Aula 133R-133
Aula 133R-133 (26 [1.ª], 27/abr [3.ª]) Correção de trabalhos
(descrição à chegada a um novo espaço).
Leitura
rápida para encontrar temas dos treze primeiros sonetos de Camões.
Leituras
em voz alta de sonetos de Camões (Champions).
SONETOS
1
A fermosura desta fresca
serra
E
a sombra dos verdes castanheiros,
O
manso caminhar destes ribeiros,
Donde
toda a tristeza se desterra;
O
rouco som do mar, a estranha terra,
O
esconder do Sol pelos outeiros,
O
recolher dos gados derradeiros,
Das
nuvens pelo ar a branda guerra;
Enfim,
tudo o que a rara natureza
Com
tanta variedade nos of'rece,
Me
está, se não te vejo, magoando.
Sem
ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem
ti, perpetuamente estou passando,
Nas
mores alegrias, mor tristeza.
2
Acho-me
da Fortuna salteado;
o tempo vai fugindo pressuroso,
deixando-me da vida duvidoso
e cada instante mais desesperado.
Trocou-se o meu descuido em tal cuidado
que, donde a glória é mais, é mais penoso;
nem vivo, de perder-me, receoso;
nem, de poder ganhar-me, confiado.
Qualquer ave nos montes mais agrestes,
qualquer fera na cova repousando,
tem horas de alegria; eu todas tristes.
Vós, saudosos olhos, que o quisestes,
pois com tormento amor me estão pagando,
chorai, como o que vedes, o que vistes.
3
Alegres campos, verdes
arvoredos,
claras
e frescas águas de cristal,
que
em vós debuxais ao natural,
discorrendo
da altura dos rochedos;
silvestres
montes, ásperos penedos,
compostos
em concerto desigual,
sabei
que, sem licença de meu mal,
já
não podeis fazer meus olhos ledos.
E,
pois me já não vedes como vistes,
não
me alegrem verduras deleitosas,
nem
águas que correndo alegres vêm.
Semearei
em vós lembranças tristes,
regando-vos
com lágrimas saudosas,
e
nascerão saudades de meu bem.
4
Alma minha gentil, que te
partiste
tão
cedo desta vida descontente,
repousa
lá no Céu eternamente,
e
viva eu cá na terra sempre triste.
Se
lá no assento etéreo, onde subiste,
memória
desta vida se consente,
não
te esqueças daquele amor ardente
que
já nos olhos meus tão puro viste.
E
se vires que pode merecer-te
algῦa
cousa a dor que me ficou
da
mágoa sem remédio de perder-te,
roga
a Deus, que teus anos encurtou,
que
tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão
cedo de meus olhos te levou.
5
Amor é um fogo que arde
sem se ver,
é
ferida que dói, e não se sente;
é
um contentamento descontente,
é
dor que desatina sem doer.
É
um não querer mais que bem querer;
é
um andar solitário entre a gente;
é
nunca contentar-se de contente;
é
um cuidar que ganha em se perder.
É
querer estar preso por vontade;
é
servir a quem vence, o vencedor;
é
ter com quem nos mata, lealdade.
Mas
como causar pode seu favor
nos
corações humanos amizade,
se
tão contrário a si é o mesmo Amor?
6
Aquela triste e leda
madrugada,
cheia
toda de mágoa e de piedade,
enquanto
houver no mundo saudade
quero
que seja sempre celebrada.
Ela
só, quando amena e marchetada
saía,
dando ao mundo claridade,
viu
apartar-se d’ῦa outra vontade,
que
nunca poderá ver-se apartada.
Ela
só viu as lágrimas em fio,
que
d’uns e d’outros olhos derivadas
s’acrescentaram
em grande e largo rio.
Ela
viu as palavras magoadas
que
puderam tornar o fogo frio,
e
dar descanso às almas condenadas.
7
Busque Amor novas artes,
novo engenho,
para
matar-me, e novas esquivanças;
que
não pode tirar-me as esperanças,
que
mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai
de que esperanças me mantenho!
Vede
que perigosas seguranças!
Que
não temo contrastes nem mudanças,
andando
em bravo mar, perdido o lenho.
Mas,
conquanto não pode haver desgosto
onde
esperança falta, lá me esconde
Amor
um mal, que mata e não se vê.
Que
dias há que n’alma me tem posto
um
não sei quê, que nasce não sei onde,
vem
não sei como, e dói não sei porquê.
8
Correm turvas as águas
deste rio,
que
as do Céu e as do monte as enturbaram;
os
campos florecidos se secaram,
intratável
se fez o vale, e frio.
Passou
o verão, passou o ardente estio,
ῦas cousas por outras se
trocaram;
os
fementidos Fados já deixaram
do
mundo o regimento, ou desvario.
Tem
o tempo sua ordem já sabida;
o
mundo, não; mas anda tão confuso,
que
parece que dele Deus se esquece.
Casos,
opiniões, natura e uso
fazem
que nos pareça desta vida
que
não há nela mais que o que parece.
9
Enquanto quis Fortuna que
tivesse
esperança
de algum contentamento,
o
gosto de um suave pensamento
me
fez que seus efeitos escrevesse.
Porém,
temendo Amor que aviso desse
minha
escritura a algum juízo isento,
escureceu-me
o engenho co tormento,
para
que seus enganos não dissesse.
Ó
vós que Amor obriga a ser sujeitos
a
diversas vontades, quando lerdes
num
breve livro casos tão diversos,
verdades
puras são, e não defeitos;
e
sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis
o entendimento de meus versos.
10
Erros meus, má fortuna,
amor ardente
em
minha perdição se conjuraram;
os
erros e a fortuna sobejaram,
que
para mim bastava o amor somente.
Tudo
passei; mas tenho tão presente
a
grande dor das cousas que passaram,
que
as magoadas iras me ensinaram
a
não querer já nunca ser contente.
Errei
todo o discurso de meus anos;
dei
causa que a Fortuna castigasse
as
minhas mal fundadas esperanças.
De
amor não vi senão breves enganos.
Oh!
quem tanto pudesse que fartasse
este
meu duro génio de vinganças!
11
Grão
tempo há já que soube da Ventura
a vida que me tinha destinada;
que a longa experiência da passada
me dava claro indício da futura.
Amor fero, cruel, Fortuna dura,
bem tendes vossa força exprimentada:
assolai, destrui, não fique nada;
vingai-vos desta vida, que inda dura.
Soube Amor da Ventura que a não tinha;
e, por que mais sentisse a falta dela,
de imagens impossíveis me mantinha.
Mas vós, Senhora, pois que minha estrela
não foi melhor, vivei nesta alma minha,
que não tem a Fortuna poder nela.
12
Está o
lascivo e doce passarinho
Com o biquinho as penas ordenando,
O verso sem medida, alegre e brando,
Espedindo no rústico raminho.
O cruel caçador (que do caminho
Se vem calado e manso desviando),
Na pronta vista a seta endereitando,
Lhe dá no Estígio lago eterno ninho.
Destarte o coração, que livre andava
(Posto que já de longe destinado),
Onde menos temia, foi ferido.
Porque o Frecheiro cego me esperava,
Pera que me tomasse descuidado,
Em vossos claros olhos escondido.
13
Leda
serenidade deleitosa,
que representa em terra um paraíso:
entre rubis e perlas, doce riso;
debaixo de ouro e neve, cor de rosa.
Presença moderada e graciosa,
onde ensinando estão despejo e siso
que se pode por arte e por aviso,
como por natureza, ser fermosa:
fala de quem a morte e a vida pende,
rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
repouso nela alegre e comedido.
Estas as armas são com que me rende
e me cativa Amor; mas não que possa
despojar-me da glória de rendido.
14
O céu, a terra, o vento
sossegado...
As
ondas, que se estendem pela areia...
Os
peixes, que no mar o sono enfreia...
O
noturno silêncio repousado...
O
pescador Aónio, que, deitado
onde
co vento a água se meneia,
chorando,
o nome amado em vão nomeia,
que
não pode ser mais que nomeado:
—
Ondas (dezia), antes que Amor me mate,
tornai-me
a minha Ninfa, que tão cedo
me
fizestes à morte estar sujeita.
Ninguém
lhe fala; o mar de longe bate,
move-se
brandamente o arvoredo;
leva-lhe
o vento a voz, que ao vento deita.
15
Oh! como se me alonga, de
ano em ano,
a
peregrinação cansada minha!
Como
se encurta, e como ao fim caminha
este
meu breve e vão discurso humano!
Vai-se
gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me
um remédio, que inda tinha;
se
por experiência se adivinha,
qualquer
grande esperança é grande engano.
Corro
após este bem que não se alcança;
no
meio do caminho me falece,
mil
vezes caio, e perco a confiança.
Quando
ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se
os olhos ergo a ver se inda parece,
da
vista se me perde e da esperança.
16
Posto
me tem fortuna em tal estado,
E tanto a seus pés me tem rendido!
Não tenho que perder já, de perdido,
Não tenho que mudar já, de mudado.
Todo o bem para mim é acabado;
Daqui dou o viver já por vivido;
Que, aonde o mal é tão conhecido,
Também o viver mais será escusado.
Se me basta querer, a morte quero,
Que bem outra esperança não convém,
E curarei um mal com outro mal.
E pois do bem tão pouco bem espero,
Já que o mal este só remédio tem,
Não me culpem em querer remédio tal.
17
Transforma-se o amador na
cousa amada,
por
virtude do muito imaginar;
não
tenho, logo, mais que desejar,
pois
em mim tenho a parte desejada.
Se
nela está minh’alma transformada,
que
mais deseja o corpo de alcançar?
Em
si somente pode descansar,
pois
consigo tal alma está liada.
Mas
esta linda e pura semideia,
que,
como um acidente em seu sujeito,
assi
co a alma minha se conforma,
está
no pensamento como ideia:
o
vivo e puro amor de que sou feito,
como
a matéria simples, busca a forma.
18
Um mover d’olhos, brando
e piadoso,
sem
ver de quê; um riso brando e honesto,
quase
forçado; um doce e humilde gesto,
de
qualquer alegria duvidoso;
um
despejo quieto e vergonhoso;
um
repouso gravíssimo e modesto;
ῦa pura bondade, manifesto
indício
da alma, limpo e gracioso;
um
encolhido ousar; ῦa brandura;
um
medo sem ter culpa; um ar sereno;
um
longo e obediente sofrimento;
esta
foi a celeste fermosura
da
minha Circe, e o mágico veneno
que
pôde transformar meu pensamento.
19
Doces
águas e claras do Mondego,
doce repouso de minha lembrança,
onde a comprida e pérfida esperança
longo tempo após si me trouxe cego:
de vós me aparto; mas, porém, não nego
Que inda a memória longa, que me alcança,
me não deixa de vós fazer mudança;
mas quanto mais me alongo, mais me achego.
Bem pudera Fortuna este instrumento
d' alma levar por terra nova e estranha,
oferecido ao mar remoto e vento;
mas alma, que de cá vos acompanha,
nas asas do ligeiro pensamento,
para vós, águas, voa, e em vós se banha.
20
Ah,
minha Dinamene assi deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar! Ó céu! Ó minha escura sorte!
Qual pena sentirei, que valha tanto,
Que ainda tenho por pouco o viver triste?
21
Brandas
águas do Tejo que, passando
por estes verdes campos que regais,
plantas, ervas, e flores e animais,
pastores, ninfas ides alegrando;
não sei (ah, doces águas!), não sei quando
vos tornarei a ver; que mágoas tais,
vendo como vos deixo, me causais
que de tornar já vou desconfiando.
Ordenou o Destino, desejoso
de converter meus gostos em pesares,
partida que me vai custando tanto.
Saudoso de vós, dele queixoso,
encherei de suspiros outros ares,
turbarei outras águas com meu pranto.
22
Correm turvas as águas
deste rio,
que
as do Céu e as do monte as enturbaram;
os
campos florecidos se secaram,
intratável
se fez o vale, e frio.
Passou
o verão, passou o ardente estio,
ῦas cousas por outras se
trocaram;
os
fementidos Fados já deixaram
do
mundo o regimento, ou desvario.
Tem
o tempo sua ordem já sabida;
o
mundo, não; mas anda tão confuso,
que
parece que dele Deus se esquece.
Casos,
opiniões, natura e uso
fazem
que nos pareça desta vida
que
não há nela mais que o que parece.
23
Ditoso seja aquele que
somente
se
queixa de amorosas esquivanças;
pois
por elas não perde as esperanças
de
poder n’algum tempo ser contente.
Ditoso
seja quem, estando ausente,
não
sente mais que a pena das lembranças;
porqu’,
inda que se tema de mudanças,
menos
se teme a dor quando se sente.
Ditoso
seja, enfim, qualquer estado
onde
enganos, desprezos e isenção
trazem
o coração atormentado.
Mas
triste quem se sente magoado
d’erros
em que não pode haver perdão,
sem
ficar n’alma a mágoa do pecado.
24
Sete anos de pastor Jacob
servia
Labão,
pai de Raquel, serrana bela;
mas
não servia ao pai, servia a ela,
e
a ela só por prémio pretendia.
Os
dias, na esperança de um só dia,
passava,
contentando-se com vê-la;
porém
o pai, usando de cautela,
em
lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo
o triste pastor que com enganos
lhe
fora assi negada a sua pastora,
como
se a não tivera merecida;
começa
de servir outros sete anos,
dizendo:
— Mais servira, se não fora
para
tão longo amor tão curta a vida.
25
Crecei,
desejo meu, pois que a Ventura
já vos tem nos seus braços levantado;
que a bela causa de que sois gerado
o mais ditoso fim vos assegura.
Se aspirais por ousado a tanta altura,
não vos espante haver ao Sol chegado;
porque é de águia real vosso cuidado,
que, quanto mais o sofre, mais se apura.
Ânimo, coração! que o pensamento
te pode inda fazer mais glorioso,
sem que respeite a teu merecimento.
Que cresças inda mais é já forçoso,
porque, se foi de ousado o teu intento,
agora de atrevido é venturoso.
26
Doces lembranças da
passada glória,
que
me tirou a Fortuna roubadora,
deixai-me
repousar em paz ῦ hora,
que
comigo ganhais pouca vitória.
Impressa
tenho n’alma larga história
deste
passado bem que nunca fora,
ou
fora, e não passara, mas já agora
em
mim não pode haver mais que a memória.
Vivo
em lembranças, mouro d’esquecido,
de
quem sempre devera ser lembrado,
se
lhe lembrara estado tão contente.
Oh!
quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me
lograr do bem passado,
se
conhecer soubera o mal presente.
27
Gostos
falsos de amor, gostos fingidos,
gostos vãos sempre limitados,
gostos grandes quando imaginados,
gostos pequenos quando possuídos;
inda não alcançados já perdidos,
inda não começados já acabados,
inconstantes, mudáveis, apressados,
aparecidos e desaparecidos.
Já vos perdi, e perdi a esperança
de vos cobrar; agora só queria
convosco se acabasse esta lembrança;
que, se me cansa a vida e fantesia
viver de vós tão longe, mais me cansa
lembrar-me o tempo que vos possuía.
28
Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se
o ser, muda-se a confiança;
todo
o mundo é composto de mudança,
tomando
sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
diferentes
em tudo da esperança;
do
mal ficam as mágoas na lembrança,
e
do bem (se algum houve), as saudades.
O
tempo cobre o chão de verde manto,
que
já coberto foi de neve fria,
e,
em mim, converte em choro o doce canto.
E,
afora este mudar-se cada dia,
outra
mudança faz de mor espanto,
que
não se muda já como soía.
Complemento do nome
Resolve estes exercícios roubados a Maria
Regina Rocha, Gramática de Português. Ensino Secundário, 10.º, 11.º e 12.º
ano, Porto, Porto Editora, 2016, pp. 238-239:
1. Em cada uma das frases que se seguem, sublinhe o complemento
do nome.
a) A tia do Abílio fez cem
anos ontem.
b) O Marco tem, desde pequeno, a paixão pelo judo.
c) Os contos de Miguel Torga são lidos por todos
os alunos.
d) Esta ida a Madrid foi muito cansativa.
e) Ele feriu-se num dedo da mão esquerda.
f) Não se nota nada a diferença de idade entre as
duas irmãs.
g) O teorema de Pitágoras foi descoberto e
demonstrado no século VI a.C.
h) Os navios que estavam perto aperceberam-se do
pedido de socorro.
j) Ele sempre mostrou ter respeito pelos mais
velhos.
k) O patrão do meu sobrinho gosta muito dele.
i) O relacionamento entre os dois não foi afetado por
este equívoco.
l) O Monumento aos Descobrimentos localiza-se em
Belém.
m) A escassez de água é uma triste realidade.
n) Tenho muito medo dos sismos, pois não temos
defesa.
o) Esta perna da mesa está mais curta do que as
outras e, por isso, a mesa balança.
Continuo a roubar exercícios à generosa Maria
Regina Rocha (p. 240):
E este ainda (p. 241), mas devendo preocupar-te
em anotar o critério formal que uses para identificar cada função.
TPC — Lê o conto de Jorge Luis
Borges, «Análise da obra de Herbert Quain».
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