Aula 157R-157
Aula 157R-157 (1 [1.ª], 2/jun [3.ª]) Correções da tarefa
a partir de quadro de Magritte (e representações do amor).
Completa a tabela. (Na coluna da esquerda, a sobre a obra de
José Saramago, uso vários trechos tirados do manual Entre Nós e as Palavras,
de Alexandre Dias Pinto e Patrícia Nunes.)
Título, género, espaço, sociedade |
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O Ano da Morte de Ricardo Reis |
Locke |
O título
esclarece-nos sobre o foco principal e o género da obra. |
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O título inclui nomes
próprios, dois antropónimos, primeiro nome e apelido da personagem principal.
Mas antes do complemento do nome «Ricardo Reis», temos palavras que parecem
evocar o género ____. Com efeito, «O Ano
da Morte» faz adivinhar que se trata também de relatar um dado período de
tempo e que o romance visa acompanhar a história de Portugal numa fase
crucial do século _____. |
O título socorre-se de um
nome próprio, um antropónimo, o apelido da personagem principal. Esta escolha
deve significar que se pretende realçar a ____ do herói. Com efeito,
mostra-se-nos Ivan Locke sozinho com as suas resoluções, que explicita aos
outros sem hesitar, raciocinando agora apenas para levar a cabo as decisões
que já tomara. Algures se considera este filme um thriller _____. |
Ambas
as obras se movem entre a história, a ficção e a sociedade. |
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A ação da obra cruza-se
com os acontecimentos históricos, as personagens acompanham os acontecimentos
sociais e políticos e são afetados por eles: Reis é interrogado pela polícia política
do _____, cruza-se com os espanhóis fugidos à Guerra Civil; o irmão de Lídia,
Daniel Martins, morre na revolta dos marinheiros; etc. O narrador está conotado
com uma perspetiva progressista da realidade política, que contrasta com a visão
_____ do Estado Novo. |
O filme não deixa de
retratar situações que revelam preocupações de ordem _____ (as relações
familiares, a solidão, as hierarquias profissionais, o desporto e a televisão),
ainda que nos pareçam menos programáticas do que as do livro de Saramago). Os contactos de Ivan
dão-nos ideia de diversos perfis profissionais: Donal, os _____, o
albanês, outros biscateiros (versus
patrão em Chicago; e chefe local), funcionários da Câmara, etc. |
Espaço é
determinante da ação. |
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______ é o lugar geográfico
em que a ação se desenrola. A rede de ruas forma o labirinto que Reis percorre
nas suas deambulações pela cidade e do qual não consegue _____. A personagem
sente-se perdida e presa em Lisboa e às circunstâncias sociais e políticas do
seu ______. A capital portuguesa é um
lugar carregado de memórias do passado que assumem significados para o presente.
Nela coexistem o Tejo, o Terreiro do Paço ou a ______ de Camões. Por exemplo,
o cais de Lisboa e as estátuas de Camões e do Adamastor são inevitavelmente
conotados com o tempo dos feitos heroicos da expansão, que contrasta com o
_______ medíocre e cinzento. |
Quanto
ao espaço físico, o ______ é o lugar onde a ação visível se desenrola. A autoestrada
que liga a Londres a cidade em que vive Ivan é o caminho que o protagonista
percorre e do qual não pretende _____. A personagem sente-se condicionada
no carro, mas procura controlar as circunstâncias daquela ______. Através do telefone mantemo-nos
ao corrente do que se passa nos outros espaços em que se concentram as outras
linhas de ação (a casa, a _____, o estaleiro da obra). O espaço de que o herói
não pode sair constrange-o mas não é obstáculo inultrapassado (cfr. o
esquecimento do livro-guia). Serve também para diálogos monologais com o pai
que lembram um _____ frustrante. |
Num dos episódios finais de Último a sair, Rui Unas e Bruno Nogueira ensaiam clichés
para usarem assim que um deles seja expulso. Quando, às vezes, lhes critico o
uso de lugares comuns em redações,
estou a pensar, no fundo, no que se vai designando agora mais como «cliché»
(< fr. cliché, ‘chapa ‘).
Classifica a função sintática que desempenham os
constituintes sublinhados.
Clichés
de despedida (e supostos clichés) |
Funções
sintáticas |
Se tu saíres, eu também saio. |
modificador (de frase) |
A casa não será a mesma coisa sem ti, Rui. |
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Eu fico lá fora, à tua espera, meu. |
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Até a barraca abana. |
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A casa, sem ti, vai ficar muita vazia, meu. |
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Foi o país e o mundo. |
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Que dizem os teus olhos? |
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Eles só passam as imagens que lhes convêm. |
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Quando lavas os pés, vais
mesmo lá abaixo ou esfregas os pés um no outro? |
modificador (do grupo verbal) |
Outros
trechos |
Funções
sintáticas |
Faltam aqui coisas, tipo... |
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Estás a ver, correu-me mal. |
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Só havia uma hipótese de ele não sair. |
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Unas e Bruno consideram Roberto incapaz de
tal coisa. |
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Unas e Bruno consideram Roberto incapaz de
tal coisa. |
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[Meias-finais das duas Ligas]
Os quatro poemas que se seguem foram
escritos por Jorge de Sena, em 1961 («Quatro Sonetos a Afrodite
Anadiómena», Metamorfoses, Lisboa,
Moraes, 1963).
Se excetuarmos as palavras «gramaticais»
(preposições, ______, determinantes, pronomes) e algumas transposições do grego,
há sobretudo vocábulos criados pelo poeta, ainda que seguindo os padrões
morfológicos do português (são, quanto à formação, palavras ______).
Também as características de versificação
esperáveis são efetivamente cumpridas, já que, em termos de métrica, temos
versos ______, e a rima das quadras é _____ e emparelhada, enquanto que, nas
duas estrofes finais dos sonetos, surgem os esquemas rimáticos C-C-____ (para o
primeiro e último poemas) e C-D-_______, C-D-____ (no segundo e terceiro
sonetos).
Reconhecemos também as classes da maioria das
palavras inventadas por Sena («sussúrica» será ______; «escalca», verbo;
«transcêndia», _____), bem como percebemos certas categorias («palquitonará» há
de ser uma 3.ª pessoa do singular do _______ do Indicativo; «fissivirão», uma
3.ª pessoa do ______ do mesmo tempo; «refucarai», a 2.ª pessoa do plural do
______).
Quanto a mim, há dois casos em que Sena
decidiu mal as grafias. No terceiro soneto há uma acentuação impossível
no sistema ortográfico português: «______» nunca poderia ter o acento gráfico
que lhe foi posto, já que, mesmo sem ele, era já uma palavra grave. Também não
concordo com a grafia «______», no segundo soneto, pois que a formação do
plural implicava um «res» (compare-se: «júnior», «juniores»). No último soneto,
torço o nariz à acentuação gráfica de «meláina» e «Hefáistos».
I — PANDEMOS
Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!
Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela,
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão bolíneos, ó primana!
Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por mamivornas contumai a veste!
E, quando prolifarem as sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantes como o pedipeste.
II — ANÓSIA
Que marinais sob tão pora luva
de esbranforida pela retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?
Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que
estamineta cuva!
Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.
Que marinais dulcífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!...
Que marinais, tão pora luva, todo...
III — URÂNIA
Purília amancivalva emergidanto,
imarculado e rósea, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva de aste o fido corpo tanto...
Tenras nadáguas que oculvivam quanto
palidiscuro, retradito e olente
é mínimo desfincta, repente,
rasga e sedente ao duro latipranto.
Adónica se esvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fímbril, filível, viridorna, gia
em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o dia
noturno ao lia e luçardente ao cado.
IV — AMÁTIA
Timbórica, morfia, ó persefessa,
meláina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scótia, masturlídia,
amata cíprea, calipígea, tressa
de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia, egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.
Ares, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, atilícios, futos
de lívia damitada, organissanta,
agonimais se esgorem morituros,
necrotentavos de escancárias duros,
tantisqua abradimembra a teia canta.
Completa (em geral, com termos de
narratologia ou com nomes de personagens):
Tempo do discurso vs. Tempo da história |
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O
Ano da Morte de Ricardo Reis |
Locke |
Há alterações na ordem dos acontecimentos? |
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Os acontecimentos do enredo são relatados,
predominantemente, numa sequência cronológica linear. Há, no entanto, leves transgressões
dessa linearidade _______, quando se alude a acontecimentos passados ou
futuros. A ______ não é recurso essencial, mas, por vezes, somos
informados de factos anteriores à história que está a ser narrada (há alusões
sobretudo a factos anteriores à intriga mas da vida de Fernando Pessoa, mais
do que da história em geral). As ______ são mais significativas, até porque
costumam ser menos habituais nos romances. Neste caso, temos, por exemplo, como
objeto de antecipação o 25 de abril de 1974. O discurso do ______ é atravessado por outros discursos.
Destacam-se os textos dos jornais e da rádio, que irrompem na _______ e desenham
a imagem de um Portugal idealizado, sob a batuta de Salazar. Também emergem
as referências a obras literárias (cfr. intertextualidade). |
Não há propriamente analepses ou prolepses, uma vez que o
tempo do discurso (medido em «película» de filme) e o tempo da ______ (no
fundo, o de uma viagem de carro entre duas cidades inglesas) parecem
coincidir completamente. Pretende-se que acreditemos que a ação decorre «em direto»
(abordagem que implica não haver distorções entre tempo da história e do ______).
Há alusões ao passado, mas apenas na conversa entre personagens (entre Locke
e ______ ou Katrina, sobretudo relativamente a um dia de há sete meses; ou em
desabafos dos colegas de trabalho de Locke, acerca dos nove ou dez anos
anteriores). Não se pode considerar que essas menções ao passado por
parte das personagens constituam alterações da ______ dos acontecimentos.
O mesmo se diga de intenções quanto ao _____, reveladas aqui e ali, por parte
de Locke ou das duas mulheres. São apenas isso: atos de fala de cada uma das
personagens. |
Há distorções na duração (omissões, resumos, pausas)? |
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Não são muito significativas as omissões (por elipse ou por
resumo), embora, é claro, como em qualquer romance, sejam evitadas as
repetições: o quotidiano do protagonista não nos pode ser constantemente relatado.
Logo que as ações típicas estão suficientemente ilustradas, cabe-nos assumir que,
durante aquela época da ______, Ricardo Reis cumpriria dias semelhantes. Ao contrário, haverá zonas em que o relato parece demorar-se
excessivamente, ______ a velocidade da narrativa, uma vez que a narração é
entrelaçada com comentários e digressões do narrador, que interpreta os acontecimentos,
para dar conta das circunstâncias em que o povo português vive em 1935 e
1936. Nesses passos, o tempo do ______ parece mais lento do que o da história. |
A duração do discurso, no caso do cinema, corresponderá ao
que demora o filme a ser visto (num livro, a duração do ______ pode ser
medida em páginas). Tal como se viu acontecer em termos de ordem, também
quanto à duração em Locke se assume
haver completa equivalência entre o tempo da ação e o da nossa receção. Por exemplo, somos instados a crer que não há ______ e que,
portanto, não houve momentos mortos na viagem: Locke esteve sempre ao
telemóvel ou em monologais ajustes de contas com o ____ (e estes monólogos
até parecem demorar o tempo «real»). Se considerássemos dentro da diegese o que
originara a ação presente, poder-se-ia dizer que se recorrera a _____,
incluídos nos diálogos, para se conseguir incorporar, compactados, esses
longos sete meses. |
TPC — Prepara recitação. Vai trazendo livros que tenha
emprestado.
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