A curiosidade matou o gato… e Prócris também (por Joana Saraiva)
A
curiosidade matou o gato… e Prócris também
Ditados, ou
provérbios, são pequenas frases normalmente de origem popular que são
difundidos oralmente, e podem descrever perfeitamente uma situação quando
usados no contexto certo. O recurso a estas breves expressões pode auxiliar a
narração de qualquer história.
O mito grego
de Céfalo e Prócris relata uma trágica história de paixão, na qual “o amor
nasce da vista e vai ao coração”.
“Água mole em
pedra dura tanto bate até que fura”. Céfalo tinha sido feito prisioneiro por
Aurora, que estava profundamente apaixonada por ele. Visto que só tinha olhos
para Prócris, com quem já estava inclusivamente comprometido, não se deixou
cair na tentação da bela deusa, e, após muitos esforços para se libertar,
conseguiu fazê-lo. “Quem avisa amigo é”, ou talvez não. Ressentida pelo
desprezo que Céfalo lhe mostrara, disse a este para verificar se Prócris tinha
sido tão leal como ele tinha sido durante a sua ausência. Para Céfalo, “não há fumo sem fogo”, pois
estas palavras foram um sinal que o fez pôr em causa a confiança que tinha na
mulher.
“A esperança
é a última a morrer”. No entanto, por vezes “mais vale prevenir do que
remediar”. Deste modo, Céfalo decidiu prevenir-se de forma a assegurar que
voltaria para os braços de uma mulher fiel. “Um homem prevenido vale por dois”.
Seguiu o conselho de Aurora e, quando regressou, fez-se passar por um homem
desconhecido de todos, com o intuito de testar a fidelidade de Prócris. Quando
esta hesita e parece prestes a ceder na sua mentira, Céfalo revelou a sua
verdadeira identidade. Prócris, talvez por tristeza e desapontamento pela falta
de fé que o marido tinha nela para chegar ao ponto de a tentar enganar, talvez
por vergonha do seu (quase) ato de infidelidade, foge para longe do
companheiro. “Mais vale só do que mal acompanhada”.
No entanto,
Céfalo e Prócris reconciliam-se. “Quem corre por gosto não cansa”. O amor que
os unia era maior que a distância e os conflitos que um dia os tinham separado.
Anos passaram e os dois permaneciam juntos e apaixonados. Céfalo continuava a
caçar, mas algo incomodava Prócris: os rumores de que o marido tinha uma amante
com quem se encontrava durante este seu passatempo. “Na desconfiança é que está
a segurança”, pelo menos achou Prócris. Como desconfiava de que o marido a
traía com uma tal “Brisa”, de modo a tirar a limpo esta hipótese decidiu
esconder-se atrás de vegetação, mas, quando Céfalo ouviu um ruído vindo de onde
Prócris se encontrava, não ciente de que era a esposa, disparou contra ela uma
seta que nunca falhava. “O feitiço virou-se contra o feiticeiro” porque, de
facto, tinha sido Prócris a oferecer esta arma de pontaria totalmente certeira
ao marido, e que veio a causar a sua morte quando “o tiro lhe saiu pela
culatra”, indiretamente, e lhe acertou em cheio no coração. “Um dia é da caça,
o outro do caçador”, neste caso, foi da caça… Pode-se dizer que “a curiosidade
matou o gato”, mas também a desafortunada Prócris.
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