Friday, September 06, 2024

A curiosidade matou o gato… e Prócris também (por Joana Saraiva)

A curiosidade matou o gato… e Prócris também

 

Ditados, ou provérbios, são pequenas frases normalmente de origem popular que são difundidos oralmente, e podem descrever perfeitamente uma situação quando usados no contexto certo. O recurso a estas breves expressões pode auxiliar a narração de qualquer história.

O mito grego de Céfalo e Prócris relata uma trágica história de paixão, na qual “o amor nasce da vista e vai ao coração”.

“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Céfalo tinha sido feito prisioneiro por Aurora, que estava profundamente apaixonada por ele. Visto que só tinha olhos para Prócris, com quem já estava inclusivamente comprometido, não se deixou cair na tentação da bela deusa, e, após muitos esforços para se libertar, conseguiu fazê-lo. “Quem avisa amigo é”, ou talvez não. Ressentida pelo desprezo que Céfalo lhe mostrara, disse a este para verificar se Prócris tinha sido tão leal como ele tinha sido durante a sua ausência.  Para Céfalo, “não há fumo sem fogo”, pois estas palavras foram um sinal que o fez pôr em causa a confiança que tinha na mulher.

“A esperança é a última a morrer”. No entanto, por vezes “mais vale prevenir do que remediar”. Deste modo, Céfalo decidiu prevenir-se de forma a assegurar que voltaria para os braços de uma mulher fiel. “Um homem prevenido vale por dois”. Seguiu o conselho de Aurora e, quando regressou, fez-se passar por um homem desconhecido de todos, com o intuito de testar a fidelidade de Prócris. Quando esta hesita e parece prestes a ceder na sua mentira, Céfalo revelou a sua verdadeira identidade. Prócris, talvez por tristeza e desapontamento pela falta de fé que o marido tinha nela para chegar ao ponto de a tentar enganar, talvez por vergonha do seu (quase) ato de infidelidade, foge para longe do companheiro. “Mais vale só do que mal acompanhada”.

No entanto, Céfalo e Prócris reconciliam-se. “Quem corre por gosto não cansa”. O amor que os unia era maior que a distância e os conflitos que um dia os tinham separado. Anos passaram e os dois permaneciam juntos e apaixonados. Céfalo continuava a caçar, mas algo incomodava Prócris: os rumores de que o marido tinha uma amante com quem se encontrava durante este seu passatempo. “Na desconfiança é que está a segurança”, pelo menos achou Prócris. Como desconfiava de que o marido a traía com uma tal “Brisa”, de modo a tirar a limpo esta hipótese decidiu esconder-se atrás de vegetação, mas, quando Céfalo ouviu um ruído vindo de onde Prócris se encontrava, não ciente de que era a esposa, disparou contra ela uma seta que nunca falhava. “O feitiço virou-se contra o feiticeiro” porque, de facto, tinha sido Prócris a oferecer esta arma de pontaria totalmente certeira ao marido, e que veio a causar a sua morte quando “o tiro lhe saiu pela culatra”, indiretamente, e lhe acertou em cheio no coração. “Um dia é da caça, o outro do caçador”, neste caso, foi da caça… Pode-se dizer que “a curiosidade matou o gato”, mas também a desafortunada Prócris.