Thursday, September 09, 2021

Aula 6-7

Aula 6-7 (28 [1.ª], 29/set [3.ª]) Correção do comentário sobre «Ela canta, pobre ceifeira»/«Gato que brincas na rua» (cfr. Apresentação):

O tema é o mesmo em ambos os poemas — a dor de pensar provocada pela intelectualização do sentir. O poeta gostaria de ser como a ceifeira, ter a sua alegre inconsciência, mas, ao mesmo tempo, saber-se possuidor dessa inconsciência. Do mesmo modo, gostaria de ser como o gato que apenas sente («sentes só o que sentes», v. 8) e, por isso, é feliz («és feliz porque és assim», v. 9), enquanto o poeta pensa («vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu», vv. 11-12).

 

Quase anónima sorris

E o sol doura o teu cabelo.

Porque é que, pr’a ser feliz,

É preciso não sabê-lo?

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935), Lisboa, Ática, 1955

Nesta quadra de Fernando Pessoa há uma falha de coesão frásica (justificada pela intenção de fazer rima e pelo estatuto, entre o da imitação de quadra popular e o da brincadeira assumida, que tem este quarteto). Reescreve o último verso já corrigido:

v. 3       Porque é que, pr’a ser feliz,

v. 4        __________________

O que faz que o pronome («__») tenha de ficar anteposto ao verbo (o infinitivo «saber») é o facto de a frase ser _______.

Vejamos algumas circunstâncias que obrigam à alteração da ordem mais normal no português europeu (a da {escolhe} próclise / mesóclise / ênclise): estar a frase na negativa, ficar o pronome numa subordinada completiva, tratar-se da variante sul-americana do português, ter a frase certos advérbios. Completa a coluna da direita:

Stora, por favor, dê-mo.

negativa >

Stora, por favor, não ______.

Comprei-o.

subordinação completiva >

Já te disse que ______.

Cebolinha revelou-se um craque.

variante brasileira >

Cebolinha _______ um craque.

Registo-o.

presença de certos advérbios >

Talvez _______.

 

Dístico

Ó meu menino que brincas

o dia todo na rua

e ainda pensas que a Vida

é só a vida que é tua,

fica lá no teu engano.

 

Não perguntes, não te apresses.

Sobra tempo pra saberes

coisas que antes não soubesses.

Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo, Mem Martins, Arrábida, 2004

 

Estabelece analogias entre «Dístico», de Sebastião da Gama, e «Gato que brincas na rua» (p. 38), de Fernando Pessoa, completando a minha resposta:

O tema de «Dístico», de Sebastião da Gama, é quase o mesmo do do poema de Pessoa «Gato que brincas na rua» — também aqui o sujeito poético se dirige a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . —, mas a perspetiva é diferente: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Qual é o vocativo da quintilha? Faltará alguma vírgula?

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Explica o título «Dístico» (sabendo que não se trata de uma estrofe de dois versos, um dos significados da palavra).

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Cria um título, também de uma só palavra, para «Gato que brincas na rua» (não, não pode ser «Gato»; nem «Brincadeira», nem «Rua», nem «Que»).

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Recordo regras da síntese. Ao contrário do resumo, não tem de ser uma condensação, ordenada e proporcional, do texto-fonte. É mais interpretativa, há já distância relativamente ao texto original. O objetivo é dar a conhecer a ideia principal, permitindo-se até, em alguns casos, alguma leve opinião por parte de quem sintetiza.

Assim, não é obrigatório, nem aliás aconselhável, seguir a ordem das informações no original; e é conveniente descartar alguns trechos e focarmo-nos no essencial, quebrando porventura a proporcionalidade exigida num resumo.

Também diferentemente dos resumos, na síntese não se mantêm as pessoas verbais do original, já que passa a haver um sujeito exterior, nem os tempos, porque a perspetiva é a de quem está a sintetizar. E indicando-se o nome do autor e o título da obra.

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TPC — Vê o que digo sobre Livros a ler em Gaveta de Nuvens.

 

 

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