Thursday, September 07, 2023

Aula 111-112

Aula 111-112 (21 [4.ª; metade da turma em sala; a outra metade relanceará a aula na classroom], 22 [1.ª, 3.ª], 24/mai [5.ª])«Cristalizações», de Cesário Verde.

Como se trata de poema cujo «eu» (sujeito poético, sujeito lírico) é um quase-narrador — e, mais uma vez, em deambulação pela cidade —, é possível fazer sínteses-resumos de cada estrofe. Já o fiz para três quintilhas; procede agora do mesmo modo para as seis em falta. (Nota que o poema é bastante maior. O original tem vinte estrofes.)

Não uses em cada síntese mais do que vinte palavras.

                          Cristalizações

               Faz frio. Mas, depois d’uns dias de aguaceiros,

               Vibra uma imensa claridade crua.

               De cócoras, em linha, os calceteiros,

               Com lentidão, terrosos e grosseiros,

5             Calçam de lado a lado a longa rua.

 

               Como as elevações secaram do relento,

               E o descoberto sol abafa e cria!

               A frialdade exige o movimento;

               E as poças d’água, como um chão vidrento,

10           Refletem a molhada casaria.

 

               Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,

               Disseminadas, gritam as peixeiras;

               Luzem, aquecem na manhã bonita,

               Uns barracões de gente pobrezita,

15           E uns quintalórios velhos, com parreiras.

 

               Não se ouvem aves; nem o choro d’uma nora!

               Tomam por outra parte os viandantes;

               E o ferro e a pedra — que união sonora! —

               Retinem alto pelo espaço fora,

20           Com choques rijos, ásperos, cantantes.

 

               Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,

               Cuja coluna nunca se endireita,

               Partem penedos. Voam-lhe estilhaços.

               Pesam enormemente os grossos maços,

25           Com que outros batem a calçada feita.

 

               A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!

               Que espessos forros! Numa das regueiras

               Acamam-se as japonas, os coletes;

               E eles descalçam com os picaretes,

30           Que ferem lume sobre pederneiras.

 

               E nesse rude mês, que não consente as flores,

               Fundeiam, como esquadra em fria paz,

               As árvores despidas. Sóbrias cores!

               Mastros, enxárcias, vergas! Valadores

35           Atiram terra com as largas pás.

 

               Eu julgo-me no Norte, ao frio — o grande agente! —

               Carros de mão, que chiam carregados,

               Conduzem saibro, vagarosamente;

               Vê-se a cidade, mercantil, contente:

40          Madeiras, águas, multidões, telhados!

 

               Negrejam os quintais; enxuga a alvenaria;

               Em arco, sem as nuvens flutuantes,

               O céu renova a tinta corredia;

               E os charcos brilham tanto que eu diria

45           Ter ante mim lagoas de brilhantes!

Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas

Vv.

Resumo-Síntese

1-5

 

6-10

O frio e o sol convidam ao trabalho. No chão molhado, vê-se a cidade refletida.

11-15

Passam peixeiras enérgicas, a apregoarem. Veem-se barracas pobres e quintalórios.

16-20

 

21-25

 

26-30

 

31-35

 

36-40

 

41-45

Também as cores e os reflexos devidos às poças de água impressionam o «eu».

Documentário «O Livro de Cesário Verde» (série 'Grandes Livros')

Ouvidos os primeiros dez minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca de Cesário Verde, escreve V(erdadeiro) ou F(also) à esquerda dos seguintes períodos.

O documentário começa com a pergunta «Será que só existe poesia na beleza?»

Diz-se-nos depois que a poesia também é possível na noite, no feio, nos cocós, nas pequenas coisas.

Também haveria poesia no real, no mundo, no quotidiano, na vizinha do lado, no frio, no cansaço.

Metaforicamente, anuncia-se-nos irmos «abrir os Cânticos do Realismo».

Na introdução ao contexto, refere-se estar-se no tempo da Regeneração — o tempo dos comboios, dos telégrafos, das estradas, das pontes, com a ascensão da burguesia e o crescimento das cidades.

Em 1886, os jornais noticiaram, por azarada gralha, a morte de Cesário Azul, um comerciante de Lisboa que também poetava.

Cesário morreu com apenas 71 anos.

O Livro de Cesário Verde foi publicado, por iniciativa de Silva Pinto, logo em 1887.

Cesário Verde trabalhava na loja de chinês do pai, na Baixa.

Foi estudante, ainda que fugazmente, da Faculdade de Direito de Lisboa.

O espólio de Cesário Verde perdeu-se num tsunâmi que fez submergir a casa de Linda-a-Pastora.

A família de Cesário Verde vivia com dificuldades económicas.

Em vida, Cesário não foi reconhecido como bom poeta.

O poema «Esplêndida» teve esplêndida receção por parte de leitores e direção do Diário de Notícias, que o publicara.

Cesário Verde foi acusado de ter sido influenciado por Les Fleurs du Mal, de Baudelaire.

Ramalho Ortigão recomendou-lhe que fosse menos Verde e mais Cesário.

Para Pedro Mexia, a forma como Cesário descreve as mulheres é «tudo menos lírica — é uma forma bastante brutal e, hoje, diríamos ‘misógina’»; não era um poeta que escrevesse para agradar.

Cesário Verde serviu-se de novas palavras, de métrica e rimas inovadoras, de uma adjetivação sem paralelo.

Para o ensaísta Eugénio Lisboa, o único equivalente a Cesário na sua época seria Eça de Queirós, ainda que este tivesse sido prosador.

Segundo refere Maria Filomena Mónica, o primeiro poema de Cesário Verde é de 1873.

Resolve, num comentário conjunto (num único texto), os itens 1.1 e 1.2 de «Letras Prévias» (p. 284 do manual).

Viagem (Tiago Bettencourt)

Faz essa viagem, meu bem
Que as tuas mãos livres venham cheias
Que teus pés descalços ganhem vidas
Serenem no alívio dessa estrada

 

Faz essa viagem, meu bem
Tudo o que se perde ganha asas
Anjos que caminham lado a lado
Vozes que nos guiam as palavras

 

Vai além, segue vida, segue tempo
Como folha na corrente
Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente
Choro, riso, segue em frente

 

Voltarás um dia também
Como todos nós que um dia vamos
Procurando luzes que nos faltam
Encontrando os passos onde andamos

 

Tens essa coragem, eu sei
De largar as coisas mais amadas
Descobrir o sítio onde se lavam
Dores que se querem descansadas

 

Vai, além, segue vida, segue tempo
Como folha na corrente
Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente
Choro, riso, segue, em frente

 

Vai, meu bem

 

Voltarás um dia, eu sei
Com teus anjos fortes pelo ombro
Infinito amor em cada asa
De braços abertos para casa

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Completa depois de vermos o começo do filme.

Malèna (Giuseppe Tornatore)

Os Maias (Eça de Queirós)

A Ilustre Casa de Ramires (Eça de Queirós)

Género perseguido — Modelo inspirador

Malèna pretende ser um filme de memórias (memórias da infância ou, melhor, do começo da adolescência). Há também algum parentesco com as narrativas de formação, em que acompanha-mos o crescimento, a educação, do herói. Terá estado na ideia do realizador repetir o êxito que tivera com Nuovo Cinema Paradiso (1989), que, tal como Malèna, também versa mais sobre a nostalgia, a memória, do que sobre o _____ (no Cinema Paraíso, o lado da formação do futuro cineasta é evidente, aqui é a iniciação _____ que é aflorada).

Os Maias pretende contar a história de uma família (até à _____ que se abate sobre ela) mas é também, como se entrevê pelo _____ («episódios da vida romântica») um retrato da sociedade. Nesta parte, Eça seguiria o programa de Balzac, na enorme série de romances que constituem a Comédie Humaine (também Eça pensara numa série de obras com «Cenas da Vida Portuguesa»).

A Ilustre Casa de Ramires tem um escopo, apresentar o Portugal do século XIX, o «dos Ramires de braços cruzados», em contraste com o Portugal antigo, o dos Ramires retratados na novela ____, passada no século XII, que Gonçalo vai escrevendo. Uma das influências de Eça sempre lembradas é a de Flaubert (neste caso, também pela assunção de um tema histórico). Há ainda a intenção de caricaturar o estilo romântico, rebuscado e excessivo, das novelas históricas, através da sua paródia-pastiche no texto que escreve o _____.

Narrador — Articulação narrativa

No início e no fim de Malèna há uma voz em off. É um narrador que percebemos estar no presente, coincidente com o nosso (mesmo se o filme é de 2000), que nos leva até ao enredo que interessa, um pouco como acontecia em Amor de Perdição. Esse narrador homodie-gético, que também se vai apagar bastante durante a história que vamos conhecer (porque, no cinema, não convém abusar da «narração»), não se identifica, porém, com um sobrinho do herói (como ____ relativamente a Camilo) mas antes com o próprio protagonista. No fundo, o narrador é o sexagenário ou septuagenário correspondente ao adulto em que _____ se terá tornado.

Nos Maias o narrador é heterodiegético, não se identifica com nenhuma personagem em especial, embora, graças sobretudo ao uso do discurso indireto livre, se vá focalizando em quase todas elas. A história não é contada linearmente. Começamos já com a instalação no Ramalhete, mas, depois, recuamos no tempo e é-nos contada a «intriga secundária» (Pedro e _____), necessária para o desfecho trágico da intriga principal (Carlos e Maria Eduarda), que ocupará todo o romance a partir de quando se chega de novo ao momento da instalação de Carlos em Lisboa. O epílogo sucede a uma elipse da ação: passaram dez anos, dando-se agora o ____ de Carlos.

Na Ilustre Casa o narrador é heterodiegético. Ao longo de onze capítulos, a ação principal é narrada em relativa sequencialização temporal, se descartarmos que há quase sempre «alternância» com a ação da narrativa encaixada, a novela histórica escrita por ____, que aliás parece, aqui e ali, interligada com circunstâncias da ação principal. O último capítulo, XII, sucede a uma elipse da ação: passaram quatro anos, dando-se agora o _____ de Gonçalo.

Indica a função sintática do que esteja sublinhado:

Velha infância (Tribalistas)

Você é assim,

Um sonho p’ra mim,

E, quando eu não te vejo,    _____________

Eu penso em você

Desde o amanhecer

Até quando eu me deito.

 

Eu gosto de você     _____________

E gosto de ficar com você.

Meu riso é tão feliz contigo,

O meu melhor amigo

É o meu amor.

 

E a gente canta

E a gente dança

E a gente não se cansa

De ser criança,

A gente brinca    _____________

Na nossa velha infância.

 

Seus olhos, meu clarão,

Me guiam dentro da escuridão,

Seus pés me abrem o caminho,    _____________

Eu sigo e nunca me sinto só.

 

Você é assim,    _____________

Um sonho p’ra mim,

Quero te encher de beijos.

Eu penso em você

Desde o amanhecer

Até quando eu me deito.

 

Eu gosto de você

E gosto de ficar com você.

Meu riso é tão feliz contigo,    _____________

O meu melhor amigo

É o meu amor.

 

E a gente canta,    _____________

A gente dança,

A gente não se cansa

De ser criança.

A gente brinca

Na nossa velha infância.

 

Seus olhos, meu clarão,

Me guiam dentro da escuridão,    _____________

Seus pés me abrem o caminho,

Eu sigo e nunca me sinto .    _____________

 

Você é assim,

Um sonho p’ra mim.

Você é assim,    _____________

Você é assim,

Um sonho p’ra mim.

Você é assim.

TPC — Recordo o caderno de encargos até ao fim do ano: (i) terminar leitura de Os Maias ou A Ilustre Casa de Ramires; (ii) entregar tarefa sobre a referida obra de Eça (até fim de semana de 25-26 de maio); (iii) rever gramática (funções sintáticas; orações; outros assuntos mais pequenos).

 

 

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