Aula 111-112
Aula 111-112 (21 [4.ª; metade da turma em sala; a
outra metade relanceará a aula na classroom], 22 [1.ª, 3.ª], 24/mai [5.ª])
Lê «Cristalizações», de Cesário Verde.
Como se trata de poema
cujo «eu» (sujeito poético, sujeito lírico) é um quase-narrador — e, mais uma
vez, em deambulação pela cidade —, é possível fazer sínteses-resumos de cada
estrofe. Já o fiz para três quintilhas; procede agora do mesmo modo para as seis
em falta. (Nota que o poema é bastante maior. O original tem vinte estrofes.)
Não uses em cada síntese
mais do que vinte palavras.
Cristalizações
Faz frio. Mas, depois d’uns dias de aguaceiros,
Vibra
uma imensa claridade crua.
De
cócoras, em linha, os calceteiros,
Com
lentidão, terrosos e grosseiros,
5 Calçam
de lado a lado a longa rua.
Como
as elevações secaram do relento,
E
o descoberto sol abafa e cria!
A
frialdade exige o movimento;
E
as poças d’água, como um chão vidrento,
10 Refletem
a molhada casaria.
Em
pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas,
gritam as peixeiras;
Luzem,
aquecem na manhã bonita,
Uns
barracões de gente pobrezita,
15 E
uns quintalórios velhos, com parreiras.
Não
se ouvem aves; nem o choro d’uma nora!
Tomam
por outra parte os viandantes;
E
o ferro e a pedra — que união sonora! —
Retinem
alto pelo espaço fora,
20 Com
choques rijos, ásperos, cantantes.
Bom
tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja
coluna nunca se endireita,
Partem
penedos. Voam-lhe estilhaços.
Pesam
enormemente os grossos maços,
25 Com
que outros batem a calçada feita.
A
sua barba agreste! A lã dos seus barretes!
Que
espessos forros! Numa das regueiras
Acamam-se
as japonas, os coletes;
E
eles descalçam com os picaretes,
30 Que
ferem lume sobre pederneiras.
E
nesse rude mês, que não consente as flores,
Fundeiam,
como esquadra em fria paz,
As
árvores despidas. Sóbrias cores!
Mastros,
enxárcias, vergas! Valadores
35 Atiram
terra com as largas pás.
Eu
julgo-me no Norte, ao frio — o grande agente! —
Carros
de mão, que chiam carregados,
Conduzem
saibro, vagarosamente;
Vê-se
a cidade, mercantil, contente:
40 Madeiras,
águas, multidões, telhados!
Negrejam
os quintais; enxuga a alvenaria;
Em
arco, sem as nuvens flutuantes,
O
céu renova a tinta corredia;
E
os charcos brilham tanto que eu diria
45 Ter
ante mim lagoas de brilhantes!
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e
Outros Poemas
Vv. |
Resumo-Síntese |
1-5 |
|
6-10 |
O frio e o sol convidam ao trabalho. No chão
molhado, vê-se a cidade refletida. |
11-15 |
Passam peixeiras enérgicas, a apregoarem.
Veem-se barracas pobres e quintalórios. |
16-20 |
|
21-25 |
|
26-30 |
|
31-35 |
|
36-40 |
|
41-45 |
Também as cores e os reflexos devidos às poças de água impressionam o
«eu». |
Documentário «O Livro de Cesário Verde» (série 'Grandes Livros')
Ouvidos os primeiros dez
minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca de Cesário Verde, escreve V(erdadeiro) ou F(also) à esquerda dos
seguintes períodos.
O documentário começa com
a pergunta «Será que só existe poesia na beleza?»
Diz-se-nos depois que a
poesia também é possível na noite, no feio, nos cocós, nas pequenas coisas.
Também haveria poesia no
real, no mundo, no quotidiano, na vizinha do lado, no frio, no cansaço.
Metaforicamente,
anuncia-se-nos irmos «abrir os Cânticos
do Realismo».
Na introdução ao contexto,
refere-se estar-se no tempo da Regeneração — o tempo dos comboios, dos
telégrafos, das estradas, das pontes, com a ascensão da burguesia e o
crescimento das cidades.
Em 1886, os jornais
noticiaram, por azarada gralha, a morte de Cesário Azul, um comerciante de
Lisboa que também poetava.
Cesário morreu com apenas
71 anos.
O Livro de Cesário Verde foi publicado, por iniciativa de Silva
Pinto, logo em 1887.
Cesário Verde trabalhava
na loja de chinês do pai, na Baixa.
Foi estudante, ainda que
fugazmente, da Faculdade de Direito de Lisboa.
O espólio de Cesário Verde
perdeu-se num tsunâmi que fez submergir a casa de Linda-a-Pastora.
A família de Cesário Verde
vivia com dificuldades económicas.
Em vida, Cesário não foi
reconhecido como bom poeta.
O poema «Esplêndida» teve
esplêndida receção por parte de leitores e direção do Diário de Notícias, que o publicara.
Cesário Verde foi acusado
de ter sido influenciado por Les Fleurs
du Mal, de Baudelaire.
Ramalho Ortigão
recomendou-lhe que fosse menos Verde e mais Cesário.
Para Pedro Mexia, a forma
como Cesário descreve as mulheres é «tudo menos lírica — é uma forma bastante
brutal e, hoje, diríamos ‘misógina’»; não era um poeta que escrevesse para
agradar.
Cesário Verde serviu-se de
novas palavras, de métrica e rimas inovadoras, de uma adjetivação sem paralelo.
Para o ensaísta Eugénio
Lisboa, o único equivalente a Cesário na sua época seria Eça de Queirós, ainda
que este tivesse sido prosador.
Segundo refere Maria
Filomena Mónica, o primeiro poema de Cesário Verde é de 1873.
Resolve, num comentário
conjunto (num único texto), os itens 1.1 e 1.2 de «Letras Prévias» (p. 284 do
manual).
Viagem (Tiago Bettencourt)
Faz
essa viagem, meu bem
Que as tuas mãos livres venham cheias
Que teus pés descalços ganhem vidas
Serenem no alívio dessa estrada
Faz
essa viagem, meu bem
Tudo o que se perde ganha asas
Anjos que caminham lado a lado
Vozes que nos guiam as palavras
Vai
além, segue vida, segue tempo
Como folha na corrente
Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente
Choro, riso, segue em frente
Voltarás
um dia também
Como todos nós que um dia vamos
Procurando luzes que nos faltam
Encontrando os passos onde andamos
Tens
essa coragem, eu sei
De largar as coisas mais amadas
Descobrir o sítio onde se lavam
Dores que se querem descansadas
Vai,
além, segue vida, segue tempo
Como folha na corrente
Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente
Choro, riso, segue, em frente
Vai,
meu bem
Voltarás
um dia, eu sei
Com teus anjos fortes pelo ombro
Infinito amor em cada asa
De braços abertos para casa
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . .
Completa depois de vermos o começo do
filme.
Malèna
(Giuseppe Tornatore) |
Os Maias
(Eça de Queirós) |
A Ilustre Casa de Ramires
(Eça de Queirós) |
|
Género
perseguido — Modelo inspirador |
|
Malèna pretende ser um filme de memórias (memórias da infância ou, melhor, do começo da
adolescência). Há também algum parentesco com as narrativas de formação, em que acompanha-mos o crescimento, a
educação, do herói. Terá estado na ideia do realizador repetir o êxito que
tivera com Nuovo Cinema Paradiso
(1989), que, tal como Malèna,
também versa mais sobre a nostalgia, a memória, do que sobre o _____ (no Cinema Paraíso, o lado da formação do
futuro cineasta é evidente, aqui é a iniciação _____ que é aflorada). |
Os Maias pretende contar a história de uma família (até à _____ que se abate sobre ela) mas
é também, como se entrevê pelo _____ («episódios
da vida romântica») um retrato da sociedade. Nesta parte, Eça seguiria o
programa de Balzac, na enorme série de romances que constituem a Comédie Humaine (também Eça pensara
numa série de obras com «Cenas da Vida Portuguesa»). |
A Ilustre Casa de Ramires tem um escopo,
apresentar o Portugal do século XIX, o
«dos Ramires de braços cruzados», em contraste com o Portugal antigo, o dos Ramires
retratados na novela ____, passada no século XII, que Gonçalo vai escrevendo.
Uma das influências de Eça sempre lembradas é a de Flaubert (neste caso,
também pela assunção de um tema histórico). Há ainda a intenção de
caricaturar o estilo romântico, rebuscado e excessivo, das novelas
históricas, através da sua paródia-pastiche no texto que escreve o _____. |
|
Narrador —
Articulação narrativa |
|
No início e no fim de
Malèna há uma voz em off. É um narrador que percebemos
estar no presente, coincidente com o nosso (mesmo se o filme é de 2000), que
nos leva até ao enredo que interessa, um pouco como acontecia em Amor de Perdição. Esse narrador homodie-gético, que também se vai
apagar bastante durante a história que vamos conhecer (porque, no cinema, não
convém abusar da «narração»), não se identifica, porém, com um sobrinho do
herói (como ____ relativamente a Camilo) mas antes com o próprio
protagonista. No fundo, o narrador é o sexagenário ou septuagenário
correspondente ao adulto em que _____ se terá tornado. |
Nos Maias o narrador é heterodiegético, não se identifica
com nenhuma personagem em especial, embora, graças sobretudo ao uso do
discurso indireto livre, se vá focalizando em quase todas elas. A história
não é contada linearmente. Começamos já com a instalação no Ramalhete, mas,
depois, recuamos no tempo e é-nos contada a «intriga secundária» (Pedro e _____), necessária para o desfecho
trágico da intriga principal
(Carlos e Maria Eduarda), que ocupará todo o romance a partir de quando se
chega de novo ao momento da instalação de Carlos em Lisboa. O epílogo sucede
a uma elipse da ação: passaram dez anos, dando-se agora o ____ de Carlos. |
Na Ilustre Casa o narrador é heterodiegético. Ao longo de onze
capítulos, a ação principal é
narrada em relativa sequencialização temporal, se descartarmos que há quase
sempre «alternância» com a ação da
narrativa encaixada, a novela
histórica escrita por ____, que aliás parece, aqui e ali, interligada com
circunstâncias da ação principal. O último capítulo, XII, sucede a uma elipse
da ação: passaram quatro anos, dando-se agora o _____ de Gonçalo. |
Indica a função sintática
do que esteja sublinhado:
Velha infância
(Tribalistas)
Você
é assim,
Um
sonho p’ra mim,
E,
quando eu não te vejo, _____________
Eu
penso em você
Desde
o amanhecer
Até
quando eu me deito.
Eu
gosto de você _____________
E
gosto de ficar com você.
Meu
riso é tão feliz contigo,
O
meu melhor amigo
É
o meu amor.
E
a gente canta
E
a gente dança
E
a gente não se cansa
De
ser criança,
A
gente
brinca _____________
Na
nossa velha infância.
Seus
olhos, meu clarão,
Me
guiam dentro da escuridão,
Seus
pés me abrem o caminho, _____________
Eu
sigo e nunca me sinto só.
Você
é assim, _____________
Um
sonho p’ra mim,
Quero
te encher de beijos.
Eu
penso em você
Desde
o amanhecer
Até
quando eu me deito.
Eu
gosto de você
E
gosto de ficar com você.
Meu
riso é tão feliz contigo, _____________
O
meu melhor amigo
É
o meu amor.
E
a gente canta, _____________
A
gente dança,
A
gente não se cansa
De
ser criança.
A
gente brinca
Na
nossa velha infância.
Seus
olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da
escuridão, _____________
Seus
pés me abrem o caminho,
Eu
sigo e nunca me sinto só. _____________
Você
é assim,
Um
sonho p’ra mim.
Você
é assim, _____________
Você
é assim,
Um
sonho p’ra mim.
Você
é assim.
TPC
— Recordo o caderno de encargos até ao fim do ano: (i) terminar leitura de Os
Maias ou A Ilustre Casa de Ramires; (ii) entregar tarefa sobre a
referida obra de Eça (até fim de semana de 25-26 de maio); (iii) rever
gramática (funções sintáticas; orações; outros assuntos mais pequenos).
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