Monday, September 06, 2021

Aula 133R-133

Aula 133R-133 (26 [1.ª], 27/abr [3.ª]) Correção de trabalhos (descrição à chegada a um novo espaço).

Leitura rápida para encontrar temas dos treze primeiros sonetos de Camões.

Leituras em voz alta de sonetos de Camões (Champions).

 

SONETOS

1

A fermosura desta fresca serra

E a sombra dos verdes castanheiros,

O manso caminhar destes ribeiros,

Donde toda a tristeza se desterra;

 

O rouco som do mar, a estranha terra,

O esconder do Sol pelos outeiros,

O recolher dos gados derradeiros,

Das nuvens pelo ar a branda guerra;

 

Enfim, tudo o que a rara natureza

Com tanta variedade nos of'rece,

Me está, se não te vejo, magoando.

 

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

Sem ti, perpetuamente estou passando,

Nas mores alegrias, mor tristeza.

 

2

Acho-me da Fortuna salteado;

o tempo vai fugindo pressuroso,
deixando-me da vida duvidoso
e cada instante mais desesperado.

 

Trocou-se o meu descuido em tal cuidado
que, donde a glória é mais, é mais penoso;
nem vivo, de perder-me, receoso;
nem, de poder ganhar-me, confiado.

 

Qualquer ave nos montes mais agrestes,
qualquer fera na cova repousando,
tem horas de alegria; eu todas tristes.

 

Vós, saudosos olhos, que o quisestes,
pois com tormento amor me estão pagando,
chorai, como o que vedes, o que vistes.

 

3

Alegres campos, verdes arvoredos,

claras e frescas águas de cristal,

que em vós debuxais ao natural,

discorrendo da altura dos rochedos;

 

silvestres montes, ásperos penedos,

compostos em concerto desigual,

sabei que, sem licença de meu mal,

já não podeis fazer meus olhos ledos.

 

E, pois me já não vedes como vistes,

não me alegrem verduras deleitosas,

nem águas que correndo alegres vêm.

 

Semearei em vós lembranças tristes,

regando-vos com lágrimas saudosas,

e nascerão saudades de meu bem.

 

4

Alma minha gentil, que te partiste

tão cedo desta vida descontente,

repousa lá no Céu eternamente,

e viva eu cá na terra sempre triste.

 

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente,

não te esqueças daquele amor ardente

que já nos olhos meus tão puro viste.

 

E se vires que pode merecer-te

alga cousa a dor que me ficou

da mágoa sem remédio de perder-te,

 

roga a Deus, que teus anos encurtou,

que tão cedo de cá me leve a ver-te,

quão cedo de meus olhos te levou.

 

5

Amor é um fogo que arde sem se ver,

 é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

6

Aquela triste e leda madrugada,

cheia toda de mágoa e de piedade,

enquanto houver no mundo saudade

quero que seja sempre celebrada.

 

Ela só, quando amena e marchetada

saía, dando ao mundo claridade,

viu apartar-se d’a outra vontade,

que nunca poderá ver-se apartada.

 

Ela só viu as lágrimas em fio,

que d’uns e d’outros olhos derivadas

s’acrescentaram em grande e largo rio.

 

Ela viu as palavras magoadas

que puderam tornar o fogo frio,

e dar descanso às almas condenadas.

 

7

Busque Amor novas artes, novo engenho,

para matar-me, e novas esquivanças;

que não pode tirar-me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.

 

Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.

 

Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.

 

Que dias há que n’alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.

 

8

Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram;

os campos florecidos se secaram,

intratável se fez o vale, e frio.

 

Passou o verão, passou o ardente estio,

as cousas por outras se trocaram;

os fementidos Fados já deixaram

do mundo o regimento, ou desvario.

 

Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.

 

Casos, opiniões, natura e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.

 

9

Enquanto quis Fortuna que tivesse

esperança de algum contentamento,

o gosto de um suave pensamento

me fez que seus efeitos escrevesse.

 

Porém, temendo Amor que aviso desse

minha escritura a algum juízo isento,

 escureceu-me o engenho co tormento,

para que seus enganos não dissesse.

 

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos

a diversas vontades, quando lerdes

num breve livro casos tão diversos,

 

verdades puras são, e não defeitos;

e sabei que, segundo o amor tiverdes,

tereis o entendimento de meus versos.

 

10

Erros meus, má fortuna, amor ardente

em minha perdição se conjuraram;

os erros e a fortuna sobejaram,

que para mim bastava o amor somente.

 

Tudo passei; mas tenho tão presente

a grande dor das cousas que passaram,

que as magoadas iras me ensinaram

a não querer já nunca ser contente.

 

Errei todo o discurso de meus anos;

dei causa que a Fortuna castigasse

as minhas mal fundadas esperanças.

 

De amor não vi senão breves enganos.

Oh! quem tanto pudesse que fartasse

este meu duro génio de vinganças!

 

11

Grão tempo há já que soube da Ventura

a vida que me tinha destinada;
que a longa experiência da passada
me dava claro indício da futura.

 

Amor fero, cruel, Fortuna dura,
bem tendes vossa força exprimentada:
assolai, destrui, não fique nada;
vingai-vos desta vida, que inda dura.

 

Soube Amor da Ventura que a não tinha;
e, por que mais sentisse a falta dela,
de imagens impossíveis me mantinha.

 

Mas vós, Senhora, pois que minha estrela
não foi melhor, vivei nesta alma minha,
que não tem a Fortuna poder nela.

 

12

Está o lascivo e doce passarinho

Com o biquinho as penas ordenando,
O verso sem medida, alegre e brando,
Espedindo no rústico raminho.

 

O cruel caçador (que do caminho
Se vem calado e manso desviando),
Na pronta vista a seta endereitando,
Lhe dá no Estígio lago eterno ninho.

 

Destarte o coração, que livre andava
(Posto que já de longe destinado),
Onde menos temia, foi ferido.

 

Porque o Frecheiro cego me esperava,
Pera que me tomasse descuidado,
Em vossos claros olhos escondido.

 

13

Leda serenidade deleitosa,

que representa em terra um paraíso:
entre rubis e perlas, doce riso;
debaixo de ouro e neve, cor de rosa.

 

Presença moderada e graciosa,
onde ensinando estão despejo e siso
que se pode por arte e por aviso,
como por natureza, ser fermosa:

 

fala de quem a morte e a vida pende,
rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
repouso nela alegre e comedido.

 

Estas as armas são com que me rende
e me cativa Amor; mas não que possa
despojar-me da glória de rendido.

 

14

O céu, a terra, o vento sossegado...

As ondas, que se estendem pela areia...

Os peixes, que no mar o sono enfreia...

O noturno silêncio repousado...

 

O pescador Aónio, que, deitado

onde co vento a água se meneia,

 chorando, o nome amado em vão nomeia,

que não pode ser mais que nomeado:

 

— Ondas (dezia), antes que Amor me mate,

tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo

me fizestes à morte estar sujeita.

 

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate,

move-se brandamente o arvoredo;

leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

 

15

Oh! como se me alonga, de ano em ano,

a peregrinação cansada minha!

Como se encurta, e como ao fim caminha

este meu breve e vão discurso humano!

 

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;

perde-se-me um remédio, que inda tinha;

se por experiência se adivinha,

qualquer grande esperança é grande engano.

 

Corro após este bem que não se alcança;

no meio do caminho me falece,

mil vezes caio, e perco a confiança.

 

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,

 se os olhos ergo a ver se inda parece,

da vista se me perde e da esperança.

 

16

Posto me tem fortuna em tal estado,

E tanto a seus pés me tem rendido!
Não tenho que perder já, de perdido,
Não tenho que mudar já, de mudado.

 

Todo o bem para mim é acabado;
Daqui dou o viver já por vivido;
Que, aonde o mal é tão conhecido,
Também o viver mais será escusado.

 

Se me basta querer, a morte quero,
Que bem outra esperança não convém,
E curarei um mal com outro mal.

 

E pois do bem tão pouco bem espero,
Já que o mal este só remédio tem,
Não me culpem em querer remédio tal. 

 

17

Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho, logo, mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada.

 

Se nela está minh’alma transformada,

que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

pois consigo tal alma está liada.

 

Mas esta linda e pura semideia,

 que, como um acidente em seu sujeito,

 assi co a alma minha se conforma,

 

está no pensamento como ideia:

o vivo e puro amor de que sou feito,

como a matéria simples, busca a forma.

 

18

Um mover d’olhos, brando e piadoso,

sem ver de quê; um riso brando e honesto,

quase forçado; um doce e humilde gesto,

de qualquer alegria duvidoso;

 

um despejo quieto e vergonhoso;

um repouso gravíssimo e modesto;

a pura bondade, manifesto

indício da alma, limpo e gracioso;

 

um encolhido ousar; a brandura;

um medo sem ter culpa; um ar sereno;

um longo e obediente sofrimento;

 

esta foi a celeste fermosura

da minha Circe, e o mágico veneno

que pôde transformar meu pensamento.

 

19

Doces águas e claras do Mondego,

doce repouso de minha lembrança,
onde a comprida e pérfida esperança
longo tempo após si me trouxe cego:

 

de vós me aparto; mas, porém, não nego
Que inda a memória longa, que me alcança,
me não deixa de vós fazer mudança;
mas quanto mais me alongo, mais me achego.

 

Bem pudera Fortuna este instrumento
d' alma levar por terra nova e estranha,
oferecido ao mar remoto e vento;

 

mas alma, que de cá vos acompanha,
nas asas do ligeiro pensamento,
para vós, águas, voa, e em vós se banha.

 

20

Ah, minha Dinamene assi deixaste

Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

 

Como já para sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

 

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

 

Ó mar! Ó céu! Ó minha escura sorte!
Qual pena sentirei, que valha tanto,
Que ainda tenho por pouco o viver triste?

 

21

Brandas águas do Tejo que, passando

por estes verdes campos que regais,
plantas, ervas, e flores e animais,
pastores, ninfas ides alegrando;

 

não sei (ah, doces águas!), não sei quando
vos tornarei a ver; que mágoas tais,
vendo como vos deixo, me causais
que de tornar já vou desconfiando.

 

Ordenou o Destino, desejoso
de converter meus gostos em pesares,
partida que me vai custando tanto.

 

Saudoso de vós, dele queixoso,
encherei de suspiros outros ares,
turbarei outras águas com meu pranto.

 

22

Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram;

os campos florecidos se secaram,

intratável se fez o vale, e frio.

 

Passou o verão, passou o ardente estio,

as cousas por outras se trocaram;

os fementidos Fados já deixaram

do mundo o regimento, ou desvario.

 

Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.

 

Casos, opiniões, natura e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.

 

23

Ditoso seja aquele que somente

se queixa de amorosas esquivanças;

pois por elas não perde as esperanças

de poder n’algum tempo ser contente.

 

Ditoso seja quem, estando ausente,

não sente mais que a pena das lembranças;

porqu’, inda que se tema de mudanças,

menos se teme a dor quando se sente.

 

Ditoso seja, enfim, qualquer estado

onde enganos, desprezos e isenção

trazem o coração atormentado.

 

Mas triste quem se sente magoado

d’erros em que não pode haver perdão,

sem ficar n’alma a mágoa do pecado.

 

24

Sete anos de pastor Jacob servia

Labão, pai de Raquel, serrana bela;

mas não servia ao pai, servia a ela,

e a ela só por prémio pretendia.

 

Os dias, na esperança de um só dia,

passava, contentando-se com vê-la;

porém o pai, usando de cautela,

em lugar de Raquel lhe dava Lia.

 

Vendo o triste pastor que com enganos

lhe fora assi negada a sua pastora,

como se a não tivera merecida;

 

começa de servir outros sete anos,

dizendo: — Mais servira, se não fora

para tão longo amor tão curta a vida.

 

25

Crecei, desejo meu, pois que a Ventura

já vos tem nos seus braços levantado;
que a bela causa de que sois gerado
o mais ditoso fim vos assegura.

 

Se aspirais por ousado a tanta altura,
não vos espante haver ao Sol chegado;
porque é de águia real vosso cuidado,
que, quanto mais o sofre, mais se apura.

 

Ânimo, coração! que o pensamento
te pode inda fazer mais glorioso,
sem que respeite a teu merecimento.

 

Que cresças inda mais é já forçoso,
porque, se foi de ousado o teu intento,
agora de atrevido é venturoso.

 

26

Doces lembranças da passada glória,

que me tirou a Fortuna roubadora,

deixai-me repousar em paz hora,

que comigo ganhais pouca vitória.

 

Impressa tenho n’alma larga história

deste passado bem que nunca fora,

ou fora, e não passara, mas já agora

em mim não pode haver mais que a memória.

 

Vivo em lembranças, mouro d’esquecido,

de quem sempre devera ser lembrado,

se lhe lembrara estado tão contente.

 

Oh! quem tornar pudera a ser nascido!

Soubera-me lograr do bem passado,

se conhecer soubera o mal presente.

 

27

Gostos falsos de amor, gostos fingidos,

gostos vãos sempre limitados,
gostos grandes quando imaginados,
gostos pequenos quando possuídos;

 

inda não alcançados já perdidos,
inda não começados já acabados,
inconstantes, mudáveis, apressados,
aparecidos e desaparecidos.

 

Já vos perdi, e perdi a esperança
de vos cobrar; agora só queria
convosco se acabasse esta lembrança;

 

que, se me cansa a vida e fantesia
viver de vós tão longe, mais me cansa
lembrar-me o tempo que vos possuía.

 

28

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

diferentes em tudo da esperança;

do mal ficam as mágoas na lembrança,

e do bem (se algum houve), as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e, em mim, converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mor espanto,

que não se muda já como soía.

 

Complemento do nome

Resolve estes exercícios roubados a Maria Regina Rocha, Gramática de Português. Ensino Secundário, 10.º, 11.º e 12.º ano, Porto, Porto Editora, 2016, pp. 238-239:

1. Em cada uma das frases que se seguem, sublinhe o complemento do nome.

a) A tia do Abílio fez cem anos ontem.

b) O Marco tem, desde pequeno, a paixão pelo judo.

c) Os contos de Miguel Torga são lidos por todos os alunos.

d) Esta ida a Madrid foi muito cansativa.

e) Ele feriu-se num dedo da mão esquerda.

f) Não se nota nada a diferença de idade entre as duas irmãs.

g) O teorema de Pitágoras foi descoberto e demonstrado no século VI a.C.

h) Os navios que estavam perto aperceberam-se do pedido de socorro.

j) Ele sempre mostrou ter respeito pelos mais velhos.

k) O patrão do meu sobrinho gosta muito dele.

i) O relacionamento entre os dois não foi afetado por este equívoco.

l) O Monumento aos Descobrimentos localiza-se em Belém.

m) A escassez de água é uma triste realidade.

n) Tenho muito medo dos sismos, pois não temos defesa.

o) Esta perna da mesa está mais curta do que as outras e, por isso, a mesa balança.



Continuo a roubar exercícios à generosa Maria Regina Rocha (p. 240):



E este ainda (p. 241), mas devendo preocupar-te em anotar o critério formal que uses para identificar cada função.



TPC Lê o conto de Jorge Luis Borges, «Análise da obra de Herbert Quain».

 

 

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