na aula de Geografia. Agora é o Barry Kent. Não parou de copiar o meu ponto e de fazer balões de pastilha elástica para as minhas orelhas. Fiz queixa à Sr.ª Elf, mas ela também tem medo do Barry Kent, portanto também não lhe disse nada.
A Pandora hoje estava apetitosa, levava uma saia aberta que lhe deixava as pernas à mostra. Tem um arranhão num dos joelhos. Levava o lenço da equipa de futebol do Nigel atado à volta do pulso, mas a Sr.ª Elf viu e mandou-a tirá-lo. A Sr.ª Elf não tem medo da Pandora. Mandei-lhe um cartão de S. Valentim (à Pandora, não à Sr.ª Elf).
Com um ou dois adjectivos caracteriza Adrian (segundo a sua preocupação maior, o seu estado de espírito, a sua situação, ...) em cada um dos dias:
24 de Janeiro: _______; 25 de Janeiro: _______;
27 de Janeiro: ______; 28 de Janeiro: ________;
12 de Fevereiro: ______; 13 de Fevereiro: _______.
Tarefas da aula 31-32
Em baixo ponho as páginas que se seguem ao trecho de As memórias de Adalberto que leste no manual («A festa dos meus doze anos»; p. 77-78).
A festa foi um espanto. Nunca me diverti tanto na minha vida.
O João trouxe um grupo de rapazes afinadíssimos e estivemos toda a tarde no quarto: eu toquei piano e eles disseram-me que sou bom naquilo e depois acompanharam-me com as guitarras e a bateria. Parecia um conjunto a sério!
À tardinha, a minha mãe apareceu à porta:
— Querem tomar alguma coisa?
Apareceu mesmo na altura em que o João, em mangas de camisa, estava a fazer um solo excepcional na bateria. Parou a ouvi-lo e no final bateu palmas.
Muito bem!
E o João, para retribuir, deu um longo assobio quando ela fechou a porta.
— Que linda mulher! É tua irmã?
O João às vezes exagera: mas quem julga ele que é, um homem?
— Bem, mas que foi? Por que é que ficaste assim tão chateado? Estás com ciúmes?
— Eu, ciúmes? Mas claro que não! Da minha mãe?
[Claro que tenho ciúmes. E depois? Mete-te mas é nos teus assuntos!]
No entanto, feitas as contas, foi a melhor festa de que me lembro.
Eu também sei marcar golos
Treinei-me durante três meses, uma hora cada tarde. O João disse-me das boas, esfolei os joelhos cinco vezes, rebentei com dois pares de sapatilhas de ténis, deixei ficar quatro vezes o pudim de chocolate porque não tinha tempo para o comer e rompi duas camisolas novinhas em folha.
Em compensação, parece-me que cresci uns centímetros e tenho as barrigas das pernas mais grossas; em resumo, jogo com o número 3 e amanhã é a minha estreia na nossa equipa.
Pedi para me pregarem o número 3 na camisola e comprarem uns calções pretos e vermelhos.
Antes de ir para a cama, o meu pai deu-me uma lição de jogo: estava morto de desejos de me ir ver, mas eu proibi-lho.
Não posso correr o risco de ver no campo a família toda!
Sob cada um destes provérbios escreve, em linguagem objectiva (não figurada), o que nele se defende. (Repara no exemplo que dou para o 28.)
1 Amizade de um dia, recordação de um minuto.
2 Boa amizade, segundo parentesco.
3 Boas contas fazem boa amizade.
4 Longa amizade, pouca intimidade.
5 Na necessidade se prova a amizade.
6 Quando o amor nos visita, a amizade se despede.
7 Perde mais amizades quem mais teima em verdades.
8 Amigo de bom tempo muda-se com o vento.
9 Amigo do meu amigo meu amigo é.
10 Amigo não empata amigo.
11 Bons amigos, bons conselhos.
12 Bolsa vazia afugenta amigos.
13 Arrenego o amigo que me encobre o perigo.
14 Ao rico mil amigos o amparam, ao pobre seus amigos o desamparam.
15 Ao amigo ama-o com os seus vícios.
16 Amigos, poucos e bons.
17 Amigo reconciliado, inimigo dobrado.
18 Amigos, amigos, negócios à parte.
19 Amigos que desaparecem esquecem.
20 Bom é ter amigos nem que seja no inferno.
21 Azeite, vinho e amigo, o mais antigo.
22 Para que a amizade se mantenha é preciso que vá e venha.
23 Enquanto ferve a panela floresce a amizade.
24 A amizade desaparece quando a dúvida aparece.
25 Amigo não tem defeito, ao inimigo até se inventa.
26 Amigo de mesa não é de firmeza.
27 Amigo de todos, amigo de nenhum.
28 Ao amigo que pede não se diz amanhã.
Não se deve hesitar em cumprir um pedido de um amigo.
Tarefa da aula 34 (ou 36, para o 7.º 6.ª)
Abrindo o livro na p. 74, lê o texto «À procura de pechinchas», de Catarina da Fonseca (Catarina da Fonseca é filha de Alice Vieira e Mário Castrim — podes ver a sua ainda curta biografia na p. 14).
Numera estas acções (de 1 a 15), segundo a ordem por que aconteceram:
A - A narradora e a tia entraram numa loja escura.
B - A tia pagou o quadro.
C - A tia tropeçou no cão de porcelana.
D - A tia abraçou o quadro.
E - O vendedor pegou no braço da tia Angelina para a levar a outras secções da loja.
F - O vendedor dirigiu-se à narradora.
G - A tia espetou um dedo na cara do dono da loja.
H - O dono da loja mostrou uma série de objectos desinteressantes.
I - A tia caiu por cima de um monte de cabides.
J - A tia ficou enrolada entre tapetes e toalhas.
L - A tia observou brevemente o bacio às flores.
M - A tia interessou-se vivamente por um quadro.
N - A narradora viu um enorme cão de porcelana e deu um grito de medo.
O - A tia discutiu com o vendedor.
P - A tia reparou num quadro.
A tia Angelina gostava de «pechinchas», quase sempre objectos indescritíveis e que nunca se sabia para que serviam:
Um bacio de porcelana às florinhas;
Um postal todo semeado de estrelinhas e coraçõezinhos com duas criaturas que era suposto serem pombas (mas pareciam dois pinguins), com a frase «juntos voaremos como passarinhos».
Escreve tu agora uma lista de objectos destes — sem utilidade (ou que, tendo tido utilidade em dado momento, acabaram por ficar obsoletos, esquecidos num sótão ou numa gaveta de casa de férias ou numa mala atafulhada de coisas da infância). Podes pensar em objectos que tenhas conhecido, teus ou não, ou imaginá-los, mas procura fazer descrições pormenorizadas (por exemplo, como a que transcrevi do postal).
Tarefas da aula 33-34 (7.º 2.ª e 7.º 5.ª), 35-36 (7.ª 1.ª e 7.º 3.ª), 37-38 (7.º 6.ª)
Seguem-se trechos de um diário escrito por uma turma de sétimo ano, em 1989/90.
Esse diário foi feito, portanto, há quinze anos. Os seus autores — os alunos do 7.º 10.ª — terão agora cerca de 27 anos. Nota que a personagem e a turma que são os protagonistas do diário foram inventados pelos alunos do 7.º 10.ª, não são eles próprios (embora a acção também decorra num suposto 7.º-A da Escola Secundária de Benfica).
Vai lendo o texto e marcando — com V ou X, talvez — os gostos comuns e, ao contrário, aquilo que rejeitarias. (Na Gaveta de Nuvens vou pôr o diário completo; se puderes, dá depois uma vista de olhos.)
Terça-feira, 15 de Maio de 1990
Já sei como vai ser o programa da minha festa: às 2 —recepção aos amigos; às 3 — piscina; às 5 — começo do lanche; às 5h30 — jogar ao quarto escuro; às 6h30 — ver o filme Amigos inseparáveis.
Jantar: pasta de camarão e de carne, croquetes, batatas fritas, etc. (aperitivos); bacalhau com natas, peru, carne assada; champanhe & cerveja (bebidas).
Discos a pôr ao longo da festa: Xutos, Technotronic, Madonna (são os gostos deles, e eu devo receber bem os meus convidados...).
Terça-feira, 22 de Maio de 1990
É já depois de depois de amanhã que faço anos. Pus-me a pensar no que gostava de receber. Cheguei a esta
LISTA DE PRENDAS DESEJADAS
Aparelhagem;
Disco dos Bauhaus;
Disco dos The Cure;
Telefone para o quarto;
Prancha de Muri Santallon;
Camisola preta;
Skate Vision;
Jogos de computador;
Calções em licra;
Chuteiras Adidas, ‘Copa Mundial’;
Walkmans Sony;
Camisa do Benfica Hummel
Bola Adidas;
Computador PC200 + monitor;
Raquete de ping-pong Butterfly;
Máquina de barbear;
Perfumes;
Livros de BD.
Quarta-feira, 23 de Maio de 1990
Benfica, 0-Milan, 1. Não merecemos a derrota. E eu todo feliz antes do jogo (lavei cinco vezes a bandeira, o cachecol, o chapéu). ‘Tá mal, ‘tá mal.
Fui para a alameda da Universidade às quatro da tarde. Só, porque não queria carregar o meu pai, bêbado, de volta a casa.
Quando lá cheguei, sentei-me mesmo em frente do écran.
Já tinha começado o jogo — umas horas depois —, e apareceu um puto que pretendia que o lugar em que eu estava era seu. Já não sei o que se passou exactamente, mas o que é certo é que, pouco depois, se gerara uma confusão diabólica da qual eu era o protagonista.
A minha salvação foi o golo do Milan. As discussões pararam, tudo se calou.
O jogo acabou.
Vim para casa.
O meu pai chegou a casa, já passava da meia-noite. Bêbado.
Quinta-feira, 24 de Maio de 1990
Foi só um jogo; mas quase me subiu a asma à cabeça quando o holandês marcou o golo contra o Benfica.
“E que ganhe o melhor” e foi o que aconteceu. Porque estou nervoso, então? Por que razão me sinto culpado? Eu nem joguei.
Sábado, 26 de Maio de 1990
No meu dia de aniversário, fizemos isto.
Jantámos cá em casa. De seguida, fomos de metro para a Feira Popular. Pelas 2.30 da manhã fomos ao Kremlin; às 4, ao Bar Bairro Alto (até fechar). Acabámos na praia a ver o nascer-do-sol.
Fiz o rescaldo da festa.
PRENDAS RECEBIDAS:
Da Amanda — nada;
Da Carla — nada;
Do Paulo Jorge — um disco da Madonna;
Do Luís Miguel — bola de rugby;
Do Jorge — uma T-shirt dos New Kids on the block;
Do Tiago — Adrian Mole;
Do Mário Rui — o ponto de História;
Do Josué — cavalo em porcelana;
Da Vanessa — lapiseira & caneta;
Da Cristina — copo para guardar canetas;
Do Ivo — puzzle;
Da Mariana — caixa com pasta de dentes, shampoo, sabonete, gel de banho;
Da Catarina — After eight;
João Pedro — livro A sexologia;
Do Erwin — livro de Tom Sawyer;
Da tia Olga & tio Alberto — livro;
Dos avós — ténis Puma;
Da Joana — estojo para canetas;
De outros familiares — dinheiro; cinco ou seis pares de cuecas (tantas...); ténis (outros...); mini-snooker.
Domingo, 27 de Maio de 1990
Estive na praia. O mar estava muito calmo.
A praia está cada vez mais poluída, cheia de gente e de miúdas giras. A areia estava a ferver.
As pessoas pareciam as do anúncio da Pepsi. No bar da praia as bichas para a máquina de refrigerantes eram enormes. Um homem pediu-me um cigarro: disse-lhe que não fumava pois era asmático. Fiquei a ruminar o assunto e pensei combinar com os meus colegas fazermos uma campanha contra o tabaco. Já congeminei dois slogans:
‘Deixa de ser cobarde, apaga o cigarro qu’arde’;
‘Contra o catarro, morte ao cigarro’.
O calor era tanto, que vim cedo para casa.
Alunos do Sétimo Décima, Diário de João O'Brian, Escola Secundária de Benfica, 1989-90
Redigir (i) lista de prendas desejadas (pelo próprio). (ii) lista de prendas recebidas (por alguém: uma figura pública; um outro jovem; algum conhecido). Em ambos os casos, pretende-se lista de extensão semelhante às de João O'Brian e, sobretudo, indicação de cada objecto com bastante pormenor (quantidade, marca, tipo; títulos de livros ou discos; etc.). Na redacção 2, a lista é (ainda mais) inventada, mas de modo a estabelecer uma caracterização indirecta da pessoa em causa.
Tarefa da aula 35-36 (7.º 2.ª e 7.º 5ª), 37-38 (7.º 1.ª e 7.º 3.ª), 39-40 (7.º 6.ª)
Ouvida a gravação do texto «À procura do princípe encantado» [p. 90 do manual], de Primavera interrompida, de Daniel Marques Ferreira, assinala a alternativa certa.
A personagem mais em foco no texto que ouvimos é a
Márcia.
Sara.
Eunice.
São também personagens, embora secundárias:
Carina, Marina, Eunice.
Sabrina, Eunice, Márcia.
Sara e Eunice.
Segundo Sara, Márcia devia mudar de óculos, porque
as lentes tinham uma graduação já ultrapassada.
estava a ver cada vez pior.
a armação estava antiquada.
Márcia justifica o facto de manter os mesmos óculos com
não estar a precisar de mudar de lentes.
serem-lhe indiferentes os gostos dos outros.
ter dificuldades económicas.
Márcia é uma rapariga
bastante bem acolhida pelo seu grupo de colegas.
um tanto à margem do grupo mais na berra.
daquelas que na turma determina as modas.
Segundo Sara, Márcia, por rapazes,
não tem o mínimo interesse.
tem interesse e até certo atrevimento com eles.
tem interesse, mas, por timidez, com muita reserva.
Márcia pertence ao grupo das
«românticas mas não parvas».
românticas e leitoras de novelas.
que tinham posters de actores a decorar os quartos.
O que as outras raparigas dizem a Márcia é motivado por
amizade, num dos casos, ódio, em outro.
rivalidade, inveja, alguma hipocrisia.
franqueza (um tanto convencida talvez) e certo maternalismo.
A mais velha do grupo, e também por isso mais conciliadora, é
Márcia.
Eunice.
Sara.
As leituras de Márcia são
de literatura difícil e erudita.
de literatura sem grande valor e que relata paixões.
de literatura policial.
Márcia revela-se
bastante transigente, flexível aos argumentos dos outros.
sonhadora e um tanto individualista.
boa leitora e receptiva aos argumentos das amigas.
Para se defender da crítica às suas leituras, Márcia
compara os seus sonhos com os das colegas (igualmente irrealistas, segundo ela).
nega que os livros que lê promovam sonhos irrealistas.
diz que também as colegas liam o mesmo tipo de livros.
Um dos argumentos de Márcia é que
mais valia ler livros não muito bons do que nada ler.
os livros que lia teriam bastante qualidade.
mais valia ler livros fracos sobre paixões do que livros bons mas não românticos.
Outro argumento de Márcia é que também as outras
sonhavam com «príncipes encantados», os artistas que tinham em posters.
liam livros onde havia personagens por que se apaixonavam.
sonhavam com heróis da série de livros da «Sabrina».
Quando se alude a Vítor Baía, é porque
Márcia quer ridicularizar as paixões das colegas.
o guarda-redes passara perto da escola.
Márcia quer ridicularizar o clube de que as colegas eram adeptas.
Uma das colegas, para justificar o facto de saber como era história que Márcia lia,
confessa tê-la lido também.
alega que as histórias daquele tipo de livros eram sempre iguais.
alega que uma outra colega lhe dissera como era o livro.
Tarefa da aula 46 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 42 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Leitura de «Quem sou eu?» (pp. 95-96), para resposta aos pontos 1 e 2 da p. 97 (reconstituição do texto, criação de títulos para parágrafos).
Tarefa da aula 48 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 44 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Leitura de «Manelinho Caixadóculos» (p. 98), para redacção de dois parágrafos suplementares (ponto 1.2 da p. 99). Ler depois os parágrafos do livro original, de Elvira Lindo. (A seguir: esse trecho e alguns inícios de livros da mesma série do «Manelinho Caixadóculos».)
O Imbecil é o meu irmão pequenino, o único que tenho. A minha mãe não gosta que lhe chame o Imbecil; não há nenhuma alcunha a que ela ache graça. Que conste, que eu comecei a chamar-lhe assim sem me aperceber. Não foi daquelas vezes em que temos que apertar a cabeça para conseguir pensar.
Saiu-me logo no primeiro dia em que ele nasceu. O meu avô levou-me ao hospital, tinha eu cinco anos; recordo-me porque acabava de estrear os meus primeiros óculos e a minha vizinha Luísa dizia sempre: «Pobrezinho, com cinco anos».
Bem, aproximei-me do berço e fui-lhe abrir um olho com a mão, porque o Orelhudo me tinha dito que se o meu irmãozinho tivesse os olhos vermelhos é porque estava possuído pelo diabo. Fi-lo com a melhor das intenções e o tipo pôs-se a chorar com aquele pranto tão falso que tem. Então todos me saltaram em cima como se o possuído fosse eu, e pensei pela primeira vez: «Que imbecil!», e foi daquelas coisas que nunca mais nos saem da cabeça. Pelo que ninguém me pode dizer que lhe tenha posto a alcunha de propósito; foi ele, que nasceu para chatear e a merece.
Elvira Lindo, Manelinho Caixadóculos, p. 14.
Se pensam que sou um ser maravilhoso, não leiam este capítulo. A sério, se não o lerem têm a oportunidade de continuar a pensar que eu sou uma criança excepcional; se o lerem... saberão quem se esconde por detrás deste Manelinho mais-que-perfeito. Como aquelas tipas lindíssimas que apareciam na série V, que ocultavam atrás das suas máscaras de mulheres perfeitas os seus verdadeiros rostos: o de lagartas.
Por que conto, então, um capítulo que pode destruir a minha imagem pública? Para que vejam que tenho os meus defeitos, que sou um ser humano, e quase todos os seres humanos que conheço têm uns defeitos muito maiores que as suas virtudes. Menos Paquito Medina, que, como sempre, é um caso à parte na história da nossa espécie.
Elvira Lindo, A Roupa Suja. Manelinho Caixadóculos, p. 17.
No final do curso, quando entreguei as notas em casa, a minha mãe só leu o desapiedado chumbo que a minha profe me tinha dado a Matemática. A aprovação nas outras disciplinas não lhe importava nem um bocadinho. Saiu a chorar para os braços da Luísa da sua alma. O meu avô disse-me:
— A tua mãe enganou-se na profissão, podia ter sido uma grande actriz cheia de estilo.
Durante os dias seguintes olhava para mim com os olhos cheios de rancor, recordando-me a todo o momento que eu era aquele menino tão burro que tinha tido um chumbo a uma disciplina. Tanto me chateou que, no dia em que a Luísa se despediu porque ia para a sua mansão de Miraflores de la Sierra, a minha mãe disse-lhe de maneira a eu ouvir:
— Pois nós não vamos por culpa deste ranhoso, que tem o seu pai e eu sem dormir por culpa do maldito chumbo.
Elvira Lindo, Que Fixe! Uma nova aventura de Manelinho Caixadóculos, p. 17.
Não vão acreditar. Estas coisas só acontecem a essas crianças que entram nos filmes, mas na vida verdadeira dos habitantes do Planeta Terra nunca aconteceram. Se quando terminarem de escutar a minha incrível história se atreverem a assegurar diante de um Tribunal e com a mão sobre a Bíblia que a vocês aconteceram coisas mais aterrorizadoras que as que se passaram comigo, então ter-me-ei de calar como um morto para o resto da minha vida.
Não sei por onde começar. Por onde se começa uma história desta categoria? Segundo o meu avô, a quem a contei pelo menos quinze vezes (e continua a pedir mais e mais), o princípio seria no dia em que os meus pais discutiram por causa da viagem a Cuenca. Esse seria o princípio dos tempos. Bem, então começarei por aí:
Elvira Lindo, Manelinho on the road, p. 15.
Tarefa da aula 49 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 45 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Vais ouvir os «sketches» [de Gato Fedorento, série Fonseca] e escrever na tabela o que cada um deles pretende caricaturar (ridicularizar) e qual é o aspecto absurdo (insólito) que faz que a situação seja cómica.
Sketch
O que se caricatura
Aspecto absurdo
1. Mães na Expo
Tendência das mães para gabarem a precocidade dos filhos.
Exagero dos feitos que elas relatam.
2. Entrevista a ministro
_____
_____
3. Concurso com ministros
_____
_____
4. Patrão «galhofeiro»
_____
_____
5. Fórum de Filosofia
Este tipo de programas (com espectadores a telefonarem).
Entusiasmo dos participantes por um assunto tão especializado.
6. Palhaço intelectual
Depoimentos de intelectuais.
_____
7. Escritor que se julga plagiado
_____
_____
8. Falecimento de Vítor Fonseca
Depoimentos para programas de homenagem (a mortos recentes ou a vivos).
_____
9. Entrevista a ministro
_____
_____
10. Cirurgia
À-vontade de certos médicos (e as séries de televisão com cirurgiões).
Desenhar-se com o bisturi sobre o corpo do paciente.
11. Tempo de antena
Os programas de tempo de antena de organizações muito amadoras.
Haver um Partido dos Vesgos.
12. Esquiador
[Não se faz]
13. Conversa sobre ciganos
_____
Última intervenção da mulher.
14. Ó «Soutor»
_____
Repetições exageradas.
15. Alguidares
Pessoas que falam de modo muito empolado (por exemplo, usando adjectivos em número exagerado)..
_____
16. Declarações à força
_____
_____
17. «Qual papel?»
Licença que ia ser pedida: para andar ao pé coxinho!.
Exagero das repetições.
18. Entrevista para emprego
_____
Exagero das atitudes subservientes (bajuladoras).
19. Concurso para «velhotes»
_____
Haver um concurso só para pessoas com aquela doença.
Tarefas das aulas 53-54 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 49-50 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Esta é a carta que no livro A caminho de Fátima — a que pertencia também o texto «Carta do Capitão Florêncio a Maria João» (p. 104) — Maria João escreve a uma sua amiga:
Carta de Maria João para uma amiga, a Isabel, a gozar férias em Aveiro
Olá, pequena.
Novidades? Fui num passeio a Fátima. Quer dizer, era para ir a Fátima, mas como se fazia tarde para chegarmos a Fátima, acabámos por não ir a Fátima. E assim foi o meu passeio a Fátima.
Fomos no Trolaró da minha tia Céu. O Trolaró, agora, é um automóvel (pelo menos ela está convencida de que é...) mas antes de ser automóvel foi um burro. Tudo certo!
Éramos oito pessoas, contando com uma salsicha em forma de cão. A gente só percebe que não é salsicha por causa das orelhas. Não há nenhuma salsicha com umas orelhas daquele tamanho.
Masculinos, sem falar no Branquinha (a tal salsicha), eram dois: o senhor capitão e o José Carlos. O capitão levou todo o tempo aflito do coração, ai o meu coração, ai o pobre do meu coração que não se aguenta. Pois aguentou. Também só com um coração muito forte é que se aguenta uma mulher como a dele.
E o José Carlos? Bem, eu já o conhecia de ouvido, mas aquilo só visto. Sempre agarrado aos livros, sabes como é? Sem levantar os olhos? Sem ligar a ninguém? Tu sabes que eu também gosto de ler, mas, como diz a tua tia Luisona, também gosto de me divertir. Aquele homem, se um dia o mundo acaba vai logo à procura dos livros para saber o que se passou!
A coisa mais engraçada do passeio aconteceu em Turquel.
Chegámos a um restaurante sem pingo de gasolina no carro. Então pusemos os dois homens a pedir uma gotinha de gasolina aos automobilistas ali parados, e eram muitos. Eles nem protestaram. Eles é que são os homens, eles é que têm obrigação. Tás a topar? Nós agarradas aos pãezinhos quentes com chouriço e eles a tirar gasolina dos depósitos dos outros carros, aspirando por um tubo de plástico, e assim arranjaram dois baldes. Ai enchem tanto a boca de serem homens? Então aguentem-se!
Coitados. Fartaram-se de beber gasolina. Se lhes chegássemos um fósforo eram as chamadas «tochas humanas».
Mas o José Carlos ficou melhor. Já conversava, já ria, já olhava para a gente! Se calhar a gasolina faz bem à personalidade.
O que acho formidável foram os automobilistas. Ninguém recusou a gasolina e alguns até aspiraram o tubo. Um aspirou com tanta força que a gasolina esguichou. Pensas que se ralou? Pois até se riu e disse:
— Querem ver que se calhar descobrimos aqui um poço...
Ciau. Cumprimentos ao José Estêvão e vê lá se não te esqueces das enguias e dos ovos moles.
Maria João
A frase «[o Trolaró] antes de ser automóvel foi um burro» serve para a personagem dizer à amiga que ____.
Dizer-se que o Branquinha era «uma salsicha em forma de cão» (em vez de dizer-se «um cão em forma de salsicha») serve para ____
A frase que mostra que Maria João não simpatizou com D. Ester, mulher de Florêncio, é _____.
Ao longo da viagem José Carlos tornou-se mais ____.
Sabendo que José Estêvão foi um político aveirense celebérrimo (do século XIX), a despedida «Cumprimentos ao José Estêvão» não é para ser tomada à letra, é apenas uma maneira de ______. A referência às enguias e aos ovos moles também ___________.
[Se fizeste o trabalho de casa:]
A fórmula de saudação à destinatária, «Olá, pequena», é diferente da que usaste na tua carta, porque é mais _____ (informal/convencional) do que a tua.
Compara também a tua fórmula de despedida com a no último parágrafo deste texto — «Ciau. Cumprimentos ao José Estêvão e vê lá se não te esqueces das enguias e dos ovos moles». A frase mais informal, mais «à vontade», é a _____ (do texto/tua).
Concurso Epistolar 2005
O objectivo final do que se segue é escreveres uma carta para o concurso «Carta ao meu personagem favorito dos contos de fadas». (Dá uma vista de olhos ao prospecto dos CTT.) A carta é para todos fazerem, embora o envio para o concurso fique depois ao teu critério.
Como a carta tem de ser dirigida a uma personagem de um conto de Andersen, vais ler o conto que te tiver sido distribuído.
Depois de leres o conto, preenche:
Título do conto [em português]: _____
A personagem principal é: _____.
Outra personagem importante é: _____.
A lição que a história pretende dar (a sua moralidade) é: _____
Escolhe a personagem do conto lido a quem poderias dirigir uma carta. Repara que a carta não tem de tratar do conto, pode falar de assuntos actuais ou teus. O «truque» é encontrar uma relação entre a personagem a quem te diriges e aquilo que te interesse desenvolver.
Antes de começares a escrever, decide como vais aproveitar a personagem do conto na tua carta. Escolhe uma destas hipóteses:
Escrever à personagem ____ para lhe dizer que discordo dela. Defenderei depois a minha perspectiva sobre esse mesmo assunto.
Escrever à personagem ____ para concordar com ela. Acrescentarei depois a minha própria experiência ou outros casos que conheça e que lhe dão razão.
Escrever à personagem ____ a pretexto apenas de um aspecto marginal (menos importante) e a partir dessa alusão construir o próprio texto.
Escreve agora a carta, que, como se diz no prospecto dos CTT, deve ter entre quinhentas e mil palavras (ou seja, cerca de uma página e meia de uma folha A4).
No início da carta, logo após a saudação («Querido [nome da personagem]»), talvez devas aludir ao texto a que a personagem pertence, para ficar claro que é uma figura de um conto de Hans C. Andersen.
Exemplos: 'Quando li «...», a minha primeira reacção foi de ... É que não concordo com o que aí fazes: ....'; 'No conto «...» há um ... que ... Também eu te quero falar de ...'.
Tarefas da aula 55 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 51 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Lê o texto «Revelações» (de A Ilha na Rua dos Pássaros, de Uri Orlev), p. 136. Escolhe depois a alínea certa.
«E então Stashya fez-me a pergunta que eu mais temia» (linha 33). Alex temia que Stashya lhe perguntasse a morada, porque
a) Era judeu e vivia escondido.
b) A rapariga assim ficaria a saber que ele era pobre.
c) Não queria que a rapariga o fosse visitar.
«Já lamentava ter-lhe contado. Que tolo fora. Tinha estragado tudo» (linhas 64-65). Neste último parágrafo, o narrador está
a) arrependido de se ter declarado apaixonado.
b) receoso de que a amiga o possa denunciar.
c) receoso de que a amiga o abandone, agora que sabia a verdade.
Lê a biografia de Uri Orlev, na p. 19.
Repara no prémio com que foi galardoado: Prémio Internacional ...
Relendo as biografias de Anne Frank (p. 14) e de Ilse Losa (p. 17) — e, eventualmente, os textos que há tempos vimos destas autoras e a notícia sobre a recente descoberta de um diário de Helga Deen —, completa o quadro a seguir, que procura mostrar semelhanças e diferenças entre estes três (quatro) autores — judeus, e por isso com experiências dramáticas durante a II Guerra Mundial).
A tabela tinha colunas para...
Uri Orlev / Anne Frank / Ilse Losa / Helga Deen
[Nas filas as indicações a completar eram as seguintes (aqui já preenchidas):]
Nasceu em: Polónia / Alemanha / Alemanha / Holanda
no ano de: 1931 / 1929 / 1913 / 1925
Na segunda guerra mundial: entre 1939 e 1941 esteve escondido na cidade de Varsóvia / entre 1942 e 1944 esteve escondida na cidade de Amesterdão / esteve em Inglaterra e, mais tarde, veio para Portugal /em 1943, esteve num campo de concentração.
Esteve num campo de concentação?(sim/não): Sim / Sim / Não / Sim
Sobreviveu à II Guerra? (sim/não): Sim / Não / Sim / Não
Livro autobiográfico (ou quase autobiográfico) que escreveram sobre os tempos da Guerra: A Ilha na Rua dos Pássaros / Diário de Anne Frank / O Mundo em que Vivi / [Um diário num caderno escolar que está agora a ser editado]
Nome da personagem judia (ficcionada ou verdadeira) em que o livro se centra: Alex / Anne Frank / Rose Francfurter / Helga Deen
Tarefa da aula 60 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) ou 56 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Vais escrever uma carta para um colega de outra turma do 7.º ano.
Deves manter o anonimato (só depois da resposta do colega, se revelarão o nome e a turma de destinador e destinatário). O único ponto onde deves escrever o teu nome, número e turma é o canto à esquerda, que retirarei antes de redistribuir as cartas. Se referires colegas, fá-lo por iniciais. Também a turma não deverá ser identificada em nenhum ponto da folha.
Na carta deverás fazer um retrato teu o mais completo possível. A esse retrato seguir-se-á uma parte mais interrogativa, em que procurarás obter informações sobre o colega a quem a carta se dirige. A intenção é dares-te a conhecer — e, pelas suas respostas, passares também depois a conhecer o colega. Não se identificarem até contribuirá para que a caracterização seja mais profunda. E nota que não se trata apenas de um retrato físico, mas, sobretudo, de transmitir maneiras de ser, gostos, hobbies, opiniões.
Deves usar as várias fórmulas de uma carta (data, saudação, despedida). Tenta incluir também um post scriptum.
Esta carta chegará ao colega sem que eu introduza emendas, mas, até para a classificar, vê-la-ei ainda antes de a distribuir. A escolha do colega será feita, aleatoriamente, entre os alunos de uma das minhas turmas.
Como, ao contrário de outros trabalhos, não serei o único leitor do teu texto, é importante que este fique legível (eu próprio tenho por vezes muitas dificuldades em perceber algumas palavras de alguns textos!). E, é claro, não faças alusões agressivas ou ordinárias. Não deixes ainda de cumprir os preceitos que tenho vindo a emendar em outras redacções:
respeitar margens, não deixar demasiado espaço antes da margem, fazer margem em cada novo parágrafo;
desenhar os acentos devidamente (só há acentos graves em «à», «às», «àquele», «àquela», «àqueles», «àquelas», «àquilo», ou seja, nas contracções da preposição «a» com alguns determinantes ou pronomes);
evitar usar demasiado o verbo «ser».
Relê tudo no final, de modo a melhorares ainda o texto.
Tarefa da aula 61 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) ou 57 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Resposta à carta com o número de código _______
Começa por preencher o canto da tua folha. Preenche aí também o número de código que eu escrevi na folha do teu colega. Esse mesmo número deves lançá-lo já aqui em cima.
Desta vez, podes identificar-te no próprio texto (mas só se quiseres). Quer te identifiques quer não, deves procurar responder ao que o colega tenha perguntado. Se não houver perguntas directas, tenta retomar os assuntos que ele tenha aflorado. E, ainda que o colega pouco tenha feito, escreverás tu o possível (também isso acontece frequentemente na vida real: sermos nós a «fazer as despesas da conversa»).
Também pode acontecer a letra ser difícil de perceber. Nesse caso, procura tu mesmo desenvencilhar-te, evitando pedires-me ajuda logo às primeiras dificuldades.
Nota que continua a tratar-se de uma tarefa que classificarei (embora sem emendar os textos, provavelmente). Segue ainda as fórmulas habituais das cartas.
Tarefa para trabalho de casa
depois da aula de 14 (ou 15)-2-2005
Lê o conto que se segue, «Abyssus Abyssum», de Os Meus Amores, de Trindade Coelho. Depois da leitura, compara-o com «A Estrela», de Vergílio Ferreira.
Semelhanças mais importantes entre os dois textos:
1.
2.
3.
Diferenças:
1.
2.
3.
ABYSSUS ABYSSUM
(Trindade Coelho)
NESSE dia, os dois pequenitos tinham jurado que haviam de ir ao rio. Assim eles tivessem uma coisa boa!... Mas que tentação para ambos, o rio! Ainda lhes soavam aos ouvidos, com todo o seu entono vibrante de ameaça, aquelas terríveis palavras com que a mãe os intimidara, um dia que lhe apareceram em casa tarde e às más horas.
— Ouvistes? — ralhara-lhes a mãe — Olhai se ouvistes! Se voltais ao rio, mato-vos com pancada! Andai lá...
Ih! Como ela dissera aquilo, Mãe Santíssima! Colérica, ameaçadora, com a mão em gume sobre as suas cabecitas loiras... Lembravam-se de haver tremido, cheios de susto, muito chegados um ao outro, humildes sob aquela ameaça terminante. E então, nesse dia, eles não tinham ido ao rio. Aos pássaros, sim... — lá estavam as calças rotas do Manuel a dizê-lo — ...aos pássaros é que eles tinham ido. Ao rio era bom! a mãe que o soubesse...
Ah, mas então não os deixassem dormir naquele quarto! Logo de manhã, mal abriam as janelas, a primeira coisa que viam era o rio, uma corrente muito lisa e esverdeada, serpeando entre os renques baixos dos salgueiros. Lá estava a ponte velha, de onde os rapazes se atiravam despidos, de cabeça para baixo, e então o barquinho franco do fidalgo — lindo barquinho! — sempre à espera que o fidalgo o desamarrasse para passar à grande quinta que tinha na margem de lá.
De modo que o primeiro desejo que logo pela manhã assaltava os dois rapazes era o de irem por ali abaixo, muito madrugadores, tão madrugadores como os melros, meterem-se dentro do barco, desprendê-lo da praia e deixá-lo ir então para onde ele quisesse, contanto que fosse sempre para diante... Quando fechavam as janelas para se deitar, a sua vista seguia, mesmo através da escuridão da noite, a linha que ia dar ao barco. Era o seu «adeus até amanhã!» àquele pequeno objecto que valia tesouros, que para os dois valia mais que tudo, tudo...
Ah! tivessem eles assim um barquinho, que não queriam mais nada...
— Mais nada?
— Isso não... mais alguma coisa. E a mãe que não ralhasse, está visto.
Mas nessa manhã, bela manhã, na verdade! a mãe viera acordá-los mais cedo. Ia já pela aldeia um claro rumor de vida — gente que passava para os campos, os solavancos dos carros no empedrado péssimo da rua, os patos da vizinhança que saíam em rancho para a digressão pelos prados, grasnando ruidosamente, levantando-se em voos curtos, espantados da agressão acintosa dos rapazes. Havia mais de uma hora que ali perto se ouvia o retintim agudo do martelo do ferrador atarracando cravos na bigorna. Já o reitor passara para a missa, em batina, muito hirto e vagaroso, as chaves da igreja na mão esquerda e na direita a cabacita do vinho. E àquela hora onde iria já a missa! A última beata, puchada e lenta, recolhera, trazendo consigo a esteira em que ajoelhara na igreja. Havia mais de meia hora que o João carpinteiro, no meio da rua, dava com valentia num carro cujo eixo ardera na véspera, e que era urgente compor, pelos modos. Até o Ernestinho do estanco abrira já a loja e subira à varanda a regar os manjericos. Começos da labuta diária, enfim; os senhores sabem.
Pois, como lhes disse, a mãe viera nessa manhã acordar mais cedo os dois pequenos.
— Fora, mandriões, vamos! É preciso afazerem-se a madrugar, que tal está! Ai, ai, dia claro há que tempos, vem aí o sol, e os morgadinhos na cama! — E, enquanto falava, ia-lhes abrindo as janelas. — Persignar e vestir, vamos! Calças... colete... os jaquetões... tomem!
E pôs-lhes tudo sobre a cama.
— Mãe, a bênção! — balbuciaram os dois, tontos de sono ainda.
— Deus os abençoe. Que Deus não abençoa mandriões, ouviram? Ora, eu já volto! Queira Deus que não vos encontre cá fora, tendes que ver!
Os dois sentaram-se na cama para se vestir, contrafeitos, fechando os olhos àquela hostilidade viva da luz que invadira o quarto num jacto repentino e brutal. Pela abertura larga da camisa assomava-lhes o peito que eles afagavam numa última carícia, suavemente, docemente. Seria tão bom tomar a adormecer, assim mesmo sentados! O mais novito ainda tentou deitar-se outra vez, pesaroso de ter de abandonar já o aconchego morno da cama, onde se estava tão bem! onde os sonhos eram tão lindos!...
Mas a mãe não tardava ali. Era preciso vestirem-se, que remédio! Foi então que o Manuel, mais esperto do sono, olhando para o campo o achou encantador, todo resplandecente de verduras.
— Bonita manhã, não vês? As árvores parecem mais lindas, repara. Porque será?
O outro encolheu os ombros, não sabia; só se fosse por não haver nuvens...
Pela janela aberta, avistava-se um trecho de paisagern que a luz viva da manhã fazia muito nítida. As vinhas tinham um verde encantador, muito suave, trepando encosta acima, fazendo contraste com a rama escura das laranjeiras que cerravam alas nos pomares húmidos das baixas. Revestidos de folhagem, ascendiam ares fora os olmos gigantescos. Pedaços de horta estavam em toda a pompa do seu viço e da sua frescura. Viam-se as rodas das noras, latadas compridas a cuja sombra regalam as merendas.
Um renque de choupos esguios marcava a borda do rio, que nessa manhã deslizava muito sereno, esverdeado de águas, espelhante sob aquele céu imaculado,
— Ah! ah!... — riu-se o Manuel, contemplando-o.
— O rio! Que te parece?! Olha que é lindo, o rio! Ora é, ó António?!
— É, lá isso... Mas tamém de que vale? — tornou-lhe com desalento o irmão. — A gente não pode lá ir... Olha se a mãe o soubesse, hã? — E, mirando por sua vez a paisagem, perguntou: — Já reparaste no barco, ó Manuel?
—Tão bonito!
Os dois riram.
— Parece pintado de novo... E nem se mexe, repara!
— Pudera!... — explicou o Manuel — ...amarrado com uma corda... — E depois, radiante, gesticulando para o irmão: — Mas eu era capaz de o desamarrar...
— Ai eras! — disse duvidoso o António, para o incitar.
Calaram-se. Era bom podê-lo desamarrar, lá isso era! Ambos dentro dele, sozinhos, isso é que seria boml E eles então que estavam mortos por ir às azenhas, e pelo rio era um instante enquanto lá chegavam. O barco! Era tão bom andar de barco! E aquele então era lindo, como não tinham ainda visto outro. Nunca lhes haviam esquecido — olhem lá não esquecessem! — aquelas tardes em que o fidalgo os levara dentro do barquinho, ensinando-lhes como se remava.
O Manuel foi o primeiro que se vestiu, e foi logo direito à janela. Passava naquele instante um bando de andorinhas, chilreando.
— Está um dia lindo, avia-te.
— Olha «avia-te»! para quê? — perguntou o António, torcendo e retorcendo o pé para enfiar o sapato, apoiado com as mãos ambas na borda da cama.
O Manuel sorriu-se, triste. — Era verdade... Aviarem-se para quê? A mãe não os deixava ir ao rio... E se não, que fossem! — «Mato-vos com pancada se desceis a ladeira.» — Já se vê que depois disto .. — E os dois suspiravam, desgostosos: «Que pena serem pequenos!»
Nisto o António chegou-se também para a janela. Que lindo, o campo! Mas os olhos dos dois não se desfitavam do barco, fascinados. Demónio de tentação! E para mais tinham-no pintado de novo: sobre o branco, a todo o comprimento, uma faixa azul-clara destacava nitidamente, parece que apenas meio palmo acima do nível da água!
— Tate, ó Manuel! E se nós fugíssemos?
— Ora! se fugíssemos!... E depois? A gente tínhamos de voltar...
Ora aí está! isso é que era o pior! A mãe, depois, era capaz de fazer o que tinha prometido. E arregalando muito os olhos, imitando a cólera da mãe: — «Se voltais ao rio...» Ai, ai, a triste sorte!
Recaíram em silêncio. Ficaram-se por instantes a ver o Sol que rompia ao nascente, numa explosão violenta de luz, acendendo coloridos na largura muito ampla da paisagem.
— Mas palavra que o barco parece pintado de novo... — relembrou com alegria o Manuel.
— Mas é que está, palavra que está! Agora é que havia de ser bom andar dentro dele!...
Os dois riram-se muito àquela ideia encantadora de andarem no barquinho, assim pintado de novo. Diacho! e porque não? Por isso, cobrando ânimo, o António disse resoluto:
— Olha agora o medo! Seguro que nos mata! — E puxando-o pela jaqueta: —Vamos lá, ó Manuel!?
O Manuel fez que não com a cabeça, e espreitou se vinha a mãe. Como não vinha, disse baixo ao irmão:
— À tardinha, hem? dois pulos e estamos lá. Não é tão fácil dar pela nossa falta, ali à tardinha. A gente finge que vai para o adro. Levam-se os piões...
— Há-de ser mesmo assim! à tardinha! — concordou o António. — Eh! eh! eu cá desatraco.
— E eu remo — disse logo o Manuel com gesto de quem remava.
— Ao leme vou eu: o leme é aquilo que regula — explicou.
— Pois sim, mas à vinda pertence-me a mim, remas tu. Se queres assim...
— Pois está bem, quero! Assim mesmo é que há-de ser!
E recapitulando, para melhor ficarem combinados:
— Ao pra baixo remo eu, ora remo?
— Remas.
— E tu regulas, ora regulas?
— Regulo.
— Ao pra cima é às avessas, ora é?
— É.
Muito bem, «basta palavra»! E ambos, ao mesmo tempo, um ao outro se impuseram segredo...
—Psiu!...
—Psiu!...
*
A tarde descaía límpida. Na vasta cúpula do céu, penachos de nuvens alvejavam, imóveis.
Acesas naquela explosão rubra do ocaso, as arestas dos montes franjavam-se de púrpura e oiro, na decoração mágica dos poentes. Começava de cair sobre os campos a larga paz tranquila dos crepúsculos, e uma quietação dulcíssima e vagamente melancólica entrava de adormecer a natureza para o grande sono reparador de toda a noite.
...E a tarde ia descaindo, cada vez mais límpida.
Naquela luz indecisa de crepúsculo que mansamente se ia acentuando, os montes do sul tomavam um torvo aspecto de sombras gigantescas, imobilizados num fundo em que se iam apagando ao de leve todos os cambiantes de luz. Os pormenores da paisagem perdiam-se naquela indecisão vaga de noite que vinha descendo, e uma espécie de silêncio confrangedor dominava a natureza toda, recolhida num como espasmo amedrontador e sinistro que dentro de nós evoca a essa hora não sei que vagos receios ou medos inconscientes que fazem com que na imaginação as coisas criem vulto, e no mundo exterior obrigam a retina a exagerar as formas às coisas...
Muda de gorjeios, atravessando o espaço em voos muito rápidos, a passarada demandava os ninhos onde se acoitasse do frio que acordava. Caíam já pesadas sobre os vales as sombras das montanhas, e um fumozito subtilmente azulado nadava à flor das coisas, velando-as para o tranquilo sono em que iam adormecer.
E a tal hora e no meio de tal silêncio, o barquinho branco deslizava mansamente sobre a água tranquila do rio, onde as primeiras estrelas começavam de lampejar. Dentro dele, os dois irmãozitos silenciosos iam-se deixando enlevar naquele ruído suave dos remos abrindo fenda nas águas... Não! era bem certo que eles não tinham jamais sentido uma tão poderosa e viva alegria — alegria doida que lhes transvazava do peito, fundindo-se em energia nos músculos e cristalizando-se nos lábios em sorrisos.
Dentro daquele adorado barco, assim no meio do rio, eram senhores absolutos da sua vontade, poderiam ir para onde lhes parecesse, livres de admoestações alheias, sòzinhos, independentes. E esta feliz convicção de liberdade alcançada fazia-os agora orgulhosos, além de os encher de alegria. Por certo eles nunca tinham sido tão felizes, e quem sabe se o seriam jamais?!... No entanto a noite acentuava-se. Espertava nas margens o marulho da água nas raízes fundas dos salgueiros. No céu alto e sereno cintilavam as estrelas em cardumes.
— Remas, António? — perguntava o do leme.
Olha se a vês... — E apontava para Vésper, a estrela que mais brilhava.
Tinham os dois concebido o estranho desejo de alcançar a estrela cujo brilho diamantino os fascinava. Tão linda!...
— Anda-me tu com o leme! — tornou-lhe com intimativa o Manuel. — Ai a estrelinha! Deixa que ela faz-se fina, mas havemos de passar-lhe adiante, só por isso...
— Olha o milagre! Ela está queda! — fez o outro, convencido da facilidade da empresa.
— Está queda, está queda, mas sempre na frente de nós! Vai lá entendê-la. Olha como brilha, ó António!
— Mas rema, que eu cá vou; falta pouco. Ao direito daquela fraga é que ela está.
Não era difícil passar-lhe adiante, qual era? Em menos de meia hora era certo alcançá-la.
E, engastada no azul-escuro do céu, a estrela parecia brilhar mais, quanto mais a olhavam.
— De que são feitas as estrelas? — perguntou o mais novito.
— De prata. Pois está visto!
Então o outro, lançando um amplo olhar à vastidão infinita do céu, exclamou:
— Eh! tanta prata!
— O Sol, esse é de oiro! — disse ainda o Manuel.
— Bem de ver! — volveu-lhe convencido o irmão. — Que eu, se me dessem à escolha, antes queria as estrelas! Olha que rebanho!
— Pois eu antes queria o Sol. Com licença do teu querer, sempre é mais grande!
E, enquanto falavam, os dois não desfitavam os olhos da estrela feiticeira que perseguiam. Os remos, no entanto, iam abrindo fenda na água, com certo ruído muito doce... E, lá no alto céu, dir-se-ia que, de instante para instante, a feiticeira estrela mais brilhava, incitando-os.
— Vê-la a fazer assim? — e pôs-se a pestanejar, imitando a palpitação crebra e irregular da luz sideral.
—É que tem sono! —respondeu o outro a rir.
— Olha que não? Aquilo é a fazer-nos negaças, tamém to digo!
— Ai é?! Pois que faça as negaças e que se descuide: se malha cá baixo, bem se afoga... — E, apontando-lhe um punho cerrado, gritou a rir: — Eh, boieira!
Neste momento, uma estrela cadente abriu esteira de prata no azul, sumindo-se ràpidamente. Os pequenos ficaram com medo e ambos murmuraram em tom de reza as palavras rituais:
Deus te guie bem guiada,
Que no céu foste criada.
— Vês? — disse o Manuel, que era dos dois o mais supersticioso. — Torna a apontar para elas... Eu cá não aponto, que nascem «cravos» nas mãos.
— A ti talharam-te o ar, ó Manuel!
— Diz a mãe! À meia-noite levaram-me à fonte e esparrinharam-me água para cima do corpo! E a água que havia de estar fria! — observou encolhendo os ombros. — Depois, viraram-me para as estrelas e disse então a mãe:
Ar vejo,
Lua vejo,
Estrelas vejo:
O mal do meu corpo
Pra trás das costas o despejo.
Riram muito. O Manuel despidinho, coiracho ao colo da mãe, havia de ser engraçado! E então todos de volta, a ver quando se talhava o ar!
—Mas talhou-se! Agora, em paga, uma vez por ano (ao menos uma vez por ano) tenho de olhar pelos ralos do lenço pràs cinco chagas, umas estrelas que além estão, e rezar uma ave-maria.
— Sempre, sempre?!
— Até que morra. Depois de morrer, diz que vou morar três dias com três noites dentro de uma.
— Ora! — tornou-lhe incrédulo o irmão — Tu não cabias lá!
— Não sei! Assim é que anda nos livros!
Mas os braços doíam já dos remos, doíam muito...
Devia ser tarde, e eles sem darem fé, enlevados como iam no desejo louco de alcançar a estrela.
A noite estava calma, não bulia nas ramagens ramo verde de salgueiro, um silêncio contínuo dominava tudo em volta. E amolentadora e múrmura, a água da corrente ia espumando na quilha, com certo ruído cada vez mais doce.
...Mas os braços já doíam mais!...
Agora, no céu, havia muitas estrelas brilhantes, muitas, mas nenhuma como aquela, ainda assim. Entretanto os dois pequenos entraram de olhar menos para ela, pois que irresistivelmente a cabeça lhes pendia para o peito e as pálpebras se lhes cerravam, a despeito de todo o esforço.
...E os braços sempre a doerem!...
Por algum tempo, os remos foram com a pá mergulhada na corrente, cortando-a com levíssimo ruído. Imobilizara-se também o cabo do leme, sem que nenhum dos dois irmãos desse fé do súbito desleixo do outro.
...E os braços já não doíam, nem ao de leve sequer...
O pequeno barco vogava agora à mercê da corrente, sem impulso algum estranho. Dentro dele, a música levíssima das respirações dos dois pequenos adormecidos...
Algum tempo assim. Senão quando, um ruído surdo, e logo um movimento brusco de balanço, fez acordar o do leme.
Na grande alucinação do perigo, desvairado pelo medo, gritou imediatamente:
—Manuel! Ó Manuel!
O remador acordou, sobressaltado.
— A estrela? Ainda lá está, olha! — disse, incoerente, estonteado pelo sono.
— Uma fraga de cada lado! Ouves o rio?! É já muito tarde! — continuou aflito o António.
— Então não lhe passamos adiante? — perguntou ingenuamente o Manuel, referindo-se ainda à estrela.
Mas o irmão, sacudindo-o convulsamente, procurando chamá-lo à realidade, de novo lhe citou, com lágrimas na voz:
— Manuel, acorda! Olha que estamos perdidos, Manuel!
E mal conheceram o grande perigo em que estavam, ambos romperam num choro muito violento, agarrados um ao outro, feridos de um terrível susto que a hora e o lugar aumentavam angustiosamente. Parecia-lhes medonho aquele marulhar contínuo da corrente, afligia-os como se fosse o salmodiar monótono e rouco duma legião de espíritos maus, preludiando-lhes as agonias lentas da morte. Aos dois pequenos os rochedos informes das margens afiguravam-se-lhes negros gigantes que num requinte de malvada indiferença houvessem jurado assistir impassíveis e mudos à escura tragédia da sua desgraça.
E o barco sempre encalhado, não havia forças que o arrancassem dali. Tinham perdido os remos. Teriam de esperar que amanhecesse e alguém viesse acudir-lhes, alguém que ouvisse de longe os seus gritos de aflição!
Transe crudelíssimo!
E então os braços continuavam a doer; doía-lhes agora o corpo todo, ao mesmo tempo que uma tristeza cada vez mais pesada lhes oprimia o espírito, parece que embrutecendo-os.
— Mas a estrela sempre além... — notou ainda o Manuel, balbuciante de medo, como se quisesse increpar a própria estrela da sua indiferença criminosa, no meio daquele enorme infortúnio em que por causa dela se haviam precipitado. — Se ela pudesse acudir-nos!
Até que por fim, prostrados da fadiga e das lágrimas, de novo se deixaram adormecer, era já alta noite.
Mas, na sua fúria constante, a corrente, que ali era muito forte, não cessava de bater contra as pedras o pobre barco indefeso. Até que, após tamanho lidar, o rio safou-o de repente para um lado onde as águas se contorciam em remoinho, e entrou de girar com ele, violentamente. Quando a água se precipitou para dentro, os dois pequenos, assim de súbito acordados, romperam em gritos lancinantes:
— Ai quem acode! Ai Jesus, quem nos vale! Acudam! Acudam!
Tinha surgido a manhã, serena, tranquila, cheia de gorjeios e de azul. Mas como ninguém acudisse e a luta no rio fosse desigual, num repelão mais violento o pobre barco esfacelado investiu de proa com o abismo e lá se sumiu para sempre! Feridos de morte, no último paroxismo da sua enorme dor desesperada, os dois irmãozitos abraçados sumiram-se também com ele!...
*
...Nesse mesmo instante... — e mais longe do que nunca — ...a estrela feiticeira acabava de cerrar também a pálpebra luminosa!...
Trindade Coelho, «Abyssus Abyssum», Os Meus Amores. Contos e Baladas, pp. 137-151
Tarefa da aula 80 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 74 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Vê no manual os cartazes publicitários que pus na tabela [aqui no blogue, em lista]. Depois, cria um slogan para o da p. 122. Por fim, escolhe um dos assuntos nas quatro últimas filas e pensa num bom cartaz para essa causa: como seria a imagem, qual seria o exacto slogan. (Se houver tempo, aborda ainda os outros assuntos.)
Campanha // Imagem a utilizar no cartaz // Slogan
United Colors of Benetton (p. 162 do Manual) // Três corações. // White Black Yellow
SOS Racismo (p. 162) // Cérebro em forma de luva de boxe. // O Racismo existe porque há pessoas que só sabem usar a cabeça desta maneira.
Defesa dos animais (p. 170) // Cão sozinho — e amedrontado — no meio da estrada. // Diz-me quem abandonas e dir-te-ei o que és.
Sport Zone (p. 131) // Atleta com cabeça «modificada» com atacadores desportivos. // Para quem só pensa em desporto.
Fnac e leitura (p. 122) // Livros vão desenhando pontes (casas, abrigos) que conduzem até ao horizonte. // [inventa tu um slogan]
Mimosa (p. 87) // Uma embalagem ainda cheia de iogurte Mimosa Morango Magro. // Você come uma bucha. E estica.
Vivendas na Aroeira (p. 83) // Nenhuma imagem. // Pensa que a publicidade mostra só uma parte da realidade?
[p. 48 do caderno de actividades] // Pintora numa praia. // [Pensa tu num slogan, depois de escolheres uma campanha que aproveitasse a imagem em causa]
Patriarcado procura incentivar a entrada de jovens para os seminários. // [Pensa em imagem e cria slogan]
Ministério da Administração Interna pretende evitar que os automobilistas paguem aos arrumadores. // [Pensa em imagem e cria slogan]
Ministério da Educação quer que nas escolas se use roupa mais recatada (evitando vestuário «ousado»). // [Pensa em imagem e cria slogan]
Câmara tenta dissuadir os munícipes de comprarem pastilhas elásticas (porque estas dificultam muito a limpeza dos passeios). // [Pensa em imagem e cria slogan]
Tarefas da aula 85-86 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 79-80 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Vamos começar agora a ver a parte de poesia no nosso manual. E aproveitaremos para ler alguns textos de José Gomes Ferreira, porque dentro de semanas haverá na escola uma exposição sobre este escritor (e queria contar com trabalhos nossos). Lê este passo:
«Uma das últimas invenções do meu filho Alexandre é o que ele chama a «música de rãguarda». Isto é: enrouquece voz, em coaxar de imitação de rã, e repete tudo o que ouve, desde Mozart a Stravinski, transfigurado por esse filtro caricatural.
É irresistível de graça — e às vezes com mais significado do que ele supõe.
Música de rãguarda...»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns, I, p. 62
Portanto, «Rãguarda» (a ortografia devia ser Ranguarda) é uma palavra criada através de uma ligeira modificação na palavra original (vanguarda: 'primeira linha'; na ~ 'à frente'): rã + vanguarda = ranguarda. Se esta palavra estivesse num dicionário, talvez pudesse ter a seguinte informação.
Ranguarda - Substantivo feminino. Exercício musical em que as melodias são trauteadas como se fossem cantadas por rãs. Usa-se especialmente na expressão música de ~. Ex. «Uma das mais célebres composições de ranguarda é a canção "We all stand together" de Paul McCartney».
O título do poema que está na página 232 do manual — «Avionar» — foi criado de modo semelhante. Lê o poema.
Quantos versos tem? ____. E estrofes? ____ (Sim, só uma, já que não há grupos de versos separados uns dos outros)
Alguns dos versos rimam. Por exemplo, o verso 3 tem a mesma rima dos versos __, __, __, __. O verso 9 rima com o verso __.
Ainda na p. 232, responde ao ponto 1 do manual: a melhor resposta é _____________. Pensa também no ponto 2.1.
Tendo em conta o sentido que terá o título do poema («Avionar», a tal palavra inventada), escreve a definição que essa palavra teria num dicionário:
Avionar — [classe:] ______. [Significado:] _____________
[Citação a servir de exemplo:] _____________
Lê mais este texto de José Gomes Ferreira:
«Há dias, um amigo meu, ao narrar o episódio de um banho gelado numa praia qualquer do Norte do país, explicou:
— De súbito, reparei que batia os dentes. Mas batia mesmo os dentes. E espantei-me. Afinal, bater os dentes não era uma imagem barata de folhetim, como eu durante tanto tempo supusera. Não. Correspondia a um facto verdadeiro...
Sim. Os folhetins estão cheios dessas observações verdadeiras: "ficou branco como o linho", "tremeu como varas verdes", "cambaleou de dor", "viu tudo vermelho em redor", etc.
Por isso são tão falsos.»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns, IV, pp. 18-19
As frases a que alude José Gomes Ferreira («bater os dentes», «tremer como varas verdes») são lugares comuns, bordões, também expressões idiomáticas, que usamos já sem as interpretarmos «à letra».
Vê também no manual, na segunda metade da p. 233 (Escrever, 1), mais uma meia dúzia de expressões idiomáticas («ficar de orelha murcha», «estar na Lua», «terra a terra», ...).
Vou ainda dar-te mais algumas [a serem mostradas em desenhos, projectados na aula]:
1. esticar o pernil
2. puxar a brasa à sua sardinha
3. viver à barba longa
4. dar lenha para se queimar
5. comer gato por lebre
6. engolir um sapo
7. pôr alguém nos cornos da lua
8. estar em pulgas
9. matar dois coelhos de uma só cajadada
10. ter macaquinhos no sótão
11. ir aos arames
12. ser recebido com sete pedras na mão
13. falar pelos cotovelos
14. estar a polir esquinas
15. deixar fazer o ninho atrás da orelha
16. apanhar alguém com a boca na botija
17. torcer a orelha
18. tirar as teias de aranha da cabeça de alguém
19. voltar à vaca fria
20. comer o pão que o diabo amassou
21. dormir à sombra dos louros
22. ter a faca e o queijo na mão
23. fazer a cama a alguém
24. acordar o cão que dorme
25. pão pão, queijo queijo
26. tirar o tapete debaixo dos pés
27. dar luvas a alguém
28. estar a fazer tijolo
Escreve agora, numa folha solta, um texto em que apareça duas vezes uma das expressões idiomáticas que vimos. Será uma curta história em que a expressão surgirá uma vez no seu sentido figurado (que é, no fundo, aquele em que a expressão costuma ser usada) e, em outra vez, tomada à letra, como acontecia nas imagens que vimos.
Tarefas da aula 87-88 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª, 7.º 6.ª) e 81-82 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Continuaremos a ver poemas do livro e a tentar relacioná-los com textos de José Gomes Ferreira. Ao mesmo tempo, faremos trabalhos que podem vir a figurar numa exposição que o CRE vai fazer sobre o patrono da escola.
Vê os «poemas visuais» que estão na p. 220 («Desenho Rupestre» e «Assim»), ambos de autores brasileiros.
Os dois poemas aproveitam a posição das letras. No poema de ____________ é mesmo sobretudo a posição (e o desenho da letra) que dão sentido ao título-legenda («A cigarra e a formiga»).
No poema de Millôr Fernandes há três momentos em que a posição das palavras tem também significado especial: (1) No quarto verso da primeira estrofe, as palavras não estão direitas na linha, para representar o estado em que fica alguém que __________. (2) Na segunda estrofe, «assim, assim, assim, assim, ...» está em círculo, para imitar o modo como __________________. (3) Na última quadra, a última palavra está ao contrário, porque se procura representar _________.
Os poemas ou partes de poemas que copio agora são caligramas. [Na folha da aula surgiam aqui caligramas de Mário de Sá-Carneiro e de Guillaume Apollinaire, que no blogue não é possível reproduzir.] Num caligrama os escritores dispõem os versos de forma a representarem o assunto do texto.
O verso em português é de Mário de Sá-Carneiro. Os dois caligramas em francês são de Guillaume Apollinaire.
O verso de Mário de Sá-Carneiro procura imitar _____________. O caligrama de Apollinaire à esquerda faz os versos desenharem a __________ . O caligrama mais à direita representa uma ________ e um ____________.
O texto que se segue é de José Gomes Ferreira. Não é um poema, mas podemos dizer que é de «prosa poética». E, embora não seja um caligrama, inclui um desenho no final [um sol, que no blogue não é possível reproduzir]. Lê o texto e completa o que sobre ele eu pus no final.
Esperança obrigatória.
Chuva de violência negra nas janelas do crepúsculo.
Do céu cai suor e mais suor que os homens lançaram, durante séculos, para as nuvens e agora inunda a Cidade de pavor e trovões.
Quase noite.
Olho, com o nariz achatado no vidro, a rua encrespada pelo vento que entorta e desgrenha as casas, as árvores e os candeeiros.
Um automóvel, já de faróis acesos, fura, por entre a chuva, um corredor de luz enrugada por onde corre uma velhota de farripas soltas, os braços atados no embrulho de uma criança enrolada no xaile. (Ao fundo, o guarda-nocturno, abrigado na porta do costume, sopra o frio dos dedos...)
E eu para aqui fechado nesta náusea de andar de um lado para o outro de cá para lá, de lá para cá... —, sonâmbulo de irritação!
Homens: estou farto de chuva e quero sair!... Evadir-me!... Caminhar pelas ruas em liberdade de sol, de vida, de cheiro a giestas nos cabelos das mulheres e ninhos de ouro nos olhos das crianças!
Mas não. A chuva continua. Continua sempre, sempre, sempre.
Que remédio senão esperar que ela acabe, enquanto traço na humidade da vidraça riscos de esperança.
Primeiro uma flor.
A seguir um sol...
Um pequenino sol de rumor de lágrimas.
Assim:
[segue-se desenho de um sol, que no blogue não se reproduz]
(Imitação dos Dias, pp. 191-192)
O primeiro período (e primeiro parágrafo) do texto tem uma característica que não é muito normal em textos de prosa: falta-lhe uma classe gramatical que, segundo se costuma dizer, é obrigatória em todas as frases — é uma frase sem ________.
No segundo período, a chuva é identificada com ________.
O terceiro período também não tem verbo.
No quarto período — que é também o quarto parágrafo! — aparece pela primeira vez uma 1.ª pessoa («olho») e ficamos a saber que o narrador está a ______ para ________.
Tendo já lido o resto do texto, pensa em quatro substantivos abstractos que, em conjunto, representem com o máximo de precisão o estado de espírito do escritor. _______; _______; ________; _______.
Regressamos à p. 221 do manual, em Ler mais/Escrever.
No ponto 1 há um quadro cujo desenho estranho o pintor, Marc Chagall, justifica com uma expressão idiomática. Segundo ele, o quadro representava um homem a _____________ a uma rapariga (expressão que significa ________________)
No ponto 2 temos outro quadro de Chagall que motivou um poema de Vergílio Alberto Vieira («A Aldeia Russa, de Marc Chagall», já na p. 222). Atribui uma letra a cada verso que tenha uma rima diferente e terás o esquema rimático do poema:
verso 1 = A (-eia)
verso 2 = B (-iu)
verso 3 = A (-eia)
verso 4 = __ (___)
verso 5 = __ (-ertas)
verso 6 = __ (___)
verso 7 = __ (___)
verso 8 = D (___)
Assim, o esquema rimático deste poema é: A, B, A, __, __, __, __, D.
Apura agora o esquema rimático deste poema de José Gomes Ferreira:
(Mais uma definição de poeta num carro eléctrico para Almirante Reis.)
Poeta o que é?
Um homem que leva
o facho da treva
no fundo da mina
— mas apenas vê
o que não ilumina.
(Poesia-III)
O esquema rimático é: A, __, __, __, __, __.
Tarefa das aulas 89-90 (7.º 1.ª, 3.ª, 6.ª) e 83-84 (2.ª e 5.ª)
Este trabalho é para ser feito por grupos de três (ou quatro alunos). Devem seguir estas etapas: (1) ver em conjunto as intruções das três/quatro tarefas; (2) escolher quem se encarrega da parte inicial de cada uma das tarefas; (3) fazerem — cada um a sua — essa parte inicial das tarefas; (4) já de novo em conjunto, fazerem a revisão final de todas as tarefas.
Tarefa 1
No envelope estão as palavras de um ou dois textos de José Gomes Ferreira. Com essas palavras, deves construir um novo poema (não rimado). Deverás ir alinhando as palavras em versos e no final copiar o resultado para uma folha, acrescentando então a pontuação.
No cimo da folha escreve o título do poema ou poemas que forneceram as palavras: «Poema feito com palavras dos poemas "......" e ".....", por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se há frases que não estejam correctas, que trocas se podem fazer para melhorar o texto, se a pontuação está boa. O ideal é que não sobrem palavras, mas, se isso acontecer com uma ou outra, digam-no na folha, indicando as palavras que não chegaram a ser usadas.
Tarefa 2
Vais construir um poema só com versos de poemas de José Gomes Ferreira que estejam no livro que te tiver calhado. Cada verso do teu poema virá de um poema diferente (enfim, só podes ir buscar a um mesmo poema mais do que um verso, se estes não ficarem seguidos no teu texto). Vais copiando para a tua folha os versos já a formarem o novo texto. Ao lado de cada verso do novo poema, deve ficar uma indicação do poema de José Gomes Ferreira de onde foi tirado e da página em que estava.
No cimo da folha escreve o título do livro que foi usado: «Poema feito versos de diversos poemas de [Nome do Livro] por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se o poema está razoável, se há versos que se pudessem ir buscar ainda, etc. Verão também a pontuação do final de cada verso (a única alteração que se pode fazer).
Tarefa 3 (ou Tarefas 3 e 4)
A. [Para quem tenha ficado com Dicionário da Língua Portuguesa / Dicionário Prático Ilustrado / Dicionário Torrinha]
Vais reescrever deste modo o poema de José Gomes Ferreira que te tiver calhado. Todos os substantivos, adjectivos, verbos serão substituídos pela definição que deles encontrares no dicionário. Deves manter todas as outras palavras e flexionar as que substituiste na pessoa, número, género, tempo que estão no original de José Gomes Ferreira. É claro que o texto vai ficar mais longo (e um pouco estranho), mas deve ficar impecável em termos gramaticais.
No cimo da folha escreve o título do poema e livro que foi usado: «Poema "[nome do poema]" de [Nome do Livro] reescrito — substituindo-se palavras por suas definições — por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se o texto está, em termos gramaticais, bem ligado (e se as flexões foram bem feitas).
B. [Para quem tenha ficado com Dicionário de Sinónimos.]
Vais reescrever deste modo o poema de José Gomes Ferreira que te tiver calhado. Todos os substantivos, adjectivos, verbos serão substituídos por um dos sinónimos que deles encontrares no Dicionário de Sinónimos. Escolhe porém o «sinónimo» que seja menos próximo da palavra que substituis. Deves manter todas as outras palavras e flexionar as que substituiste na pessoa, número, género e tempo que estão no original de José Gomes Ferreira. É claro que o texto vai ficar estranho (porque os sinónimos têm muitas vezes diferenças de sentido maiores do que esperaríamos) .
No cimo da folha escreve o título do poema e livro que foi usado: «Poema "[nome do poema]" de [Nome do Livro] reescrito — substituindo-se palavras por sinónimos — por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se o texto está, em termos gramaticais, bem ligado (e se as flexões foram bem feitas).
C. [Para quem tenha ficado com Dicionário de Rimas.]
Vais reescrever deste modo o poema de José Gomes Ferreira que te tiver calhado. Todas as palavras finais de cada verso serão substituídas por outra que tenha a mesma rima, para o que vais usar o Dicionário de Rimas. Irás recopiando o poema já com as novas rimas (e vendo se gramaticalmente fica correcto, embora deva ficar um tanto estranho). Deves manter todo resto do verso do poema de José Gomes Ferreira.
No cimo da folha escreve o título do poema e livro que foi usado: «Poema "[nome do poema]" de [Nome do Livro] reescrito — trocando-se as palavras finais de cada verso por outras com a mesma rima — por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se o texto está, em termos gramaticais, bem ligado (e se as flexões foram bem feitas).
D. [Para quem tenha ficado com Dicionário de Português-Francês ou Português-Espanhol.]
Vais reescrever deste modo o poema de José Gomes Ferreira que te tiver calhado. Todos os substantivos, adjectivos, verbos serão substituídos pela sétima palavra da mesma classe no dicionário que te tenha distribuído (ou seja: procuras o substantivo no dicionário, depois procuras os sete substantivos que se lhe sigam e é o sétimo que adoptarás; o mesmo com os verbos e com os adjectivos). Deves manter todas as outras palavras e flexionar as que substituiste na pessoa, número, género, tempo que estão no original de José Gomes Ferreira. É claro que o texto vai ficar estranho (porque as novas palavras pouco sentido farão) .
No cimo da folha escreve o título do poema e livro que foi usado: «Poema "[nome do poema]" de [Nome do Livro] reescrito — substituindo-se substantivos, adjectivos e verbos por palavra da mesma classe em sétimo lugar no dicionário — por [nome dos alunos, ficando em primeiro lugar o autor da fase inicial]».
Na revisão final, já em conjunto, verão se o texto está, em termos gramaticais, bem ligado (e se as flexões foram bem feitas).
Tarefa da aula 92 (7.º 1.ª, 3.ª, 6.ª) e 86 (2.ª e 5.ª)
Escolhe um dos primeiros versos (ou títulos) de poemas de José Gomes Ferreira [a seguir] e escreve tu um poema, acrescento a esse primeiro cerca de mais dez versos.
2. Viver sempre também cansa
3. Todos os punhais que fulgem nos gritos
4. Vivam, apenas
5. Cala-te, mar!
6. São onze horas da manhã
7. Vais morrer com a saia rota
8. Eh, amigo lagarto
9. E se houvesse uma deusa escondida
10. Ó vento que trazes os gritos do mundo
11. O general entrou na cidade
12. Chove...
13. Surgiste — e a noite ficou diferente
14. Tu, outra vez, Tristeza
15. É tão fácil dizer
16. A minha solidão
17. Grito!
18. Cala os olhos, vagabundo
19. Aqui ficas, melodia
20. Quem foi o arquitecto que fez este Café
21. Os outros foram para o comício
22. Porque se calaram todos quando entrei no Café?
23. Vai-te, Poesia!
24. Hoje o luar
25. Pobre mulher de todas as esquinas
26. Aqui...
27. Cansado de dormir no basalto
28. Boas noites, árvore
29. Quando te beijo nos olhos
30. A história dos teus olhos
31. Tu
32. Que é isto
33. Um anjo cigano
34. Aquela nuvem parece um cavalo
35. A poesia não é um dialecto
36. A palavra Deus
37. A palavra Revolução
38. O velhinho do banco
39. De repente lembrei-me da espingarda
40. Na rua das Musas
41. Talvez pela primeira vez
42. Felizmente as palavras às vezes diminuem
43. Noite, que faço eu aqui
44. Nem todas as mãos
45. Ouve, Silêncio
46. No regresso há sempre uma mala...
47. Os voos livres de Maio
48. Ontem, toda a noite de voz em voz...
49. O Sonho ao poder!
Tarefa da aula 102 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª), 100 (7.º 6.ª), 94 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Na página 239, lê os poema «A lapiseira» e «Flor do Inverno». Escolhe depois as respostas certas.
Estes poemas têm,
a) respectivamente, quatro e três estrofes.
b) respectivamente, dezasseis e doze estrofes.
c) ambos, quatro versos.
Cada quadra de ambos os poemas tem o esquema rimático
a) A-B-A-B.
b) A-B-C-B.
c) A-B-B-A.
A métrica de cada verso dos dois poemas — que é sempre a mesma — é de
a) oito sílabas métricas.
b) sete sílabas métricas.
c) seis sílabas métricas.
Os «assuntos» dos dois poemas são
a) a lapiseira; uma flor.
b) a lapiseira; o Inverno.
c) a lapiseira; o guarda-chuva.
A lapiseira é identificada com
a) uma varinha de condão, um fósforo, um pássaro.
b) o sol, uma varinha mágica, um pássaro.
c) o sol, um fósforo, um pássaro.
O guarda-chuva é identificado com
a) um girassol; um pára-quedas.
b) o vento; o Verão; um girassol.
c) o Inverno; o Verão; um girassol.
Agora lê a página do Diário de Anne Frank, que também versa sobre um objecto, a sua caneta de tinta permanente.
QUINTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 1943
Querida Kitty,
Tenho um bom título para este capítulo:
Ode à Minha Caneta de Tinta Permanente
In Memoriam
A minha caneta de tinta permanente sempre foi um dos meus bens mais valiosos; dava-lhe grande valor, principalmente porque tinha um aparo grosso e só consigo fazer uma letra bonita com aparos grossos. Levou uma longa e interessante vida de caneta, que resumirei de seguida.
Quando eu tinha nove anos, a minha caneta de tinta permanente (embrulhada em algodão) chegou como uma “amostra sem valor comercial”, vinda de Aachen, onde a minha avó (a amável doadora) vivia. Eu estava de cama com gripe, enquanto os ventos de Fevereiro uivavam em redor do apartamento. Esta esplêndida caneta vinha num estojo de cabedal vermelho e eu mostrei-a às minhas amigas assim que tive oportunidade. Eu, Anne Frank, a orgulhosa proprietária de uma caneta de tinta permanente.
Quando tinha dez anos, deixaram-me levar a caneta para a escola e, para minha surpresa, a professora até me deixou escrever com ela. Contudo, quando tinha onze anos, o meu tesouro teve de ser novamente arrecadado, porque a minha professora do sexto ano só nos deixava usar canetas e tinteiros da escola. Aos doze anos, fui para o Liceu Judaico e a minha caneta ganhou um estojo novo em honra da ocasião. Não só tinha também espaço para um lápis, como também tinha um fecho de correr, que era muito mais impressionante. Quando eu tinha treze anos, a caneta de tinta permanente veio comigo para o Anexo, e juntas percorremos diários e composições sem conta. Eu tinha feito catorze anos e a minha caneta estava a gozar o último ano da sua vida comigo quando...
Passava pouco das cinco na sexta-feira à tarde. Saí do meu quarto e estava prestes a sentar-me à mesa para escrever quando fui rudemente empurrada para o lado, para abrir espaço para Margot e o Papá, que queriam praticar o seu latim. A caneta ficou em cima da mesa, enquanto a sua dona, suspirando, foi obrigada a remediar-se com um pequeno cantinho da mesa, onde começou a esfregar feijões. É assim que retiramos o bolor dos feijões e os devolvemos ao seu estado original. Às seis menos um quarto varri o chão, despejei o lixo em cima de um jornal, juntamente com os feijões podres, e deitei tudo para o fogão. Ergueu-se uma chama enorme, e eu pensei como era maravilhoso que o fogão, que estava a soltar o último suspiro, tivesse tido uma recuperação tão miraculosa.
Depois ficou tudo novamente silencioso. Os estudantes tinham saído e eu sentei-me à mesa para recomeçar o que tinha interrompido. Mas, por mais que procurasse, não encontrava a minha caneta. Voltei a procurar. Margot procurou, a Mamã procurou, o Papá procurou, Dussel procurou. Mas tinha desaparecido.
—Talvez tenha caído no fogão, junto com os feijões! — sugeriu Margot.
— Não, é impossível! — respondi.
Mas nessa noite, quando a caneta ainda não tinha aparecido, presumimos todos que tinha ardido, especialmente porque o celulóide é altamente inflamável. Os nossos receios mais negros confirmaram-se no dia seguinte quando o Papá foi esvaziar o fogão e encontrou o grampo metálico, que servia para a prender ao bolso, entre as cinzas. Não sobrara nem rastos do aparo de ouro.
— Deve ter derretido — conjecturou o Papá.
Resta-me uma única consolação, embora pequena: a minha caneta de tinta permanente foi cremada, tal como eu gostaria de ser um dia!
Tua, Anne
A página tem o sub-título «In Memoriam» ('À Memória de'), porque a caneta
a) desapareceu e Anne a ela dedica o texto.
b) era um auxiliar da memória da autora.
c) tinha boa memória.
A caneta
a) ardeu no fogão.
b) foi cremada.
c) perdeu-se na desarrumação da casa.
Escreve um texto sobre um objecto teu — que te permita fazer algum tipo de reflexão e de historial como os que há na página de Anne Frank.
Tarefa da aula 106 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª), 104 (7.º 6.ª) e 98 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Vais escrever um diálogo entre duas personagens, que escolherás na coluna mais à esquerda. O local em que o diálogo decorrerá escolhê-lo-ás entre os que estão na coluna mais à direita. Na coluna do meio, seleccionas um objecto que terá de ser referido ao longo do diálogo (e que deve ser assunto importante da conversa). [No blogue as colunas aparecerão desfeitas, seguidas na vertical]
Personagem
um cantor
um estudante
um padre
um barbeiro
uma «caixa» de supermercado
um inspector da Judiciária
um chefe de estação da CP
um comerciante de bairro
um cirurgião
um nadador-salvador
um agricultor
uma senhora da classe média
uma modelo
Objecto
um piano de cauda
uma pintura
um relógio
um cheque
uma peça de roupa
uma vassoura
um livro
um lenço
uma marmita
uma mala
uma carta
uma disquete
as chaves de um automóvel
Local
um iate
uma praia
uma helicóptero
um quarto de hotel
uma sala de espera
uma casa de banho
um bar
uns lugares no comboio
uma estação de metro
um cinema
uma estrada
um elevador
uma cabine de provas
Cada fala (que ficará isolada por travessões, como é hábito no discurso directo) será explicada por um verbo (em geral, depois da fala: «— Isto e aquilo — disse Fulano.»). Convém ires variando o mais possível esses verbos com que o narrador relata as falas. Para que não uses sempre «disse Fulano» ou «perguntou Beltrano», procura usar alguns destes:
advertir; aconselhar; afirmar; alegar; apregoar; assegurar; asseverar; avisar; confessar; contar; censurar; confessar; criticar; declarar; dizer; esclarecer, exclamar; explicar; indicar; murmurar; notar; objectar; ordenar; prevenir; referir; repreender; revelar; indagar; perguntar; interpelar; interromper; inquirir; continuar; prosseguir; vociferar; retorquir; responder; contrapor; refutar; replicar; retrucar; assentir; resmungar; segredar; lamentar; queixar-se; lastimar; sussurar; cochichar.
Usa linguagem apropriada às personagens intervenientes e à situação: não se tratando de jovens, não é de esperar que falem «à adolescente»; se forem personagens que não se conheçam, não é de esperar que se tratem com informalidade; ...
Tem ainda em conta que o diálogo será depois para ler em voz alta — ou mesmo dramatizar — por dois colegas (que terão de perceber o que escreveste!).
Tarefas das aulas 107-108 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª), 105-106 (7.º 6.ª) e 99-100 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Rever e acrescentar diálogos de colegas:
— com caneta de cor diferente, emendar o que seja necessário (diversificar verbos «introdutórios», e, eventualmente, acrescentar falas. (Ter em conta o que eu pus no comentário agrafado.)
— fazer mais uma cópia do texto, para poder depois fazer leitura dramatizada.
— ensaiar leitura expressiva em diálogo.
Dramatizar os textos.
Tarefas da aula 111 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª), 109 (7.º 6.ª), 103 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª)
Lê o «Poema da morte na estrada» (p. 245) e completa:
O que revolta o poeta é o facto de _______________.
Ensaia a leitura em voz alta do poema.
Lê «As minas» (p. 246):
O poema refere três tipos de minas: _______________, ______________, _______________.
Destes tipos de minas o que preocupa a autora é o das ________. As outras duas minas são mencionadas apenas para ______________.
Ensaia a leitura em voz alta do poema.
Lê «Meninas e Meninos» (p. 246):
As duas primeiras estrofes são semelhantes — repetitivas até — e pretendem mostrar que é quase banal a seguinte situação: haver ______________.
A última estrofe (apenas dois versos) resume as anteriores («Todos já vimos!») e termina com «E então?». Este último verso pretende levar as pessoas a ________________.
Ensaia a leitura em voz alta do poema.
Lê «Conto em verso da princesa roubada» (p. 212).
Os dois últimos versos aparecem já um pouco destacados da estrofe a que pertencem, talvez por serem uma espécie de comentário à narrativa contada até aí. Esses versos parecem-te optimistas ou pessimistas (relativamente ao comportamente humano)? Para mim, estes versos insinuam que ______.
Tarefa da aula 112 (7.º 6.ª), 106 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª), 114 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª)
Lê «Crojentos» (pp. 150-151).
Após leres o 1.º parágrafo (ll. 1-17), escolhe a melhor alínea:
O significado de «crojento» é:
a) 'falso, desleal, mentiroso, simulado, cobarde'.
b) '«queque», «graxista», tímido, estudioso'.
c) 'desonesto, estudioso, hipócrita, cobarde'.
O grupo dos «crojentos» e o grupo dos que tinham inventado esse nome eram constituídos, respectivamente, por
a) Fred, George, Bill, Rawlins; Sam, Benjy, Blake.
b) Fred, George, Bill; Sam, Benjy, Blake, Tim.
c) Fred, George, Bill; Sam, Benjy, Blake.
Lê agora o resto do texto:
A angústia de Tim vinha de
a) ter tirado dinheiro ao pai e ter medo de lho confessar.
b) ser perseguido pelos «crojentos» e ter medo de os denunciar.
c) ter denunciado os que o perseguiam e ter agora medo deles.
Tim não aceita o conselho de Sam, porque
a) quer evitar represálias dos «crojentos».
b) quer dar aos «crojentos nova oportunidade.
c) não quer que o pai saiba que lhe tirou dinheiro.
Tarefas da aula 110 (7.º 2.ª, 7.º 5.ª), 114 (7.º 6.ª), 116 (7.º 1.ª, 7.º 3.ª)
Por grupos de 4, 3 ou 5 alunos: ensaio da dramatização da adaptação já feita de «Os três conselhos»; acrescento de falas ao acto V (criando assim novo final); dramatizações propriamente ditas.
Texto de «Três conselhos» (pp. 174-175) adaptado a peça de teatro.
[Aproveitaram-se os textos para o acto I de Joana (7.º 2.ª), Bárbara (7.º 1.ª), Laura (7.º 3.ª), Elizângela (7.º 1.ª), Teresa (7.º 2.ª), Patrícia (7.º 1.ª), Rúben (7.º 5.ª), Afonso (7.º 6.ª); o acto II de Micaela (7.º 6.ª), Susana (7.º 3.ª), Mariana (7.º 5.ª), Mafalda (7.º 3.ª), Carla (7.º 5.ª), Pedro V. (7.º 3.ª); o acto III de Marta S. (7.º 2.ª), João M. (7.º 6.ª), Joana D. (7.º 5.ª), António Pedro (7.º 3.ª), Gonçalo (7.º 5.ª), Rita, (7.º 3.ª), Pedro M. (7.º 6.ª), Eliana (7.º 1.ª), Simão (7.º 3.ª), João B. (7.º 6.ª), Mário (7.º 6.ª), Joana A. (7.º 6.ª), Cátia (7.º 6.ª), Nuno (7.º 5.ª), Tiago (7.º 5.ª), Rita (7.º 2.ª); o acto IV de Sara (7.º 6.ª), Ana M. (7.º 6.ª), João Pedro (7.º 5.ª), Raquel (7.º 5.ª), Carolina (7.º 3.ª), Carolina (7.º 6.ª), Francisco (7.º 6.ª), Ricardo (7.º 1.ª), Silvana (7.º 3.ª), André (7.º 3.ª), João C. (7.º 2.ª); o acto V de Bruno Rafael (7.º 5.ª), Marta (7.º 5.ª), Andreia (7.º 1.ª), Bruno S. (7.º 1.ª), João Afonso (7.º 6.ª), Catarina (7.º 1.ª), Rui (7.º 3.ª).]
ACTO I
(Na casa do Patrão.) Rapaz, Patrão, Dona de Casa
Rapaz (alegre): Patrão, vou poder finalmente voltar para casa. Já tenho dinheiro suficiente para o meu eidico.
Patrão (com uma bolsa de couro na mão): Então aqui tens o dinheiro que ganhaste nestes quatro anos e me pediste que guardasse. Mas gostava que me respondesses a uma coisa.
Rapaz: Diga.
Patrão: Preferes ficar com três bons conselhos, que te hão-de servir para toda a vida, ou com esta bolsa com o teu dinheiro?
Rapaz (hesitante): Eu... preferia o meu dinheiro. O dinheiro é sangue, como diz o outro.
Patrão (insistente): Mas podem roubar-to pelo caminho e matarem-te.
Rapaz (desconfiado): E se os conselhos não me servirem para nada?
Patrão (pausadamente): Se os ouvires com o coração, servir-te-ão muito.
Rapaz (suspirando): Pois então venham de lá os conselhos.
Patrão (com ar muito sério): O primeiro conselho que te dou é que nunca te metas por atalho podendo andar pela estrada real.
Rapaz (de imediato): Cá me fica para meu governo.
Patrão (ainda sério): O segundo, é que nunca pernoites em casa de homem velho casado com mulher nova. Agora o terceiro vem a ser: nunca te decidas pelas primeiras aparências.
Rapaz (agradecido mas circunspecto): Obrigado, patrão. Guardarei na memória os três conselhos, que valem por todas as minhas soldadas.
Dona da casa (seguindo o rapaz, à medida que este se afasta): Não se vá já embora. Tome lá este bolo para o caminho.
Rapaz: Muito agradecido, minha senhora.
Dona da casa: Se tiver fome, coma-o, mas era melhor comê-lo em casa, com a sua mulher.
Rapaz: Obrigado, senhora. Farei o que diz. O bolo, comê-lo-ei com a minha mulher, quando chegar a casa. Bem, lá vou.
ACTO II
(Numa estrada; rapaz está com a sacola às costas.) Rapaz, Almocreve
Rapaz: Para onde vai o senhor com tão belas fazendas?
Almocreve: Vou para longe, muito longe.
Rapaz: Ainda bem que o encontro. Estava a ver que teria de fazer o caminho sozinho.
Almocreve: (bem disposto): Também estou contente por te encontrar: ouvi notícias de ladrões por esta zona.
Rapaz: Ah, sim? Tinham-me dito que a estrada era segura e que os atalhos é que eram perigosos.
Almocreve: Olha, posso garantir-te que não é assim. Já fui por aquele atalho ali umas cem vezes e nunca tive problemas. E poupa-se meia hora de caminho. Tempo é dinheiro.
Rapaz: Faça como entender. Eu sigo o meu caminho, continuo pela estrada real.
(Rapaz prossegue um pouco o caminho; almocreve, saído entretanto, regressa por outro lado.)
Rapaz (espantado): Que lhe aconteceu?
Almocreve (esbaforido): Fui roubado e espancado. Perdi todos os meus haveres.
Rapaz (com aspecto aliviado): Já me valeu o primeiro conselho que me deu o meu antigo patrão.
Almocreve: E qual era esse conselho?
Rapaz: Que nunca me metesse por atalhos, quando podia ir pela estrada real.
ACTO III
(Numa venda.) Rapaz, Taberneiro (entradote), Margarida (mulher do taberneiro, jovem)
Rapaz (entrando e sentando-se ao balcão): Boa noite!
Taberneiro (a limpar um copo com um pano): Boa noite. Que deseja?
Rapaz: Era um canecão de vinho bem fresco, se faz favor.
Taberneiro: É para já.
Rapaz: Há aqui um quarto onde possa passar a noite?
Taberneiro: Temos três quartos, bem limpos e arejados. Ó Margarida, mostra os quartos a este senhor.
Margarida (que aparece a limpar as mãos ao avental): Faça o favor de vir comigo. Vejo-o realmente muito cansado.
Rapaz (enquanto acaba a bebida, dirigindo-se ao taberneiro): É sua filha?
Taberneiro: Ora essa, é mas é minha mulher!
Rapaz: Quanto é?
Taberneiro: São dois euros. Mas vai-se já embora? Julguei que quisesse passar cá a noite.
Rapaz (um pouco embaraçado): Lembrei-me agora de que tenho um amigo que mora por estas bandas. Obrigado na mesma.
Taberneiro: De nada.
Rapaz sai com o saco ao ombro.
ACTO IV
(À entrada da vila.) Rapaz, Aldeão
Aldeão (com as mãos na cabeça): Pobre rapaz, chegaste a esta vila em má altura.
Rapaz: Pois, já reparei que a vila está num autêntico reboliço. O que sucedeu?
Aldeão: Passou-se uma coisa medonha. E agora todos têm medo de andar na rua.
Rapaz (com as mãos na cintura): Conte lá, senhor. Assim não entendo nada.
Aldeão: É um assunto delicado. Mas eu conto; se não, ainda morres com tanta ansiedade.
Rapaz (muito atento): Conte, conte.
Aldeão: É que houve um assassínio. Um indivíduo matou um taberneiro e fugiu com a mulher dele. A justiça anda agora à procura de ambos.
Rapaz (quase para si): Cada vez mais, penso que o dinheiro foi bem trocado pelos conselhos.
Aldeão: Que dinheiro?
Rapaz: Estava a pensar alto...
ACTO V
(Numa casa.) Rapaz, Mulher, Cunhado
Rapaz (à entrada da casa, em monólogo): Ufa, cheguei a casa. (Reparando que a mulher está com um homem, junto da lareira.) Quem será que está dentro da minha casa. Um homem com a minha mulher?! Vou já matar aqueles dois. Não, não o hei-de fazer. Não me posso esquecer dos conselhos do patrão. (Põe as mão na cabeça e fica pensativo.) Vou entrar calmo.
Mulher (surpreendida e alegre): Querido, chegaste. Finalmente! Dá cá um abraço. (Abraçam-se) Aqui está o Manuel, nosso irmão. Chegou hoje mesmo do Brasil. Que dia!
(Abraçam-se todos.)
Rapaz: Sabes, antes de regressar, o meu patrão deu-me três conselhos. Um deles era que nunca me decidisse pelas aparências. Quando me ia a aproximar da porta e vi um homem contigo, tive vontade de os matar. Mas lembrei-me do conselho.
Mulher: Graças a Deus seguiste o conselho do teu patrão. E como correu tudo lá?
Rapaz: Correu tudo bem, foram impecáveis. Não trouxe dinheiro, mas recebi bons conselhos.
Mulher: Então vamos comemorar a tua vinda e a do meu irmão. É já hora da ceia.
Rapaz: Vamos, estou faminto. E aproveitamos este bolo que a mulher do patrão me deu. Vou partir uma fatia. (Parte o bolo) Ah! Mas está aqui o dinheiro todo das minhas soldadas!
Mulher, Rapaz, Cunhado (em uníssono, felizes): Ainda há quem faça bem!
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