Monday, September 06, 2021

Aula CXLI-CXLII


Aula CXLI-CXLII (10, mas online [1.ª], 12/mai [3.ª]) 

Assiste a este filme, uma «curta», de Filipe Melo. Filipe Melo tem muito mérito. Além de professor de música — salvo erro, perto de nós, na Escola Superior de Música — e músico, tem publicado livros, participado em programas de humor (com Bruno Nogueira e Nuno Markl; mas também individualmente), e teve já algumas experiências de realização de filmes. Mais à frente, vou pedir-lhes a criação de cinco versos a propósito deste Sleepwalk (no vosso YouTube deve sair em inglês, mas é possível escolher as legendas em português, que vi estarem disponíveis):


O filme que viste baseia-se numa BD, do próprio Filipe Melo (guião) em parceria com Juan Cavia (desenhos) e Pedro Serpa (legendas), que foi publicada na revista Granta, num número dedicado a textos sobre ‘Comer e Beber’. A seguir ficam as páginas iniciais dessa BD, bem como uma receita que fechava o «conto»:











Aproveitemos o diálogo na BD, para rever Discurso direto, indireto, indireto livre. No manual, esta matéria está na p. 24 do anexo no final (que copio); também podes consultar ‘relato do discurso’ aqui  ou ver a tabela que fica a seguir (e que tirei de Inês Silva & Carla Marques, Estudar Gramática no Ensino Secundário, s.l., Asa, 2011). Por vezes, estas explicações incluem um quarto conceito, o de discurso direto livre, mas podemos descartá-lo, já que saiu do programa (seria o que na nossa última aula as autoras do manual pretendiam, erradamente, ser discurso indireto livre, uma fala de Lídia reproduzida diretamente, sem aspas, entre as do narrador — era, portanto, apenas discurso direto mas sem a pontuação costumada, como acontece tanto em Saramago).





Transcrevo as falas, os «balões», da BD (isto é das páginas que reproduzi), porque a banda desenhada é muito maior, cumpre o enredo todo que vimos no filme:

Gasolineiro — Bom dia, amigo. Posso ajudá-lo?

Forasteiro — Sim, pode atestar. Desculpe... O senhor sabe onde vivem os Barrett? Turk e Dolores Barrett.

Gasolineiro — Não está com sorte, companheiro. O velho Turk morreu há mais de um ano.

Forasteiro — E a Dolores? Sabe onde é que a posso encontrar?

Gasolineiro — A casa dos Barrett é mesmo em frente à estação de comboios. Quer falar com ela porquê? O Darren meteu-se em sarilhos outra vez?

Forasteiro — Só ouvi dizer que ela faz a melhor tarte de maçã do país.

Gasolineiro — Bem... Estou a ver que veio de longe só por causa de uma fatia de tarte.

Forasteiro — É verdade, amigo. Pode ficar com o troco.

Gasolineiro — Obrigado. Boa sorte.



Como se trata de BD, as falas estão todas em discurso direto. Passa-as para discurso indireto, preenchendo os espaços que deixei:

O gasolineiro saudou o forasteiro e perguntou-lhe se o _____ ajudar.

O F. ___________ que sim, que podia atestar. Pedindo-lhe que _________, perguntou-lhe se _______ onde _______ os Barrett, Turk e Dolores Barrett.

O G. respondeu-lhe que não ______ com sorte, que o velho Turk _________ havia mais de um ano.

O F. perguntou, acerca da Dolores, se ______ onde a ______ encontrar.

O G. respondeu que a casa dos Barrett ____ mesmo em frente à estação de comboios e perguntou-lhe porque ______ falar com ela, se o Darren se __________ em sarilhos outra vez.

O F. respondeu que só _________ dizer que ela _______ a melhor tarte de maçã do país.

O G. retorquiu que _______ a ver que [ele] ________ de longe só por causa de uma fatia de tarte.

O F. disse que ____ verdade {ou O F. assentiu} e acrescentou que _____ ficar com o troco.

O G. agradeceu e desejou-lhe boa sorte.



Vê a solução na Apresentação, com uns três comentários meus:




Agora repara como poderia ficar em discurso indireto livre. Não resulta muito bem o indireto livre com tantas falas curtas. O discurso indireto livre ajusta-se melhor a situações em que haja um narrador que, a pouco e pouco, assuma a voz de uma das personagens, e que esta tenha falas maiores. De qualquer modo, reparem que quase desapareceram os verbos de introdução do discurso («dizer», «perguntar», «responder») e que as formas verbais proferidas pelas personagens mudam de tempo tal como aconteceria no discurso indireto normal. No entanto, mantêm-se certas expressões («Bem...», «sim», «amigo», «companheiro», e «já agora» ou «nada disso», que acrescentei) e a pontuação típica do discurso direto (os pontos de interrogação, as reticências). Na Apresentação destaquei a amarelo esses momentos mais típicos do indireto livre.

O gasolineiro saudou-o e perguntou-lhe se o podia ajudar. Que sim, que podia atestar.

E, já agora, acaso sabia onde viviam os Barrett, Turk e Dolores Barrett. Para o gasolineiro, não estava com sorte o companheiro, o velho Turk morrera há mais de um ano.

E a Dolores? Sabia onde é que a podia encontrar? Que a casa dos Barrett era mesmo em frente à estação de comboios. Mas queria falar com ela porquê? O Darren metera-se em sarilhos outra vez?

Nada disso, ele só ouvira dizer que ela fazia a melhor tarte de maçã do país. Bem... O gasolineiro estava a ver que ele viera de longe só por causa de uma fatia de tarte.

Era verdade, amigo, e que ficasse com o troco. O outro agradeceu.



Quando puderes — talvez não agora; fica como sugestão para o verão —, vê na diagonal partes deste programa em que Filipe Melo comenta a curta que estiveste a ver.


Também há o making of:




O que te pedia fizesses hoje em termos de escrita é muito simples: cinco versos apenas (cinco linhas soltas).

Queria que criasses com o assunto «tarte» ou outro tópico relacionado com o argumento de Sleepwalk ou com o contexto do filme, um verso ao estilo de cada um destes poetas:

Alberto Caeiro

Álvaro de Campos futurista/sensacionista

Ricardo Reis

Fernando Pessoa ortónimo (que é próximo do Campos de nostalgia da infância/tédio existencial)

Fernando Pessoa de Mensagem

Trata-se de um verso por cada um. Não têm de se articular entre si, é claro, mas tratarão do mesmo tópico, a tarte de maçã, ou de um outro qualquer motivo, ideia geral, do filme. Cada verso exibirá características do autor em causa (será um pastiche do estilo de cada um).

Embora não me pareça que seja necessário — nem talvez conveniente —, relembro cada heterónimo através destes clips expositivos (que já vimos em aula):






Cria então os cinco versos (que me trarás depois numa folha — por favor, não num pedaço rasgado ou num resto de papel encontrado nos caixotes de recolha de papel e tampinhas —, sem demasiada urgência, embora idealmente até sexta):

Alberto Caeiro — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Álvaro de Campos futurista/sensacionista —  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Ricardo Reis — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Fernando Pessoa ortónimo (ou Campos da nostalgia/tédio) —  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Fernando Pessoa de Mensagem — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Há dois anos terás lido a cantiga de escárnio e maldizer «Ai dona fea, fostes-vos queixar» (porque está no manual do 10.º ano). Aqui é musicada por Filipe Melo:



O estilo da interpretação do grupo coordenado por Filipe Melo é paródico, mas as cantigas de escárnio e maldizer são, já de si, brincadeiras (bastante agressivas, por vezes).

Podes consultar aqui o texto desta cantiga de João Garcia de Guilhade e, lendo a síntese que figura aí, recordar a índole deste género das cantigas medievais (os outros dois géneros são, como sabes, as cantigas de amigo e as cantigas de amor).

Já que falamos em paródias, vejam-se estes clips de Filipe Melo, que serão um quase equivalente atual do escárnio e maldizer medieval. Começa-se por parodiar os concursos «Got Talent», «The Voice», «Ídolos» e termina-se com uma paródia a um célebre final de filme que vimos no 11.º ano.








[esta parte, com tarefa de redação de cantiga de amigo atualizada, só a usei na aula, presencial, do 12.º 3.ª:]

«Ai dona fea [...]» é uma cantiga de escárnio e maldizer mas lembra-nos outro dos géneros da poesia medieval, o das cantigas de amor, na medida em que troça de alguém que gostaria de ser a «senhor» — a senhora, a dama — louvada por um trovador mas que não tem o mínimo de condições para esse papel.

Com isto só nos falta aludir a um género da lírica trovadoresca, o das cantigas de amigo, talvez o mais interessante, até por ser o que é caracteristicamente galego-português. Vê na p. 9 do manual uma cantiga de amigo, de D. Dinis.

Recria-a, transpondo-a para a nossa época (e para a nossa língua). Manterás a situação grosso modo: uma rapariga saudosa e embevecida por o namorado lhe ter deixado peça de roupa ou outro adereço, dirige-se à mãe (ou irmã, irmão, pai, padrasto, madrasta, etc.), a dar conta dos seus amores. No refrão constará parte do dia, mas pode não ser já a «alva», a madrugada.

Aspetos de forma a ter em conta:

rima, que pode ser apenas toante (como acontecia na lírica trovadoresca), em i/a, nas estrofes ímpares/pares;

paralelismo entre estrofes ímpares e pares;

leixa-prem.

 

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TPC — Traz-me os cinco versos que te pedi em aula, talvez até sexta ou pouco depois. Vai preparando as leituras de sonetos para a nova fase da LC ou para Liga Europa (vê aqui o que te calha).







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